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INSTITUTO DE LETRAS
MESTRADO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM
NITERÓI,
2019
Cláudio de Oliveira Martins
NITERÓI,
2019
Ficha catalográfica a ser elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá.
Cláudio de Oliveira Martins
Aprovado em:____________________________________________________
Banca examinadora:
_____________________________________________________________
Profa. Dra. Luciana Maria Almeida de Freitas – Orientadora
Universidade Federal Fluminense – UFF
_____________________________________________________________
Profa Dra. Patricia Ferreira Neves Ribeiro
Universidade Federal Fluminense – UFF
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Diego da Silva Vargas
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO
_____________________________________________________________
Profa. Dra. Dayala Paiva de Medeiros Vargens - Suplente
Universidade Federal Fluminense – UFF
_____________________________________________________________
Profa. Dra. Giselle da Motta Gil - Suplente
Instituto Federal do Rio de Janeiro – IFRJ
Quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais
livremente os empregamos, tanto mais plena e
nitidamente descobrimos neles a nossa
individualidade (onde isso é possível e necessário),
refletimos de modo mais flexível e sutil a situação
singular da comunicação; em suma, realizamos de
modo mais acabado o nosso livre projeto de
discurso.
(Mikhail Bakhtin)
AGRADECIMENTOS
Sou muito grato à Universidade Federal Fluminense por toda minha trajetória acadêmica.
As experiências, as oportunidades, os encontros com tantos profissionais capacitados
pelo caminho. Tudo que vivi e tudo aquilo que conquistei, da graduação ao mestrado, eu
devo a UFF. É, com certeza, minha segunda casa!
À Luciana Freitas, minha orientadora, pelas oportunidades, pelos ensinamentos e pela
preocupação sempre dispensada a mim e à minha pesquisa. Graças à sua crença em
meu potencial, e por propiciar minha superação de obstáculos, este trabalho pode se
tornar realidade.
À comissão da banca, pelas contribuições durante a qualificação e posteriores a ela. Ao
Diego Vargas, pela sua participação, que foi essencial para o direcionamento da minha
dissertação, como também para o enriquecimento do texto com dados contextuais. À
Patrícia Ribeiro, pelo reconhecimento do valor da pesquisa e pelas sugestões de
adequação do trabalho.
Aos professores e colegas da UFF, da graduação à pós-graduação, por instigarem o
conhecimento nas aulas e por fazerem do espaço universitário um local acolhedor. Em
especial, a Bruno Dassie e a Flavia Souza, pelos ensinamentos em disciplina de
mestrado da Faculdade de Educação da UFF; e a Giselle da Motta Gil, pelos diálogos na
décima edição do SAPPIL-UFF.
Aos meus pais, pela referência e pela base. Minha mãe, Sueli Nunes, que sempre foi
meu motivo para tudo. Ainda que não esteja mais fisicamente comigo, é sempre minha
fonte inspiradora. Dia 09 de outubro, em que faria aniversário, ganhou novo sentido para
mim. Meu pai, Paulo Roberto, mesmo que nos bastidores da minha vida, com pequenas
ações diárias, contribuiu para que eu chegasse à defesa. A esses, devo o que sou e o
que tenho.
Aos meus amigos e colegas, pelos incentivos à pesquisa, pelas revisões de texto e pelos
abraços nos momentos de dificuldades durante o mestrado. Serei sempre grato a vocês,
Aldalea Figueiredo, Aline Xavier, Carolina Gaio, Carolina Tovar, Eric Campos, Fernanda
Henrique, Laís Eunápio, Luiz Braga, Luzia Siqueira, Paulo Cesar, Rosana Gaio, Sara
Aline e Shayane Lopes.
À Mariana Sousa Dias, pela inspiração em ser professor. Também por não soltar da
minha mão, desde quando eu era um vestibulando, ao momento atual, em que sou
estudante de mestrado. Agradeço também pela doação de apostilas.
Ao Kenion Assunção, pela doação de exemplares da apostila. Ao Wellton, pelo incentivo
e pelas reuniões de estudo para realização da prova do mestrado.
À Amanda Damasceno, em especial, pelos momentos partilhados ao longo da graduação
e do mestrado. Suas palavras esperançosas e poéticas tornaram o percurso mais leve.
Aos meus familiares, pelas palavras e pelo apoio. Desde a graduação à pós-graduação.
Aos meus alunos, pelo carinho, pela atenção às minhas palavras e aos meus
ensinamentos, pelo fato de despertarem em mim o desejo de continuar caminhando
enquanto professor-pesquisador. Agradeço a esses que nutrem a vontade de
compreender ainda mais sobre a linguagem e a educação.
Agradeço muitíssimo a todos que foram pontes para a conclusão desta pesquisa. Sempre
serei grato a cada um que se fez presente em minha vida e me ajudou para a conclusão
desta etapa. Muito obrigado!
RESUMO
Introdução.................................................................... .....................................................12
1. O contexto do Pré-Vestibular da Fundação Cecierj (Consórcio Cederj)........................18
1.1. A Fundação Cecierj: história e projetos desenvolvidos..........................................19
1.2. O Pré-Vestibular Social da Fundação Cecierj (Consórcio Cederj).........................25
1.2.1. História e metodologia..................................................................................26
1.2.2. Previsões para o futuro................................................................................36
1.2.3. Profissionais integrados ao projeto..............................................................37
1.2.4. Tutores?.......................................................................................................42
1.3. Os recursos didáticos do PVS e o acesso ao ensino superior...............................51
1.3.1. Tutoria presencial e a distância....................................................................52
1.3.2. Outras atividades acadêmicas.....................................................................54
1.3.3. Exames acesso ao ensino superior..............................................................57
2. Os pressupostos teóricos dos saberes linguísticos e dos materiais didáticos...............59
2.1. Noções linguísticas e a redação de vestibular.......................................................60
2.1.1. Língua e linguagem......................................................................................64
2.1.2. Discurso, gênero discursivo e texto..............................................................66
2.1.3. Dissertação argumentativa...........................................................................72
2.2. Materiais didáticos..................................................................................................76
2.2.1. História e função...........................................................................................76
2.2.2. Livros didáticos e apostilas...........................................................................79
2.2.3. Livro didático para ensino de escrita............................................................81
3. Apostilas de Redação do PVS em análise.....................................................................78
3.1. Percurso e instrumentos de análise.......................................................................79
3.2. Material de Redação..............................................................................................80
3.2.1. Apresentação...............................................................................................81
3.2.2. Modificações.................................................................................................93
3.2.3. Pré-textuais..................................................................................................95
3.3. Análise dos capítulos e das atividades.................................................................101
3.3.1. Concepção de língua..................................................................................102
3.3.2. Conceito de gênero do discurso.................................................................108
3.3.3. Estratégias e atividades de produção escrita.............................................112
Considerações finais........................................................................................................138
Referências......................................................................................................................126
Anexo A............................................................................................................................133
Anexo B............................................................................................................................134
Anexo C...........................................................................................................................135
Anexo D...........................................................................................................................136
Anexo E............................................................................................................................137
13
INTRODUÇÃO
consideramos importante propiciar reflexão acerca das apostilas dessa disciplina, em que
ministrei aula no pré-vestibular. Uma breve pesquisa nos mostrou que não havia
publicação acadêmica sobre esses recursos didáticos. Tais constatações corroboraram a
definição dos elementos de investigação.
Quanto às justificativas teóricas para o trabalho com os materiais didáticos de
Redação do PVS, fundamentamo-nos na Análise Dialógica do Discurso (BAKHTIN, 2011;
VOLOSHINOV, 2009). Consideramos, à luz de Bakhtin (2011), que emprego da língua se
efetua por meio de enunciados, concretos e únicos, pertencentes a determinadas
atividades humanas. Ao se utilizar dessa categoria sociocultural na produção de textos, o
indivíduo marca sua subjetividade e, ao mesmo tempo, relaciona-se a particularidades
específicas de um determinado gênero do discurso e, inclusive, de um domínio discursivo
ao qual ele se refere.
Seguindo essa direção, investigamos as apostilas de Redação, a fim de avaliar
como propõem as atividades de escrita da redação de vestibular – também chamada de
texto dissertativo-argumentativo –, o principal enunciado concreto com o qual elas
tematizam. Pensamos que a dissertação de vestibular, realizada por esses sujeitos, é um
gênero discursivo do âmbito escolar. Sua aprendizagem se torna relevante, uma vez que
o aluno do PVS pretende realizar provas de acesso ao ensino superior. Portanto,
queremos verificar como se dão as tarefas produção textual, atendo-se às pesquisas
recentes sobre o assunto.
Conforme Bakhtin (2011, p.271) ainda, no que se refere à compreensão do
enunciado, sabemos que “é de natureza ativamente responsiva” e que “toda
compreensão é prenhe de resposta [...] obrigatoriamente: o ouvinte se torna falante”.
Associando tais postulações à questão da produção textual do vestibular, notamos que,
para construir um texto dissertativo-argumentativo, é necessária, por parte do estudante,
uma tomada de posição em resposta à proposta temática.
O aluno escreve porque há uma situação comunicativa, que compreende desde
aspectos intraverbais a questões extravervais. Isso quer dizer que o aluno não só se
utiliza de elementos gramaticais e fraseológicos para produzir um texto sobre um tema
que lhe foi designado. Existem outras noções que contextualizam a produção, tais como
o interlocutor (no caso, o professor), o lugar e o tempo em que se inscreve o discurso, por
exemplo. Por meio da Análise do Discurso Dialógica, queremos compreender as
propostas de escrita que se dão nesse contexto de interação.
Quanto ao caráter responsivo da linguagem, perdura nesse contexto em que se
desenvolve produção escrita, uma vez que a linguagem é dialógica. As correções das
dissertações elaboradas pelo estudante e as aulas que ocorrem no PVS continuam o elo
15
do ensino das ciências básicas” (FREIRE, 2017, p.18); e ao fato de que seu objetivo era
“treinar professores e produzir e distribuir livros-textos e materiais para laboratório para
as escolas de seus respectivos estados” (BARRA; LORENZ, 1986, p. 1975).
Além dos Cecis, instalaram-se, em momento posterior, de 1980 a 1990, época
da redemocratização do Brasil, os Cieds (Centros Estaduais de Informática Educativa)
pelo Brasil. No Rio de Janeiro, esse projeto se integrou ao CECIERJ (BIELSCHOWSKY,
2018, p.12). Atendeu a alunos e a professores dos então designados 1º e 2º graus e da
Educação Especial. Segundo Bielschowsky (2018, p.12), também serviu à comunidade,
por proporcionar tecnologia da informática às escolas públicas brasileiras.
O período que compreende o ano de 1992 ao 1994 é tido como aquele em que
foram intensificadas as ações da CECIERJ no que se refere à divulgação científica e à
formação de professores (BIELSCHOWSKY, 2018, p.13). Em 1995, houve grande
expansão da informática educativa; entre 1995 a 1998, implantou-se o projeto Rede
Escola, cuja coordenação estava sob essa fundação e cuja missão era a formação
continuada de professores a distância (BIELSCHOWSKY, 2018, p.13). Até o momento,
as ações da Fundação Cecierj se basearam na formação continuada e na divulgação
científica, afirma Bielschowscky (2018).
Em 2002, CECIERJ se torna a Fundação Cecierj – Fundação Centro de Ciências
e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro. Dentre seus objetivos,
presentes no Artigo 2º da Lei Complementar de nº 103/2002, podemos destacar:
Convém comentar que esses dados, embora expressivos, são relativos ao ano
de 2018. Podemos encontrá-los por meio do livro publicado pela Fundação Cecierj
contextualizando sua história, o qual nos permitiu expressar a atuação do PVS.
Gostaríamos de confrontar essas informações com outras fontes. No entanto, conforme
se confere nos anexos dessa dissertação, a direção do PVS não respondeu aos quase
todos os nossos e-mails em que solicitávamos informações. A seguir exibimos um mapa
de atuação da Fundação Cecierj.
26
O fragmento anterior nos fornece algumas informações. Dentre elas, está o perfil
do alunado do PVS, marcado pela seleção do critério da renda financeira. Ademais,
comenta-se sobre a grade horária, os recursos didáticos, o espaço de funcionamento e
os duas modalidades de ingresso que ocorrem ao longo do ano letivo.
Bastos, Gomes, Fernandes (2010) define o Pré-Vestibular Social da Fundação
Cecierj (Consórcio Cederj) como uma ferramenta para democratização do acesso ao
ensino superior. Bielschowsky et al (2018). No entanto, destaca-se que, além de propiciar
educação aos alunos do PVS, é preciso promover outras medidas – não se explicita
quais seriam elas – que revertam as desigualdades existentes na sociedade
(BIELSCHOWSKY, 2018). Bastos, Gomes, Fernandes (2010, p.126) parece apontar
algumas dessas dificuldades:
Para Bastos, Gomes, Fernandes (2010), o PVS é tido como uma ferramenta
para alterar os problemas na educação pública, que impedem o acesso ao ensino
superior às camadas menos favorecidas da população. Ademais, considera, ainda, que
somente o pré-vestibular não dará conta dos ditos problemas a se resolver.
usamos o canal “Fale com o PVS”, recurso disposto no site da Fundação Cecierj. O texto
remetido é encontrado no anexo B.
A mensagem enviada por nós apresentava o pedido por informações sobre as
apostilas de Redação usadas no curso. Desejávamos entender mais sobre sua
composição, sobre a quantidade de versões produzidas ao longo dos anos. O diretor do
curso, Luiz Bento, nos respondeu, solicitando que procurássemos coordenador de
Redação, para que tirássemos dúvidas sobre o material didático. No anexo C, podemos
verificar a resposta do diretor.
Conforme a orientação fornecida, solicitamos informações ao coordenador de
Redação, Rafael Pinna. Para tanto, conforme o anexo D, enviamos uma mensagem ao
profissional, mas não obtivemos respostas acerca da quantidade de edições do material
didático publicado e do ano de publicação dessas versões. Desejávamos, nesse
momento, levantar os dados bibliográficos do material didático de Redação do PVS.
O segundo e-mail que enviamos ao diretor do curso em 2018 (anexo E)
solicitava dados mais gerais sobre a instituição, tal como o quantitativo de professores de
Redação ativos na instituição; de alunos inscritos e matriculados no projeto no ano de
2018; e de polos em que o PVS estava funcionando nesse mesmo período. A seguir,
mostra-se a segunda mensagem remetida à equipe diretiva.
Não alcançamos os dados de que precisávamos, apesar de que, como se trata
de uma autarquia pública, as informações deveriam estar disponíveis para acesso da
sociedade. A omissão da direção do PVS, como também da coordenação de Redação,
em não responder aos e-mails para fornecer informações acerca do projeto e do seu
material didático, limitou, de certo modo, a propagação de determinados dados na
composição deste trabalho. Gostaríamos de relatar aqui a dificuldade de expor alguns
dados consistentes a respeito dessa pesquisa, devido a esse motivo.
Concernente, agora, à organização do Pré-Vestibular Social da Fundação
Cecierj (Consórcio Cederj), considerando o tempo de duração do ano letivo e o ritmo das
aulas, sabemos que há um desdobramento em duas modalidades. Uma delas é curso
extensivo, com aulas de março a dezembro; a outra, curso intensivo, com aulas de junho
a dezembro. (BIELSCHOWSKY, 2018, p. 272).
O primeiro modo de entrada no curso tem seu processo seletivo iniciado e
concluído no período de férias escolar, o que compreende, no PVS, aos meses de janeiro
a março aproximadamente. Já a última forma de ingresso no PVS é uma medida de
disponibilização vagas ociosas. Em consonância a Bielschowsky (2018), no ano de 2018,
foram matriculados 5.986 alunos na variante extensiva (início das aulas em março) e
4.478 alunos na variante intensiva (início das aulas em junho) do pré-vestibular.
35
No que tange à quantidade de vagas oferecidas no PVS, vemos que cada polo
pode conter, no máximo, 360 alunos (BIELSCHOWSKY, 2018, p. 272), o que equivale a
seis turmas, com 60 alunos por sala de aula (BASTOS, GOMES, FERNANDES, 2010).
Nos editais de seleção de alunos, publicados anualmente, assim que abrem as inscrições
para o Pré-Vestibular Social da Fundação Cecierj (Consórcio Cederj), constam-se os
números disponíveis de vaga por polo. Essas oportunidades nas unidades de ensino
costumam variar.
Quanto ao material didático do curso, é disponibilizado gratuitamente para seu
alunado. Eles estão organizados em “dois livros de cada disciplina ao longo do curso
(incluindo Inglês e Espanhol), além de um livro extra de orientação acadêmica”
(BIELSCHOWSKY, 2018, p. 273). Segundo Bastos, Gomes, Fernandes (2010),
alimentação gratuita também era uma ferramenta importante para a permanência dos
estudantes no curso. Entretanto, em editais de seleção de aluno (RIO DE JANEIRO,
2019b) não fazem menção a esse benefício aos estudantes, tampouco ao material
didático. Somente referenciam as aulas e as inscrições (matrícula), quando abordam a
gratuidade.
As aulas no PVS ocorrem dentro de cinquenta e cinco minutos, e o professor
deve, obrigatoriamente, fazer o uso do material didático. Além das aulas, há outras
atividades fornecidas no pré-vestibular, tais como: orientações acadêmicas (reuniões
entre professor e alunos por quem fica responsável); simulados online (ocasionalmente,
há uma edição de simulado presencial e anual); atendimento a dúvidas por telefone; e
orientações acadêmicas especiais, que seriam debates temáticos (BIELSCHOWSKY,
2018).
Os docentes do PVS não só devem ministrar aulas e registrar presença dos
estudantes, mas também elaborar relatórios (sobre as aulas e sobre o funcionamento do
polo) no sistema do curso, chamado SISPVS. Segundo Bielschowsky et al (2018, p. 271)
2
Serviço de Orientação Acadêmica (SOA): “grupo de suporte às atividades de Orientação
Acadêmica” (CECIERJ, s/data, p.18)
41
1.2.4. TUTORES?
No PVS, o professor é designado “tutor”. Esse termo está presente em muitos
documentos impressos e online, tal como editais, material didático e as plataformas
digitais da instituição. Queremos polemizar aqui a atribuição desse termo a um
profissional, uma vez que ela contribui para não reconhecimento do trabalho docente que
42
Como podemos ver, os “tutores” do PVS recebem por tempo de aula dado e
permanência no polo. Os valores apresentados variam de acordo com a quantidade de
hora-aula que esses profissionais têm em sala nos polos em que atua. O professor
também recebe a quantia de R$68,75, somada à bolsa mensal, em decorrência de uma
atividade chamada “Orientação Acadêmica” (RIO DE JANEIRO, 2019a), melhor
comentada posteriormente nesta pesquisa.
Em caso de falta ao trabalho, conforme o edital, “a Fundação CECIERJ se
reserva o direito de descontar as horas e tarefas eventualmente não cumpridas” (RIO DE
JANEIRO, 2019a). Cecierj (2018?, p.12) ainda acrescenta que, na ausência de algum
professor, seus tempos deverão ser distribuídos entre os professores presentes, que
estejam “em janela”, ou seja, fora de sala no tempo em que se precisa repor a aula do
docente faltoso no dia. Essas aulas substitutivas são feitas pelos professores “sem que
recebam pagamento extra por isso” (CECIERJ, 2018?, p.12).
É interessante mencionarmos que, de acordo com a Lei nº 8.030, de 29 de junho
de 2018, o Estado Fluminense “veda a utilização do termo ‘tutor’ para o exercício das
atividades de acompanhamento das disciplinas ofertadas na educação à distância e dá
outras providências” (RIO DE JANEIRO, 2018). Com base nesse instrumento legislativo
(RIO DE JANEIRO, 2018), conferimos, ainda, que:
Imagem 10: Grade horária das turmas de extensivo e de intensivo do polo LHU (Campos) no Pré-Vestibular
Social da Fundação Cecierj (Consórcio CEDERJ)
O material didático a ser utilizado nas aulas do PVS é a apostila elaborada pela
própria Fundação Cecierj e distribuída gratuitamente aos estudantes e aos professores.
Não há informações públicas sobre questões didáticas das aulas do pré-vestibular:
cronograma, planos de curso, planos de aulas, orientações da coordenação das
disciplinas. O que se pode levantar sobre tarefas de um docente do projeto é que
aulas, como também consegue sanar dúvidas relativas a outros tópicos de natureza
educativa (BASTOS et al, 2012, p. 62).
Sobre o controle das aulas a distância, Bastos et al (2012, p.62) afirma o
seguinte:
Como podemos conferir na imagem 11, há um tempo na grade horária para que
se realize a orientação. Essa atividade ocorre em apenas quinze minutos. Para
desenvolver esses encontros, o PVS elaborou um material chamado de Caderno de
Orientação Acadêmica (BASTOS et al, 2013). A seguir, apresentamos uma imagem do
sumário desse livro. Nosso objetivo é destacar algumas temáticas nele presentes.
54
Por meio de uma leitura do sumário, podemos ver alguns assuntos pautados nos
encontros entre professores e alunos. De um modo geral, o material se articula para
apresentar aos estudantes alguns aspetos, tais como provas de seleção, formas de
acesso às universidades, tipos de cursos e seus locais de funcionamento e programas
institucionais de apoio ao universitário (bolsas).
A segunda proposta do Sistema de Orientação Acadêmica é a Orientação
Acadêmica Especial (OAE). Como aponta Bielschowsky (2018, p.274), esse tipo de
sessão especial é uma abordagem transdisciplinar de temas da atualidade. O tempo de
duração dessa atividade é de sessenta minutos, nos quais são discutidos os seguintes
assuntos:
Imagem 12: Município de residência de alunos aprovados no Vestibular Cederj em relação ao Município do
polo de graduação a distância (2003/2)
taxa de inscrição, ENEM, SISU, PROUNI, carreiras, vida universitária, etc” (CECIERJ,
2018?). Bielschowsky (2018) acrescenta acerca do PVS que:
evidência a visão de tal texto para o PVS, bem como ressaltaremos o olhar teórico para o
assunto.
3
“se manifesta mediante objetos materiales que son los signos, pero em cuanto sistema de
formas normativamente idênticas es real tan sólo em su calidad de norma social.”
60
Voloshinov (2009, p.73, tradução nossa) declara que: “A palavra [...] aparece
como produto de interação das forças sociais vivas. Desse modo, o psiquismo e a
ideologia se compenetram dialeticamente e um processo singular e objetivo da
comunicação social”4. Nesse sentido, o filósofo nos aponta para o que Martinet (1975,
p.4) pronuncia com a seguinte frase: “A linguagem que o linguista estuda é a do homem”.
O pensamento que se tem da linguagem, conforme o círculo bakhtiniano, é o de
que não só se relaciona a aspectos de ordem verbal e psicológica. Além disso, a relação
da palavra com o meio social deve ser levada em conta. Martinet (1975, p.5), elevando a
sua discussão sobre a linguagem e sua relação com o social, completa:
4
“La palabra en los labios de un individuo aislado aparece como producto de interacción de las
fuerzas sociales vivas. De esta manera, el psiquismo y la ideología se compenetran
dialécticamente en un proceso singular y objetivo de la comunicación social.”
62
Com Britto (1997), é possível refletir que o domínio da escrita requer muito mais
que o conhecimento de regras gramaticais e sintáticas. Antes, implica o conhecimento de
certas formas de discurso e o acesso à cultura. Nesse sentido, é coerente defender que o
desenvolvimento da escrita deve ser realizado por meio do texto, conforme Bezerra
(2001). Uma vez propiciando o ensino de produção textual desse modo, será possível
ampliar o repertório de conhecimentos de mundo e de linguagem do alunado.
Partindo de pesquisa com livros de português aprovados no PNLD 2015
(FREITAS; MARTINS, 2017), notam-se algumas ponderações importantes. Além de livros
didáticos atuais ainda privilegiarem a gramática em tarefas de produções escritas, muitos
não promovem ao estudante conhecimento aprofundado dos gêneros discursivos que se
deve produzir. Isto é, há poucas atividades de leitura e de compreensão eficientes
(quando há) que aproximem os alunos dos próprios textos que se propõe ensinar.
Esses não são os únicos impasses que podem surgir em materiais que
apresentam atividades de produção textual. Estratégias para organização, para revisão e
para reescrita de texto, como as ferramentas de apoio ao escritor, sugeridas (DOLZ;
NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004), constantemente são esquecidas por autores de livros
de didático nas seções de atividade de escrita.
Porque os instrumentos metodológicos necessários para habilidade de escrever
muitas vezes não são bem abordados, ainda mais em coleções de material didático
(FREITAS; MARTINS, 2017), considera-se Dolz, Gagnon e Decândio (2010), quando
dizem que se devem buscar soluções para ensino de tal competência.
Vamos entendendo, juntamente com as concepções sociodiscursivas de
linguagem sobreditas, que ensinar língua escrita é muito mais do que permitir ao
educando depreender informações sobre um código linguístico. É preciso estimular a
proficiência autônoma em muitas situações de comunicação em que se insere por meio
de um uso reflexivo e interpretativo da linguagem.
66
Pelo percurso traçado no segundo capítulo (RABIN, 2014), podemos notar mais
conceituações sobre a dissertação argumentativa. Além disso, comentam-se também os
aspectos composicionais, estilísticos e temáticos que se relacionam a ela. Há seções
intituladas por “Tema”, “Defesa de ponto de vista”, “Linguagem impessoal” e “Estrutura
lógica”, por exemplo.
Na bibliografia levantada nesta pesquisa, a dissertação constantemente é tida
quer como desdobramento da argumentação, quer como articulação expositiva somada à
argumentação (GARCEZ; CORRÊA, 2017). Inteiramos que referências, como Kock e
Elias (2012), no estudo das tipologias, não consideram a dissertação como uma
sequência discursiva existente por si só.
Organizado por Garcez e Corrêa (2017), há um material digital publicado pelo
Ministério da Educação e Cultura, com objetivo de capacitar avaliadores das redações do
Exame Nacional do Ensino Médio. Intitulado por Textos dissertativo-argumentativos:
subsídios para qualificação de avaliadores, a coletânea é composta por ensaios que
discorrem sobre os aspectos relacionados aos critérios de avaliação da redação do
ENEM.
Lançando mão dessa bibliografia, percebemos pontos relevantes que nos
ajudam a confrontar o conceito de gênero do discurso à produção da redação de
vestibular. Segundo Garcez (2017, p.53), na elaboração textual, há uma relação entre os
gêneros do discurso e as tipologias textuais e:
No que tange ao conceito de livro didático ainda, Bittencourt (2008, p.477) afirma
que objeto “possui peculiaridades em sua produção, circulação e uso, entre elas a da
autoria, por meio da qual é possível ver a distinção entre o trabalho de escrever um texto
e o de fabricar um livro”. A autora comenta sobre o livro didático, ressaltando a autoria
como um aspecto relevante para sua constituição.
Considerando a funcionalidade do livro didático, Batista (2000, p.568) postula
que esse objeto deve:
5
O Decreto nº 9.099, de 18 de julho de 2017, unificou as ações de aquisição e distribuição de
livros didáticos e literários, anteriormente contempladas pelo Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD) e pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) (BRASIL, 2019).
74
um livro didático, possivelmente, influencia no modo como o educador manipula tal objeto
e, consequentemente, educa seus alunos.
À luz de Bittencourt (2008, p.477), é possível depreender que o livro didático
“deve ser, em princípio, um seguidor dos programas oficiais propostos pela política
educacional” (BITTENCOURT, 2008, p.479). Darnton (2010, p.215) ressalta que esses
“[...] textos moldam a reação dos leitores, por mais ativos que estes possam ser”. e “não
apenas relatam a história; eles fazem a história.” (DARNTON, 2010, p.2015).
Lajolo e Zilberman (1999, p.121) dizem que o livro didático “pode não ser tão
sedutor quanto às publicações destinadas à infância [...], mas sua influência é inevitável”.
Para as autoras, tal objeto “é cartilha quando alfabetização; seleta, quando da
aprendizagem da tradição literária; manual quando do conhecimento das ciências ou da
profissionalização adulta, na universidade” (1999, p.121).
Bittencourt (2008, p.479) expressa que o livro didático não é muito bem quisto
entre os intelectuais:
Soares (1996, p.55) ainda insere que o livro didático é “instância encarregada de
apresentar a cada geração uma versão autorizada do conhecimento e da cultura
humana, de garantir a partilha de experiências culturais julgadas indispensáveis”. Numa
perspectiva educacional, esses dispositivos asseguram a aquisição de saberes, servindo
de fonte a história da educação e dos conteúdos escolares. (SOARES, 1996).
Percebemos, portanto, que existem muitas noções sobre o que seria o livro
didático. Por meio da produção bibliografia trazida nesta subseção, notamos as diversas
funções que podem assumir para uma sociedade. Logo, fundamentamos nosso interesse
em compreender bem as apostilas de Redação do PVS.
6
“Cuando hablamos de los textos escolares esta percepción de que se trata de algo valioso que
nos pertenece resulta bastante evidente.”
76
Assim, passando por esses vieses discutidos até aqui, provavelmente será
possível obter algumas respostas. Essas iniciais considerações da pesquisa serão as
contribuições sociais e acadêmicas deixadas, no que se refere ao ensino de escrita no
PVS.
Por querermos compreender melhor as apostilas, recorremos a um panorama
histórico acerca de conceito material didático. Verificamos que “surgiu da convergência
de diversas disciplinas num conjunto de problemas comuns, todos relacionados ao
processo de comunicação” (DARNTON, 2010 p.190).
Portanto, seguimos nas investigações buscando as origens e os usos do livro
didático na atualidade, objeto criado inicialmente na Grécia Antiga, que “persistiu ao
longo dos séculos, sempre presente nas instâncias formais de ensino, em todas as
sociedades” (SOARES, 1996, p.35).
3.2.1. Apresentação
As apostilas de Redação do PVS são produzidas pelos coordenadores da
disciplina e editadas pela própria Fundação Cecierj. Podemos conferir esse fato a partir
das páginas com catalogação bibliográfica das edições (RABIN, PINNA e BIAR, 2014,
p.2; 2015, p.2). Logo, discorreremos sobre a participação desses personagens para a
construção do material didático, com base nas investigações realizadas a partir, e sobre,
das próprias apostilas.
Pela ausência de respostas da direção, recorremos ao banco de dados do ISBN
(2019) para verificar os registros de publicação das apostilas. Com efeito, conseguimos
encontrar algumas informações sobre esse assunto e, nesta seção, queremos apresentá-
las e confrontá-las às que possuímos pela observação dos materiais didáticos impressos.
Utilizando-nos da barra de pesquisa da plataforma, escrevemos as expressões
“Cecierj” e “Fundação Cecierj”, porém, a busca não teve êxito. Ao pormos, na barra de
consulta, o nome “Bruno Rabin”, o primeiro autor das apostilas, notamos a presença de
onze materiais de redação cadastrados. Vejamos a seguir os resultados alcançados.
professor do curso, obtivemos seis versões das apostilas de Redação, divididas em dois
módulos (RABIN, 2008; 2009; RABIN e PINNA, 2012a; 2012b; RABIN, PINNA e BIAR,
2014; 2015).
Pela análise de dados do ISBN, notamos que somente os dois últimos cadastros
das apostilas referenciam aos “módulos 1 e 2” (como se vê na imagem 14). Ao
acessarmos os registros anteriores, não se notam informações que nos permitam afirmar
se os materiais se tratam deste ou daquele módulo. Consideramos esse problema na
obtenção de dados para a pesquisa.
Atendo-nos às apostilas impressas que possuímos (RABIN, 2008; 2009; RABIN
e PINNA, 2012a; 2012b; RABIN, PINNA e BIAR, 2014; 2015), podemos verificar
informações que não estavam dispostas no ISBN. Vemos que todos os materiais
didáticos do PVS de Redação que encontramos estão divididos em dois módulos
numerados. Verificamos que as edições iniciais do material não detalham a diferença dos
seus volumes na plataforma do ISBN.
As apostilas de Redação do PVS de que dispomos serão mencionadas a seguir,
com intuito de apresentar sua composição. Houve algumas transformações do material
didático ao longo dos anos. Salientamos que apenas as edições finais (RABIN, PINNA e
BIAR 2014; 2015) serão analisadas especificadamente, no que se refere aos conceitos
teóricos esboçados no segundo capítulo desta dissertação, mesmo que teçamos
comentários acerca de materiais anteriores.
As versões das apostilas usadas a partir do ano de 2009 – percebemos isso por
conta da indicação do ano nas capas dos dois módulos – (RABIN, 2008; 2009),
descrevem Bruno Rabin e Rafael Pinna como coordenadores do projeto. Entretanto,
apenas Rabin é atrelado à elaboração e autoria do material7.
Exibimos, a seguir, os sumários desse material, a fim de apresentarmos sua
capa e seu sumário. Começamos pelas capas. Vejamos:
7
Esses exemplares foram recebidos por meio de doações dos professores Kenion Assunção
(apostilas físicas) e Mariana Sousa Dias (apostilas digitais).
83
É interessante comentarmos que tais materiais são datados com o ano de 2009,
pois foram desenvolvidos para utilização a partir desse momento. Todavia, pela leitura
84
Biar8. Além de tal alteração, vemos que Rafael Pinna é incluído aos elaboradores do
conteúdo da material didático, além de Bruno Rabin. Essas duas informações foram
obtidas por meio dos dados bibliográficos na segunda página das apostilas. Adiante, há
ilustração dos sumários dessas edições.
8
Liana de Andrade Biar é doutora pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde
atualmente também é professora da graduação e da pós-graduação em Letras. Em seu Currículo
Lattes, não há menção ao PVS como atividade anteriormente realizada.
88
Os dados dos materiais didáticos que mensuramos foram obtidos tanto dos
impressos, quanto das versões digitais das apostilas (RABIN, 2008; 2009; RABIN e
PINNA, 2012a; 2012b; RABIN, PINNA e BIAR, 2014; 2015). Indicamos que não dispomos
de materiais anteriores aos que discorremos até agora, embora eles sejam mencionados
pelo ISBN (2019).
3.2.2. Modificações
Pressupomos algumas modificações nas apostilas a partir da análise de suas
propriedades. A primeira das alterações diz respeito à extensão do material. Isso fica
visível pelo número de páginas presentes nas versões consultadas. A segunda se refere
aos elaboradores do conteúdo. Ao longo das edições, vemos que Rafael Pinna e Lina
Biar – que, em alguns momentos, eram referidos somente como coordenadores de
Redação do PVS – tornam-se autores também.
Com base na leitura dos sumários das seis apostilas que portamos, é possível
perceber uma terceira mudança. Ora há inserção, ora há ausência de capítulos e de
anexos, assim como se nota uma reorganização das unidades. Para exemplificar
algumas transformações, mensuraremos algumas dessas últimas observações a respeito
dos dois módulos.
Ressalta-se que o foco, nesta seção, é compreender as mudanças que levaram
à composição das apostilas mais recentes do PVS (RABIN, PINNA e BIAR, 2014; 2015).
Fazemos referência a outros materiais, mas os livros em uso pelo pré-vestibular em 2019
constituem nosso principal objeto análise, tendo em vista o objetivo geral desta
dissertação.
Concernente ao primeiro módulo, notamos que a apostila ainda em vigor
(RABIN, PINNA e BIAR 2014) e sua antecessora (RABIN e PINNA 2012a) apresentam a
mesma organização dos sumários. Isto é, os títulos dos capítulos são os mesmos e estão
dispostos em semelhante ordem.
Já o material mais antigo que possuímos (RABIN, 2008) tem o capítulo 2 com
nome diferente do que se apresenta na versão de 2014. Mesmo assim, uma análise
holística para essas partes da apostila permite notar que o conteúdo é basicamente igual.
Além disso, na edição de 2008 inverte-se a ordem dos temas dos capítulos 6 e 7, se
contraposta às mais recentes (RABIN, PINNA e BIAR, 2014; RABIN e PINNA, 2012a).
A apostila de 2008 (RABIN, 2008) apresenta um oitavo capítulo chamado de
“Preparação para o ENEM”, que não aparece no primeiro módulo do material, as edições
de 2014 e 2012. Essa parte, nas apostilas mais novas, está presente no segundo módulo
(RABIN e PINNA, 2012b; RABIN, PINNA e BIAR, 2015).
94
3.2.3. Pré-textuais
Nessa subseção, iremos analisar os pré-textuais presentes nas apostilas de
módulo 1 e de módulo 2 (RABIN, PINNA e BIAR, 2014; 2015), que são os materiais
didáticos ainda utilizados no ano de 2019 no PVS. O primeiro roteiro de análise (tabela
08) contém as ideais que buscamos perceber na leitura dessas partes dos livretos de
Redação.
Ainda, precisamos indicar quais serão as partes do material didático a ser
analisadas. Quanto ao primeiro volume (RABIN, PINNA e BIAR, 2014), observaremos
sumário, texto de apresentação da apostila e carta ao aluno. Já no segundo volume
(RABIN, PINNA e BIAR, 2015) a ser investigado, encontramos sumário e carta ao aluno
como pré-textuais.
No que tange ao primeiro módulo das apostilas (RABIN, PINNA e BIAR, 2014),
ao considerarmos o sumário, observamos oito capítulos e três anexos. Conforme a
imagem 25, presente na primeira seção deste capítulo da dissertação, podemos perceber
que as unidades do material didático apresentam conteúdo a respeito da redação de
vestibular de modo segregado.
Os capítulos 1 e 8 parecem ser unidades auxiliares para o estudo da redação.
Naquele, o título é “Conceitos iniciais sobre texto: linguagem e conhecimento de mundo”;
neste, denomina-se “Revisão de textos: identificação de falhas”. Pode-se inferir que tais
seções são conceituais e não abordam a produção de texto em si.
No capítulo 2, verificamos a designação “Características da dissertação”. No 3,
há “Interpretação do tema”. Notamos, no capítulo 4, “Planejamento de texto”. Já do 5 ao
7, destinam-se o propósito de estudar introdução, conclusão (título também) e
desenvolvimento, respectivamente.
Com base no título desses capítulos da apostila, induz-se que o trabalho com a
produção escrita é realizado de modo a fragmentar o texto. Essa indagação é algo que
observamos melhor. Investigaremos esse tópico na próxima seção deste capítulo da
dissertação, cuja análise se volta para as seções que compõem o material didático.
Ainda sobre os capítulos 5, 6 e 7, queremos comentar a respeito do título. Essas
unidades são chamadas de “Estrutura da dissertação: introdução”, “Estrutura da
dissertação: conclusão e título” e “Estrutura da dissertação: desenvolvimento”.
96
Ainda vale apontarmos que não há uma seção de “preparação”, nem no primeiro
módulo, tampouco no segundo, para outras provas de acesso ao ensino superior. Pelo
PVS se tratar de um projeto da Fundação Cecierj e por ser uma iniciativa pública do
estado do Rio de Janeiro, esperávamos que houvesse uma atenção às provas do
vestibular CEDERJ e UERJ. Não obstante, conferimos que não há trabalho específico
para tais concursos.
O capítulo dois intitula-se “Coesão textual”. A seção parece dar conta de
mecanismos linguísticos para os alunos aplicarem aos seus textos. Contudo, é intrigante
a aparente escolha de se trabalhar esse conteúdo à parte, no volume 2 das apostilas.
Tais procedimentos coesivos não deveriam ser discutidos isoladamente.
Ao capítulo três, é designado o nome “Correção de erros comuns”. Quando nos
deparamos com tal seção, não conseguimos identificar de que se tratam esses “erros”
recorrentes. Se considerarmos, porém, a versão mais antiga da apostila de Redação,
módulo 2 (RABIN, 2009), veremos que “Correção de erros comuns” estava associado a
aspectos lexicais, gramaticais e fraseológicos.
O capítulo quatro se chama “Exercícios de estruturação e argumentação”. A
seção nos desperta curiosidade, pois o título leva à inferência de que a argumentação
pode ser aprendida por meio de exercícios e não na produção textual, atrelada ao
discurso. Além disso, novamente, emprega-se o léxico “estrutura”, agora no sumário do
módulo 2, tendo em vista aspectos composicionais (formato) da dissertação
argumentativa.
Quanto aos dois anexos, o primeiro traz o nome “Enem: Temas Anteriores e
Redações exemplares”. O segundo é “Propostas Inéditas Modelo Enem”. Pela
observação dos títulos de ambas as seções, questionamo-nos sobre a origem dessas
propostas temáticas, ditas “padrão ENEM”.
Também ratificamos a suposição de que as apostilas do PVS se inclinam
somente para uma prova de acesso ao ensino superior, em face dos outros exames de
vestibular do estado do Rio de Janeiro. Isso porque só reúnem temas para o Exame
Nacional do Ensino Médio.
Além dos sumários que compõem as apostilas, outros pré-textuais devem ser
analisados. Identificamos a presença de um texto intitulado por “Apresentação” (RABIN,
PINNA e BIAR, 2014, p.5) e de cartas ao aluno (RABIN, PINNA e BIAR, 2014, p.6; 2015,
p.6) no material. Acerca das correspondências destinadas aos estudantes, notamos que
são idênticas. Logo, uniformizaremos nossa análise, dedicando-nos apenas a uma delas.
Consideramos os pré-textuais contidos no primeiro volume das apostilas (RABIN, PINNA
e BIAR 2014).
98
Por meio da imagem anterior, acreditamos que o texto não seja considerado
apenas como materialidade textual. O aspecto discursivo é inserido, quando se fala que
“receptor” do texto é um elemento constitutivo do próprio texto. Parece que, nesse
instante, a noção de língua do ponto de vista social é sutilmente acionada pelo texto
didático.
Cabe-nos uma ressalva. Embora o interlocutor seja considerado como parte do
processo de significação, o texto é considerado como mensagem a ser decifrado por um
interlocutor. Mesmo com elemento do discurso, talvez o texto didático explicite um ponto
de vista sistêmico a respeito da língua, e não uma noção enquanto fenômeno textual ou
social como antes. Mais adiante, esse trecho é completado pelas seguintes afirmações.
linguística textual, cuja visão de língua não é a mesma que a noção social. A seguir, há
outro trecho, da mesma seção, a se mencionar.
Pela leitura da atividade 8, vemos que o estudante tem uma tarefa relacionada à
coesão textual e à pontuação. Deve estabelecer “conexão” entre frases isoladas de uma
real produção textual. Cobra-se do aluno a aplicação de ferramentais em frases soltas.
Percebemos que atividade não promove reflexão sobre uso da língua e que se alinha à
perspectiva da linguística textual.
Nessa seção, intentamos discutir a respeito da concepção de língua que se
veicula no material didático do PVS. Percebemos algumas inconsistências tanto de
ordem teórica, quanto prática, ao observamos os exercícios propostos. Os pontos de
108
vista, no que se refere à língua, são diversos e são acionados sem uma organização
prévia.
Fica nítido, para nós, que a noção de gênero do discurso é acionada pelo
material do PVS, quando se trata das ideias linguísticas para propiciar a produção escrita.
No fragmento, podemos conferir não só a exemplificação de gêneros, como também a
109
Como podemos observar, o material do PVS tenta apresentar aos alunos formas
para planejar seu texto. Por meio do segundo parágrafo, notamos elementos integrantes
da dissertação sendo indicados como cruciais para esquematização de uma produção
textual. Conferimos, mais uma vez, que a redação de vestibular é vista como um
enunciado concreto, com características básicas a serem desenvolvidas.
Tentando perceber se tal ideia se mantém nas atividades do capítulo,
selecionamos dois dos três exercícios que se apresentam. A seguir, observamos esses
exercícios.
114
comunicativa que a produção deva assumir. Ou seja, o estudante não sabe quem seria
seu interlocutor, tampouco em que contexto sua produção circularia (Vestibular UERJ?
Vestibular Cederj? ENEM?).
Em um terceiro lugar, notamos que a questão não desenvolve os aspectos da
construção composicional e do estilo do gênero dissertação argumentativa. Apresentam-
se apenas palavras-chave para que o se escreva sobre elas. Em quarto lugar,
ferramentas para organização, revisão e reelaboração do texto não são mencionadas. A
atividade anterior não propicia desenvolvimento de uma produção escrita. Vejamos o
próximo exercício verificado na apostila.
A partir da leitura da atividade, vemos estudante precisa dar conta três objetivos:
definir o significado de uma palavra; em seguida, desenvolver uma postulação, aplicando
o termo anterior a qualquer contexto relacionado a ele; por último, produzir um
argumento, dadas as motivações da questão.
Ao analisamos tal tarefa, notamos que não solicita a produção de um texto,
antes, apenas se pede, no terceiro objetivo, a elaboração de um argumento, sem uma
situação comunicativa, tampouco outros aspectos relacionados ao gênero dissertação
argumentativa e ao seu endereçamento. Além disso, não há um trabalho bem
desenvolvido com a temática a ser explorada. A respeito da questão, o segundo objetivo
é uma tarefa vaga. A seguir, vemos outra questão.
Nessa tarefa, podemos conferir a solicitação de uma produção escrita, uma lista.
Embora não haja uma finalidade para a produção, pela primeira vez, em um capítulo da
apostila, encontramos uma atividade de escrita. Esse dado só não é coerente ao material
didático, uma vez que se propósito principal é ensino da dissertação argumentativa. Tal
texto não é cobrado do estudante em nenhum capítulo das apostilas (RABIN, PINNA e
BIAR, 2014; 2015).
Em suma, as tarefas da seção “Atividades” ora pedem ao estudante que produza
parágrafos isolados – como nas questões um e dois –; ora demandam do estudante a
leitura de textos argumentativos, a fim de se realizar uma análise de suas características
– é o caso da questão seis. Essa última atividade, ainda solicita produção de gênero
alheio ao propósito das apostilas de Redação.
No que concerne à parte em que aparecem os exercícios do capítulo 4,
verificamos que não solicitam nenhuma produção escrita do estudante. Pretendemos
ilustrar, pelo menos, uma questão desse segundo segmento de atividades.
para as provas do mesmo exame, dos anos de 2001 a 2014, excetuando os temas de
2011, 2012 e 2013.
Refletimos que, ao longo do volume dois, assim como no volume 1 das apostilas
de Redação, não se propõem atividades de escrita, que demandem a produção de uma
dissertação argumentativa, nos próprios capítulos do material. Nos anexos, encontram-se
propostas temáticas de provas de acesso ao ensino superior de anos anteriores, as
quais, por sua vez, recebem a função de propiciar a elaboração de textos pelos alunos. A
seguir, evidenciamos uma dessas propostas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
também por “tutoria”. Com isso, somam-se obrigações e deveres aos docentes, mas sem
garantias e pagamento justo pelo trabalho desempenhado.
Nesta dissertação, em que abordamos o ensino de escrita, procuramos
evidenciar a educação linguística e ratificar sua importância dentro do cenário atual, em
que a redação de vestibular é a produção escrita que os alunos almejam dominar. Na
compreensão desse tema, procuramos dar voz também àqueles que lutam por educação
de qualidade: os professores. Precisamos defender essa categoria, pois, considerando
nossos princípios, o que evidenciamos na nossa epígrafe, existe uma relação
indissociável entre vida e língua. Impossível analisar um material didático, sem nos atear
ao professor, aquele que torna esse processo de aprendizagem.
126
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ANEXOS