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Objetivo:
Mostrar como os mercados operam, desenvolvem-se e como são afetados por políticas de
governo e por condições econômicas globais a partir do fim da Embrafilme (1990).
O desenvolvimento do setor no Estado e no país enfrenta uma série de problemas que lhe são
específicos. Ainda que muitos deles sejam comuns a outras economias contemporâneas vamos
aprofundar para entender as estratégias comerciais dos players privados e de como a
compreensão dessas práticas é um requisito essencial para a formulação de políticas públicas
para o setor.
Uma análise das lutas internas no campo cinematográfico e seu constante diálogo com o
Estado para elaboração de uma política para o setor buscando respostas sobre quais formas
devem ser adotadas pelo governo brasileiro para proteger e fomentar a produção
cinematográfica no país partindo da análise dos desmontes das políticas culturais do enterro
da Embrafilme e da perda do mecanismo de proteção frente ao cinema estrangeiro.
A análise apresentada, portanto não é sobre os filmes da retomada, ou seja, não se trata de
uma análise fílmica ou estética embora alguns filmes tenham sido observados mais
atentamente, mas sim uma análise das lutas internas no campo e seu constante diálogo com o
Estado. Observar os ciclos de produção no Brasil e também observar as relações entre
cineastas e Estado brasileiro para tentar fazer com que o cinema se torna uma atividade
profissional se não altamente lucrativa ao menos viável.
É caracterizado pelo fim do ciclo da Embrafilme que coincide com questionamento sobre a
possibilidade do cinema como atividade autossustentável no Brasil e a relação de dependência
do mesmo em relação ao estado o neoliberalismo do governo. Collor que concebeu a cultura e
o cinema como problemas de mercado, motivou as reações de campo cinematográfico e
revisões dentro do próprio Estado iniciando discussões que levariam a implantação de uma
política cinematográfica baseada na renúncia fiscal.
A Embrafilme foi criada e 1969 e acabou em 1990 no governo de Fernando Collor. O governo
do Collor tinha uma mentalidade empresarial tratando cinema com produto de
entretenimento o que precisaria ser autossustentável.
O Secretário de Cultura Ipojuca Pontes no início de 1991 trouxe de volta a cota de tela para o
cinema nacional, 60 dias de exibição obrigatória (metade da cota que vigorou durante a
década anterior e obrigatoriedade 10% dos acervos das videolocadoras ser composta por
filmes brasileiros), mas essas medidas protecionistas terminaram em 31 de dezembro do
mesmo ano quando o cinema deveria se inserir no Livre Mercado.
Preocupado com alta rejeição dos meios culturais e intelectuais e já antevendo a queda de
aceitação popular graças ao fiasco do plano econômico o presidente Collor alterou os quadros
da Secretaria de Cultura substituindo os diretores em diversos institutos incluindo a Biblioteca
Nacional.
O grande problema encontrado foi que a lei Sarney havia sofrido muitas denúncias de
irregularidades na utilização do dinheiro público o que justificou sua extinção no dia 9 de
agosto de 1991. Foi divulgado pela imprensa o programa nacional de apoio à cultura Pronac
que ficou conhecido como Lei Rouanet Lei Nº 8313 só aprovado pelo Senado e pelo Congresso
Nacional em dezembro do mesmo ano.
Segundo o pacote de medidas propostas por Rouanet os bens culturais poderiam ser
financiados de três maneiras:
A Lei Rouanet envolve, portanto três áreas: o patrocínio direto do Estado, pelo intermédio do
Fundo Nacional de Cultura, à venda de cotas de patrocínios para financiar espetáculos
publicações e equipamentos e o patrocínio direto dedutível do Imposto de Renda através do
incentivo à projetos culturais.
A principal diferença entre a lei Rouanet e a sua antecessora a lei Sarney é que os projetos tem
que ser previamente aprovados pelo governo federal por meio de uma avaliação de mérito da
viabilidade financeira e do orçamento do projeto, mas essa avaliação rigorosa torna o processo
de produção artística mais lento e burocrático sendo as principais críticas que a lei Rouanet
recebe por parte da Imprensa e dos produtores culturais.
A partir dessas discussões surgiu a proposta de uma nova legislação específica para o setor
cinematográfico em 8 de janeiro de 1992 chegou a Lei Nº 8401 que regulamentou a cota de
tela, definiu o que é um filme nacional e voltou a esboçar uma política cinematográfica.
A proposta do grupo de discussões era mais abrangente que a lei e envolveu a elaboração de
um programa nacional de cinema Procine que teve artigos vetados por Collor.
A lei teve uma grande conquista na volta da cota de tela e a facilitação das produções
internacionais e pode ser considerado um marco após o fim do ciclo Embrafilme já que
representou a volta de uma legislação específica para o setor
Em 20 de junho de 1993 foi promulgada a Lei Nº 8685 conhecida como Lei do Audiovisual
muito bem recebida pela imprensa e pela classe cinematográfica e o Prêmio Resgate do
Cinema Brasileiro. Foram selecionados os seguintes filmes na primeira edição do prêmio: O
Guarani de Norma Benguel, As Meninas de Emiliano Ribeiro, Tieta do Agreste de Cacá Diegues,
A Casa de Açúcar de Carlos Hugo Christensen, Menino Maluquinho - O Filme de Helvécio
ratton, O Mandarim de Júlio Bressane, Tiradentes de Oswaldo Caldeira, O Cego que Gritava Luz
de João Batista de Andrade, Adágio do Sol de Xavier de Oliveira, Paixão Perdida de Walter
Hugo Khouri, O Quinze José joffily, O Dia da Caça de Alberto Graça, Rota 66: a polícia que mata
de Lui Farias, Páscoa em Março: fome e Mortaço de Ana Carolina, O Caso Morel de Suzana
Amaral, Carlota Joaquina de Carla Camurati e Rock & Hudson de Otto Guerra.
O primeiro ano do governo do Fernando Henrique Cardoso foi tomado as seguintes medidas
na área cultural:
1- O orçamento do Ministério da Cultura foi ampliado com um acréscimo de uma verba
suplementar do Presidente da República.
O governo federal em outubro de 1995 criou uma linha de financiamento próprio para esse
setor através da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, além disso, apoiou e
patrocinou o Festival de Cinema de Gramado, o Festival de Brasília e o Rio Cine festival.
A partir de julho de 1997 foi permitido aos cineastas e produtores incluir no orçamento o valor
destinado a remuneração de empresas ou corretores responsáveis pela captação de recurso,
isso é empresas ou corretores que fossem intermediários entre os cineastas. O valor cobrado
por esses profissionais poderia chegar a 10% do orçamento total do filme. O que acabou
contribuindo para inflacionar ainda mais os custos dos filmes e lucros acumulados de projetos
por esse novo mercado
Em 1998 entra em jogo a Globo filmes. A priori não foi muito bem aceita pelos cineastas, pois
uma televisão do porte da Globo poderia monopolizar o mercado e fazer filmes usando seus
próprios atores e ter sucesso de público.
O período de maior vitalidade e produtividade do Cinema de Retomada foi entre 1995 e 1998
que corresponde ao primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso e
consolidou as leis e incentivos que geraram aumento de produção de filmes e iniciaram as
primeiras lutas internas do campo cinematográfico do período.
A partir de 1999 os principais objetivos que se colocaram foram: Apoio a produção comercial
do audiovisual brasileiro por meio de programas especiais e concursos públicos. Ampliação da
difusão do cinema brasileiro no país e no exterior e formação de público para o audiovisual
nacional em especial alguns programas como: Mais Cinema, através do Banco do Brasil e do
Sebrae que disponibilizou em crédito de 80 milhões para os anos de 1999 e 2000 a ser
utilizado na forma de empréstimo para produtor distribuidores e exibidores.
Foi criado também um programa de apoio à comercialização de filmes para auxiliar produtoras
e distribuidoras através de verbas destinadas para Marketing Nacional. Foram abertos
concursos público para novos talentos em curtas-metragens, documentários e longas-
metragens autorais cuja existência não é segurada pela dinâmica do mercado. Além disso, foi
instituída a bolsa virtuose para formação profissional. Continuou os acordos internacionais de
produção, divulgação e distribuição bem como o apoio a festivais, mostras e cursos por um
ano. Todo esse esforço de revitalização do cinema brasileiro foi uma tentativa de readquirir a
credibilidade junto aos empresários. Foi criado o Grande Prêmio Cinema Brasil.
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A partir de março de 2000 o governo federal começou a exigir que os filmes contratasse
empresas de auditoria para acompanhar a utilização do dinheiro captado e elaborar a
prestação de contas. Ainda assim a exigência de acompanhamento por uma empresa de
auditoria foi bem recebida pelos produtores, entretanto outro projeto apresentado pelo
Estado também em meados de 2000 causou um verdadeiro pânico no meio cinematográfico. O
Estado estava estudando estender as leis de incentivo as emissoras de televisão e rádio
difusão para que pudessem ter os mesmos benefícios dos produtores independentes, ou seja
empresas de comunicação que são concessões públicas poderiam utilizar o dinheiro do Estado
via incentivos fiscais para produzir cinema numa concorrência desleal com os produtores
independentes.
A proposta de liberar a utilização de recursos de renúncia fiscal para rede de televisão foi vista
pelos produtores como espécie de piada de mau gosto, pois se fosse implantada agravaria
ainda mais os problemas que esse modelo de produção vinha apresentando. O campo
cinematográfico estava polarizado entre os cineastas de grandes produções e os produtores de
filmes pequenos numa competição desigual pelos mesmos recursos no mercado. Com a
possível entrada das emissoras de televisão em especial da Rede Globo a tendência seria de
que as emissoras ficassem com a maior parte dos investimentos sobrando praticamente nada
os produtores mais alternativos
Uma outra questão que seria ainda mais grave: as emissoras são concessões públicas que não
pagam pela exibição de seu conteúdo no entanto teria o direito de receber patrocínios através
de dinheiro público ou sejam seriam duplamente beneficiadas pelo Estado. Além disso, a
televisão já estava plenamente estabelecida no país constituindo uma Indústria
autossustentável desde o final da década de 60 e portanto não necessitaria da utilização dos
benefícios fiscais ou de qualquer outro tipo de fomento.
Para o cineasta Rogério Sganzerla “houve um retrocesso na forma na construção dos filmes, na
estruturação. Eles se ressentem de uma espinha dorsal. A influência da televisão, a mídia
hegemônica é tão poderosa que, praticamente anula as outras expressões. A lei de mercado
transforma os diretores em meros diluidores de formas. Do ponto de vista da linguagem
criatividade e fixação do comportamento não vejo nada significativo nenhum tratamento
adequado ao humor brasileiro .”
Os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso como presidente do Brasil além de ser
caracterizado pela conquista da estabilidade econômica no campo cultural, carrega outra
marca de distinção o renascimento do cinema brasileiro.
Entre 1990 e 2002 o cinema brasileiro readquiriu o seu status e ganhou visibilidade. Mais de
200 longas-metragens foram produzidos e chegaram ao circuito exibidor. Muitas produções
alcançaram a marca de mais de um milhão de espectadores e vários filmes nacionais ganharam
o mundo sendo premiados ou concorrendo em festivais como os de Veneza e Cannes. Houve
também uma grande crise que gerou questionamentos e reposicionamentos no interior do
campo cinematográfico. Trouxe de volta o discurso político e combinou em ações mais efetivas
do Estado através da criação da ANCINE, com essa estabeleceu uma nova institucionalidade
para o cinema brasileiro coroando a política de mecenato oficial gerenciado pelo mercado.
Com a entrada em vigor da lei do audiovisual o Cinema da Retomada entrou em uma fase mais
produtiva. As novas condições de produção permitiram um aumento do número de filmes
exibidos e facilitou a realização de grandes produções. Foi nessa fase que o Cinema da
Retomada encontrou o público quando surgiram os primeiros sucessos como Carlota Joaquina,
O Quatrilho e Central do Brasil. Simultaneamente ganhou força o discurso da diversidade
como característica principal de cinema enquanto despontou outra característica da Retomada
que se vai se tornar mais forte na fase seguinte. O cinema brasileiro agora é globalizado e
internacional, mesmo partindo de questões regionais como o sertão ou a história do Brasil.
A partir de uma crise ocorrida entre o final de 1998 e início de 1999 o Cinema da Retomada
entrou em sua terceira fase caracterizada pela chegada da televisão na produção
cinematográfica com a criação da Globo filmes. Pela volta do discurso político no campo
cinematográfico nos Congressos de Cinema e pela internacionalização cada vez mais aparente
dos filmes, embora nessa ocasião tem ocorrido o retorno da temática popular. Nesse
momento foi discutida novamente a possibilidade de industrialização do cinema brasileiro
agora por meio da criação de uma Indústria audiovisual que mais uma vez não se realizou.
O cinema brasileiro não construiu uma cinematografia sólida, embora tenha produzido muitos
filmes. Não promoveu a circulação das obras, mas aumentou a variedade de formas. Revelou
novos talentos, mas não teve qualquer objetivo agregador que oferecesse caminhos comuns a
uma nova geração. Não delineou movimentos estéticos ao menos, não nos moldes que
permitiram uma condensação histórico-crítica, mas vestiu a máscara ideológica de
“retomada”. Não haverá, portanto um nome para esse cinema tampouco um rosto. Sem nome
e sem rosto.
A partir da inflação dos gastos e da presença ainda frágil no mercado armou-se uma barreira a
produção comercial em larga escala, baseada na ausência de uma estrutura eficiente de
distribuição e exibição que permite a recuperação dos gastos. Houve de todo modo uma maior
atenção da mídia e também um reencontro com certo público através de alguns sucessos. No
entanto nesses momentos iniciais e quase sempre a partir dali o gerenciamento do uso das leis
de incentivos orientou-se mais pela retomada midiática do que pela retomada dos horários
das salas de cinema.
A inexistência desta difusão (distribuição - exibição – divulgação) para a maior parte dos filmes
comprometeu a possibilidade de que a produção viesse a se pagar através de sua bilheteria -
sendo assim o cinema brasileiro abre a mão de participar do mercado de filmes de seu país.
(forçosamente é preciso notar, uma vez que não naufragaram todas ações em prol da
regulamentação do mercado e limite da importação de filmes de um só país. Este mercado
interno como é sabido há décadas é dominada por filmes norte-americanos e suas empresas
distribuidoras. Desde o fim da Embrafilme não tiveram concorrente a altura para cuidar dos
filmes nacionais como o que mantém essa predominância do cinema norte-americano no
circuito. Há uma certa ironia histórica e notar aqui a volta de um equívoco passado para o
cinema brasileiro ao criar a Embrafilme, O Estado brasileiro levou à falência um punhado de
pequenas empresas e distribuidoras nacionais - e assim, quando se fechou a Embrafilme, que
alguns anos antes fora uma distribuidora gigante de filmes, o mercado ficou inteiramente livre
para as majors. Dessa forma, incentivou-se a manutenção de uma produção cuja estrutura
privada de distribuição foi destruída por uma estrutura estatal que, mais à frente foi fechada.
Esse cinema brasileiro herdou quase nada das chanchadas, muito da Vera Cruz,
provavelmente nada das pornochanchadas e outros filmes típicos da sala de cinema dos
bairros menos nobres, e do Cinema Novo não muito mais do que um projeto Nacional Popular
já caduco. Aproximando-se da Vera Cruz no seu projeto de qualidade Internacional e do
Cinema Novo na sua ambição de dar rosto a um país, refutou-se desse último a pretensão de
contestar a elite social e a linguagem cinematográfica dominante. De fases anteriores refutou
um certo aspecto bufão. Não ouve espaço para Oscaritos ou comédias eróticas. Trata-se de um
cinema que se dá o respeito. Há uma perceptível continuidade com certo cinema proposto no
período da Embrafilme por um grupo de cinemanovistas - um cinema que unisse qualidade
técnica, representação cultural e capacidade comercial.
Busca ativa
Dicionário - 114 cineastas estreante após 1995 / revista eletrônica contracampo número 52
agosto setembro de 2003
www.contracampo.com.br
www.contracampo.com.br
https://pt.wikipedia.org/wiki/Congresso_Brasileiro_de_Cinema
Também vou passar por e-mail ou pelo WhatsApp uma tabela de filmes lançados no mercado
entre 1990 e 2002.
Também vou passar alguns arquivos que são propostas da lei Rouanet para financiamento de
bens culturais e do grupo executivo de desenvolvimento da indústria cinematográfica
dedicado as principais leis.
Fonte:
MARSON, Melina Izar. Cinema e Políticas de Estado da Embrafilme a Ancine. 1.ed. São Paulo:
Escrituras, 2009.
CAETANO, Daniel (org). Cinema Brasileiro 1995 – 2005 ´Ensaios sobre uma decad. Rio de
Janeiro: Azougue Editorial, 2005.