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Actor-Network Theory data analysis

Contribuitions via Carthography of Controversies in Management Studies

Análise de dados na Teoria Ator-Rede

Contribuições via Cartografia de Controvérsias aos Estudos em Administração

Clovis Cerretto Pinto; Silvia Marcia Russi De Domenico

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas - CCSA,
Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM
São Paulo, Brasil
cloviscerretto@uol.com.br; silviarussi@mackenzie.br

Abstract — This paper presents new avenues for data analysis in
the field of management studies using the Actor-Network Theory
from the application of cartography of controversies in a
longitudinal case study on the implementation of a Shared
Service Center.
Keywords – Actor network Theory; carthography
controversies; data analysis
Resumo — Este artigo apresenta novos caminhos para análise de
dados em estudos no campo da Administração que utilizam a
Teoria Ator-Rede a partir da aplicação da cartografia de
controvérsias num estudo de caso sobre a implementação de um
Centro de Serviços Compartilhados.
Palavras Chave – Teoria Ator-Rede; Cartografia
controvérsias; Análise de dados.
I. INTRODUÇÃO
A Teoria Ator-Rede (Actor-Network Theory - ANT),
também denominada Sociologia da Translação, é uma vertente
contestatória da Sociologia tradicional, que desconsidera o
conceito de sociedade, abordando o social como coletivo de
humanos e não-humanos dotados de agência, associados em
redes [5]. Tendo os estudos de Bruno Latour, Michel Callon e
John Law como seminais, as pesquisas empregando ANT
usualmente enfocam temas tecnológicos nos quais se
apresentam máquinas e sistemas de TI como ‘atores não-
humanos’. Mais recentemente, outras áreas têm lançado mão
da Teoria Ator-Rede como é o caso da Administração, à qual
este artigo diz respeito.
Tendo na ‘translação de interesses’ um de seus conceitos
centrais, a ANT defende compreender a dinâmica social
mediante a descrição das controvérias que a constituem.
Sob o prisma analítico, a ANT pode ser caracterizada como
um conjunto disparatado de técnicas de diversas origens [6]. As
incertezas metodológicas sobre como analisar os dados
sugerem ser esta uma lacuna [7], principalmente nos estudos no
âmbito das organizações. Apresentamos neste artigo propostas
analítico-metodológicas para estudos que adotam a ANT na
área de Administração, considerando os últimos avanços da
cartografia de controvérsias. Baseando-nos em estudo que
realizamos sobre a implementação de um Centro de Serviços
Compartilhados (CSC) numa prestadora de serviços públicos
do Estado de São Paulo - Brasil, tratada ali como uma mudança
planejada, focalizamos os caminhos desbravados,
of principalmente quanto à análise dos dados construídos a partir
dos princípios da cartografia de controvérsias. Procuramos
oferecer uma contribuição para pesquisadores na difícil tarefa
de lidar com a imensa quantidade de dados que se obtém
quando se faz uma pesquisa científica seguindo as
recomendações de Latour [5].
II. MARCO TEÓRICO
de
A. A Teoria Ator-Rede
A Teoria Ator-Rede teve sua origem nos estudos da ciência
e tecnologia e é caracterizada como uma vertente contestatória
às abordagens tradicionais da Sociologia [1]. O aspecto
distintivo dessa abordagem é a questão da consideração da
agência não só dos humanos, como já ocorre na Sociologia do
Social, mas também dos não-humanos. Por meio do princípio
da ‘simetria generalizada’ dá tratamento analítico indistinto a
ambos tipos de atores, denominados “actantes’, conferindo,
assim também aos não-humanos, a capacidade de agir [2,4]. Os
objetos (e quase objetos, como os sistemas de informação),
podem, na Sociologia das Translações, “autorizar, permitir,
produzir, encorajar, consentir, sugerir, influenciar, bloquear,
retribuir e proibir” [5, p. 72, tradução livre]. O conceito de
sociedade é substituído pelo de coletivos de humanos e não-
humanos que se associam formando redes (atores-redes), em
um processo contínuo denominado de ‘translação’ ou
‘tradução’.
B. Controvérsias e Caixas-pretas
Dentre os conceitos da ANT, dois são de especial
relevância para o presente estudo: controvérsias e caixas-
pretas. Velho e Velho (p. 127) apontam que uma controvérsia
“... refere-se a uma disputa, uma discussão ou um debate
regular entre indivíduos ou grupos de indivíduos sobre um
assunto de interesse comum” [9]. A ANT permite, por meio da

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análise de controvérsias, olhar para o social enquanto ele se faz,
constituindo-se em um estado magmático (ora fluido ora
solidificado) [10]. Controvérsias quando encerradas tornam-se
‘caixas-pretas’ [3], ou seja, redes de actantes amplamente
utilizadas e aceitas sem questionamento, representando certa
estabilidade das associações entre os atores-rede, em um
equilíbrio precário, que enfrenta resistência [8]. Caixas-pretas
podem ser reabertas a qualquer momento, em função de
interesses de actantes da rede estabilizada ou de fora dela.
C. A construção e a análise de dados na ANT
Latour acredita que a forma pela qual se consegue
compreender as dinâmicas do dia-a-dia é pela identificação e
descrição meticulosa da situação [5]. Por essa razão, aponta a
relevância da abordagem preconizada pela ANT ser similar a
dos antropólogos ‘seguindo os atores’. Tudo é considerado
como “dado” a partir do momento em que inicia a pesquisa de
campo [5], que deve considerar o maior número possível de
pontos de vista. Ao final do levantamento, o pesquisador se vê
com uma grande massa de dados para ser analisada.
Nesse sentido, uma diversidade de técnicas analíticas foram
empregadas nos estudos empíricos, tais como gráficos
sociotécnicos; análise de palavras associadas’ (co-word
analisys); semiótica; análise de conversação; teoria dos atos de
fala de Searle. A cartografia de controvérsias, por sua vez, é
uma proposta que vem sendo desenvolvida para tratar os dados
sem perder de vista a complexidade do objeto de estudo, ou
seja, a dinâmica social.
D. A Cartografia de Controvérsias
Latour adota a cartografia para discutir como se constrói
ciência [10] e, no âmbito do projeto MACOSPOL – Mapping
Controversies in Science and Technology for Politics, para
mapear as ações dos actantes humanos e não-humanos
participantes em controvérsias relacionadas a questões sociais
contemporâneas.
Venturini aponta a dificuldade inerente à utilização da
cartografia de controvérsias, destacando que seu objetivo nunca
foi facilitar a investigação [10]. Isso não quer dizer que o
método seja complexo, mas sim a vida coletiva, pois quanto
mais actantes forem envolvidos (especialmente não-humanos),
mais intrincadas são a análise dessas situações. Se por um lado
a cartografia de controvérsias torna a investigação mais lenta e
trabalhosa, por outro lado evita cair em possibilidades
reducionistas de análise.
Ao cartógrafo de controvérsias recomenda-se que dê
visibilidade a diferentes entendimentos sobre as situações (cada
actante tem sua teoria), considerando aspectos de
representatividade (afirmações ou argumentos compartilhados
por vários actantes deveriam ter maior visibilidade), influência
(actantes com maior influência na dinâmica social merecem
tratamento diferenciado) e interesse (considerar também as
minorias) [11].
Venturini alerta ainda que para analisar as controvérsias
que constroem a dinâmica social, contemplando as posições
assumidas pelos actantes e os argumentos utilizados é preciso
não ter medo da redundância. Recomenda ao pesquisador-
124
ANT a elaboração de diversas representações da dinâmica
social por meio de diferentes mapas, cada qual procurando
explorar aspectos específicos. A visão conjunta dos mapas
superaria as visões parciais de cada um de forma a mostrar a
riqueza dos debates. A consequência prática é a necessidade de
repetição de determinadas informações. Longe de ser um
problema porém, tal repetição permite que cada representação
reforce a compreensão das demais, contribuindo para um
entendimento mais amplo da dinâmica social.
Um último cuidado que se deve tomar diz respeito à
garantia da rastreabilidade das translações descritas nos mapas
para o fenômeno original e vice-versa. Esse aspecto é
particularmente relevante, pois ao cartografar faz-se a
agregação de informações, quando poucos elementos
representam muitos outros. Esse processo deve ser feito com
cuidado, garantindo-se a reversibilidade, de forma a não gerar
lacunas na descrição da dinâmica social em foco.
O desafio de realizar cartografias de controvérsias de
qualidade começou a ser vencido a partir do desenvolvimento
de tecnologias digitais que facilitam o processo de navegação
entre diferentes níveis de agregação de dados, algo
particularmente conveniente para as ciências sociais [11].
Dessa forma, preocupamo-nos em utilizar recursos de
mídia digital com vistas a facilitar o tratamento de dados no
caso que trazemos como ilustração.
III. PERCURSO METODOLÓGICO
A. O caso focalizado
As propostas analítico-metodológicas que serão aqui
apresentadas foram desenvolvidas ou aplicadas num estudo
conduzido pelos autores empregando a estratégia de estudo de
caso longitudinal para investigar a implementação de um
Centro de Serviços Compartilhados (CSC) em uma empresa
prestadora de serviços públicos no Estado de São Paulo, Brasil,
aqui denominada por Empresa X.
Nosso objetivo foi compreender como tal projeto,
considerado pela empresa uma mudança planejada,
desenvolveu-se na busca de tornar-se uma caixa-preta. A
construção dos dados em campo estendeu-se por 14 meses
(abril/2011 a junho/2012) mediante uma postura etnográfica
utilizando observação participante, somada a entrevistas
individuais e em grupo, além do levantamento de documentos
tais como e-mails e vídeos de reuniões. Participaram da
pesquisa o diretor, o responsável pela implementação do
projeto CSC, a gerente do CSC, o consultor externo, dois
superintendentes (entrevistados), além de cinco gerentes e
cinco supervisores administrativos (em grupos de foco), entre
diversos outros actantes que foram alvo da observação. Um dos
autores do artigo exercia os papeis de implementador do
projeto e de gerente de uma das áreas envolvidas na mudança.
B. A Cartografia de Controvérsias aplicada ao caso
Trilhando o caminho da cartografia de controvérsias
buscamos entender o processo de desenvolvimentdo do CSC
por meio de três escalas sucessivamente maiores em
detalhamento e menores em amplitude (escalas menor,
intermediária e maior) (Fig 1).
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Na escala menor foi feita uma descrição sucinta dos denomina Latour [5]), suas lideranças formais como atores-
principais acontecimentos no período considerado (junho/2008 humanos (diretores, superintendentes, gerentes, supervisores)
a junho/2012) na ótica empresarial, buscando apresentar o e pessoas envolvidas na dinâmica social, actantes não-
ponto de vista de actantes de uma forma mais ampla. humanos quase-objetos (procedimentos, documentos,
Na escala intermediária, descrevemos a dinâmica da relatórios, e-mails, etc.) e objetos (celulares, carros, etc.)
translação sob a ótica da ANT, evidenciando a agência de (Fig.2). Com o desenrolar dos acontecimentos diversos
humanos e não-humanos à luz do princípio da simetria e as actantes humanos e não-humanos se associam dinamicamente
controvérsias relevantes (40 das 190 identificadas), apontando para a constituição do Centro de Serviços Compartilhados
inícios e eventuais términos dos debates, sem detalhamento. (Fig.3).
São exemplos de controvérsias identificadas: a escolha do
gerente do CSC, a localização do CSC, a definição de quais
atividades iam para o CSC e quais ficavam nas UNs, o
dimensionamento de pessoal no CSC e nas UNs, entre outros.
Na escala maior, fizemos uma descrição detalhada de
controvérsias relevantes, visando evidenciar quais actantes que
tiveram contribuição decisiva nos debates, as posições
(inferidas ou manifestas) de cada actante, os argumentos por
eles utilizados na defesa de cada posição e as decisões tomadas.

Figura 2. Diagrama de actantes – Posição inicial

Figura 1. Diferentes escalas de análise de dados

IV. PROPOSIÇÕES METODOLÓGICAS

As propostas analítico-metodológicas que faremos no
presente artigo aplicam-se às escalas intermediária e maior.
A. Na escala intermediária Figura 3. Diagrama de actantes

Especificamente para a escala intermediária entendemos 2) Diagrama de abrangência versus tempo de

que são contributivos para a análise dos dados o diagrama de desenvolvimento das controvérsias: Controvérsias podem ter
actantes, o diagrama de abrangência vs tempo de abrangências diferentes e tempos de desenvolvimento
desenvolvimento das controvérsias, os gráficos de Gantt das distintos. Como dito anteriormente, em algumas situações as
controvérsias ativas e encerradas. A seguir descrevemos cada
controvérsias se encerraram, transformando-se em caixas-
um dos instrumentos mencionados.
pretas. O diagrama proposto propicia uma visão de conjunto
1) Diagramas de actantes: mostram os actantes mais dos debates mostrando no eixo horizontal o tempo de
relevantes em determinados períodos da translação. desenvolvimento e no eixo vertical a abrangência.
Denominados por Venturini como diagrama de atores-redes,
procuram mostrar a dinâmica de constituição e de dissolução
de atores em redes e vice-versa, tentando representar a
liquefação e solidificação magmática do desenrolar das
controvérsias [11]. Esse autor destaca a possibilidade de
utilização de técnicas digitais para animação de forma a
permitir uma visualização da dinâmica social conforme intuída
pela ANT (Fig. 2 e 3).
No caso podemos observar os principais actantes
envolvidos na dinâmica social. As unidades organizacionais
vistas como atores institucionais (ou macro-atores como

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cosmos e os extratos do diário do projeto com pontos de vista

da ANT. Descrevemos a seguir cada um deles.
1) Softwares de redes dinâmicas para visualização
dinâmica do desenvolvimento da controvérsia: Lançamos mão
do Gephi 0.8, que permite a inserção por meio de ‘nós’ dos
dados levantados, sejam actantes, controvérsias, argumentos,
decisões, caixas-pretas, etc. Por sua vez, as associações entre
os elementos mencionados são registrados como arestas.
Tanto os nós, quanto as arestas, possuem entre seus atributos o
tempo de duração. Após a inserção dos dados, a análise do
desenvolvimento da dinâmica social ao longo do tempo se deu
por controvérsias. Para tal foram utilizados recursos como
zoom, filtragem, distribuições de dados para visualização e
métricas de análise de dados disponíveis nesse tipo de
software. Assim, obtivemos desde a representação geral (ao
final do período de levantamento de dados) do processo de
Figura 4. Controvérsias segundo abrangência e tempo de desenvolvimento
implementação do CSC, contemplando todos os actantes e
associações (Fig 6), até os relacionamentos entre
Por abrangência da controvérsia entendemos o rol de
controvérsias ativas e caixas-pretas (Figura 7), bem como a
actantes (humanos e não-humanos) envolvidos em três
evolução de uma controvérsia ao longo do tempo em
âmbitos sucessivamente maiores. No exemplo, as Uns/CSC,
diferentes momentos (Fig 8, 9 e 10).
Diretoria e Empresa X. Por tempo de desenvolvimento da
controvérsia, entendemos o tempo decorrido a partir do seu
início (embate inicial entre actantes com posições antagônicas
que levou à caracterização da controvérsia) até seu
encerramento (prevalência de uma posição sobre as demais
com cessação dos debates). O tempo considerado foi dividido
em três períodos: curto-prazo (até 3 meses); médio-prazo (de 4
a 12 meses); longo-prazo ( > 1 ano) (Fig. 4).

3) Gráficos de Gantt de controvérsias ativas e caixas-

pretas: Utilizamos o software timelinemaker professional para
mostrar em cada período de tempo as controvérsias ativas ou
encerradas (caixas-pretas). Na Figura 5, ilustramos quais e Figura 6. Representação geral de todos os dados
quantas controvérsias constituíam a dinâmica social de
agosto/2008 a abril/2011.

Figura 7. Conjunto de controvérsias ativas e fechadas

Figura 5. Gráfico de Gantt das controvérsias para o período agosto/2008 e

abril/2011

B. Na escala maior
Nessa escala também contribuíram para a análise os
softwares de redes dinâmicas, os mapas cognitivos, a tabela do

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Figura 8. Início da controvérsia Figura 9. Intensificação da
controvérsia
Figura 10. Encerramento da controvérsia
De forma a superar as limitações da mídia papel para
mostrar a dinamicidade social, lançamos mão de uma mídia
digital, como pode ser constatado no arquivo de vídeo referente
à controvérsia das Figuras 8, 9 e 10, hospedado no Google
Drive e acessível pelo link abaixo:
https://drive.google.com/file/d/0BxfyYl2ztV_IT2NZTWFpVG
dlTWs/edit?usp=sharing
Caso o leitor tenha a possibilidade de acessá-lo, terá a
oportunidade de observar o desenrolar da controvérsia
‘definição do gerente do CSC’ desde sua origem até seu
encerramento. No início, os actantes humanos e não-humanos
estão dispersos no plasma social. Nesse olhar, nada
aparentemente os une. De repente, é aberto o debate. Como um
coração pulsando, argumentos dos actantes passam a fazer
parte da dinâmica social. Debates mais intensos são sinalizados
com uma profusão de argumentos. Debates de menor
intensidade envolvem menos argumentos. Num dado momento,
ocorre drástica redução da dinâmica social, surgindo a caixa-
preta quando a decisão sobre quem ocuparia o cargo é tomada.
2) Mapas cognitivos para cada controvérsia: Para
complementar a descrição de cada controvérsia e visualizar, de
outra maneira, os relacionamentos entre elas, lançamos mão de
mapas cognitivos. Venturini afirma que árvores hierárquicas
merecem destaque por serem adequadas aos debates tecno-
científicos, permitindo a representação das diferentes posições
dos atores, caracteristicamente complicadas e cheias de
nuances [11].
A partir de tais recomendações construímos mapas
cognitivos para cada controvérsia, considerando diferentes
níveis na ramificação, que vão se desdobrando (Fig 11).
127
Figura 11. Adaptação do conceito de mapas mentais para o estudo de
controvérsias
O primeiro nível é o de ‘temas’: dependendo da complexidade,
uma controvérsia pode levar ao debate de diferentes aspectos.
No segundo nível, estão as ‘posições’, entendidas aqui como
convergência dos actantes sobre uma das possibilidades de
resolução da controvérsia. No terceiro nível, os ‘argumentos’
utilizados pelos actantes para defender cada posição. Quando
argumentos tivessem relacionamentos entre si, tanto por serem
complementares, quanto antagônicos, ligações foram feitas
entre os mesmos para apontar tais relacionamentos. No quarto
nível, foram apresentados os actantes envolvidos em cada
argumento. Como as controvérsias podem ter relação com
outras, acrescentamos um ramo principal para apontá-las
(Fig 11). A definição de um gerente de CSC, por exemplo,
envolve como temáticas: ‘a assistência à escolha’; ‘os
candidatos a gerente do CSC’; ‘os critérios de escolha’. O
primeiro tema teria duas posições: ‘a escolha seria assistida’; o
‘diretor faria a escolha direta’. Cada posição é defendida por
diferentes actantes.
3) Tabela do cosmos: É um recurso recomendado por
Venturini [11] para apresentação das características das
controvérsias (Tab I). O quadro apresenta para cada uma delas
sua denominação, uma descrição sucinta do que consiste, um
identificador se é ou não caixa-preta, a apresentação dos temas
e das posições e os actantes mais relevantes nela envolvidos.
Nas células são assinaladas as fontes de evidência utilizadas.
Portanto, a diferença básica entre tais quadros e seus mapas
cognitivos originais são os argumentos envolvidos nos debates
suprimidos nos primeiros e explicitados nos últimos. Não
seguimos a representação por cores recomendada por
Venturini por considerar que a mesma não facilita o
entendimento [11].
TABELA I ‘TABELA’ DE COSMOS DA CONTROVÉRSIA ‘DEFINIÇÃO
DO GERENTE DO CSC’
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ACTANTES liberação de um gestor do que de um dos de prestígio na Empresa X

Humanos Quase-objeto Objeto Ator institucional gerentes de departamento. Consultor e por conta dos bons
implementador propuseram utilizar o método resultados que

Consultoria mapeam. processos

do perfil psicológico (4) para subsidiá-lo na supostamente teriam sido

Consultoria Perfil Psicológico

Caixa-preta

Cargos Salários
Consultoria Redução Custos
Outros actantes humanos

Sistema corporativo TI

Autoridades funcionais
Consultoria Qualidade
Arquivo powerpoint

Fórum da diretoria
Planilhas eletrônicas

Diretoria colegiada
Estudos e projetos
Denominação da Descrição da Posições dos grupos de escolha, pois já era uma metodologia obtidos pela sua adoção.

Correio eletrônico
Assessora diretor

Órgãos externos
Superintendentes

Placa de carro
Implementador
Tema

Consultor CSC

Gerentes adms
Gestores adms

Equipes adms
Gestores CSC
Gerente CSC

Fórum adm
Documentos

Equipe CSC
Local físico
Diagramas

Celular 3G
controvérsia controvérsia interesse

Legislação
Métodos
Agenda
Diretor
consagrada e que já tinha sido aplicada na
esmagadora maioria das unidades da diretoria.

Consultoria
[...] O diretor concordou com o método.

Escolha seria assistida x x x x g

V. CONCLUSÕES
Assistência à escolha
Diretor faria escolha
direta
x O desafio da análise da significativa massa de dados
Um dos gerentes adm x r produzidas por estudos que seguem, rigorosamente, a
Implementador x x
x
m
recomendação de Latour [5] de seguir os atores e o maior
Candidatos a gerente do CSC
Um dos gestores adm r g s x número deles para descrever a dinâmica social de interesse, já
Contra a indicação a
partir dos gestores
x foi apontado por Mitev [7], entre outros inerentes à aplicação
Uso metodologia
original consultoria x x
da teoria ator-rede.
CSC
Uso metodologia perfil
x x
x
x x x
x x
x
Neste artigo, procuramos responder a esse desafio
Critérios de escolha psicológico r r r
Uso critérios
x
x
x x x
apresentando soluções analítico-metodológicas aplicadas a
Processo de adicionais r
Definição do escolha do Contra critério escolha x
pesquisas em ambientes organizacionais à luz da ANT. Para
x x c x
gerente do CSC gerente do
CSC
pelo perfil psicológico
Informação deveria ser
c atingir tal objetivo focalizamos a cartografia de controvérsias e
Transparência do processo
compartilhada
x x x
propusemos um conjunto de instrumentos que pode ser
Informação tinha que
ser restrita
x x x empregado para facilitar a análise de dados sem perder a
Decisão final
Cabe ao diretor x x x g x x x x complexidade inerente à construção do social por actantes
Cabe aos gers adms x
humanos e não-humanos que se associam em redes em função
Legenda: x - Observação participante; a – grupo de foco com gerentes de seus interesses.
– aosgrupo
administrativos; Acessomimplementador Teria acesso de foco
x com gestoresx do departamento
dados relativos ao processo
administrativo; d – Entrevista com diretor; c – Entrevista com Superintendente A cartografia de controvérsias permite a descrição, em
A; s – Entrevista com Superintendente Não teria acesso x B; g – Entrevista com gerente do CSC; diferentes escalas de detalhamento, dos acontecimentos que, no
r – Entrevista com consultorDiretor deveria x caso ilustrado, disseram respeito ao processo de implementação
Divulgação do nome do divulgar
gerente indicado Implementador poderia
x de um Centro de Serviços Compartilhados na Empresa X.
4) Extratos de relatos
divulgar
com ponto de vista da ANT: Apesar do levantamento dos dados em campo ter se estendido
Consiste de trechos específicos selecionados do diário do por 14 meses, parte das controvérsias identificadas no período
projeto proveniente da observação participante, para os quais não chegaram a ser solucionadas, mantendo-se ativas na
se apresenta, além da descrição dos acontecimentos, uma Empresa X. A utilização das ferramentas aqui apresentadas
análise (coluna da direita) a partir dos conceitos preconizados permitiu identificar as redes de actantes envolvidas e
pela ANT. No exemplo apresentado recortamos uma passagem compreender o processo como uma associação de
do referido diário sobre as tratativas para a escolha do gerente controvérsias, durante o qual algumas são estabilizadas e
do CSC (Tab II). outras, mais complexas ou menos importantes aos interesses
dos atores-rede, permanecem.
TABELA II DIRETOR INDICA O GERENTE DO CSC OU O PROCESSO
SERIA ASSISTIDO - EXCERTO
Sublinhamos que a utilização de instrumentos que
permitam abarcar a complexidade inerente à realidade social
Descrição dos acontecimentos Um olhar da ANT entendida por meio da lente da teoria ator-rede deve ter no
A reunião aconteceu numa das salas de reunião (1) A pauta da reunião meio acadêmico a contrapartida de permitir incorporar novas
do complexo administrativo da Empresa X. guiou o consultor durante formas de apresentação dos resultados de pesquisa a partir da
O consultor apresentou que a pauta daquela sua apresentação na
reunião (1) tinha como tópicos principais os reunião dos gerentes adoção de meios digitais, que contemplem a dinamicidade da
assuntos que haviam sido objeto da reunião administrativos. agregação do social.
com o diretor (estrutura organizacional, local (2) A posição de gerente
do CSC, prazo de implementação da 1ª onda e do CSC é um não-humano Finalmente, tendo em vista que nossa área de interesse é a
a escolha do gerente do CSC), o cronograma de que passou a permear as Administração de Empresas, entendemos que, se por um lado o
atividades e a segmentação de atividades. discussões em diferentes arcabouço metodológico levado a efeito no presente trabalho
O consultor passou a palavra ao implementador grupos. pode auxiliar o pesquisador-ANT em sua investigação, não
para que fizesse um relato sobre a reunião com (3) Os requisitos do cargo teria condições de ser utilizado plenamente no âmbito
o diretor. [...] O implementador colocou que o são características do não-
diretor não tinha ainda clareza quanto ao perfil humano ‘posição do empresarial por conta do esforço de construção de dados e do
daquele que deveria assumir a posição de gerente do CSC’. Notamos tempo de resposta de curto-prazo demandados tipicamente no
gerente do CSC (2). O implementador que apesar de não haver meio empresarial. Contudo, a aplicação de determinados
comentou que a consultoria tinha apresentado materialidade desse não- conceitos (controvérsias) e ferramentas de análise poderia
um rol de requisitos para o ocupante do cargo humano ele passa a ser iluminar a dinâmica social envolvida nos processos de
(3) e que conhecia gestores das áreas que referenciado.
teriam possibilidade de gerenciar uma área (4) O método do perfil
mudança, permitindo uma compreensão mais profunda dos
como essa, porém que não conhecia todos. O psicológico é outro não- fenômenos organizacionais.
diretor colocou que talvez até fosse mais fácil a humano que goza inclusive

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AGRADECIMENTOS
Ao Mackpesquisa pelos recursos da reserva técnica que
auxiliaram a realização da pesquisa de campo.
À Empresa X pela autorização de realização da pesquisa.
Aos humanos e não-humanos que participaram da pesquisa.
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