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REDAÇÃO
do que podemos imaginar
D
Diretora de Redação: Andrea Calmon
redacao@editoraonline.com.br esde quando “nos conhecemos séculos, estavam homens que,
Editora: Thaise Rodrigues
Subeditora: Carolina Botelho por gente”, alguns episódios de uma forma ou de outra,
Colaboraram nesta edição: Ricardo Giassetti (textos),
Paulo José Andrade (revisão) e da história nos chamam a atenção marcaram a história. Seja por
Luiz Gustavo Bueno (ilustrações)
pela fama, pela importância, atitudes positivas, atos tirânicos,
PROGRAMAÇÃO VISUAL
Coordenador: Marcos Alex Sander Borges pelas mudanças e pelo legado pelas loucuras sexuais,
marcos@editoraonline.com.br
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Fernando Cunha que deixaram. pelas desavenças políticas,
ESTÚDIO Só que, muitas vezes, ao ganância de poder e riqueza,
Coordenação Fotográfica: Arnaldo Bento
estudio@editoraonline.com.br estudar ou lermos sobre o benevolência, omissão ou
PUBLICIDADE tema, não nos damos conta de por tantas outras características
Diretor de Publicidade: Isidro de Nobrega
Gerente de Publicidade: Patrícia Massini Caldeira
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que nossa vida hoje, em todas que foram inerentes a esses
Executivos de Conta:
Luciana Lemes Rodrigues,
Antônio Demésio, Célia Candido, as esferas, é resultado direto governantes, cada um deles foi
Jussara Baldini, Márcia Figueira,
Rosana Franchi e Simonetta Ielo
destes grandiosos acontecimentos bastante interessantes à sua maneira.
Assistente de Publicidade:
Fabiana Gomes de Lima e
Kelly Cristina Fereira
ou períodos históricos. Nesta edição de Grandes Líderes da
MARKETING
O Império Romano foi um dos História, reunimos os mais importantes
Diretor de Marketing: Rogério Casale
Surpervisora de Marketing: Bianca Grasseschi maiores do mundo e influenciou toda a imperadores romanos, tendo em vista
Assistente de Marketing: Ana Lúcia Alves
mkt@editoraonline.com.br civilização ocidental de modo marcante. os feitos e os efeitos que o governo de
CANAIS ALTERNATIVOS vendaavulsa@editoraonline.com.br O Direito Romano, por exemplo, foi, e cada um produziu. E convidamos você
Supervisora de Canais Alternativos.: Maria Palmira Valino
Eduardo G. Aguiar, Ronie Emerson ainda é, uma das principais bases em a viajar um pouco no tempo e descobrir
Miquelino, Marli Gomes de Brito,
Leila Cristina Lopes que estão apoiadas as leis de boa parte detalhes sobre estes líderes que fizeram
Tel.: (0**11) 3393-7777
do planeta. Já o latim, a língua falada parte de um dos mais destacados
RELAÇÕES INTERNACIONAIS cazarim@editoraonline.com.br
Diretor: José Luiz Cazarim e escrita em Roma, é simplesmente a períodos históricos.
LOGÍSTICA Luiz Carlos Sarra origem do nosso idioma, o português,
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Assistente Adm. Suprimentos: Juliana dos Santos Barbosa francês e do romeno.
Gerente Administrativa: Isabel Cristina Ferreira Enfim, o mundo bebeu muito nas
CRÉDITO E COBRANÇA
fontes romanas e, por isso, sua cultura,
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Araújo Nunes e Patricia Silva Souza
seus valores e suas obras foram tão
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significativas para nós. E, claro, por trás www.editoraonline.com.br
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27 a.C. – 68 68 – 69 69 – 96 96 – 192 193 – 235 235 – 268 268 – 284 260 – 274
Imperadores Romanos
6 Grandes Líderes da História
empo A lista completa dos imperadores e
as datas de seus períodos no poder
IMPÉRIO DO OCIDENTE
Honorius: 395 – 15/08/423
Constantius III: 421
Valentiniano III: 425 – 16/03/455
Petronius Maximus:
17/03/455 – 31/05/455
Avitus: 06/455 – 17/10/456
IMPÉRIO DO ORIENTE Majoriano: 457 – 02/08/461
CASA DE CONSTANTINO Valentiniano I: Libius Severus: 461 – 465
Contantius II: 337 – 361 26/02/364 – 17/11/375 Anthemius:
Constâncio I: 337 – 350 Valens: 28/03/365 – 09/08/366 12/04/467 – 11/07/472
Magnentius: Procopius: 09/365 – 27/05/366 Olybrius: 07/473 – 02/11/472
01/350 – 11/08/353 Gratianus: 24/08/367 – 383 Glycerius: 05/03/473 – 06/474
IMPÉRIO BRITÂNICO Juliano, o Apóstata: Theodosius I, o Grande: Julius Nepos: 06/474 – 08/475
Carausius (286–293) 11/361 – 06/363 19/01/379 – 17/01/395 Romulus Augustus:
Allectus (293–297) Joviano: 363 – 17/02/364 Arcadius 383 – 395 31/10/475 – 08/476
286 – 297 284 – 340 337 – 364 364 – 388 364 – 395 388 – 395 395 – 476 395 – 476
Maxentius:
28/10/306 – 28/10/312
Constantino I, o Grande:
307–22/05/337
Licinius:
11/11/308 – 19/12/324
Maximinus Daia:
01/05/310 – 08/313
Constantino II: 337 – 340
E nasce o Imp
Em cinco séculos, uma pequena comunidade às
margens do Rio Tibre tornou-se a maior potência
do mundo mediterrâneo. O império, que moldou
a cultura e a política ocidental, tem seus reflexos
sentidos até hoje, 2 mil anos depois
Por Ricardo Giassetti
Q
uando se fala da fundação de Roma, a primei-
ra coisa que nos vem à mente é a lenda dos
gêmeos Rômulo e Remo. A imagem dos dois
garotos mamando em uma loba gigante é o
símbolo maior da fundação da cidade-estado.
Os detalhes dessa história insólita foram escritos pelo historiador
Tito Lívio (Titus Livius) sob ordem de Augusto, o primeiro impera-
dor romano. Lívio criou um épico romântico e trágico situado no
século 8º a.C. para contar a saga dos primeiros passos de Roma.
A obra completa de Lívio tinha originalmente 142 livros, con-
tando desde a versão mítica da fundação (753 a.C.) até os primeiros
anos do Império (27 a.C.). Apenas 35 desses livros sobreviveram.
RÔMULO E REMO
Réa Silvia, filha do rei de Alba Longa, Numitor, foi estupra-
da pelo deus da guerra Marte. Réa era uma virgem que vivia
nos templos sagrados e não podia ficar com os gêmeos que nas-
ceram dessa união pagã. Com muitas similaridades a histórias
da Bíblia, as crianças foram deixadas à beira do Tibre em uma
cesta de vime. Ao contrário de Moisés, Rômulo e Remo não fo-
ram e ncontrados por uma princesa, mas por uma grande loba,
que os amamentou. Depois de algum tempo, os gêmeos foram
recolhidos por um pastor.
Ainda jovens, Rômulo e Remo decidiram fundar sua própria
aldeia e partiram rio acima. Para escolher o local do novo lar, espe-
Ilustração: Luiz Gustavo Bueno
raram por um sinal dos deuses. Remo ficou sobre o Monte Aven-
tino e Rômulo sobre o Palatino, ambos esperando pela indicação
divina. Seis abutres voaram sobre Remo. Em seguida, outros 12
voaram sobre Rômulo e o Monte Palatino. A discórdia pairou so-
bre os gêmeos, seus acólitos se desentenderam e, em um acesso
de fúria, Rômulo assassinou seu irmão. Mais uma vez, assim como
na história de Caim e Abel, um irmão matou o outro.
Imperadores Romanos
8 Grandes Líderes da História
ério Romano
Servius promoveu a
organização da população
romana com censos periódicos
e mudanças sociais, reformando
a estrutura de classes. Cada
camada social tinha direitos e
deveres em Roma: os
ricos deviam servir e armar a
cavalaria, enquanto os pobres
sem posses não tinham obrigações
Rômulo e Remo:
os gêmeos militares, mas não gozavam
de benefícios
amamentados
por uma loba
Imperadores Romanos
10 Grandes Líderes da História
O império romano foi uma das
hegemonias mais importantes
da história da humanidade
e leito rei. O primeiro de três reis etruscos a reger Roma antes do A REPÚBLICA E A LEI
começo da República. Em 494 a.C. a revolta plebéia culminou na criação do Códi-
Lucius foi assassinado em 579 a.C. a mando dos filhos de go das Doze Tábuas. Essas lâminas eram a consolidação em for-
Ancus que queriam reaver o trono. A esposa de Lucius, em ma de lei dos costumes da sociedade romana da época. Foram o
uma manobra hábil, escondeu a morte do marido até colocar primeiro documento real do Direito Romano e o símbolo do po-
seu afilhado Servius Tullius como regente temporário e depois der do povo, representado no estandarte das legiões romanas,
rei. Servius promoveu a organização da população r omana com como S.P.Q.R (Senatus Populesque Romanus – “O Senado e o
censos periódicos e mudanças sociais, reformando a e strutura Povo de Roma”).
de classes. Cada camada social tinha direitos e d everes em Muito parecido com o que ainda vemos nas repúblicas atuais,
Roma: os ricos deviam servir e armar a cavalaria, enquanto os o povo não teve muitos benefícios palpáveis. Os poderes adqui-
pobres sem posses não tinham obrigações militares, mas não ridos pelos cidadãos não podiam ser usados no dia-a-dia, e os
gozavam de benefícios. lugares do Senado continuavam exclusivamente nas mãos das
Servius distribuiu terras, ampliou o território e acabou assassi- famílias ricas.
nado a mando de Tarquinius, o Soberbo, filho de Lucius Tarquinius A partir dessa época, a República Romana começou a en-
Priscus, morto anos antes. À custa de estratégias desonestas, os veredar por caminhos complexos de funcionamento. O gabine-
reis se sucediam, mas cada um deles dava sua contribuição para o te mais alto era o dos dois cônsules. Em 421 a.C., foram insti-
engrandecimento de Roma. tuídos os questores, responsáveis pela administração financeira.
Tarquinius implementou uma nova política de serviços públi- Os censores cuidavam das responsabilidades dos cidadãos em
cos para os desempregados, organizou novas campanhas milita- pagar suas taxas e cumprir seus deveres militares. Os pretores
res, construiu templos em homenagem aos deuses e instituiu os presidiam as cortes de julgamento e a aplicação das leis. Os edis
jogos públicos, apresentando lutadores vindos do norte. Ele foi o zelavam pela construção e pela manutenção dos bens públicos,
soberano de Roma até seu filho Sextus estuprar Lucrécia, esposa como ruas e esgotos.
de Collatinus. Por conta dessa arbitrariedade, uma revolta popu- Nesse período, o cargo de ditador só existia em tempos de
lar expulsou os etruscos do solo romano. Collatinus e Brutus, so- guerra ou crise profunda. Mesmo sendo soberano, era proibido
brinho de Tarquinius, foram eleitos cônsules em 507 a.C. e a Re- ao ditador andar a cavalo dentro da cidade, para evitar a t entação
pública Romana foi fundada em meio a revoltas populares, crises da realeza.
internas e ameaças de invasão de exércitos inimigos. Mesmo cedendo em alguns pontos, os patrícios continua-
aconteceu no Egito.
classes, ameaçando consumir tudo o que fora
COBIÇA E AVANÇO conseguido nos séculos anteriores. Roma ha-
No final do século 4º a.C., Roma foi toma- via ficado tão rica que, em alguns meses do
da de assalto pelos exércitos gaélicos. A inva- César, vitorioso, ano, todos os moradores da cidade ficavam
são foi levada adiante por conta do crescen-
te domínio romano sobre a Península Itálica e
subjugou também isentos de impostos, ou distribuía-se pão
gratuitamente pelas ruas.
das riquezas acumuladas dentro das muralhas o exército egípcio e Enquanto Roma parecia cada vez mais
da cidade. A cidade foi queimada, as muralhas com a tão procurada Arcádia dos gregos, o
destruídas senadores, cidadãos ricos e plebeus transformou a terra dos restante dos povos da Itália se achava in-
foram mortos. O armistício só veio quando os
invasores foram atacados por doenças e pela
faraós em um Estado justiçado. Aliados aos romanos desde mui-
to tempo, os italianos não tinham direito de
fome. Roma, humilhada, acertou um paga- submisso a Roma. Às ser reconhecidos como cidadãos romanos. Os
mento para que os soldados inimigos voltas- passes-livres para jogos e benefícios como
sem a seu território de origem. margens do Nilo, César comida mais barata, eram exclusividade dos
Novas muralhas foram construídas, abran-
gendo uma área ainda maior. Roma declarou
e Cleópatra se romanos natos.
No Senado decadente, mas sempre trucu-
guerra a Cartago, uma superpotência mili- envolveram e tiveram lento, novas vertentes políticas tentaram flo-
tar, pelo domínio da Sicília. As duas batalhas rescer. De um lado, os Optimates, a extrema-
travadas contra Cartago foram devastadoras um filho. A volta de direita. Do outro, os Populares, apoiados pela
para ambos os lados. A primeira durou 20 anos,
até 241 a.C. A segunda, sob comando do exí-
Júlio César classe comerciante, que de populares não ti-
nham nada e buscavam uma reforma para
mio general cartaginês Aníbal, levou outros 15 para Roma traria aumentar seus lucros. As lideranças de Tibe-
anos para ser decidida a favor de Roma. A ca- rius e Caius Gracus junto aos Populares foram
pital de Cartago foi completamente destruída um novo horizonte eliminadas a pauladas. Mais de 600 correli-
e sua população, massacrada em 146 a.C. para
evitar novos confrontos.
para os romanos. A gionários foram mortos por espancamento e
Imperadores Romanos
12 Grandes Líderes da História
ordem de Marius e do Senado, dominado pelos Populares. fim, um golpe de Estado que foi descoberto antes de ser posto em
Sem pestanejar, Sulla simplesmente avançou sobre a cidade andamento. No Senado, os apoiadores de Catilina foram conde-
com seu exército pessoal, tomou o Senado e restaurou os Patrí- nados à morte. Para Cícero, o único rival à altura era um jovem e
cios no poder. Essa fase ditatorial implementada por Sulla durou enérgico rapaz chamado Caius Julius Caesar, ou seja, Júlio César.
apenas o tempo em que ele permaneceu vivo. Logo após sua
morte, outra rebelião popular tomou conta de Roma, quando o O DITADOR VITALÍCIO
guerreiro trácio Spartacus liderou gladiadores e escravos rumo Júlio César era da classe patrícia e sua esposa era a filha de
à liberdade. Cinna, o grande aliado de Marius. Marius era casado com a tia de
O erro dos rebeldes foi a empolgação. Depois de vencerem César, que foi mantido longe de Roma por algum tempo, tanto
quatro exércitos, Spartacus e seus aliados não fugiram de Roma para não exaltar os ânimos do Senado com seus discursos contun-
e foram sumariamente derrotados. Os mentores do abafamento dentes quanto para estudar outras culturas.
da revolta de Spartacus foram Marcus Licinius Crassus e Cnaeus Seus princípios e caráter ficaram claros quando a caminho
Pompeius. Pelo feito e por influência, ambos foram eleitos côn- de Rodes foi raptado por piratas e libertado após pagamento de
sules em 70 a.C. resgate. César reuniu uma legião e caçou os mercenários, sen-
Crassus permaneceu em Roma, aumentando sua fortuna. Pom- do piedoso ao cortar suas gargantas enquanto estavam cruci-
peius caiu no mundo e voltou trazendo conquistas sobre piratas do ficados. Seus passos em direção ao poder foram meticulosos e
Mediterrâneo, tesouros e a expansão do território romano até a Lí- perfeitos, escolhendo como segunda esposa a herdeira de uma
bia, a primeira possessão situada no continente asiático. grande fortuna e, como terceira, Calpurnia, filha de um pode-
Dentro do Senado, os ânimos se exaltavam. Entre o povo, o roso senador. Talvez seu único erro tenha sido a relação homos
temor mais imediato era a subida de um novo ditador como Sulla sexual que manteve com o rei da Bitínia, fato relembrado à
por meio de um golpe de Estado. O personagem perfeito para exaustão por seus opositores.
essa façanha já estava instalado na casa dos nobres políticos: Lu- A disputa de César para tirar Pompeu do consulado o levou
cius Sergius Catilina. Corrupto e charmoso, Catilina só encontra- a uma manobra delicada: a travessia do Rubicão, uma pequena
ria um rival a altura em Murcus Tullius Cícero, que, aos 29 anos, ponte que, se cruzada pelas tropas de César, significaria traição
já tinha sido eleito questor e, aos 44, já era cônsul. Catilina ten- capital. César e seus aliados, incluindo Marco Antônio, invadi-
tou impedir a eleição de Cícero com manobras desonestas e, por ram Roma e tomaram a cidade enquanto Pompeu fugia para o
Egito. A idéia de César era ser eleito cônsul, mas o Senado não
estava a seu favor.
O IMPÉRIO ROMANO A batalha final entre Pompeu e César aconteceu no Egito.
César, vitorioso, subjugou também o exército egípcio e transfor-
mou a terra dos faraós em um Estado submisso a Roma. Às mar-
gens do Nilo, César e Cleópatra se envolveram e tiveram um filho.
A volta de Júlio César para Roma traria um novo horizonte para os
romanos. A esperança de um homem como ele no comando dos
territórios prometia um célebre tempo de vitórias.
Júlio César :
roma
o homem-forte de
Q
Vindo de uma família patrícia, uando César tinha apenas 15 anos, seu pai
morreu e lhe deixou suas posses. Caius Marius
César não nasceu rico nem com também privilegiou César em seu testamento,
tornando-o, finalmente, um homem rico. Sulla
influência política. Seu pai teve colocou-se como ditador de Roma e inimigo
algum sucesso ao angariar fortuna, declarado da família. Em 82 a.C., César estava casado com Cornélia
Cinnilla, filha de Lucius Cornelius Cinna, o braço-direito de Marius.
mas foi sua tia, com um casamento César desafiou a autoridade de Sulla quando negou-se a
arranjado com o general reformador divorciar-se de Cornélia e fugiu de Roma. Para Sulla, “em César há
muitos Marius.” Ele sabia do perigo em deixá-lo vivo.
Caio (Caius Marius), quem trouxe Mas Júlio César preferiu servir nas campanhas na Ásia e,
durante o cerco a Mileto, tornou-se herói de guerra salvando a vida
riqueza e influência política para de legionários e centuriões. Ironicamente, recebeu a condecoração
a casa dos Julii. Por algum tempo máxima concedida a um não-comandante, a Corona Civica. O
agraciado devia ser aplaudido em pé até mesmo no Senado, caso
essa associação foi boa, mas quando vestisse a condecoração.
os embates entre Caio e Cornélio Mesmo assim, por segurança, ele só voltou a Roma em 78
a.C., após a morte de Sulla. Na busca de uma carreira política bem
(Cornelius Sulla) culminaram na alicerçada, passou a atuar no Fórum e ficou conhecido por seus
guerra civil, Roma tornou-se um talentos como orador. Para aprimorar ainda mais suas habilidades,
foi e studar em Rodes.
lugar perigoso para eles No retorno para Roma, a rebelião capitaneada por Spartacus
havia tomado a cidade. Perante a incompetência do Senado, César
foi eleito Tribuno Militar, seu primeiro cargo político. A luta contra
Spartacus sedimentou uma grande amizade entre César e Mar-
cus Crassus. Em seguida, vieram as perdas dolorosas da esposa
Cornélia e da tia Júlia, que morreram em um ano. Seu próximo
passo era a eleição para questor.
Imperadores Romanos
14 Grandes Líderes da História
Glórias nunca antes
prestadas a pessoas
vivas foram entregues
a César. Seu nome
foi colocado ao lado
dos reis antigos e
até comparado com
os deuses. Jogos
e festivais magníficos
foram organizados para
Júlio César homenagear
suas conquistas. A efígie
dele foi estampada
nas moedas e
templos foram
construídos em seu
louvor. O mês de seu
aniversário teve o
nome mudado para
Julius e o calendário
foi reformado para
365 dias e batizado
de Juliano
Ilustração: Luiz Gustavo Bueno
Com a elevação
pey, Pompéia Sulla. César passou a atuar como senador e foi alça-
do a curador da Via Ápia, um posto invejado e bastante lucrativo.
Rapidamente galgando postos, em 65 a.C., foi eleito Curule Aedile,
o homem que cuidava das obras públicas, templos e, acima de tudo, póstuma de César
adorado pela população como grande provedor dos espetáculos ao posto de Deus,
dos jogos públicos, o Circus Maximus. Sua imagem perante o povo
era inatacável, mas os excessos o levaram à falência financeira. a linhagem de
Dois anos depois, foi eleito Pontifex Maximus, o todo-poderoso
dos negócios religiosos. Esse cargo, além de vitalício, dava amplo Otaviano parecia
acesso ao Senado e às leis, bem como oportunidades lucrativas para estar assegurada no
equilibrar suas finanças. Por conta de uma tentativa de macular a
figura de César, sua esposa foi incriminada por irresponsabilidade no comando de Roma.
festival Bona Dea. Imediatamente, Júlio César divorciou-se dela.
As manobras políticas de César e seus débitos milionários Mas César, sempre
passaram por maus bocados até sua indicação como Propraetor cheio de surpresas,
Governator da Lusitânia. Nesse território, pôde mostrar suas habi-
lidades militares como nunca, vencendo as tribos locais da Gália e havia deixado outro
da Lusitânia. Essas vitórias eram seu passaporte para concorrer ao
consulado em 59 a.C. herdeiro no mundo:
Imperadores Romanos
16 Grandes Líderes da História
a batalha de Alesia. Enquanto isso, os cinco anos de mandato de rebeldes e as 8 legiões de César enfrentaram-se na Batalha de Munda.
César chegavam no fim. Nos escritos de Livius e do próprio César, essa guerra foi a
Ao ficar sabendo das manobras contra ele no Senado, César mais árdua de todas. O posicionamento estratégico da 10ª legião
não teve outra escolha além de invadir sua própria terra e tomar de César foi essencial para a vitória, pois era comandada pelo
Roma. Essa foi a famosa “Travessia do Rubicão”, quando o futuro sobrinho e pelo filho adotivo de Júlio César, Otaviano, o futuro
ditador teria forjado a famosa frase “Alea jacta est”. Anos de guerra Augustus Caesar.
civil seguiram-se com César reconquistando os territórios sob o A Batalha de Munda foi a última grande luta de Júlio César. Em
comando de Pompeu e indo à Grécia para uma vitória final contra outubro de 45 a.C., ele retornou a Roma e, durante a g uerra, Ota-
seu ex-aliado. viano assegurou seu posto como herdeiro único do ditador. César,
Pompeu fugiu para o Egito, mas foi assassinado a mando de em sinal de gratidão e afeto, passou a chamar Otaviano de “filho”.
Ptolomeu 13. O rei do Egito acreditou que essa atitude agradaria Com a situação aparentemente sob controle, César permitiu-se
César, garantindo-lhe a preferência do ditador ao invés de sua ostentar pelo povo e pelo Senado.
prima Cleópatra. Ptolomeu não podia estar mais errado. Além de Glórias nunca antes prestadas a pessoas vivas foram entregues a
não querer Pompeu morto, César apaixonou-se por Cleópatra, César. Seu nome foi colocado ao lado dos reis antigos e até mesmo
declarou a bela princesa regente do Egito e, juntos, tiveram um comparado com os deuses. Jogos e festivais magníficos foram orga-
filho, Caesarion. nizados para homenagear suas conquistas. Sua efígie foi e stampada
César deixou o Egito para resolver problemas com anti- nas moedas e templos foram construídos em seu louvor. Além
gos aliados de Pompeu na Judéia, na Síria e em outros pontos da disso, o mês de seu aniversário teve o nome mudado para J ulius e o
África. Novos inimigos do Senado foram derrotados em 45 a.C., calendário foi reformado para 365 dias e batizado de Juliano. Politica-
na Espanha. Liderados por Gnaeus e Sextus Pompeius, as forças mente, César tinha poder total como cônsul vitalício e liberdade para
Imperadores Romanos
18 Grandes Líderes da História
Em Roma, Lepidus usou seu cargo como Pontifex Maximus
para declarar Júlio César um deus, o que levou Otaviano a se auto-
intitular “O Filho de Deus”. Os ânimos entre Marco Antônio e
Otaviano eram apaziguados por Lepidus.
Mesmo em meio a disputas entre os membros do Triunvirato e
elementos externos, como Sextus Pompeu, e a preparação da cam-
panha contra os persas, a reputação de Otaviano era cada vez maior.
Seu primeiro golpe contra o Triunvirato foi no elo mais fraco.
Após a vitória sobre as forças navais de Sextus e a tomada da
Sicília, Lepidus tentou assimilar as forças vencidas. Para Otaviano,
essa foi a deixa para destituí-lo do poder e tomar suas 18 legiões.
Em 36 a.C., vários fatores levavam a uma iminente guerra entre
Marco Antônio e Otaviano. O primeiro, ainda casado com a irmã
do segundo, teve um filho com Cleópatra e passou a dominar o
leste romano. A idéia era colocar os herdeiros no poder, mas Ota-
viano consolidou sua popularidade no resto dos territórios criando
uma imagem anti-romana de Marco Antônio.
Sabiamente, Otaviano declarou guerra contra Cleópatra, espe-
rando que Antônio fosse ao auxílio da amada. Ao mesmo tempo
em que a guerra se anunciava e os exércitos se posicionavam, Ota-
viano atrasava seu início manobrando a armada naval e ganhando
mais apoio do Senado. Encurralado, Marco Antônio tentou furar o
bloqueio marítimo, mas foi derrotado sumariamente na Batalha de
Actium. Em terra, seus exércitos se renderam. Após 20 anos de guer-
ra civil, Otaviano, finalmente, era o único soberano político de Roma.
Os Quatro
Loucos Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Eles não seriam o primeiro nem
o último caso em que os sucessores provaram não ter a mesma força
moral que os pais que construíram grandes impérios
A
ugustus e Livia não tiveram filhos. Do p rimeiro As campanhas de Tibério ao lado de seu irmão Nero Claudius
casamento, trouxe Tibério, que foi adotado por
Drusus nos Alpes foram bem-sucedidas. Entre 12 e 6 a.C., Tibé-
Augustus. O rapaz, então, unia duas das mais
rio comandou as forças de expansão, principalmente na Germâ-
tradicionais famílias patrícias: Júlia e Cláudia. Os
nia. Apesar de vitoriosas, as campanhas dele tinham um ranso
sucessores imediatos de Tibério teriam o nome dos de tristeza.
dois clãs, com Calígula (37-41) e Nero (54-68) filhos do primeiro Os eventos levavam Tibério cada vez mais ao centro do poder.
casamento de Julia Caesaris com Nero Claudius Drusus, irmão de Se antes da morte de Agrippa, o jovem já era cotado como sucessor
Tibério; e Claudius (41-54), filho de Octavia, irmã de Augustus. A de Augustus, naquele momento, casado com Julia, a sucessão era
dinastia Júlio-Claudiana regeu o Império Romano de 27 a.C. a 68. certa. Para surpresa geral, Tibério retirou-se para a ilha de Rodes em
6 a.C., quase como um auto-exílio. Essa atitude colocou-o em des-
TIBÉRIO (14-37) graça perante Augustus, que, após isso, nunca mais teve o mesmo
Tiberius Claudius Nero nasceu em 16 de novembro de 42 a.C., carinho pelo enteado. É possível que Tibério só tenha escapado de
filho de Tibério Nero e Livia Drusilla. De família tradicional e rica, o uma execução sumária por conta de sua mãe.
futuro de Tibério já estava aliado à vida pública. Quando o garoto Mesmo aceitando-o novamente em Roma, Augustus não
tinha apenas 3 anos, sua mãe se divorciou e casou-se com Augus- plane
java mais que Tibério fosse seu sucessor, confiando mui-
tus, uma paixão antiga. Tibério foi adotado e tornou-se herdeiro do to mais nos filhos de Agrippa, Lucius e Gaius Caesar. Mas Lucius
Império Romano. Desde cedo, Augustus impeliu o jovem a posicio- morreu em Massilia e, logo em seguida, Gaius Caesar foi ferido
namentos e cargos públicos de importância, como na Batalha de mortalmente em combate. Tibério voltou a ser o único nome dis-
Actium, na campanha contra os persas; o questorado aos 17 anos; ponível, mas Augustus não queria dar chance ao destino e adotou
e o consulado 5 anos antes da idade permitida. também Postumus Agrippa, o último filho de Agrippa, e forçou
Ao retornar do Oriente, foi eleito cônsul, em 13 a.C. e casou-se Tibério a adotar Germanicus. Assim, o Principado estaria assegura-
com Vipsania Agrippina, filha de Marcus Vipsanius Agrippa, aliado do e, talvez, novas tragédias não destruíssem toda a linha suces-
de longa data de Augustus. O casamento, assim como o de sua mãe sória de Augustus.
com Augustus, era baseado em afeto e não só em interesses futu- Por dez anos, Tibério foi o braço direito de Augustus. A morte
ros. Mas, quando Marcus Agrippa morreu, em 12 a.C., Tibério foi do soberano em 19 de agosto do ano 14 não foi surpresa e a posse
obrigado por Augustus a tomar a viúva Julia Caesaris como esposa, de Tibério, apenas uma conseqüência prevista. O engajamento do
em uma união sem amor. novo governante de Roma não podia ser mais insólito. Sendo esta a
Imperadores Romanos
20 Grandes Líderes da História
Tibério
Imperadores Romanos
22 Grandes Líderes da História
Os curtos quatro anos de Calígula no poder mostram, principalmente,
caprichos e sandices que o fizeram conhecido como um completo
déspota. Cruel e indigno de confiança, colocou Roma em um período
de promiscuidade e desmando, mantendo casos amorosos
com suas próprias irmãs e deixando as legiões em maus lençóis
As fontes históricas divergem sobre os motivos da loucura de Esperava-se uma performance pífia e bondosa de Cláudio, mas
Calígula, colocando em pauta um sem-número de incongruências sua passagem pelo poder teve grandes vitórias. A mais expressiva
autocráticas promovidas por ele. A mais conhecida talvez seja a foi a tomada final da Bretanha em 47, após décadas de combate. O
idéia de fazer seu cavalo um membro do Senado e, depois, cônsul. domínio romano na ilha duraria mais 350 anos.
Assim como Tibério, as fontes históricas são escassas, e todas são Cláudio foi o primeiro imperador romano a receber o título de
unânimes em evidenciar a inteligência ímpar do jovem imperador. Caesar. Como o título “Imperador” é uma invenção prática de tem-
Para historiadores modernos, Calígula pode não ter enlouque- pos mais contemporâneos, até a ocasião o soberano de Roma era
cido, mas perdido o controle sobre seus atos de forma sarcástica. chamado pelo nome ou por um de seus títulos (Pater Patriae, por
Como um jovem com todo o poder disponível em suas mãos, talvez exemplo). César transformou-se em um título pelo qual os mais
tenha deixado seu bom humor reger, clamando para que as classes altos comandantes da nação romana passaram a ser chamados
abaixo dele percebessem a loucura de se depositar tanto poder em desde então. Cláudio morreu de causas naturais aos 64 anos.
apenas uma pessoa.
Os atos incontroláveis dele revelaram a verdade que ainda es- NERO (54-69)
tava escondida sob o reinado de Tibério: Augusto havia instaurado Lucius Domitius Ahenobarbus nasceu em 15 de dezembro de 37,
uma monarquia autocrática, em que o soberano do Império tinha filho de Agrippina, a Jovem, irmã de Calígula, e Gnaeus Domitius
plenos poderes. Para a aristocracia, esse tipo de atitude era imper- Ahenobarbus. Agrippina casaria-se depois com seu tio Cláudio.
doável e extremamente perigosa. A única forma de parar os abu- Adotando o nome de Nero Claudius Caesar Augustus Germani-
sos de um imperador romano seria seu assassinato, coisa que se cus e mais conhecido como Nero, foi o último membro da dinastia
tornaria praxe depois de Calígula. Júlio-claudiana. Sua subida ao poder foi uma sucessão de desen-
A vida pregressa de Calígula pode tê-lo ensinado a ver além dos contros e mortes prematuras.
padrões normais, e não foi por acaso que ele foi o único da linha- Quando nasceu, seu tio Calígula regia o Império aos 25 anos e
gem a sobreviver. Por isso, sua visão para conspirações era um misto não se esperava que o jovem regente morresse tão cedo, uma vez
de paranóia e esperteza. O comandante das legiões na Germânia, que seus antecessores haviam chegado perto dos 80 anos.
Gnaeus Lentulus Gaetilicus foi descoberto quando ainda esboçava Segundo historiadores, como Suetonius e Tacitus, as relações ínti-
um motim das legiões contra o imperador. Até então, ninguém sa- mas entre Calígula e suas irmãs Drusilla, Agrippina e Julia Livilla, asse-
bia ao certo porque o governante fez questão de se deslocar pes gurariam a sucessão de seus próprios filhos. Os outros concorrentes
soalmente para o norte. ao posto de Augusto eram seus tios por parte de mãe. Com Calígula
Calígula morreu aos 28 anos, assassinado por Cassius Chaerea, morrendo sem deixar filhos e expurgando suas irmãs traidoras e ou-
um antigo oficial que servira Germanicus. As razões são obscuras, tros próximos ao trono, o caminho para Lucius estava aberto. Cláudio
mas parecem puramente pessoais. A esposa Caesonia e a filha Ju- trouxe Agrippina e Livilla de volta do exílio, casou-se com a primeira
lia Drusilla também foram assassinadas. Ainda há suspeitas de que e adotou Lucius sob o nome de Nero Claudius Caesar Drusus.
Cláudio, o sucessor, tenha desempenhado algum papel na morte do Aos 17 anos, com a morte de Cláudio, Nero tornou-se o mais
sobrinho. Fato é que Chaerea era oficial da Guarda Pretoriana e que jovem imperador de Roma. Os primeiros anos de regência foram
Claudius foi nomeado imperador pela própria Guarda. expressivos, com o rapaz tendo ao seu lado a mãe e dois tutores,
Sêneca e Burrus. Mas problemas pessoais acabaram por influenciar
CLÁUDIO (41-54) nos negócios de Estado. Sexo, violência e conspirações seguiram-
Nascido Tiberius Claudius Drusus Nero Germanicus, C láudio se. Britannicus foi envenenado, Agrippina foi assassinada, Poppaea
mudou seu nome para Tiberius Claudius Nero Caesar Drusus tornou-se uma amante influente e Tigellinus voltou do exílio para
quando assumiu o posto de quarto imperador de Roma. Era um ser o braço direito de Nero.
figura ímpar. Gago e coxo desde a infância, a família tentava ao Sem herdeiros, Nero teve de armar uma fraude para divorciar-
máximo deixá-lo à margem da vida pública. Mas ele foi alçado ao se de Octavia e assumir o filho de Poppaea. Em julho de 64, com
posto de cônsul por Calígula em 37, talvez em mais um sinal de sua reputação em frangalhos, Nero foi acusado pelo incêndio que
deboche ao Império. consumiu Roma em uma semana.
A reclusão favoreceu o lado intelectual de Cláudio, que se tornou No ano seguinte, uma conspiração armada por velhos amigos,
um grande historiador. Escreveu 43 livros sobre o Império Romano, 20 entre eles o próprio Sêneca, foi descoberta e os envolvidos obri-
sobre o Império Etrusco e outros 8 sobre os cartagineses. O valor real gados a cometer suicídio. Outras execuções sumárias seguiram-se,
desse esforço nunca poderá ser medido, pois as obras foram perdidas. contribuindo para o dissabor do povo, dos militares e dos senado-
A falta de sucessores e o torvelinho em que se encontrava a res. A cada ano, a situação de Nero tornava-se menos sustentável,
nobreza romana à época levaram Cláudio ao poder. Com a morte até que revoltas e motins em territórios, como o Egito, levaram o
de Calígula, assassinado por um membro da Guarda Pretoriana, o Senado a depor Nero, que cometeu suicídio em 9 de junho de 68.
Senado ficou de mãos atadas quando a própria Guarda proclamou A balbúrdia iniciada por Nero e a falta de sucessores levaram Roma
Cláudio imperador. Essa entrada, por assim dizer, forçada, fez com a outra guerra civil, quando em um período de menos de um ano
que o novo imperador não fosse visto com bons olhos por todos. sucederam-se quatro imperadores.
Imperadores Romanos
24 Grandes Líderes da História
Aos 17 anos, com
a morte de Claudio,
Nero tornou-se
o mais jovem
Imperador
de Roma. Os
primeiros anos
de regência foram
expressivos,
com o rapaz tendo
ao seu lado a mãe e
os dois tutores,
Sêneca e
Burrus. Mas
problemas
pessoais acabaram
por influenciar
nos negócios
de Estado.
Sexo, violência e
conspirações
seguiram-se
Nero
Ilustração: Luiz Gustavo Bueno
69
Quatro :
o ano dos
imperadores
Servius Sulpicus Galba:
O
novo sistema de go-
9 de junho de 68 a 15 janeiro de 69 Roma, Galba saiu em desespe-
verno romano já de- Marcus Salvius Otho: ro pelas ruas convocando a po-
monstrava sinais de pulação para ficar a seu lado.
fragilidade desde a
15 de janeiro a 16 de abril de 69 AD O erro foi ter iniciado precipi-
subida de Tibério ao Aulus Vitellius Germanicus: tadamente sua linha sucessória,
poder. A negligência com o Principado e nomeando Lucius Calpurnius
outros preparativos para a sucessão ape- 17 de abril a 22 de dezembro de 69 Piso Licianus. Com isso, Marcus
nas aceleraram o fim da d inastia Júlio- Salvius Otho aliou-se à Guar-
claudiana e, em 68, com o suicídio de Nero, seguiu-se uma guerra civil. da Pretoriana. Galba foi assassinado no Fórum e, no mesmo dia,
A transição da dinastia anterior para a Flaviana foi confusa e Otho foi proclamado imperador pelos senadores.
teve 3 imperadores nesse hiato, até a posse de Vespasiano. Entre ju- Pouco mais de três meses depois, Otho cometeu suicídio. Seu
nho de 68 e dezembro de 69, Roma viu três imperadores ambicio- reinado foi curto porque Vitellius e as legiões da Germânia se di-
sos subirem ao poder para serem depostos ou assassinados logo em rigiam para Roma. Não eram apenas legiões romanas, mas as me-
seguida. Galba, Otho e Vitellius tentaram assumir o posto máximo, lhores e mais respeitadas de todas, com bastante poder político,
mas o f uturo estava nas mãos dos bondosos imperadores flavianos. desde os tempos de Tibério. O máximo que Otho pôde fazer foi
Os reais problemas começaram enquanto Nero ainda estava oferecer-se como pai adotivo de Vitellius. Otho não teve escolha a
vivo. Suas atitudes favoreceram a ambição de Caius Julius Vindex não ser acabar com a própria vida e deixar o caminho livre para o
a liderar uma rebelião para colocar o governador da Hispânia Tar- novo imperador.
raconensis, Servius Sulpicius Galba, no lugar de Nero. Embora tro- Em pouquíssimo tempo, Vitellius mostrou-se um completo dés-
pas f iéis a Nero na Germânia tenham enfrentado, vencido e matado pota. Esbanjando as riquezas de Roma com banquetes e comemo-
Vindex, o destino do imperador déspota já estava selado pelo Sena- rações em sua própria homenagem, passou a perseguir qualquer
do. Galba foi aclamado imperador. um que cobrasse as despesas e, com as finanças em crise e o juízo
O revés colocou em cheque os comandos dos territórios germâ- claramente afetado, ordenou a morte de credores, de rivais poten-
nicos que, de uma hora para outra, tornaram-se traidores. Rufus, o ciais ao trono e até mesmo pessoas que haviam colocado o nome
comandante da legião germânica, foi retirado do cargo. A situação do imperador em seus testamentos.
na Germânia tornou-se insustentável em pouco tempo e mesmo o Com tanto desmando em um tempo de delicado equilíbrio
novo governador Aulus Vitellius, aliado de Galba, não pôde conter político, não demorou para que revoltas se consumassem, princi-
a rebelião na Batávia. palmente na Judéia, onde Vespasiano foi declarado imperador pelas
Em Roma, Galba provou ser tão instável emocionalmente quan- legiões do Oriente Médio.
to Nero. Seus primeiros atos como soberano foram contra várias As legiões do Danúbio tomaram o partido de Vespasiano e mar-
benfeitorias anteriores. Promessas não-cumpridas e extorsões rapi- charam em direção à Itália, cercando a cidade. Vespasiano tomou
damente fizeram de Galba um imperador malvisto. a Síria e trouxe o Egito para o seu lado. Vitellius foi assassinado e
A rebelião das legiões germânicas culminou na aclamação Vespasiano nomeado Imperador pelo Senado no dia seguinte, 21
de Vitellius como imperador. Quando os rumores chegaram a de dezembro de 69.
Imperadores Romanos
26 Grandes Líderes da História
PRINCIPADO
O amargo sabor deixado pelos antigos
reis de Roma e a amada República Romana
impediam que se falasse em um regime au-
tocrático com reis e soberanos de qualquer
tipo desde a ditadura de Júlio César. O intrin-
cado sistema de governo desenvolvido pelos
romanos já contava com o Senado e cônsules
séculos antes do Império. Mesmo o ditador vi-
talício Júlio César recusou-se a receber a coroa
das mãos de Marco Antônio, como sinal de hu-
mildade e respeito à República.
De qualquer forma, Roma e seus territórios
sempre crescentes precisavam de uma força
centralizadora e Augusto foi quem conseguiu
conciliar o melhor dos dois mundos. Sem ins-
tituir uma monarquia, o que poderia abalar a
ordem social, ele aceitou o título Princeps Se-
natus e Princeps Civitatis, significando “aci-
ma do Senado” e “acima dos cidadãos”. O
principado romano era uma dinastia camu-
flada de democracia, onde o sucessor era
aquele mais bem-posicionado perante o
povo, o Senado e todos os outros instru-
mentos de controle e alianças necessárias.
Princeps em latim significa “principal”,
“mais importante”, “primeiro”. Portanto,
a palavra imperador nunca foi realmente
usada pelos romanos.
Os cinco primeiros regentes auto-
cráticos de Roma mantiveram sua li-
nhagem no poder, mas a dinastia Júlio-
Ilustração Luiz Gustavo Bueno
assassinados logo em seguida. Galba, Otho usava meios para acobertar seu total
domínio sobre os assuntos do Estado.
e Vitellius tentaram assumir o posto máximo Após a cisão entre Roma e Constanti-
nopla, o princeps Bizantino tornou-se
de Roma, mas o futuro estava nas mãos dos dominus, ou “dominador”, “mestre”.
Vespasiano, Tito
e Domiciano
A
Depois de déspotas Dinastia Flaviana, essencialmente militar, restaurou o Império Romano
após anos de despotismo, abuso, conflitos civis e desmandos. Apesar da
inconseqüentes, a curta duração, a Dinastia de Vespasiano e seus filhos consolidou as bases
que manteriam os romanos à frente do mundo ocidental até o século 3º.
Dinastia Flaviana As mudanças promovidas na forma de governo tiraram em muito o po-
consolidou o Império der do Senado, centralizando o comando aos Princeps.
Enquanto Vespasiano e Tito regeram quase como um só, Domiciano agiu como dés-
pota, segundo a maioria dos historiadores. Muitas dúvidas pairam, porém, sobre a verda-
deira conduta dos flavianos. Domiciano, por exemplo, às vezes, aparece como um perse-
guidor de cristãos. Em outras, é tido como um apoiador da religião. De qualquer forma,
foi nessa época que João escreveu o Apocalipse, em uma tentativa de manter os fiéis cris-
tãos alinhados com a doutrina. E ele usou inúmeras referências e simbologias diretamente
ligadas ao Império Romano para reforçar a necessidade de perseverança cristã em tempos
de perseguição. Aqueles que abandonassem a fé seriam punidos no juízo final.
VESPASIANO (69-79)
General de carreira militar brilhante, Titus Flavius Vespasianus tinha certa au-
tonomia nos territórios do leste do Império. Leal a Nero e, depois, a Galba, ele
passou a ser um potencial candidato após a morte de Otho, não fosse a interfe-
rência temporária de Vitellius.
Para derrubar o oponente, Vespasiano boicotou as remessas de grãos do
Egito para Roma, aumentando a instabilidade do governo. Em 20 de dezembro
de 69, Vitellius foi assassinado e Vespasiano, eleito Caesar Vespasianus Augustus
pelo Senado no dia 22.
A história de Vespasiano nas conquistas romanas já vinha de longa data. Com
papel fundamental na Germânia sob o jugo de Cláudio e, depois, na invasão à
Bretanha em 43, comandou com sucesso a respeitada 2ª Legião Augusta, vencen-
do 30 batalhas. Em 51, serviu como cônsul e, em 63, após um período de aposen-
tadoria, voltou à vida pública como governador da África. Em 66, o general foi des-
tacado para comandar três legiões na Guerra da Judéia.
A fundação da Dinastia Flaviana levou a um enfraquecimento ainda maior do Se-
nado. Vespasiano, por exemplo, ignorou o dia de sua eleição no Senado, contando sua
regência a partir de 1º de julho de 69, quando foi declarado imperador por suas próprias
Divulgação
legiões. O seu perfil militar rígido delineou o método de governo. O novo soberano preci-
sou assegurar maioria política no Senado para implementar as reformas necessárias, uma
vez que os anos anteriores de desmando e guerra civil haviam deixado as finanças do Im-
pério em frangalhos.
Entre outras medidas impopulares, Vespasiano aumentou o número de senadores de
200 para 1 000, atuando sobre eles com total autonomia. As taxas e cobranças de impostos
foram reestruturadas e a arrecadação cresceu. Finalmente, Roma estava segura outra vez,
Imperadores Romanos
28 Grandes Líderes da História
Ilustração: Luiz Gustavo Bueno
Vespasiano
TITO (79-81) Império sofreu muito sob o jugo dele, pois a economia rapi-
Titus Flavius Vespasianus era o escolhido como sucessor de damente entrou em colapso, enquanto as prioridades do novo
Vespasiano, mesmo antes de seu pai tornar-se Imperador. Servin- governo pareciam estar mais voltadas às artes e aos jogos.
do de tribuno na Bretanha e depois acompanhando seu pai con- Com o Coliseu finalmente inaugurado, Roma viu a perfor-
tra as revoltas na Judéia em 67, valeram a Tito o honroso Arco de mance de gladiadores e artistas de todos os cantos do Império
Tito, em uma das entradas do Fórum. Com Vespasiano tendo que ao custo de enormes somas de dinheiro.
se dirigir a assuntos mais urgentes durante a guerra civil de 69, Ti- Mais uma vez, a maldição da sucessão repetia-se, como
tus ficou responsável pela contenção dos judeus, o que conseguiu havia acontecido na Dinastia Júlio-claudiana, fundada por ge-
em 70 com a ajuda de 4 legiões. nerais competentes e continuada por jovens incapazes. A fal-
O posicionamento de Tito como apoiador de seu pai foi per- ta de preparo de Domiciano acabou por derrotá-lo. Como
feito. Cumprindo vários mandatos como cônsul e prefeito da acontece na maioria das vezes, a falta de jeito para lidar com
Guarda Pretoriana, ajudou na reconstrução e na fortificação do assuntos públicos gerou descontentamento. Do descontenta-
Império, tornando-se o sucessor natural. mento para a conspiração o caminho foi curto, mas Domiciano
Apesar de certa oposição do Senado, Tito tinha a completa preferiu caçar adversários potenciais ao invés de melhorar sua
aprovação do povo. Durante seu exercício, o Coliseu foi comple- performance como soberano.
tado e outras expressivas obras públicas foram executadas. Um Domitia Longina, a esposa devassa que acompanhava
novo incêndio em Roma e a erupção do Vesúvio em 79 serviram Domiciano em suas orgias, foi exilada após ser flagrada publi-
para mostrar o caráter altruísta de Tito, que gastou muito dinheiro camente traindo o imperador em 83. Na década de 90, Longi-
para ajudar e indenizar as vítimas. Dos jogos promovidos por Tito, na foi chamada de volta e empossada como imperatriz. Gran-
o mais memorável foi a comemoração do ano 80, com 100 dias de erro de Domiciano, que na verdade trouxe a serpente para
de lutas entre gladiadores no Coliseu. dentro de sua própria casa. Toda a conspiração para assassiná-
Seu tempo no poder foi curto, finalizado por uma doença -lo foi arquitetada por Longina, que reuniu membros da Guar-
fatal. Historiadores acusariam seu irmão Domiciano pela morte da e do Senado. Stephanus, senador e procurador da falecia
prematura do imperador, aos 41 anos. Júlia Flávia, matou Domiciano com 8 facadas.
DOMICIANO (81-96)
Tito tinha a completa aprovação
Aos 30 anos, Titus Flavius Domitia-
nus subiu ao poder após a morte do ir-
mão Tito. Ao contrário do irmão, Do-
miciano experimentou outro tipo de
do povo. Durante seu exercício, o
educação. Seu pai, Vespasiano, nun-
ca o tratou como sucessor potencial,
Coliseu foi completado e outras
o que levou o rapaz a se dedicar à li- expressivas obras públicas foram
teratura, ao direito e à retórica. A apa- executadas. Um novo incêndio
rente rejeição do pai marcaria as atitu-
des futuras de Domiciano. Nas campa- em Roma e a erupção do Vesúvio
nhas da África e da Judéia, somente Tito
em 79 serviram para
Fotos: Divulgação
Imperadores Romanos
30 Grandes Líderes da História
DE N E RVA A C O M MO D US
A dinastia
Nerva -
antonina
Nerva, Trajano, Adriano,
Antoninus Pius, Marcus Aurelius e
Commodus. Cinco bons e um mau
M
esmo com o final quase desastroso dos flavianos, gerenciado por
Domiciano, o Império ainda contava com boas reservas monetárias.
Durante o reinado do último flaviano, o sestércio (unidade monetá-
ria de prata) havia sido desvalorizado e enormes quantias de dinhei-
ro foram gastas em obras públicas, monumentos e jogos. Mesmo
assim, a ganância de Domiciano em deserdar e confiscar bens de cidadãos romanos havia
mantido o tesouro bastante recheado.
Os cinco primeiros imperadores da Dinastia Nerva-antonina são conhecidos como
os “cinco bons imperadores”. Suas administrações foram marcadas por decisões s ábias
e consensuais. As sucessões foram as mais bem-planejadas e, por isso mesmo, respei-
tadas e duradouras. O dilatado período da dinastia d urante o s éculo 2º estendeu a Pax
Romana e privilegiou a liberdade de expressão, incluindo o c ulto cristão.
NERVA (96-98)
Marcus Cocceius Nerva foi uma indicação consciente dos conspiradores da morte de
Domiciano. Vindo de família nobre do norte da Itália, já havia servido como cônsul para
Vespasiano em 71 e para Domiciano em 90. Já de idade avançada e sem filhos, Nerva ini-
ciou uma tradição inteligente, adotando Trajano, general das fronteiras com a Germânia,
como filho-herdeiro. Seus primeiros passos como imperador desfizeram alguns dos erros
cometidos por Domiciano, reaproximando o principado ao Senado e dando anistia a cen-
tenas de prisioneiros acusados de traição. Ele também anulou os confiscos de proprieda-
de implementados por Domiciano, garantindo, assim, aliados na elite e na n obreza, que
fariam a diferença no futuro.
De 18 de setembro de 96 a 27 de janeiro de 98, Nerva precisou de muito esforço
político para contentar a todos em Roma. Tanto o Senado quanto a Guarda Pretoriana
demandavam regalias para manterem o apoio ao imperador. Um pequeno motim acon-
teceu em 97, quando a Guarda raptou Nerva e o obrigou a ir a público agradecer os
conspiradores pela morte de Domiciano.
TRAJANO (98-117)
Aos 45 anos, Marcus Ulpius Nerva Traianus subiu ao poder
de Roma após a morte de Nerva. Respeitado general das frontei-
ras germânicas, Trajano vinha de família de tradição militar da re-
gião da Espanha. As vitórias dele nas margens do Reno durante o
período de Domiciano já haviam elevado seu nome aos mais altos
estandartes de Roma. A escolha de Nerva em adotar Trajano veio
de sua popularidade entre o exército, garantindo ao imperador um
certo controle sobre as legiões. A indicação da adoção veio por
meio de Adriano, que, no futuro, teria seu favor retribuído da mes-
ma forma, sendo adotado por Trajano como sucessor.
A reputação de Trajano o antecedia e a sucessão deu-se sem
maiores problemas. No campo administrativo, ele continuou o
processo de restauração de posses e anistias iniciado por Nerva,
garantindo-lhe posteriormente uma colocação entre os “Bons
Imperadores”.
Revoltas às margens do Danúbio chamaram a atenção do
exército e Trajano, um general em primeira instância, deslocou-
se pessoalmente para enfrentar os rebeldes. Suas conquistas mili-
tares acabaram expandindo o Império Romano ao seu perímetro ADRIANO (117-138)
máximo. As primeiras, além do Danúbio e outros territórios e rei- Terceiro dos cinco bons imperadores, Publius Aelius Traianus
nos foram feitas de forma pacífica no Oriente Médio. Em 113, en- adrianus tinha uma grande paixão pela cultura grega. Assumiu
H
frentou os persas, anexou a Armênia, cidades da Babilônia e, ainda seu papel na história romana por meio de comissionamentos mi-
mais ao Sul, a Mesopotâmia. litares e boas relações com Nerva, Trajano e sua esposa Plotina.
Os primeiros sinais de fraqueza física do imperador apresenta- Ao que parece, enquanto estava doente na Sicília, Trajano não
ram-se em 116, durante o cerco de Hatra, ainda na Mesopotâmia. chegou a adotar ou mesmo a indicar Adriano como sucessor,
Dali, já reconhecido como um dos maiores imperadores que Roma mas suas relações com o imperador e a família eram tão for-
já tivera, retirou-se para a Sicília. O senso de justiça e os valores de tes que, aparentemente, tudo foi resolvido em segredo.
Trajano seriam celebrados tanto em vida quanto após sua morte. Adriano apresentou papéis ao Senado, prova-
O Senado, entre outras honrarias, concedeu-lhe o título de Opti- velmente falsificados, confirmando sua adoção
mus e, a cada novo César, desejavam que fosse “mais bem-aven- por Trajano. Em todo caso, ele parecia mes-
turado que Augusto, melhor que Trajano”. mo ser o herdeiro natural, endossado tanto
O imperador também é lembrado por sua correspondência pelo S enado quanto pelas legiões, ao mesmo
com Plínio sobre o problema dos cristãos. A atitude dele em rela- tempo em que era pública a dívida de Traja-
ção ao assunto foi de condescendência, permitindo os cultos con- no para com ele.
tanto que permanecessem discretos. Nos séculos seguintes, foi re- Adriano preferiu uma política pacífica para resolver conflitos
lembrado pela Igreja Católica por seus atos. internos do Império. Sem planos de expansão, fortificou as defesas
com muralhas e postos de observação, assegurando-se para não
ser pego de surpresa por novas rebeliões e invasões.
Revoltas às margens do Danúbio A aproximação dele com a cultura o levou a patrocinar inú-
meros artistas da época. No campo amoroso, o romance entre
chamaram a atenção do exército o imperador e um jovem grego de nome Antinous ficou ampla
mente c onhecido. Pouco antes de morrer, Adriano apontou ou-
e Trajano, um general em primeira tro sucessor, Antonius Pius, após a morte de seu primeiro escolhi-
do, Aelius Verus. O mausoléu onde foi enterrado acabou transfor
instância, deslocou-se pessoalmente mado, d epois, no famoso Castelo de Sant’Angelo, em Roma.
seu perímetro máximo mandatos como questor, pretor e cônsul, ele já vinha de uma fa-
mília de políticos. As condições de adoção dele por Adriano con-
tinham um trato de proteção aos jovens Marcus Aurelius e Lucius
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32 Grandes Líderes da História Imperadores Romanos
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Grandes Líderes da História 33
DI NA STIA S EV ER A NA
Depois de
Commodus,
uma sucessão de
Os
governantes fez
o poder sobre
Roma passar de
mãos em mãos
imperadores
estrangeiros
O
último representante da Dinastia Nerva-antoni- no poder, até março de 193. Seu assassinato foi organizado pela
na foi Commodus, filho natural de Marcus Au- Guarda Pretoriana – novamente uma instituição fortalecida – sob a
relius. Foi co-imperador ao lado do pai a partir alegação de não-pagamento do soldo combinado.
de 177 e regeu sozinho de 180 a 31 de dezem-
bro de 192. A administração do jovem de 19 SEVERUS E OUTROS
anos e seus hábitos reprováveis fizeram dele um dos piores impera- A corrupção e a falta de sucessores dignos levaram a leilão o posto
dores que Roma já teve. Assim como Calígula e Nero, Commodus máximo romano. Didius Julianus, irmão adotivo de Marcus Aurelius,
entrou em uma espiral de decadência, mantendo haréns com cen- comprou o trono de Roma por centenas de milhares de sestércios.
tenas de mulheres e rapazes, exigindo honrarias divinas e relegando A medida chegou aos ouvidos do povo, o que permitiu que o
o comando do Império a seus comparsas corruptos. general Septimius Severus comandasse uma revolta, invadisse Roma
Commodus ficou conhecido pela sua paixão por jogos com e depusesse Julianus sumariamente. Assim como Severus foi eleito
gladiadores. Ele mesmo entrava na arena do recém-inaugurado imperador por suas próprias tropas, outras legiões também escolhe-
Coliseu para se divertir matando adversários indefesos. O reino ram seus próprios imperadores. Na Síria, o usurpador foi Pescennius
dele teve um final previsível, com seu assassinato aos 31 anos. Niger. No oeste da Europa, Decimus Clodius Albinus. Somente em
A esse ponto, Commodus e sua loucura já haviam mudado o 197 as disputas terminaram, logicamente com sangue.
nome da própria cidade de Roma para “Cidade Commodiana”. O Revivendo a tradição militar, destituindo a Guarda Pretoriana e
Senado e o Exército tiveram alterações similares, canceladas de- regendo com mão-de-ferro, Severus colocou o Império nos trilhos
pois de sua morte. Não há consenso acadêmico sobre a morte de novamente. Após sua morte em 211, mais uma vez, a linha suces-
Commodus, mas existem evidências de que tenha sido estrangula- sória teve tropeços nas figuras de seus dois filhos: Caracalla (Marcus
do por um gladiador enquanto dormia ou de que tenha sido morto Aurelius Antoninus) e Geta (Publius Septimius Antoninus Geta).
em combate no Coliseu. A idéia de co-regência entre os dois filhos de Severus não durou
A ingerência dele abriu caminho para uma nova guerra civil em muito. Após a morte do pai, Caracalla matou seu próprio irmão e
Roma. Pertinax, notório disciplinador das legiões ficou três meses perseguiu seus colaboradores durante os seis anos de poder. Assim
Imperadores Romanos
34 Grandes Líderes da História
Severana
Notoriamente homossexual,
andrógino e afetado, Heliogabalus
teve uma vida sexual promíscua,
Ilustração: Luiz Gustavo Bueno
como Calígula, Caracalla era um apelido, o nome da túnica usada foram assassinados e Heliogabalus assumiu o poder. De 218 a 222, ele
pelos cidadãos de Lugdunum, atual Lyon. derrubou tabus sexuais e religiosos e colocou-se à frente dos rituais
A popularidade de Caracalla ficou restrita ao exército. Essencial- ao novo deus que agora substituía Júpiter: o deus Sol. Uma sucessão
mente militar, seu regime de governo privilegiava os legionários e de deidificações e títulos de Augustus foi concedida pelo Senado para
taxava a população civil demasiadamente. familiares de Heliogabalus. Notoriamente homossexual, andrógino e
Geta era tido como um descendente direto dos místicos reis da afetado, ele teve uma vida sexual promíscua, fundindo sexo e religião
Bretanha e muitos cidadãos acreditavam que Caracalla o havia as- para o dissabor do povo e de seus próprios apoiadores.
sassinado por conta disso. O reinado terminou em 8 de abril de 217, O herdeiro indicado para a sucessão de Heliogabalus era Ale-
com o imperador assassinado enquanto urinava na beira da estrada. xandre Severus, filho de Julia Avita Mamaea, sua irmã. Mas o dés-
Um dos únicos confidentes de Caracalla assumiu o posto máxi- pota preferiu ordenar a execução do garoto de 13 anos. Antes
mo após sua morte. Marcus Opellius Macrinus, nascido na Mauritâ- que a determinação fosse cumprida, Heliogabalus e sua mãe, Julia
nia, subiu da classe média equestriana para ser braço direito de Se- Soaemias, foram assassinados pela Guarda Pretoriana, arrastados
verus e de seus filhos. Durante a morte de Caracalla, Macrinus era por toda Roma e jogados no Rio Tibre.
o prefeito da Guarda Pretoriana e prontamente assumiu o comando O adolescente Alexandre Severus subiu ao poder, completa-
do regime militarizado por seu antecessor. Imediatamente nomeou mente manipulado por sua mãe, Mamaea. A falta de preparo de
seu filho Diadumenianus co-regente. ambos em assuntos militares levou o Império Romano a uma série
Em apenas 3 meses, Macrinus deixou o controle escapar de de problemas civis, motins e guerras perdidas. Regente de 222 a
suas mãos. A classe militar esperava atitudes mais firmes e ele era o 235, período relativamente longo para a época, Alexandre procu-
primeiro imperador a não pertencer à classe dos Senadores e sequer rou reformar o espírito e a moral romanos. Último da linhagem Sí-
foi à Roma após sua posse. Um plano desenvolvido pelos Severa- ria de imperadores, foi morto em um motim da 12ª legião, quando
nos sobreviventes tentou fazer a população acreditar que Caracalla tribos bárbaras da Germânia tentavam invadir a Gália. Para alguns
tinha um herdeiro legítimo, Heliogabalus. historiadores, Alexandre promoveu o culto cristão em Roma, che-
Em pouco tempo, tanto Macrinus quanto seu filho Diadumenianus gando a ter um busto de Jesus Cristo em seu santuário pessoal.
A crise
do século 3º
e as tetrarquias
A
A pior fase do sucessão de imperadores despreparados e a falta de um senso co-
mum levaram o Império Romano a uma crise sem precedentes.
Império Romano Durante 50 anos, de 235 a 284, problemas econômicos, guerras
civis e tentativas de invasões levaram a sociedade romana à beira
culminou em uma do caos. A chamada “Crise do Século 3º” tem importância vital na
reforma quase história ocidental, marcando profundamente o status quo europeu e abrindo cami-
nho para a fragmentação de Roma e o início da Idade Média.
completa dos A morte de Alexandre Severus e a derrota da campanha romana na Pérsia ini-
mecanismos de ciaram uma corrida ao poder. Principalmente os generais das legiões contribuíram
para o declínio, dando mais importância à luta pelo poder e menos às fronteiras.
governo. Desde a Essa inversão de papéis deu aos inimigos e vassalos o elemento necessário para a
revolta e a libertação. Externamente, godos, alanos, vândalos e cáspios passaram
queda da República, a invadir as fronteiras.
o Império não se via Dentro do Império, grandes províncias destacaram-se do poder central. O
Gaélico foi formado pela união da Gália, da Hispânia e da Bretanha, enquanto o
em tamanho caos. Palmieno reuniu Síria, Palestina e Egito. Este seria o fim da primeira fase do Império
A crise sinalizou Romano e também o término do conceito inicial do principado.
Durante esse período de turbulência, os imperadores que se sucederam eram,
o início da Idade na maioria, soldados, que ficaram conhecidos como “Os Imperadores das Barra-
Média e a queda cas”. Essa mudança radical na formação dos dirigentes foi desastrosa. Os próximos
governantes seriam incultos e despreparados para lidar com assuntos econômicos e
do Império políticos. A sucessão rápida desses imperadores, com média de dois anos no poder,
demonstrou claramente a falta de visão deles para a solução de problemas.
ANARQUIA MILITAR
Outro nome pelo qual essa fase é conhecida é “Anarquia Militar”. O termo é
bem-explicado no começo da crise. O primeiro desses imperadores foi Maximinus,
notório soldado de classe baixa que chegou a comandante de legião. Suas tropas
o aclamaram imperador, embora ele nunca tenha ido à Roma depois disso.
Maximinus regeu durante três anos e derrotou os também usurpadores
Gordiano I e II (pai e filho, co-regentes). Em Roma, no mesmo ano de 238, o
Senado nomeou simultaneamente dois outros regentes: Pupienus e Balbinus, mor-
Imperadores Romanos
36 Grandes Líderes da História
O Império Gaélico foi formado pela união da
Gália, Hispânia e Bretanha, enquanto o Império
Ilustração: Luis Gustavo Bueno
Imperadores Romanos
38 Grandes Líderes da História
isso, Diocleciano, Maximiano, Galerius e Constantius tomaram
cuidados extremos. Qualquer turbulência ou demonstração de
fraqueza podia incendiar novamente o Império com levantes
civis e invasões estrangeiras.
Nas moedas e nos monumentos públicos, os quatro mo-
narcas eram gravados com rostos idênticos. Táticas desse tipo
asseguravam o respeito igualitário entre os quatro, permitindo
maior segurança na manutenção do regime.
Enquanto em tempos anteriores o papel do imperador pa-
recia sempre em xeque, naquele momento os três pilares man-
teriam a estrutura caso um deles ruísse. Antes, quando um im-
perador era requisitado em batalha, deixava Roma para trás e
não sabia quais conspirações encontraria na volta. Ou, caso
ficasse em Roma e enviasse um general, corria o risco de ver
esse general ser aclamado imperador por suas tropas logo após
uma vitória.
A tetrarquia, além de permitir melhores resultados de de-
fesa e conquista militares, também previa um celeiro maior
de sucessores. Foi assim que guerras e revoltas foram venci-
das com relativa facilidade. Entre elas, a retomada da Breta-
nha sob o comando de Constantius, em 297. Durante a crise,
a Bretanha havia se separado do Império Gaélico, continuan-
do assim por 10 anos sob a regência de Carausius (286-293)
e Allectus (293-297).
Antes da
Queda
O fim do Império Romano foi marcado pela nova política
religiosa de Theodosius I, pela divisão entre o Ocidente e o
Oriente e, finalmente, pelo desaparecimento do Império
T
heodosius I é lembrado por duas façanhas memo- crifício de animais crimes graves. Igrejas e templos foram destruí-
ráveis, mas nem sempre louváveis: foi o último im- dos, fechados ou transformados em prédios de serviços públicos.
perador romano a reger o território unificado e foi A mesma violência experimentada pelos cristãos agora havia mu-
quem decretou o cristianismo a religião oficial de dado de lado. Cultos pacíficos foram completamente aniquilados
Roma. Após sua morte e a deplorável regência de por não serem cristãos, por terem outra visão ou por razões ain-
seus dois filhos, o Império tornou-se um repositório de tribos bár- da menores. Entre eles, estava o grande Serapeum, na Alexandria,
baras e os futuros imperadores seriam nada mais que peças deco- um templo que guardava documentos preciosos remanescentes da
rativas em um cenário de completa decadência. destruição da famosa biblioteca.
Nascido em Cauca, atual Espanha, em 346, Theodosius cres- Em uma revolta liderada pelo bispo Theophilus e endossada
ceu em um ambiente militar. Seu pai, Theodosius, o Velho, era um por Theodosius por volta de 392, o templo dedicado a Serapis foi
oficial de alta patente nas frentes do império regido por Valentinia- destruído. A aniquilação aos templos pagãos espalhou-se, princi-
no I. O jovem Theodosius acompanhou as campanhas do pai pela palmente no Egito, comprometendo de forma incalculável os re-
Bretanha em 368. Theodosius, o Velho, foi executado após perder gistros históricos da região. Tudo em nome da religião cristã.
duas legiões em uma batalha em 374. Feriados pagãos foram abolidos e transformados em dias úteis.
Theodosius foi alçado ao posto de co-imperador no Orien- Por todo o Império, o perfil religioso foi profundamente alterado,
te por Graciano, em 378. Sua performance nos anos seguintes e incluindo o corte de verbas para cultos greco-romanos remanes-
a eficácia com que eliminou usurpadores durante a regência de centes. O Fogo Eterno que queimou por séculos sob a responsa-
Valentiniano II levaram-no ao posto máximo de Augustus. bilidade das Virgens Vestais foi apagado. Uma das últimas vítimas
da inveterada reforma cristã foram os Jogos Olímpicos, que louva-
O CRISTIANISMO vam os antigos deuses gregos. A última edição aconteceu em 393.
A definição de cristianismo na época era bastante controversa. Theodosius falhou até mesmo em diferenciar o esporte da religião.
Facções divergiam e se destruíam quanto à natureza de Cristo, de
Deus e do Espírito Santo. Theodosius já vinha debatendo o assun- A DIVISÃO DO IMPÉRIO
to com seus antecessores e havia sido batizado durante uma doen- Antes de morrer, Theodosius dividiu o Império entre seus dois
ça grave. Após séculos de perseguição e obscurantismo, os cristãos filhos, Flavius Arcadius e Flavius Augustus Honorius. Enquanto o
estavam dando a volta por cima. As diferenças entre um culto e pai demonstrava pulso forte, seus filhos acabavam por destruir
outro eram levadas a ferro e fogo, principalmente quando o impe- todo seu esforço. Honorius regeu o Império Romano do Ocidente
rador resolveu apoiar os ritos cristãos e nicênicos. por 28 anos como um fantoche nas mãos do conselheiro vânda-
Proibições foram promulgadas, tornando atividades como sa- lo Stilicho. Foi durante sua regência, com a capital situada em Ra-
Imperadores Romanos
40 Grandes Líderes da História
Constantinopla
Ilustração: Luiz Gustavo Bueno
vena, que Roma foi invadida, coincidentemente pelos vândalos, e e Basiliscus, não reconheceram Romulus como imperador. Diante
destruída em 410. de tanta instabilidade política e ameaças de invasões germânicas,
Do outro lado, Arcadius também não tinha grandes habilidades a vida de Orestes não podia durar muito. Ele foi assassinado exa-
políticas ou intelectuais. Foi manipulado pela esposa Aelia Eudóxia, tamente um ano após o golpe, por mercenários de Odoarco. Os
pelos conselheiros Rufinus e Eutropius e pelo prefeito pretoriano mercenários tomaram Ravena e depuseram o jovem Romulus em
Anthemius, que era o verdadeiro regente enquanto Arcadius escon- 4 de setembro de 476. Embora emblemática, essa data não deve-
dia sua fraqueza sob o manto imaculado da fidelidade religiosa. ria ser registrada como o fim do Império Romano do Ocidente. A
A derrocada lenta do Império do Ocidente continuou com suces- autoridade de Roma sobre os territórios já estava completamente
sivas invasões e regentes cada vez menos capazes de reverter o qua- extinta há décadas.
dro de calamidade. Flavius Romulus Augustus foi o último imperador Romulus Augustus foi poupado por Odoarco, vivendo o resto
ocidental. Seu pai, Flavius Orestes, derrubou Julius Nepos por meio de sua vida com um estipêndio anual provido pelo mercenário e,
de um golpe de Estado em 28 de agosto de 475. Flavius Romulus, depois, por Teodorico o Grande, que conquistou a Itália em 507. A
ainda um adolescente, foi guindado ao posto de imperador para que Itália só voltaria a ser livre em 536. Odoarco serviu como vice-rei
seu pai pudesse reger. Orestes havia sido considerado inelegível. da Itália por meio de concessão de Zeno e com consentimento de
Nepos, foragido na Dalmácia, continuou agindo como sobe- Julius Nepos. A cidade e o Império fundados por Rômulo, mil anos
rano até sua morte em 480. Os co-imperadores do Oriente, Zeno atrás, não existiam mais.
A derrocada
Império
A
queda de um império gigantesco, como o romano, o Edward Gibbon foi o primeiro historiador moderno em vários
britânico ou o mongol, não acontece da noite para o aspectos. Foi idéia sua o uso dos rodapés e anotações bibliográfi-
dia. Não se proclama pelos quatro cantos: “O Impé- cas. E, especificamente nesse trabalho, foi o primeiro a buscar uma
rio caiu ontem!”. A decadência se instala de forma teoria para a causa da queda do Império. Talvez influenciado pelas
crônica e, paulatinamente, vai consumindo os alicer- idéias iluministas, ele tendeu a romper com a Igreja e acusou o
ces que sustentavam a estrutura. Para os historiadores, a contenda catolicismo por alguns danos importantes.
é secular. De um lado, estão as evidências e os escritos históricos, Segundo Gibbon, o processo de adoção e, finalmente, a insti-
maculados pela opinião pessoal dos escribas que viveram a época. tuição obrigatória do cristianismo por Theodosius minou as institui-
Do outro, novas teorias contemporâneas tentam encontrar os fatores ções romanas. A crença em uma continuação da vida após a mor-
parcamente registrados, reconstruindo um quebra-cabeça no qual te poderia ter causado o esmorecimento da população perante os
muitas peças foram destruídas pelo tempo ou pelo próprio homem. problemas internos e externos. O império dos céus pareceu mais
Teorias não faltam para explicar o declínio e a queda do Império atraente aos cristãos do que o Império terreno. O pacifismo prega-
Romano. Essa questão tem ocupado acadêmicos por séculos e ain- do pela Igreja e pelos ensinamentos de Jesus teria também lavado
da promete continuar assim por muitos outros. O termo “declínio a ânsia militar tão arraigada no início do império. A teoria do histo-
e queda” é usado para descrever o período de deterioração sócio- riador inglês abrange outros tópicos relevantes, como a corrupção e
política e a queda do último remanescente do título de Augustus as falhas nos procedimentos sucessórios.
no Ocidente. O primeiro a usar essa frase foi o historiador inglês Essas observações de Gibbon causaram estranheza na socieda-
Edward Gibbon, no título de seu trabalho em três volumes “The de do século 18, levantando críticas ferrenhas contra seu trabalho.
Decline and Fall of the Roman Empire” (“Declínio e Queda do Im- Rotulado como um escritor pagão, pagou caro por ter relegado a
pério Romano”, 1776-1788). história oficial a um segundo plano, privilegiando os textos origi-
Gibbon tentou reconstruir o cenário a partir de Marcus Aurelius, nais. Um de seus maiores feitos foi provar que a Igreja havia altera-
em 180, passando pela cisão entre Roma e Constantinopla com a do fatos inerentes à perseguição cristã durante os primeiros séculos
morte de Theodosius e cobrindo os próximos mil anos com a his- do Império. No texto, o autor explica que, na verdade, os vilões de
tória do Império Romano do Oriente, o Bizantino. Seu trabalho de fato foram os próprios cristãos enquanto disputavam qual seria a
reconstrução histórica é admirado até hoje. Gibbon foi o precursor doutrina a ser seguida entre suas facções diferentes. Ao final, ficava
dos historiadores modernos, quebrando dogmas e criando meios claro que o cristianismo atual havia sido forjado a ferro e fogo, e
objetivos de pesquisa. não por meio de corações iluminados e inspiração divina.
Em primeira instância, o livro é de suma importância por con-
testar a “história oficial” contada pelas Igrejas Católica e Ortodo- TEORIAS
xa. Gibbon foi diretamente às fontes originais, resgatando textos de Apesar de baseada em documentos confiáveis, a visão de
historiadores conhecidos e anônimos da época. Seu discernimento, ibbon reflete sua época. Durante o Iluminismo, a necessida-
G
ajudado pela febre do Iluminismo, resultaram em uma nova verda- de dos intelectuais de se livrar dos grilhões culturais da Igreja era
de sobre o Império Romano e a Igreja Católica. urgente. O atraso intelectual causado pelas instituições religiosas
Imperadores Romanos
42 Grandes Líderes da História
do
Tão difícil como explicar o surgimento da hegemonia
é explicar sua queda, pois não foi um evento, mas um
Romano
processo que durou três séculos... Ou mais
Há correntes
acadêmicas
que acreditam que
o Império Romano
já estava fadado
ao fracasso
desde seus
primórdios. Com
a imposição
do novo governo
em substituição
à República,
instituições como o
Senado passaram
a sofrer uma
deterioração
constante até
desaparecerem
cesso cultural entre a população e, principalmente, entre os soldados gos às mais absurdas teorias. Explicações
das fronteiras. Ao mesmo tempo, os chamados bárbaros, tão facil- de ordem econômica, moral, política, cul-
mente rechaçados no final da República, equipararam-se belicamen- tural, psicológica e até de higiênica e ge-
te com os romanos. Decadência, complacência e falta de disciplina nética são levantadas. Uma das mais in-
abriram as portas do Império para tribos germânicas e eslavas. teressantes é a de que a utilização de en-
O professor alemão Alexander Demandt publicou, em 1984, canamentos de chumbo dos aquedutos
uma coleção com 210 possíveis motivos que levaram ao fim do Im- mataram muitos da aristocracia e deixaram
pério. Há correntes acadêmicas que acreditam que ele já estava fa- outros estéreis. De fato, a elite romana pa-
dado ao fracasso desde seus primórdios. Com a imposição do novo recia ter uma grande dificuldade no campo
governo em substituição à República, instituições como o Senado da procriação, o que sempre acarretava em disputas sucessórias.
passaram a sofrer uma deterioração constante até desaparecerem. Em outras teorias, o sistema de governo é açoitado cruelmente.
Essa falta de estrutura aparece também nos mecanismos ad- A ineficiência dos romanos em criar uma Constituição e um com-
ministrativos, principalmente orçamentários, que dependiam uni- plicado sistema jurídico podem ter cooperado no crescente desin-
camente de impostos e saques. Os impostos e taxas se tornaram teresse da população por seus direitos, ignorando seus governantes
cada vez mais abusivos contra os pequenos produtores enquanto como resultado final. O peso da burocracia crescente para acomo-
as elites permaneciam isentas. Os saques chegaram ao fim quan- dar favorecidos fazia com que o direito do cidadão fosse cada vez
do o Império atingiu sua maior extensão territorial. O déficit criado menos atendido. O aumento contínuo das taxações levou um nú-
através dos gastos militares e dos excessos de luxo no Senado e no mero gigantesco de cidadãos à margem da sociedade.
principado só aumentou com o passar do tempo, culminando em Esses períodos intermitentes de desemprego e ócio culminaram
inflação e desemprego. na política do “Pane et circensis” (Pão e circo). O governo promo-
Imperadores Romanos
44 Grandes Líderes da História
via jogos caríssimos com gladiadores e animais selvagens para dis- a cobertadas, pois não havia outro instrumento de interferência
trair a população. O povo só sorria com a barriga cheia, portan- além de uma adaga nas costas. Os senadores e aristocratas roma-
to o governo também providenciava comida grátis. É preciso lem- nos, portanto, brincavam no poder como crianças em um acam-
brar que essa política populista era centralizada na cidade de Roma, pamento de férias. Honra e fidelidade eram apenas palavras
onde os cidadãos tinham direitos muito maiores que os do resto do usadas nos discursos dos eloqüentes senadores, mas raramente
Império. Mas era também Roma o celeiro intelectual e político do colocadas na prática.
governo e talvez essa falta de objetivos a serem alcançados tenha A sucessão de assassinatos e desmandos dos imperadores foi
minado a força de vontade de seus habitantes. o melhor exemplo da terra sem lei que cobriu Roma após o fim da
Assim como vemos hoje em governos por todo o mundo, os República. A contradição fica por conta de que o Direito Romano
romanos tinham seu sistema de propinas e corrupção bastante é o baluarte das teorias jurídicas até hoje. A arbitrariedade com
afiado. Além disso, as falcatruas não precisavam ser tão bem- que a Guarda Pretoriana dispunha da vida dos governantes é ab-
surda, sendo apenas um dos exemplos da fragili- a primeira invasão gótica a Roma, em 410, seguida
dade do sistema. pela comandada por Odoarco, em 476, que
Após a divisão final promovida por resultou na rendição de Romulus.
Theodosius entre seus filhos Hono- Nesse período final do século
rius e Arcadius, as duas metades 5o, a decadência de Roma já era
do Império sofreram. Em pri- tão notória que os comentaris-
meiro lugar, pela regência ma- tas da época sequer percebe-
nipulada de imperadores-mi- ram a chamada “queda”.
rins; em segundo, pela pró- Somente algumas décadas
pria sucessão de outros depois, algum historiador
infantes no trono. Mas o empregado em Constan-
lado leste do Império pa- tinopla lembrou de regis-
receu suportar melhor os trar que “o Império inicia-
augúrios, livre de hordas do por Augustus em 27
bárbaras e constantes de- a.C. havia se encerrado
sarranjos civis que leva- em 476.” Mas, aparente-
ram a população à fome e mente, esse fato não mu-
aos saques. dou muito o que já estava
Ao passo que a popula- estabelecido. A influência do
ção em geral se desesperava imperador já não era mais a
com cada vez menos trabalho e mesma e, quando Romulus saiu
proteção, os senhores da elite se de cena, o curso dos eventos não
fechavam cada vez mais em suas vilas mudou. Nem mesmo as moedas e
auto-suficientes. Para se proteger tanto taxas. Aparentemente as administrações
dos bárbaros quanto do próprio povo, os ricos locais continuaram funcionando.
fortificaram suas propriedades e contrataram exérci- Há outras tentativas de comparação entre as
tos particulares. Essa fase de poucos registros históricos seria o início duas metades do Império que buscam entender a morte de um e
da Idade Média, onde o Feudalismo tomaria de assalto a maior par- a sobrevivência de outro por mais de mil anos. No oeste, as pes
te da Europa. soas não estavam acostumadas à urbanização implementada pe-
los romanos. Na Ásia e no Oriente Médio, as civilizações eram
O OUTRO IMPÉRIO muito mais antigas e organizadas. As fronteiras do leste da Europa
Em alguns momentos surge uma ponta de dúvida se o Impé- eram extensas e a população era pequena para sustentar legiões
rio Romano do Oriente não teve um papel indireto na destruição do de defesa. No Oriente, as fronteiras eram mais estratégicas e a
Império Ocidental. Melhor armado e organizado, o exército oriental população era bem maior que a européia. A produção de grãos
não era muito atrativo para as tribos bárbaras, que preferiram atacar do Egito, por exemplo, era maior que de toda a Europa. Do ou-
em peso as fronteiras ocidentais. O golpe final parece ter sido mesmo tro lado, Roma era um exemplo de cidade totalmente dependen-
O IMPÉRIO BIZANTIN
O (330-1453)
O Império Romano do
Oriente sobreviveu
mil anos a mais que mas em pouco mais de
sua metade ocidental 10 anos essa vitória foi
. Bi- destruída pelos lomba
zantino é um termo rdos. A perda da Sicília
usado para diferenciar ,
Império Romano com o do Egito e quase de tod
capital em Constatino a a costa norte da Áfr
pla ca aconteceu no século o i-
– fundada por Constant 7 . Cada vez menos in-
ino em 330 – e com
grego como língua ofi o fluente e com disputas
cial. Constatino promo religiosas com a Santa
veu uma maciça promo - Sé de Roma, a Igreja
ção dos ideais helenísti- de Constantinopla se
parou da Católica em se-
cos aliado à completa 1054, criando-se assim
cristianização do povo. a
O termo “bizantino” Igreja Ortodoxa.
vem de Bizâncio, anti-
go nome da cidade de Derrotas sucessivas,
Constantinopla. O Impé como a perda das
rio não sobreviveu com - últimas posses na Itália
louros ou grandes asp para os normandos e
i- conquista de Constant a
rações após a separa inopla pelos Cruzados
ção de Roma. Na me em
tade 1204 minaram o Império
do século 6o, o impera até seu derradeiro des
dor Justiniano promo -
veu tino em 1453, com a
a retomada da Itália, invasão dos Turco-Oto
invadida pelos vândal ma-
os, nos e a tomada definit
iva de Constantinopla
.
História de verdade
em quadrinhos
Asterix, um dos personagens mais famosos dos
quadrinhos, traz um retrato fiel da invasão de
Júlio César na Gália. Em 50 a.C., uma aldeia
povoada por irredutíveis gauleses...
Imperadores Romanos
48 Grandes Líderes da História
Divulgação
do do druida Panoramix. Seu melhor amigo é o obeso Obelix, dos Simpsons, de Matt Groening.
que caiu no caldeirão da poção mágica quando criança. Perso Ingleses são mostrados como um povo extremamente edu-
nagens carismáticos não faltam, com o chefe Abracurcix e o cado que bebe cerveja quente e uma água sem gosto (chá). Os
bardo insuportável Chatotorix. A aldeia funciona como uma godos se parecem com os alemães, sempre envolvidos com seus
grande família, com brigas constantes entre seus moradores, aliados em ações militares em alusão à Primeira e à Segunda
mas que param tudo para dar uma boa surra em qualquer le- Guerra. A Hispânia (Espanha) é mostrada como a colônia de fé-
gião romana que esteja por perto. rias dos gauleses (franceses), por ter um custo de vida mais bai-
A presença dos exércitos romanos na série é hilária e, even- xo. Dentro da própria França, as diferenças de uma região para
tualmente Asterix e Obelix têm de cumprir missões em outros outra são exploradas, colocando os marselheses, por exemplo,
cantos do Império. Aventuras acontecem na Bretanha (Inglater- como decoradores incorrigíveis, e os habitantes de Reims como
ra), Roma e Egito. Os nomes são fiéis aos da época, como Lug- beberrões insaciáveis. Obviamente os romanos são explorados
dunum para Lyon e Lutécia para Paris. Alguns enredos mostram como senhores da guerra que não conseguem controlar seus
planos arquitetados pelos romanos para conquistar a aldeia, se próprios legionários.
não pela força, pela ganância ou pela inveja. Em uma das his- Com a morte de Goscinny em 1977, Uderzo continuou o
tórias, “Obelix & Cia”, Goscinny e Uderzo dão uma verdadeira trabalho sozinho, escrevendo e desenhando as histórias. En-
aula de economia. quanto os primeiros álbuns traziam um humor típico francês,
Quando visitam as diferentes províncias do Império, os he- os mais novos buscam uma linguagem mais universal. É im-
róis encontram estereótipos e caricaturas da cultura do século possível calcular quantos álbuns de Asterix foram vendidos.
20. Quando o gladiador Spartacus apareceu nos quadrinhos, Centenas de milhões de exemplares e mais alguns bilhões de
por exemplo, Uderzo se preocupou em desenhá-lo parecido gargalhadas foram espalhados pelo planeta por esses carismá-
com Kirk Douglas, que fez o papel do rebelde no cinema. Mui- ticos personagens.
tos outros aparecem da mesma forma, como Stan Laurel e Oli- No Brasil, os livros foram lançados na década de 1970 pela
ver Hardy (O Gordo e o Magro) ou até o presidente francês Cedibra e, atualmente, são editados pela Editora Record, à
Jacques Chirac. Essa idéia foi explorada depois nos episódios venda em todas as livrarias.
Filmes
A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO (1964) (John Gavin), Varínia (Jean Simmons) e Sempronius
Direção: Anthony Mann Gracchus (Charles Laughton)
Personagens: Marcus Aurelius (Alec Guinness), Lucilla Duração: 198 minutos
(Sophia Loren), Livius (Stephen Boyd), Commodus
(Christopher Plummer) e outros A produção de Spartacus, ba-
Duração: 188 minutos seado no livro de Howard Fast de
mesmo nome, não foi tarefa fácil.
Com a iminente morte do Guerras de ego, caprichos mesqui-
imperador Marcus Aurelius, o nhos e excesso de genialidade cau-
general Livius e o herdeiro Com- saram muitos problemas durante a
modus acabam disputando o realização do filme. Kubrick e Dou-
trono do Império Romano e a glas, que produziu o filme, não
atenção de Lucilla, filha de Au- eram as únicas estrelas do time.
relius. A produção desse épico é Problemas com Olivier e Laughton
absurdamente gigantesca, com sobre detalhes e linhas de fala qua-
milhares de figurantes atuan- se acabaram nos tribunais.
do nas batalhas e no funeral do O filme em si é espetacular, com Kubrick desfilando sua
imperador morto. As atuações e perfeição em cada detalhe e atuações clássicas de grandes
a história seguem o padrão dos nomes de Hollywood. A história não poderia ser mais apelati-
épicos dos anos de 1960, com va, contando a vitória de um simples escravo trácio, compra-
cacoetes teatrais e enredo fraco. Mas o verdadeiro chamariz do como gladiador, que lidera uma revolta da plebe e toma da
são a fotografia e a produção, que reconstruíram prédios in- cidade de Roma. As cenas de batalhas entre a guarda romana
teiros que acabaram por servir até aos historiadores. e as hordas chefiadas por Spartacus são memoráveis.
A acuidade histórica do longa chega a ser notável, mas Spartacus e seus aliados planejam fugir de Roma, mas as
não perfeita. As relações entre Commodus e sua irmã, por investidas do exército não lhes deixam outra alternativa além
exemplo, são retratadas com muito mais intensidade nos de lutar e lutar. Os escravos não sabem, mas não passam de
documentos históricos. A base que serviu para a constru- peões no jogo de poder entre o grande senador Gracchus e o
ção do filme foram os livros do inglês Edward Gibbon, de homem que almeja ser o ditador da República Romana, Cras-
onde o nome do filme foi tirado. Os roteiristas, entre eles Ben sus. Na história real, acredita-se que os homens de Spartacus
Barzman, tiveram a consultoria do historiador Will Durant. A tomaram gosto pela batalha e acreditaram que seriam mes-
falta de fidelidade histórica da versão final do filme colocou o mo capazes de tomar Roma. A empolgação dos escravos não
acadêmico em maus lençóis perante seus colegas. durou muito quando duas legiões arrasaram sumariamente
De qualquer maneira, em uma coisa o filme acerta: a rebelião.
Commodus é colocado na posição de pivô do início da que- Mesmo sendo um dos mais aclamados épicos de
da do Império. O filme de Mann é louvado pelos fãs do ci- Hollywood, Stanley Kubrick nunca reconheceu “Spartacus”.
nema por ser um dos maiores épicos de todos os tempos. Para ele, as imposições feitas pela produção e pelos próprios
Recentemente, a produção recuperou um pouco da aten- atores tolheram sua liberdade. Ele renegou o filme e pediu
ção desgastada através das décadas com o lançamento de que seu nome fosse retirado dos créditos. Uma atitude típi-
“Gladiador”, de Ridley Scott. No papel de Commodus, Jo- ca de Kubrick, ainda mais se lembrarmos que o incomparável
aquin Phoenix enfrenta a ira de Maximus (Russell Crowe). diretor foi chamado às pressas para dirigir o filme já em pro-
Mesmo sendo fictício, o personagem de Crowe tem um fun- dução. Kubrick era apenas um diretor estreante de 31 anos,
do real.Commodus provavelmente foi assassinado por um entrando em uma arena com as maiores feras da Hollywood
gladiador enfurecido. dos anos de 1950. Do outro lado, Douglas também quebrou
barreiras tanto como ator quanto como produtor. Uma de
SPARTACUS (1960) suas maiores ousadias foi contratar o proscrito roteirista Dal-
Direção: Stanley Kubrick ton Trumbo, um dos nomes da lista negra de Hollywood após
Personagens: Spartacus (Kirk Douglas), a hipócrita caça às bruxas promovida pelo Comitê de Ativida-
Marcus Licinius Crassus (Laurence Olivier), Julius Caesar des Anti-Americanas na década anterior.
Imperadores Romanos
50 Grandes Líderes da História