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SINOP/MT
2023
FRANCISCA ROGÉRIO SILVA BOTELHO
SINOP/MT
2023
FRANCISCA ROGÉRIO SILVA BOTELHO
BANCA EXAMINADORA
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SINOP/MT
Dezembro de 2023.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu filho, Nícolas Botelho, por estar sempre ao meu lado em
todos os momentos dessa caminhada, e em especial ao meu pai Francisco, por ter me
incentivado a ir em busca dos meus objetivos. Dedico também a minha mãe Terezinha
Eliza, que sempre fez de tudo para que eu pudesse seguir em frente com palavras de
incentivo quando precisei, ao meu esposo Francisco Botelho, a minha sobrinha
Gleiciane da Silva, as minhas irmãs Josefa, Maria das Graças, aos meus irmãos Cícero,
Damião e Francisco, que sempre acreditaram em mim. Amo vocês.
Este trabalho tem uma relevância muito significativa para mim de missão cumprida ao
longo dessa caminhada. Agradeço primeiramente a Deus por ter me dada forças para seguir em
frente nessa caminhada, ao meu pai Francisco por ter me incentivado a continuar, ao meu filho
Nícolas que sempre esteve comigo quando precisei, a minha mãe Terezinha Eliza que sempre
acreditou em mim, a minha irmã Maria das Graças que sempre acreditou que eu poderia ir mais
longe, e ao meu orientador professor Marion Machado Cunha que me acolheu de braços aberto,
que me ajudou em todos os momentos, durante essa pesquisa contribuindo para que ela
realizasse.
A todos professores/as da UNEMAT, e colegas que certamente lembrarei com carinho. A todos
minha gratidão.
Epígrafe
Este trabalho é resultado de uma pesquisa realizada por meio de análise de livros do 7º e 9º ano
do ensino fundamental, utilizados em uma Escola Estadual de Sinop, Mato Grosso (MT), que
teve como objeto de estudo a diversidade Linguística e as relações pedagógicas mobilizadas
nas práticas educativas da Língua Portuguesa. Objetivou-se compreender como acontece a
inserção da variação linguística no contexto do livro didático. A pesquisa é de cunho qualitativo,
pois para a obtenção de dados foram utilizados livros de português dos anos finais do ensino
fundamental, nos quais foram analisadas as unidades I, algumas páginas direcionadas a
linguística. Os resultados obtidos apontam para conteúdo de variedade linguística de pouca
problematização. As temáticas e os conteúdos, nos livros didáticos analisados, se pautam para
formas abundantes em conteúdos de gramática normativa. Sendo assim, os conteúdos
linguísticos e de variedade linguística, presentes nos livros didáticos, são generalizados e
amplos. Esse direcionamento de “baixa” inserção da variação se dá em razão de uma prática
educativa centrada na dominância da gramática normativa, e se impõe como barreira atuante
para superar os preconceitos linguísticos no contexto escolar e na sociedade.
Palavras – chave: Diversidade linguística. Gramática. Inserção. Livro Didático.
ABSTRACT
This research stems from an analysis of textbooks used in the 7th and 9th grades of elementary
school at a State School in Sinop, Mato Grosso (MT). The study focuses on linguistic diversity
and the pedagogical relationships mobilized in Portuguese language educational practices. The
objective was to understand how linguistic variation is incorporated into the context of the
textbooks. The research is qualitative, as Portuguese language textbooks from the final years of
elementary school were used to gather data. The analysis focused on Unit I and specific pages
addressing linguistics. The results indicate a limited problematization of linguistic variation
content. The themes and contents in the analyzed textbooks predominantly revolve around
normative grammar. Therefore, linguistic and linguistic variation contents in the textbooks are
generalized and broad. This "low" inclusion of variation is a result of an educational practice
centered on the dominance of normative grammar, acting as a barrier to overcoming linguistic
prejudices in the school context and society.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
2 O SURGIMENTO DA SOCIOLINGUÍSTICA E DE SUA VERTENTE: A
SOCIOLINGUÍSTICA EDUCACIONAL ........................................................................... 13
2.1 SURGIMENTO E PRINCIPAIS PRECURSORES ........................................................... 13
2.2 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: UMA VISÃO GERAL ENTRE A DIFERENÇA E AS
IGUALDADES ........................................................................................................................ 14
2.3 A SOCIOLINGUÍSTICA EDUCACIONAL EM SALA DE AULA ................................ 15
3 A ABORDAGEM DA SOCIOLINGUÍSTICA NOS LIVROS E MATERIAIS
DIDÁTICOS ........................................................................................................................... 20
3.1 O PRECONCEITO LINGUISTICO E O LIVRO DIDÁTICO ......................................... 20
4 METODOLOGIA................................................................................................................ 23
4.1 TIPO DE PESQUISA ......................................................................................................... 23
4.2 O CORPUS DE PESQUISA .............................................................................................. 23
4.3 ETAPAS DA PESQUISA .................................................................................................. 24
4.4 QUESTÕES PERTINENTES SOBRE O LIVRO DIDÁTICO E O LUGAR DO
PRIVADO: AS FONTES DE PESQUISA ............................................................................... 24
5 A DIVERSIDADE LINGUÍSTICA TEM ESPAÇO NO CONTEXTO ESCOLAR NOS
ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL?............................................................... 27
5.1 ANÁLISE DO LIVRO 1 .................................................................................................... 27
5.2 ANÁLISE DO LIVRO 2 .................................................................................................... 32
5.3 A NORMA-PADRÃO E DAS VARIEDADES LINGUÍSTICAS .................................... 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 37
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 38
10
INTRODUÇÃO
Historicamente, o estudo da Sociolinguística nunca foi uma tarefa fácil e nem será tarefa
simples de se trabalhar por se tratar de um conteúdo de grande complexidade para o trabalho
do educando em sala, porque se trata um conteúdo bem difícil de lidar e aplicar é um assunto
que requer muita leitura e dedicação no momento da utilização do livro didático, que é uma das
ferramentas dar suporte de apoio ao docente em sala de aula.
Notou-se diante dessa fala que sempre foi um desafio inseri-la no ambiente educacional,
porque na maioria das vezes não lhe é dado o devido valor merecido, pois muitas vezes é
negligenciada por muitos livros utilizados por professores em sala. Há sempre demandas de
materiais como livros didáticos que traz no contexto diversas propostas de atividades a serem
trabalhadas, porém apresentam nos contextos esse assunto de forma resumida, de difícil
compreensão e pouco explorado. Por esse motivo, é que o foco principal deste trabalho é
esclarecer de fato se estão e como são inseridas as diversidades linguísticas no contexto escolar.
Através de leituras preliminares constatou-se que, na maioria das vezes, teóricos têm
abordado sobre assuntos sociolinguísticos relacionados a relevância de se fazer um estudo
aprofundado sobre a sociolinguística, o assunto mencionando a importância da exploração
dessa temática para a ampliação do conhecimento sobre a língua em relação a linguagem, a
partir da compreensão de suas Inter-relações com as diversidades linguísticas, variações e
variedades suas especificidades.
Nesse sentido, foi necessário trazer mais sobre a temática e as formas pelas quais foram
inseridas dentro do contexto escolar. Compreende-se que é relevante o estudo desse tema. Visto
quer essa perspectiva, faz necessário saber se a diversidade linguística tem espaço no contexto
escolar, pois abordou a forma pela qual é trabalhada e inserida a diversidade linguística no
contexto escolar dos anos finais do ensino fundamental. Para a obtenção de dados para fomentar
esse trabalho foram utilizados para coleta de dados materiais didáticos desenvolvidos pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV) dos anos finais do ensino fundamental de Escolas Estaduais
em Mato Grosso, no município de Sinop, no ano de 2022.
Estudar essa temática tendo em vista que os benefícios e contribuições são relevantes
para garantir um ensino cujo desdobramento conecte o ensino e a aprendizagem a realidade da
dos estudantes, sujeitos de historicidade e cultura. Referimos a um ensino que possa valorizar
a diversidade linguística que se apresenta fora dos muros escolares.
O trabalho que se ampara teórico-metodologicamente nos pressupostos da
Sociolinguística Educacional traz, de forma intencional, o título “A diversidade linguística tem
espaço no contexto escolar nos anos finais do ensino fundamental”, com ponto de interrogação,
11
com o propósito de questionar se, de fato, há espaço para a diversidade no ambiente escolar. O
tema é relevante porque se trata de um assunto contemporâneo, atual e pode agregar e
solucionar dúvidas e inquietações sobre o assunto diante de novos desafios dentro da
Sociolinguística.
É uma temática atual que se faz presente em vários trabalhos de pesquisas, além de
trazer contribuições para o estudo das infinitas formas de linguagens e línguas que existem em
comunidades da fala e que, inevitavelmente, são levadas para o contexto escolar. Sabe-se que
as formas são de existência e a convivência de línguas diferentes que são utilizadas pelo campo
cultural e social no qual e produzido. O problema em questão é: como se apresentam nos livros
didáticos e sob que condições são inseridos no contexto escolar? Essa foi essa a inquietação
que pela qual se balizou para desenvolver a pesquisa.
O objetivo geral foi analisar se são e como são inseridas as diversidades linguísticas no
contexto do livro didático. Como objetivos específicos, pretendeu-se: a) descrever e especificar
de que forma são trazidas as informações sobre a diversidade linguística; b) analisar materiais
didáticos desenvolvidos pela Fundação Getúlio Vargas nos anos finais do ensino fundamental;
e, c) verificar se o tema da diversidade linguística é trazido de forma ampla e de fácil
compreensão para os alunos.
linguístico é conduzido nas práticas educativas da Língua Portuguesa no ambiente de
sala de aula.
A pesquisa, para esse objeto, foi de natureza qualitativa para a qual são exploradas e
descritas as análises de livros/materiais para agregar enriquecer o trabalho por meio da
descrição do material pesquisado. Segundo Bogdan e Biklen (1982), esse tipo de pesquisa traz
e envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a
situação estudada, buscando subsídios práticos para estabelecer o confronto entre a teoria e a
prática, enfatizando mais o processo do que o produto, se preocupa em buscar compreender
como se insere a diversidade linguística no contexto escolar a fim de retratar descrever os
conteúdos no processo de estudo de forma fidedigna os resultados alcançados.
Da exposição desta Monografia, o segundo capítulo aborda o processo do o surgimento
da Sociolinguística, conceituando-a como uma área de grande relevância para a educação que
se encarrega de diminuir o preconceito linguístico na sociedade. São apresentados conceitos
centrais desta área do saber, nas quais desempenham suas funções interativas, desencadeando
as obstruções das barreiras, ocasionadas pelo preconceito linguístico. A diversidade refere se a
existência com convivência de diversas línguas diferentes, voltando-se para as diferenças na
qual também são preservadas as línguas como posição de resiliência da pluralidade cultural na
12
1
Bortoni – Ricardo é a brasileira precursora da Sociolinguística Educacional desde os anos 1980, atualmente é
professora titular aposentada de Linguística pela (UnB) Universidade de Brasília, fala que os pressupostos
sociolinguísticos estão relacionados às estruturas social e cultural de cada comunidade, de fala. Nesse contexto, a
sociolinguística trouxe relevante contribuição no foco do trabalho de ensinar e aprender fazendo o estudo das
diferentes linguagens abarcando os conhecimentos sociolinguísticos onde ela se encarrega de analisar estudar a
língua no meio social afim de sanar as dificuldades existentes no decorrer da interação do aprendizado, essa
interação é relevante para processo da aprendizagem de diferentes culturas.
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Diante desse contexto, a autora faz uma crítica a ao uso da língua quando ela diz que”
nenhuma língua ou variedade em uso em comunidade da fala deveria ser considerada inferior
com relação às outras línguas, pois elas sofrem modificações e variações no decorres dos
tempos e espaços sociais. No decorrer dos estudos percebe-se que os sociolinguistas salientam
que as variantes não padrão presentes na língua não são erros, são diferenças produtivas na
modalidade oral da língua, em estilos não monitorados.
Além da autora, Bortoni-Ricardo (2014), fazer a menção sobre a função da
Sociolinguística, ela alerta sobre o lugar da sociolinguística no campo das aquisições e
desempenhos da língua:
Os alunos que não receberem avaliação de seus professores quanto ao que falaram ou
escreveram, respeitando (ou não) os preceitos gramaticais consagrados e louvados no
Brasil, estarão sujeitos a críticas e estigma social. Têm os professores, portanto, de
ficar alerta à produção linguística de seus alunos em sala de aula promovendo os
ajustes necessários, de forma sempre muito respeitosa, nos termos de uma pedagogia
culturalmente sensível (2014, p. 159)
Diante dessa fala, observa-se que há a preocupação de Bortoni-Ricardo (2014) com
relação ao “desempenho escolar” de alunos e que se situam em “classes sociais menos
favorecidas”, portanto, de uma necessidade pedagógica de vigilância quando ao movimento
cultura e oralidade.
Diante dessa falácia que repercutiu de forma generalizada na escola brasileira, é
importante evidenciar que há diferenças intrínsecas entre as modalidades oral e escrita da língua
no que concerne à formalidade e que qualquer enunciado.
Os alunos que não receberem avaliação de seus professores quanto ao que falaram ou
escreveram respeitando (ou não) os preceitos gramaticais consagrados e louvados no
Brasil, estarão sujeitos a críticas e estigma social. Têm os professores, ter a percepção
atentar - se sobre as falas dos alunos em sala promovendo as correções necessárias em
relação a linguagem, portanto é preciso ficar alerta à produção linguística de seus alunos
em sala de aula promovendo os ajustes necessários de forma sempre respeitosa, nos
termos de uma pedagogia culturalmente sensível. (Bortoni-Ricardo, 2014, p.159)
Diante dessa fala, citada anteriormente por Bortoni-Ricardo (2014) a autora discorre que
o é necessário que os professores monitorem os alunos no que eles escrevem ou falam. É
necessário que se façam o monitoramento para eles sintam-se seguros e amparados pelo
profissional, pois se não houver o acompanhamento dos discentes eles correm o risco de
sofrerem crítica social. Por isso a monitoria é indispensável na fase do aprendizado dos alunos
em decorrência disso é preciso que se faça o acompanhamento fazendo os ajustes conforme
forem necessários de forma sensível e respeitosa.
Bortoni-Ricardo cita alguns princípios para aplicar subsídios da Sociolinguística a
questões educacionais,
18
2
De acordo com a Universidade de São Paulo, publicado em seu Jornal, “De acordo com os dados, a taxa de
analfabetismo caiu de 6,1% em 2019 para 5,6% em 2022, isso corresponde a uma redução de 0,5 ponto porcentual
dessa taxa no País, ou seja, cerca de 490 mil analfabetos a menos. O levantamento mostrou também que mais da
metade das pessoas que não sabiam ler e escrever tinham 60 anos ou mais e que a taxa de analfabetismo de pretos
e pardos é duas vezes maior do que a dos brancos. Ao analisar as regiões do País, o Nordeste tinha a taxa mais
alta, de 11,7%, e o Sudeste, a mais baixa, de 2,9%. [...] Desde 2014, o Plano Nacional de Educação (PNE) possui
metas e estratégias para a política educacional que deveriam ser cumpridas até 2024. A Meta 9 diz que o objetivo
é elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e, até o final do PNE,
erradicar o analfabetismo absoluto, que compreende a incapacidade de ler e escrever, e reduzir em 50% a taxa de
analfabetismo funcional, que é a incapacidade de compreender textos simples. Além disso, conforme os itens
estimados, as taxas entre pessoas com 15 anos ou mais deveriam ter caído para 6,5% em 2015, porém, a meta
intermediária só foi alcançada em 2017 pelo Brasil” (Jornal da USP, 2023). Disponível em:
https://jornal.usp.br/atualidades/brasil-tem-10-milhoes-de-analfabetos-apesar-da-queda-na-taxa-em-
2022/#:~:text=De%20acordo%20com%20os%20dados%2C%20a%20taxa%20de%20analfabetismo%20caiu,490
%20mil%20analfabetos%20a%20menos.
19
O autor faz uma crítica aos estudos trazidos pela gramática, onde se considera o correto
apenas os usos de recursos utilizados para seguir as normas gramaticais, como valorização de
uma só língua idealizada. É preciso ser introduzidas outras variedades de língua no meio
escolar. Nesse campo, Bagno traduz como um mito:
Essa Gramática filia-se à tradição que atribui ao domínio da escrita um elemento de
distinção social, que é na verdade um elemento de dominação por parte dos letrados
sobre os iletrados. Existe um mito ingênuo de que a linguagem humana tem a
finalidade de “comunicar”, de “transmitir idéias” — mito que as modernas correntes
da lingüística vêm tratando de demolir, provando que a linguagem é muitas vezes um
poderoso instrumento de ocultação da verdade, de manipulação do outro, de controle,
de intimidação, de opressão, de emudecimento. Ao lado dele, também existe o mito
de que a escrita tem o objetivo de “difundir as idéias”. No entanto, uma simples
investigação histórica mostra que, em muitos casos, a escrita funcionou, e ainda
funciona, com a finalidade oposta: ocultar o saber, reservá-lo a uns poucos para
garantir o poder àqueles que a ela têm acesso (2007, p. 133).
É importante observar que toda variação linguística é adequada para atender mais do
que as necessidades comunicativa e cognitiva do falante, ela traduz a pluralidade cultural e a
diversidade que esse sujeito ocupa na produção da língua e que dela deriva.
23
4 METODOLOGIA
Neste capítulo é exposto, o tipo de pesquisa que se utilizou para este estudo. Foi a
qualitativa e revisão bibliográfica, além do corpus e etapas da pesquisa.
4.1 TIPO DE PESQUISA
Utilizou-se neste estudo a pesquisa qualitativa na qual o objetivo é de interpretação
descrição e compreensão das dimensões estruturantes e fundamentais que organizam uma
realidade fenomênica (Triviños, 1987) orientando a apreensão e a representação de um
fenômeno, em suas conexões e relações. Estabelecidas afim de solucionar o problema, através
de informações diante dos acontecimentos. A pesquisa qualitativa, de acordo com Minayo
(2007, p.21), “[...] responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais,
com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha
com o universo dos significados, motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes
[...]”.
Além, disso nessa pesquisa também se valeu de pesquisa bibliográfica de livros
didáticos para descrever os elementos que se revelassem no processo de apreensão dos
preconceitos linguísticos. De acordo com Gil, essa pesquisa:
[...] é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de
livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo
de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de
fontes bibliográficas. [...] (2002, p. 44).
Ou seja, o material empírico sobre qual nos debruçamos para situar os preconceitos
linguísticos tiveram nos livros didáticos as principais fontes bibliográficas.
4.2 O CORPUS DE PESQUISA
O corpus da pesquisa é constituído por livros didáticos utilizados no período de 2019
até 2022 para o ensino fundamental anos finais de escolas públicas do ensino fundamental
estaduais de Sinop, Mato Grosso (MT). O material analisado foi um livro do 7ºano e um do
9ºano da unidade I. O livro do 7º ano pertence a coleção Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o
outro a Soluções Educacionais Transformadoras (SET) Brasil de Língua Portuguesa.
O livro do 7º ano tem como base a proposta Maxi3: ensino fundamental 2:
3
Na Plataforma do Sistema Maxi está assim: “O Maxi é um Sistema de Ensino que é referência em educação no
Brasil por promover um ensino consistente, prático e de qualidade, que favorece a formação de valores. O Maxi
tem foco na valorização das interações humanas e almeja melhorar a visão dos educadores, para que eles atuem
motivando e inspirando a vida dos alunos. O Sistema Maxi de Ensino tem como objetivo a formação integral de
uma geração de cidadãos racionais e emocionalmente preparados, capazes de compreender a multiplicidade do
mundo, apresentando um equilíbrio das suas aptidões comportamentais e cognitivas. Por meio de um
relacionamento pessoal focado na transparência, o Maxi transforma a vida dos profissionais de educação, dos
docentes e dos alunos. Há mais de três décadas, o Maxi inova trazendo uma proposta educacional com base na
Pedagogia Afetiva. Essa abordagem inovadora e exclusiva vem somar ao material pedagógico da Educação Infantil
ao Ensino Médio o trabalho de habilidades sócio emocionais e as contribuições dos estudos de neurociências, de
24
estruturado de ensino aos estudantes da rede pública. Ela também ofertou professores e alunos
com as apostilas e disponibilizou uma plataforma digital, com bancos de perguntas e respostas
aplicativos avaliação além de exercícios complementares.
Conforme a Seduc (2022) o material foi entregue em “forma de kits nos quais foram
distribuídos 365.317 para o ensino fundamental e médio”.
Sobre o sistema estruturado de ensino, a Seduc-MT ainda possui uma plataforma virtual
para o acesso dos materiais didáticos em várias áreas do conhecimento, sob o discurso de que
são recursos de pesquisa e aprimoramento da aprendizagem. Os livros didáticos seguiriam as
competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o documento de referência
Circular de Mato grosso (DRC-MT).
Observa-se em seu discurso, o da Seduc, como atenta com a qualidade do material
didático, destacando que os conteúdos seguem os parâmetros da inovação em relação aos anos
anteriores, quando os livros didáticos eram reutilizados e sequer eram atualizados
Referente aos materiais (livros didáticos) dos 6º, 7º, 8º e 9º anos dos anos finais do
ensino fundamental, a base de sua aquisição se deu pelo Programa Mais MT. A apostila foi
organizada pela Editora Obra Coletiva, concebida e desenvolvida pela Editora Moderna, tendo
como editora responsável Thaís Ginícolo Cabral, sob a clivagem institucional o Governo de
MT e a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O Livro 01 é direcionado ao 9º ano do ensino fundamental, o livro em questão foi
utilizado no ano de 2021.
Caderno 01 esse material é do 9º ano do ensino fundamental utilizado no 2022. Ele faz
parte de uma coleção de 04 módulos apostilados desde o ano de 2021. Todos eles vêm com as
adequações da BNCC. Observa-se na contracapa a sigla da Secretaria de Educação do Estado
de Mato Grosso (SEDUC), Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Sistema Maxi de ensino. Sobre
a apresentação do Livros para os estudantes, tem com base de sua organização a equipe Maxi.
O Sistema Max de Ensino (2019) refere às soluções pedagógicas, as quais designa como
completas para as escolas de todas as regiões do Brasil e também do Japão. Ainda sobre o
Sistema Maxi defende como básica pedagógica uma proposta teórica diferenciada que alia
razão e emoção: a pedagogia Afetiva. No livro, situa-se descrição de que a aprendizagem se
baseia em uma metodologia pedagógica que privilegia tanto o aspecto da cognição quanto o
socioemocional. Desse modo, proposta pedagógica do Sistema Maxi em resumo:
Estimular a prática de um conjunto de comportamentos e capacidades que integram
as experiências de vida seja em casa, seja na escola. Quando teoria e prática estão
equilibradamente associadas por meio de interações planejadas pelo professor, com
participação ativa dos alunos e atuação conjunta das famílias, ampliam-se as
possibilidades de crescimento e de conquistas dos jovens para uma educação integral.
26
Questão número 3 - faça uma lista de brincadeiras típicas da infância e pesquise como
elas são chamadas no Nordeste. Caso você more na região Nordeste, faça a pesquisa
para descobrir como as brincadeiras que você conhece são chamadas dentro da própria
região e nas outras regiões (Cabral, 2019, p.21).
Na questão 04, percebemos que ela aponta nas capas exemplares de minidicionários
30
contendo formas de linguagens diferenciadas de quatro regiões do país, dentre eles foram
trazidos dicionários como: Oliveira Juvenal Alberto, 01(dicionário Gaúcho), 02(dicionário de
Cearês), de Gadelha, Marcus,03 (dicionário de Baianês), de Lariú, Nivaldo 04 (Fernandês
jequitinhonhês Mineirês), de Mota, Carlos.
Das questões, apesar da valorização das diversificadas culturas, as experiências
linguísticas dos estudantes são apenas complementações e elas não tomam centralmente as
composições linguísticas desses estudantes. A padronização da variedade linguística no livro
tal como direcionado assume a forma de um recorte de pouco aprofundamento e passível de
distorções, em razão das fragilidades do conteúdo e de suas proposições, dificultando as
apropriações claras. Estas deveriam estar situadas e historicizadas nos estudantes, base efetiva
da experiência para compreensões das identidades das variações linguísticas. As identidades,
as quais a sociolinguística defende, estão orientadas para promover os conhecimentos das
diversas formatos de falas de diferentes culturas, além oportunizar ao sujeito a conhecer outras
formas de linguagem por meio da troca de variantes e sotaques. Observa-se na questão 4 que a
proposição da diversidade segue a fragilidade de recursos de produções linguísticas, novamente
tomando variação linguística do Nordeste como o referente a ser valorizado para essa
apreensão:
Questão número 4-Produza um minidicionário contendo o nome das brincadeiras da
sua região e como elas são faladas na região Nordeste. Faça o inverso, caso more no
Nordeste (Cabral, 2019, p.21).
Na página 80, é referido a um contexto, explicando passo a passo sobre como construir
um gênero de história em quadrinho/tirinhas com linguagem verbal e não verbal.
5
Personagem criada por Mauricio de Sousa na década de 1960 para histórias em quadrinhos no Brasil.
32
expressões um campo linguístico de caipiras mineiros (do estado de Minas Gerais), mobilizado
pela personagem de Chico Bento. Apesar de ser uma fala coloquial não formal conseguimos
compreender as mensagens nas quais foram passadas. Observa-se que este livro traz vários
assuntos direcionados a composição da língua. Porém, a aborda muito pouco sobre assuntos
direcionados as questões sobre a diversidade linguística, sequer referindo a Mato Grosso e sua
pluralidade linguística.
Essa orientação embora pareça pertinente, por referir a trabalhar as diversas formas de
variantes, ainda, promove a pouca interação dos envolvidos nas trocas de conhecimentos,
experiências, na qual poderia destacar por meio troca os saberes linguísticos, experimentações
linguísticas de um grupo de estudantes, envolvendo o movimento individuo, grupos,
comunidades, região e suas correspondências com a cultura humana.
Observamos nesse livro conteúdos voltados para a variação linguística, mas somente
em poucas páginas e de forma fragmentada. Apesar da posição temática da variedade linguística
há a dominância de conteúdos e constituições gramaticais formais da Língua Portuguesa. Bagno
já apontou que um dos desafios para enfrentar os limites impostos a língua falada está no
referente do ensino tradicional da língua:
Na página 29, o conteúdo está direcionado para o período composto (revisão) e oração
subordinada adverbiais proporcionais e orações subordinadas adverbiais temporais na página
30. Esses são expostos através de textos, tirinha e atividades para o aluno refletir e responder
discorre sobre orações subordinadas adverbiais comparativas aborda sobre um fragmento de
um texto tirinhas e exercícios. Conhecimentos linguísticos e gramaticais 02.
Analisa-se que o livro não aborda nada sobre variações linguísticas, no tópico
conhecimentos linguísticos e gramaticais. A centralidade é gramatical, não existindo nessa
unidade didática alguma referência ao campo da diversidade linguística. Podemos observar que
no livro do 9º ano do ensino fundamental ocupa-se com assuntos direcionados a gramática
normativa, não aborda nada sobre as formações e variações linguísticas para além da norma
culta da Língua Portuguesa.
5.3 A NORMA-PADRÃO E DAS VARIEDADES LINGUÍSTICAS
Os livros didáticos analisados apresentam conteúdos insuficientes e superficiais quanto
a universo das discussões da sociolinguística, das variedades linguísticas no campo
educacional. O livro do 7º ano apresenta uma perspectiva fragmentada e padronizada como
observamos nas sequências de páginas e o lugar do referente do regionalismo da língua no
Nordeste, tendo o universo linguístico do estudante como uma organização menor e
35
complementar. Isso ficou evidente, inclusive, nas atividades e exercícios propostos no livro
didático. Bagno aponta que:
Um dos principais problemas que encontramos nos livros didáticos é uma tendência
a tratar da variação linguística em geral como sinônimo de variedades regionais, rurais
ou de pessoas não escolarizadas. Parece estar por trás dessa tendência a suposição
(falsa) de que os falantes urbanos e escolarizados usam a língua de um modo mais
“correto”, mas próximo do padrão, e que no uso que eles fazem não existe variação
(2007, p.120).
As abordagens e concepções dominantes nos livros didáticos quando referem ao
universo linguístico, sublinearmente, apresentam a variedade linguística apenas como
curiosidade da linguagem, e como de menor relevância quando comparada com as classes
gramaticais da língua culta e estruturada da língua portuguesa, apresentada com “a correta”
diante da diversidade linguística. Há uma abordagem política de “apequenar” as diferenças
regionais. Diante disso, podemos sublinhar que a norma-padrão e das variedades linguísticas
são importantes para o professor trabalhar em sala de aula, mas a escola enfrenta dificuldades
para inserir esse tema em aulas e principalmente seguindo apenas o que se tem nos livros
didáticos. Há uma imposição de se trabalhar a norma culta a maior parte do tempo na escola,
por meio de exercícios focados na gramática normativa, destaca Bortoni- Ricardo:
No caso, do Brasil o ensino da língua culta a grande parcela da população que tem
como língua materna - do lar e da vizinhança- variedades populares da língua, tem
pelo menos duas consequências desastrosas: não são respeitados os antecedentes
culturais e linguísticos do educando, o que contribui para desenvolver nele um
sentimento de insegurança, nem lhe é ensinada de forma eficiente a língua padrão
(2005, p.15).
A maioria dos conteúdos nos livros didáticos ainda apresentam estudos voltados para a
agregação de regras gramaticais, pouco se fala de diversidade linguística mesmo já sendo uma
realidade da língua, ofuscando os alcances de compreensões sobre a pluralidade histórica
inclusive da língua. Como salienta Bortoni-Ricardo (2005), o livro didático não tem dado a
importância necessária para a temática da diversidade linguística, se limitando a regras
gramaticais preestabelecidas, como algo mecanizado e absoluto. Como visualizados nesses
livros o conteúdo é focado na decoração de termos e exercícios mecânicos.
Nos espaços escolares ensino da Língua portuguesa adquiriu atividades tradicionais da
gramática, por isso é preciso ter um olhar de maneira reflexiva em relação ao uso da língua.
Destaca Antunes (2003, p.19) que podemos fazer um “[...] exame mais cuidadoso de como o
estudo da língua portuguesa acontece, desde o Ensino fundamental, revela a persistência da
uma prática pedagógica, em perspectiva reducionista do estudo da palavra e da frase
descontextualiza”.
O autor faz uma crítica aos estudos trazidos pela gramática onde se considera o correto,
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Portanto, o professor é desafiado não somente pelas imposições, mas pelo lugar político
que a linguagem ocupa e também representa, de forma complexa, nas relações e dinâmicas
sociais, principalmente quando se refere ao poder dominantes e, porque não, discriminador da
língua culta e do norma-padrão em detrimento da língua popular. Trata de uma luta pela língua,
por seguinte, política que essa luta mobiliza no espaço escolar. As perguntas que ficam são: é
possível uma política da língua para a qual as ações docentes possam responder pela demanda
das vivências e experiências linguísticas dos estudantes em resposta às demandas antecipadas
dos livros didáticos que atuam nas padronizações, generalizações e imposições da língua culta
e do norma-padrão da língua portuguesa? A quem interessa essa força dominante escondida de
padrão da língua? É possível envolver a comunidade escolar para o tempo vivo da
heterogeneidade da língua, conscientizando os alunos sobre as infinitas formas de linguagem e
os valores que elas têm perante a sociedade?
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio dessa pesquisa, alcançou-se os objetivos, pois foi possível fazer as análises
dos conteúdos nos livros didáticos do 7º e 9º anos do ensino fundamental, que foram unidades
I livro 1, do 7ºano, e livro 2, do 9º ano. Os demais não foram possíveis descrever as análises,
visto que não tinham conteúdos direcionados para a diversidade linguística.
Nos livros são expostos exercícios voltados para a prática mecânica, onde não agrega
conhecimentos usais sobre a linguagem, oriundos de estudos gramaticais e onde o foco é
decoração de nomenclaturas e regrinhas. Por isso é importante que o professor(a) se apodere de
conhecimentos sociolinguísticos, para adaptar os conteúdos trazidos de forma mecanizada e
fragmentada, de maneira que construa uma base sólida para trabalhar com a diversidade
linguística. Por fim, ampliando os conteúdos do livro sobre diversidade linguística, o professor
promove a inserção sobre a heterogeneidade da língua e combate ao preconceito linguístico
presente em nossa sociedade.
Trata de desafios não somente para o professor, mas para o campo das relações sociais,
de uma sociedade hierarquizada, de poder e controle, fundada em privilégios daqueles que tem
em seu poder econômico também a força de impor o seu padrão linguístico, como único para
os demais que sustentam, com sua energia e história, a riqueza material socialmente produzida.
Por isso, a língua é objeto de luta e, assim, objeto social, de inscrição política, seja para
manutenção e reprodução ou para rupturas e transformações.
Relações sociais que além de sua dinamicidade e complexidade está também mediada
por essa política. Podemos tranquilamente referir a linguagem como uma política em que de
um lado, há a força dominante da língua culta, apoiada na concepção da norma-padrão, e, de
outro, a língua popular de variação linguística, que resiste e luta para sobreviver e traduzir a
cultura popular e as historicidades dos sujeitos de experiências para além do que a dominação
que fazer ver e crer. No caso dos livros didáticos, de ensinar.
Essa política atravessa e se também se assenta no mundo escolar. Para finalizar: para
qual direção atuaremos, como professores, nesse universo de impedimentos linguísticos, da
política da língua, que o livro didático representa e a riqueza da diversidade do mundo da
linguagem popular, que resiste e se recria?
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REFERÊNCIAS
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