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Conselho Editorial
1. Allysson Diniz dos Santos (UFC)
2. Edgar Marçal de Barros Filho (UFC)
3. Fernando Lincoln Carneiro Leão Mattos (UFC)
4. Francisco Herbert Lima Vasconcelos (UFC)
5. Gabriel Antoine Louis Paillard (UFC)
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20. Robson Carlos Loureiro (UFC)
A Educação Matemática e a
Educação de Jovens e Adultos:
Experiências Pedagógicas
Exitosas
Organizadores
2016
Copyright © 2016 A educação matemática e a educação de jovens e adultos:
experiências pedagógicas exitosas
Organizadores: Alles Lopes de Aquino, Fernanda Cíntia Costa Matos, Fran-
cisco Herbert Lima Vasconcelos, Maria José Costa dos Santos
Todos os direitos reservados.
Revisão
Giselle Barbosa Vital
Patricia Maria Nunes de Souza Bispo
Editoração Eletrônica
Marta Braga
Impressão
Imprima Soluções Gráficas Ltda.
Ficha Catalográfica
ISBN
ISBN:
Relação de Autores
Elisângela Magalhães
Doutoranda em Educação Brasileira, Mestra em Educação Brasileira
pela UFC, Psicopedagoga Clínica e Institucional e Pesquisadora.
Atualmente pesquisa sobre o Ensino da Matemática e a deficiência
visual.
Elzenir Neves Candéa Silva
Especialista em Planejamento Educacional (UNIVERSO - RJ), Espe-
cialista em Educação Profissional Integrada à Educação Básica na
Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - PROEJA (IFCE/2012).
Graduada em Licenciatura em Pedagogia (UVA/2004) e cursa Espe-
cialização em Mídias na Educação (UFAL /2015). É professora do En-
sino Fundamental, servidora da Prefeitura Municipal de Fortaleza e
da Prefeitura Municipal de Eusébio - CE. Atualmente está cursando
Letras (UFC/2015).
A
Sumário
Apresentação ______________________________________________ 13
Formação Continuada de Professores: Educação
de Jovens e Adultos e Educação Matemática para Docentes
da Rede Pública de Ensino do Ceará
Fernanda Cíntia Costa Matos
Francisco Herbert Lima Vasconcelos
Igor Márcio do Nascimento Azevedo ______________________________ 15
PARTE 1 ___________________________________________________ 29
Capítulo 1 - EJA e a Formação de Professores – novos discursos,
velhos problemas
Alles Lopes de Aquino
Eliane Dayse Pontes Furtado ____________________________________ 31
Capítulo 2 - A importância da afetividade na tutoria a distância
no Curso de Aperfeiçoamento em Educação de Jovens e
Adultos (EJA) na diversidade
Ana Lúcia Balbino da Silva
Elzenir Neves Candéa Silva _____________________________________ 45
Capítulo 3 - O papel do tutor presencial aliado ao papel do
tutor a distância: foco na formação do professor que atua na EJA
Maria do Socorro dos Santos Soares
Vladiana Costa dos Santos _____________________________________ 57
Capítulo 4 - A funcionalidade do planejamento educacional
na prática docente
Lucas Melgaço da Silva
Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca
Maria Suzana Pinheiro
Tereza Maria da Silva Ferreira ___________________________________ 70
Parte 2 ____________________________________________________ 85
Capítulo 5 - Sujeito em ação e em situação na educação
matemática: um recorte da formação de professores no Ceará
Dalmário Heitor Miranda de Abreu
Hamilton Viana Chaves
Osterne Nonato Maia Filho _____________________________________ 87
Capítulo 6 - O ambiente virtual da UFC- Solar a Sequência
Fedathi: mediando uma aluna deficiente visual da Licenciatura
em Matemática na disciplina da EAD
Elisângela Magalhães
Hermínio Borges Neto
Jorge Brandão ______________________________________________ 105
Capítulo 7 - As contribuições dos esquemas mentais básicos
para a construção do conceito de número segundo Piaget.
Ana Paula de Sousa Lima
Haiani Larissa de Souza Mendes ________________________________ 120
T
Capítulo 8 - O tangram como recurso metodológico no
Ensino de Matemática: a visão do aluno de pedagogia
Helen Cristina Vieira Costa
Maria José Costa dos Santos ___________________________________ 133
Capítulo 9 - O Jogo Boole e as contribuições para o
desenvolvimento do raciocínio-lógico matemático
Ofélia Maria da Silva Galvão ___________________________________ 145
Capítulo 10 - O ensino de Geometria para surdos: tentativa
de inclusão nas aulas de Matemática
Cícero Vitorino Pereira ________________________________________ 169
Capítulo 11 - Vídeos digitais nos trabalhos de modelagem
matemática
Marcelo de Carvalho Borba
Nilton Silveira Domingues _____________________________________ 190
Capítulo 12 - A monitoria na disciplina do ensino de Matemática
do Curso de Pedagogia/UFC: observações acerca do sistema de
numeração decimal
Maria José Costa dos Santos
Wardelane Holanda da Silva ___________________________________ 203
Posfácio __________________________________________________ 239
Apresentação
É com muita satisfação que apresento o livro “A EDUCAÇÃO MA-
TEMÁTICA E A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: EXPERIÊNCIAS
PEDAGÓGICAS EXITOSAS”, obra cuidadosamente produzida como
fruto de experiências dos anos de trabalho dos autores. O material
aqui apresentado tem como finalidade principal, servir como texto
fundamental de estudo sobre a importância da formação continua-
da de professores que atuam na Educação Básica. Seu público-alvo
é, portanto, os profissionais da área da educação que constituem a
estrutura teórico-conceitual de sua particular área de interesse. Esse
material também tem a intenção de dar aos professores melhores
condições para que não se perca essa riqueza, proporcionada pelos
fundamentos da educação, na prática. No presente livro procurou-se
oferecer ao leitor diversas características muito desejáveis e pouco
encontradas na literatura de uma forma geral. Assim, uma combina-
ção muito cuidadosa, de teoria e prática, permeia todo o material,
eliminando a improdutividade encontrada na maioria dos textos si-
milares, porém sem cair no extremo de valorizar excessivamente a
parte prática em detrimento da teórica. Como exemplo, a referida
obra apresenta um breve retrospecto da formação continuada de
professores, durante a realização dos cursos de aperfeiçoamento em
Educação de Jovens e Adultos(EJA) e Educação Matemática-EM para
docentes que atuam na rede pública de ensino do estado do Ceará.
Os autores abordam os aspectos operacionais, mas também concei-
tuais que envolveram os referidos cursos, e encaminham as discus-
sões para a EJA e a formação de professores, a partir de uma reflexão
sobre – novos discursos, velhos problemas. Ainda na perspectiva do
novo, os autores destacam a importância da afetividade na tutoria a
1. Introdução
2. Formação continuada
O professor em seu papel de educador necessita estar em cons-
tante aprendizado, buscando estar atualizado de tudo em torno da
educação, seja relativo ao trabalho ou temas atuais, melhores formas
metodológicas e didáticas para abordar temas. Pensando desta for-
ma apresentamos, segundo Libâneo (2004, p. 227), a justificativa da
importância para a formação continuada:
[...] a formação continuada pode possibilitar a re-
flexividade e a mudança nas práticas docentes,
ajudando os professores a tomarem consciên-
cia das suas dificuldades, compreendendo-as e
elaborando formas de enfrentá-las. De fato, não
basta saber sobre as dificuldades da profissão, é
preciso refletir sobre elas e buscar soluções, de
preferência, mediante ações coletivas (LIBANÊO,
2004, p. 227).
6. Resultados e discursões
Para Lorenzato (2006) “dar aulas é diferente de ensinar. Ensinar é
dar condições para que o aluno construa seu próprio conhecimento”. O
que percebemos é que para o professor “dar condições” é necessá-
rio que sempre esteja apropriado de questões que permeiam o am-
biente escolar, sabendo que essas questões estão ligadas diretamen-
te com as mudanças sofridas pela sociedade, e essas são arrastadas
para dentro da escola, e será justamente o professor que irá estar na
linha de frente com essas questões.
Para os cursos de EJA e Educação Matemática a formação con-
tinuada de professores é de suma importância e, desta maneira, os
cursos buscam trabalhar e nortear sobre a prática com a teoria, de
forma a trazer uma linguagem atual, para que professores apliquem
em suas práticas as ações abordadas nos cursos de formação.
As dificuldades enfrentadas pelos professores no cotidiano da
sala de aula querem seja para o ensino da EJA ou no de Educação
Matemática, recaem em parte sobre a formação continuada de pro-
fessores, pois estes necessitam estar em constante contato com no-
vas realidades e isso é muito propício a acontecer dentro dessas for-
mações pois além da apresentação de novas questões envolvendo a
educação, também acontece a interação, a troca de saberes entre os
envolvidos na formação.
Durante o decorrer de ambos os cursos muitas atividades de-
senvolvidas nas aulas eram desafiadas pelos tutores e professores
para que eles aplicassem em sala e depois compartilhassem suas vi-
vencias para todo grupo, essa ação foi incorporada de forma muito
positiva, e essas trocas de vivencias enriqueceu muito as formações.
7. Considerações finais
Os fatos observados nos cursos de EJA e Educação Matemática
nos remetem a entender que a formação continuada desses docen-
tes, buscou confrontar a teoria com a prática, pois os cursos ao mesmo
tempo em que apresentavam fundamentos teóricos que sustentam
as temáticas envolvidas nos cursos, também apresentavam práticas
que deveriam ser experimentadas no cotidiano e posteriormente so-
cializadas por todos do grupo. Fato esse que representou uma forma-
ção mais sólida, no sentido em que os alunos podiam experimentar e
testar o que era de interessante ou não em suas práticas.
Podemos avaliar que o curso representou grande aprendiza-
do para os alunos, percebemos isso ao observar o quanto os alunos
cresceram em seus discursos comparados ao início dos cursos, onde
muitos já revelavam o desejo de deixar por saber que se trataria de
uma formação com uma carga horária à distância bem maior que a
presencial, porém quando desafiados a enfrentar as problemáticas
onde estavam sempre relacionando a teoria com a prática, os alunos
se sentiram motivados em permanecer e participar de forma ativa e
proativa no decorrer do curso.
Diante de todos esses fatos podemos concluir que as formações
dos cursos EJA e Educação Matemática apresentou significados posi-
tivos em relação a aprendizagem e mudança de postura do docente
em formação, ressaltando mudanças de posturas e reflexões sobre
suas prática.
1. Introdução
Este artigo trata da formação de professores para a Educa-
ção de Jovens e Adultos (EJA), a partir do trabalho realizado no
polo de Juazeiro do Norte-CE do curso de Aperfeiçoamento em
EJA ofertado em parceria, pela Secretaria de Educação Continua-
da, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI/MEC e a Uni-
versidade Federal do Ceará através do seu Centro de Educação a
Distância do Estado do Ceará (CED), o Instituto UFC Virtual. Foi
um curso de seis (06) meses, estruturado em (06) módulos, onde
os participantes realizaram a maior parte de suas atividades de
estudo através da Educação a Distância – EaD, contando durante
o curso com realização de (06) encontros presenciais.
O texto está ancorado teoricamente em autores como Aquino
(2013), Barcelos (2010), MacLaren (1997), Tardif (2013), dentre outros.
Estas obras versam sobre assuntos díspares a formação de professo-
res, recuperando conceitos, análises e questionamentos sobre a his-
tória da educação popular no Brasil, os aspectos teórico-metodológi-
cas do processo de formação inicial e continuada de professores, as
políticas educacionais na atualidade e os seus principais dilemas, até
o currículo na EJA. A intencional destas obras tem o fito de dar maior
sustentação teórica ao artigo, tratando de assuntos que possibilitem
maior amplitude para o entendimento dos principais problemas que
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 31
Experiências Pedagógicas Exitosas
estão no entorno do processo de formação de professores para a
Educação de Jovens e Adultos.
O artigo tem como objetivo aprofundar as discussões sobre a
formação de professores para a EJA e os principais desafios na con-
temporaneidade. Foi escrito segundo a interpretação qualitativa
dos posicionamentos e das falas dos educadores que participaram
do curso, tendo como principais procedimentos metodológicos
a análise documental que se deu através da criteriosa leitura das
mensagens dos cursistas nos seis fóruns que fizeram parte do con-
junto de atividades online do curso; a segunda, de cunho mais par-
ticipativo, adveio da dialogicidade ocorrida durante os seis encon-
tros que, além de terem o intuito de fechamento de cada módulo e
início do módulo seguinte, contou com a intenção paralela de sub-
sidiar a pesquisa daquilo que os professores pensavam, conheciam
e imaginavam a respeito da EJA e, principalmente, a convergência
destes três elementos para o processo de formação de professores
para esta modalidade de ensino. Os sujeitos da pesquisa se consti-
tuíram de três cursistas. Entretanto, a leitura de todos os fóruns e a
coleta de dados nos encontros presenciais foram decisivos para a
tecitura textual.
Devido à ausência de um programa contínuo de formação
docente para a EJA em nosso país, mais especificamente, no es-
tado do Ceará, este trabalho justifica-se pela tentativa de trazer a
comunidade científica pesquisadora da educação, os resultados
de valorosa ação formativa de professores para a EJA. Traz a mesa
discussões que expõem conhecidos aspectos historicamente im-
peditivos para evolução da melhora na qualidade da EJA, como a
lacuna deixada pela falta de uma ampla efetivação da legislação
existente que, posta em prática, proporcionaria uma melhoria
significativa dos programas existentes para a Educação de Jovens
e Adultos, pela ausência de verbas permanentes para a execução
dos programas propostos desde a esfera federal, como o Progra-
ma Nacional de Integração da Educação Profissional com a Edu-
cação Básica na modalidade de Educação de Jovens e Adultos
32 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
- PROEJA até chegarmos naqueles municipais, como o Programa
Nacional de Inclusão de Jovens - ProJovem Urbano e do campo.
Contudo, a atenta audiência e a coleta apresentaram outras
questões importantes, tais como: o aumento do processo de juvenili-
zação da EJA, que consiste na inserção sem critérios de jovens deno-
minados “problemáticos” e que são provenientes dos cursos diurnos
e vespertinos nas salas de aulas noturnas de educando(a)s com idade
mais avançada, como uma espécie de castigo, o desconhecimento
por parte de alguns professores do que se faz necessário para a ação
docente na EJA, o fechamento sistemático de salas de aulas destina-
das aos Jovens e Adultos, dentre outros problemas.
Cumpre dizer, então, que esta pesquisa apresenta contribui-
ções ao conjunto dos embates, avanços e dificuldades que envolvem
a formação de professores para a EJA, a partir da perspectiva dos
professores envolvidos neste trabalho e da experiência dos autores
como professores nesta modalidade de ensino.
3 P3-Professor(ra) 3
A importância da afetividade na
tutoria a distância no Curso de
Aperfeiçoamento em Educação de
Jovens e Adultos (EJA) na diversidade
1. Introdução
2. Fundamentação teórica
Conforme Pallof e Pratt (2004), na aprendizagem autodirigida,
a distância está firmada no cursista virtual, baseada na mediação,
facilitando a sua aprendizagem. Os autores pontuam características
essenciais para o sucesso do professor do ambiente on-line:
São a flexibilidade, disposição para aprender
com os alunos e com os outros, disposição para
ceder o controle aos alunos tanto na elabora-
ção do curso quanto no processo de aprendi-
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 47
Experiências Pedagógicas Exitosas
zagem, disposição para colaborar e disposição
para afastar-se do papel tradicional do professor
(PALLOF; PRATT, 2004, p. 15).
3. Metodologia
Esta pesquisa foi aplicada com os alunos da turma Fortaleza I,
do Curso de Aperfeiçoamento em Educação de Jovens e Adultos na
Diversidade, da UFC Virtual/SECADI/MEC, no polo de Fortaleza, no
período de 15 de março a 31 de agosto de 2014. O curso teve como
objetivo realizar um processo formativo em Educação de Jovens e
Adultos (EJA) a distância, prioritariamente para professores que atu-
am nessa modalidade e outros profissionais da educação, para torná
-los capazes de compreenderem bem a EJA, e desenvolverem essa
prática pedagógica na escola.
Partindo do raciocínio de que a afetividade é importante para
o sucesso nos cursos a distância, desde o início propusemos uma
metodologia baseada na aproximação com os cursistas por meio do
diálogo, relacionamento interpessoal, conhecimento individual e di-
nâmicas coletivas, sistematizando a valorização da autoestima.
Desde o início da formação, procuramos acolher bem os cursis-
tas e conhecer individualmente cada um1. Conseguintemente, iden-
tificamos um ponto comum entre eles, com o qual todos tinham fa-
miliaridade, que era a sua assiduidade na utilização das redes sociais.
Percebendo que esse fator seria de grande valia para o fortalecimen-
to da comunicação entre tutor e cursistas, construímos uma página
específica no Facebookk para estabelecermos um relacionamento
com os alunos, favorecendo o vínculo relacional entre todos, divul-
1
Método indutivo ou indução: raciocínio que, após considerar um número suficiente de casos particulares,
conclui uma verdade geral, neste caso, especificamente, a importância da afetividade para o sucesso nos
cursos a distância. A indução, ao contrário da dedução, parte de dados particulares da experiência sensível.
5. Considerações finais
A afetividade está intrinsecamente ligada ao aprendizado, pois
as relações afetivas entre tutor e cursistas potencializam o relaciona-
mento entre os demais participantes da formação, humanizando o
ambiente virtual.
Considerando, pois, que o curso a distância, assim como o pre-
sencial, precisa ter afetividade, acolhimento, buscamos manter nosso
foco no aluno virtual. Sabendo que a EaD necessita de um olhar indi-
vidual no atendimento e no relacionamento interpessoal, utilizamos
todos os recursos e ferramentas virtuais em prol desse vínculo contí-
mídias e linguagens, com a intenção de proporcionar não só a disponibilização dos conteúdos dos cursos,
mas principalmente plena interatividade e interação de alunos e professores, viabilizando, por consequência,
a construção do conhecimento. Adaptado da página inicial do próprio AVA Moodle. Acesso em: 7/set./2015
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 23. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2005.
MENEGHETTI, Antonio. Manual de Ontopsicologia. Recanto Maestro: On-
topsicologica Editrice, 2004.
MORAN, José Manuel. Interferências dos meios de comunicação no nosso
conhecimento. Revista Brasileira de Comunicação. São Paulo: v. 17, n. 2,
p. 1-10, jul./dez., 1994.
Disponível em: http: //www.brapci.inf.br/_repositorio/2010/03/pdf_e8950
12148_ 0008913.pdf
PALLOFF, R; PRATT, K. O aluno virtual: um guia para trabalhar com estudan-
tes online. Porto Alegre: Artmed, 2004.
1. Introdução
O presente artigo tem como objetivo, levantar os fatores que
influenciam de maneira positiva e negativa o ensino e a aprendiza-
gem a distância, dando ênfase na educação a distância. Dando um
alavancar nas contribuições de um tutor presencial e de um tutor a
distância, levantando os fatores relevantes e dificuldades para o en-
sino e a aprendizagem a distância a partir da perspectiva dos alunos,
no município de Jaguaribe, detectando as dificuldades e experiên-
cias dos alunos.
O tutor presencial deve está apto ao seu papel, o de ajudar o
aluno no que for necessário. seja planejar o aprendizado ou o envol-
vimento dos alunos no curso, interagindo com muita inteligência e
despertando assim o interesse dos mesmos e desenvolvendo ativi-
dades de habilitação a serem exploradas no que tange a proposta
pedagógica do curso. O tutor deve atuar como mediador junto ao
aluno e aos conteúdos, facilitando nas discussões acadêmicas pre-
senciais mantendo a postura acolhedora, cabe ao mesmo organizar
os encontros presenciais e participar junto com o tutor a distância e
professor, estabelecendo agenda de estudo, com cada aluno, respei-
tando o tempo e espaços de cada um, acompanhando também as
atividades pedagógicas propostas nas disciplinas, os módulos, chat, t
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 59
Experiências Pedagógicas Exitosas
fórum e blocos temáticos do curso e como por exemplo a ausência
por parte de alguns, as dificuldades de acesso e atividades pedagógi-
cas. O tutor presencial para explorar seus conhecimentos e absorver
dos mesmos realiza relatórios mensais, sobre a turma sob sua respon-
sabilidade, registra as dificuldades de alguns e encaminha ao tutor
a distância, ao professor e ao coordenador. Dentro de tantas ações
o tutor presencial e o o tutor a distância participam de reuniões de
planejamentos de acordo com os horários estabelecidos pela coor-
denação do curso e devem ser capazes de realizar acompanhamento
e orientações de trabalhos de extensão universitárias ou de iniciação
a pesquisa nos cursos de graduação. Ademais devem ser capazes de
apoiar os trabalhos de orientação de monografia dos cursos de gra-
duação em especialização e outras atribuições.
Existe, nas cartilhas do governo, a ênfase na necessidade de pro-
mover entre os sujeitos do EJA o aprendizado para a formação escolar,
também está enfatizada a formação de sujeitos sociais críticos e aptos
a lidar com as exigências de um mundo em transformação. No entanto
observamos, na prática, pessoas voltando aos bancos das salas de aulas
tentando buscar uma certificação básica, para a melhoria profissional.
Estudos realizados têm demonstrado a necessidade de ser de-
senvolvida uma prática pedagógica que não privilegie apenas a aqui-
sição de conteúdos curriculares, como tem acontecido na maioria das
instituições de ensino. No dizer de Galeffi (2001, p. 23) “precisa poten-
cializar a educação humana do sujeito social autônomo e inventivo”.
Ao pensar em novos modelos da educação, envolve o pensa-
mento sobre os papéis dos principais sujeitos do processo de apren-
der e ensinar: alunos e professores. Como seria o papel de cada um?
Refletir torna-se difícil. Visto que estamos citando conceitos e ima-
gens muito sedimentados culturalmente.
Informação, temo-la a um clique de mouse? Atualmente o avan-
ço tecnológico no mundo motivam as pessoas a buscarem, de forma
permanente, a atualização dos conhecimentos. Dentre essas pesso-
as encontram-se os alunos e os professores, que muitas vezes esco-
Professor Respostas
Professor Respostas
Uma troca de aprendizagem e um estudo profundo do conteúdo
A para dar segurança e propriedade do que estou falando ou
passando.
4. Considerações finais
Foi possível constatar que a utilização de tecnologias digitais é
ainda muito incipiente e que há ausência de tempos e espaços para
o aprimoramento docente.
A possibilidade do rompimento de barreiras geográficas de
espaço e tempo, permitindo ainda o compartilhamento de infor-
mações em tempo real. O contato com as novas tecnologias podem
favorecer e muito a jovens e adultos no processo de sua reinserção
social e laboral. Nesta etapa de contato, um agente de grande impor-
tância, que exerce um papel preponderante que vai estabelecer esta
relação, é o professor.
A partir de uma formação adequada, os docentes avançam em
suas práticas pedagógicas resgatando a infraestrutura tecnológica
disponível de maneira criativa e significativa. Quando se utiliza das
tecnologias na educação, se constrói um processo de inclusão social.
O aluno tem a possibilidade de elevar seu potencial humano e
político, ao debater com diversos sujeitos sobre temas comuns ao
A funcionalidade do planejamento
educacional na prática docente
1. Introdução
O ato de planejar é uma preocupação que envolve toda a pos-
sível ação e a expectativa de realização de algo que foi pensado. To-
das as etapas de um processo, ação, podem ser previstas, desde os
acontecimentos corriqueiros do cotidiano a grandes projetos. Assim
“planejar é uma exigência do ser humano, é um ato de pensar sobre um
possível viável a fazer, com o objetivo de concretiza-lo” (MENEGOLA e
SANT’ANNA, 2010, p.15).
Nesse sentido, podemos afirmar que planejar algo ou alguma
coisa faz parte de uma necessidade humana que surge a partir de
uma sondagem sobre uma dada realidade, buscando mudar ou ape-
nas dar continuidade o que já esta dando certo. Na sequência, se faz
importante uma investigação de todas as condições e dos meios in-
dispensáveis à realização deste plano.
Logo, conhecida a realidade, surge a importância de definir obje-
tivos corretos que estabeleçam uma mudança caso seja identificado
esta necessidade. Determinado os objetivos, o plano deve passar
constantemente pelo processo de avaliação para se evitar falhas
em suas diversas etapas, como em sua elaboração, estruturação e
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 71
Experiências Pedagógicas Exitosas
execução. O ato de revisão do plano é importante, pois durante o
processo podem ocorrer mudanças e estas devem adequar-se a cada
situação.
Ademais, segundo Menegola e Sant’ Anna (2010, p. 19) “plane-
jar, portanto, é pensar sobre aquilo que existe, sobre o que se quer al-
cançar, com que meio se pretende agir e como avaliar o que se pretende
atingir.” Assim, “não basta que exista uma educação para que o povo
tenha o seu destino garantido. É preciso determinar o teor educacional
para que se saiba em que direção esta caminhando ou deixando de ca-
minhar uma nação.”” (ARDUINI, 1975, p.117)
O planejamento atinge vários setores da vida social, porém nem
todos as pessoas o consideram necessário ou importante para alcan-
çar o resultado almejado, havendo, ainda, aquelas que o desconhe-
cem por completo. Como por exemplo, podemos citar o planejamen-
to educacional como uma das atividades escolares mais importante
dentro da escola. Entretanto, observa-se que alguns profissionais da
educação o produzem, todavia, não chegam a utilizá-lo, atrelando ao
mesmo o papel de mera atividade burocrática.
Partindo desta realidade, nos surge o seguinte questionamento:
quais as etapas de um bom planejamento e como organizá-lo de for-
ma a ter funcionalidade em sala de aula?
Diante desse questionamento, neste trabalho objetivou-se dis-
cutir a importância do ato de planejar como indispensável ao profes-
sor, bem como classificar etapas importantes em um planejamento
para construção de um plano que tenha eficiência e se adeque a rea-
lidade de cada Instituição escolar
5. Metodologia
Esta pesquisa possui uma abordagem de cunho qualitativo e
teve como lócus uma escola do sistema público de ensino de uma
cidade do interior do Ceará, e se se baseou em três partes, a saber:
estudos teóricos para fundamentação; entrevistas semiestruturadas
(onde o investigador tem uma lista de questões ou tópicos a serem
cobertos, permitindo uma relativa flexibilidade); e a análise dos da-
dos para exposição dos resultados. Os sujeitos pesquisados foram os
professores, coordenadores e diretor da instituição, de acordo com a
disponibilidade de cada um.
As perguntas tiveram como base o entendimento dos sujeitos
acerca do planejamento escolar; se eles sentem-se contemplados,
enquanto professores, no momento do ato de planejar; e quais su-
gestões poderiam apontar para uma melhoria, bem como efetivação
da qualidade educacional por meio do planejamento.
Os dados das entrevistas foram organizados categoricamente,
tendo como base grandes semelhanças e proximidades entre as res-
postas dos sujeitos, corroborando para exposição de resultados sin-
téticos, como seguem.
7. Considerações finais
Existem muitas definições acerca do tema planejamento, mas
todas direcionam a uma organização ou mudança através de um
conjunto de ações, visando atingir os resultados previstos de forma
eficiente.
Planejar algo é indispensável ao professor e mais ainda é essen-
cial a todo ser humano. Embora esta afirmação esteja clara, muitos
1. Introdução
Ao fazer uma retrospectiva da educação de seu tempo, es-
pecialmente na Suíça do pós Segunda Guerra Mundial, Piaget
(1948/1973), ao mesmo tempo em que comemorava a amplia-
ção do acesso à educação, especialmente universitária, lamen-
tava a pouca valorização do magistério e carência de profes-
sores, notadamente para as áreas das ditas ciências exatas.
Nesse sentido, ele propõe um diálogo entre sua epistemologia
genética e a educação com o sugestivo título: Para onde vai a
educação?
Sabendo-se que uma das questões que mais
preocupam as autoridades escolares e univer-
sitárias de diferentes países é o número muito
baixo de vocações científicas em relação ao nú-
mero proporcionalmente bastante avultado de
colegiais e estudantes que se orientam para a
carreira literária, é evidente que nisso reside um
dos problemas centrais que compete à educa-
ção de amanhã resolver (PIAGET 1948/1973, p.
15).
100 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
orientação de pesquisas que tem como referencial a teoria educacional
da didática da Matemática, que por sua vez, é formada em parte pelos
conceitos que vimos nas teorias aqui apresentadas anteriormente.
A engenharia didática se caracteriza como uma forma particular
de organização dos procedimentos metodológicos na pesquisa em
Educação Matemática. Com uma concepção que contempla tanto a
dimensão teórica como experimental, ela consegue interligar o pla-
no teórico da racionalidade à experimentação da prática educativa.
Deste modo, segundo Artigue, esta metodologia “[...] possibilita uma
sistematização metodológica para a realização prática da pesquisa, le-
vando em consideração as relações de dependência entre teoria e práti-
ca” (PAIS, 2002, p. 99).
O termo engenharia didática traz uma analogia ao trabalho do
engenheiro quanto à concepção, ao planejamento e à execução de
um projeto, comparando-o, segundo Pais (2002) com a execução de
um projeto arquitetônico. Mas ressalva que não se trata da execução
de um projeto em um sentido automatizado, de repetição, mas em
um sentido pleno, que envolva desde a gestação inicial das ideias,
até a execução prática, que no caso do professor pesquisador, será
quase sempre em sala de aula.
Ainda definindo a engenharia didática, esta metodologia se ca-
racteriza, conforme Machado (2002, p. 199), “[...] como um esquema
experimental baseado sobre “realizações didáticas” em sala de aula, isto
é, sobre a concepção, a realização, a observação e a análise de sequên-
cias de ensino”.
Podem-se distinguir dois níveis de engenharia didática, neces-
sários e complementares. O primeiro é a microengenharia, no qual
as pesquisas têm por objeto de estudo, determinados assuntos per-
tinentes, por exemplo, ao campo da Matemática. Estas pesquisas são
localizadas e levam em conta, principalmente, a complexidade dos
fenômenos de sala de aula.
Em um segundo nível está a macroengenharia, que, por sua
vez, diz respeito às pesquisas que permitem uma composição entre
102 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
Matemática e de áreas afins, inscritos por adesão, provenientes da
Rede Estadual e Municipal de Ensino do Ceará. O objetivo das reuni-
ões era trabalhar a sequência dos textos disponibilizados na platafor-
ma Solar.
Possibilitou-se a discussão sobre as concepções teóricas e meto-
dológicas que sustentam a linha de pesquisa da Educação Matemáti-
ca, bem como a exposição das experiências exitosas dos cursistas na
sua prática pedagógica em sala de aula. A metodologia aplicada na
aula presencial era desenvolvida de forma processual, pois à medida
que os cursistas iam relatando as suas experiências, o professor me-
diador ia propiciando situações em que emergiam zonas de desen-
volvimento proximal (VYGOTSKI, 2001) ou a ampliação de campos
conceituais (VERGNAUD, 2009), segundo a lógica do contrato didá-
tico (SILVA, 2002).
Tal estratégia se justifica porque muitas vezes, os docentes cur-
sistas criam várias ações e situações exitosas em suas vivências na
sala de aula, empiricamente (NÓVOA, 1992). Entretanto, muitas vezes
não percebem que este exercício já faz parte de estudos e de pes-
quisas já desenvolvidas e consolidadas, mas que apenas não foram
legitimadas pela academia, no sentido de validar e dar qualidade ao
seu trabalho, como podemos identificar, por exemplo, o emprego da
engenharia didática (ARTIGUE, 1996), mesmo que a partir de uma
forma tácita de conhecimento (LEJEUNE, 2011).
O segundo momento foi realizado a distância através do Insti-
tuto UFC Virtual, por meio da plataforma Solar, em que o professor
mediador inseria uma temática relacionada à Educação Matemática
discutida nas aulas presenciais e solicitava que os cursistas acessas-
sem o ambiente no sentido de socializar a sua opinião com respeito
às temáticas discutidas. Nesse mesmo ambiente virtual os cursistas
postavam os resumos dos textos discutidos nas aulas presenciais,
bem como os portfólios dos trabalhos de intervenção que todos os
alunos tinham obrigação de postar como um dos critérios de apro-
vação no curso.
O curso buscou, por meio dessa ação, uma melhoria na edu-
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 103
Experiências Pedagógicas Exitosas
cação em geral, com destaque para a Educação Matemática, priori-
zando a vivência e experiência contextual do professor; levando em
conta sua capacidade de compreender e aplicar as metodologias vi-
gentes de ensino e aprendizagem. A ideia era associar o seu fazer
pedagógico às modernas teorias e práticas pedagógicas atualmente
em discussão, de forma a ampliar suas habilidades e competência na
sua prática pedagógica na escola.
Dessa forma foi possível discutir com os professores que fazem
o “chão” da sala de aula um conjunto de estratégias para inserção da
Educação Matemática na sua vivência de forma transversal, interdisci-
plinar e transdisciplinar. Acreditamos que com essa ação foi possível
estimular os profissionais que atuam na Educação Básica, principal-
mente os docentes de Matemática, a participarem de estudos que
promovam a educação com maior qualidade.
Trata-se, na verdade, de uma experiência inicial, pois não foi
possível inserir na discussão, estratégias mais específicas do ensino
da Matemática como se pode tomar da transposição didática de Che-
vallard, Bosch e Gascón (2001), da engenharia didática de Artigue
(1996) ou do contrato didático de Brousseau (1996), apenas breve-
mente introduzido nas discussões, mas que esperamos que possam
ser objeto da próxima formação daqueles profissionais.
O fato mais importante a destacar, no entanto, é que a escola
necessita efetivamente, no curto prazo, proporcionar novas condi-
ções de trabalho para os professores que viabilizem análises das situ-
ações didáticas que beneficiem o trabalho cooperativo do professor
e do aluno nas distintas abordagens da Matemática.
3. Considerações finais
O resgate mais imediato das reflexões no entorno do conhe-
cimento matemático, sobretudo propiciado pela Educação Ma-
temática, foi o esforço essencial de nossa experiência. Tentamos
evidenciar o aspecto mais qualitativo envolvido no ensino da
Matemática e que diz respeito a especificidade da sua didática.
104 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
Neste caso fizemos a mesma reflexão a qual promoveu
Piaget, isto é, a discussão mais pormenorizada e não apressa-
da, dos conceitos matemáticos que precedem a discussão mais
quantitativa. Essa mudança de paradigma pode ser provocado-
ra da transposição didática de conceitos, uma vez propicie um
novo olhar sobre a Ciência Matemática.
Seria quase que experimentar as mudanças qualitativas
que ocorrem do pensamento aritmético para a lógica algébri-
ca, ou mesmo, da geometria euclidiana para as dimensões pos-
sibilitadas pela geometria espacial, só que desta vez, no campo
da didática em Matemática ou, em Educação Matemática.
A avaliação deste projeto-piloto possibilitou colher indí-
cios para a melhoria de futuras ações, assim, como que de for-
ma diagnóstica, permitiu o planejamento de ações para a pre-
paração de uma formação mais direta em Educação Matemática
propriamente dita.
Elisângela Magalhães
Hermínio Borges Neto
Jorge Brandão
1. Introdução
Uma das questões mais marcantes para desenvolvimento dessa
pesquisa foi o questionamento: Como adaptar conteúdos matemá-
ticos da Álgebra Linear para pessoas com deficiência visual? Motivo
desta pergunta é a presença de Ana Maria, nome fictício de uma dis-
cente com baixa visão que cursou a Licenciatura em Matemática na
Universidade Federal do Ceará (UFC) na modalidade semipresencial
ou Educação a Distância (EaD). Desde 2007 a UFC, em parceria com
a Universidade Aberta do Brasil (UAB), oferece cursos nessa modali-
dade. Ana Maria ingressou em 2011, sendo a primeira discente com
deficiência visual em um curso de Matemática da UFC (tanto presen-
cial quanto a distância).
Após a sansão da LDB em dezembro de 1996, que prevê em
seu Artigo 58, § 1º e § 2º, o atendimento aos “portadores de NEE”,
preferencialmente nas classes regulares da rede de ensino, onde de-
vem ser oferecidos, quando necessários, serviços de apoio especiali-
zado para atender às peculiaridades do alunado. O atendimento em
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 109
Experiências Pedagógicas Exitosas
classes, escolas ou serviços especializados só deverá ser oferecido
quando não for possível a integração desses alunos em classes regu-
lares, devido às suas condições específicas.
A LDB favoreceu a inclusão desse alunado garantindo sua per-
manência nas escolas, ainda assim encontrar discentes com deficiên-
cia visual em cursos universitários nas áreas de Exatas é um caso raro,
já que as adaptações1 e acompanhamento por parte dos docentes
ainda é um fato distante no processo. Ana Maria despertou nosso in-
teresse por estar conseguindo aprovação em todas as disciplinas cur-
sadas, embora apresentando dificuldades. Assim sendo, resolvemos
observar seu desempenho na disciplina Álgebra Linear e Geometria
Analítica II.
Faz-se necessário entendermos quem é a pessoa deficiente vi-
sual. Para Gil (2000) define a deficiência visual como uma deficiência
do tipo sensorial e abrange desde a cegueira total, em que não há
percepção da luz, até a baixa visão (visão subnormal). Cegueira pode
ser a perda total da visão e as pessoas acometidas dessa deficiência
precisam se utilizar dos sentidos remanescentes para aprender sobre
o mundo que as cerca.
A baixa visão é a incapacidade de enxergar com clareza, embora
trata-se de uma pessoa que ainda possui resíduos visuais, mas, mes-
mo com o auxílio de óculos ou lupas, a visão se mostra turva, dimi-
nuída ou prejudicada de algum modo. Há casos em que cores claras
não são percebidas, como acontece com Esperança. Mais adiante
abordaremos sobre as formas de interagir com pessoas que possuem
deficiência visual.
A ementa da referida disciplina trabalhada contempla: Matriz e
Determinante; Os conjuntos R² e R³ como Modelos Aritméticos do
Plano Euclidiano e do Espaço Euclidiano; Distância; Ponto Médio; O
Espaço Vetorial Rn; Vetor e Projeção; Bases do Rn; Combinação Linear
e Sistema Linear; Produto Interno no Rn; Produtos Vetorial, Misto e
Triplo Vetorial; Equações de Reta e Planos; Superfícies Cilíndrica, de
1
O professor deverá fazer adaptações concretas ao conteúdo trabalhado, a fim de favorecer ao deficiente
visual a apropriação do conceito através do tato.
110 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
Revolução e Quádricas; Curva no Espaço; História da Matemática re-
lacionada aos Conteúdos.
A Matemática é considerada uma disciplina que muitos não a
compreendem porque não entendem sua essência, conforme Lira e
Brandão (2013), que trazem uma discussão de quanto mais próximo
do contexto social da pessoa (com ou sem deficiência visual) estive-
rem o conteúdo, melhor se dá a aprendizagem de conceitos. Assim, o
uso de material concreto, mesmo que de maneira informal, serve de
base para a abstração.
Embora tenhamos contribuições de matemáticos cegos en-
quanto jovens, tais como Lev Semenovich Pontryagin (nas Equações
Diferenciais), Nicholas Saunderson (na Óptica), Bernard Morin (na fa-
mosa eversão da esfera, da Topologia), de acordo com Lira e Brandão
(2013), ainda não tínhamos vivenciado uma situação com uma dis-
cente com deficiência visual na EaD.
O ambiente virtual da UFC é o Sistema Online de Aprendiza-
gem (SOLAR). O SOLAR foi desenvolvido pelo Instituto UFC Virtual,
da Universidade Federal do Ceará. Ele é dirigido ao professor e ao
aluno, permitindo o desenvolvimento de cursos e o intercâmbio com
os mesmos. Nele é possível ampliar o tamanho da fonte das letras,
todavia (ainda) não está preparado para fazer descrição de figuras ou
imagens (audiodescrição).
Eis nosso desafio: usar a Sequência Fedathi para ministrar o con-
teúdo Superfícies Cilíndrica, de Revolução e Quádricas.
Superfície de revolução é aquela obtida pela rotação de uma dada
curva C em torno de um eixo fixo, denominado eixo de rotação. Por-
tanto, uma superfície cônica de revolução é aquela gerada pela rota-
ção parcial de duas retas concorrentes em torno de uma das bisse-
trizes; uma superfície esférica é obtida pela rotação completa de um
semicírculo em torno do diâmetro. Cumpre ressaltar que o eixo de
rotação não deve ter, necessariamente, pontos comuns com a curva C;
uma superfície cilíndrica de revolução por exemplo, não intercepta
seu eixo de rotação.
112 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
“É uma proposta pedagógica de ensino onde o
docente utiliza uma postura diferenciada: a sala
de aula se transforma em um grande laboratório
de pesquisa, os discentes compõem o papel de
investigador e de elaboradores de seus conhe-
cimentos, e os docentes de colaboradores, que
irão fazer mediações necessárias, dependendo
da necessidade do grupo” (MAGALHÃES, 2015
p. 45).
118 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
Na TOMADA DE POSIÇÃO sugerimos o seguinte problema:
Como medir o volume de uma caixa d’água de forma cúbica com
1m de lado na qual está acoplado um cano cilíndrico com 4 cm de
diâmetro e 50 cm de comprimento?
Em um certo instante, a caixa está cheia de água e o cano va-
zio. A água é solta pelo cano até que fique cheio. Qual o valor apro-
ximado de altura da água na caixa no instante em que o cano ficou
cheio?
Esta questão foi apresentada para ser debatida em um fórum.
Em um primeiro momento, no entanto Ana Maria não entendeu bem
o enunciado.
Alguns dos discentes argumentaram que precisavam de uma
figura para resolver. Fizemos um “acordo” para não mandar figuras
antes do solicitado, para não influenciar demais. Então solicitamos
que tentassem desenhar a figura que eles estavam entendendo
(depois escaneassem e disponibilizassem para os demais). E como
Ana não tinha esse recurso, adaptamos a figura para que no en-
contro presencial ela tivesse a oportunidade de manusear o de-
senho.
Em relação à Ana Maria, nossa discente com baixa visão, ela não
sabia responder os questionamentos que surgiam durante os discur-
sos. A partir desse momento começamos a utilização da Sequência
Fedathi. À parte, ficamos nos comunicando via chat.
A licenciada foi indagada se em sua vida escolar e no Ensino
Superior ela se deparou com o estudo de superfícies cilíndricas. Na
ciência Matemática, estas consistem em (explicar no texto o que são
essas superfícies). A aluna afirmou que na Escola Pública de Ensino
Médio que estudou esse conteúdo não foi abordado e que os profes-
sores não contextualizavam os conteúdos.
Na etapa MATURAÇÃO foi sugerido que ela pesquisasse víde-
os no youtube que abordassem o conteúdo sobre o estudo de su-
perfícies cilíndrica e que procurasse compará-lo com o conteúdo
da aula e com a situação-problema que foi lançada no fórum.
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 119
Experiências Pedagógicas Exitosas
Indicamos que relesse o problema e que comparasse os dados
do problema com as possíveis soluções. Continuamos indagando-a
pedindo que ela confrontasse com situações que ela já tivesse viven-
ciado e que se era capaz de apresentar outros contextos.
A SOLUÇÃO consiste na representação e organização dos es- j
quemas/modelos que visem à solução do problema. Com efeito, a
primeira pergunta “Como medir o volume de uma caixa d’água de
forma cúbica com 1m de lado na qual está acoplado um cano cilín-
drico com 4 cm de diâmetro e 50 cm de comprimento?” E a segunda
“Qual o valor aproximado de altura da água na caixa no instante em
que o cano ficou cheio?”
Ana Maria respondeu usando o artifício de que o cubo do pro-
blema pode ser como uma caixa (recipiente plástico) de sorvete
XYZ4 com mesmas dimensões, sendo inserida uma pequena man-
gueira.
Por fim, chegamos a fase da PROVA. Será que Ana Maria conse-
guiria estender seu raciocínio para qualquer situação para conceituar
e realizar problemas envolvendo Superfícies Cilíndricas de Revolução?
Ela relacionou a situação inicial com várias outras envolvendo
cones e esferas. Demonstrando entendimento do conteúdo.
A Segunda atividade envolvendo Sequência Fedathi foi com
quádricas. Mais precisamente elipsoide. A TOMADA DE POSIÇÃO
consistiu na resolução da seguinte situação-problema: A Terra não é
perfeitamente esférica. Por causa dos movimentos de rotação e trans-
lação ela é um pouco achatada nos polos. O “Raio Equador” mede cer-
ca de 6.780.000 metros e o “Raio Polar” aproximadamente 6.358.000
metros. Indicando o eixo z como o eixo que liga os polos Sul e Norte e
estando contido no plano xy o Equador, como é denominado e como
fica uma equação canônica para o sólido assim caracterizado?
Esta questão foi apresentada para ser debatida em um fórum.
Novamente, tanto Ana Maria quanto os demais discentes não en-
tenderam bem o enunciado. De novo, solicitamos que tentassem
4
Omitimos o nome do sorvete citado por ela.
120 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
desenhar a figura que eles estavam entendendo (depois escane-
assem e disponibilizassem para os demais). Fizemos um “acordo”
para não mandar figuras antes do solicitado, para não influenciar
demais. Por isso outros detalhes, como figuras e descrição de ob-
jetos concretos foram completados nos fóruns após o envio dos
desenhos.
Via chat tivemos um maior contato com Ana Maria (e outros
colegas, cada um de maneira particular) para dialogar as etapas
da construção e interpretação do desenho. Ela, por iniciativa pró-
pria, usou um globo terrestre para tentar fortalecer seus argu-
mentos.
A etapa MATURAÇÃO consistiu em ela procurar vídeos no youtu-
be os quais abordassem o assunto quádrica. Comparasse com o con-
teúdo da aula fazendo questionamentos, a saber: dentre as quádricas,
qual se parece com uma esfera? É só uma aparência visual ou as pro-
priedades também são semelhantes? Em que diferenciam?
Indicamos que relesse o problema e confrontasse os dados do
problema com os entes das quádricas. Após uns 15 minutos ela argu-
mentou que a quádrica do problema era uma elipsoide.
Continuamos questionando: seria uma elipsoide uma esfera
achatada? Ela afirmou que não, pois a definição de elipsoide é dife-
rente da definição de esfera. Indicou ainda na equação canônica da
elipsoide, , dois dos denominadores
eram iguais.
Vale ressaltar que já estamos na fase da SOLUÇÃO. Com efeito,
ela consiste na representação e organização dos esquemas/modelos
que visem à solução do problema. A situação proposta está quase
resolvida!
Enfim, a fase da PROVA. Comparando com o que vivenciou na si-
tuação-problema da elipse, relacionou o “Raio Equador” com os valo-
res de “a” e “b” (pois estão no plano xy, disse ela) e o “c” fez associação
com o “Raio Polar”.
Enfim, em relação a essas duas experiências, o conhecimento
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 121
Experiências Pedagógicas Exitosas
prévio dos discentes é de grande valia na resolução de problemas.
Todavia, não adianta muito se eles não sabem como utilizar. Aí está
a grande importância da Sequência Fedathi: estimular para que cada
sujeito potencialize suas capacidades.
5. Considerações finais
O ensino da Matemática é considerado por muitos professores
uma prática difícil, trabalhar com Matemática para deficientes visu-
ais, tornam-se uma tarefa árdua e complicada, nesse artigo demons-
tramos a contribuição da Sequência Fedathi como uma metodo-
logia que favoreceu aos professores uma mudança de paradigmas
possibilitando ao docente trabalhar com a disciplina em um caráter
dinâmico investigativo de maneira prazerosa, estimulando os estu-
dantes a experimentarem a elaboração do conhecimento de uma
maneira mais simples.
A Sequência Fedathi oferece uma proposta de uma nova inter-
pretação para nossa prática docente. Fedathi oferece tanto ao do-
cente quanto ao discente a oportunidade de estarem ligados dire-
tamente, caminhando juntos com o objetivo da elaboração do novo
conhecimento.
Por ser uma ciência presente no nosso dia-a-dia e na escola a Ma-
temática ainda é considerada como disciplina difícil, expressa a necessi-
dade de um olhar diferenciado pelo docente, onde ele tenha a preocu-
pação de tratar todo esse conhecimento e conteúdo de uma maneira
única, e acessível onde o aluno se aproprie significativamente dela.
Durante as intervenções feitas utilizando a Sequência Feda-
thi podemos observar que a metodologia propiciou e oportunizou
que esse professor oferecesse a seus alunos condições necessárias
para dominar conceitos pretendidos em sala de aula, instigando
interesse, vontade de aprender e, elaborando e construindo seus
conhecimentos de forma significativa.
O que apresentamos nesse trabalho foram condições de se fa-
zer uma apreciação e uma interpretação diferenciada sobre o ensino
da Matemática, na perspectiva de uma nova postura docente, uma
nova metodologia e de um novo pensar sobre o ensino de Matemá-
tica para os deficientes visuais.
122 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
6. Referências
1. Introdução
Para a compreensão da aprendizagem do conceito de número
foi trabalhado, na disciplina de Ensino da Matemática ministrada na
Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, o texto
“Relações necessárias para construir o conceito de número”,
” da autora
Constance Kamii (1990), à qual relaciona os sete esquemas mentais
básicos para a aprendizagem Matemática, segundo a teoria de Piaget.
Para a teoria piagetiana, a criança constrói o conceito de número
a partir de interações físicas (onde tem contato com os objetos con-
cretos) e sociais (quando há troca de ideias com familiares, colegas e
professores), e através do desenvolvimento do raciocínio lógico ma-
temático quando a aprendizagem já não necessita de contato com
objetos. Essas interações constituem as etapas da aprendizagem Ma-
temática, às quais exigem empenho e concentração dos alunos em
tempos diferentes, reconhecendo que cada aluno tem seu tempo de
aprendizagem que deve ser respeitado.
Os sete esquemas mentais básicos elaborados por Piaget (1975)
caracterizam as fases de aprendizagem da criança necessárias para a
construção do conceito de número. São estes: comparação, classifi-
cação, inclusão hierárquica, correspondência biunívoca, sequen-
ciação, ordenação e conservação.
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 125
Experiências Pedagógicas Exitosas
Para Piaget (1975), os primeiros esquemas a serem trabalhados
com as crianças para iniciar a construção do conceito de número
são a comparação e a classificação, pois por meio da comparação a
criança estabelece as diferenças e semelhanças dos objetos, quanto à
forma, tamanho, cor, espessura, o que lhe permite classificarr estes ob-
jetos separando-os por categorias de acordo com as características
que lhes forem apresentadas e assim, a criança começa a construir in-
dividualmente a noção de número ao pensar, comparar e classificar.
Já no período das operações concretas, é possível trabalhar
através da conservação, pois nesta fase a criança consegue perceber
que a quantidade não depende da posição ou forma dos objetos.
A correspondência biunívoca permite que a criança faça relações de
quantidade ao corresponder os objetos um a um de modo que não
haja sobras, por exemplo, relacionar um aluno por cadeira ou um
brinquedo para cada criança.
Apesar de Piaget ter elaborado sete esquemas mentais básicos
para a aprendizagem Matemática, a autora Kamii (1990) explica que
destes, a ordem e a inclusão hierárquica são os mais importantes
para a aprendizagem das crianças, tendo em vista que anteriormen-
te ao conceito de número, a criança necessita desenvolver algumas
estruturas mentais: a ordem, que se refere à capacidade que a criança
desenvolve em arranjar, ordenar e contar objetos, e a inclusão hierár-
quica, que se dá depois do desenvolvimento da ordem.
A inclusão hierárquica permite que a criança forme um número
através da inclusão do número anterior, ou seja, a criança consegue
quantificar ao apontar um número para representar todo o grupo e
não apenas o último elemento, por exemplo, perceber que o nume-
ral 2 representa 1 mais 1, que o numeral 3 representa 1 mais 2 e as-
sim, sucessivamente.
Esse esquema contribui para que a criança realize a sequencia-
ção dos números, favorecendo o desenvolvimento do seu raciocínio
lógico-matemático, pois a sequência utilizada pela criança indepen-
de da ordem dos elementos, podendo ser crescente, decrescente, se-
quência de números pares ou ímpares e outras sequências possíveis.
126 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
Esses esquemas podem ser trabalhados com o uso de materiais con-
cretos como o material dourado, os blocos lógicos e outros recursos
didáticos que facilitem a compreensão das crianças de acordo com
sua idade e nível cognitivo.
Kamii (1990) afirma que é preciso ter em mente que a constru-
ção do conceito de número ainda está se formando, e que estes con-
ceitos não podem ser ensinados, mas sim, construídos pelas crianças.
Mas, para que isso aconteça, é necessário que o professor promova
meios de encorajar as crianças a pensarem sobre os números, a re-
lacionarem e interagirem com autonomia, aproveitando os conhe-
cimentos prévios construídos socialmente para fazer novas relações
com os conhecimentos adquiridos na escola. A autora ressalta a im-
portância do professor não dar respostas prontas, mas que a criança
reflita e faça sua própria construção.
A superação do erro é resultado do processo de
incorporação de novas ideias e de transforma-
ção das anteriores, de maneira a dar conta das
contradições que se apresentarem ao sujeito
para, assim, alcançar níveis superiores de conhe-
cimento (BRASIL, 1997, p.51).
128 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
to de número, a entrevista consistiu em um pequeno questionário
contendo quatro questões relacionadas à aprendizagem sobre os
conceitos de número na infância (escola) e na atualidade (faculda-
de), e sobre as contribuições dessa teoria na relação professor-aluno
no processo de ensino-aprendizagem. Sobre a relevância da inte-
ração entre professor e alunos no ambiente escolar, os Parâmetros
Curriculares Nacionais de Matemática ressaltam que
Como um incentivador da aprendizagem, o pro-
fessor estimula a cooperação entre os alunos,
tão importante quanto a própria interação adul-
to/criança. A confrontação daquilo que cada
criança pensa com o que pensam seus colegas,
seu professor e demais pessoas com quem con-
vive é uma forma de aprendizagem significativa,
principalmente por pressupor a necessidade de
formulação de argumentos (dizendo, descre-
vendo, expressando) e a de comprová-los (con-
vencendo, questionando). Além da interação
entre professor e aluno, a interação entre alunos
desempenha papel fundamental na formação
das capacidades cognitivas e afetivas. Em geral,
explora-se mais o aspecto afetivo dessas inte-
rações e menos sua potencialidade em termos
de construção de conhecimento (BRASIL, 1997,
p.31).
A relação professor-aluno é essencial para a aprendizagem sig-
nificativa não só de Matemática como de toda e qualquer área do
conhecimento. Desta forma, apresentaremos as questões que foram
de fundamental importância para a realização desta pesquisa. As
questões foram as seguintes:
1. Você lembra como conheceu os números e como se deu essa
aprendizagem?
2. Que diferenças você percebe entre os conceitos construídos
na infância e agora na Universidade?
3. Quais as contribuições da teoria piagetiana para o seu proces-
so de ensino-aprendizagem?
130 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
diano com minha família e na escola através de
atividades de conhecer os algarismos e associar
a quantidade. (Aluna 04)
Lembro-me de atividades de “escrita” dos núme-
ros, no infantil V, uma atividade que ficou em mi-
nha memória foi uma que trabalhava o numeral
8, que a professora me dizia para fazer uma bo-
linha pequena em cima e outra maior em baixo,
com preguiça, fiz várias bolas grandes, e a pro-
fessora pediu para que eu refizesse a atividade.
Lembro também do material dourado. (Aluna
05)
Os comentários supracitados revelam a fragilidade do ensino da
Matemática nas séries iniciais, trazendo sérias consequências para a
atualidade em que muitos estudantes possuem aversão a essa área
tão rica e necessária para as relações sociais. Diante do exposto, po-
demos perceber que essas alunas não tiveram a oportunidade de
construir os conceitos de número quando crianças, apenas foram
ensinadas a contar e a escrever os numerais, ou seja, simplesmente
decoraram os números ao invés de construírem a estrutura mental
de cada número apresentado. Esta metodologia tradicional de en-
sino não valoriza a autonomia dos alunos e isso implica muito no
seu baixo rendimento escolar, principalmente, quando se trata da
Matemática. Por isso, é importante que o professor não apresente às
crianças os números isoladamente, é necessário que a aprendizagem
Matemática tenha sentido e significado para que a criança entenda
que os números possuem diversas funções sociais, tais como indica-
dores de quantidade, de posição e codificação.
Neste contexto, a educação brasileira reflete uma constante pro-
blemática em torno do ensino da Matemática e traz reflexões sobre
o futuro dos alunos, uma vez que essa implica diretamente na esco-
lha da profissão dos estudantes que, cada vez mais, optam por áreas
que não envolvam a Matemática, especificamente. Isto porque não
obtiveram uma aprendizagem significativa ao longo dos anos esco-
lares e muitos acreditam na falsa ideologia de que só os “inteligentes”
aprendem a Matemática, o que provoca ainda mais o afastamento e
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 131
Experiências Pedagógicas Exitosas
o desinteresse dos alunos por esta área de estudo.
Esse distanciamento foi fortalecido ao longo dos anos, partindo
do pressuposto que a maioria dos alunos não foram estimulados a
refletirem sobre a importância da Matemática em todos os contex-
tos, ou seja, é difícil para eles entenderem que a Matemática está em
todo lugar. Neste sentido, podemos relacionar o baixo rendimento
dos alunos à maneira de como se deu seu processo de aprendizagem
Matemática.
É preciso que os alunos, desde crianças, sejam estimulados a utili-
zarem seu raciocínio lógico-matemático por meio de um ensino aces-
sível, contextualizado, que lhe proporcione uma aprendizagem signi-
ficativa, ao invés de simplesmente repetirem modelos já existentes.
A respeito disso, Kamii (1990) afirma que as escolas tradicionais
ao ensinarem através da obediência, subordinação por meio de no-
tas atrapalham o desenvolvimento da autonomia da criança. A auto-
nomia é um fator essencial para o sucesso dos alunos em todos os
níveis de ensino, no entanto, é necessário que o professor promova
meios de instigar os alunos, propondo desafios e deixando-os livres
para pensar nas estratégias de avançar em seus conhecimentos.
Sabendo que os conceitos matemáticos adquiridos pelas alunas
enquanto crianças são bastante diferentes dos adquiridos na uni-
versidade, e que o papel do professor muda ao longo dos anos, em
relação às tendências pedagógicas e às metodologias que utilizam,
procuramos saber quais as principais diferenças que elas conseguem
identificar nestes processos de ensino e de aprendizagem. E, obtive-
mos as seguintes respostas:
Na faculdade vejo uma prática maior, há mais
manuseio para abstração dos conceitos. Isso
para mim ajuda muito, pois aprendo melhor e
mais rápido. (Aluna 01)
São bem diferentes as duas concepções. Na mi-
nha infância a construção dos conceitos mate-
máticos estava ligada à mecanicidade, repetição
e até mesmo uma “pré-disposição” dos núme-
ros. Hoje, conhecendo melhor a estruturação
132 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
do pensamento lógico-matemático, percebo a
importância de uma mudança de postura fren-
te à Matemática para uma real significação dos
conteúdos aprendidos. (Aluna 02)
Acredito que os conceitos construídos na infân-
cia, em geral, eram mais para proporcionar o
conhecimento da existência dos números. Já na
universidade, muito da superficialidade é des-
construído para reelaboração do real conceito
de número e de sua real função. (Aluna 03)
Na infância, conhecemos mais pela experiência
concreta, às vezes aprendemos bem mais em
nosso cotidiano com nossa família do que na
escola. Na universidade aprendemos como o
conceito de número é um conceito abstrato e
que muitas vezes ele é trabalhado na educação
infantil de forma muito mecânica, e as crianças
acabam incorporando apenas os algarismos.
(Aluna 04)
Observei várias diferenças na forma como
aprendi diversos conceitos na escola e na facul-
dade, por exemplo: os agrupamentos, as quatro
operações Matemáticas, principalmente, soma e
subtração, para descontruir esses vícios de lin-
guagem “vai um” e “pedir emprestado”. (Aluna
05)
4. Considerações finais
Neste artigo apresentamos um contraste entre a aprendiza-
gem Matemática das alunas na educação básica e na graduação,
buscando problematizar o ensino da Matemática levando-se em
consideração o papel que ela representa na sociedade e o distan-
ciamento significativo que os estudantes têm segundo as pesqui-
sas realizadas atualmente, às quais apontam que os estudantes são
inseguros quanto aos estudos desta área. Por essa razão, é indis-
pensável que os professores questionem não apenas o que ensi-
nam, mas o modo como ensinam e que sentidos os alunos dão ao
que aprendem.
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 137
Experiências Pedagógicas Exitosas
A realização desta pesquisa foi de bastante relevância para a
compreensão da educação Matemática, principalmente, porque à
medida que as alunas entrevistadas problematizaram a educação
Matemática recebida, refletiram sobre suas próprias práticas como
professoras. E, esta foi a real intensão desta pesquisa, uma vez que
o papel da Universidade é formar professores reflexivos, descentra-
lizadores, que façam da sala de aula um ambiente rico de ensino e
aprendizagem, onde todos ensinam e todos aprendem.
É necessário, portanto, que os professores formados e em for-
mação sejam constantemente instigados a refletirem sobre a atual si-
tuação da educação e sobre a responsabilidade que todos nós temos
em mudar este cenário, principalmente, promovendo a interdiscipli-
naridade dentro e fora da sala de aula, para que os alunos tenham
livre acesso ao conhecimento.
Assim, não podemos nos deter apenas a uma abordagem tra-
dicional, pois o ensino da Matemática consiste em proporcionar inú-
meras condições e possibilidades para uma aprendizagem significa-
tiva e inovadora.
138 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
5. Referências
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares na-
cionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria
de Educação Fundamental. - Brasília: MEC/SEF, 1997. 126p.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares na-
cionais: Matemática /Secretaria de Educação Fundamental. - Brasília:-
MEC/SEF, 1997. 142p.
KAMII, Constance. A criança e o número: implicações da teoria de Piaget
para atuação junto a escolares de 4 a 6 anos. Campinas, São Paulo: Papirus,
1990.
PIAGET, J.; SZEMINSKA, A. A gênese do número na criança. 2 ed. Rio de
Janeiro: Zarar Editores, 1975.
SOUSA, F. E. E de et al. (2013). Sequencia Fedathi: uma proposta pedagógi-
ca para o ensino de Matemática e ciências. Fortaleza: UFC, 2013.
140 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
CAPÍTULO 8
1. Introdução
O campo de pesquisa relacionado as práticas educativas refe-
rentes à Matemática e a formação docente vem se ampliando cada
vez mais. Talvez isso seja devido ao fato das diversas discussões re-
ferentes a reformas educacionais, onde as práticas educativas e os
professores se encontram no centro das mesmas.
A universalização do ensino e da aprendizagem de conteúdos
matemáticos vem sendo cada vez mais exigida, seja pela sociedade,
pais, alunos, seja pelos educadores. Nessa perspectiva, dentre as possi-
bilidades de ensinar e aprender Matemática, destacamos a ludicidade,
especificamente, o uso de jogos, seja na forma analógica e/ou digital.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1997) de-
fendem uma abordagem interdisciplinar mediada pelo uso de pro-
blemas e situações reais retiradas da vivência do aluno, e reforçam
que tais situações podem ser medidas pelo jogo, pois é no jogo, me-
diante a articulação entre o conhecido e o imaginado, que o sujeito
desenvolve o seu autoconhecimento – até onde se pode chegar.
Os PCN (BRASIL, 1997) ainda ressaltam que os resultados do
desempenho em Matemática mostram um rendimento insatisfató-
rio, principalmente, no campo da Geometria. Apontam ainda que o
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 141
Experiências Pedagógicas Exitosas
ensino da Matemática é feito sem levar em conta os aspectos que se
conectam com a prática cotidiana, tornando-a desprovida de signifi-
cado para o aluno.
O ensino de Matemática prestará sua contribui-
ção à medida que forem exploradas metodo-
logias que priorizem a criação de estratégias, a
comprovação, a justificativa, a argumentação, o
espírito crítico, e favoreçam a criatividade, o tra-
balho coletivo, a iniciativa pessoal e a autono-
mia advinda do desenvolvimento da confiança
na própria capacidade de conhecer e enfrentar
desafios (BRASIL, 1997, p. 26).
142 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
A origem e significado da palavra Tangram pos-
sui muitas versões. Uma delas diz que a parte
final da palavra – gram significa algo desenhado
ou escrito, como um diagrama. Já a origem da
primeira parte – Tan – é muito duvidosa e es-
peculativa, existindo várias tentativas de expli-
cação. A mais aceita está relacionado à dinastia
Tang (618 – 906) que foi uma das mais podero-
sas e longas dinastias da história Chinesa. Assim,
segundo essa versão Tangram significa , quebra-
cabeça chinês (SOUZA, 1995, p.2).
Logo apresentamos o jogo Tangram como um possível facili-
tador na construção de conteúdos matemáticos, especificamente,
assuntos que envolvem a Geometria, provocando um olhar mais sig-
nificativo dos discentes que poderá ver as aulas de Matemática de
forma mais divertida.
Independente da faixa etária, série, o tangram contribui signi-
ficamente para o desevolvimento do raciocínio lógico geométrico,
pois exige reflexão, concentração, imaginação, paciência, persistên-
cia, sensibilidade, criatividade e perseverança.
Conforme Sampaio (2005) o uso do tangram, compondo e de-
compondo figuras, proporciona um contato com a Geometria, desen-
volvendo a capacidade de visualização, a percepção de propriedades
e o estabelecimento de relações – possibilidades que são bastante
exploradas em aulas de Matemática.
Nessa perspectiva, Mendes (2009, p. 28), destaca que “quaisquer
das formas de uso do Tangram apresentam muitos aspectos positivos, pois
a diretriz básica para o seu uso didático é possibilitar ao aluno ação-re-
flexão”. Mendes e Bezerra (2009, p. 1), afirmam que a exploração desse
material em sala de aula não tem sido feita com criatividade, visto que
os docentes não dão nenhum ou pouco espaço para a criação e cons-
trução dos conceitos matemáticos sejam trabalhados pelos discentes.
Percebemos então a importância de realizar efetivamente ativi-
dades que levem o aluno a construir seu conhecimento, despertando
curiosidade, incentivando a criatividade e efetivando a aprendiza-
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 143
Experiências Pedagógicas Exitosas
gem. Sobre isso Freire (1998, p.26) diz:
“Não temo dizer que inexiste validade no ensino
em que não resulta um aprendizado em que o
aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de re-
fazer o ensinado”. (...) nas condições de verdadeira
aprendizagem os educandos vão se transforman-
do em reais sujeitos da construção e da recons-
trução do saber ensinado [...] (FREIRE, 1998, p.26).
Desse modo, podemos dizer que faz parte da tarefa docente en-
sinar a refletir e desenvolver a criatividade. Geralmente, o Tangram
é utilizado no ensino das formas geométricas, mas acreditamos que
utilizando a criatividade é possível trabalhar outros conteúdos ma-
temáticos. Assim, o uso do tangram como um recurso didático no
ensino da Matemática se torna viável, pois desperta o interesse dos
alunos para um trabalho de forma lúdica e sua confecção pode ser
realizada a custos mínimos.
Conforme o PCN o jogo, categoria em que o tangram se enquadra,
é um dos caminhos para fazer Matemática em sala de aula, pois os jogos
constituem uma forma interessante de propor problemas, pois permitem
que estes sejam apresentados de modo atrativo e que favoreçam a cria-
tividade na elaboração de estratégias de resolução e busca de soluções.
Dessa maneira aprende-se e recria-se de várias maneiras desen-
volvendo a habilidade do pensamento. Segundo os Parâmetros Cur-
riculares Nacionais (PCN):
“os jogos constituem uma forma interessante
de propor problemas, pois permitem que estes
sejam apresentados de modo atrativo e favore-
cem a criatividade na elaboração de estratégias
de resolução e busca de soluções, além de pos-
sibilitar a construção de uma atitude positiva
perante os erros, [...] sem deixar marcas negati-
vas” (BRASIL, 1998, p.46).
2. Metodologia da Investigação
A pesquisa tem cunho construtivista, considerando o tangram
como um jogo que possibilita e estimula novas experiências e permite
a busca de soluções não padronizadas. Segundo Costa (2008) no en-
foque construtivista, mais do que a transmissão e/ou fixação de con-
teúdos específicos, visa-se a exploração de atividades que propiciem
o desenvolvimento de habilidades como estratégias de solução de
problemas, estruturas cognitivas, criatividade, ou seja, aprendizagem
por descoberta por meio da manipulação livre do jogo pelo sujeito.
Dessa maneira a atividade proposta visa à construção do conhe-
cimento do aluno por meio da manipulação do jogo, objetivando
investigar e verificar a relação do tangram (analógico e/ou digital),
como uma estratégia eficaz para entender conceitos matemáticos,
além de proporcionar maior atenção e concentração no processo de
ensino e a aprendizagem.
As atividades aconteceram de forma interativa tanto na sala de
aula convencional como no Laboratório de Informática. Usamos sof-
twares e também com a construção do jogo com a folha ofício A4.
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 145
Experiências Pedagógicas Exitosas
A postura que o estudante de Pedagogia assumiu foi de pesqui-
sador e construtor de seu conhecimento, em um ambiente de investi-
gação, na perspectiva de atuação metodológica a partir da Sequência
Fedathi1. Assim, a luz da metodologia citada os alunos assumiram o
papel de pesquisador e construtor do conhecimento, mediados pela
plataforma Teleduc.
Os sujeitos da pesquisa foram os 45 alunos graduandos do cur-
so de Pedagogia regularmente matriculados na disciplina de Ensino
de Matemática na Faculdade de Educação da Universidade Federal
do Ceará – FACED/UFC.
Os mesmos foram escolhidos por se tratarem de futuros pro-
fissionais que atuarão no ensino da Matemática básica, mais direta-
mente com alunos da Educação de Jovens e Adultos(EJA) e precisam
entender melhor como se dá o ensino desta ciência, e também para
ressaltar o quanto é importante adotar uma postura docente dife-
renciada para no ensino de Matemática, entendendo que a apren-
dizagem deve acontecer de forma interessante e prazerosa e um dos
recursos que possibilitam isso são os materiais lúdicos.
Sugerimos aos sujeitos da pesquisa que se dividissem em trios,
pois fazer as análises em grupos por descobertas e mediações intera-
tivas e colaborativas, nos remete a perspectiva Vygotskyana quando
aponta que
A aprendizagem, no projeto teórico de Vygot-
sky, está totalmente relacionada com o desen-
volvimento pleno do ser humano, pois, a partir
da mediação entre os membros de um mesmo
grupo, o aprendizado se concretiza e possibili-
ta o processo de desenvolvimento (LIMA, 2003,
p.100-101).
146 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
cussão e portfólio), assim, os relatos a seguir mostram como se deu
essas análises e como estão documentadas na plataforma Teleduc.
Nas análises e comparações entre as várias formas de usar o
tangram na sala de aula com o papel ofício A4 e no laboratório de
informática, destacamos os relatos dos alunos 1, 2 e 3, pois enfatizam
que a atividde em sala com o tangram construído a partir da folha de
ofício A4, foi mais dinamica.
Vejamos:
Em relação o modo de fazer, na sala de aula achei
melhor, pois dar para manusear o objeto mais
dinamicamente em relação ao computador, em
relação a abstração das formas geométricas, não
vi uma diferença muito relevante, nos dois casos
requer o mesmo nível de abstração, esse e meu
olhar pedagógico. ( Aluno 1)
A utilização da ferramenta através do compu-
tador torna-se mais complicado. Ao manipu-
larmos o tangram no papel tivemos maior ha-
bilidade devido ao manuseio e visualização das
peças. O uso no computador e mais lento e difí-
cil, uma vez que não temos o contato direto com
o concreto, o que talvez torne o processo mais
demorado pois e preciso uma certa habilidade
com o computador. (Aluno 2)
Acredito que o tangram manual (concreto), é
melhor aproveitável pelos alunos, pois eles po-
dem partir da desconstrução para a construção
ou o contrario. Ainda também, acreditamos que,
na apropriação do tangram, ou seja, o concreto
em suas mãos, existe a interação do aluno com
o objeto de modo significativo e facilitando a
compreensão e construção do conhecimento.
(Aluno 3)
Nessa mesma perspectiva, o aluno 4 diz que o
Tangram em flash disponibilizado no site: http://
ftp.multimeios.ufc.br/~geomeios/tangran_
flash.html possibilita uma melhor visualização
do desenho, [...]. (Aluno 4)
148 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
E fechando as análises,o aluno 8 diz que
4. Considerações finais
A pesquisa foi motivada pelas atividades propostas pela profes-
sora da disciplina de Ensino de Matemática na Faculdade de Educa-
ção da Universidade Federal do Ceará, pois consideramos esse es-
paço como um ambiente de pesquisa e, portanto de construções e
descobertas.
Sabemos que a Pedagogia tradicional ainda é viva e atuante na
maioria das escolas e, na medida em que vamos nos integrando ao
que se denomina uma sociedade da informação, crescentemente
globalizada, é importante que a Educação se volte para o desenvolvi-
mento das capacidades de comunicação, resolver problemas, tomar
decisões, fazer inferências, criar, aperfeiçoar conhecimentos e valo-
res, trabalhar cooperativamente.
A aprendizagem se desenvolve a partir da problematização de
situações contextualizadas, levando em conta a visão de mundo do
aluno. O trabalho de confecção e aplicação leva bastante tempo e
exige muito esforço e pesquisa, devendo estar muito bem planejado.
Embora os alunos de Pedagogia, sujeitos da pesquisa tenham
considerado o tangram construído de papel ofício A4, mais significa-
tivo para a aprendizagem do que o tangram na forma digital entende-
mos que não podemos deixar de proporcionar aos alunos as diferentes
possibilidades. Pois trabalhando com diversas possibilidades substitu-
150 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
ímos o fazer pelo ver e também substituímos as atividades mecânicas
e repetitivas, neste contexto de reconstrução se possibilita que as aulas
se esquivem da monotonia na medida em que os alunos vão se inte-
rando e se apropriando do conhecimento trabalhado. Portanto, o sujei-
to em aprendizado passa a participar da construção do conhecimento.
A pesquisa apresentou pontos positivos e os objetivos foram
alcançados, pois pôde ser verificado um alto índice de interesse, mo-
tivação e aprendizado dos alunos envolvidos, tanto na sala de aula,
enquanto confeccionavam o tangram, como no laboratório de infor-
mática manipulando o tangram online, apesar de que o tangram na
forma digital não era conhecido por todos os sujeitos.
Porém, ao observar o relato das atividades desenvolvidas pelos
alunos, e ao discutir com eles sobre suas práticas docentes, perce-
bemos que os que conheciam o jogo, subutilizavam os recursos e
possibilidades didáticas. Nesse sentido, sugerimos que sejam reali-
zadas oficinas pedagógicas para mostrar aos professores as diversas
possibilidades de aplicações do tangram na Matemática.
Segundo Laranjeira (1997) o recurso didático em questão, se
bem utilizado em sala de aula, estimula o interesse, a curiosidade,
o espírito de investigação e o desenvolvimento da capacidade para
resolver situações-problemas, assim, vale ressaltar que o jogo por si
só não fará com que o aluno aprenda, é preciso um bom planeja-
mento, uma boa metodologia, para desenvolver com qualidade os
conteúdos matemáticos e propor desafios para instigar os mesmos
no processo de construção do conhecimento.
Enfim, o recurso didático em questão, quando bem utilizado,
seja na sala de aula convencional, ou no laboratório de informática,
pode proporcionar uma aula produtiva, dinâmica, e ainda, pode mo-
tivar a participação e integração dos alunos às atividades.
152 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
CAPÍTULO 9
1. Introdução
A Matemática ensinada nas escolas é na maioria das vezes uma
atividade mecânica, sem motivação, sem interesse tanto por parte
do aluno, como por parte do professor. O aluno é um mero expecta-
dor e não um sujeito partícipe, sendo que a maior preocupação do
professor é em cumprir o programa curricular. Os conteúdos e a me-
todologia não se articulam, com os objetivos de um ensino que sirva
de inserção social da criança, ao desenvolvimento do seu potencial e
da sua expressão e interação com o meio.
A utilização de problemas na Matemática, de modo geral, vem
sendo feita de maneira pouco eficiente, pois sua aplicação se dá com
o objetivo único de empregar e exercitar o que foi ensinado teorica-
mente, não levando o aluno a construir o seu conhecimento.
O pensamento lógico é essencial para a resolução de problemas.
Isso envolve pensamento sequencial, criação de soluções alternati-
vas e previsão de resultados. Os jogos Boole visa o desenvolvimento
da capacidade de raciocínio lógico, por meio de histórias construídas
sobre as estruturas lógico-Matemáticas.
2. O jogo Boole
e e o raciocínio lógico-matemático
Nesta pesquisa os jogos Boole foram concebidos como instru-
mentos de desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, e para
detalharmos a temática, tomamos essencialmente, o teórico Pro-
cópio Mendonça Melo (autor do jogo), para fundamentar a lógica
mencionamos Mary Haight ( 2007) no que se refere à Pedagogia e a
Psicologia citamos Piaget ( 1998), Vygotsky(1984), Freire(1998) e Lino
de Macedo (2007). Também nos apoiamos, nos Parâmetros Curricu-
lares Nacionais - PCNM (BRASIL, 1997), e nas pesquisas documentais,
em revistas e sites na internet. A seguir discorremos o passo a passo
de usar pedagogicamente os jogos Boole.
158 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
Figura 1.
Figura 2.
162 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
Dessa forma, usamos o jogo laranja, pois é o mais adequado ao
nível de desenvolvimento cognitivo, denominado por Piaget (1998)
de operatório-concreto, e a ideia era identificarmos se os alunos in-
vestigados se encontravam nesse nível.
164 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
aprendizagem através de jogos permite que o aluno faça da apren-
dizagem um processo interessante e até divertido. De acordo com
Grando (2004), a ação determinada pelo jogo desencadeia a imagi-
nação, dando origem a uma situação imaginária. Assim, enquanto
brinca a criança aprende a agir em uma esfera cognitiva estimulada
por tendências internas, ou seja, aprende a agir independente daqui-
lo que vê.
O ensino de Matemática está orientado, fundamentalmente,
para desenvolver o pensamento e a capacidade para operar objetos
matemáticos. Dentro deste contexto os jogos Boole estão inseridos
por tratarem da conversão da linguagem em uma álgebra, no estudo
da numeração (Binário) e na utilização de problemas clássicos (Qua-
drados mágicos), mas que não consideramos relevante, para o nível
de nossa pesquisa, aprofundá-los aqui.
De acordo com Vygostky (1984, p.27) é na interação com as ati-
vidades que envolvem simbologia e brinquedos que o educando
aprende a agir em uma esfera cognitiva. Na visão do autor a criança
comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida
real, tanto pela vivência de uma situação imaginária, quanto pela ca-
pacidade de subordinação às regras.
Assim, a aprendizagem por meio de jogos permite que o aluno
faça da aprendizagem um processo interessante e até divertido. Por-
tanto, devemos utilizar os jogos não como instrumentos recreativos
na aprendizagem, mas como facilitadores, colaborando para traba-
lhar os bloqueios que os alunos apresentam em relação a alguns con-
teúdos matemáticos.
Os jogos Boole, por meio da brincadeira, proporcionam a seus
jogadores uma situação favorável que permite um caminho que
possibilita a imaginação, o levantamento de hipóteses, deduções e a
criação na busca de estratégias de resolução nas situações de jogos
e brincadeiras.
Portanto, se convenientemente planejados, os jogos são um
excelente recurso pedagógico para a construção do conhecimento
168 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
“Um problema matemático é uma situação que
demanda a realização de uma sequência de
ações e operações para obter um resultado. Ou
seja a solução não esta disponível de inicio no
entanto é possível construí-la. Em muitos casos
os problemas usualmente apresentados aos
alunos não constitui verdadeiros problemas por
que via de regra não existe um real desafio nem
a necessidade de verificação para validar o pro-
cesso de solução” (BRASIL, 1997, p.41).
172 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
São muitos e de renome na história, os matemáticos que tiveram
atenção vivamente voltada para o estudo das recreações e curiosi-
dades. Para fundamentar, temos Malba Tahan2, um dos Matemáticos
que estudaram esses métodos considerando a Matemática recreativa3
como uma das fontes mais valiosas para as descobertas científicas.
Após as observações feitas, frente às situações vividas pelos alu-
nos durante as quatro aulas percebemos que houve um progresso
bastante acentuado em relação ao desenvolvimento do raciocínio ló-
gico da maioria dos alunos, sendo este um número muito significativo.
Contudo, percebemos que os jogos, em especial os jogos Boole,
permitem que os alunos construam seu conhecimento e desenvolvam
o raciocínio lógico de forma simples.
174 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
Atividades trabalhadas após aplicação
dos jogos Boole
Exemplo 1
Dispor os números de 1 a 6 na pilha retangular a seguir de modo
que a soma dos números seja 9. (Não podendo repetir os números).
3__3__3 = 3 3__3__3 = 3
3__3__3 = 9 3__3__3 = 3
176 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
CAPÍTULO 10
1. Introdução
A linguagem é um dos meios pelo qual as pessoas aprendem e
ensinam conhecimentos acumulados durante anos e anos de vivên-
cia da humanidade. Privar uma pessoa da linguagem é torná-la ex-
pressamente dependente e inativa em uma vida apática. Para haver
comunicação entre seres é necessário haver uma referência interpre-
tativa comum por meio de expressões diversas, a saber: oral, corpo-
ral, facial, hieróglifos e quaisquer outros tipos de sinais. Dentre esses
modos de comunicação a oral é a mais usada e difundida. E é ela que
possibilita a passagem de conhecimento de um modo mais direto.
Porém, algumas pessoas naturalmente, ou por doenças, perdem
a habilidade de ouvirem e são colocadas à margem da sociedade por
não possuir o veículo comum à maioria, a fala. A opressão à minoria
surda vem acontecendo, desde os primórdios dos tempos, até que
em 1775 a França abre caminhos para a organização regular do en-
sino aos surdos. Hoje, no século XXI, os surdos têm conseguido bas-
tantes vantagens em países democráticos, passando a ter direitos
a uma educação de igual nível dos ouvintes e até mesmo livros e
educação personalizada. Certos de que estamos em um mundo de
1
In. ENSINO DOS PRINCÍPIOS PRIMITIVOS DE Geometria COMO FORMA DE APRENDIZAGEM GEOMÉTRICA
PELOS SURDOS DE VÁRZEA ALEGRE_CEARÁ. Monografia apresentada em nível de pós-graduação, do Curso
de Especialização em Ensino da Matemática do Núcleo de Educação a Distância, da Faculdade Integrada da
Grande Fortaleza, sob a orientação da Professora Maria José Costa dos Santos, em 2010.
180 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
Jesus a uma cidade, um jovem veio a falar por uma interferência di-
vina, um milagre1. Durante a Idade Média os textos que falam sobre
os métodos de educação dos surdos, a pequena porção encontrada,
dão destaque às curas milagrosas ou a fatos inexplicáveis.
Encontramos que apesar dos preconceitos, no século XV, em
ideia expressa por LACERDA (1996 apud Moores, 1978) “[...]um peda-
gogo Rodolfo Agrícola que relata que um Jovem Surdo aprendeu a ler de
modo satisfatório[...]”,
” o que leva a uma mudança de ideia no sécu-
lo XVI e já se acreditava que os surdos podiam aprender sem existir
intervenções milagrosas. Surgem, neste tempo, pedagogos que se
entregaram à aprendizagem dos surdos e fazem muitos relatos posi-
tivos. Em seu livro sobre comunicação, Behares (1987) menciona que
naquele século havia pessoas que acreditavam honestamente que
podiam fazer surdos falarem.
O intuito principal dos pedagogos medievais era fazer os surdos
falarem e compreenderem a fala. Porém a ideia moderna é bem dife-
rente desta, vejamos o que dizem os teóricos a segui
184 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
comprimento e largura; VI - As extremidades
da superfície são linhas; VII - Superfície plana é
aquela, sobre a qual assenta toda uma linha reta
entre dois pontos quaisquer, que estiverem na
mesma superfície (COMMANDINO, 1944, p. 4)
186 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
comunicação.
Vygotsky considerava a linguagem de suma importância para
o progresso intelectual do ser humano e defendia a oralização dos
surdos, porém, admitia o uso de gestos na educação dos mesmos.
Continua ainda, dizendo que a linguagem com gestos deveria ser tra-
tada de modo espontâneo e que poderia ser eliminada após a apren-
dizagem da fala, todavia, criticava muitas metodologias mecânicas
e artificiais. Mais tarde, veio a crer que a fala perde a sua significação
quando tomada como um fim em si mesma e desse modo passou a
defender a mímica por meio de educação dos surdos.
Percebemos que Vygotsky apoiava a Comunicação Total como
método de ensino eficaz para surdos, pois ela oferece muitos cami-
nhos para aprendizagem. O diferencial é que podemos lançar mão
de muitos instrumentos que venham a fazer bem entendida a Mate-
mática. No caso da Geometria, especificamente os princípios primiti-
vos de Geometria, temos vários aliados que são os movimentos que
simulam o ponto, a reta e o plano. Assim a Matemática na área de
Geometria pode explorar, e muito bem, os próprios movimentos da
língua gestual para usufruir da composição da língua de sinais.
Com efeito, quando temos uma preocupação para que os ou-
tros nos entendam melhor damos o primeiro passo para que a apren-
dizagem se concretize efetivamente. Na Língua Brasileira de Sinais
(LIBRAS), bem como qualquer outra língua de sinal, é dotada de
movimentos espaciais que se faz uma Geometria gestual. A beleza
da Língua de Sinais está na combinação de movimentos geométri-
cos com as expressões faciais que quando bem usados pelo trans-
missor, intérprete ou surdo, transmite a mensagem de maneira in-
confundível. Destacando os princípios primitivos da Geometria que
são fundamentais em quaisquer abordagens geométricas, podemos
montar uma estrutura Matemática da expressão gestual dos surdos.
A própria língua dos surdos tem bastantes exemplos de ponto, reta e
plano, a começar pelo toque que as mãos fazem no corpo na execu-
ção de um sinal, prossegue pela reta que são os prolongamentos dos
190 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
Eu querer!
Professor:
1° eu explicar ponto.
Ponto encontrar qualquer lugar. Ponto nós usar achar objetos muito pe-
quenos. Para
representar ponto nós usar “. ”.
Ponto não ter tamanho, largura ou altura, como? Infinito pequeno.
Exemplo. Estrela céu igual ponto porque céu muito grande, estrela mui-
to pequena.
Entender vocês?
Aluna Surda:
Porque nós aprender ponto entender Geometria? Geometria usar como?
Professor:
Ponto firmar Geometria. Ponto importante desenhar e localizar. Exem-
plo: Homem navegar barco, depois ficar perdido não ter como saber lu-
gar ir. Como fazer chegar cidade própria?
Homem ver mapa computador, mapa igual mundo, navio igual ponto.
Desenho mostrar coisas mundo depois poder nós pensar resolver pro-
blema.
Aluna Surda:
Eu entender.
Professor:
2° eu explicar reta.
Reta igual linha infinita não torta. Sempre quando ter dois pontos poder
passar só uma reta
única. Quando desenhar linha entre dois pontos ser nome “segmento
reta” (pedaço de reta).
Reta infinita, não ter fim. Linha não ter fim igual reta.
Aluno Surdo:
192 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
Professor:
Agora perguntar diferente. Qual menor quantidade pontos mostrar pla-
no?
Alunos
Três pontos.
Foram colocados no quadro três exemplos para eles dizerem quais
exemplos determinam planos.
Alunos surdos:
Vamos observar:
8. Considerações finais
Ficamos cientes que os surdos têm muito mais a aprender do
194 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
que estamos lhes proporcionando. No nosso contato, tanto nas en-
trevistas como na vivência dos surdos, vimos alunos empolgados na
aprendizagem e querendo ir adiante. No processo de aplicação de
atividades, podíamos sentir muitas vezes o que eles queriam falar,
não por suas tentativas de falar, mas por suas expressões fascinantes
de harmonia dos rostos com suas mãos. Constatamos que realmente
para que eles possam aprender Geometria e abstrair-se nela os PPG
é um dos principais requisitos. Além do mais, desenhos, fotografia e
vídeos fascinam os surdos por causa das suas visões aguçadas. Aliado
ao ensinamento dos PPG faz necessária uma boa dosagem de com-
preensão, afeto e cuidado dos pais, amigos e professores a fim de
acompanhá-los na caminha do conhecimento.
O último fator importante apontado por nós é o mergulho dos
surdos e cooperadores no mundo digital para proporcioná-los um
dinamismo na absorção dos conhecimentos dos PPG e desenvolver
as habilidades exacerbadas por essas tecnologias. Os surdos, como
quaisquer outros alunos, aprendem e continuarão aprendendo
quando usamos técnicas combinadas que o conduzam desenvolver
faculdades sensoriais.
Este trabalho nos mostrou que Várzea Alegre-Ceará tem acha-
do meios positivos para estimular a educação especial por causa do
amor dos pais para com seus filhos, carinho dos amigos ouvintes aos
surdos e por perseverança dos surdos em continuar na busca da feli-
cidade, apesar das dificuldades. As diversões e o trabalho estão como
prioridade de seus alvos, isto pode ser percebido por suas escolhas
de preferências e gostos.
Segundo Vieira (2005, p. 37 apud FRIEDLAENDER, 2004, p. 18) “O
comportamento humano é afetado por aspectos psicológicos, bio-
lógicos, sociológicos, antropológicos, econômicos e políticos. Assim,
percebe-se a natureza complexa do comportamento humano, que
deve sempre ser avaliado de acordo com a situação.”
Nestes termos, a aprendizagem dos surdos varzealegrenses em
Geometria pode ser consolidada por suas próprias experiências, a
partir de estudos claros dos Princípios Primitivos de Geometria. In-
formamos ainda que o relato apresentado é apenas um recorte de
uma pesquisa mais ampla realizada em nível de Pós-graduação.
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 195
Experiências Pedagógicas Exitosas
9. Referências
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ed, São Paulo:Loyola, 1998.
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CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. Dicionário enciclopédico ilustrado trilín-
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COMMANDINO, Frederico. Euclides – Elementos de Geometria. São Paulo:
Edições Cultura, 1944.
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cia – CORDE. Dicionário da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), Versão 2.0
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FERREIRA-BRITO, L. Integração Social e Educação dos Surdos. Rio de Ja-
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ISOTANIL, S.; TSUTSUMI, M.; BRANDÃO, L. O. O Uso do Computador no Ensi-
no de Geometria para Deficientes Auditivos. IME-USP: Vale do Itajaí. 2004.
JUNIOR, Oscar G. Matemática por Assunto, v. 6, São Paulo:Scipione, 2000.
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no Surdo e Professor Ouvinte: Examinando a Construcao de Conhecimen-
tos.1996..Tese de Doutorado.Faculdade de Educação. Universidade Estadual
de Campinas. Campinas, 1996.
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Mestrado. Instituto de Computação. Universidade Estadual de Campinas.
Campinas. 2001.
MARCELINO, Nelson C. Estudos do Lazer: uma Introdução. Editora Autores
Associados. Campinas – SP, 1996.
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necessidades educacionais especiais de alunos surdos. Brasília. 2005
196 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
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MORAES, R. Uma tempestade de luz: a compreensão possibilitada pela aná-
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PINTO, Fernanda Bouth. Vendo vozes: a história da educação dos surdos no
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neiro: Arara Azul, 2006.
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rina. Santa Catarina 2005..
VYGOTSKY, L. S.: A formação Social da Mente. São Paulo. Martins Fontes,
1984.
1. Introdução
No que se refere à Educação Matemática, a Modelagem Mate-
mática pode ser tida como uma estratégia pedagógica. Dentro desse
enfoque, podemos encontrar diferentes perspectivas que estão re-
lacionadas com a escolha do problema a ser investigado, que pode
partir dos alunos, do professor ou de um acordo comum aos dois
(Malheiros, 2008).
Não iremos fazer um levantamento bibliográfico acerca da Mo-
delagem Matemática como estratégia pedagógica, pois a mesma
pode ser encontrada em trabalhos como o de Malheiros (2004). Para
fins desse artigo, modelagem será entendida como um enfoque pe-
dagógico no qual se enfatiza a participação do aluno no tema a ser
estudado, modelado. Neste artigo, vamos focar no uso de Vídeo Di-
gital nos trabalhos de modelagem matemática - seja ele nas apre-
sentações dos trabalhos, nas pesquisas dos alunos ao investigar um
tema ou o produto final entregue junto à versão escrita - presentes
na pesquisa de Domingues (2014), primeiro autor desse artigo, que
esteve relacionada às aulas de Matemática Aplicada, com ementa
semelhante à de Cálculo I, semestral, para alunos da graduação do
curso de Ciências Biológicas da UNESP- Universidade Estadual Paulis-
ta “Júlio de Mesquita Filho” - campus de Rio Claro, durante o segundo
198 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
semestre de 2011. As aulas da referida disciplina foram ministradas
pelo segundo autor desse artigo.
Desde 1993, o professor desenvolve trabalhos de Modelagem
Matemática nas aulas supracitadas de modo que são realizadas pes-
quisas, por membros do Grupo de Pesquisa em Informática, outras
Mídias e Educação Matemática - GPIMEM, para analisar as possibili-
dades de tecnologias nas aulas e nos trabalhos de modelagem. Nos
últimos dez anos os trabalhos têm sido analisados sob a luz do cons-
truto teórico Seres-Humanos-com-Mídias proposto por Borba e Villa-
real (2005). Esse constructo enfatiza que a construção do conheci-
mento é coletiva, e envolve tecnologias da inteligência, de modo que
a mídia molda e influencia o pensamento humano, se tornando co-
autora dessa produção. Nesta perspectiva, entendemos que conhe-
cimentos distintos são construídos com mídias distintas. Softwares,
por exemplo, podem estimular a geração de conjecturas por coleti-
vos formados por estudantes e estes programas. Mais recentemente
temos estudado o que poderia vir a ser o papel do vídeo digital na
expressão e produção da Matemática gerada em sala de aula.
No que se refere à dinâmica das aulas, durante o semestre são
trabalhados os tópicos da ementa por meio do diálogo e investiga-
ção, com aulas expositivas, discussão em grupos, atividades explora-
tórias por meio de softwares tais como o WinPlot, GeoGebra e Mo-
dellus (dependendo da versão da disciplina), resolução de exercícios,
de modo que o aluno entenda, visualize, crie conjecturas e saiba uti-
lizar os conceitos de cálculo em exercícios aplicados a outras áreas.
Dentro e fora da sala de aula, o professor desenvolve um trabalho de
modelagem matemática, com enfoque pedagógico na perspectiva
de Borba, Malheiros e Amaral (2011). Dentro desta perspectiva a es-
colha do tema é feita pelos alunos, de modo que trabalhem em gru-
pos de interesse comum. O professor atua como coautor nesse pro-
cesso, por meio de críticas a versões escritas parciais entregues, de
modo que os grupos aprofundem eventuais elementos matemáticos
dentro de cada tema. Além da apresentação escrita, há também uma
apresentação oral feita para a turma e eventuais convidados. Após a
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 199
Experiências Pedagógicas Exitosas
apresentação e debate, o grupo apresenta a versão final escrita do
trabalho. O grupo é avaliado pelo conjunto da obra, apresentações
orais e escritas conforme Borba, Meneghetti e Hermini (1999).
Mais recentemente, o vídeo foi a forma de expressão incorpora-
da ao trabalho, e à avaliação dos projetos de modelagem. Os vídeos
digitais se fizeram presentes em dois momentos da aula como um
todo: 1) vídeos apresentados em sala pelo professor, para motivar
os trabalhos de modelagem e outros enfoques pedagógicos viven-
ciados em sala de aula e; 2) vídeos editados e/ou produzidos pelos
alunos nos trabalhos de modelagem matemática. Os vídeos apresen-
tados em sala de aula pelo professor eram provenientes da internet
e relacionados, por meio de perguntas, aos tópicos da ementa do
curso. Mais detalhes sobre os vídeos e a maneira a qual eles foram
trabalhados podem ser encontrados em Borba e Domingues (2015).
Nesse artigo vamos focar nos vídeos editados e/ou produzidos
pelos alunos dentro dos projetos de modelagem. A pesquisa de Do-
mingues (2014) documentou em detalhes este uso de vídeos. Nesta
referência pode ser encontrado também os detalhes da metodolo-
gia de pesquisa, que teve os seguintes destaques: os dados foram
construídos a partir de questionários individuais respondidos pelos
alunos, filmagem de entrevistas semi-estruturadas com cada grupo
e observação participante do pesquisador na sala de aula. A análise
dos dados se deu por meio da triangulação proposta por Araújo e
Borba (2012). Por meio da análise, da mescla das falas das entrevistas
e dos questionários, emergiram classificação que iam ao encontro de
um tema comum, conforme evidenciado em Bogdan e Biklen (1994).
Além de focar no papel dos vídeos em projetos de modelagem,
discutiremos o fazer do vídeo. Ilustraremos a forma como o professor
pode trabalhar com vídeo com seus alunos em sala de aula.
200 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
2. O interesse pelos vídeos
Notamos que o vídeo vem ganhando destaque no cotidiano de
alunos e professore, em programas de TV, seja para diversão, infor-
mação ou divulgação de determinado produto ou tema. A visuali-
zação de vídeos foi impulsionada pela internet rápida e pelos celu-
lares inteligentes, na medida em que se tornou muito mais fácil o
seu compartilhamento, sendo uma das tendências da quarta fase das
tecnologias digitais na Educação Matemática (BORBA; SCUCUGLIA;
GADANIDIS, 2014). Até as TVs que eram apenas um meio de difusão,
passaram a também servir de canal de publicidade de vídeos produ-
zidos pela audiência.
Esse movimento é recente em um sentido, e por outro já se dis-
cute a questão visual há muito tempo. Teixeira (1963) já relatava a
força que o cinema poderia ter na educação devido ao seu poder
de síntese e imagético. Moran (1995) trouxe contribuições relevantes
para se pensar sobre o uso de vídeos em sala de aula, apontando as-
pectos metodológicos do que seria um bom e mau uso, além de nos
alertar sobre as potencialidades do vídeo. Dentre elas, inferir grande
quantidade de informação em pouco tempo e propiciar outras reali-
dades para o aluno, no que se refere a fatos históricos com conflitos
e vestimentas da época.
Embora essas pesquisas relatem possibilidades do uso de vídeo
para a educação, as mesmas não trabalharam com implicações dire-
tas no ensino. Pesquisas como as de Pimenta (2009), Rocato (2009) e
Santagata e Guarino (2010) trabalham com a formação de professo-
res, enquanto Maeda (2009) e Silva (2011) possuem pesquisas com
interação direta em sala de aula.
Após esse levantamento, notamos que não havia pesquisas que
relacionassem o uso de vídeos com os trabalhos de modelagem ma-
temática. A partir disso, estabelecemos algumas ideias iniciais para
essa primeira aplicação em sala de aula e verificamos a maneira com
que os alunos se utilizaram dessa mídia, discutindo os possíveis pa-
péis dos vídeos nos trabalhos de modelagem matemática.
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 201
Experiências Pedagógicas Exitosas
3. Ideias para auxiliar os alunos na produção de vídeos
Para desenvolver os trabalhos de modelagem matemática com
vídeos, ofertamos, primeiramente, um curso temático para que os
alunos pudessem aprender técnicas relevantes como: baixar um ví-
deo da internet, baixar um áudio da internet, editar um vídeo por
meio de softwares que não necessitam de internet, editar um vídeo
por meio de plataformas de edição online, colocar legenda, efeitos e
a enviar os vídeos para o YouTube. Ideias envolvendo temáticas como
foco da filmagem, enredo e roteiro, também foram discutidas nos
encontros do curso temático. Entendemos que é importante que o
leitor-professor entenda que não precisa ser um especialista ou ter
equipamentos caros para poder trabalhar com vídeos.
Vamos relatar brevemente alguns dos softwares e sites utiliza-
dos que podem ajudar os alunos a produzir vídeos, especificamos si-
tes que estão vinculados ao YouTube, por ser um dos ambientes mais
acessados atualmente, segundo pesquisas1. Para baixar vídeos do
YouTube, podemos utilizar sites como o BaixarTube2 e para baixar mú-
sicas, encontramos sites como o youtube-mp33. Para edição de vídeos
online temos o próprio site do YouTube4, que apresenta uma interface
de fácil manuseio, porém apresenta algumas limitações vinculadas a
direitos autorais de músicas, por exemplo. Para edições sem a necessi-
dade de internet e com fácil interface para edição, podemos utilizar o
Windows MovieMaker, presente nas máquinas com sistema operacio-
nal Windows. Os vídeos produzidos nestes trabalhos, utilizaram desde
câmeras semi-profissionais até a câmera do aparelho celular.
Eventuais dúvidas, por parte dos alunos, foram sanadas, presen-
cialmente no término das aulas ou virtualmente por e-mail. Julgamos
necessário esse acompanhamento com eventuais problemas, pois
esse ato pode motivar os alunos. Após esse curso temático, os alunos
produziram diferentes vídeos, que serão discutidos nesse artigo.
1
Disponível em <http://olhardigital.uol.com.br/noticia/os-20-sites-mais-acessados-do-mundo/32477>. Últi-
mo acesso em 29 mar. 2015.
2
Disponível em <http://www.baixartube.com.br/>. Último acesso em 29 mar. 2015.
3
Disponível em <http://www.youtube-mp3.org/pt>. Último acesso em 29 mar. 2015.
4
Disponível em <https://www.youtube.com/editor>. Último acesso em 29 mar. 2015.
202 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
4. As possibilidades do vídeo junto aos trabalhos de
modelagem matemática
Devido ao fato dos alunos poderem optar pela temática a ser
investigada ao longo do semestre, surgiram os seguintes temas: (a) A
importância da Matemática nos estudos Fitossociológicos; (b) Foto-
grafia; (c) Fractais; (d) Matemática e a Guerra; (e) Matemática e Músi-
ca; (f ) Neurociências; (g) Número de ouro; (h) Tempo.
Como a proposta de produção e/ou edição de vídeos não apre-
sentava restrições, emergiram diferentes tipos de usos de vídeos pe-
los alunos, os quais fizeram emergir as seguintes classificações: For-
ma de expressar; Ilustração/representação; Forma descontraída de
estudar; Fonte bibliográfica; Própria apresentação do seminário; En-
sinar/divulgar uma área de estudo; um meio de divulgação do tema;
discutir o tema; complementar a fala/ elemento disparador. Esses ví-
deos podem ser acessados no Canal GPIMEM5.
Dentre todas as classificações, vamos destacar o papel dos ví-
deos nas apresentações dos seminários e no fazer modelagem ma-
temática. No que se refere ao ganho qualitativo da mídia vídeo nas
apresentações, os alunos que escolheram o tema Fractais6, julgaram
que o vídeo foi fundamental para a explicação do tema. Vejamos
imagens desse vídeo:
5
Disponível em <https://www.youtube.com/user/gpimem1>. Último acesso em 29 mar. 2015.
6
Um fractal é um objeto geométrico que pode ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao
objeto original. Diz-se que os fractais têm infinitos detalhes, são geralmente autossimilares e independem
de escala. Em muitos casos um fractal pode ser gerado por um padrão repetido, tipicamente um processo
recorrente ou iterativo. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Fractal>. Último acesso em 01 abr. 2015.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=kkWXK4BZj7U
204 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
O processo de gerar infinitas partes semelhantes ao objeto
inicial, dificilmente seria explicada se os alunos a fizessem na lousa
durante a apresentação oral, portanto o vídeo ilustrou aspectos do
trabalho que dificilmente seriam mostrados por outras formas de
discurso. Outro grupo se apropriou do vídeo nos seminários: o grupo
Matemática e a Guerra produziu um vídeo de quinze minutos e, ao
invés de apresentar o seminário, reproduziu o vídeo que apresentava
o tema por meio de imagens, gravações e voz das integrantes do gru-
po. No grupo que escolheu o tema Matemática e Música, notamos
nas entrevistas que o vídeo foi capaz de substituir a busca usual de
um tema por meio de livros ou textos da internet, pois a principal
fonte bibliográfica do grupo consistiu em uma série de vídeos encon-
trados na internet.
Os vídeos unidos à internet estão modificando não só a busca
usual por informação nos trabalhos de modelagem matemática, mas
eles também estão interferindo na escolha do tema do trabalho. Isso
se mostrou com mais ênfase no grupo que trabalhou sobre “A impor-
tância da Matemática nos estudos Fitossociológicos”.
Na entrevista com o grupo, há fortes indícios que o intuito do
vídeo foi o de divulgar a área de estudo, que se fazia presente como
tema de iniciação científica de um dos integrantes do grupo. Os alu-
nos enfatizaram a repercussão que um vídeo pode ter se exposto pu-
blicamente em ambientes online.
Outro destaque desse vídeo consiste na modelagem matemá-
tica desenvolvida pelo grupo, pois os alunos mostraram como a ma-
r
temática pode ser utilizada para modelar estudos da botânica. Essa
área consiste no estudo de determinada comunidade vegetal, anali-
sando a distribuição de cada espécie presente na comunidade anali-
sada, para obter resultados que servem, por exemplo, como base na
orientação de programas de recuperação florestal. Vejamos imagens
do vídeo desenvolvido pelos alunos na figura 2:
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=RA5A5sILr0s
5. Considerações Finais
Ao longo desse artigo, apresentamos ideias e materiais para se
trabalhar com a produção de vídeos em sala de aula. Elencamos as
206 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
possibilidades que os vídeos digitais proporcionaram nos trabalhos
de modelagem matemática, tais como ganho visual, pesquisa biblio-
gráfica, escolha de um tema com a finalidade de divulgação, dentre
outros.
Esse primeiro contato da junção de modelagem matemática
com vídeos nos forneceu indícios positivos, porém ao mesmo tempo
nos apontou aspectos que devemos aprimorar, como a maneira de
avaliação desses trabalhos que consistem em uma versão final escri-
ta, apresentação de seminário e vídeo final entregue. Essa reflexão
remete inquietações como: Quais elementos devemos analisar nos
vídeos entregues? Como avaliar essas produções de vídeos? Qual a
porcentagem, na média da disciplina, de um trabalho como esse?
Embora a pesquisa de Santana e Sousa (2014) tenha outra
perspectiva da produção de vídeos, por parte de alunos, ela trouxe
elementos interessantes com relação à avaliação, que se pautou em
parâmetros como: pontualidade e assiduidade do grupo; qualidade
na produção e edição da videoaula; o vídeo estar dentro do limite
de tempo estipulado; organização e planejamento da apresentação;
fidelidade ao tema proposto; criatividade; apresentação clara e obje-
tiva; e domínio do conteúdo. Seriam esses, indícios iniciais para que
criemos nossos próprios critérios?
Sem dúvidas o avanço das tecnologias está modificando nos-
sos alunos, a sala de aula e a própria noção de ser humano. Nos dias
atuais produzir um vídeo não se torna uma tarefa tão difícil, pois os
alunos possuem celulares inteligentes capazes de realizar filmagens
e até mesmo edições de vídeos. Com a evolução da internet, os alu-
nos podem criar materiais para serem divulgados fora da sala de aula,
para seus amigos e familiares.
Atualmente, vivenciamos muitos atos coletivos devido ao com-
partilhamento de ideias em redes sociais tais como o Facebook,k as-
sim como celebridades momentâneas devido ao compartilhamento
de vídeos na internet. Será que não podemos aproveitar essa “força”
de compartilhamento da internet unida a redes sociais, para produ-
zirmos vídeos que desenvolvem temas, pertinentes a sociedade, de
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 207
Experiências Pedagógicas Exitosas
modelagem matemática? Poderíamos pensar em estudos relaciona-
dos a temas locais como: reflorestamento, poluição, desperdício de
recursos naturais, dentre outros.
Outro indício positivo da produção de vídeos se refere ao fato
de “movimentar” os alunos. Alguns alunos comentaram o fato deles
mesmos serem atores e produtores dos vídeos, fator que desperta
interesse por parte de alguns. Realçamos que as atividades aqui de-
senvolvidas se realizaram na Universidade, mas com ênfase em con-
teúdo que poderia ser trabalhados no Ensino Médio.
Com a evolução das tecnologias e da internet, não sabemos ao
certo o rumo da sala de aula, mas certamente as aulas tradicionais
deverão ser repensadas, assim como alguns problemas em que po-
demos facilmente encontrar as resoluções na internet. Tendo essas
ideias em mente, podemos nos questionar sobre: Qual o futuro das
aulas de Matemática? Será a modelagem matemática uma alterna-
tiva? Será a produção de vídeos capaz de motivar os alunos? Quais
serão as transformações que os celulares inteligentes estão trazendo
para a sala de aula?
208 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
6. Referências
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MALHEIROS, A. P. S. Educação Matemática Online: a elaboração de proje-
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Matemática) –Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Rio
Claro, 2008.
210 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
CAPÍTULO 12
1. Introdução
Apesar da dificuldade em firmar-se como Ciência, a Pedagogia
tem definido cada vez mais sua identidade por meio da produção
de saberes característicos e exclusivos de sua área. No entanto, re-
conhecemos que precisamos avançar, principalmente, no que con-
cerne a qualidade dos cursos que formarão pedagogos, e para isso é
necessário investir em pesquisas e políticas de formação que visem a
melhoria destes cursos.
Sabemos que o pedagogo precisa de uma formação sólida, pois
terá sobre sua responsabilidade, basicamente, o ensino de diversas áre-
as do conhecimento – Português, Matemática, História, Geografia, Ciên-
cias, além de diferentes atribuições na área da educação como ser coor-
denador pedagógico, gestor escolar, orientador, dentre outras funções.
Porém, mesmo sabendo desta realidade, os estudantes de Pedagogia,
em geral, não se dão conta de que também serão professores de Mate-
mática, mesmo que em nível diferente dos licenciados em Matemática.
Para Silva e Charlot (2010) a formação de professores para atu-
ar na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 211
Experiências Pedagógicas Exitosas
é historicamente deficitária. O autor destaca que a formação desses
professores anda, de forma irregressível, para o nível universitário e
que esse caminho é lento, muito lento. Logo, vem a pergunta funda-
mental: “por que, ao longo da história, a universidade não assumiu a
formação dos professores de nível primário e, ainda hoje, não parece
muito interessada por ela?” (SILVA; CHARLOT, 2010, p. 48).
Um dos fatores que colaboram para essa deficiência é a quali-
dade dos profissionais que são lançados às escolas frequentemente,
assim, estudar os processos de ensinar e aprender Matemática em
contextos escolares, no âmbito da formação docente do curso de Pe-
dagogia da Faculdade de Educação (FACED) da Universidade Federal
do Ceará (UFC) sempre nos instigou a estudos mais aprofundados.
Nesse universo, a aquisição do Sistema de Numeração da parte
dos alunos da Pedagogia, tanto no que concerne aos aspectos teó-
ricos como práticos, no ensino da Matemática, provocou-nos e cen-
tralizou inquietações que foram se configurando como objeto desta
pesquisa. Desse modo, buscamos refletir e compreender no contexto
da monitoria o Sistema de Numeração Decimal e a formação docente.
O objeto de estudo se desenhou mais claramente a partir da
participação na disciplina ainda como aluna e logo após como mo-
nitora. As dificuldades e resistências encontradas pela maioria dos
alunos, referente ao estudo dos sistemas de numeração nos chamava
atenção por se tratar de um assunto considerado “simples”, todavia,
complexo.
Após termos cursado a disciplina, sentido e vivido as dificuldades
de entender o conteúdo, fomos agora reviver por meio da monitoria da
disciplina, nos semestres 2015.1 e 2015.2, o desempenho dos alunos,
dando todo o suporte, observando os sentimentos, crenças e angús-
tias daqueles estudantes. Sabíamos que era complicado ver os assun-
tos necessários para a formação docente em uma disciplina de 96h/a.
A proposta didática da professora responsável pela disciplina
é trabalhar as teorias aliadas à prática, a partir do uso de jogos,
situações-problema, alinhando sempre as atividades à importância
212 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
de se trabalhar a partir do concreto com as crianças, colocando a Ma-
temática como algo prazeroso e próxima de sua realidade. A profes-
sora utilizava a metodologia de ensino Sequência Fedathi (SF) como
principal eixo de fundamentação.
Durante as observações na monitoria, surgiu um questiona-
mento que resolvemos investigar com mais afinco: quais os entraves
entre a reconstrução de conceitos basilares como é o caso do Sistema
de Numeração Decimal (SND), e os alunos matriculados na disciplina
Ensino de Matemática? Sendo assim delineamos como objetivo geral
deste estudo promover reflexões sobre as dificuldades na aquisição
do conteúdo Sistema de Numeração Decimal pelos alunos da disci-
plina Ensino de Matemática do curso de Pedagogia da Faculdade de
Educação da Universidade Federal do Ceará- FACED/UFC.
Desse modo, durante o semestre 2016.1, a pesquisa se desen-
volveu na disciplina Ensino de Matemática no curso de Pedagogia
da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará – UFC,
constituída por 27 alunos matriculados, monitores, alunos da pós-
graduação e a professora.
A metodologia utilizada na pesquisa consistiu, inicialmente, em
observações desde o início do semestre 2016.1. Nesse período de
observação fizemos anotações em um diário de bordo em que regis-
tramos as principais discussões que marcavam as aulas e os comen-
tários mais relevantes dos alunos. Este trabalho de cunho qualitativo,
tem natureza exploratória e está delineado como estudo de caso.
Para coletar os dados da pesquisa fizemos uso de dois questionários
denominados inicial e final, com perguntas abertas, porque é um ins-
trumento que nos permite investigações mais profundas e precisas.
(MARCONI; LAKATOS, 2013)
A seguir discorremos acerca do Sistema de Numeração Decimal
e sua importância para a formação Matemática do pedagogo.
214 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
problemas lhe for exigido somente a regra, essa
atividade pode torna-se automática com ênfase
na repetição e não na compreensão. (SANTOS,
2007, p.39)
218 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
• É multiplicativo, visto que o valor do algarismo é multiplica-
do pelo valor da posição ocupada (ex.: 35= 3x10+5x1);
• É posicional, ou seja, um mesmo símbolo pode representar
valores diferentes dependendo de sua posição;
• Possui um símbolo para representar ausência de quantidade,
o zero.
Vale ressaltar que o zero foi o último algarismo a ser criado, ape-
nas algumas civilizações como os Maias e Hindus já possuíam a ideia
de representar a ausência de quantidade utilizando um símbolo.
Essas características fazem de nosso sistema de numeração o
mais engenhoso e prático, de fácil utilização no dia a dia, acessível
a todos e não apenas aos “calculistas” como já foi um dia. Para Ifrah
(1995)
[...] é fácil demonstrar a incontestável superio-
ridade de nossa numeração atual que constitui
um dos fundamentos do instrumental intelec-
tual do homem moderno: por meio de um nú-
mero muito reduzido de algarismos de base, ele
permite, sem nenhum artifício, uma representa-
ção simples e perfeitamente racional de qual-
quer número, por maior que seja. (IFRAH, 1995,
p. 676)
222 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
em sua escolarização. “Oito mais dois é 10. Sobe um. Um mais um é
dois, O resultado é 20”.
A professora aproveitou este momento para desmistificar essa
convenção errônea que ainda se ensina nas escolas. Pegou as ca-
racterísticas do SND que estavam expostos ao lado e mostrou que
a cada 10 unidades de uma ordem realizamos uma troca para uma
ordem imediatamente superior. Mostrou que isso acontecia porque
o nosso sistema tem base 10, ou seja, a cada 10 unidades na primeira
ordem, forma-se um agrupamento de segunda ordem, e assim quan-
do reagrupado se forma outra ordem superior, e assim por diante.
Quando o resultado de uma soma é, por exemplo, 10, os alunos
costumam associar que ficou o zero do dez e foi o 1 do dez, (como se
“partisse” o 10 ao meio), mas na verdade nada ficou, quando a soma
dá dez, o que acontece é um agrupamento, e o zero que fica repre-
senta a ausência de unidades naquela ordem. Também vale ressaltar
que alguns pensam que nesse caso não existem mais unidades, mas
o que acontece é que em 1 dezena temos 10 unidades, portanto, ain-
da temos unidades, apenas dessa vez, agrupadas em outra ordem.
Desse modo, o termo sobe um ou vai um se trata de um agru-
pamento de 10 unidades que precisa estar em uma ordem superior.
Assim também acontece com o termo pedir emprestado, na verdade
o que acontece é um desagrupamento.
Após essa discussão, a professora achou importante frisar sobre
a revolução que foi a invenção do zero, pois até antes de sua existên-
cia, os povos não sabiam como diferenciar na escrita, por exemplo,
25 de 205 com tanta simplicidade. Explicou também que o zero tra-
tava-se da ausência de quantidade na ordem e não de vazio. Existem
as unidades, só que estão reagrupadas em outras ordens.
Logo em seguida, a professora pediu aos monitores que distri-
buíssem cubinhos extraídos do material dourado em quantidades
variadas entre os alunos da turma e perguntou quantos cubinhos
havia sobre a mesa, só olhando, sem contar, fazendo estimativas, e
rapidamente responderam as quantidades.
224 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
Depois de agruparem seus cubinhos de diferentes formas, a
professora questionou qual a base utilizada por cada um e surgiram
agrupamentos de base 2,3,4,5, etc. Lembramos que a base de um sis-
tema se define pelo número de elementos que o compõe, ou seja,
pela quantidade de elemento que agrupamos e reagrupamos, como
já citado nas características do SND no subtópico 3.3.
Logo após a identificação das bases entre os alunos, alguns
deles foram convidados para irem até a lousa e exemplificar no QVL
os agrupamentos feitos por eles. Ao se depararem com o QVL e uma
base que não é decimal, as dificuldades logo foram surgindo. Os alu-
nos não haviam compreendido como aconteciam as trocas de uma
ordem para a outra, ou seja, o conceito construído com a base 10 não
se estendia às demais bases.
Desse modo, foi constatado que a turma não possuía o conhe-
cimento necessário para a compreensão do sistema de numeração,
fazendo uso apenas do ato mecânico memorizado durante sua vida
escolar básica. Durante a realização da atividade na lousa a professo-
ra aproveitou para ir tirando dúvidas e exemplificando outras bases,
principalmente aquelas que exigem trocas rápidas e que confundem
mais os alunos, como a base 2 (binária).
Diante das dificuldades encontradas na primeira aula, a profes-
sora estendeu mais um pouco as aulas que compreendiam o SND,
sabendo que é um assunto que o pedagogo precisa compreender e
se apropriar, pois o tema se faz presente desde os anos iniciais do En-
sino Fundamental e seus conceitos servirão de base para conteúdos
mais elaborados.
226 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
rar este sistema são os mesmos do SND, ou seja, a aluna conseguiu
generalizar o conceito, demonstrando a compreensão do assunto.
Caros colegas,
234 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
“Basicamente os números decimais são aqueles
que possuem vírgulas em sua estrutura e são
originados de uma fração, podendo também
voltar a elas colando a base 10,100,100, etc, de-
pendendo da posição da vírgula”. (ALUNO 2)
“Sei que é usado quando temos que usar núme-
ros fracionários. É comumente usado para re-
presentar o sistema monetário, sendo o número
inteiro seguido de vírgula e o número decimal”.
(ALUNO 3)
“Até onde eu sei é que sistema de numeração
decimal é formado pelos números que possuem
vírgula, ou seja, os que mostram suas casas deci-
mais”. (ALUNO 6)
238 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
A segunda pergunta do questionário final buscou saber quais
eram as considerações dos alunos após as aulas de SND, assim, 58%
dos investigados disseram se tratar de um assunto complexo por se
tratar de um assunto que não dominam como deveriam. Podemos
explicitar esse termo “complexo” com as afirmativas abaixo:
“Que é mais difícil do que imaginei que era”.
(ALUNO 3)
“Que é um pouco complicado de se compre-
ender o assunto, mas que depois fica mais fácil
tanto de entender como de explicar”. (ALUNO 9)
240 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
5. Considerações finais
Depois de completar todo o percurso do estudo monográfico,
cabe agora fazer uma tessitura sobre os achados da pesquisa buscan-
do um paralelo com que foi estabelecido como objetivo.
Partimos do objetivo primeiro que é promover reflexões sobre
as dificuldades na aquisição do conteúdo SND pelos alunos da disci-
plina Ensino de Matemática do curso de Pedagogia da FACED/UFC
e para isso precisamos discutir sobre o que envolve esse processo
de aquisição. Podemos afirmar que os resultados encontrados res-
pondem a nossa pergunta de pesquisa, pois foi possível identificar
diversos elementos que servem de obstáculo para a reconstrução de
conceitos matemáticos.
Inicialmente, levantamos um importante debate sobre a forma-
ção de professores, principalmente, do pedagogo que será o profes-
sor de Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Sendo
que este ainda possui uma formação fragilizada devido a uma série
de fatores como, carga horária reduzida para contemplar o que é co-
locada pela ementa, a dificuldade dos alunos em relação aos conte-
údos matemáticos, dentre outros. Discutimos ainda sobre os docu-
mentos que norteiam e regem a formação de professores como os
PCNM (1997) que próximo ano fará 20 anos que está vigente e pouco
se vê na prática as concepções trazidas por ele. Desse modo, eviden-
cia-se a lentidão nos processos de mudança dentro da Educação.
Quanto ao Sistema de Numeração é preciso que os futuros pe-
dagogos rompam com a ideia equivocada de que a Matemática é
externa a sua prática, seu cotidiano. Na discussão realizada no capí-
tulo 3, vimos que é um conteúdo que está presente o tempo todo em
nossas vidas, seja no trabalho, em casa e principalmente na escola,
espaço genuíno de atuação do pedagogo. Sendo assim, precisamos
refletir mais sobre a relação do pedagogo com este conteúdo, pois
como professor o conhecimento sobre o assunto não pode se dá de
modo superficial ou mesmo sem as bases conceituais. Precisamos
desconstruir o pensamento de que o pedagogo não sabe dar aula de
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 241
Experiências Pedagógicas Exitosas
Matemática, mas para isso deverá acontecer um real debruçamento
sobre os fundamentos que dão consistência ao ensino.
Os resultados encontrados neste estudo foram para além dos es-
perados. Achar as respostas pelas que nos levaram a iniciar a pesquisa,
mostrou-nos quais as barreiras que podem influir no aprendizado, conse-
quentemente na formação dos pedagogos para o ensino de Matemática.
Depois de analisarmos as respostas dos questionários, reconhe-
cemos a necessidade e importância de se trabalhar os conhecimentos
prévios dos alunos, pois do mesmo modo que colaboram com o de-
bate também podem ser um obstáculo para a apropriação de novos
saberes, pois muitas vezes os estudantes não se permitem dialogar
com novos paradigmas.
Identificamos também que a dificuldade na compreensão dos
conteúdos são reflexos de uma formação escolar básica sem bases con-
ceituais e de má qualidade no ensino ofertado, pois a defasagem na
apreensão de conteúdos considerados “básicos” como é o SND foi con-
siderada como algo difícil. A resistência em reconstruir esses conceitos
é, sem dúvida, considerada um dos entraves para a formação docente.
Destacamos ainda as lacunas observadas em relação ao com-
prometimento dos alunos com sua própria formação, pois como já
constatamos por meio do questionário inicial, muitos alunos sequer
se apropriaram dos textos que subsidiam as aulas, construindo mais
um obstáculo para um aprendizado eficaz.
É necessário que os alunos reflitam que há um papel a se
cumprir enquanto aluno e desconstruir a ideia que o processo de
aprendizagem depende somente do professor e das condições da
disciplina. Outro aspecto que constatamos com esta pesquisa foi
o problema com a carga horária reduzida da disciplina Ensino de
Matemática. Com 96h/a disponíveis para contemplar uma gama de
conteúdos e metodologias, as aulas aconteciam de forma aligeirada
para que os alunos não saíssem da disciplina sem ao menos saber
quais os conhecimentos se fazem necessários para que ela seja um
bom professor de Matemática na figura do pedagogo.
A formação do pedagogo para o ensino de Matemática deve es-
242 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
tar voltada para a qualidade, a nossa educação básica clama por pro-
fessores capacitados, e para isso é preciso que o docente se debruce
sobre os estudos dos conteúdos, não basta dominar as metodologias
sem se apropriar das bases conceituais dos assuntos.
A partir dos achados da pesquisa vimos que o assunto preci-
sa ser melhor estudado, em um nível de aprofundamento maior na
Pós-graduação, pois durante a investigação encontramos situações
que poderiam ser melhor exploradas, por exemplo, investigar o que
levou os alunos a confundir Sistema de Numeração Decimal com Nú-
meros Decimais. Será mesmo somente pela nomenclatura? Por que
os alunos fizeram essa relação? Faz-se necessário pesquisar como co-
laborar com a superação das dificuldades encontradas e quais os ca-
minhos para esta melhoria. Então há uma série de questionamentos
que surgiram ao longo do estudo que merecem uma atenção maior
em nível mais aprofundado. O problema pedagogo X Matemática
parece ainda estar longe de ser superado e a Educação Básica já não
se sustenta com uma formação tão superficial. Sabendo da relevân-
cia e da seriedade das investigações desta pesquisa, pretendemos
continuar estes estudos a fim de explorar e ampliar os conhecimen-
tos sobre os entraves que dificultam a compreensão das bases con-
ceituais dentro do Ensino de Matemática.
Este estudo, além de cumprir com seus objetivos poderá ser um
documento analisado tanto pela professora da disciplina quanto pela
coordenação do curso de Pedagogia em que fizemos a pesquisa, pois
os resultados obtidos trazem uma reflexão sobre alguns pontos que
merecem atenção. A professora, assumindo uma postura reflexiva de
suas ações, poderá analisar quais as dificuldades encontradas pelos
alunos diante do conteúdo Sistema de Numeração Decimal e assim
buscar formas variadas de abordar o assunto, embora cada turma
seja diferente, em geral é um tema que traz muitas resistências por
estar além do que a maioria imagina.
A coordenação, com o intuito de melhorar a qualidade da institui-
ção, poderá se debruçar sobre a discussão em relação à carga horária
da disciplina e poderá acompanhar as necessidades tanto dos alunos
quanto da professora que precisa aligeirar suas aulas devido ao curto
A educação Matemática e a Educação de Jovens e Adultos: 243
Experiências Pedagógicas Exitosas
tempo para contemplar o programa da disciplina Ensino de Matemá-
tica. Os alunos, ao fazer a leitura deste estudo poderão refletir sobre
seu papel dentro da disciplina, assumindo uma postura mais compro-
metida com sua formação, principalmente naquelas disciplinas que
possuem mais lacunas, como é o caso da formação Matemática básica.
Sendo assim, a pesquisa contemplou os diferentes sujeitos en-
volvidos no contexto formativo. Ainda se faz necessário discutir a
formação inicial do pedagogo para o ensino de Matemática, pois o
que ainda temos são professores com uma educação básica defasa- _
da, passando pela academia sem ter a oportunidade de se qualificar
e cristalizando conhecimentos e práticas equivocadas.
Apesar das dificuldades dos alunos encontradas dentro das au-
las sobre SND, tivemos a certeza que os estudantes saíram daquelas _
aulas com um novo conhecimento sobre o real sentido de estudar-
mos SND, pois só é possível reconstruir saberes em cima daquilo que
questionamos e nos propomos a descobrir o novo, isto ficou evidente
quando os alunos conseguiram superar a Carta Caitité e seus desafios.
Enquanto as dificuldades com a carga horária ainda não são su- _
peradas, alternativas devem ser buscadas de modo a contribuir com j
aprendizagem Matemática, principalmente sobre o SND, e para isso _
resgatamos a figura do monitor como sujeito participante desse pro-
cesso, pois embora não domine todos os saberes que compreendem
a disciplina, ele tem como função colaborar com o ensino do profes-
sor e com o aprendizado dos alunos. Desse modo, faz-se necessário
uma organização de seus horários para que além da sala de aula, os
monitores possam estar disponíveis para se reunir em outro espaço
com os alunos que sentem a necessidade de aprimorar os conheci-
mentos sobre determinado assunto. Observar quais os conteúdos
que os alunos sentem mais dificuldades e planejem um momento de
estudos junto com os alunos e assim possam sanar dúvidas. Ressal-
tamos que as dúvidas que não forem sanadas pelos monitores, que
já possuem uma certa experiência com os conteúdos e as metodo-
logias da disciplina, os alunos deverão recorrer a professora que cer-
tamente irá contribuir para que as dúvidas sejam esclarecidas. São
diversas as alternativas que os monitores podem dispor aos alunos
a fim de contribuir com a superação de dificuldades que irão surgir.
244 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
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Acesso em: 11 fev. 2016.
246 Francisco Herbert Lima Vasconcelos / Maria José Costa dos Santos /
Fernanda Cíntia Costa Matos / Alles Lopes de Aquino
Posfácio
É com muita honra e gratidão que recebemos o convite para
posfaciar este livro. Apresentamo-lo ao leitor de forma a contribuir
com os pesquisadores e apreciadores da Educação Matemática e da
Educação de Jovens e Adultos (EJA), bem como, profissionais da edu-
cação que busquem maior aprofundamento nesses dois campos do
conhecimento a partir de múltiplas experiências formativas.
Sua leitura, produto de tantas pesquisas e reflexões dos profes-
sores/tutores que fizeram parte dos cursos de Educação Matemáti-
ca e Educação de Jovens e Adultos que ocorreram durante os anos
de 2013 e 2014, consistiu em um trabalho voltado para a formação
continuada de professores das diversas redes de ensino público do
Estado do Ceará, contemplando, dentre outros aspectos, os desafios,
as certezas e os embates que envolvem a ação docente.
Desta forma, esta obra apresenta sugestões construtivas fruto
da partilha de várias experiências, e, portanto, uma importante con-
tribuição para os estudos relacionados a formação continuada de
professores.