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Fabiana FREITAS2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS
Resumo
1. Introdução
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Trabalho apresentado no GP Telejornalismo do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento
componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
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Mestranda em Comunicação no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul – PPGCOM/UFRGS, e-mail: frrfreitas@hotmail.com
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British Broadcasting Corporation
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Mais detalhes sobre o vazamento ver no site do ICIJ. Acesso em 14/07/2016. Disponível em
https://panamapapers.icij.org/about.html.
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Isso vai de encontro ao que sugere Porcello (2015), ao propor que seja criada uma
metodologia específica para as análises de conteúdos telejornalísticos. Esse é o propósito
defendido pela Rede de Pesquisadores em Telejornalismo (TELEJOR), que vem propondo
olhares e visões que permitam uma análise metodológica mais precisa sobre os estudos em
telejornalismo por conta das narrativas em sua natureza audiovisual -- dinâmica e móvel.
Nesse cenário de intensa mutação, Duarte (2004) acredita “que cada avanço dos
meios técnicos provoca uma re-acomodação da gramática televisiva, que vem se
apropriando ao mesmo passo da gramática fílmica, videográfica ou multimídia, e vice-
versa, construindo textos cada vez mais híbridos”. A autora também crê que esses processos
de apropriação se refletem em mecanismos retóricos e que o texto televisivo está cada vez
mais híbrido.
Nessa combinação de saberes, trazemos a visão de Träsel (2014) sobre os objetivos
do chamado Jornalismo Guiado por Dados (JGD).
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Panamá Papers em números. Disponível em https://panamapapers.icij.org/blog/20160403-key-findings.html
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2. Análise de Cobertura
Este artigo propõe, portanto, o estudo das reportagens especiais sobre o caso
Panamá Papers da BBC e da Rede TV. Para tal, utilizaremos como metodologia o
Protocolo de Análise de Cobertura Jornalística proposto por Gislene Silva e Flávia Dourado
Maia6.
O método se destina, segundo Silva e Maia (2011), a “realizar uma primeira
varredura dos traços mais à superfície do produto jornalístico, partindo do pressuposto de
que o processo de produção não desaparece no produto, nele deixado suas marcas e
dinâmicas”.
Delimitaremos nossa verificação aos caminhos percorridos pelo jornalista durante a
construção da notícia, focando ao que é perceptível no produto que foi ao ar, sem entrar, por
ora, nas temáticas que competem aos estudos das rotinas de produção. Ao fazer esse
recorte, compartilhamos com as autoras do Protocolo o pensamento de que nem todos os
aspectos implicados no processo produtivo podem ser acessados através do produto.
Ao sistematizar a observação, nosso objetivo neste trabalho é verificar padrões e
listar recursos audiovisuais que ajudam a contar as estórias com base em documentos e
cruzamentos de informações em bancos de dados na TV. A perspectiva de que os editores
de TV se valem de estratégias para produzir sentidos é defendida por Cabral (2012), que
pesquisou as rotinas de produção com foco nos recursos gráficos.
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Apesar de o método ter sido apresentando numa análise referente ao jornalismo impresso, pode ser, segundo as autoras,
adaptável para a cobertura televisiva.
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Com essas orientações em mente, optamos por apontar como corpus duas
reportagens com duração de tempo similar, ambas com caráter de matéria especial e
transmitidas em cadeia nacional, tanto o Brasil quanto no Reino Unido.
A reportagem da Rede TV foi transmitida no dia 3 de abril de 2016, domingo, às
22h30, num programa especial chamado “Especial Panamá Papers”, com duração de 25
minutos e 51 segundos. Já no Reino Unido, a reportagem da BBC 8 foi exibida um dia
depois, na segunda-feira, em 4 de abril de 2016, dia da semana em que vai ao ar, na
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Partindo do conceito trabalhando por Traquina (2004)
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Vale grifar que os dois veículos destinaram espaços específicos em suas páginas oficiais na internet para reunir todos os
vídeos da cobertura especial sobre a investigação do Panamá Papers, que foi divulgado no mesmo dia em todo o mundo.
Através dos sites, percebe-se que a BBC divulgou no dia 3 de abril, domingo, as principais descobertas em dois vídeos
menores, que tem data de publicação um dia antes do programa Panorama ser exibido na íntegra. Analisamos, portanto,
que tais reportagens podem ser consideradas chamadas do programa em estilo documental a ser exibido um dia depois.
Considera-se, portanto, que as principais descobertas foram divulgadas na mesma data pelos dois veículos de
comunicação: no dia 3 de abril.
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Também grifamos que não foi possível acessar o programa Panorama através do site oficial da BBC por se tratar de
conteúdo restrito para a internet do Reino Unido, por isso tivemos acesso ao programa através do You Tube. Disponível
em: https://youtu.be/ADFaiKbQS7E
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“Tax Havens of the Rich and Powerful Exposed”
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Marcas de Apuração
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Marcas da Composição
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BBC: Paraísos fiscais dos ricos e dos poderosos revelados12, exibido em 4 de abril de
2016, Reino Unido
Marcas de Apuração
A reportagem é assinada pelo repórter Richard Bilton e inicia logo depois da vinheta
do programa Panorama, que não possui apresentador. O nome da reportagem aparece
escrita na tela e não faz menção, no off do repórter, para a expressão “Panamá Papers”. A
referência, entretanto, também aparece na tela, no canto inferior direito, em letras menores
com a hashtag “#panamapapers”. O texto informa que vazaram da empresa panamenha
Monssack Fonseca cerca de 11 milhões de documentos, referentes a empresas de 27 países.
O repórter diz a origem da informação: o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, que
teve acesso à papelada de quatro décadas de atuação da companhia. Tudo foi foi
compartilhado com cem organizações de mídia do mundo todo, através do Consórcio
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Incluimos essa categoria nesta adaptação do protocolo, que foi feito com base em textos impressos, por julgarmos que o
som é parte importante da reportagem televisiva.
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Tax Havens of the Rich and Powerful Exposed
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Marcas da Composição
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“The documents paint another picture”
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4. Tabela comparativa14
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As nomenclaturas da tabela abaixo foram consultadas em CABRAL (2012).
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5. Considerações finais
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nos bancos de dados e verificado pelos repórteres através de suas habilidades é transferida
aos textos e à própria narração.
Essa observação nos remete ao conceito de Dramaturgia do Telejornalismo,
proposto por Coutinho (2012), que aponta que o tom emocional é uma característica
presente nas narrativas, sendo esse um dos responsáveis pela aproximação do público com
o produto televisivo.
A partir dessa perspectiva trazida pela autora e com base em suas conclusões que apontam
para a existência de um conflito narrativo, personagens em ação e lições morais como marcas,
entendemos que as reportagens analisadas neste arquivo se enquadram nesse prisma, provocando
nossa curiosidade para pesquisar como o Jornalismo Guiado por Dados norteia a criação do conflito
narrativo na TV.
Assim, ao captar essa sinuosidade, propomos a ideia de que o uso de bancos de
dados em reportagens de TV vai além das mudanças técnicas da apuração e edição com
mais recursos computacionais, tendo influência também na modulação do tom das
reportagens e na formação de sentidos. Tais conclusões nos impulsionam, a partir de agora,
a olhar para as estratégias audiovisuais usadas para contar histórias com o uso de dados na
TV problematizando os ares de autoridade, verdade e autentificação acionados durante a
construção da notícia.
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Referências Bibliográficas
BBC. Tax Havens of the Rich and Powerful Exposed, edição de 4 de abril de 2016. Disponível
em http://www.bbc.com/news/world-35934836, em http://www.bbc.co.uk/programmes/b076vwwy
e edição completa com vinheta em https://youtu.be/ADFaiKbQS7E. Acesso em 11 de julho de 2016
LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica da entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro:
Record, 2001.
REDE TV. Especial Panamá Papers Investigação, edição de 3 de abril de 2016. Disponível em
http://www.redetv.uol.com.br/jornalismo/redetvnews/videos/panama-papers/confira-a-integra-da-
investigacao-especial-panama-papers. Acesso em 11 de julho de 2016.
PORCELLO, F. Desafio para a TV aos 65 anos no Brasil: metodologia de análise para pesquisar o
telejornalismo. In: VIZEU, A.; MELLO, E.; PORCELLO, F.; COUTINHO, I. (Orgs). Telejornal e
Praça Pública – 65 anos de Telejornalismo. Florianópolis: Insular, 2015.
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TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo, porque as notícias são como são. Florianópolis:
Insular, 2004.
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