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COMPARTILHAMENTO DE INFORMAÇÕES NA REDE SOCIAL CORPORATIVA DO SISTEMA FIEP NO YAMMER. View project
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RESUMO
Este artigo tem por objetivo discutir as aproximações entre a Teoria Ator-rede e a
metodologia Cartografia de Controvérsias para as pesquisas na área da Ciência da
Informação. Para a criação deste estudo foi utilizada a metodologia de pesquisa
bibliográfica, com o propósito de analisar as pesquisas e artigos produzidos que utilizam a
Teoria Ator-rede e a Cartografia de Controvérsias. Ao entender os pressupostos teóricos que
guiam a Teoria Ator-rede é possível verificar pontos importantes para as pesquisas na
Ciência da Informação, ainda mais em se tratando de estudos que buscam identificar as
relações entre a informação, as pessoas e os equipamentos tecnológicos na conformação
de fluxos que criam intrincadas redes de compartilhamento de informação. Nesta
aproximação entre Teoria Ator-rede e Ciência da Informação destaca-se o papel da
metodologia de pesquisa Cartografia de Controvérsias como um método fruto da aplicação
da Teoria Ator-rede para o estudo das formações das redes sociotécnicas.
ABSTRACT
This work aims to discuss the links between the Actor-Network Theory and Cartography of
Controversies methodology for research in Information Science. For the creation of this study
was used the bibliographical research methodology in order to analyse researchs and
articles that uses the Actor-Network Theory and the Cartography of Controversies. By
understanding the theoretical assumptions that guide the Actor-Network Theory is possible to
see important points to research in information science, especially about studies that seek to
identify the relationship between information, people and technological equipment at
formation of intricate information sharing networks. In this approach between Actor-Network
Theory and Information Science highlights the role of research methodology Cartography of
Controversies as a result of the application of actor-network theory to study the formation of
socio-technical networks.
1 Este artigo faz parte de dissertação de mestrado ainda em desenvolvimento intitulada Cartografia
de controvérsias: uma análise da mediação informacional no processo de organização em rede
das ocupações das escolas de São Paulo do Programa de Pós-graduação em Ciência da
Informação da Universidade Estadual de Londrina.
2 Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Ciência da Informação, Programa de Pós-
graduação em Ciência da Informação. Rodovia Celso Garcia Cid, Pr 445, Km 380. Campus
Universitário. Cx. Postal 10.011. CEP 86.057-970. Londrina – PR. Correspondência
para/Correspondence to: R. F. Lourenço. E-mail: <uel.ramon@gmail.com>.
ANT e Cartografia de Controvérsias em CI
1 INTRODUÇÃO
3 Em referência a aplicação do próprio Bruno Latour (2012) utilizaremos a sigla em inglês ANT, Actor-
network Theory, que de acordo com o autor descreve melhor o espírito da teoria proposta.
ANT e Cartografia de Controvérsias em CI
Fica ainda mais claro entender a proposição da ANT acerca do papel dos
agentes não-humanos quando se analisam as ações cotidianas, neste momento onde as
tecnologias ganham cada vez mais destaque. Atualmente o indivíduo vive envolto de
aparatos tecnológicos para realizar diversas ações, para se manter conectado com amigos
utiliza o smartphone e aplicativos de conversa em tempo real, para realizar uma reunião de
trabalho utiliza um computador e um software de videoconferência por streaming4, ou então
para encontrar o local onde vai se encontrar com outras pessoas utiliza o GPS pelo
computador de seu carro.
Estes são exemplos em que agentes não-humanos compõem uma
intrincada rede que, se fossem retirados possivelmente a inviabilizariam. Esta rede,
composta por humanos e não humanos, é agora chamada de rede sociotécnica (LATOUR,
2012), por reconhecer a igualdade de importância entre os agentes, independente de sua
natureza. Desta forma a Teoria Ator-rede contribui com uma nova visão ao reconhecer a
importância das novas tecnologias na construção das redes sociotécnicas.
Por reconhecer a importância de elementos não-humanos na formação
destas redes sociotécnicas, a ANT deixa de utilizar o termo ator para identificar o agente
nesta rede, propondo então a utilização do termo actante, originário do estudo da literatura
(LATOUR, 2012). Para a ANT, a natureza e as características dos actantes não é
determinante de sua importância na rede. O que define sua importância ou seu lugar na
rede é a ação empreendida pelos actantes e seu potencial de transformação da rede.
influências, modificando a rede por completo. Ela ocorre na medida em que o actante
interage com a ação/informação que chega a ele, transformando-a por meio de suas
próprias características, interesses ou crenças, entregando à rede algo diferente daquilo que
recebeu. Este processo pode ser entendido também como “a interpretação dada pelos
construtores de fatos aos seus interesses e aos das pessoas que eles alistam” (LATOUR,
2000, p. 178), lembrando que não são somente pessoas que realizam tal ação, mas também
elementos de naturezas diversas.
Por fim Law reforça o entendimento da tradução como um processo
central para o entendimento da ANT:
Assim “tradução” é um verbo que implica transformação e a possibilidade de
equivalência, a possibilidade que uma coisa (por exemplo, um ator) possa
representar outra (por exemplo, uma rede). Isto é o núcleo da abordagem
ator-rede: um interesse por como atores e organizações mobilizam,
justapõem e mantêm unidos os elementos que os constituem. (LAW, 2015,
p. 6).
passadas, acirrando as diferenças entre as gerações. Pedro (2008) destaca algumas destas
transformações abordando o desafio da CTS em analisar tal questão pelo viés da noção de
redes, destacando o potencial deste diálogo interdisciplinar:
[...] as transformações operadas pelas ciências e tecnologias, cuja presença
crescente nas mais diferentes esferas do conhecimento e da vida tem
propiciado novas formas de cognição, de interação, de ação social, de
ativismo político, de geração e difusão do conhecimento. Segundo uma
concepção de redes, ciência, tecnologia e sociedade interpenetram-se,
estabelecendo relações complexas e heterogêneas, possibilitando que se
coloquem em questão os determinismos que, muitas vezes, subjazem aos
estudos. (PEDRO, 2008, p. 1).
5 http://mappingcontroversies.net
ANT e Cartografia de Controvérsias em CI
dinâmico e polifônico arquivo de nossas ações, escolhas, interesses, hábitos, opiniões, etc”
(BRUNO, 2012, p. 684).
Com este vasto banco de dados disponibilizado pela web onde estão
gravados os comportamentos, as escolhas, os interesses e as opiniões dos atores verifica-
se que este é o campo perfeito para o desenvolvimento das funções descritas pelos autores
como sendo as principais ações que compõem a cartografia de controvérsias. Os autores
apresentados guardam grande similaridade ao descrever de forma geral tais funções, sendo
a captura, análise e visualização de dados de Marres (2015), ou o representar e analisar de
Pereira e Boechat (2014) ou mesmo o explorar e representar de Venturini (2010, 2012). Esta
aproximação entre as descrições demonstra que o método foi construído com bases firmes
e está sendo bastante difundido nos últimos anos pelos pesquisadores e instituições que o
utilizam. Cabe ressaltar que cada uma destas características pontuadas pelos autores é
composta por uma série de ações que serão melhor detalhadas mais a frente neste
trabalho.
A última característica compartilhada nas definições das autoras é a que
diz respeito a uma sucinta descrição acerca daquilo que será cartografado, a própria
controvérsia. A ênfase dada por Marres (2015) para as disputas sobre questões públicas
ressalta a característica que torna a controvérsia mapeável, sua publicização a um grande
número de pessoas. Já Pereira e Boechat (2014) ressaltam a importância dos rastros que
tornam as discussões das temáticas mapeáveis. Ambas são características das
controvérsias porém, para entender melhor como ela se configura e para saber que tipo de
controvérsia é mais relevante ao trabalho do cartógrafo é necessário conceituá-la mais
detalhadamente, juntamente com o conceito de Caixa-preta, a forma final de uma
controvérsia.
Venturini, ao destacar o papel da discordância traz uma definição muito clara sobre o que é
uma controvérsia:
[…] controvérsias são situações onde os atores discordam (ou melhor,
concordam em sua discordância). […] controvérsias começam quando
atores descobrem que não podem ignorar-se entre si e controvérsias
terminam quando atores elaboram um sólido compromisso de viver em
conjunto. Qualquer coisa entre estes dois extremos (o consenso frio do
desconhecimento recíproco e o consenso quente do acordo e da aliança)
pode ser chamado de controvérsia (VENTURINI, 2012, p.6).
um discurso.
Este interesse das pesquisas nos argumentos e falas dos actantes se dá
pois eles revelam processos sociais, ações realizadas, opiniões e posturas assumidas
perante a controvérsia, uma vez que a própria controvérsia funciona como um fórum híbrido
de conflitos e negociações (VENTURINI, 2012, p.6). Neste sentido o pesquisador tem
interesse em especial neste material, assim como destacam Pereira e Boechat (2014):
Na prática, o pesquisador que utiliza a TAR empenha-se na tarefa de
cartografar, no sentido de documentar não-hierarquicamente todas as
opiniões a respeito de um assunto e dar a cada uma delas um valor dentro
da rede, de acordo com seus padrões de conexão que são referências
instáveis e mutantes. […]. Trabalha-se no sentido de registrar as
comunicações dos actantes, e não filtrar; descrever, e não disciplinar.
(PEREIRA & BOECHAT, 2014, p. 559)
entre o micro e o macro é fundamental para a cartografia de controvérsias, uma vez que ela
materializa a figura do ator-rede que, se olhado de longe é um ponto singular, o ator, mas se
visto de perto se abre em uma nova rede com diversos nós. Por isso que a linguagem digital
contribui tanto para as pesquisas que utilizam do método, pois permite explorar os diversos
níveis do zoom da informação sobre as controvérsias, hora focando num actante específico,
hora analisando como os cosmos se movimentam durante a controvérsia.
Para ficar mais claro este caminho, Venturini estabeleceu 9 camadas deste
web-site, sendo cada camada uma ferramenta importante para o desvelar da controvérsia:
Glossário de termos não controversos; Repositório de documentação; Análise da literatura
científica; Análise dos conteúdos e opiniões publicados na imprensa nas mídias massivas;
Árvore de discordâncias (Mapear as posições contrárias ou ações de discordâncias); A
escala da controvérsia (os limites); Diagrama de atores-rede; Cronologia da disputa; Tabela
do cosmos.
O Glossário de termos não controversos é a primeira ferramenta
disponibilizada pela cartografia de controvérsias, onde o pesquisador deverá identificar os
termos e conceitos comuns na controvérsia e descrevê-los, de forma que leitores não
especialistas no tema possam compreender adequadamente. Dentre os termos deste
glossário podem entrar jargões especializados, palavras técnicas e até conceitos mais
complexos que podem ser explicados com maior facilidade utilizando-se do potencial
multimídia da web.
O Repositório de documentação é o conjunto total de documentos
angariado e produzido pela pesquisa, um local neste web-site onde os usuários possam
encontrar todos os passos realizados pelo pesquisador durante sua cartografia, entrevistas
em vídeo, áudio ou transcritas, fotos e qualquer outro documento. Venturini (2012) chama a
atenção para o uso do potencial hipertextual da web nas referências bibliográficas,
garantindo links diretos com as fontes originais da pesquisa, facilitando o acesso dos
usuários. Este repositório cumpre importante função para garantir a reversibilidade da
pesquisa, ou seja, a possibilidade de reutilizar os dados a qualquer momento, seja para
confirmar os resultados da pesquisa ou então para encaminhar outras análises.
A terceira camada deste web-site é a Análise da literatura científica onde,
além de buscar informações sobre a temática debatida na controvérsia, o pesquisador que
utiliza o método tem interesse especial em identificar o panorama das publicações
científicas, revelando oposições e alianças entre os cientistas. Em razão disso há o reforço
na convicção de que ao analisar qualquer controvérsia pública deve-se estar atento ao que
acontece no campo científico, buscando identificar pontos de convergência onde os debates
científicos convergem ou influenciam nos debates públicos. Estes pontos de convergência
serão melhor explorados ao identificar as redes de colaboração, a formação de alianças e
oposições, a formação de clusters em torno de instituições ou posicionamentos, e a
identificação de actantes que tenham influência muito marcada na controvérsia, como
ANT e Cartografia de Controvérsias em CI
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BRUNO, F. Rastros digitais sob a perspectiva da teoria ator-rede. Revista Famecos - Porto
Alegre, v. 19, n. 3, pp. 681-704, setembro/dezembro 2012. Disponível em:
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/12893>. Acesso
em: 05/12/2015.
LATOUR, B. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São
Paulo: UNESP, 2000. 438 p.
LAW, J. Notes on the theory of the actor-network: Ordering, strategy, and heterogeneity.
Systems practice, v. 5, n. 4, p. 379-393, 1992. Disponível em:
<http://www.heterogeneities.net/publications/Law1992NotesOnTheTheoryOfTheActor
Network.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2015.
VENTURINI, T.. Diving in magma: how to explore controversies with actor-network theory,
258-273. Public Understanding of Science, v. 19, n. 3, p. 258-273, 2010.