Você está na página 1de 7

Relatório Final

Dados do Relatório
Nome do Plano UM ESTUDO SOBRE A PSEUDOCIÊNCIA SISTEMATIZADA E SEUS EFEITOS NAS
POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS NO BRASIL

Nome do Estudante LEONARDO COSTA PARREIRA FILHO

Orientador(a) EDWIGES CONCEIÇÃO CARVALHO CORREA

Projeto de Pesquisa MEIO AMBIENTE E DIREITOS HUMANOS: UMA ANÁLISE DAS LEIS, POLÍTICAS
PÚBLICAS E CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS NA CONTEMPORANEIDADE

Grupo de Pesquisa GRUPO DE ESTUDO E PESQUISA EM DIREITOS FUNDAMENTAIS E


SOCIOAMBIENTAIS

Introdução
Desde que o astrônomo Nicolau Copérnico (1473-1543) desenvolveu a Teoria Heliocêntrica, que afirma que a posição do Sol é
no centro do Universo, não a Terra (fato científico comprovado posterior a sua existência), o choque e as discussões acerca do
tema ocorrem desde então, com sua confirmação e evolução póstuma.

Toma-se por certo que o método científico e¿ instrumentalizado pela Ciência na verificação da realidade, sendo formado por
um conjunto sequencial de procedimentos, a partir dos quais as problemáticas cientificas são formulados e as hipóteses
cientificas são postas em análise pela Academia, tem sido assim desde sua propositura por René Descartes em o “Discurso do
Método” (1637)

No contexto histórico contemporâneo, os avanços das tecnologias de comunicação tornaram acessível e horizontalizaram o
acesso e a dispersão de informação não verificada, mas que é creditada como real. Conceitua-se aqui, alguns objetos já
analisados cientificamente como veículos da pseudociência, tais como as teorias conspiratórias, que são apontadas como
científicas, embora sejam desprovidas de verdade factual e epistemológica, assim como ressalta De Albuquerque e Quinan,

Teorias da Conspiração devem, portanto, ser levadas a sério. Elas são produto de um problema mais profundo: uma crise
epistemológica que resulta da relação problemática dos indivíduos com as instituições modernas, que dá lugar ao crescimento
da pseudociência. (2019, p. 102)

Infere-se que tal fato corrobora, por consequência, um notável e perigoso avanço da utilização do pensamento
pseudocientífico e desinformativo por determinados atores do campo político, o que produz efeitos catastróficos,
principalmente quando esse é apoiado e estrategicamente utilizado, ao se tratar em discussão da área do meio ambiente. É o
que alude Lewandowski e Cook (2020), quando exemplificam como o mecanismo de crenças em teorias pseudocientíficas
podem ser artificialmente construídos, citando como exemplo a negação climática:

As teorias da conspiração nem sempre são o resultado de crenças genuinamente falsas. Elas podem ser construídas
intencionalmente ou amplificadas por razões estratégicas e políticas. As teorias da conspiração podem ser utilizadas como
uma ferramenta retórica para escapar de conclusões inconvenientes. A retórica da negação climática é repleta de
incoerências, tais como as reivindicações simultâneas de que a temperatura não pode ser precisamente medida e de que as
temperaturas globais diminuíram, minando a percepção das pessoas sobre o peso das evidências científicas (2020, p. 5)

Objetivo Geral
Compreender a relevância da ciência e os impactos causados pela pseudociência nas políticas públicas
ambientais na atualidade brasileira. Buscando um reforço sobre a necessidade do uso da ciência no trato com as
políticas públicas ambientais.

Objetivos Específicos
- Compreender o processo de divulgação da pseudociência como mecanismo de contraponto à ciência. -
Analisar o contexto histórico das políticas públicas ambientais no Brasil atual. - Verificar a repercussão dos
mecanismos de comunicação tecnológicos e sua relação com as políticas públicas ambientais.

Materiais e Métodos
O tema a ser tratado nesse trabalho de pesquisa configura-se na perspectiva de compreender a relevância da ciência e os
impactos causados pela pseudociência nas políticas públicas ambientais na atualidade brasileira, assim, o problema que se
busca investigar pode ser objetivado na seguinte pergunta aberta: qual a relação entre a divulgação da pseudociência e as
políticas públicas ambientais no Brasil atual? Nesse contexto e nos marcos desse trabalho, propomos a metodologia de
pesquisa multimétodo, porque possibilita a não restrição a um método específico, mas, poder percorrer um caminho
metodológico mais amplo, caso seja necessário para atender aos objetivos da pesquisa. Dessa forma, pode-se recorrer a
fontes bibliográfica, documental, reportagens, documentários, dentre outras. Segundo Oliveira (2014, p. 139), “busca-se
construir uma resposta fundamentada ao problema proposto para análise, observando diferentes ângulos do fenômeno a partir
de diferentes métodos, no sentido de uma compreensão mais extensa e refinada do fenômeno que se quer estudar.”

Tipo de pesquisa: O presente trabalho terá como base a pesquisa bibliográfica, documental, reportagens de jornais e outros
meios que possam contribuir com o entendimento do referido tema. A investigação foi feita por meio de vasta pesquisa
bibliográfica, pautando se no uso de artigos científicos e livros que tratam do tema em evidência, bem como utilizará de
imagens de gráficos e outros demonstrativos de informação, de entidades especializadas em pesquisa como o INPE ou IBGE,
e reportagens jornalísticas quando assim necessárias.

Resultados
Nesse sentido e pelo, é visível os reflexos diretos, do radicalismo encontrado nas redes sociais, frutos de distorções
produzidas por fenômenos como discursos polarizadores, alguns desses fenômenos e efeitos são conhecidos e estudados
pela ciência, é o caso do efeito dunning kruger, em que dois psicólogos analisaram um fenômeno que ocorre quando o
indivíduo supervaloriza suas avaliações da realidade tornando-se mais confiante, consequentemente tornando-se
perigosamente ignorante, tal avaliação é atribuída por COSTA, quando diz que:

E e¿ esta confiança que pode tornar o Efeito Dunning-Krueger perigoso, principalmente quando, por exemplo, sai do campo
dos nossos inusitados amigos terraplanistas e entra em outros mais sensíveis, como saúde pública e política, áreas que
podem impactar efetivamente a vida das pessoas, inclusive das que não compactuam com estas ideias delirantes. (2019, p.4)

De igual modo, compartilham também da compreensão que existe um risco no pensamento delirante e conspiratório, podendo
ser vastamente exemplificadas desde grupos que acreditam no formato chato do modelo terrestre, a outros que negam as
causas antropogênicas nas mudanças climáticas, é possível acenar nessa percepção ao analisar o trabalho dos
pesquisadores australianos Lewandowsky, S., e Cook, quando trazem em seu livro, que debate a sistemática e uma possível
alternativa ao combate de teorias conspiratórias.

Imagem 1: (Smith, Leiserwoitz, 2012 apud Lewandowsky, S Cook, 2020)


Na mesma obra a dupla propõe, em uma contraposição, como visualizar o pensamento convencional e diferenciá-lo do
conspiratório, a justaposição leva a discussão científica acerca do tema, quando focalizada no objeto da pesquisa, como
instrumento possível na verificação dos fatos.

Imagem 2:
(Lewandowsky, S., & Cook, J. (2020). O Manual das Teorias da Conspiração. p. 3

Cabe dizer que ao entrarmos na era da informação, ficamos sujeitos a massificação densa de informações a todo instante,
muitas vezes expostos aos dizeres de terceiros, a suscetibilidade possível do algoritmo integrado do sistema de informação
que visa vender um produto ou muitas vezes manter as pessoas conectadas, mesmo que ao custo da propagação de
pseudociência. Assim como concluem Recuero e Soares em uma pesquisa sobre queimadas, que levou em conta a
polarização de grupos da rede social facebook sobre o tema,

Os elementos discursivos de alinhamento político e uso de recursos sensacionalistas e multimodais associam o conteúdo
desinformativo ao imperativo da visibilidade na ferramenta, onde se busca construir espalhamento e, para tanto, adapta-se o
conteúdo para a plataforma. Por isso, a desinformação que circula no Facebook termina por ser, na sua expressiva maioria,
nativa da própria ferramenta e não “importada” de outras plataformas. Além disso, a visibilidade dada a conteúdos com os
quais se discorda, ainda que em tom de denúncia, termina por amplificar o seu espalhamento, o que também foi um resultado
importante da nossa análise. (Journal of Digital Media & Interaction, 2020, p. 77)

Em uma série do webprograma, “fake em nóis” criada pelo divulgador científico Paulo Mirando e o jornalista Gilmar Lopes, a
dupla busca desmistificar mentiras espalhadas pela rede de forma simples, trouxeram informações pertinentes a conservação
ambiental ao passo de que traçaram uma perspectiva histórica das políticas ambientais possíveis nos últimos anos, foi
extraído do vídeo dados verificados posteriormente, e a partir desses, confeccionados um fichamento, que revelou as
seguintes assertivas classificadas como fatos verdadeiros.

Assertiva Verdadeira Encontrada na Internet Assertiva Falso Encontrada na Internet

# 34% no uso de seus Biomas(Incluindo Pantanal e Pampa com vazão # “Para se desenvolver é preciso destruir/desmatar” negando
de 2 pontos percentuais) no uso de agropecuária - 67% a assertiva exemplificando como o Japão preserva 70% de
sua área nativa.

# ´´Erosão em solo Agrícola é 100 mil vezes maior que erosão natural´´ ¿ “O solo brasileiro é naturalmente erosivo”

# Brasil é o 3º país do mundo em maior área de ocupação agrícola ¿ “Os países que desenvolvidos precisaram desmatar”
perdendo para os EUA e China, respectivamente primeiro e segundo
lugar
# 67% de área brasileira ainda é coberto por área nativa ¿ “O Brasil precisa se desenvolver com flor um uso
comercial das florestas”
# Trazem os seguintes dados em percentual de território ocupado
/utilizado

7,6% é destinado a agricultura

20% é destinado a Pecuária*

1% é destinado a outro tipo de Produção

4% é destinado a Mancha Urbana (Ex.: Mineração)

# Abril de 2019, é proposto o PL - 2036, que visa eliminar necessidade ¿ “Brasil é um dos países que mais preserva suas florestas”
de preservação em áreas privadas, mesmo político que apoia o
disseminador de teorias conspiratórias, astrólogo , AUTO intitulado Prf
Olavo de Carvalho, dentre as teorias por ele mais disseminadas, a que a
empresa PEPSI transformaria fetos abortados em açúcar e a teoria
globalista, que prevê uma guerra internacional clãnica entre 3 nações

1995 - 30 mil Km2 desmatados, levantam a hipótese da medida ¿ “O Brasil desmata pouco”
econômica do plano real e da ampliação de créditos agrícolas,
´´BOOM´´ da soja - (2000 a 2005) - Evento econômico internacional -
ONG Greenpeace pressionou internacionalmente os compradores de
soja a não comprarem de área desmatada

#Maioria das Unidades de conservação estão concentradas na ¿ “Indígenas colocam fogo na Amazônia”
amazônia -

95% - Floresta
amazônica

5% - Outros Biomas

(fonte: dados extraídos pelo autor. Vídeo - QUEIMADAS NA AMAZÔNIA: Entenda sobre
o desmatamento, 2019)

Discussão
É certo que a ciência foi desconsiderada ao longo dos séculos por muitos, mas durante a segunda metade do século XX,
houve uma movimentação por parte de um núcleo seleto de empresários que tentaram comprar a credibilidade científica de
alguns pesquisadores, para que esses vendessem uma ideia positiva de seus produtos na mídia, 7 casos dessa natureza
ocorreram dando origem ao livro ´´Merchants of doubt´´ nos EUA, explicitado no próprio livro como ´´agnotologia´´, um estudo
da negação, pois tais pesquisadores faziam o movimento de negar as descobertas da época, sendo estes pagos pelos
grandes donos das indústrias do petróleo e do tabaco, para utilizar do contraditório na opinião pública, a fim de representar a
negação do debate científico, sendo voluntariamente ignorantes quanto ao tema, e nas palavras de Proctor & Schiebinger,
apud LEITE,

Robert Proctor, historiador da ciência da Universidade de Stanford, cunhou um termo para designar o estudo da negação da
ciência com vistas a produzir a dúvida ou a ignorância – em oposição ao estudo do conhecimento pela epistemologia –, a
saber, agnotology, que podemos traduzir por agnotologia (do grego agnosis, não conhecimento). O propósito da agnotologia
seria “promover o estudo da ignorância, desenvolvendo ferramentas para compreender como e porque várias formas de
conhecimento não ‘emergiram’, ou desapareceram, ou foram retardadas ou negligenciadas por longo tempo, para melhor ou
para pior, em vários pontos da história” (2008, p. 8).

A negação vem servir a propósitos políticos na medida que a ignorância das leis e a falta de apoio baseado na forma mais
precisa de se verificar a realidade, isto é, a ciência, é ignorada ou desconhecida. Aqui, para exemplificar, apresenta-se na
forma de gráfico obtido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o desmatamento ocorrido no período abaixo.
(Fonte:
INPE, acesso em 20 de abril de 2020)

Relativo ao mesmo ano e período, de 2015 a 2019 no mês de julho houve um crescimento considerável, contabilizado 1400
km² a mais, o gráfico mostra que no mês de julho de 2016 a julho de 2019 houve um aumento aproximadamente seis vez
maior de desmatamento, justamente em 2016, ano que em comparativo com o ano de 2015, havia sofrido uma redução pela
metade desta prática.

Não obstante, no mesmo período, agosto do ano de 2019 houve o evento conhecido como “dia do fogo”, onde apoiadores do
governo, atearam, deliberadamente e ao mesmo tempo, fogo em partes distintas da floresta amazônica, tal ação teve um custo
alto para a diplomacia internacional brasileira, que teve que prestar informações aos países signatários do Tratado de
[1]
Cooperação Amazônica. Como relatou o Ministério Público Federal a gerência do IBAMA indagando sobre a ocorrência do
evento. Abaixo segue documento digitalizado e enviado pelo Ministério Público.
(Fonte: Revista Globo Rural, Disponível em: <https://revistagloborural.globo.com/governo-foi-alertado-pelo-ministerio-
publico-tres-dias-antes-de-dia-do-fogo.html >, Acesso: 19 de Março de 2020

[1]
Autarquia que tem como principal atribuição exercer o poder de polícia ambiental e executar ações das políticas nacionais de meio
ambiente, além de realizar a fiscalização e o monitoramento dos recursos naturais.

Conclusão
Isto posto, tem se que o presente ensaio, na tentativa de analisar os impactos causados pela pseudociência em
suas várias formas no campo das políticas ambientais, conseguiu trazer a luz o contraponto da negação do
conhecimento e do próprio conhecimento, ao passo que confirma a necessidade encontrada como resultado
desse projeto de iniciação, de afirmar o importante papel da ciência, como foi apresentado evidências e conclui-se
que a ciência deve caminhar no sentido de propor soluções como as apresentadas neste ensaio, a fim de que
uma conscientização advinda do fruto de uma educação científica, o que possivelmente transcrever-se-ia em um
impacto direto nas políticas públicas ambientais.

Referências
Costa A. M. A ESCALADA DO EFEITO DUNNING-KRUEGER NA DESCONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO.
Revista Artigos. Com, v. 11, p. e2267, 2 dez. 2019.

DE ALBUQUERQUE, Afonso; QUINAN, Rodrigo. Crise epistemológica e teorias da conspiração: o discurso anti-ciência do
canal “Professor Terra Plana”. Revista Mídia e Cotidiano, v. 13, n. 3, p. 83-104. Acesso em 20 de Abril de 2020.

LEWANDOWSKY, Stephan; COOK, John. O Manual das Teorias da Conspiração. 2020

MIRANDA E LOPES. QUEIMADAS NA AMAZÔNIA: Entenda sobre o desmatamento Pirulla e Gilmar no Fake em Nóis. [
S. l.]: MOV SHOW UOL, 21 ago. 2019. 1 vídeo (15 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1Wu_XmkBZvE.
Acesso em: 20 de dez 2020.

OLIVEIRA,L.R.; CAVALCANTE, L.E.; SILVA, A.S.R.; ROLIM, R. de M. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem e suas
converge¿ncias com as Tecnologias Digitais de Informac¿a¿o e Comunicação. Universidad Complutense de Madrid, Madrid, p.1-
13, 2015.
RECUERO, Raquel; SOARES, Felipe Bonow. Desinformação e Meio Ambiente. Journal of Digital Media & Interaction, v. 3,
n. 8, p. 64-80, 2020

Você também pode gostar