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REDAÇÃO
Diretora de Redação: Andrea Calmon
redacao@editoraonline.com.br
Executivos de Conta:
comercial@editoraonline.com.br
Antônio Demésio, Célia Candido, Eliana Com o tempo, essa mania se transformou numa pai-
Aparecida Monteiro, Graziella Vilela
Fonseca, Luciana Lemes Rodrigues,
Jussara Baldini, Márcia Figueira
xão que acabou influenciando não só o dia-a-dia, mas
Assistente de Publicidade:
Rosana Franchi e Simonetta Ielo
Alexandra M. Cavalcanti e Fabiana a própria cultura americana. Um fenômeno que gerou
Gomes de Lima
MARKETING
um estilo de vida e que se solidificou, com o passar dos
Coordenação de Marketing: Daniela Cardoso
Assistente de Marketing:
mkt@editoraonline.com.br
Bianca Grasseschi
anos, além de se diversificar em inúmeras correntes,
CANAIS ALTERNATIVOS vendaavulsa@editoraonline.com.br desde os modelos de carros até as competições. Hoje,
Eduardo G. Aguiar, Luciana Castropil
Logarzo, Mauro Garbellini, Renata Aurélia A.
de Carvalho e Ronie Emerson Miquelino
hot rod pode ser tanto um modelo baseado num
Tel.: (0**11) 3393-7777
roadster original, inclusive com carroceria de plástico/
LOGÍSTICA Luiz Carlos Sarra
ADMINISTRAÇÃO financeiro@editoraonline.com.br
fibra de vidro, como um moderno sedã de série, claro
Gerente de Suprimentos: Jacy Regina Dalle Lucca
Gerente Administrativa: Isabel Cristina Ferreira que devidamente “tunado”.
CRÉDITO E COBRANÇA
Auxiliares: Nanci de Souza Monteiro, Nanci de Araújo Essa ambigüidade se verifica na própria definição do
Nunes e Patricia Silva Souza
cobranca@editoraonline.com.br termo hot rod, que ainda hoje gera acaloradas discus-
Impresso por Prol Editora Gráfica
Distribuido no Brasil por Dinap sões. Enquanto muitos especialistas afirmam que se
Embalagem e manuseio Riprell Ltda.
Distribuição em Portugal Midesa S.A.
trata de uma redução de hot roadsters (quente, aqui no
CARROS DE SONHO - HOT ROD é uma publicação do IBC Instituto Brasileiro
de Cultura Ltda. - Cx. Postal 61085 - CEP 05001-970 - São Paulo - SP -
Tel.: (0**11) 3393-7777
sentido de veloz), numa referência direta aos modelos
A reprodução total ou parcial desta obra é proibida sem a prévia autorização
do editor. utilizados para a construção dos primeiros hots; outros,
NÚMEROS ATRASADOS com o IBC ou por intermédio do seu jornaleiro ao
preço da última edição acrescido das despesas de envio.
entretanto, garantem que o termo surgiu na década de
Para adquirir com o IBC - Tel/Fax.: (0**11) 3393-7777 -
Cartão de Crédito - Cheque nominal cruzado ao IBC - Instituto Brasileiro de
Cultura - Depósito em conta corrente Banco do Brasil - Ag. 3320-0 - Conta
1930 e se traduz literalmente como “biela quente”, já
6592-7 enviando comprovante e dados para envio por fax. É necessário
checar a disponibilidade do exemplar em nosso estoque com antecedência. que rod, em inglês, significa haste e, como biela, “con-
online@editoraonline.com.br
Pela internet: www.revistaonline.com.br necting rod”. Porém, como o fenômeno ultrapassou as
A On Line Editora tem a revista que você procura! Confira algumas das nossas
publicações e boa leitura. fronteiras americanas, esta definição acabou se espa-
ARTESANATO: Apostila de Pintura • Arte & Découpage • Arte do Ideograma
• Arte em Festas Infantis • Arte em Madeira • Arte em Papel • Artesanato em
Meia de Seda • Artesanato em Pet • Bijuteria & Acessórios • Biscuit Bebê • lhando pelo mundo. Os franceses chamam seus hot
Biscuit Especial Cozinha • Biscuit Especial Ímãs • Biscuit Especial Potes •
Biscuit Extra • Bonecas de Pano • Cortinas & Bandos • Cosmética Artesanal •
Craquelê • Decoração Artística Especial • Decorando Álbuns - Scrapbooking •
rod de “bielle chaude” (quente), enquanto os italianos
Galeria em Tela • Galeria em Tela Especial • Moda em Bolsas • Passo a Passo
do Desenho & Pintura • Pastilhas e Mosaico • Pátina & Satinê • Pintura em de “bielle roventi” (ardentes) — embora nos fuja à com-
Tecido • Pintura em Tela • Pintura em Tela Especial • Sabonetes Artesanais •
Tie-Dye • Trabalhos Artesanais Especial • Velas Decorativas
MODA E BELEZA: Cabelos Afro • Cabelos Curtos • Cabelos Infantis • Cabelos
preensão como bielas, sozinhas, possam simbolizar o
Longos • Cabelos para Noivas • Figurino Debutantes • Figurino Festa • Figurino
Infantil • Figurino Moda Gestante • Figurino Moda Senhora • Figurino Moldes
• Figurino Moldes Especial • Figurino Noivas • Figurino Pajens e Daminhas •
alto desempenho de um motor ou de um carro.
Figurino Tamanhos Grandes • Unhas Decoradas
BORDADO: Arte em Barbante • Arte em Patchwork • Barradinhos em Crochê Mas isso tudo não tem a menor importância, já
• Barradinhos em Ponto Cruz • Bordados em Panos de Prato • Cordões
Encerados • Enxoval em Vagonite • Figurino Crochê • Figurino Ponto Cruz
• Figurino Tricô Inverno • Linhas e Pontos • Macramé • Moda Reciclada •
que hot rod virou basicamente sinônimo de automóvel
Monogramas em Ponto Cruz • Mouliné Bordados • Ponto Reto • Recicle e
Crie • Roupa em Crochê • Tapetes em Barbante • Tramas e Pontos • Tramas exclusivo, que se diferencia dos demais, comuns. É um
e Pontos Especial
NEGÓCIO: Meu Próprio Negócio Meu Próprio Negócio Especial
PLANTAS: Guia de Hortas e Pomar • Ikebana • O Mundo das Orquídeas • O carro especial, pelo qual seu proprietário não poupa
Universo do Bonsai • Plantas e o Feng Shui • Saúde e Cura pelas Plantas
Fitoterapia
BICHOS: A revista do Pit Bull • Adestramento & Treinamento • Bichos em Casa
tempo nem recursos para demonstrar sua paixão.
CULINÁRIA: As Melhores Receitas de Churrascos • Bolando Bolos •
Bolando Bolos Especial • Delícias da Cozinha Extra • Receitas Diet & Light • Uma avassaladora paixão, que atualmente também se
Salgadinhos & Receitas Especial
DECORAÇÃO: Anuário Casa & Decoração • Armários & Closets • Armários
de Cozinha • Banheiros & Lavabos • Casa & Ambiente Bebê • Casa &
populariza aqui no Brasil. E que, a partir dessa edição
Ambiente Bebê Especial • Cozinhas & Salas de Almoço • Decoração & Estilo
• Decoração & Lazer • Espaços Profissionais • Feng Shui em Casa • Grandes especial de Carros de Sonho - Hot Rod, passaremos a
Nomes da Decoração • O Quarto dos Filhos • Pequenos Ambientes • Projetos
para Banheiros • Quartos & Closets • Quartos de Casal • Salas & Livings •
Salas de Banho • Salas de TV dar merecida cobertura.
TURISMO: Campos do Jordão • Cancun • Cidades Históricas de Minas • Cuba
• Ecologia e Turismo • Florianópolis • Fortaleza • Lisboa • Litoral Brasileiro •
Natal • Orlando • Pacotes Turísticos • Pantanal • Paris • Porto • Recife • Resorts
Roberto Marks
Brasileiros • Roteiros de Hotéis Fazenda • Roteiros Românticos • Salvador •
Serra Gaúcha • Viagem com Filhos
VEÍCULOS: Automóveis Antigos • Dream Cars • Fúria • Pick Up’s & 4x4 •
Salões de Automóveis
ASTROLOGIA: Anuário Astrológico • Destino Astral • Simpatias e Dicas
ESPORTES: Edição Histórica Palmeiras • O Mundo do Futebol • O Mundo do
Editor Executivo
Futebol Especial
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como publicidade serão cumpridas. Cabe ao leitor avaliar cada caso e buscar
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ÍNDICE
06 ORIGENS
As raízes dessa louca paixão
14 PIONEIROS
Hot Roadster’s: Os vovôs radicais que geraram a onda
20 FORD TUDOR
Vigorosa paixão
26 CORRIDAS
Rumo aos Lagos Secos
30
36 HISTÓRIA
O nascimento do Hobby
42 FORD F-100
Sonho de juventude
08 T-BUCKET
YELLOW STAR
48 PERSONAGEM
O Rato louco por Hot Rod
CHEVY 1956
Loucuras de Verão 52
58 MADE IN BRAZIL
Prata da casa
64 LEGISLAÇÃO
Em busca da legalidade
66 AMIGOS DO HOT
Um grupo quente
As raízes desta
louca paixão
O fenômeno hot rod surgiu há mais de 70 anos,
nos Estados Unidos. Mas sua origem praticamente
remonta ao advento do automóvel
B
rasileiro é apaixonado por automóvel, diz o faz muita gente procurar desdenhar essa realidade. Ao
anúncio de uma companhia petrolífera na te- incentivar a motorização e conseqüentemente a indústria
levisão. O que dizer então dos americanos? automobilística, logo no alvorecer do século passado, os
Com quase 300 milhões de habitantes, a americanos criaram novos parâmetros para o desenvol-
América conta com uma frota que já supera vimento da nossa civilização.
os 230 milhões de veículos. Algo que significa basica- Se os europeus foram pioneiros na viabilização do
mente 1 automóvel para cada habitante, descontando as automóvel, os americanos é que difundiram o veículo
crianças, pré-adolescentes, idosos e pessoas que não como um bem de importância sócio-econômica, que não
gostam de carro — lá também tem gente que não gosta! só gerou riqueza, mas também abriu novas e impor-
Nada mais democrático. Por sinal, somente o fato de tantes perspectivas para a humanidade. Enquanto na
praticamente contar com um veículo para cada cidadão Europa diversas leis e elevadas taxas para licenciar e
já configura algo bastante democrático. permitir a circulação bloqueavam o desenvolvimento na
Além disso, o desejo do americano de possuir seu difusão dos veículos, os americanos incentivaram, ainda
próprio automóvel é incentivado em todos os sentidos, mais, o livre ir e vir, fomentando o uso do carro.
como também são permitidas modificações no carro O fenômeno hot rod, que surgiu e se difundiu por
ao “bel-prazer” do proprietário e com pouca burocracia, lá há mais de meio século, é um claro exemplo disso. A
desde que respeitadas as normas básicas de segurança, procura pelo automóvel, bem maior que a oferta, no pe-
bem definidas e de maneira democrática. ríodo pós-Segunda Guerra, criou uma necessidade que
E dizer que, para outros, democracia consiste foi rapidamente suprida nos numerosos depósitos de
especificamente na “sagrada obrigação” de votar (senão “ferro velho”, dos quais milhares de chassis, carrocerias
paga multa, além de sofrer outras sanções). E, pior: ser e motores usados foram salvos do sucateamento para
obrigado a eleger políticos que, “aboletados” no poder, voltarem a rodar com nova configuração e garantir o livre
geralmente costumam esquecer seus “firmes” ideais, ir e vir de seus proprietários.
bem como as promessas nos palanques. Independente
de matizes ideológicos ou de suas “convicções pesso-
ais”, esses políticos eternizam um círculo vicioso que RAÍZES ANTIGAS
“amarra” o País e seu desenvolvimento há várias déca-
das, renegando a própria e propalada democracia. Mas se esse fenômeno se difundiu basicamente
na segunda metade do século 20, suas raízes são
bem mais antigas. Não é nenhum exagero afirmar
que a semente foi plantada praticamente junto com o
LIBERDADE DE IR E VIR surgimento da indústria automobilística. Já no fim da
Porém, para os americanos, a sagrada liberdade de primeira década do século passado apareceram no
ir e vir é uma garantia. E, sem exageros, um dos pilares mercado americano os modelos especiais, denomi-
do invejado desenvolvimento sócio-econômico alcança- nados runabout que, como a próprio nome definia,
do por eles – apesar da popular “dor de cotovelo” que eram os esportivos da época, carros para participar
O Stutz
Bearcat 1914
pode ser
considerado
um dos
antecessores
dos hot rods
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E
m 1999, o empresá- encontrar o tão desejado Impala Como a sorte não costuma
rio Wagner Aliprandi acabou se transformando numa bater duas vezes na mesma
começou a procurar incrível mudança de planos. porta, Wagner não titubeou e
aquele que seria seu Tudo começou quando Wagner se arrematou o hot, que já veio com
primeiro carro de cole- viu, casualmente, à frente de um Hot a clássica suspensão dianteira de
ção. Admirador do Chevrolet Impala, Ford T-Bucket (denominação surgida eixo rígido com tirantes laterais e
modelo que fez muito sucesso na nos EUA durante os anos 1950 para feixe de molas transversal. Bas-
década de 1960, passou a “caçar” definir os hots desenvolvidos em cima tante raro no Brasil, este sistema
um veículo em razoável estado de do popular Modelo T, que se asseme- é utilizado na grande maioria
conservação. Buscou em anúncios lhavam a um balde). O carro estava dos T-Buckets americanos. Nos
de jornal, visitou diversas lojas do em uma loja de automóveis, mas pre- modelos nacionais, geralmente é
ramo e freqüentou inúmeros eventos cisava ser terminado – tinha apenas utilizada a suspensão dianteira do
de automóveis antigos. Mas nada. chassi, mecânica e uma carroceria de Opala, independente e de molas
Nem sinal de um modelo que lhe plástico com fibra de vidro, oriunda de helicoidais que, apesar de eficien-
agradasse. Por fim, a dificuldade de um kit importado dos Estados Unidos. te, não tem o mesmo apelo.
O tanque de
combustível
cilíndrico tem
capacidade
para 35 litros e
foi instalado na
caçamba do
T-Bucket
DETALHES com itens como o scoop (tomada de Como a proposta não é fazer
ar) e tampas de válvulas Edelbrock, viagens muito longas, o hot recebeu
EXCLUSIVOS cabos de vela e bobina Accel, vare- um tanque de combustível peque-
A cor da carroceria, motor e tas de óleo do motor e do câmbio da no, de 35 litros. Também pintado
chassi é o amarelo Gesta, mas o Ford Motosports, medidor de pres- em amarelo, a peça tem formato
“baldinho” foi devidamente “em- são do combustível Holley e cárter cilíndrico e bocal de reabastecimen-
papelado” para também ganhar cromado. Além disso, o empresário to da Yamaha RD 350. Este tanque
pequenos filetes pintados na cor mandou instalar entre o scoop e o foi instalado na pequena caçamba
dourada. Wagner ainda contra- carburador um compressor mecâ- do hot e uma tampa, revestida de
tou um tapeceiro, que recebeu a nico GMC, que é do tipo Roots. O vinil preto, protege o reservatório.
incumbência de construir um banco componente está desativado, tendo Feitas sob encomenda, as rodas de
inteiriço para o T-Bucket, desde a apenas função estética (embora alumínio têm desenho semelhante
armação de metal e madeira ao possa funcionar sem problema às do Porsche 911 e, no miolo, são
revestimento em couro preto. algum, bastando para isso instalar pintadas da mesma cor do carro.
O motor também foi embelezado os lóbulos rotativos). Já os aros são polidos e do tipo
As rodas
tem desenho
semelhantes às
do Porsche 911
e foram feitas
sob medida
O volante e as
lanternas do
T-Bucket
vieram dos
Estados Unidos
destacável, além de possibilitarem a velocímetro, conta-giros, manômetro amarelo, vieram de uma empresa
utilização de pneus como os Pirelli de óleo, termômetro de água e o californiana, enquanto a buzina em
Mandrake 120/90/16, de motocicle- de óleo, vacuômetro, voltímetro e forma de caracol e o termômetro do
ta, montados na dianteira, e o Pace- medidor do nível de combustível. Os radiador, por pura sorte, foram en-
mark SR50 195/50/15, na traseira. espelhos retrovisores externos, tam- contrados num mercado de pulgas.
Escondida sob o assento, a bém cromados, foram encontrados O resultado de tanto esforço foi
bateria divide espaço com dois alto- numa loja de acessórios de motos um hot rod digno de tal definição.
falantes Pioneer. Sendo outros dois customizadas. Por isso, qualquer semelhança com
instalados nas laterais do console, Peças como colete do radiador e os modelos que se vêem nos filmes
acima dos botões de comando. O faróis, ambos de latão, vieram junto de praia da década de sessenta,
painel tem uma comprida lâmpada com o kit, mas a capota, sapatas desfilando na ensolarada Califórnia,
de néon e os instrumentos de fundo dos pedais, pára-brisa e sua arma- ao som de bandas como Beach
branco e formato circular são da ção foram feitos em São Paulo. As Boys, Surfaris e Ventures, não será
marca Cronomac, num total de oito: lanternas laterais, também de metal mera coincidência.
HOT ROCK
Das muitas bandas de rock americanas, os Beach Boys se destacou por fazer diversas canções falando sobre
carros, rachas e também hot rods. O grupo de “surf music” californiano, surgido em 1960, em Hawthorne, Los Angeles,
era formado pelos irmãos Brian, Dennis e Carl Wilson, juntamente com o primo Mike Love e o amigo Al Jardine. Um
dos primeiros sucessos do grupo, “Surfin’ Safari”, já fazia uma alusão às woodies, camionetes típicas das décadas de
1940 e 1950 que tinham as laterais revestidas de madeira e que, no começo dos anos sessenta, eram muito utilizadas
pelos surfistas. Já em “Little Deuce Coupe” eles destacavam as qualidades de um hot rod Ford 1932, equipado com
motor de Thunderbird.
Outro hit do grupo, “409”, contava a história de um jovem que, após muito esforço para economizar cada centavo,
finalmente pôde comprar o sonhado Impala com motor V8 de 409 polegadas cúbicas. Ainda, segundo a letra da can-
ção, este Impala tinha dois quadrijets (carburadores quádruplos) e Positraction (diferencial autobloqueante). Em “Shut
Down”, eles narravam um racha de Corvette Stingray e Dodge 880, enquanto em “Ballad of Ole Besty, falavam de um
velho calhambeque transformado em bólido, tal como em “This Car of Mine”.
Mas os Beach Boys não foram os únicos que se dedicaram a cantar a paixão dos jovens americanos pelo au-
tomóvel na década de 1960. Diversas bandas também fizeram gravações “velozes”, com destaque para os Regents,
banda que ficou famosa por composições como “Hey Little Cobra” e “GTO”. (R.F.)
Foto: reprodução
Hot Roadster’s
Os “vovôs” radicais
que geraram a onda
N
a década de 1920, o Ford Modelo T era o
automóvel mais produzido em todo o mun-
do. Por isso, sua versão roadster, denomi-
nada Speedster pelo fabricante, era tam-
bém a preferida nas corridas regionais que
começavam a se popularizar nos Estados Unidos. Com
a exceção dos streamliners (monopostos específicos de
competição, popularmente chamados naquela época de
charutinhos), o Ford Speedster era praticamente o único
modelo nas corridas americanas. Mais leve, prático e
barato que os cupês e sedãs, o roadster era ideal para
as rústicas pistas que existiam na época.
Deve-se destacar também que, enquanto a Ford
incentivava de maneira velada este “espírito esportivo”,
suas concorrentes, especialmente a General Motors,
não se interessavam pelo assunto. Além disso, em 1932,
a Ford lançou o revolucionário motor V8 Flathead. A con-
figuração de motor em V e oito cilindros já era conhecida
desde o começo do século 20, mas Henry Ford e sua
equipe desenvolveram um bloco extremamente com-
pacto, leve, fundido em uma única peça, com válvulas
laterais, daí a denominação flathead: os cabeçotes não
acomodavam válvulas e eram planos. Este motor logo se
tornou padrão para quem desejava mais desempenho.
Modelos do Ford Speedster, equipados com o V8
Flathead, logo impuseram um domínio absoluto nas
provas em ovais curtos, cujo pavimento era feito com
uma mistura de carvão e alcatrão e que acabou sendo o
embrião da futura Nascar. Outro tipo de disputa que se
popularizou na mesma ocasião foi as provas de arranca-
da, onde os carros equipados com o V8 de Ford também
dominavam. Muitos pilotos, inclusive, adaptavam este
motor em chassis do Ford T com os quais já corriam nos
anos vinte.
Quando a “onda” hot rod consolidou-se como hobby,
na década de 1940, os Ford roadster fabricados nos
anos 20 e 30 foram os preferidos. Eles também ti-
nham uma vantagem extra: podiam acomodar motores
Fred Lobello (no fundo
maiores, dos modelos fabricados a partir de 1948. Mas,
à direita) e seu Ford
principalmente, eram muito baratos e fácil de serem en-
roadster 1932, adquirido
contrados nos “cemitérios de automóveis” que prolifera-
em 1941 por US$ 65
vam nos EUA. Assim, no pós-guerra, qualquer americano
Fotos: reprodução
O Ford
O Ford Roadster
Roadster de
de Jack
Jack
Calori tinha
Calori tinha motor
motor Mercury
Mercury V8,
V8,
cabeçotes Eddie
cabeçotes Eddie Meyer,
Meyer, coletor
coletor
de admissão
de admissão Weiland
Weiland ee dois
dois
carburadores Chandler
carburadores Chandler &
& Glove
Glove
podia montar um hot. Para tanto, bastava ir até um década de 1940. Vale lembrar que os roadsters dos
desses locais, comprar um chassi com uma carroceria anos 20 e 30, de um modo geral, não tinham freios nas
velha e uma mecânica Ford V8 usada, por um punhado rodas dianteiras, mas apenas um par de tambores no
de dólares e, nas horas de folga, montar o carro na gara- eixo traseiro, de tração. As rodas eram outra temerida-
gem de casa com a ajuda dos amigos. de, originais do Modelo A. Por serem fracas demais,
Recondicionar motores também era fácil e barato. foram substituídas gradualmente por jogos da marca
Além disso, havia uma grande oferta de peças, como Kelsey-Hayes. Estas também eram raiadas, mas de
anéis, bielas e pistões, a preços acessíveis. O mesmo maior resistência. Somente mais tarde começaram a
ocorria com “venenos” caseiros, como os carburadores ser usadas rodas de aço, de 16 polegadas, com calotas
múltiplos Stromberg, de segunda mão, coletores de e sobrearos cromados.
escapamento feitos artesanalmente e cabeçotes rebai- Os rodders também logo passaram a fazer uso de
xados em retíficas. É bem verdade que comandos de pneus traseiros de diâmetro maior. Muitos compravam
válvulas especiais e sistemas de ignição mais modernos pneus usados das equipes de Fórmula Indy a preços bem
eram caros para a maioria dos rodders, mas sempre baixos. A onda dos grandes pneus traseiros surgiu quan-
podia-se remediar tal situação. A retífica do motor com o do o regulamento das provas de aceleração impôs restri-
rebaixamento do cabeçote, por exemplo, mais a utiliza- ções na relação de diferencial. Vários eram os métodos
ção de álcool metílico (metanol), garantia mais potên- para dar maior tração a estes pneus: o mais comum era
cia. Estes carros, inclusive, eram equipados com uma fazer sulcos extras na banda de rodagem usando arcos
pequena bomba pneumática manual, cuja função era de serra. Isto acabou se tornando um padrão.
pressurizar o tanque de combustível. E o mais incrível é
que o sistema funcionava.
Chassi e suspensões misturavam peças de todos SONHO DE ADOLESCENTE
os modelos Ford, enquanto os freios mecânicos, a A história de Jack Calori é um bom exemplo de como
varão, só dariam lugar ao sistema hidráulico no fim da o fenômeno hot rod se difundiu. No fim da década de
1930, ainda estudante, ele tentou convencer os pais a Com o fim do conflito, o então fuzileiro naval Calori
comprarem um Ford 1932 usado, que custava na ocasião voltou para casa e, em 1946, concluiu seu roadster com
cerca de US$ 200. Como a resposta foi negativa, o um motor Mercury Flathead V8, com cabeçotes Eddie
adolescente decidiu montar seu próprio carro, o que a Meyer, coletor de admissão Weiand, dois carburado-
princípio provocou risos de parentes e amigos. Decidido a res Chandler & Glove e sistema de ignição do Lincoln
mostrar que tinha razão, Calori foi à região dos “cemitérios Zephyr. Para completar o trabalho, encomendou à Clay
de sucata” de Los Angeles onde comprou, por apenas Smith comandos de válvula especiais, além de instalar
US$ 2, os restos de um velho Ford Modelo T roadster, no carro longos escapamentos cromados e as engre-
sem mecânica, do qual utilizou apenas o chassi. Depois, nagens de câmbio do Lincoln, que eram mais robustas
numa visita à Jim White Speed Shop, loja especializada, do que as originais do Ford. O resultado foi um roadster
adquiriu por US$ 15 um motor Chevrolet de quatro cilin- capaz de alcançar 208 km/h.
dros equipado com cabeçote de Oldsmobile.
Calori também conseguiu uma carroceria de Modelo
A já com a grade da linha Ford 1932, enquanto as rodas EDELBROCK E CADILLAC
eram de Chevrolet. Em pouco tempo seu hot estava Outro roadster digno de nota foi montado por Stu
pronto. Logo, ele trocou este carro por um Ford Modelo Hilborn. Tudo começou quando ele foi ver uma corrida nos
A de quatro cilindros envenenado, com cabeçotes e car- lagos secos. Ao voltar para casa, decidiu que iria montar
buradores Winfield, que atingia quase 162 km/h. Alguns um hot. Primeiro foi a uma loja de carros usados para
meses mais tarde, Calori finalmente pôde comprar um comprar um Ford Modelo A, que começou a modificar
Ford V8 1932 preto. Só que não chegou a preparar o com o auxílio de Eddie Miller, um ex-piloto. Miller desen-
veículo, pois foi imediatamente convocado para comba- volveu um comando de válvulas especial, que foi instalado
ter na 2ª Guerra. no motor V8 Flathead comprado para equipar o roadster.
Modificado
constantemente, o hot
de Calori chegou a
utilizar longos canos
de escapamento nas
laterais
O carro, projetado exclusivamente para corridas, teve a história era verdadeira. Logo depois, Hilborn transfor-
o painel de instrumentos substituído pelo do Auburn, mou o carro num streamliner.
famoso modelo americano da década de 1930. Tratava- Nesta mesma ocasião, 1941, Fred Lobello, após
se de algo muito comum na época, pois o Auburn era um trabalhar na construção de uma aeronave, utilizou o
dos raros veículos que tinha velocímetro graduado até pagamento para comprar um Ford 1932 por US$ 62. Ele
120 mph (193 km/h), além de conta-giros. Com isso, in- conheceu os membros do San Diego Roadster Club e
clusive, foi possível a Hilborn descobrir que o motor pre- assistiu algumas provas nos lagos secos. Logo depois
parado por Miller atingia 5.000 rpm, uma façanha para o “arregaçou as mangas” e começou a envenenar o motor
bloco Flathead. O resultado fez com que Vic Edelbrock de quatro cilindros do carrinho. Um trabalho que não
pedisse para dar uma volta no carro, só para verificar se era difícil para Lobello: seu pai teve várias picapes Ford
Fotos: reprodução
Glossário Hot – A a C
A-Bone – Definição popular para o Ford Modelo A, que suplementares utilizados nos aviões de bombardeio e
sucedeu o famoso T e que foi fabricado de 1928 a 1931. caças durante a Segunda Guerra Mundial.
Ardun – kit de cabeçotes com câmaras hemisféri- Bow-Tie – gravata-borboleta, denominação popular dos
cas desenvolvidos para o motor Ford V8 Flathead, no americanos para o tradicional emblema da marca Chevrolet.
começo da década de 1950, pelo engenheiro belga, de
origem russa, e naturalizado americano, Zora Arkus- Bored and Stroked – definição para os motores que
Duntov, antes dele ser contratado pela divisão Chev- tiveram aumentada sua cilindrada tanto pelo curso dos
rolet para desenvolver o Corvette e também o motor pistões, como pelo diâmetro dos cilindros.
V8 small block.
Buggy Spring – molas de charrete, ou feixe de mo-
Belly Tank – veículo desenvolvido com base na las, que era montado transversalmente no Ford T, tanto
estrutura de duralumínio dos tanques de combustível na dianteira como na traseira.
Keith Landrigan inovou ao equipar seu
Ford 1932 com o motor de um LaSalle
Modelo A, com as quais ele aprendeu os segredos da me- e disputou provas de aceleração com um Ford Modelo T.
cânica. Em 1947, seu hot estava equipado com comando Durante o conflito, ele serviu como mecânico em porta-avi-
de válvulas Smith, cabeçotes Winfield, dois carburadores, ões da Marinha, fazendo a manutenção dos caças Corsair
sistema de alimentação pressurizado e relação de dife- e Hellcat, experiência que o auxiliou a construir seu hot.
rencial modificada. Um amigo lhe emprestou um cabeçote O motor de um LaSalle 1938 ganhou pistões maiores,
Cragar e o roadster atingiu 160 km/h, velocidade bastante além de válvulas de maior diâmetro, comando de válvulas
elevada para o pequeno motor de quatro cilindros. Winfield e cabeçotes Arco. Os canos de escape davam a
Alguns rodders também passaram a montar mecânicas volta na linha de cintura da carroceria e quase alcançavam
de outras marcas, caso de Keith Landrigan, cujo Ford 1932 as rodas traseiras, exigindo que as portas fossem soldadas.
era equipado com o motor V8 utilizado nas linhas Cadillac No interior, havia volante do Ford 1940, alavanca de câm-
e LaSalle. Este motor logo se tornou popular. Landrigan, bio na coluna de direção e instrumentos Stewart Warner.
antes da 2ª Guerra Mundial, já era membro do clube Flyers No deserto de El Mirage, o carro atingia 185,3 km/h.
Cabriolet – versão de carroceria conversível, mento volumétrico, do motor no sistema inglês de medi-
de dois ou quatro lugares, que se diferenciava dos das. Uma CI é igual a 16,387 cm³.
roadsters por ter vidros laterais que desciam e pára-
brisa fixo. CID – cubic inch displacement, polegadas cúbicas de
deslocamento volumétrico
Cammer – definição dada aos motores com coman-
do de válvulas no cabeçote e não no bloco. Refere-se Cruising – Rodar tranqüilamente com um hot ou custom,
especificamente aos motores desenvolvidos pela Ford, em baixa velocidade, sem um destino pré-determinado.
para competição, no fim da década de 1960.
Custom – Significa, basicamente, feito sob medida e
Chevy – diminutivo popular de Chevrolet define os hots desenvolvidos em cima de modelos fabri-
cados após 1948. A customização também segue regras
CI – cubic inches, ou polegadas cúbicas (pol³), uni- específicas, que variam conforme a época de produção
dade de volume usada para a cilindrada, ou desloca- do automóvel e do trabalho de modificação.
V
P gi
a o
ix ro
O ã
médico Dimitrius que, segundo lhe informaram, era
Samaras, criador “especializada” na construção de
do grupo “Amigos hots. Ele logo descobriu, entretan-
do Hot”, cultiva sua to, que a oficina praticamente não
o
paixão pelos hots mexeu no carro, apesar de cobrar
há muito tempo. Tudo começou em “religiosamente pelos serviços”.
1964, quando, ainda adolescente, “Eu paguei caro, mas basicamente
assistiu ao filme “The Lively Set” apenas pelo estacionamento do
– rebatizado no Brasil como “Demô- carro”, lembra. Desanimado, ele
nios da Pista”. O longa impressionou quase desistiu do projeto, tirando
a juventude da época, e Dimitrius o carro da oficina e levando-o para
não foi exceção. Sua cena preferida um estacionamento “de verdade”.
ocorre logo no início da projeção, Alguns meses depois, Dimitrius
que começa com um vigoroso racha. esfriou a cabeça e decidiu procurar
O tempo passou, Dimitrius profissionais de confiança.
formou-se em medicina, casou, mas Após encontrar uma nova
a idéia de ter um carro exclusi- oficina, um dos primeiros passos foi
vo, como os hots daquele filme, modificar o chassi original que, no
jamais foi abandonada. Em 2000, lugar dos feixes de mola diantei-
ele encontrou um combalido Ford ros, recebeu toda a suspensão do
Modelo A Tudor 1932. Era o que Opala. Na traseira, o eixo original
precisava para iniciar a realização deu lugar ao do Ford Maverick V8,
do velho sonho – que quase virou com relação de diferencial de 3,07:1.
um pesadelo. “O estado do veículo Ainda, na suspensão traseira, o pro-
não era dos melhores, embora já ti- prietário resolveu dar um toque de
vesse passado por alguns reparos”, originalidade: “Após estudar vários
explica Dimitrius. hots montados nos Estados Unidos,
Apesar desse detalhe, o médico decidi adaptar em cada ponta do
estava feliz com a aquisição. Juntou eixo braços móveis paralelos, além
todos os pedaços do carro e os de molas e amortecedores traseiros
levou para uma oficina mecânica Pro-Link, da moto Honda XL250”.
o
s
a
Depois de assistir a um filme sobre rodders
na década de 1960,
o futuro médico passou a sonhar em ter seu próprio
hot rod. Mais de 30 anos depois, o resultado é
um modelo de cinema
O motor 350 V8 do
Ford Tudor veio
NADA SE instalado embaixo do banco traseiro.
Mas a procura por um bloco V8
de um Chevrolet PERDE em bom estado foi longa, até que
Camaro O hot também tem freios a disco Dimitrius descobriu num ferro-ve-
ventilados na dianteira vindos do lho o conjunto de motor e câmbio
Opala, enquanto os traseiros, a Chevrolet 350 (5.700 cm³) semi-
tambor, são do Maverick. “A caixa de novo. Tratava-se da mecânica de
direção é do Escort e trabalha em um Camaro que havia pertencido à
conjunto com uma coluna ajustá- embaixada americana, mas sofrera
vel Chevrolet”, relata Dimitrius. O um princípio de incêndio. O motoris-
tanque de gasolina, originalmente ta parou no acostamento, apagou o
montado entre o motor e o painel, fogo e foi pedir ajuda. Porém, quan-
em local pouco seguro, foi substi- do ele se afastou, um caminhão saiu
tuído por um reservatório de Kombi da pista e destruiu o carro.
TUDO SE Equipado com rodas
Mangels cromadas
TRANSFORMA e pneus Cooper
Cobra, o hot também
“O motor, que tem cerca de 270
utiliza a suspensão
cv de potência, estava limpo e sem
dianteira do Opala
uma gota de óleo no bloco, o que
me animou a levar o conjunto para
casa.” A adaptação da mecânica,
porém, exigiu a fabricação de novos
suportes para os coxins, além do
encurtamento do eixo cardã. O
capô original, dobrável como era
comum na época, deu lugar a uma
pequena tampa fixa que deixou
as laterais descobertas e o motor toda a carroceria foi raspada até
exposto, enquanto a parede de fogo a chapa, para eliminar pontos de
teve de ser recuada em 20 centí- ferrugem. Após receber o fundo
metros (também para acomodar o anticorrosivo, o hot foi pintado com
motor Chevrolet). uma cor bem chamativa: vermelho
O assoalho, originalmente de Paris, tom metálico da linha Ford
madeira, foi refeito com chapas de 1997. Como os pára-choques
aço, o que garante mais resistência originais também estavam atacados
à torção. O teto, tal como faziam os pela ferrugem, foram substituídos
pioneiros do fenômeno hot rodding, por tubulares cromados, semelhan-
foi rebaixado em 7 centímetros. Na tes aos utilizados nos bugues. O
traseira, os pára-lamas tiveram as Tudor também tem rodas Mangels
caixas internas ampliadas para a cromadas e pneus Cooper Cobra
colocação de pneus mais largos e 215/60R15 e 225/60R15.
Bancos revestidos em
couro preto e painel
com instrumentos
de fundo branco
demonstram o esmero
no acabamento do hot
O teto foi rebaixado em sete
centímetros, dando ao velho
Tudor um aspecto agressivo
RUMO AOS
LAGOS SECOS
O
s registros históricos do alvorecer da Na segunda década do século 20, um entusiasta
onda hot rod são praticamente inexisten- arrojado e curioso conseguiu ir até ao inóspito Mojave de
tes. Sabe-se, entretanto, que antes de carro e, ao voltar, contou aos amigos onde estivera, de-
alguém se preocupar em documentar o talhando também que o local era ideal para desenvolver
assunto, muitas corridas foram realizadas elevadas velocidades, já que, além de desabitado, tinha
no deserto de Mojave, uma área gigantesca que se muitos e muitos quilômetros de um solo tão firme quanto
estende pelo sul da Califórnia e Nevada, e nos próprios plano. Este fato pode ser considerado como o estopim
“lagos secos” californianos que, na pré-história, eram do fenômeno hot. A partir disso muitos jovens começa-
grandes reservatórios naturais de água. ram a frequentar o local.
O deserto de Mojave, que se
estende da Califórnia a Nevada,
marcou o início da onda hot
rod, sendo palco das primeiras
provas de velocidade em reta
Foto: reprodução
velocidade nas areias da praia de Daytona, na Flórida. culo. Como a entrada era de US$ 3, ele pôde dar bons
Com isso, acabou tornando-se um mártir para os jovens prêmios aos vencedores, o que deu início à profissionali-
da época, que começaram a montar carros feitos com zação neste tipo de evento.
sucata para, tal como seu herói, estabelecer novos recordes. A iniciativa de Earl alimentou ainda mais a febre
Estes entusiastas preparavam veículos com o menor núme- de velocidade na juventude. Atentos a esta tendência,
ro de peças possível, buscando com isso deixar as “baratas” surgiram os primeiro patrocinadores, como a Gilmore
mais leves e, portanto, com melhor relação peso-potência. Oil Company, que promoveu algumas provas em 1931,
assim como George Wight, da Bell Auto Parts, loja de
acessórios, inclusive “venenos”, localizada em Bell,
PATROCÍNIO Califórnia. Tudo isso culminou com a criação da Muroc
Earl Mansell, um empreendedor de Pasadena, Ca- Racing Association (MRA), que contava com pessoal
lifórnia, realizou no lago seco de Muroc, em outubro de uniformizado e cronômetros, além de ter desenvolvido
1927, o Southern California Championship Sweepstakes. um calendário com o programa das corridas. A Gilmore
O campeonato, com várias baterias, atraiu bastante foi uma das primeiras a apoiar a iniciativa.
público. A primeira prova era reservada aos Ford Modelo Nestas provas, os competidores alcançavam médias
T roadster; a segunda, aos cupês; e a terceira, aos em torno de 145 km/h, mas Joe Mozzetti e Frank Lyons,
phaetons. A última etapa era aberta a todo tipo de veí- com modelos Ford de quatro cilindros, conseguiam atin-
Glossário Hot – D a H
Deuce – Na gíria americana é o 2 no jogo de cartas, Eight Ball – Nos anos cinqüenta era moda instalar uma
mas também serviu para denominar o Ford 1932, modelo bola de bilhar preta, de número 8, na alavanca de marchas
que lançou o motor V8 da marca. Posteriormente, os Chev- dos hots equipados com motor V8.
rolet Nova e Chevy II também receberam o mesmo apelido.
Five Windows – Definia a carroceria dos cupês com
Dropper – A suspensão rebaixada do carro reduzindo cinco vidros, quatro laterais e mais o vigia traseiro. Estes
sua altura do solo. Isto pode ser feito de diversas manei- modelos eram bastante populares na década de 1930.
ras: forjando novamente o eixo rígido dianteiro, invertendo o
feixe de molas transversal ou adotando molas helicoidais e Fordor – No começo da década de 1930, a própria Ford
amortecedores telescópicos. Em casos extremos, pode-se popularizou a denominação de seus modelos. A definição
apelar por sistemas desenvolvidos por especialistas. comercial Fordor (for-dór), das versões com carroceria de
Os clubes
ajudaram a
profissionalizar
as corridas nos
lagos secos
quatro portas, se baseava num jogo de palavras com o são os tirantes longitudinais que ligam a suspensão à carroceria.
nome da marca e a definição Four Door (quatro portas).
Hemi – Diminutivo de hemisférico e definição dada aos
Fuzzy Dice – Par de dados forrados em pelúcia e que motores V8 da Chrysler lançados em 1951, com câmaras
tradicionalmente vai pendurado no espelho retrovisor inter- de combustão hemisféricas, bastante utilizados nos rods e
no de um rod e, principalmente, de custom. customs. São produzidos até hoje pela DaimlerChrysler.
Glass – Redução popular de fiberglass, a fibra de vidro, Hot Rod – Gíria de ‘bielas quentes’, mas também o
que erroneamente costuma definir as carrocerias de material diminutivo de hot roadsters. O termo surgiu na década de
composto. Na verdade elas são de plástico, reforçadas com 1930, mas define tecnicamente os hots desenvolvidos em
fibra de vidro e, atualmente, também com fibra de carbono. cima de modelos fabricados antes de 1948. Os modelos fab-
ricados após 1948 recebem outras definições como Custom,
Hairpins – Em inglês significa grampo de cabelo. Nos hot rods Street Rods etc...
S peed
B
produção
usiness
Tão belo
Tão
o
belo quanto
Ford
deixou
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quanto raro,
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um charmoso
raro,
1940
o Ford De Luxe 1940
deixou de
de ser
ser item
item de
se transformar
transformar
charmoso e
de coleção
e irado
coleção
irado hot
hot
A
lguns modelos america- duas portas. de se encontrar alguns ainda em
nos da primeira metade Por uma série de motivos, que perfeito estado.
do século passado, vão desde a desvalorização da mo- Felizmente, sempre existem ex-
embora comuns em eda brasileira em relação ao dólar, ceções. Um bom exemplo disso é o
seu país de origem, até o início da 2ª Guerra Mundial, Ford De Luxe Business do empresá-
são objetos raros no Brasil. Por isso os veículos desta época foram im- rio Ezio Caetano de Barros, de São
mesmo, acabam sendo bastante dis- portados em quantidades reduzidas. Bernardo do Campo (Grande SP),
putados por nossos colecionadores. Além disso, muitos modelos de duas que adquiriu o carro já transformado
Modelos Ford do começo da década portas foram transformados em em hot e nem se preocupou em
de 1940 são um bom exemplo disso carreteras, uma categoria de carros fazer qualquer adaptação ou modifi-
e, por esta razão, dificilmente são “Turismo”. Quando esta deixou de cação na mecânica. Mesmo assim,
convertidos em hots, especialmente existir, a maioria deles acabou seus o veículo se mostra bastante atual,
se forem conversíveis ou cupês, de dias em depósitos de sucata, apesar veloz e confortável.
FORD CUPÊ
VENENO
LEVE
O antigo dono substituiu o
velho motor Flathead pelo tam-
bém V8, mas de 302 pol³, que
nas décadas de 1970 e 1980 foi
importado dos EUA para equipar
os modelos das linhas Maverick
e Landau. Com bloco e cabeço-
tes de ferro fundido, comando de
válvulas no bloco acionado por
corrente, virabrequim de cinco
mancais, este motor recebeu algu-
mas modificações para ficar mais
“esperto” no hot.
Os cabeçotes foram retrabalha-
dos e também receberam balancins
roletados, além de comando de
válvulas Edelbrock, com 296 graus
de duração. O carburador origi-
nal, Motorcraft de corpo duplo, foi
substituído por um quadrijet Holley,
enquanto os coletores de escapa-
mento originais foram substituídos
por um par de 4x1. Com esta receita
de “veneno”, Ezio acredita que o
motor desenvolva atualmente cerca
de 215 cv (potência líquida), 80 cv
Tanto as rodas a mais do que a potência líquida
como o motor Ford do motor original do Maverick GT
302 V8 têm origem — 135 cv, embora a Ford só divul-
americana gasse a potência bruta (197 cv), nos
anos setenta.
Raros no Brasil, os
Ford com carroceria
Na época em que o hot foi mon- Business são muito
tado, fim dos anos 80, ainda não procurados por
existia no mercado brasileiro o câm- colecionadores
bio de cinco marchas para o motor
302 V8, que só se popularizariam Assim, para substituir a suspen-
na década de 1990, quando os Ford são dianteira, o construtor do hot
Mustang voltaram a ser importados. optou pela do Opala Diplomata
Assim, a solução foi utilizar o caixa que, independente, é composta por
de quatro velocidades do Maverick braço triangular superior e simples
V8, com relações de 2,92, 2,03, 1,42 inferior com tensor, mola helicoidal, ta 1991, com discos ventilados na
e 1,00:1. A alavanca de acionamen- amortecedores hidráulicos e barra dianteira e simples na traseira.
to fica no assoalho, com trambulador estabilizadora. Quando Ezio comprou o Bu-
de pick-up F-100. A suspensão do Diplomata tam- siness, ele veio com um jogo de
bém foi usada na traseira, com mola rodas de liga leve tipo estrela, as
helicoidal, tensor longitudinal, barra quais, originalmente, equipavam o
SUSPENSÃO Panhard, amortecedor hidráulico e Puma GTB S2. O conjunto, apesar
CHEVROLET barra estabilizadora, mas devida- de adequado ao esportivo brasileiro,
Os modelos Ford, no começo da mente adaptada ao eixo traseiro do não “casava” com as linhas arredon-
década de 1940, ainda utilizavam Maverick V8, o que possibilitou usar dadas do Ford, e logo foi substituí-
molas semi-elípticas em ambos os a relação de diferencial deste mo- dos por quatro modelos Centerline
eixos rígidos, configuração inade- delo: 3,07;1. Como os freios do Ford vindos dos EUA e “calçados” com
quada para qualquer carro do qual deixavam a desejar, adaptou-se o pneus Fastgoma 185/50-15 e Coo-
se pretenda elevado desempenho. conjunto servoassistido do Diploma- per Cobra 265/50-15.
O painel do
hot segue
o desenho
original do
Ford, mas
tem novos
instrumentos,
devido à
utilização do
motor 302
HOMENAGEM
CURIOSA
O interior do carro, revestido em
tecido cinza, ainda não sofreu alte-
rações, mas deve ser modificado em
breve. Atualmente, o Business está
equipado com os bancos dianteiros
do Opala Diplomata, mas ancorados
em uma plataforma metálica de vin-
te centímetros. O volante de quatro
raios, assim como a coluna de dire-
ção, é o mesmo do Corcel II. Mas o
atual proprietário do carro pretende
dar um toque mais esportivo, com
volante de desenho mais adequado.
O painel do hot é praticamen-
te original, embora o velocímetro,
graduado até 200 km/h, tenha sofrido
alterações internas para garantir uma
melhor leitura devido à utilização da
nova mecânica. Um fato curioso: no
velocímetro também está gravado o
nome “Luís Felipe”, uma homena-
gem do construtor a seu então futuro
filho – já que sua esposa engravidou
durante a montagem do carro.
Os demais instrumentos, típicos
dos Ford da década de 1940, são o
marcador do nível de combustível,
Confortáveis,
termômetro de água, manômetro de
os bancos
óleo e voltímetro. O relógio, curio-
dianteiros
samente, se encontra instalado na
são do Opala
tampa do porta-luvas, em frente ao
Diplomata
banco do passageiro. Mas isso não
é problema, já que dirigi-lo é algo tão
agradável que o motorista dificilmen-
te vai se preocupar com o tempo.
MOSCA BRANCA
Os modelos cupê começaram a se popularizar durante a década de 1930. No fim dela, já tinham uma boa fatia do
mercado americano. No Brasil, que praticamente importava toda sua frota dos Estados Unidos naquela ocasião, os
modelos de quatro portas ainda eram os preferidos. Num país pobre, com limitações na balança comercial, automóvel
era mais um investimento do que bem de consumo. Por isso, cupês e conversíveis naquela época eram por aqui defini-
dos como “carros de rico”.
Este é o principal motivo de ser tão difícil encontrar modelos como o que ilustra esta reportagem. Além disso, com o
início da 2ª Guerra, em setembro de 1939, as relações comerciais dos países ficaram mais morosas, ao mesmo tempo
em que os submarinos da marinha alemã passaram a atacar todo tipo de embarcação no Atlântico, inclusive navios
mercantes. Para completar, após os Estados Unidos entrarem na guerra, bem no final de 1941, o governo americano
suspendeu a produção de automóveis para uso civil, que só foi retomada com o fim do conflito, em agosto de 1945.
Por tudo isso, conseguir encontrar um modelo cupê como o Ford De Luxe Business é uma façanha – “mosca
branca”, como era comum os comerciantes de automóveis da época denominarem os modelos raros, difíceis de en-
contrar. Por sinal, muitos cupês do fim dos anos trinta e começo dos quarenta acabaram sendo importados usados,
após a guerra. Estes modelos também eram os preferidos dos pilotos de carretera. A categoria que surgiu na Argentina
denominada “Turismo Carretera”, antes da Segunda Guerra, acabou também se popularizando no Brasil.
Os carreteras podem ser considerados os primeiros modelos hot rod na América do Sul. Além disso, na déca-
da de 1950, eles passaram a ser equipados com motores V8 modernos do Corvette e do Thunderbird e
continuaram sendo utilizados em larga escala nas corridas, não só na Argentina, como aqui
no Brasil, até a metade da década de 1960. Mas com o crescimento acelerado da
indústria automobilística brasileira, os carreteras foram rapidamente
abandonados, encerrando um importante ciclo no movi-
mento rodder brasileiro.
Roberto Marks
O
A trajetória surgimento do fenômeno hot rod começou
Fotos: reprodução
na primeira metade do século passado,
do fenômeno quando os pioneiros disputavam corridas
hot rod só de aceleração em linha reta nos lagos se-
começou a ser cos californianos. Era uma forma barata de
pilotos amadores competir. Estes apaixonados, porém,
documentada
acabaram desaparecendo antes de darem qualquer tipo
recentemente. de depoimento, dificultando a documentação do movi-
Por isso, mento hot rodding. Talvez por isso não exista uma data
precisa indicando o início da onda, embora os especia-
muitas
listas sobre o assunto concordem que ela passou a se
informações difundir com força durante a década de 1930.
acabaram A primeira geração de hots era basicamente da
perdidas marca Ford, empresa que dominou o mercado america-
no até o começo dos anos 30, quando lançou também o
motor V8 Flathead (“cabeçote plano”, devido ao desenho
destes propulsores, que não acomodavam válvulas pois
elas ficavam no bloco), fundido em um bloco único que,
além de compacto e de bom desempenho, tinha preço
acessível. Originalmente com 65 cv, o Flathead logo
passou a ser adaptado em outros chassis de modelos da
marca fabricados anteriormente, como o A, lançado em
1928, e especialmente o popular modelo T. Em pouco
tempo, estes modelos híbridos foram denominados T-bu-
cket (“T-balde”, devido ao formato da carroceria). Vale
lembrar que, mesmo atualmente, as carrocerias Ford
ainda são as mais populares na construção de hots, de
alumínio ou plástico reforçado com fibra de vidro.
As criações
de Boyd
Coddington
dão um
exemplo do
futuro dos
hot rods
Popcorn Wagon,
um típico
hot rod feito
exclusivamente
para exposições
O nascimento do
O Ford
Modelo A de
Tony LaMasa,
coadjuvante
mecânico
do seriado
americano
“Ozzie and
Harriet Show”
Eliminator 34,
hot da banda
texana ZZ Top
nhauser e câmbio de Mercury 39. Em 1952, ele atingiu Outro carro famoso nesta época foi o Ford Modelo
227 km/h no lago seco de El Mirage, estabelecendo A roadster de Tony LaMasa, equipado com o motor 265
novo recorde para este tipo de veículo. V8 do Chevrolet Corvette 1956, que estrelou o seriado
Outros modelos foram surgindo ao longo dos anos, de televisão “Ozzie and Harriet Show”. Em 1968, Joe
mas nada comparável às criações revolucionárias de Wilhelm, fugindo às linhas dos hots tradicionais, criou o
dois ícones do movimento rodder: Ed Roth e George Wild Dream. Este carro, de apelo “surfístico”, também
Barris, o rei dos customizadores. As competições de tinha motor V8, mas destacava-se pela carroceria feita
arrancada também evoluíram, conforme comprovou Hot em alumínio, pintada na cor dourada, de estilo futurista.
Rod em setembro de 1962, quando a revista mostrou o
Ford Modelo A de Don Waite (com motor 252 V8 Hemi
do DeSoto 1952), que percorreu o quarto-de-milha em NOVAS TENDÊNCIAS
10,5 segundos. A década de 70 marcou o surgimento de uma nova
Devido aos muitos acidentes envolvendo hots, além denominação: street rod. Os carros com esta tendência
do advento dos “muscle cars” (carros de motores extrema- eram mais “calmos”, seus motores e suspensões eram
mente potentes), a década de 1960 não foi muito pródiga mais adequados ao uso cotidiano, algo muito difícil nos
na difusão do hot rodding. Apesar disso, eventos que modelos tradicionais, que ainda usavam feixes de mola,
promoviam concursos tornaram-se ainda mais importan- sistemas de arrefecimento antiquados e comandos de vál-
tes. O construtor Dean Jeffries (“pai” do Monkeemobile) vulas que ocasionavam marcha-lenta bastante irregular.
chegou a montar seu mais famoso hot, denominado Mas modelos de exposição continuaram a ser
Mantaray, sobre um chassi Maserati de Fórmula 1. construídos, como o espalhafatoso Popcorn Wagon, de
Fotos: reprodução
Neikamp,
eleito o mais VOLTA ÀS ORIGENS
belo roadster No fim da década de 1990, come-
da América çaram a surgir modelos que, apesar de
lembrarem os hots tradicionais, apre-
sentavam chassi de tecnologia moderna
equipados com suspensões indepen-
dentes e motores transversais instalados
entre eixos, inclusive de origem japonesa.
Ao mesmo tempo, os rodders americanos
iniciaram um movimento que mostra a
faceta erudita no hobby: a restauração de hots
antigos, já que hoje é muito difícil encontrar car-
rocerias anteriores à guerra em ferro-velhos.
Assim, modelos das décadas de 40, 50 e 60
encontrados em estado de abandono ou repletos de
adaptações, são reconstruídos seguindo fielmente
as especificações originais, o que implica não só na
troca de acessórios, mas também na substituição de
motores e caixas de câmbio. A importância histórica
destes veículos compensa o esforço. Como tudo que
move a economia americana, ela também se traduz no
movimento de muitos milhões de dólares.
SONHO DE
JUVENTUDE
Esta velha
Esta velha picape
picape F-100
F-100 foi
foi
totalmente recuperada
totalmente recuperada ee
convertida em
convertida em um
um legítimo
legítimo hot
hot rod
rod
O
sonho do rodder modelos de origem americana e, linhas arredondadas, bem diferentes
geralmente começa na a partir de 1957, a linha “F” nacio- daquelas que ele então ajudava a
adolescência ou na ju- nalizada de caminhões e picapes, montar. O tempo passou e Walter
ventude. Com o ex-me- seguida mais tarde pelo Galaxie, acabou saindo da Ford para montar
talúrgico Walter Tessler LTD, Landau e Maverick. seu próprio negócio. Anos mais
não foi diferente. Em sua juventudo, Uma antiga F-100, utilizada pelo tarde, já como um empresário bem
durante a década de 1970, ele já era corpo de segurança da empresa sucedido, a imagem da F-100 tei-
funcionário da Ford e trabalhava na desde o começo dos anos 1960, mava em não sair da sua memória.
extinta linha de montagem localizada era o veículo que mais chamava a Assim, em 1996, quando encontrou
no bairro do Ipiranga, em São Paulo. atenção do jovem aprendiz. Para um modelo 1959, não pensou duas
Lá, desde 1953, eram montados os ele, destacava-se a beleza das vezes para fechar negócio.
Volante e
Volante e instrumentos
instrumentos
de painel
de painel importados
importados
tornam a
tornam a F-100
F-100 hot
hot
ainda mais
ainda mais exclusiva
exclusiva
A picape
A picape 1959
1959 éé um
um
modelo muito
modelo muito procurado
procurado
por contar
por contar com
com pára-
pára-
brisas panorâmico
brisas panorâmico e
e
caçamba “step
caçamba “step side”
side”
A mais popular
A linha “F”, que define os veículos comerciais da Ford, surgiu em 1948 com o lançamento da picape F-1. Desde
então, vem sendo produzida ininterruptamente nas mais diversas configurações. De picapes a caminhões, já que para
os americanos é tudo a mesma coisa: tanto uma picape como um caminhão são definidos apenas como truck. A linha
“F” é também a líder de vendas no ranking geral de veículos comercializados nos Estados Unidos. Anualmente, cerca
de 1 milhão de unidades desta linha são vendidos no mercado americano, com destaque para as picapes. Conforme
dados da própria Ford, a produção total desta linha, em mais de 55 anos, está na casa de 30 milhões de unidades.
A F-100, que atualmente não está mais em linha de produção, é o modelo mais popular desta família. Produzida
ou montada em diversos países, além dos Estados Unidos e inclusive no Brasil, a F-100 pode ser considerada como
um dos modelos mais importantes da história do automóvel. Lançada em 1953 para suceder a F-1, ficou em produção
por trinta anos, até 1983. Mas é a primeira geração (produzida nos Estados Unidos até 1957 e no Brasil de 1957 a
1963) a preferida pelos rodders em todo o mundo. Pelo seu estilo exuberante, com os volumes muito bem definidos
destacando-se o conjunto de grade, capô e pára-lamas dianteiros, o projeto original da F-100 atiça a criatividade dos
que querem um modelo com o verdadeiro espírito Hot Rod.
No Brasil, ela foi produzida a partir de 1957, com o motor V8 de 272” (4.500 cm3). Em 1959, sofreu pequenas, mas
importantes alterações, destacando-se a instalação do pára-brisas panorâmico. Esta versão ficou em linha até 1963,
quando foi sucedida pela segunda geração do modelo, de linhas mais retas. A produção brasileira da primeira geração,
entretanto, foi pequena: inferior a 30 mil unidades. Por isso mesmo não é fácil encontrar uma F-100 desta série, espe-
cialmente original e em razoável estado de conservação. Mesmo assim, se o desejo é montar um hot diferenciado, vale
a pena procurar pelo modelo.
Roberto Marks
O Rato louco
por Hot Rod
Talentoso, excêntrico e bonachão, Ed Roth
representou a síntese da
cultura rodder norte-americana
U
m dos nomes mais importantes do movimen- primeiro carro, que batizou de Excaliber.
to rodder, Ed Roth nasceu em Beverly Hills, Após dar baixa no serviço militar, casou-se com
luxuoso bairro de Los Angeles, em 4 de mar- Sally, namorada dos tempos de adolescência, com quem
ço de 1932. Seu pai, um imigrante alemão foi morar na Carolina do Sul. Para sustentar a família,
que trabalhava como motorista particular Ed começou a trabalhar como vitrinista nas lojas Sears,
para gente rica, acabou perdendo o emprego no difícil Roebuck. Nas horas de folga, no entanto, extravasava
período da Grande Depressão. Assim, pouco tempo a imaginação fazendo pinturas especiais nos carros de
depois de Ed nascer, os Roth mudaram-se para uma amigos. Esse serviço “extra” o levou a conhecer Oscar
casa menor e mais simples, localizada em Bell, bairro de “The Baron” Crozier e Tom Kelly, com quem abriu uma
pessoas de baixa renda. oficina de personalização (o atual tuning) em 1958. O trio
Ed, porém, cresceu em um lar austero e cercado por passou a ser conhecido como “The Crazy Painters” (ou
uma estranha personalidade do pai, que tinha fixação seja: Os Pintores Malucos).
por símbolos militares germânicos. O tradicionalismo
da família era tal que o futuro rodder, antes de entrar
na escola, não falava uma palavra em inglês. No lar dos
FORA DA LEI
Roth, o idioma oficial era o alemão. Ed e Gordon (seu Os trabalhos dos “Pintores Malucos” logo fizeram mui-
irmão mãos novo) logo demonstraram grande habilida- to sucesso, em especial as chamas e os “scallops”, faixas
de técnica na construção de miniaturas de aeroplanos espalhadas pela carroceria do veículo que se tornaram
e manuseio de kits de química. Gordon, inclusive, se muito populares na época. Ed, já então apelidado de “Big
formaria como engenheiro químico anos mais tarde. Daddy” (Paizão), teve tempo para criar o Rat Fink (Rato
Trapaceiro), personagem que estamparia em muitas de
CAÇANDO suas camisetas e carros, além de dar andamento no pro-
jeto do carro que desenhara nos tempos de força aérea.
EXTRATERRESTRES Viabilizar a construção do Excaliber não era, porém,
Ed também teve seus arroubos de rebeldia adoles- tarefa fácil, devido às linhas avançadas, apesar do
cente. Seu primeiro carro, adquirido quando tinha ape- veículo ter como inspiração os conhecidos T-Buckets.
nas 14 anos de idade, foi um Ford 1934 cupê (embora Foi quando Ed lembrou de uma velha foto em que
algumas fontes indiquem um Chevrolet 1939). Com este Henry Ford, munido com um machado, golpeava uma
carro, ele participou de rachas e fez diversas modifica- carroceria feita de plástico reforçado com fibra de soja
ções. Para justificar estas mudanças, dizia ao pai que procurando demonstrar a durabilidade daquele material.
elas serviam para “aumentar a segurança”. Aquilo ficou na cabeça de Ed até que, ao passear numa
Graduado na Bell High School em 1949, ingressou praia, observou alguns surfistas com pranchas que lhe
no East Los Angeles Junior College e, dois anos depois, chamaram a atenção.
entrou para a Força Aérea dos Estados Unidos. Sua Foi a primeira vez que Ed viu um objeto feito de plás-
primeira missão foi totalmente anticonvencional: como tico reforçado com fibra de vidro, mas ele só passaria a
cartógrafo, Ed foi mandado para a África com a curiosa dominar os segredos do composto após conhecer um
incumbência de documentar objetos voadores não-i- rodder chamado Shadoff, que utilizava o material sintéti-
dentificados. Como os marcianos não apareceram, ele co em seu speedster. Big Daddy moldou a carroceria do
teve tempo ocioso suficiente para fazer os desenhos do Excaliber, cujo nome acabou sendo alterado para Outlaw
Fotos: reprodução
Roth ao lado de
uma de suas
criações, o
Beatnik Bandit
Ao lado, o Little
Jewell, um dos
primeiros carros
de Roth. Abaixo, o
Excaliber, depois
denominado Outlaw, e
o bimotor Mysterion
(Fora da Lei), e a pintou de branco, verde e prata, além helicoidais. A mecânica também era da mesma marca,
de colocar pára-brisa do Dodge 1922 e lanternas trasei- com motor 303 Rocket V8 (4.965 cm³), mas com com-
ras do Chevrolet Bel Air 1958. pressor Roots e dupla carburação.
O conjunto foi montado em um chassi especial, A carroceria, como a do Outlaw, que não tinha portas
cromado, cuja suspensão dianteira, ao contrário dos e era de plástico e fibra de vidro, foi pintada em bran-
T-Buckets da época, utilizava molas helicoidais em lugar co com “scallops” que iam do bronze ao dourado. Os
do feixe único transversal. O motor do Outlaw era um V8 bancos eram individuais e, no meio deles, uma grande
de Cadillac 1949 de 331 pol³ (5.424 cm³), alimentado alavanca cromada servia como direção e que também
por quatro carburadores Stromberg. A caixa de câmbio, incorporava os comandos do freio e do acelerador. Outro
também do Cadillac, tinha três marchas. Rodas croma- destaque do Beatnik Bandit era sua capota transparente
das, originais do Mercury, sendo que as dianteiras foram feita em acrílico.
substituídas por raiadas. O interior em couro branco Tudo começou quando Ed viu o dream car “Mac
tinha volante de Chevrolet Impala. Finalizado em 1959, o The Knife” do roqueiro Bobby Darrin, que fazia uso do
Outlaw foi um dos mais famosos show cars de sua época. mesmo artifício. O problema é que Big Daddy não sabia
como copiá-la, até que teve uma grande idéia: comprar
BEATNIK BANDIT uma peça de acrílico plano, fixá-la num aro metálico e
esquentar tudo no forno de uma pizzaria. Assim, o mate-
Outro hot rod de Ed foi o Tweedie Pie, um Modelo T rial sintético foi derretendo e formando a “bolha” utilizada
com chassi de Ford 1932, encurtado, e motor Chevrolet no Beatnik Bandit.
V8 small block equipado com coletor de admissão Offe-
nhauser e seis carburadores. Finalizado em 1960, o Twe-
edie Pie era um belo hot rod, mas foi totalmente eclipsado
NOVOS CAMINHOS
pela “loucura” seguinte de Big Daddy: o Beatnik Bandit. Em 1962, Ed entrou no campo dos dream cars,
Baseando-se numa proposta de Joe Henning, reda- criando o Rotar. Um curioso veículo, que mais parecia
tor da revista Rod & Custom, que sugeriu a construção uma nave espacial de três rodas e com dois motores de
de um hot rod futurista, Ed optou pelo chassi modificado 650 cm³ de moto Triumph. No ano seguinte, Big Daddy
do Oldsmobile 1955, que já tinha suspensão com molas montou o Mysterion. A base deste carro era um chassi
cromado com longarinas perfuradas. As rodas diantei- misturava o estilo de carruagem com bolo de noiva e a
ras, feitas pela Cragar, utilizavam pneus 3,26x16 das maluquice também tinha um caixão infantil como porta-ma-
motocicleta Harley-Davidson, enquanto nas traseiras las, além de pára-lamas no formato de prancha de surfe.
destacavam-se enormes rodas Rader montadas com Mas a série foi cancelada antes do hot ficar pronto. Mesmo
pneus Mickey Thompson de arrancada. assim, o espalhafatoso veículo fez sucesso virando capa
Mas o mais curioso é que o Mysterion era equipado da revista Hot & Custom de janeiro de 1967.
com dois motores Ford big block, de 406 polegadas cú-
bicas (6.653 cm³) montados paralelamente, sendo cada
VERSÁTIL ATÉ O
um alimentado por três carburadores de corpo duplo.
O sistema de transmissão também era duplo, contando GRAND FINALE
com duas caixas automáticas e cada uma tinha sua pró-
A simpatia de Big Daddy pelos Hell´s Angels também
pria coroa e pinhão, com os dois diferenciais montados
fez com que ele criasse, na década de 1970, o “curioso”
no mesmo eixo traseiro.
triciclo com motor VW “a ar”, que acabou sendo copiado
em todo o mundo e mostrou mais uma faceta da ver-
satilidade de Ed Roth. Ao completar 63 anos de idade,
FAMÍLIA ADAMS
em 1995, Big Daddy agitou o meio rodder ao apresentar
Fanático pelo seriado de televisão “Família Adams”, o Beatnik Bandit II. Este carro tinha motor Chevrolet
Big Daddy resolveu construir um carro gótico para a 350 V8 (5.735 cm³) descoberto e, tal como o primeiro
série, já que o seriado concorrente: “Os Monstros”, uti- Beatnik Bandit, o segundo também tinha carroceria de
lizava hots construídos por George Barris. Daí nasceu plástico e fibra de vidro com capota tipo bolha.
o Druid Princess (Princesa Druida), modelo equipado A última criação do construtor foi o Stealth, pequeno
com motor Chrysler big block 383 V8 (6.276 cm³), câm- e inacabado hot com mecânica do Geo Metro da GM,
bio manual de três marchas e suspensões por molas modelo baseado no Suzuki Swift. Big Daddy morreu em
helicoidais cromadas. 4 de abril de 2001, antes de finalizá-lo. Ele foi enterrado
A maior parte das peças do Druid Princess foi compra- no Manti City Cemetery, em Utah, num caixão especial,
da em ferro-velho, como blower GMC, faróis de Reo 1909 de madeira avermelhada, filetes dourados e a figura de
e radiador de furgão Dodge 1960. Mas as rodas Cragar SS Rat Fink estampada. Como ele mesmo dizia, “Once a
e os pneus Firestone “Indy” estavam na última moda no fim rat, always a rat... Rat Finks forever!” (“Uma vez um rato,
da década de 1960. A carroceria, de plástico/fibra de vidro, sempre um rato... Rato Trapaceiro para sempre!”).
Fotos: reprodução
O Tweedy Pie
foi o último hot
“normal” do
construtor, que
também criaria o
personagem Rat
Fink e o gótico
Druid Princess
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Texto: Rogério Ferraresi / Fotos: Saulo Mazzoni
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Para evitar guinchar o carro toda se perdido, não foi difícil comprar o largo deram visual
a vez que fosse necessário movi- carro por um preço relativamente agressivo ao Bel Air
Segundo Eduardo, o motor pára-choques e, além do pára-bri- dos “Tri-Chevy” 1955/56/57. Mas
preparado passou a desenvolver sa, importou dos Estados Unidos elas tiveram seus aros substituí-
240 cv, contra os 195 cv originais. inúmeras peças e detalhes de dos por outros mais largos, de oito
Para aproveitar a maior potência, acabamento, como maçanetas, fri- polegadas (as originais eram de
o rodder procurou um câmbio mais sos, emblemas e outras miudezas. sete). Isso permitiu a montagem
moderno, encontrado num Chevro- Internamente, os vidros ganharam de pneus Cooper Cobra Radial
let Malibu 1983 que estava sendo máquinas de acionamento elétrico, GT, importados dos EUA, nas
desmanchado. A caixa automática enquanto os bancos, ainda origi- medidas 235/60-15, na dianteira,
TH-350, de três marchas, mostrou- nais, foram revestidos com capas e 255/60-15, na traseira.
-se mais adequada à nova “identi- de couro preto. A única modificação O street ficou totalmente
dade” do Bel Air street. no painel de instrumentos, que pronto apenas em 2002, mas,
mantém o velocímetro graduado até desde então, é uma das atrações
MONTANDO 110 milhas por hora, foi a coloca- nos encontros de carros antigos,
ção de um manômetro de óleo da incluindo os eventos promovi-
TUDO marca Smiths. dos pelo grupo “Amigos do Hot”.
Terminados os trabalhos na Como a idéia de Eduardo era Durante estes encontros o carro
lataria, mecânica e elétrica, o dar ao Bel Air um estilo clássi- de Eduardo sempre chama muito
street foi pintado na cor branca e co, as rodas ainda são de aço e a atenção: afinal de contas, este é
entrou no processo de montagem. utilizam as calotas do Chevrolet um Bel Air para Bob Falfa nenhum
O proprietário mandou cromar os Two-Ten, modelo mais simples botar defeito.
AMERICAN GRAFFITI
Em 1971, o então desconhecido diretor George Lucas finalizou THX 1138, filme de ficção científica que, ao con-
trário de seus futuros trabalhos, foi um grande fracasso. Para esquecer o fiasco, Lucas realizou durante 1972, com um
modesto orçamento de US$ 750.000, a comédia dramática American Grafitti, que tinha como pano de fundo os desejos
da juventude americana no início da década de 1960.
Os maiores astros de American Grafitti, que no Brasil foi denominado “Loucuras de Verão”, não eram seus atores,
mas sim o hot rod Ford 1932 five-windows de John Milner (Paul LeMat) e o Chevrolet One-Fifty, versão básica do Bel
Air 1955 de Bob Falfa (Harrison Ford). Ambos os veículos realizam o “racha” do fim do filme, onde o Chevrolet preto
capota devido à interferência da atriz Cindy Willians. Por sinal, um trecho que geralmente costuma ser cortado nas
reprises da televisão.
Vale destacar que o five-windows era um típico hot daquela época, mas o Bel Air, um street, ainda era algo raro.
Por sinal, o Bel Air de Harrison Ford (que durante o filme foi apelidado de “Harrison Chevy” pelos colegas do elenco),
equipado com motor 454 V8 e câmbio manual de quatro marchas, era na verdade o mesmo carro utilizado em outro
filme marcante na “cinematografia” do automóvel: “Two-Lane Blacktop”, de 1971, que tinha como atores principais o
cantor James Taylor e Dennis Wilson, baterista do grupo The Beach Boys.
No Brasil, este filme recebeu o título de “Corrida sem Fim” e mostra os dois personagens atravessando os
Estados Unidos, com dinheiro apenas para comer e para a gasolina. O dinheiro, por sinal, era ganho em apostas
de rachas pelo caminho, sendo que Taylor, ainda bem cabeludo, era o “piloto” do carro, enquanto Wilson, seu fiel
escudeiro, o “mecânico”. (R.F.)
Cartaz de American
Grafitti, primeiro
sucesso de George
Lucas, diretor que
ficaria conhecido
pela série Star Wars
Fotos: reprodução
casa
O
desenvolvimento do antigomobilismo no Para os apaixonados brasileiros que desejam,
Brasil, mesmo colaborando com a preser- atualmente, construir um hot baseado nos primeiros
vação de nossa história automobilística, foi modelos, anteriores à Segunda Guerra Mundial, a so-
acompanhado de alguns efeitos colaterais. lução mais indicada é recorrer às réplicas de plástico
O maior deles é a supervalorização dos ou de fibra de vidro, já que a mecânica é bem mais
carros, inclusive exemplares em péssimo estado de fácil de se encontrar. Felizmente, nos últimos anos,
conservação e que muito bem poderiam ser usados na vem prosperando no País uma indústria especializada
construção de hot rods. na construção de kits de hots.
UM T-BUCKET NACIONAL que poderia trazer tudo por um determinado valor, dentro
de suas possibilidades. Porém, quando o amigo que mo-
Um dos exemplos desta florescente indústria é a rava nos EUA recebeu o kit e procurou uma companhia
Jor Racing, empresa criada por Jorge Paes Fernandes de navegação para embarcar a encomenda, Jorge teve
Junior em São Paulo. Um fanático pela obra de Ed “Big uma surpresa desagradável.
Daddy” Roth, Jorge tem até o personagem Rat Fink O orçamento o deixou assustado. Ele percebeu que
tatuado no braço e há muitos anos está envolvido com o o valor total do transporte e taxas era muito superior
movimento rodder no Brasil. ao preço do próprio kit. O problema é que os cálculos
Ele pesquisou os hot rods mais populares vendidos deveriam ser feitos por cubagem, o volume da carga, e
em kits nos Estados Unidos e decidiu importar um do não pelo peso. Assim, ele pediu para o amigo guardar a
T-bucket. Isso foi há 11 anos, em 1994. Após consultar carroceria por lá, durante algum tempo, enquanto junta-
um amigo que morava na terra do Tio Sam, soube que va dinheiro para pagar o transporte.
poderia trazer o conjunto dentro de um contêiner de na- Ao mesmo tempo, solicitou ao amigo a remessa da
vio, o que lhe encorajou a dar início do projeto, que virou planta pelo correio. Assim, pelo menos pôde começar
uma verdadeira aventura. a construir o chassi. Tempos depois, quando conseguiu
Após enviar o dinheiro para a compra do kit (carro- juntar o dinheiro do transporte para finalmente trazer a
ceria e planta do chassi), ele calculou as despesas de carroceria para o Brasil, o chassi já estava pronto. Jorge
transporte com base no peso da encomenda e concluiu logo iniciou o processo de montagem do T-bucket.
A estrutura do chassi construído por Jorge tem sus- assessoria técnica, Jorge abriu a Jor Racing no fim
pensão dianteira com eixo rígido tubular, feixe de mola de 2003, para lançar no mercado brasileiro o primeiro
transversal e dois braços longitudinais, denominados T-bucket “de série”.
hairpins. Na traseira, o hot também é equipado com eixo O interesse gerado pelo lançamento animou os
rígido, amortecedores embutidos em molas helicoidais, sócios a aumentar os investimentos. Atualmente, além
hairpins e barra Panhard com balancins. de fabricar o kit do T-bucket, a Jor Racing também está
De acordo com o construtor, todos os elementos desenvolvendo o kit em plástico ou fibra de vidro do
foram reforçados para se adequarem ao piso das ruas e Ford 1931, nas versões roadster e cupê five-windows.
estradas brasileiras. O eixo dianteiro, por exemplo, tem Esta, igual ao carro do personagem John Milner no filme
52 mm de diâmetro contra 47 mm do kit original. O pro- American Grafitti.
tótipo equipado com motor de seis cilindros e câmbio do
Chevrolet Opala 250S, com 4.100 cm³, ficou pronto no
fim de 2002, quando foi submetido a uma série de testes
EM BUSCA DA VITÓRIA
para afinar os componentes. Outro fabricante de réplicas de hots é a Americar,
Depois, o carro foi totalmente desmontado para a de Santo André (Grande SP). Tudo começou em 1995,
criação do molde da carroceria e gabarito do chassi, quando Cleber Jean Araújo Lopes (o “Malvado”), junto
para entrar em produção seriada. Em parceria com com dois amigos, decidiu importar um kit do cupê Willys
Ricardo Teixeira, responsável pela parte comercial e Paisman 1941. Este carro ficou famoso no filme “Em
O T-Bucket
fabricado pela
Jor Racing,
empresa
criada por
Jorge Paes
Fernandes,
grande
admirador de
Ed Roth
Fotos: reprodução
fabricação de hot rods. Baseado na experiência adquiri-
da ao construir carros de corrida, ele importou o molde
da carroceria do Ford three-windows 1934 e passou a
fazer réplicas na sua empresa, a SS Fiberglass, localiza-
da em São José do Sul (RS), município que fica a 80 km
de Porto Alegre.
Em uma área de 2.000 m², Kranz constrói a carro-
ceria de plástico reforçada com fibra de vidro, que já
vem com teto rebaixado e é montada sobre um chas-
si desenvolvido pelo próprio rodder. Este chassi utiliza
solda Mig, como nas montadoras, que é aprovada pelos
organismos responsáveis pelas vistorias no Estado do
Rio Grande do Sul.
Onde encontrar
AMERICAR VEÍCULOS ESPECIAIS JOR RACING
Av. Santos-Dumont, 621, Casa Branca, Rua Tenente Ubirajara Monory 75, São Paulo, SP,
Santo André, SP, CEP 09015-330 CEP 04345-020 Fone (11) 5016-3648
Fones (11) 4427-7493/4432-2966 www.jorracing.com.br / vendas@jorracing.com.br
www.americarveiculos.com.br /
americar@americarveiculos.com.br SS FIBERGLASS
www.ssfiberglass.com.br
EM BUSCA DA
Trafegar sem ser vítima de abuso de poder não é
apenas um direito do rodder, mas também um dever
Art. 1º: Nos veículos e motores novos ou usados,
mediante prévia autorização da autoridade competente,
do Estado.
poderão ser realizadas as seguintes modificações:
Muitos imaginam que é ilegal, no Brasil, realizar I - Espécie;
alterações que modifiquem as características origi- II - Tipo;
nais de um automóvel, o que vem causando sérios III - Carroçaria ou Monobloco;
prejuízos a muitas pessoas. Lendária, esta idéia IV - Combustível;
não reflete a realidade, mas, para a infelicidade de V - Modelo/versão;
nossos rodders, tornou-se uma arma nas mãos de VI - Cor;
policiais inescrupulosos, que ameaçam apreender VII - Capacidade/Potência/cilindrada;
qualquer hot (bom ou ruim) se não simpatizarem VIII -Eixo suplementar;
com o seu motorista. IX - Estrutura;
Livrar-se deste inconveniente, entretanto, X - Sistemas de segurança.
não é uma tarefa muito difícil, bastando apenas
regularizar o hot no órgão de trânsito respon- Art. 2º: Quando a alteração envolver quaisquer dos
sável por seu licenciamento. Para alcançar tal itens do artigo anterior, exigir-se-á Certificado de Se-
objetivo deve-se anexar, juntamente com os gurança Veicular - CSV expedido por entidade creden-
documentos do carro, as notas fiscais das peças ciada pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia,
e acessórios utilizados na construção e, depois, Normalização e Qualificação), conforme regulamenta-
submetê-lo à inspeção veicular realizada em um ção específica.
dos postos credenciados pelo Inmetro (a lista Parágrafo único. A alteração da cor predominante
do veículo dependerá somente da autorização do órgão
destes locais pode ser encontrada no site www.
executivo de trânsito dos Estados e do Distrito Federal.
inmetro.gov.br).
Feitos os testes necessários e o veículo apro-
Art. 3º: Em caso de modificações do veículo, os
vado, será emitido o Certificado de Segurança
órgãos executivos de trânsito dos Estados e do Distrito
Veicular (CSV) com a íntegra do laudo, o qual Federal, deverão fazer constar no campo de observa-
trará todas as medições efetuadas no teste. De ções do Certificado de Registro de Veículos - CRV e
posse do CSV, o rodder deve procurar o Detran do Certificado de Registro e Licenciamento de Veículos
local para solicitar a expedição do Certificado - CRLV a expressão “VEÍCULO MODIFICADO”, bem
de Registro e Licenciamento de Veículos. Nes- como os itens modificados e sua nova configuração.
te documento vai constar as modificações, a
capacidade de carga, potência etc. e, no campo Art. 4º: O número do Certificado de Segurança
“Observações”, a expressão “Veículo Modificado, Veicular-CSV deverá ser inserido nos dados cadastrais
Resolução 25/98” (ver abaixo). dos veículos automotores cadastrados no sistema de
Registro Nacional de Veículos Automotores - RENAVAM,
da Base de Índice Nacional - BIN, em campo próprio.
“RESOLUÇÃO Nº 25, DE 21 DE MAIO DE 1998
Art. 5º: Somente serão registrados, licenciados e em-
Dispõe sobre modificações de veículos e dá outras placados com motor alimentado a óleo diesel, os veículos
providências, previstas nos arts. 98 e 106 do Código de autorizados conforme a Portaria nº 23, de 6 de junho de
Trânsito Brasileiro. 1994, baixada pelo extinto Departamento Nacional de
Combustíveis–DNC, do Ministério de Minas e Energia.
O CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO - CON- Parágrafo único. Fica proibida a modificação ou
TRAN, usando da competência que lhe confere o art. 12, transformação da estrutura original de fábrica dos veí-
inciso I, da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que culos para aumentar a capacidade de carga ou lotação,
instituiu o Código de Trânsito Brasileiro - CTB, e conforme visando obter o benefício que trata o caput deste artigo.
Decreto nº 2.327, de 23 de setembro de 1997, que trata
da coordenação do Sistema Nacional de Trânsito, resolve: Art. 6º: A destinação e a capacidade de carga ou pas-
LEGALIDADE
sageiros dos veículos fabricados ou montados original-
mente com motor do ciclo diesel, serão especificadas por
deverá comunicar o fato ao órgão executivo de trânsito
dos Estados ou do Distrito Federal, onde o veículo for
órgão competente do Ministério da Indústria, do Comércio licenciado para que seja providenciado o bloqueio no
e do Turismo, cujos modelos e características constarão cadastro do veículo.
em documento de certificação de fabricação veicular. Parágrafo único. Em caso de danos de média monta,
o veículo só poderá retornar a circulação, após a emis-
Art. 7º: Não serão permitidas modificações são do Certificado de Segurança Veicular - CSV, emitido
da suspensão e do chassi do veículo classificado por entidade credenciada pelo INMETRO.
como misto ou automóvel.
Art. 11: O proprietário do veículo automotor, de
Art. 8º: Fica autorizada, para fins automotivos, a utili- posse do Boletim de Ocorrência de Acidente de Trânsito
zação do Gás Metano Veicular - GMV como combustível. - BOAT de grande monta, poderá no prazo de até 60
(sessenta) dias confirmar esta condição ou não através
§ 1º Os componentes do sistema deverão estar certifica- de um laudo pericial.
dos no âmbito do Sistema Brasileiro de Certificação - SBC. Parágrafo único. Quando não houver a confirmação
§ 2º Para assegurar o cumprimento da certificação do dano de grande monta através de um laudo pericial,
compulsória, deverão ser estabelecidos pelo Instituto o proprietário do veículo automotor levará este laudo ao
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualificação - órgão executivo de trânsito dos Estados ou do Distrito
INMETRO, mecanismos adequados para a verificação, Federal onde o veículo estiver licenciado, para que seja
acompanhamento e fiscalização do mercado. providenciado o desbloqueio no cadastro do veículo,
§ 3º Por ocasião do registro dos veículos automo- após cumprido o procedimento previsto no parágrafo
tores que utilizarem como combustível o gás metano único do artigo 10 desta Resolução.
veicular - GMV será exigido:
I - Certificado de Segurança Veicular - CSV expedi- Art. 12: Fica revogada a Resolução 775/93
do por entidade credenciada pelo INMETRO, conforme do CONTRAN.
regulamentação específica;
II - Licença para Uso da Configuração de Veículo ou Art. 13: Esta Resolução entra em vigor 120 (cento e
Motor-LCVM expedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Am- vinte) dias após a data de sua publicação.
biente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA, confor-
me o disposto na Lei 8.723, de 23 de outubro de 1993. Brasília, 21 de Maio de 1998
As reuniões
do grupo
Amigos do Hot
ocorrem todo
mês em uma
churrascaria
Foto: Saulo Mazzoni de São Paulo
Um grupo quente
Cansados de discriminação,
os rodders de São Paulo uniram-se e criaram um
grupo próprio denominado: Os Amigos do Hot
A
o enfrentar muitas dificuldades para montar tornou-se conhecida em todo o Brasil como o “Encon-
seu hot, o médico paulista Dimitrius Sama- tro dos Amigos do Hot”.
ras percebeu que os rodders brasileiros não Hoje, a reunião dos rodders acontece no mesmo
eram organizados em torno de uma agre- local toda a primeira quarta-feira de cada mês, ocasião
miação que defendesse diretamente seus em que discutem temas pertinentes ao hobby. O fato do
interesses, além de fomentar a troca de informações e grupo não centralizar decisões em um diretor-presiden-
idéias. Assim, tornava-se muito difícil promover eventos, te, nem cobrar taxas de adesão, é para seu idealiza-
montar um cadastro de mecânicos idôneos e – o mais dor um dos segredos de seu sucesso. “Por isso não
importante – procurar soluções com a finalidade de ocorrem desavenças de caráter pessoal ou financeiro,
facilitar a regularização dos carros transformados junto problemas que afetam a maioria dos clubes de antigo-
às autoridades de trânsito. mobilismo”, destaca Samaras.
“Como formar um clube não seria a melhor solu- Em 14 de agosto de 2004, os “Amigos do Hot” rea-
ção, optei por dar início a uma reunião de entusiastas lizaram um almoço para comemorar o primeiro aniver-
que, no início, nem nome tinha”, explica Dimitrius. O sário do encontro, que reuniu mais de 100 convidados e
primeiro evento ocorreu em agosto de 2003, na Chur- 40 hots, apesar de o evento não ter sido divulgado em
rascaria Baby Beef Morumbi, que gentilmente cedeu nenhum meio de comunicação. Após a festa, os rodders
espaço para o médico colocar sua idéia em prática. O saíram da churrascaria em comboio de hots seguindo
número de rodders presentes foi maior que o espe- até o km 36 da SP-348 (Rodovia dos Bandeirantes),
rado e, com o passar do tempo, a reunião mensal para depois retornar ao ponto de partida.
Mais informações
sobre “Os Amigos CRAZY KRANZ
do Hot” podem
A cidade de Novo Hamburgo, na Grande Porto Alegre (RS), tam-
ser obtidas no
bém tem seu encontro de hot rods. Trata-se do Krazy Kranz, que é
site www.amigos- apoiado pela fábrica SS Fiberglass (ver matéria nesta edição). O even-
dohot.com.br; to é realizado na loja Kranz Pneus e acontece nas tardes do segun-
ou pelo telefone do sábado de cada mês. O local se destaca pela decoração típica da
de seu criador, década de 1950, sendo que o prédio fica no número 1750 da Avenida
que é o seguinte: 1º de Março. Para mais informações, acesse o site www.ssfiberglass.
(0xx11) 9972-9409. com.br ou telefone para (0xx51) 632-2010 e (0xx51) 567-1778.