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br | n0 280 | Ano 24
Fotografia
documental
Imagens de
natureza
A força da
contraluz
Como usar a técnica a favor da criatividade
Smartphones
poderosos
Fotografia
de viagem
18
Janeiro/2020
Vinicius Matos
Foto de capa:
Brasilio Wille e
Noilton Pereira
6 Grande Angular
Notícias e novidades
26
12 Revele-se
Fotos dos leitores em destaque
Gabriela Vivacqua
16 Câmeras Clássicas
A história da Kodak Retina
18 Retratos
O trabalho em P&B de Vinicius Matos 36
26 Documental
A África pelo olhar de Gabriela Vivacqua
36 CONTRALUZ
Noilton Pereira
60 Natureza
60
Victor Chahin
68 Fotografia de viagem
Como fotografar Nova York
78 Equipamento
Smartphones evoluem na fotografia
REDAÇÃO
Diretor de Redação: Sérgio Branco (branco@europanet.com.br)
CARTA AO LEITOR
U
Editora de arte e capa: Izabel Donaire
Editor convidado: Érico Elias
ma das primeiras coisas que todo fotógrafo iniciante aprendia
Colaboradores especiais: Diego Meneghetti e Livia Capeli quando pegava uma câmera pela primeira vez era sempre ficar
Colaborou nesta edição: Alexandre Suplicy
Revisão de texto: Denise Camargo
de costas para o sol. Dessa forma, não correria o risco de a
PUBLICIDADE
luz solar entrar pela lente de forma arrasadora, “queimando”
publicidade@europanet.com.br (superexpondo) o filme. Em tempos digitais, qualquer iniciante descobre logo
São Paulo o resultado de uma luz direta do sol e, se for esperto, verá que em alguns
Equipe de Publicidade: Angela Taddeo, Alessandro Donadio,
Elisangela Xavier, Ligia Caetano, Renato Perón e Roberta Barricelli
casos isso poderá causar um efeito bacana. Com o tempo, aprenderá que
Outras Regiões
aquela sombra que escureceu o rosto da garota que ele fotografou pode
Head de Publicidade Regional: Mauricio Dias (11) 98536 -1555 sumir se ele usar um flash ou um rebatedor de luz. Já em estúdio, a contraluz
Bahia e Sergipe: Aura Bahia – (71) 3345-5600/9965-8133 pode e deve ser controlada para as mais variadas finalidades. Fora dele, pode
Brasília: New Business – (61) 3326-0205
Rio Grande do Sul: Semente Associados – (51) 8146-1010
ser uma bênção, um tremendo problema ou um grande desafio – depende
Santa Catarina: MC Representações – (48) 9983-2515 da situação. Nesta edição, ela é o destaque e você poderá aprender como
dominá-la com as dicas de quatro fotógrafos que a aproveitam muito bem:
Outros estados: Mauricio Dias – (11) 3038-5093
Publicidade – EUA e Canadá: Global Media, +1 (650) 306-0880
ASSINATURAS E ATENDIMENTO AO LEITOR Brasilio Wille, Fabio Elias, Noilton Pereira e Zig Kock. Confira na pág. 36.
Gerente: Fabiana Lopes (fabiana@europanet.com.br) Ano novo, esperanças renovadas e mais uma penca de desafios para
superar (como sempre, nesse Brasil varonil) no amanhecer da segunda década
Coordenadora: Tamar Biffi (tamar@europanet.com.br)
Equipe: Josi Montanari, Camila Brogio, Regiane Rocha,
Gabriela Silva e Bia Moreira do século 21. Ao menos terminamos 2019 com uma boa notícia para a redação:
ATENDIMENTO LIVRARIAS E BANCAS – (11) 3038-5100 pela primeira vez, foi realizado um concurso interno com todos os funcionários
da Editora Europa para escolher “A Melhor Capa do Ano”, entre todas as revistas
Equipe: Paula Hanne (paula@europanet.com.br)
Ben Thouard
As melhores fotos de
ação e aventura de 2019
Acima, a foto que
recebeu o Grande
O Red Bull Illume Image Quest
2019, voltado à fotografia de
ação e aventura, anunciou
os vencedores da mais recente edição
do concurso. O Grande Prêmio dessa
Buchan surfando em Teahupo’o, no Taiti,
Polinésia Francesa. A foto impressiona
por exibir uma onda que parece engolir
o surfista – a imagem também foi a
ganhadora da categoria Energia.
Prêmio do Red Bull
Illume, de autoria do edição ficou com o francês Ben Thouard, Outros nove fotógrafos ganharam
francês Ben Thouard com imagem do australiano Ace as demais categorias: Alexander Wick
(Life Style) e Lorenz Holder
(Master Piece e Playground),
da Alemanha; Baptiste
Fauchille (Instagram) e
Jean-Baptiste Liautard
(Emergente), da França;
Denis Klero (Criatividade), da
Rússia; Laurence Crossman-
-Emms (Inovação), do Reino
Unido; Rupert Walker, do
Canadá; Noah Wetzel (RAW),
dos Estados Unidos; e Philip
Platzer (Asas), da Áustria.
Foto premiada na
categoria Emergente
JB Liautard
do concurso, do francês
Jean-Baptiste Liautard
(à dir.), e do britânico
Laurence Crossman-
-Emms, o melhor da
categoria Inovação
Laurence Crossman-Emms
Denis Klero
A cerimônia de premiação
Philip Platzer
O austríaco
Philip Platzer foi
o vencedor da
categoria Asas
WWF-BRASIL
ANUNCIA VENCEDORES
A gaúcha Gabriela Schuck de
Oliveira, de Porto Alegre (RS), com Imagem que gerou a
uma imagem de um filhote de capa do álbum With
the Beatles, de 1963
jacaré-do-pantanal, captada na
Reserva Particular do Patrimônio
Natural (RPPN) Sesc Pantanal, foi
VEJA OS GANHADORES DO
Amanda Costa Samways
8
FOTO DO MÊS MANOBRAS NAS ALTURAS
Felipe Rau costuma ser o primeiro fotojornalista
do jornal Estado de S. Paulo a chegar na redação. Ele
entra às 6h e fica de olho no noticiário. Normalmente,
as pautas começam a surgir a partir das 9h. Naquele
dia, 20 de novembro de 2019, uma quarta-feira, não foi
assim. A Virada Esportiva de São Paulo (SP) ocorreria
no fim de semana e a Red Bull promovia uma ação
relacionada ao evento. “Vi na televisão que o skatista
Sandro Dias, o Mineirinho, estava fazendo manobras
na Ponte Estaiadinha, na Marginal Tietê, bem próxima
da redação. Não tive dúvidas. Liguei para o editor e
pedi autorização para ir lá com meu drone. Cheguei em
menos de 15 minutos e já havia dois helicópteros e dois
drones sobrevoando o local. Para evitar qualquer risco de
acidente, não podia subir muito alto. Depois de algumas
manobras, consegui o ângulo ideal”, conta Rau.
Trabalhando há 20 anos na equipe do Estadão,
Felipe Rau investiu por conta própria em um DJI Mavic
2 Pro em janeiro de 2019. Graças a essa ferramenta, ele
vem ampliando as possibilidades criativas na cobertura
fotográfica. Ele conta que já conseguiu emplacar algumas
imagens feitas com o drone na capa do jornal. É o caso
desta ao lado que mostra as manobras de Mineirinho.
Felipe Rau
Fotos: Divulgação
primeira versão do filme surgiu nos anos
performance.
1940. A película parou completamente
A Sigma 40 mm f/1.4 tem
de ser produzida em 2012, ficando oito
16 elementos distribuídos em
anos fora do mercado.
12 grupos. A distância mínima
A retomada da produção de películas
de foco é de 40 cm, gerando
pela Kodak Alaris tem se revelado um
uma magnificação de 1:6.5. O
sucesso. A empresa anunciou que seu
modelo pesa 1,2 kg. Já a Sigma
faturamento na área de filmes cresceu
105 mm f/1.4 pesa 1,6 kg, tem 17
21% nos primeiros três trimestres de
elementos reunidos em 12 grupos,
2019 se comparado ao mesmo período
distância mínima de foco de 1
do ano anterior. Além da Kodak, a Ilford
metro e magnificação de 1:8.3.
e a Lomography também têm
Ambos os modelos contam
apostado nesse
com diafragma de 9 lâminas,
nicho.
sendo que a 105 mm é chamada
de bokeh master, referência ao
Acima, a Sigma 40 mm
f/1.4 Art e, ao lado, a
105 mm f/1.4 Art
Vulcão ao amanhecer
O
Monte Bromo, vulcão em atividade, faz parte do
Maciço de Tengger, na Ilha de Java, Indonésia. Fica
em uma reserva natural conhecida como Mar de
Areia por causa de vastas dunas de origem vulcânica. João √ Autor: João Paulo Porto
Paulo Porto fez a foto às 4h30 da manhã depois de se levantar √ Cidade: São Paulo (SP)
às 2h para encarar uma caminhada de cerca de uma hora até √ Câmera: Nikon D610
as escadarias que levam ao topo de um mirante. Valeu a pena √ Objetiva: Nikkor 50 mm
o esforço para registrar um dos símbolos da Indonésia. √ Exposição: f/1.4, 1/640s e ISO 100
Congelado no ar
A
fotografia de natureza é uma paixão de Fabiano Martins
desde criança. Profissional há seis anos, ele trabalha na
Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Santana
de Parnaíba (SP). Nas horas vagas, faz um levantamento de aves √ Autor: Fabiano Martins
e animais silvestres da sua região, o que para ele é uma terapia. √ Cidade: Santana do Parnaíba (SP)
Na foto acima, de um beija-flor-de-rabo-branco-acanelado √ Câmera: Canon EOS 7D Mark II
(Phaethornis pretrei), ele usou a tele em 600 mm e ajustou altíssima √ Objetiva: Sigma 150-600 mm
velocidade do obturador para congelar o movimento das asas. √ Exposição: f/6.3, 1/8.000s e ISO 2.500
Kodak
Retina
Pioneira
do filme
de bobina
industrial
A câmera de fole
da grande empresa
americana era
fabricada na
Alemanha e tinha
F
alta qualidade, No primeiro
oi a Kodak que criou em 1888 modelo da Retina,
apesar de ser o filme em rolo e a machina a câmera era
bastante simples photographica para abrigá-lo. operada na vertical
de usar. Confira Em 1934, a empresa voltaria novamente
às manchetes ao lançar mais uma dupla melhores câmeras e objetivas germânicas.
revolucionária: o filme 35 mm em bobinas O segredo? Apesar da nacionalidade
industriais e a Retina, primeira câmera americana, era inteiramente fabricada na...
O modelo Retina III Alemanha. E foi assim por 35 anos.
popular a usar o novo formato. Compacta,
C, lançado em 1957,
com telêmetro e fácil de usar e de preço acessível, foi um A pequena Retina foi a primeira 35 mm
fotômetro, foi uma grande sucesso comercial, pois também de fole (padrão na época), embora discreto,
grande evolução entregava alta qualidade, comparável às pois ficava oculto atrás da objetiva. Com ela
foi criado um novo mercado, pois o filme
naquele formato era rebobinado em casa,
na mais completa escuridão. Como a Kodak
já fabricava 35 mm para cinema, bastou
acondicioná-lo em bobina, exatamente
como ainda são encontrados. Ganhou o
código “film 135” e o nome pomposo de
DLC – Daylight Loading Cartridge.
Mesmo dona da patente, a Kodak logo
foi copiada pelos concorrentes. Porém,
faltava o mais importante: consumidores
para o filme 135. A solução foi criar o
mercado com uma câmera popular. Para
fazer isso, a então gigante americana
simplesmente comprou, em 1931, uma
importante fábrica de equipamentos
fotográficos na Alemanha, a Nagel, de
Stuttgart, e três anos depois lançou a Retina.
16
Fotos: Divulgação
A Kodak Retina provou que a Acima, modelos III c, de
viabilidade do filme 135 estimulou 1954, com as lentes
a invasão do mercado de “câmeras 85 mm (à esq.) e 35 mm;
miniatura”, como eram chamadas na abaixo, visão superior
da Retina II, de 1936
época, de diversas marcas e tipos.
Para estimular o consumo, a empresa
jogou pesado no preço: a Retina
custava menos que as concorrentes
de fole e era pelo menos três vezes
mais barata que a Leica e a Contax,
com a vantagem de ser bem mais
prática de usar.
GRANDE EVOLUÇÃO
O primeiro modelo era muito
simples: visor direto, avanço do
filme por botão, armar e disparar o da objetiva tinha indicadores cativou fotógrafos mundo afora e
obturador na própria objetiva, e mais móveis de profundidade de campo garantiu a qualidade (e a quantidade)
nada. A Kodak deduziu que muitos (como na Hasselblad) e seu suporte de fotografias que emolduram
recursos encareceriam o produto escondia totalmente o fole. A milhões de álbuns de família.
e afastariam o grande público. O alavanca para avanço do filme ficava
tamanho pequeno da câmera se na parte inferior do equipamento,
devia à objetiva retrátil, que vinha e isso tinha razão de ser. No lugar Conheça a coleção
recolhida no interior do corpo. A original (na parte de cima), ficava o
Até o final de 2019, a cada
novidade no formato 35 mm era que fotômetro de selênio, abrangente,
edição de Fotografe, uma
a tampa, ao ser aberta, exibia uma mas bastante sensível, que contava câmera que marcou época na
objetiva já colocada automaticamente com um difusor (encaixado sobre fotografia será destacada nesta
em posição para fotografar – ele) para leitura de luz incidente. seção com um breve histórico.
curiosamente, ela ficava aberta na A partir dos anos 1950, ela Ao mesmo tempo será lançada
posição vertical (marca registrada de contava com lentes intercambiáveis a caneca da Coleção Câmeras
todos os modelos Retina), talvez para (35 mm, 50 mm e 80 mm), mas não Clássicas com o modelo do
dissimular o antigo fole e valorizar totalmente: eram encaixadas no lugar mês. Para adquirir esse produto
aspectos mais modernos. do elemento frontal da objetiva, exclusivo, acesse: www.colecao
Com o passar dos anos, a Kodak já que o conjunto óptico posterior camerasclassicas.com.br.
Retina teve uma grande evolução era fixo à câmera. O foco podia ser
técnica. De todas as câmeras com feito pelo telêmetro (com algumas
fole, o mais refinado (e também um correções), com o enquadramento
pouco mais caro) foi o modelo III c, por visores especiais, inclusive o
lançado em 1954, que ganhou uma esportivo (aberto).
versão melhorada em 1957 (III C). Com um nome forte e sonoro que
Elegante, vinha com um visor maior associava a câmera à precisão do olho
incorporando o telêmetro. O suporte humano, a Retina “Made in Germany”
Retrato em
branco e preto
POR LIVIA CAPELI
Vinicius Matos,
fotógrafo
renomado na área
P ara alguns, fazer retratos em
P&B é apenas uma escolha
criativa, mas o fotógrafo mineiro
Vinicius Matos acredita que registrar
ele tomou a decisão de se afastar
definitivamente do segmento matrimonial
para se dedicar à fotografia de estúdio,
mais especificamente retratos. Exausto
de casamento, dá pessoas em monocromia evidencia a das longas noites consecutivas em fins
expressão e a personalidade delas. Após de semana cobrindo casamentos e
uma guinada na 17 anos fotografando todas as cores sem motivação para continuar criando
carreira e passa na área de casamentos, o consagrado ideias para noivos, o mineiro precisou de
profissional mineiro de 43 anos trocou coragem e humildade para reaprender
a retratar famílias igrejas e salões de festas pelo ambiente tudo sobre o novo segmento, de
não convencionais de estúdio. Substituiu noivos por famílias iluminação a direção – e até uma nova
não convencionais e passou a enxergar o estratégia financeira e mercadológica
em estúdio. mundo em escalas de tons de cinza. para atender um público-alvo diferente
Saiba mais A mudança se deu em 2018, quando do que estava acostumado.
Com a ausência de cor, Vinicius Matos são as partes do corpo mais evidenciadas Mãe e seu bebê: a
diz que a imagem em preto e branco no registro, e isso merece muita atenção região dos olhos
direciona toda a concentração do olhar do na hora de fotografar. A iluminação deve e das mãos são as
partes do corpo mais
espectador às expressões do fotografado. priorizar o rosto e o foco deve estar sempre
evidenciadas em P&B
Portanto, a região dos olhos e das mãos cravado nos olhos do retratado.
direção
O retrato exige
que o fotógrafo
saiba “provocar”
sentimentos nos
retratados
Vinicius Matos deixou a fotografia de casamento para apostar em retratos voltados para famílias não convencionais,
o que permite que ele também use poses e cortes pouco convencionais nas produções feitas em estúdio
Fotos: Vinicius Matos
20
P&B EXIGE MAIS
DA DIREÇÃO
Para Vinicius Matos, o
profissional precisa estar
concentrado nas emoções da
pessoa para colocar em ação
a habilidade e a técnica que
despertam sentimentos genuínos
no cliente. “Diferentemente da
fotografia de casamento, em que
as emoções acontecem diante da
lente, na fotografia de retratos é
necessário ‘provocar’ sentimentos
nas pessoas, entender como
despertar isso de forma verdadeira
durante o ensaio. É saber dizer
para um casal: ‘Se olhem e digam
um para o outro, apenas por meio
do olhar, como vocês se amam’. É
provocar sensações, e não pedi-las
de forma explícita”, ensina ele.
Fazer algumas brincadeiras gera
resultados diferentes de apenas dar
comandos como “dê um sorriso”
– e o P&B vai ressaltar ainda mais
as emoções. Portanto, o ideal é
que o fotógrafo esteja preparado
para dizer coisas engraçadas, soltar
frases de efeitos e dar comandos
que provoquem emoções.
Tudo começa com uma conversa
informal com o cliente antes do
ensaio. Um bom momento é a
hora que a pessoa está no camarim
se preparando ou fazendo a
maquiagem (no caso das mulheres).
Como está mais relaxada, pois ainda
não entrou no set, é a hora de o
fotógrafo tentar descobrir desejos,
temores e preferências em relação
às fotos. Vinicius Matos procura
fazer perguntas pessoais inseridas
em um bate-papo informal.
O fotógrafo mantém
um pequeno acervo de
adereços de produção,
ACERVO VALORIZA
que inclui a câmera antiga
usada no retrato acima A PRODUÇÃO
Para realizar os ensaios, Vinicius imagem. “Nos retratos que faço, roupas
Matos mantém um pequeno acervo de e cenários não podem roubar a atenção,
adereços de produção, como cadeiras, aparecendo mais do que o fotografado”,
mesas e caixotes rústicos. Os objetos explica ele. Uma dica de Matos é
servem tanto para a composição do incentivar o cliente a trazer um bichinho
cenário quanto para a interação na de estimação da família para o estúdio,
hora da direção, pois servem de base caso tenha. Isso pode gerar imagens com
Nos retratos para acomodar mãos e braços, que mais emoção, possibilidades criativas e
que faço, roupas e geralmente ficam “perdidos”, procurando oportunidade de mais fotos para compor
cenários não apoio durante a sessão de fotos. o pacote fotográfico.
O figurino é outro ponto importante Assim como costuma fotografar
podem roubar a para criar um estilo nos retratos. Segundo famílias não convencionais, como pais
atenção. Por isso, o fotógrafo, é essencial que a pessoa divorciados, uniões homoafetivas e
as pessoas só use sempre roupas neutras, como preto casais de amigos, Matos também está
usam roupas de e cinza, evitando tons muito claros e habituado em receber no estúdio
cor neutra tecidos estampados. Esse cuidado básico animais de estimação poucos habituais,
possibilita explorar melhor os tons de como jacarés, serpentes, aves e
Vinicius Matos cinza médio e escuro na edição da macacos domesticados.
O fotógrafo incentiva os clientes a levar bichos de estimação e usa peças de seu acervo quando há necessidade
Transição de carreira
Depois de muitos anos pela porta da frente e assim Ele criou um sistema de serviço
trabalhando nos fins de semana, atendi meus últimos contratos de para vender as imagens em pacotes
virando noites para cobrir casamento. Nesse meio-tempo, e também fotos extras, o que tem
casamentos, Vinicius Matos percebeu fui estudando. No início estava dado certo, segundo ele. Além disso,
que o que ganhava não compensava perdido e a minha única certeza fez parceria com a encadernadora
mais o tempo sem dormir e o era experimentar novos caminhos Profox, assinando uma linha de
distanciamento da família. Sentiu que na fotografia de estúdio”, comenta. álbuns no nome dele, de forma a
era hora de fechar esse importante O processo se iniciou em agregar produtos com estilo e somá-
ciclo que o projetou na fotografia agosto de 2018, quando Matos -los aos pacotes de ensaio.
brasileira e internacional. pediu ajuda ao círculo de Também continua atuando
Ele conta que nos últimos amigos para serem “cobaias” dos como mentor de fotógrafos e diretor
anos estava sem motivação e experimentos com retratos. A ideia da Escola de Imagem, em Belo
fotografar noivos não era mais central é atender famílias que não Horizonte (MG), onde vive. Apesar
algo desafiador. Para ele, não era se encaixam no padrão tradicional, de ter deixado de lado a fotografia
justo continuar trabalhando com algo que ainda está em processo de casamento, tem na bagagem a
casamento apenas por dinheiro. de adaptação, o que significa experiência de marketing e mercado
“Precisei de muita coragem para desde ajustes na iluminação a uma que adquiriu em 17 anos de carreira.
fazer a transição, pois tinha um adequação financeira ao novo Assim, procura inovar, fica antenado
nome forte no mercado. Mas isso mercado, pois os ganhos com a às tendências e busca parcerias
não sustentava mais meu processo fotografia de casamento eram bem inteligentes para o novo negócio
criativo e dinâmico. Queria sair superiores aos atuais. em fotografia.
UMA OU DUAS
FONTES DE LUZ
O estúdio de Matos tem 30 m2,
com pé-direito de 2,20 m de altura.
Nesse espaço, ele consegue ter uma
boa dispersão de luz para fotografar
usando geralmente duas fontes de
iluminação, que se alternam entre
um octosoft como luz principal
e um strip ou snoot como luz de
recorte – ou somente uma fonte de
Iluminação luz principal e um rebatedor para
Vinicius Matos
dramática e clima
intimista são marcas criar preenchimento de sombras.
do fotógrafo A ideia de Matos é sempre buscar
uma iluminação mais dramática,
trabalhando luz e sombra em um
clima mais intimista.
Outro recurso utilizado por ele
são os fundos em tecido, muito
práticos, versáteis e que podem
ser guardados dobrados, sem o
risco de amassar. Pode-se ter uma
grande variedade de estampas,
com um bom custo-benefício em
relação aos fundos tradicionais
em papel. Ele trabalha com fundos
de tonalidade cinza com efeito de
textura e degradê da loja Wentz
(www.lojawentz.com.br). “Acredito
que, quanto mais você simplificar
o trabalho, usando fundos prontos
com desenhos em degradê, evitando
ter que criar esse efeito com luz,
mais tempo terá para se dedicar à
parte humana da fotografia, ou seja,
a direção dos clientes”, diz Matos.
Um fator importante ao
fotografar em P&B é pensar no
resultado em tons de cinza. O ideal é
trabalhar com a câmera configurada
para o modo de visualização
em preto e branco e produzir os
arquivos no formato RAW, ou seja,
todas as cores estarão preservadas,
mas você poderá enxergar o
trabalho de maneira mais próxima
do resultado final.
Fotos: Oswaldo Marra
Olhar
humanitário
Conheça a história da brasileira Gabriela Vivacqua, que vive na região nordeste
da África há quatro anos e trabalha documentando ações de equipes da ONU
POR ÉRICO ELIAS
O
uso da fotografia para documentar questões uma oferta de trabalho na International Organization for
humanitárias constitui um nicho de Migration (IOM) e não hesitou. “Fui contratada como
mercado cada vez mais significativo, porém fotógrafa, no entanto, foi difícil no início, pois a fotografia
concorrido. A brasileira Gabriela Vivacqua, 29 é um tema bastante sensível no Sudão, uma vez que o
anos, se inseriu nele de maneira inesperada e ao mesmo governo é repressivo e autoritário”, conta.
tempo muito natural. Formada em Direito e vivendo no Ainda no Rio, Gabriela fez cursos livres na escola
Rio de Janeiro (RJ), ela praticava a fotografia como hobby. Ateliê da Imagem e uma especialização em Fotografia
A grande transformação se deu em 2015, quando viajou e Imagem na Universidade Cândido Mendes. Já como
para o Sudão, região nordeste da África, para visitar a mãe fotógrafa da IOM, começou a ter contato com
e o padrasto, diplomata que havia assumido um posto o interior do país, procurou fazer amizade
em Cartum, capital do país. Durante a visita, ela recebeu com famílias em comunidades que vivem
Gabriela Vivacqua
dispostas a participar, pois existe um tabu que interferiu na cena, buscando locais com Detalhes do ritual
relacionado ao sexo. Por ser um país de fundos mais vazios e pedindo às mulheres Dukhan: mulheres
maioria muçulmana e com uma cultura que fotografadas que usassem os panos coloridos ficam até uma hora
promove a hierarquia masculina, a mulher que costumam usar no dia a dia, em vez expostas à fumaça
que sai da queima
acaba tendo um papel limitado dentro da do cobertor liso que normalmente usam de madeiras
sociedade e perde a liberdade em vários para o ritual. “Esse pano tinha que combinar
aspectos, principalmente nos relacionados com o fundo. Fotografo muito pensando
à sexualidade”, conta a brasileira. nas cores e acho que, nesse ensaio, isso não
Ao fotografar o ritual, Gabriela informa poderia ficar de fora”, explica.
Registro de ações humanitárias da ONU: acima, refeição escolar em campo para deslocados internos em Dolow,
Somália; abaixo, exame que avalia o grau de desnutrição é realizado em uma criança em Aweil, Sudão do Sul
Acima, crianças esperam para ser atendidas em um centro especializado em nutrição em Dolow, Somália; abaixo,
Ester Olivier descansa com os filhos trigêmeos na casa da família em Juba, Sudão do Sul, onde vive a fotógrafa
Acima, meninas
coletando água em
Kapoeta, Sudão do
NICHO PARA TRABALHAR
Sul; abaixo, mulheres e Gabriela Vivacqua conta que “Normalmente, as organizações
crianças buscam abrigo existe um nicho para atuação de humanitárias contratam freelancers para
após conflitos em seu fotógrafos na documentação de causas pautas específicas e, sempre que existe
vilarejo na região de
Darfur, no Sudão humanitárias, mas pondera que se trata um projeto de longo prazo, anunciam em
de um mercado bastante concorrido. alguns sites. Essas instituições recorrem
mulheres
O foco de
Gabriela Vivacqua
está em histórias
de resistência
feminina
32
Viola James posa para um retrato com seu filho em Juba, Sudão do Sul
Patrick Meinhardt
Acima, Mashallah,
primeiro livro de Gabriela
Vivacqua, retratada, ao
lado, quando sobrevoava
área de emergência no
Sudão do Sul
Fotógrafa em
ação em campo
de deslocados O fato de ser mulher também
internos em exige cuidado redobrado em relação
Dolow, Somália à segurança. Ela nunca passou
por nenhuma situação difícil ou
constrangedora e toma suas precauções
para que isso nunca venha a ocorrer.
“Jamais estou sozinha. Quando me
deparo com uma situação em que me
sinto desconfortável tento dar um jeito
de sair dela o mais rápido possível. No
entanto, não há como negar que ainda
somos minoria nessa área. Durante
quase todas as minhas viagens em
campo sou a única mulher. Tenho colegas
muito respeitosos e atuo em um time
Arquivo Pessoal
Descoberta e transformação
Ao longo do percurso iniciado mulheres que Gabriela concebeu em árabe usada para transmitir
em 2015, a mulher se tornou o tema seu primeiro livro, Mashallah, respeito, apreço, louvor ou
principal da fotografia de Gabriela lançado em novembro de 2019 gratidão. Segundo a fotógrafa,
Vivacqua. “Até pouco tempo atrás, pela ID Cultural. Editado na forma a principal finalidade do livro é a
não compreendia perfeitamente de um fluxo constante de imagens, de enaltecer a força, a resiliência
por que minhas lentes estavam acompanhado de anotações, e a mensagem de esperança
sempre voltadas nessa direção. como em um diário de campo, a transmitidas pelas mulheres
Hoje eu entendo que a fotografia é publicação retrata a batalha diária fotografadas. O projeto teve
minha grande aliada no processo de de mulheres em países africanos coordenação editorial de André
autoconhecimento, como pessoa e e suas rotinas cheias de tarefas Carrano, curadoria de Rogério
como mulher. Ela é um instrumento e desafios, como maternidade, Reis, direção de arte de Violaine
de descoberta e transformação. Sou casamento infantil, acesso à Cadinot e producão Madge Pontes
inspirada pelas mulheres que tive educação e a um sistema de saúde de Miranda. Com 200 páginas, foi
a honra de encontrar durante essa de qualidade e até mesmo a impresso na Ipsis, em São Paulo, e
caminhada”, declara. recurso básicos, como a água. está sendo vendido na Livraria da
Foi em homenagem a essas Mashallah é uma expressão Travessa, do Rio (travessa.com.br).
Tudo a favor
da contraluz
A técnica sempre gera imagens marcantes quando bem
executada e em diversas áreas da fotografia. Saiba mais sobre
ela e veja as dicas de quatro especialistas no assunto
POR LIVIA CAPELI
Noilton Pereira
Multicolorido
fim de tarde no
sertão baiano
em contraluz
registrado por
Noilton Pereira
Contraluz com flash Os especialistas indicam que a câmera seja, entre a câmera e o fundo, saindo bem
de preenchimento deve ser ajustada entre os três modos subexposto (preto), o que possibilita o
permite realçar os de medição de luz: matricial, ponderado desenho das formas corretamente.
contornos do inseto ao centro ou parcial, evitando o modo Vale lembrar que a escolha do
na macrofotografia,
ensina Zig Koch pontual, por ser o mais complexo. Em tema para marcar a silhueta é muito
estúdio, uma forma de aprender a técnica importante. Ele precisa ter um contorno
é usar a luz de flash como contraluz em bem reconhecível, como no caso de
um fundo branco, medir a luz do fundo pessoas e animais, para que o observador
da cena sem o assunto principal e ajustar saiba de imediato do que se trata. Caso o
a abertura ou a potência do flash até o resultado da foto não tenha ficado bom,
gráfico do histograma do fundo ficar todo não há problema nenhum em recorrer ao
para a direita. O passo seguinte consiste Photoshop para torná-la melhor. Muitos
em acrescentar o tema à frente da luz fotógrafos renomados usam programas
Para obter a do fundo, sem iluminá-lo, fazendo o de edição para ajustar os trabalhos feitos
fotometria correta enquadramento, o foco e o ajuste fino da em contraluz. O importante, nesse caso,
em cenas de exposição, para não ter problemas de flare é sempre ter um arquivo RAW (bruto) da
contraluz, é ou difração de luz. imagem para tratar com mais precisão as
altas e baixas luzes.
necessário fazer A CLÁSSICA SILHUETA Caso, por exemplo, a sombra não tenha
a medição em Para realizar fotos de silhueta, em que ficado escura como o desejado, um ajuste
zonas médias e o contorno do tema é que faz a beleza simples no Photoshop é alterar os controles
da imagem, o segredo também está em de exposição e iluminação, aumentando
claras, deixando o medir a luz no fundo e não usar nenhuma o contraste sutilmente. Em Levels (ou
assunto principal luz para iluminar o primeiro plano. Assim, Níveis, na versão em português), é possível
na baixa luz o elemento à frente ficará à sombra, ou ter melhor controle dos tons de claro e
Vaqueiros no
sertão: contraluz
deu tom dramático
à poeira da estrada
escuro de forma a enfatizar mais os costumam recorrer à golden hour, ou O ideal é ajustar a câmera
contornos da imagem. seja, à luz do nascer ou do pôr do sol, de acordo com a velocidade de
Além disso, a foto de silhueta não que oferece dramaticidade e grande sincronismo do flash, porém, é
precisa ficar limitada a um elemento gama de tonalidades. possível usar o modo High Speed
colocado em contraluz. Para quem A contraluz associada ao flash de Sync (HSS), caso a câmera tenha
quer inovar, a dica é acrescentar preenchimento (também conhecido essa função – veja mais detalhes
tecidos transparentes, fumaça, luzes como contraluz compensada) na pág. 48 e consulte o manual do
e objetos coloridos entre a câmera também é usada para iluminar proprietário da sua câmera para
e o assunto fotografado. É o tipo de as áreas de sombras do assunto saber se ele oferece esse recurso. Esse
ideia que vai trazer imagens originais principal em fotos ao ar livre em modo de flash permite usar qualquer
e acrescentar um visual diferente ao dias ensolarados, muitas vezes em velocidade acima da de sincronismo –
trabalho em fotografia de pessoas, retratos. Isso permite iluminar bem o mas vale lembrar que o alcance da luz
principalmente. primeiro plano que estava escuro e do flash ficará reduzido a um terço de
ter o fundo natural do ambiente. distância do usual.
CONTRASTAR E PREENCHER O básico para essa técnica é Com ou sem uso de flash, o fato
Outro uso recorrente da contraluz que o flash exponha a cena em 1 é que a contraluz oferece diversas
é empregar a técnica não apenas ou 2 pontos a mais que o medido possibilidades criativas, como pode
para criar silhuetas, mas para gerar pela câmera, ou seja, se a abertura ser conferido nos trabalhos de Brasilio
contraste de tonalidades – recurso da câmera for f/8, o flash deve ser Wille, Fabio Elias, Noilton Pereira e
muito aplicado em fotografia de ajustado como se fosse para f/5.6 ou Zig Koch, profissionais especializados
de paisagens, moda, retratos e f/4. Isso irá preencher as sombras do em segmentos diferentes, mas que
documental, entre outras. Para isso, os assunto principal sem superexpor as exploram a técnica com luz natural ou
fotógrafos especializados no assunto áreas claras da imagem. com flashes de estúdio. Veja a seguir.
Imagem com
silhueta são mais
“Quando queremos uma silhueta caso, o fotógrafo precisa buscar o
bem definida e o espaço no estúdio é melhor posicionamento do modelo de
indicadas quando
reduzido, ou seja, o modelo não consegue maneira a obter o contorno gerado os contornos do
se distanciar muito do fundo, a dica é usar pela iluminação sem que apareçam o tema fotografado
dois bloqueadores paralelamente, um de tripé e a fonte de luz que está no fundo.
cada lado, deixando um espaço entre eles Também deve cuidar para que a luz não são facilmente
para o modelo. Isso faz com que a luz incida diretamente na lente. reconhecíveis,
do fundo não fique tão espalhada para caso do corpo
os lados e consiga iluminar o contorno”, VARIAÇÕES
explica ele. Nesse tipo de esquema de Além do modo clássico de fotografar humano e de
luz, o conselho é fazer a pós-produção silhuetas em estúdio, existem outras animais em geral
no Photoshop, corrigindo o contraste e formas de conseguir resultados
tirando a saturação, deixando a imagem interessantes usando a contraluz.
em P&B, ensina Brasilio Wille. Brasilio Wille ensina que uma delas é a
Outra variação de esquema de iluminação difundida com softbox, em
luz clássica para silhuetas, segundo ângulo de 30 ou 45 graus, atrás da cena,
Brasilio, é usar um fundo preto e colocar apontando diretamente para o modelo.
uma fonte de luz atrás do modelo, Isso pode gerar uma atraente luz de
apontando diretamente para ele. Nesse contorno e de volumetria.
flash
Elias usa flash
dedicado em
alta velocidade de
sincronismo para
preencher as
sombras
Ao combinar
contraluz e luz de
flash, o fotógrafo
alia dramaticidade e
nitidez de detalhes
Quem é ele
Dono da Imagens &
Aventuras, empresa de
expedições fotográficas, o
fotógrafo carioca Fabio Elias,
55 anos, conhece cerca de
180 países em viagens sozinho
ou acompanhando grupos.
Trabalhou como fotojornalista
para revistas como Veja,
Horizonte Geográfico, Marie
Claire, Geográfica Universal e
Viaje Mais, entre outras. Para
saber mais sobre ele, acesse:
www.imagenseaventuras.
com.br.
O disparo sincronizado dos flashes fotógrafos acabam deixando de lado o
é feito via radiotransmissor. Já o contato com a cultura e a proximidade
“pocket studio” é montado geralmente com os personagens, o que é fundamental
com tripés ou a ajuda de nativos ou para conseguir um resultado significativo
pessoas curiosas que acompanham na fotografia documental.
as fotos, chamadas para segurar
os equipamentos. Dependendo da TRUQUE DO FLASH
condição da luz, ele usa um difusor ou O primeiro passo para obter o efeito
uma sombrinha especial para suavizar a que Elias consegue nas fotos que faz
iluminação dos flashes. é posicionar o retratado contra o sol.
Além do conhecimento técnico, é Depois, é necessário ativar a função
primordial manter um princípio ético Hight Speed Sync (HSS) no flash. Essa
Arquivo pessoal
usar diafragmas mais fechados, Outra questão é saber qual o Fabio Elias criou um
garantindo mais profundidade de campo. resultado de cada tipo de luz, como reage estilo para os retratos
Mas não basta somente ativar o HSS a iluminação de um flash de estúdio e étnicos que faz mundo
o efeito de um flash dedicado. Prever afora e a contraluz é
no flash, é importante ainda acionar em
fundamental para isso
algumas câmeras a função “sincronização de ainda em uma foto onde a luz do flash
alta velocidade”, no menu de sincronização vai incidir no modelo: se a iluminação
do obturador, o que não é o caso da Canon vai abranger o corpo todo ou somente
Mark III usada pelo fotógrafo. Essa função meio-corpo, pois há configurações e
é eficaz principalmente para fotos de equalizações diferentes para cada caso,
retratos quando o flash de preenchimento conforme o ângulo e o enquadramento.
Para conseguir
é usado, assim como para trabalhar com Vale lembrar que com o passar um resultado fora
prioridade de abertura. “O fotógrafo que do tempo os flashes costumam sofrer do comum
deseja ter um trabalho além do comum desgaste e perder potência (depois usando flash
precisa saber sobre o funcionamento de um ou dois anos de uso contínuo).
eletrônico do próprio equipamento e das A dica do especialista é checar dedicado em
funções que oferece. É necessário estudar periodicamente com um fotômetro de cenas externas é
profundamente as configurações da mão se o flash está emitindo a carga preciso estudar o
câmera e os canais do flash. Mesmo para completa. Pilhas que alimentam o
quem já tem experiência é fundamental equipamento também devem ser de
equipamento,
treinar e experimentar muito antes de sair a marcas confiáveis e sempre trocadas experimentar e
campo”, recomenda. para garantir a emissão total de carga. treinar muito
Aurora boreal
NATUREZA EM
em Storekorsnes,
Noruega: contraste
CONTRALUZ: ZIG KOCH
gerado pela contraluz
dramática do céu Desde que começou a fotografar a de tonalidades. Para conseguir cores
natureza, em 1975, o que mais encanta atraentes em fotos de paisagens, o dia de
o fotógrafo paranaense Zig Koch é a trabalho do fotógrafo começa bem cedo
contraluz. Tanto pela possibilidade de ela em busca da golden hour, ou seja, a hora
proporcionar um interessante contraste no dourada, que surge, não por muito tempo,
céu em uma imagem de paisagem quanto após o nascer e logo antes do pôr do sol.
pela ideia de destacar as formas de folhas, São momentos em que a luz do dia é mais
flores e insetos por meio do efeito que ela avermelhada e mais suave do que quando o
proporciona. sol está a pino.
Na fotografia de natureza, Zig utiliza Zig Koch diz que é nesses instantes do
a técnica de contraluz para criar um clima dia que ocorrem as melhores oportunidades
dramático e acrescentar uma ampla gama para fotografar paisagens na contraluz,
O momento logo
pois é também a hora em que o sol está na natureza está no horário assertivo e no
após o nascer
posicionado na linha do horizonte, podendo posicionamento do fotógrafo em relação à do sol e pouco
facilmente ser enquadrado, dando margem luz e ao assunto. antes dele se
a composições atraentes e de impacto.
O especialista lembra que em DOMINAR A TÉCNICA pôr é ideal para
fotografia de natureza é essencial realizar Além de paisagens, a macrofotografia produzir fotos
uma pesquisa do local escolhido, estudar de plantas e insetos é outro campo de natureza
as maneiras de acesso, os ângulos e o explorado por Zig Koch com a técnica da
comportamento da luz durante os diversos contraluz. Esse é o tipo de tema que não em contraluz
períodos do dia. O planejamento para necessariamente depende do sol poente ou
estar no horário certo é fundamental, pois nascente para que a foto aconteça, mas sim
diferentemente de uma foto de estúdio, de alguns truques simples, como o fill-
em que há o controle da luz, ao ar livre -in-flash, ou seja, flashes dedicados para
não existe essa moderação. Segundo ele, fazer o preenchimento de áreas de sombra
o segredo para fotografar em contraluz para contraluz. É o caso da foto de uma
Arquivo pessoal
Ao lado, macrofotografia
feita com dois flashes;
abaixo, cacto registrado
no Salar de Uyuni, na
Bolívia, com espinhos
realçados pela contraluz
Fotos: Zig Koch
Noilton gosta
de sair a campo
para fotografar
entre 17h e
17h30, quando
LUZ DO SERTÃO:
o céu do sertão NOILTON PEREIRA
da Bahia
Noilton Pereira, natural de Ruy na contraluz, as primeiras que vendeu
costuma ficar Barbosa (BA), é conhecido nacional e e transformou em cestas básicas para
multicolorido internacionalmente pelo trabalho social famílias carentes, as quais ia entregar
que realiza no sertão baiano. Com cerca pessoalmente na sua motoneta Honda Biz.
de 125 mil seguidores do Instagram, Além das imagens em contraluz,
ele já foi personagem dos programas Noilton expandiu seu olhar registrando
“Caldeirão do Huck” (outubro de 2017) cenas de sertanejos em casebres à luz
e mais recentemente “Fantástico” ( maio de lamparinas, meninos improvisando
de 2019), ambos na Rede Globo. E tudo brinquedos e cenas do cotidiano no sertão
graças ao talento natural que tem para baiano que receberam elogios de ninguém
fotografia direcionado para ajudar o menos do que o consagrado Sebastião
próximo, no caso, a população muito Salgado, e ganharam espaço nas páginas
pobre da região onde vive. de Fotografe (edição 254). Mas, de todas
Hoje ele trabalha com um kit as fotos que faz, as imagens em contraluz
profissional da Canon, equipamento que parecem conter algo a mais, uma magia
ganhou do apresentador Luciano Huck, peculiar que só é encontrada naquela
mas tudo começou com uma mirrorless região da Bahia, com uma gama intensa de
Na cena acima, a Sony NEX 3 com lente 50 mm, de segunda cores, uma paleta que vai do anil do céu ao
superfície da água
mão, que ganhou de presente. Ele purpúreo do crepúsculo.
reflete a amplitude de
tons do céu do sertão aprendeu a fotografar sozinho e passou O fotógrafo conta que seus horários
durante um fim de a produzir imagens de paisagens ao pôr preferidos para sair a campo são entre
tarde: do azul ao laranja do sol dando destaque para personagens 17h e 17h30, apontados por ele como
55
MATÉRIA DE CAPA
posição
É preciso se
movimentar para
buscar o melhor
ângulo do tema
em relação
ao sol
56
Fotos: Noilton Pereira
O fotógrafo baiano nunca utilizou tripé ou qualquer outro Quem é ele
costuma fazer uma acessório na Canon EOS 6D com
pós-produção das lente 50 mm que usa atualmente. O fotógrafo baiano autodidata
imagens, reforçando o Noiton Pereira, 48 anos, documenta há
contraste e saturando Ele não faz nenhum ajuste manual
na exposição, por isso as imagens cinco anos as cenas do sertão. Com
mais as cores
feitas com luz natural são modos a renda arrecadada com a venda das
automáticos ou semiautomáticos. Na imagens, financia um projeto social
maioria das situações, tudo depende que envolve compra de cestas básicas,
de observação e posicionamento material escolar e utensílios domésticos
do fotógrafo, do assunto principal para famílias carentes. Por meio do site
e do fundo disponível. “Como não Vakinha, divulgado em seu Instagram,
há como controlar a luz do sol, faço comanda financiamentos coletivos
de forma indireta, buscando um para a construção de casas para a
melhor posicionamento meu e do população miserável (e documenta
assunto”, comenta. tudo por meio de vídeos). Ele trabalhava
contraluz com silhuetas bem Para criar as silhuetas ao pôr do como radialista em Ruy Barbosa (BA),
marcadas, reforçando o grafismo. sol, Noilton costuma usar diafragmas mas abandonou a antiga profissão
Já a água de um açude adiciona mais fechados, como f/5.6, f/4 e há cerca de um ano para se dedicar
alguns efeitos interessantes, como f/2.8, e aumentar a velocidade completamente à fotografia. Para saber
reflexos e tons frios em imagens em do obturador para valores como mais, acesse: @noiltonpop.
contraluz, observa ele. 1/600s, 1/800s. Logicamente que
a regulagem depende de cada
RECEITA SIMPLES condição de luz e deve ser variada
Noilton Pereira assume sem de acordo com a situação. A
constrangimento que é um principal dica é posicionar sempre o
fotógrafo entusiasta e que apenas modelo à frente da fonte de luz, ou
revela a história das pessoas por seja, o sol, fazendo com que a figura
meio de seus registros feitos da pessoa tome a maior parte dessa
intuitivamente. Ele defende a ideia área enquadrada.
de que é possível fotografar com Uma vez feita a foto, Noilton
qualquer equipamento, desde que Pereira faz um rápido tratamento
exista sensibilidade para enxergar a na pós-produção. De uma forma
beleza nas cenas. bem simplificada, sem tirar a
Arquivo pessoal
Casal de benedito-de-testa-
-amarela (Melanerpes flavifrons)
fotografado em Eldorado (SP)
Maria-de-leque-do-
-sudeste (Onychorhynchus
swainsoni) fotografada em
Iporanga (SP), Vale do Ribeira
precoce
de natureza de 23 anos
revelado pelo mestre
Araquém Alcântara
POR ÉRICO ELIAS
U ma viagem de colégio
despertou no então pré-
-adolescente Victor
Chahin para a fotografia de
natureza. Ele tinha 12 anos de
a fotógrafo reuniu as melhores
imagens em um fotolivro (ele mesmo
diagramou e imprimiu em loja de
shopping) que, por meio de um
amigo em comum, acabou caindo nas
uma aproximação entre mestre e
aprendiz. Em 2013, com 17 anos, o
adolescente fez a primeira exposição
individual, no Palácio da Polícia
de Santos (SP), com curadoria de
idade e foi introduzido à prática mãos de Araquém Alcântara. Araquém. No ano seguinte, ingressou
de observação de aves por um O olhar treinado de um dos na graduação em Jornalismo na
professor de Biologia (veja box). maiores fotógrafos de natureza Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Animado com a experiência, passou do Brasil detectou no material um O curso permitiu agregar senso crítico
a observar com mais atenção a talento potencial. Ali começou uma ao olhar do fotógrafo de natureza.
paisagem de sua cidade natal, relação de amizade e orientação. Como trabalho de conclusão, Chahin
São Paulo (SP), e descobriu que, Araquém convidou Chahin a produziu o livro Mata Atlântica, o
mesmo em um ambiente urbano participar de um workshop realizado Massacre, publicado em 2017.
densamente povoado, a natureza é na Serra do Amolar, uma das regiões A obra teve nova curadoria de
uma presença constante. mais isoladas e belas do Pantanal. Araquém Alcântara, que escreveu no
Aos 13 anos, Chahin viajou Durante a viagem, Chahin fotografou prefácio as seguintes linhas sobre o
com a família para Manaus (AM). pela primeira vez uma onça-pintada aprendiz. “A cada dia que passa, suas
Hospedados no renomado hotel de e passou a ter contato com outros imagens ganham força e harmonia.
selva Ariaú, atualmente desativado, temas da fotografia de natureza, para Victor começa a entender também
decidiram fugir das atrações turísticas além da observação de aves. que a arte que escolheu pode ser mais
convencionais e contrataram um guia A participação de Chahin em do que o registro do belo, pode e
para fazer incursões na floresta. Como outros workshops de Araquém ao deve ser um poderoso instrumento de
resultado dessa viagem, o candidato longo dos anos seguintes permitiu transformação e de luta pela vida.”
Nascido e
criado em São
Paulo (SP),
Victor Chahin COMEÇO EM MEIO
descobriu temas
de fotografia À NATUREZA URBANA
de natureza em Nascido e criado na maior metrópole como o de São Paulo. Ele menciona
meio ao caos brasileira, Victor Chahin descobriu que um as grandiosas árvores que existem em
de uma grande fotógrafo de natureza pode encontrar temas bairros como Pinheiros, Lapa, Moema
até mesmo no ambiente urbano. “Aprendi e Higienópolis. Também se satisfaz em
metrópole que, para se tornar um fotógrafo, você deve observar como as aves se adaptam ao
primeiro contar a história do seu quintal. É ambiente urbano. “Temos pica-paus, almas-
claro que, dos 12 aos 16 anos, não tinha a de-gato, sábias, falcões, papagaios-
menor ideia disso. Mesmo assim, a paixão -verdadeiros, diferentes espécies de
pelas aves me fazia ficar fotografando da gaviões e periquitos. Uma vez, cheguei até
varanda do décimo primeiro andar no a ouvir uma araponga cantando em pleno
apartamento em que morava. Na frente do Parque do Ibirapuera”, garante.
meu prédio tinha uma vila e uma das casas Embora tenha expandido sua atuação
tinha uma antena bem alta, onde pousavam para outros temas dentro da fotografia
várias espécies de pássaros. Tinha acabado de natureza, Chahin continua a ser um
de ganhar minha primeira câmera, uma apaixonado observador de aves. Ele conta
Sony DSC-H50, com zoom óptico de 15x, que a atividade mudou sua forma de ver o
Acima, trecho de mata
e com ela fotografei sanhaços, pombas, mundo, tornando-o mais atento a detalhes
nativa no Núcleo Caboclos
do Parque Estadual rolinhas, sabiás, maritacas, maracanãs, que normalmente passam despercebidos
Turístico do Alto Ribeira gaviões-carcará e urubus”, conta. aos moradores de cidades grandes.
(PETAR), município de Chahin gosta de ver e fotografar a O jovem fotógrafo identifica ao
Iporanga (SP) resistência da natureza no caos urbano, menos três vertentes de observadores
Investir em equipamento
A fotografia de natureza ótimo desempenho em altas maior naturalidade na paisagem, e
profissional demanda equipamento sensibilidades. Para paisagem, uso sempre usa botas e perneiras contra
de primeira e o uso de um kit uma D800, com 36 megapixels. picada de cobra.
de lentes com grande variedade Tenho diversas lentes. A tradicional “É perfeitamente possível fazer
de distâncias focais, desde as 50 mm f/1.4 uso para situações grandes fotos e aprender muito
ultra grande angulares, para de baixa luz, quando preciso ser com equipamentos mais básicos,
paisagens, até as superteles, para mais discreto e ágil. Tenho uma mas o ideal é sempre buscar o mais
fotografar aves e outros animais 14-24 mm f/ 2.8, que uso para avançado. Na hora H, uma câmera
selvagens, que se assustam com a panorâmicas diversas, uma 24-70 capaz de fazer disparo contínuo
aproximação de humanos. Chahin mm f/2.8, para paisagens, uma de alta velocidade pode fazer a
recomenda que o investimento seja 60 mm f/2.8 Macro para detalhes diferença quando se quer fotografar
feito em longo prazo. Ele conta que e uma 200-400 mm f/4 para uma onça dando o bote em sua
começou com um equipamento bichos e algumas composições de presa. Você pode economizar
básico e aos poucos foi adquirindo paisagens”, explica. Ele também em equipamento, mas nunca
modelos mais avançados. sempre leva consigo uma toalha economize em duas coisas: capa de
“Trabalho com equipamento compacta, lanterna, capas de chuva chuva e botas. Calçar uma bota ruim
Nikon. Tenho uma D5, que uso para ele, a mochila e a câmera, acaba com sua viagem e uma capa
para fotografia de animais e facão, cantil cheio e pastilhas de chuva que não cumpre direito
em ambientes de pouca luz. purificadoras de água. Anda o seu papel pode trazer enorme
É uma câmera rápida e com camuflado, para se inserir com prejuízo financeiro”, adverte.
Sanhaço-de-encontro-azul
(Tangara cyanoptera) clicado em
São Miguel do Arcanjo (SP)
acaso
O fotógrafo de
natureza também
precisa contar
com o acaso e a
sorte para ter
sucesso
Victor Chahin
Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) registrado em encontro inesquecível no
Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Minas (MG); ao lado,
Victor Chahin em campo na mesma ocasião, em foto de Araquém Alcântara
Nova York
a seus pés
Confira dicas para conseguir boas
imagens na metrópole americana, uma
das cidades mais fotogênicas do mundo
Alexandre Suplicy
A melhor maneira
de obter boas
é imperdível. Mas, para ter um ângulo o famoso carrossel Jane’s. Pertinho dali,
fotos de Nova
diferenciado, a dica é atravessá-la para tem-se uma vista incrível para a Ponte de York é desbravar
o lado do bairro que é moda na cidade, Manhattan a parir da Rua Washington. a cidade a pé e
o D.U.M.B.O. (sigla para Down Under Este é um ponto disputadíssimo por de metrô. Para
Manhattan Bridge Overpass, ou seja, fotógrafos profissionais e turistas em geral.
o distrito que fica abaixo da Ponte de Se quiser ter a rua só para você, melhor
otimizar os
Manhattan, que, por sua vez, está ao chegar bem cedo ou ir à noite. Nesse resultados finais é
lado da Ponte do Brooklyn). É um lugar meio-tempo, aproveite para explorar e se indicado fazer um
descolado, com diversos restaurantes, encantar pelo bairro. Para fazer a foto no planejamento
lojas e uma vista incrível do skyline da local, usei a zoom em posição de 24 mm,
cidade. Na beira do Rio East, logo abaixo selecionei f/10 para focar desde o bueiro com mapas antes
da Ponte do Brooklyn, há um parque e até a ponte ao fundo, 1/13s e ISO 100. de sair a campo
Meca do
equipamento
Nova York é também a
Meca de quem quer comprar
equipamento fotográfico. O
dólar não está muito favorável,
mas mesmo assim ainda vale
a pena. Logo que cheguei,
passei nas lojas B&H e Adorama
para conferir as novidades.
Se for o caso, aproveito para
comprar o que está faltando.
As duas são um verdadeiro
parque de diversões para
fotógrafos e cinegrafistas. Você
encontra tudo o que imaginar,
de todas as marcas e preços.
Fotos: Alexandre Suplicy
Alguns vendedores até falam
português – e outro diferencial
é que você pode testar tudo
antes de comprar.
Fique atento aos horários:
na B&H (420 9th Avenue), por
motivos religiosos (os donos
são judeus), a loja fecha às 13h
segundos de exposição com abertura subida é um show à parte. As paredes
às sextas, não abre no sábado
f/4 e ISO 100. Usei a fixa 55 mm. do elevador ultrarrápido são, na e retoma aos domingos das
Já o Top of the Rock tem a realidade, imensos painéis LCD que 10h às 18h. Nos outros dias
grande vantagem de permitir que vão contando a história da cidade em funciona normalmente, das 9h
você enquadre o soberano e icônico 88 segundos, o tempo que se leva às 19h. Já a Adorama (42 W 18th
Empire State. A vista é realmente para subir os 101 andares (ou cerca Street) funciona praticamente
mais atraente, já que é possível de 500 metros de altura). Lá em cima, da mesma forma, segunda a
admirar um dos símbolos da cidade. a vista é inspiradora, especialmente quinta das 9h às 20h, sexta das
Além disso, o terraço de lá é mais para as pontes do Brooklyn e de 9h às 14h, fecha sábado, e abre
amplo e tem menos grades – mas Manhattan. Mas é proibido o uso domingo das 9h30 às 17h.
fique atento, pois o pôr do sol é bem de qualquer tipo de tripé, inclusive
concorrido. Existe um ingresso que os bem pequenos, e sempre haverá
permite que você o visite duas vezes vidro à frente. Um filtro polarizador
no mesmo dia. Por isso, recomendo ou um pano preto para fazer uma
ir pela manhã e voltar para o pôr do “cabana” entre o vidro e a lente pode
sol, ficando até o anoitecer – no dia ajudar bastante para tirar o reflexo.
em que fotografei, o terraço estava O jeito é se adaptar: praticamente
lotado e praticamente não dava para “colar” a lente no vidro e tentar apoiar
chegar perto da beirada; para captar a câmera na mochila, prendendo a
o crepúsculo, segurei a câmera bem respiração, para as fotos noturnas.
alto e usei a fixa 55 mm ajustando Nesse mirante, fotografei as pontes
f/2.2, 1/160s e ISO 250. O horário de de Manhattan e do Brooklyn com a
funcionamento é das 8h à 0h. 55 mm, ajustando f/4, ISO 250 e 6
No One WTC, a experiência da segundos de exposição.
Ao lado, Alexandre
Suplicy em ação e o kit
básico que leva a campo:
Sony Alpha a7 III, lentes
Arquivo Pessoal
cidade. Mas não pense que é fácil névoa, mas dei sorte e o tempo abriu
fotografar lá de cima. O vento e a minutos depois – aliás, na Big Apple,
vibração atrapalham muito. Por isso, o clima é sempre uma loteria; se não
se você não tiver experiência em estiver chovendo ou com muita neblina,
fotografia aérea, recomendo fazer sempre dá para aproveitar.
apenas o voo diurno. O fato é que Nova York é
O helicóptero decolou logo apaixonante de qualquer ângulo.
após o pôr do sol e a paisagem era O importante é bater bastante
deslumbrante. Levei a 24-105 mm f/4 na perna e estar sempre atento aos
Sony a7 III. Depois, concluí que teria sido cenários. No primeiro semestre de
melhor uma lente mais clara, como uma 2020, pretendo levar e orientar um
16 mm f/1.4, para não ter que puxar grupo de brasileiros para fotografar
tanto o ISO. Na manhã seguinte, saí a cidade. Mais informações www.
para um segundo voo. Havia bastante alexandresuplicy.com.
A poderosa
fotografia mobile
O modo de foto dos smartphones avança em qualidade e recursos,
abocanhando com apetite o mercado de câmeras tradicionais
POR DIEGO MENEGHETTI
D esfoque de segundo
plano para retratos,
alta sensibilidade para
imagens noturnas (inclusive para
astrofotografia), objetivas com
gravação em RAW, alta conectividade,
inteligência artificial que identifica
o assunto e faz o melhor
processamento... Não fosse pelo
último recurso, os atributos poderiam
A cada nova geração, a indústria
leva aos aparelhos celulares inovações
bastante relevantes para a fotografia,
tanto em hardware quanto em
software: em um segmento quase
aberturas cada vez mais luminosas, ser de uma avançada mirrorless. saturado em recursos de sistema, as
zoom óptico, função macro, arquivos Mas são, na realidade, algumas das melhorias no modo de fotografia e
que ultrapassam 100 MP, estabilizador especificações das câmeras de alguns vídeo são o atual front da batalha
de imagem, filmagem em 4K, smartphones modernos. entre os principais fabricantes.
À direita, foto
capturada com
um iPhone 11
Fotos: Divulgação
Pro (abaixo) no
modo Retrato
em Preto e
Branco
80
O principal
recurso a
impulsionar os
smartphones
no campo da
fotografia na
atualidade tem
sido o uso de
múltiplas câmeras
Fotos: Divulgação
Imagem realizada
com um Samsung
Galaxy Note 10 com
a câmera de ultra
grande angular
82
Desfoque de fundo em foto
feita com o Huawei Mate 30
Pro, recurso que não existia
até pouco tempo atrás
Controle manual
Desde os modelos Galaxy
S9 e S9 Plus, a Samsung
incluiu o recurso para controle
manual do diafragma da
objetiva da câmera. A ideia é
permitir que o usuário ajuste
a quantidade de luz que entra
na lente do smartphone por
si próprio, mas ele é limitado
a duas posições, f/2.4 e f/1.5.
O recurso de controle de
abertura, porém, não é algo
recente nos smartphones.
Em 2008, a Motorola já havia
disponibilizado isso no modelo
ZN5, e a Nokia equipou seu
N68 com lente que variava
Fotos: Divulgação
Iluminação de retrato
O reconhecimento de imagem desfocado), “Luz de Estúdio” (o desfoque de segundo plano com
e o processamento de arquivo são rosto é iluminado com uma luz o controle de profundidade no
recursos avançados que trabalham semelhante a flash com difusor modo Retrato, como se fosse um
em conjunto com as múltiplas suave), “Luz de Contorno” ajuste de diafragma para controlar
câmeras dos smartphones. Na (semelhante à anterior, mas com a profundidade de campo. Porém, o
prática, essa é uma das vantagens sombras mais demarcadas no controle no smartphone é feito após
que o usuário percebe ao avaliar as rosto, simulando uma luz mais o registro da imagem, no app Fotos.
imagens feitas pelos dispositivos: dura), “Luz de Palco” (o rosto tem Um recurso semelhante é
além de qualidade satisfatória, um foco de luz, com um fundo oferecido no Samsung Galaxy S10,
a edição de imagem é feita de preto) e “Luz de Palco Mono” S10 Plus e S10e, chamado Live
maneira amigável. (semelhante à anterior, mas a foto Focus. No aplicativo nativo de fotos
Nos aparelhos da Apple, o fica em preto e branco). do Android, a imagem original
tratamento mais avançado está Desde o iPhone XR/XS pode ser ajustada para os modos
relacionado com o modo Retrato, também é possível usar a opção de Desfoque (cria um bokeh),
compatível desde o iPhone 7 Plus “Luz Brilhante Mono”, que cria um Spin (um efeito de movimento do
a modelos mais recentes. Nesses perfil em escala de cinza com um segundo plano), Zoom (análogo ao
smartphones, movidos com o fundo branco, simulando uma foto efeito de arrasto de zoom) e Pontos
sistema iOS 13, há um ótimo em estúdio com fundo infinito. de cor (adiciona desfoque, vinheta
recurso de edição de imagem Os efeitos são aplicados usando e ajustes de cor na imagem).
(feita antes ou depois do registro) inteligência artificial para análise
chamado “Iluminação de Retrato”. da imagem, recorte do primeiro No iPhone, o tratamento de
Nele é possível ajustar o efeito plano e identificação do volume imagem mais avançado está
de luz sobre o rosto da pessoa, do rosto. Outro recurso adotado relacionado ao modo Retrato:
em seis modos: “Luz Natural” (o a partir desses dois modelos abaixo, quatro opções de
rosto está em foco com um fundo é a possibilidade de ajustar o tratamento obtidas com o recurso
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EQUIPAMENTO
Imagem captada
com o Google Pixel 4,
primeiro smartphone
que permite fazer
fotografia noturna
de estrelas
Para registrar
cenas noturnas
de estrelas, o
Google Pixel 4
arquiva 15 fotos
sequenciais e
depois realiza a
fusão em uma
Fotos: Divulgação
única imagem,
eliminando
eventuais borrões