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CRONOLOGIA DA HISTÓRIA

DA PARNAÍBA

RENATO NEVES MARQUES


AGRADECIMENTOS

Eterna gratidão a Sra. Lúcia Maria Nunes Alves, Sr. João Maria Madeira Basto, Dr.
Lauro Correia, Dr. Valdecir Cavalcante, Sr. Mário Martins Meireles, Sr. e Sra.
Benedito José dos Santos, a minha esposa Eugênia Rafayella Carvalho Santos
Marques, Frei Moisés Siqueira Moraes (O.F.M), Mons. Francisco Soares, ao Palácio
Episcopal de Parnaíba.
Agradecimentos ao Arquivo Público do Estado do Piauí – Casa Anísio Brito, Arquivo
Nacional, Biblioteca Nacional, Torre do Tombo (PO), Biblioteca da Ajuda (PO),
Arquivo da Sé de São Luís, Arquivo Público do Estado do Maranhão, Arquivo
Público do Pará, Instituto de Terras do Pará (INTERPA), Biblioteca Pública de
Parnaíba, Secretaria da Igreja de Nossa Senhora da Graça, Cartório Almenda,
Cartório Rubenito Furtado, Padre Francisco Sadoc Araújo
DEDICATÓRIA

Este livro é dedicado aos meus queridos filhos Rafael Nunes Marques, Gabriel Nunes
Marques e Felipe dos Santos Marques.

,
HOMENAGEM PÓSTUMA

Aos meus queridos pais Waldinar Basto Marques e Yolete de Moraes Neves Marques
Ao meu querido avô paterno Celso da Cunha Marques
Ao meu querido avô materno Ademar Gonçalves Neves (Ademar Neves)
PREFÁCIO

Faz mais de vinte anos que teve início pesquisas sobre o Delta do Parnaiba, quando foi
verificado várias informações publicadas em contradição aos documentos oficiais sobre
Parnaíba. Em vista destas contradições deu-se imediatamente o levantamento da história da
minha querida terra Parnaiba, sem nenhum apoio financeiro e de entidades. Início foi escrito
em papel almaço pautado, por não ter máquina de escrever e nem computador. Foi-se noite a
dentro num esforço de escrever antes que acabasse as informações que morfavam nos
arquivos. Sem gastar com os correios fui muito bem recebido pelos principais centros de
pesquisas do país e de Portugal.
Lamentavelmente numa época em que os documentos estavam em bom estado de
conservação, não tiveram os escritores e historiadores o cuidado e interesse em pesquisar
valiosos papeis que aguardavam serem descobertos. Escreveram baseados nas informações,
na tradição oral, na melhor das intenções em contar a nossa história. Mas não se justificava
mais ficarmos repetindo o que foi escrito sem uma base de pesquisa documental.
Diz-se que a história é a visão de quem escreve. Não concordo totalmente com essa
opinião, pois é fácil saber se os documentos oficiais foram escritos com toda sinceridade. É
fácil perceber quem escreveu se fantasiou ou exagerou. Não sou, nunca fui e nem pretendo
ser dono da verdade. Os documentos falam por mim.
Das cidades piauienses pode-se dizer que Parnaíba é por excelência rica na sua história,
na sua cultura, no seu folclore, nos seus grandes feitos, no desenvolvimento comercial,
industrial, agrícola, pecuária e sempre despontou como pioneira em tudo que hoje existe no
Piauí. Numerar seus feitos comerciais, industriais, políticos, cultural, navegação fluvial,
marítima e terrestre daria para encher milhares de páginas.
Terra fértil dela germinou grandes políticos, grandes escritores, grandes médicos,
magníficos oficais das nossas forças armadas, juristas de renome nacional, grandes
comerciantes, um povo guerreiro e trabalhador.
Que este trabalho sirva de pesquisas para alunos das escolas públicas, particulares, de
História das universidades , escritores, pesquisadores, professores , centro culturais. Não se
pode dizer que está concluido por não ter sido inserido nele o século XX, que ficará a cargo
de quem se interessar em dar continuidade. Naturalmente receberá críticas, como é notório
acontecer em publicações dessa natureza. Cumpri com minha obrigação de parnaibano, mas
ressalvo que não sou, nunca fui e nem pretendo ser dono da verdade. Os documentos falam
por mim.
Encerro com a magnífica letra do Hino da Parnaíba escrita pelo poeta R. Petit, musicada
pelo meu avô materno Ademar Gonçalves Neves (Ademar Neves):

Ó Parnaíba,
Teu nome exprime
Em nosso peito
Ardor sublime

Que nos inspira a repetir a doce escala


Da voz do rio que te envolve que te embala

Teus filhos bravos


No embate rudo
Fazen do peito
Um bronzeo escudo
Estribilho – E quem da luta
Todo ardor não liba
Ao som do brado:
Salve ó Parnaíba

Possues o brilho
Da paz bendita
Que sobre nós
Fulge e palpita

Ao sopro forte do Nordeste a vida canta


Nessa oficina de labor que nos encanta

Do nosso esforço
Vem a surgir
A glória excelsa
Em teu porvir

Estribilho

A doce sombra
Da paz suprema
Progredir sempre
É o nosso lema

Onde a bravura destemina enfim assome


Nos lembra o rio que te deu tão grande nome
Teus filhos bravos
No embate rudo
Fazem do peito
Um bronzeo escudo

Estribilho – E quem da luta


Todo ardor não liba
Ao som do brado:
Salve ó Parnaíba

Possues o brilho
Da paz bendita
Que sobre nós
Fulge e palpita

SÉCULOS XVI, XVII, XVIII, XIX.

Descobrimento e conquista
Esta era uma região de florestas mergulhadas no seu sono milenar e na escuridão
dos seus mistérios, de surpresas e perigos, de duendes e de demônios, de animais
ferozes, de inundações, de índios valentes, inconfiáveis e amigos das guerras. E foi
por Deus enriquecido com os mais belos prodígios da natureza e guardado do homem
civilizado por muitos anos. Viviam por estas paragens, uns povos desconhecidos que
deixaram marcas da sua presença em alguns lugares como atestam os sambaquis e
inscrições localizadas nas áreas de Luiz Correia, Buriti dos Lopes e Ilha Grande de
Santa Isabel, cujas datações são de 4 a 5.000 anos
As primeiras informações destas terras foram registradas no mapa de Juan de La
Cosa, elaborada em 1500 com base nos croquis provenientes das viagens de Hojeda,
Colombo e Pinzón, em que o atual rio Parnaíba aparece com a denominação de "riuo
niegro", "o m. negro na margem ocidental duma chanfratura" 1. O registro se faria
também presente em vários mapas, tais como: no mapa de Viscondi de Mariollo
(1527), na Carta Universal de Dieppe Lepe (1529), das Capitanias Hereditárias (1532
e 1534), do Governo Geral (1548), Mapa-múndi de Bartolomeu Velho (1561) e
especialmente nos seguintes: "Terra Brasilis" (1519) de Lopo Homem e nos dois
intitulados "América Meridional" (1540 e 1550) de Alonso de Santa Cruz e Pierre
Descaliers, em que aparecem como "Hera de S. Vicete", relativas às descobertas de
Pinzón. Estes três últimos são documentos valiosos da nossa história a registrarem a
presença espanhola antes de Cabral, Nicolau Resende e Domingos Jorge Velho. Se
não descobriram pelo menos registraram suas presenças rumo ao "Mar Dulce". Todos
estes mapas, e outros do mesmo período, têm valor histórico pelo registro cartográfico
das primeiras incursões a estas terras na segunda metade do século XVI.
A própria história do descobrimento e conquista da nossa região está vinculada
a época de expansão territorial portuguesa no Brasil. Até o final do século XVII
limitaram-se os portugueses a povoar uma parte do litoral e a defender a terra contra as
investidas de intrusos desejosos de fundarem um domínio no Brasil e contra os piratas
que infestavam as praias em busca de riquezas, principalmente o pau-brasil e o âmbar,
preciosidades procuradíssimas e de grande valor comercial no mercado europeu. Aos
que preferiam as aventuras, as especulações, o tráfico, alongavam as vistas para os
desconhecidos sertões, levados pelas lembranças guardadas na alma dos tempos em
que desafiaram as voragens dos mares. A estes caberiam o papel histórico da extensão
das fronteiras do Brasil.
Os sertões adormecidos saltavam aos olhos como um novo desafio maior do
que o Mar Tenebroso, cujas lembranças guardavam das primeiras viagens. Nos sertões
encontrariam teatro mais amplo em que retornariam a índole de desbravadores. Até o
final do século XVI a presença de algumas embarcações de civilizados na nossa região
litorânea não passava de aventuras, de incursões a procura da madeira e das drogas. A
partir do final do século XVI haveria maior interesse dos portugueses no sentido de
tomarem posse definitiva destas terras.
Os primitivos habitantes da região –
Os Tremembé – Pe. João Tavares - Os primitivos habitantes da nossa região foram
os índios Tupinambás, os Gamelas e os Tremembé, estes do ramo Cariri divididos em
três grupos: Crateús, Aranis e Potis, os mais valentes, bem figurados, prestimosos e
exímios nadadores quais "peixes racionais". Os domínios dos Tremembé estendiam-se
desde a atual Tutóia Velha (MA) até Almofala (CE), tendo habitado como nômades
algumas ilhas do Delta do Parnaíba, entre elas a Ilha Grande de Santa Isabel. Viviam
por estas terras paupérrimos, em bandos pelas praias, matas e rios, ordenados a seu
modo, sem Deus, sem Lei, sem política, sem prudência, inconfiáveis, dados a vinhos e
amigos das guerras. No princípio houve bom relacionamento com o homem
civilizado, mas sofrendo as primeiras atrocidades se tornaram ariscos vendo com
desconfiança a presença do branco nas suas terras.
O primeiro religioso que teve contato com os Tremembés foi o franciscano
André de Thevet (1580/1595) e o primeiro cristão, de que se tem registo, foi Nicolau
Resende (1571). Como nesse ano Gabriel Soares informa que caravelões
frequentavam a nossa costa, principalmente o Delta do Parnaíba, é provável que
outros civilizados tenham tido contato com estes índios.
As primeiras referências registradas sobre os Tremembés (ou Teremembés,
Taramembés, ou Tremamês) vêm do missionário capuchinho Frei Ivo d’Évreux que
acompanhou a expedição francesa em 1612 rumo ao Maranhão. Diz Ivo d’Evreux que:
“...eram ferozes, vingativos e traiçoeiros” e “tão robustos a ponto de
segurarem pelo braço um dos seus inimigos e atirarem-no ao chão como se
fosse capão”. Pereira da Costa é da opinião que não era bem assim,
conquistada a amizade eram “mansos e pacíficos, famosos e bravos”. César
Marques argumentava que “eram os mais bem figurados, valentes,
prestimosos” e Carlos de Lima “de mais alta estatura, mais claros, rostos de
maçãs salientes e traços mais duros, eram hábeis caçadores e pescadores por
excelência”. Sabe-se, conforme documentos, que eram exímios nadadores
“por serem extraordinários na forma de nadar, pescar e mergulhar,
adaptando-se ao reino marinho similares a autênticos peixes”, o que, neste
caso, a Provisão régia de 24.01.1723 chama-os de “peixes racionais”: “Dom
João por Graça de Deus Rey Exc.ª. Faço saber avos João da Maia da Gama
Governador e Capitão Geral do Estado do Maranhão, que havendo visto a
conta que me destes em carta de dez de agosto do ano passado que desde que
reconheceram as praias do Maranhão e da Pernahiba para ela houvera
sempre uma grande Nação dos chamados Termambés que são huns chamados
peixes racionais, pois a nado saem ao mar a pescar ou com arpões, e ainda
com hum pão na mão expondo-se a fereza de hum tubarão esperando que ele
abra a boca para o melhor lhe metem a mão com destreza nela levando hum
pão de dois bicos que atravessando na boca do tal peixe o trazem para fora, e
que a sua casa e cama é areia e comumente a sua seara mar, e que vivendo
estes racionais brutos nesta forma se lhe não pusera Missionário nem se
tratara nunca de os Aldear com o pretexto ...”.
Sendo nômades, andavam em bandos ao longo do litoral e das planícies, tendo
como cama o próprio areal, bem camuflados por entre os galhos das árvores:
“serviam-se desses lugares de areias brancas e das árvores secas para agarrar
os Tupinambás, como ratoeiras para pilhar ratos”, que tremiam de medo de
confrontar-se com os Tremembés.
Em 1618 foram implacavelmente guerreados por Martins de Albuquerque a
mando do seu pai, Jerônimo de Albuquerque, que governou o Maranhão (1614/1618),
por ocasião do levante de Cumã. Em 18.05.1626, Frei Cristóvão Severim, primeiro
custódio da ordem franciscana, vindo do Maranhão rumo a Serra da Ibiapaba, com
100 homens, sendo 90 índios, 8 portugueses dos quais 6 eram arcabuzeiros, um
religioso franciscano e o padre Baltazar José Correia, vigário da matriz do Pará, ao
passarem a pé pela região circunvizinha ao Delta do Parnaíba travaram violento
combate com estes índios. Por duas vezes foram atacados e por serem em maior
número o inimigo, todos, ajudados e animados por Cristóvão Severim “lhe tiveram os
encontros tão valorosamente, que enfim se livraram deles, deixando-lhes também
alguns dos seus mortos e feridos”.
Foram novamente, em 1679, guerreados terrivelmente por Vidal Maciel
Parente a mando do governador maranhense Inácio Coelho da Silva (1676/1682), por
terem matado alguns náufragos portugueses e por acharem que constituíam grande
perigo àqueles que ancoravam suas embarcações próximas das praias. Esta chacina
teria ocorrido na Ilha Grande de Santa Isabel. Sem respeitar sexo e idade, de uma
maloca de 300 índios escaparam apenas trinta. O próprio governador sentiu este
perigo por ocasião de sua viagem, “do que se salvou pelos tiros da artilharia de
bordo”, conforme escreveu o historiador Berreto. Em 1656 o padre Pedro Pedrosa e o
Irmão Antonio Ribeiro tomaram contato com estes índios, dos quais se livraram
habilmente das ciladas. Uma breve pausa em 1697, ano em que o padre Miguel
Carvalho os dizia em paz. Em 1711, João Gomes do Rego Barra e o Mestre-de-Campo
Antonio da Cunha Souto Maior lhe deram combate na Ilha Grande de Santa Isabel.
Uma nova revolta em 1712, atacando os criadores de gado vacum do Piauí e
do Maranhão. Associados aos Acrius, Anacaes e Guanacences, em 1713, sob a chefia
de Mandu Ladino, atacaram a Vila da Parnaíba fazendo grandes estragos e colocando
em pavorosa os moradores de toda região deltaica. A primeira padroeira da Vila da
Parnaíba, Nossa Senhora do Monte Serrate, foi transferida para Piracuruca a fim de
ficar protegida dos ataques indígenas. Nesse mesmo ano o Mestre-de-Campo Antônio
da Cunha Souto Maior, designado para dar-lhes combate, foi assassinado pelos seus
próprios índios. Foi o maior levante indígena, o último grito contra o domínio do
homem civilizado.
Em 1728, já aldeados, os irmãos Lopes, João, José, Manoel e o seu primo
Manoel Rocha, invadiram suas terras introduzindo gado e instalando currais, gerando
assim um conflito que duraria anos.
Guerreados implacavelmente e dispersos pelas matas do continente, se sentiram
na vontade de serem aldeados com objetivo de preservarem sua nação do extermínio.
De maneira que, em 1722, foram aldeados e catequizados pelo padre João Tavares.
Foram eles próprios que pediram ao Governador e Capitão General João da Maia da
Gama o padre João Tavares, conforme Provisão régia de 24.01.1723, dirigida ao
governador:
mas que chegando vós, vos vierão vezitar como custumavão, e que
depraticadso vos decerão sequerião Aldear, e Baptizar os seus filhos e vos
pedirão o padre João Tavares da Companhia de Jezus para seu Missionário
com declaração de ser a Aldeia no Rio Tâmara que fica entre os Lançoes
grandes e pequenos, e que...”; “... que obrastes bem em mandar Aldear esta
Nação dos Taramambés no sítio que ensinuaes, e em lhe dardes por
Missionário ao Padre da Companhia de Jezus, que elles pedirão, pois este
meio não só se pode conseguir a utilidade que apontais, mas mais essencial
que he asalvação destes Índios e sou servido que...”. O aldeamento se deu
mediante as condições por eles exigidas. José Vidgal em carta a El-Rei, de
09.061734, informava: “aldearam-se com pacto de não servirem, alegando que
tinham visto brancos açoitarem os índios que servem. E, no entanto, serviam e
eram úteis à Coroa na vigia da Costa”.
À sua antiga aldeia, localizada nos lençóis, deu-se o nome de Otoya (Tutóia), a atual
Tutóia Velha, que ainda hoje existe. No catálogo de 1723 a Missão aparece no sítio
onde faz barra principal um dos braços do Parnaíba, chamado Santa Rosa e também
Canal de Tutóia.
Foram os Tremembés os primeiros possuidores de Carta de Data e Sesmaria
sobre o Delta do Parnaíba. A 21.06.1724 o Governador e Capitão General João da
Maia da Gama, na cidade de Belém (PA), em atendimento a requerimento do Principal
dos Tremembés e a pedido do padre João Tavares, por Carta de Data e Sesmaria
“concedeu 4 léguas de terra ao principal Manuel Miguel e aos índios das tribos
Tremembés que foram aldeados pelos padres da Companhia no sítio então chamado
Mairim onde já havia dado início à edificação de uma igreja”. Depois, outra Carta de
Data, expedida a 21.04.1727, pelo mesmo Capitão General, concedeu a estes índios
“légua e meia de terra na ilha Pará-mirim, conhecida pelo nome Cajuais, onde
haviam levantado casa e currais”. Por ocasião do conflito gerado pelos irmãos Lopes,
em 1728, ao governador Alexandre de Sousa Freire foi expedida a Provisão Régia,
datada de 25.01.1728, ordenando-lhe que defendesse as aldeias dos Tremembés de
toda a violência e perturbações, conservando-os nas suas terras e fazer diligência para
prender os malfeitores que as danificavam: “mandando castigar e remeter para
Angola por temer que façam um levantamento, e deitem por fora ao dito Missionário
e seus Índios, se o mestre-de-campo não os prender”. Esta provisão foi lavrada em
atendimento a representação dirigida ao Rei pelo padre João Tavares, solicitando as
providências contra os irmãos Lopes. Era Provincial da Companhia de Jesus e
Superior da Missão o padre José Lopes. A Provisão Régia, de 07.07.1730, confirmaria
a permanência dos Tremembés nas posses das léguas de terra que tinham na Ilha do
Cajueiro, dadas pelo governador João da Maia da Gama. Uma outra provisão, datada
de 29.11.1731, foi expedida pelo Conselho Ultramarino ao governador do Maranhão,
Alexandre de Sousa Freire, estranhando o fato de não ter dado imediato cumprimento
à ordem de 07.07.1730; determinava novamente que o governador desse cumprimento
à dita ordem, mantendo a posse dos índios nas quatro léguas que lhes pertenciam e
agir contra os irmãos Lopes. Alexandre de Sousa Freire, precisando ir à cidade do
Pará, ordenou ao Capitão-mor que fizesse manter os Tremembés na posse das terras
em cumprimento a Provisão de 07.07.1730, até aquela data não obedecida pelo ex-
governador. Foi nesse mesmo ano procedido à medição das terras e comunicado ao El
Rei em carta de 24.09.1732. Sobre o assunto foi expedida a Provisão, de 18.03.1733,
da qual se lê:
“... para mandar meter de posse os índios Tremembés das quatro léguas de
terra que tem na ilha dos Cajueiros”; “... informando do abuso que se
cometeu na medição daquelas léguas e do prejuízo que dela se há de seguir a
minha real fazenda além da vixação de alguns vassalos, que com justo titulo
possuíam fora da medição desta terra...”; “sou servido ordenar-vos informeis
declarando o escrúpulo que tendes sobre a medição destas terras e o prejuízo
que nesta matéria considerais à fazenda real”.
Novamente atendendo pedido dos jesuítas uma nova medição das terras foi determinada
pela Provisão de 21.08.1741, dirigida ao Ouvidor do Maranhão: “Dom João por Graça de
Deos E. C.ª. Faço saber avós Ouvedor Geral da Capitania de São Luiz do Maranhão que
sevio avossa Carta de 21 d’Agosto do anno passado em resposta da ordem que vos foi para
que indo em correição a Pernahyba averigüeis e desses conta do excesso que houvesse na
medição, na data das terras que os Padres da Companhia requererão em nome dos Índios
Taramambés e lhe forão concedidas na Ilha do Cajueiro”; “... e que neste particular
respondeu o Procurador daminha Fazenda. Mepareceu ordenarvos defiraes as partes
naforma da odem de 6 d’Agosto de 1685 procedaes amedição requerendo-a as partes”. Por
um ofício da Câmara de Tutóia, datado de 14.01.1827, dirigida ao presidente Pedro José da
Costa Barros, foi concedido que nas terras concedidas aos índios deveria “ter 1 léguas de
terras do Patrimônio, doadas por sua Majestade em 1760”. Uma nova marcação de terras
dos Tremembés em 1870 não foi realizada por ter sido atrapalhada pelo Capitão Joaquim
Diniz Pereira de Castro, “por questões com a Câmara”. Na verdade, a posse dessas terras,
pelos Tremembés, desapareceu depois da expulsão dos Jesuítas, que as tinham sob sua
jurisdição. Nunca mais recuperaram seus direitos, inclusive sobre as terras na Ilha Grande
de Santa Isabel.
O padre João Tavares era natural do Rio de Janeiro, nascido a 24.06.1679.
Entrou na Companhia de Jesus em 11.06.1697/ Professo de 4 votos. Viera ao Maranhão
como mestre de Filosofia e Teologia, lecionando durante seis anos, inclusive a Gramática.
Em São Luís foi Vice-Reitor do Colégio do Maranhão. Pelos idos de 1722 deu início a
difícil tarefa de catequisar e aldear os Tremembés. Foi o primeiro padre a viver, morar, com
os Tremembés. Em 1728 recebeu a ajuda dos padres Luiz Ferreira e Luiz Barreto, que
também passaram a conviver com estes índios. Por ocasião do aldeamento criou a Missão
dando-lhe o nome de Nossa Senhora da Conceição, para logo em seguida “Nova Missão dos
Tremembés de Nossa Senhora da Conceição”, dando assim o inicio o que futuramente seria
a atual Tutóia Velha, situada nos Lençóis, às margens do Rio Tâmara, “onde faz barra
principal um dos braços do Parnaíba, chamado Santa Rosa e também Canal de Tutóia”. Em
1730 contava de 233 índios ainda pagãos aprendendo a doutrina da Igreja Católica.
“A criação de gado de Tutóia 20 anos mais tarde estava em grande aumento,
constituindo independentemente do gado primitivo da aldeia, importante meio
de subsistência de quase todas as casas da Vice Província: Colégio e
Seminário do Maranhão, Casa Madre de Deus, Tatuapera e Vigia” .
Sempre em defesa dos direitos dos índios, conseguiu em 1724 terras da ilha do
Cajueiro, advogando em favor do requerimento feito pelo Principal Manuel Pimentel. Em
1727 conseguiu junto ao governador João da Maia da Gama, “légua e meia de terra na ilha
Pará-mirim, conhecida pelo nome de Cajuais, onde haviam levantado casa e currais”. Por
ocasião do conflito criado pelos irmãos Lopes interferiu a favor dos índios solicitando ao
Conselho Ultramarino as providências cabíveis. Esteve também encarregado da catequese e
aldeamento dos índios Araios; a nova Missão edificada recebeu o nome de Nossa Senhora da
Conceição dos Índios Araios. Quando terminou a sua missão lhe foi dada a opção de voltar
ao Rio de Janeiro, o que não fez por aos Tremembés.
Faleceu em São Luís a 11 de junho de 1743, aos 64 anos de idade, no próprio
dia do seu aniversário de sua entrada para a Companhia de Jesus, como Nóbrega, tendo toda
a sua vida missionária dedicada aos Tremembés.
O trabalho e a vida desse notável missionário são citados em vários
documentos históricos, inclusive em cartas e provisões régias. “Devido à grandeza do seu
trabalho de toda uma vida dedicada à catequese dos índios é cognominado com justiça como
‘O APÓSTOLO DOS TREMEMBÉS”.
Povoamento - Na tentativa de incentivar o povoamento do Brasil resolveu D. João III criar
as Capitanias Hereditárias, que compreendia a divisão da colônia em lotes demarcados por
linhas paralelas, as quais iam desde o litoral até o Meridiano de Tordesilhas, no sentido
leste/oeste. Na verdade, não passavam de linhas traçadas em mapas, pois na prática a
medição dos lotes era bem diferente.
Na primeira divisão das capitanias hereditárias, em 1532, as terras da Parnaíba
pertenciam a Capitania de João de Barros2. No mapa desta primeira divisão, elaborado
em 1574 pelo português Luiz Teixeira, o atual rio Parnaíba aparece com o nome de
Rio Ano Bom, tendo na sua foz uma única ilha representando o seu Delta.
Somente em 1534 o plano de D. João III entrou em execução dando início a
primeira experiência administrativa no Brasil, com base nos bons resultados obtidos
quando foram aplicados nas Ilhas Atlânticas (Madeira, Açores, Cabo Verde e São
Tomé). Foram criadas 14 capitanias, repartidas em 15 lotes e doadas a 12 donatários.
Nesta segunda divisão as terras da Parnaíba estavam pertencendo a Segunda Capitania
do Maranhão, doada a Fernando d'Álvares de Andrade, cujos limites iam do Cabo de
Todos os Santos ao Rio da Cruz (Camocim). A Capitania Primeira do Maranhão, da
"Abra de Diego Leite" até o Cabo de Todos os Santos, fora doada a Aires da Cunha
que se associou ao escritor João de Barros. Estas duas conquistas foram um verdadeiro
desastre. Nos recifes e parcéis do litoral dos Lençóis Grandes naufragou a frota
expedicionária de João de Barros perecendo Aires da Cunha. Quinze anos depois os
filhos de João de Barros alegaram ao rei, através de requerimento, que haviam
desbravado o Maranhão mais de 1.500 léguas da costa e que se perderam com Luís de
Melo e por ele andavam.
Segundo Barbosa Lima Sobrinho em “O Devassamento do Piauí”, Vol.255,
pág.195, Luís de Melo em sua viagem de Pernambuco ao Maranhão encontrou,
conforme documento, "um grande rio alo que dizem unos en tierra de quatro grados
otros abaxo del maronon quinze léguas poco mas o menos ado allaron cantidade de
índios, los quales terriam etrellos algumas muestras y orejas de oro". Ora, é do
conhecimento de todos os cartógrafos, navegadores e historiadores, que o rio abaixo
15 léguas do Maranhão é o rio Parnaíba. Luís de Melo havia se perdido com os filhos
de João de Barros nos labirintos do Delta e tomado contato pela primeira vez com os
índios, provavelmente os Tremembés. Antecipou-se assim a Nicolau Resende.
Retornando a Portugal conseguiu Luís de Melo convencer o rei do seu intento
de conseguir alguma capitania dizendo que o rio encontrado não era o Maranhão mas
o São Francisco: "hera entrar por tierra de quatro grados ala banda del sur por um
rio grande questa antes de ligar al maranon y correr por ali sudoeste y se les
parisciese que era por alli tierra doligente lleban com ysion para entrar por el rio de
San Francº quest'a adellante del cabo de Sant Augustin alla banda del sur y por ali
atrabesar la tierra lo mas q pudiessem e hir a salir atierra de doze o treze grados
ques a do lleban estar lo bueno della tierra". Errados os graus, não era o São
Francisco; tudo indica tratar-se do atual rio Parnaíba, o Rio Grande dos Tapuias que
davam como situado a 15 léguas abaixo do Maranhão. Sabia muito bem Luís de Melo
que não alcançaria o seu objetivo se afirmasse tratar-se do rio Parnaíba, ainda
desconhecido e insignificante para os interesses da Coroa. Conseguida ajuda real
voltaria com três naus e duas caravelas rumo ao Maranhão e não ao São Francisco.
Infelizmente naufragou nos baixios do Maranhão. Este fato aconteceu em 1554,
dezessete anos antes de Nicolau Resende.
Uma terceira tentativa de ocupar o Maranhão ocorreu em 1555 com os filhos
de João de Barros. Na sua carta ao Trono, Jerônimo de Barros escreveu:
"meu irmam João de Barros e eu em tempo del Rei João 3º 3fomos por seu
mandado ao rio Maranham com hua armada a descobrir o dito rio e costa
pelas esperanças que avia de grande resgate de ouro e descobrimos mais de

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