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FESTIVAL DE PRÊMIOS DO

24º GRANDE CONCURSO

PRÊMIO GANHE MAIS


Elizeu Tavares
0139707 - Osasco / SP

R$ 15.000,00*

Imagens meramente ilustrativas

*Valor bruto de IR (25%), conforme legislação vigente. Promoção vinculada a título de capitalização da
modalidade incentivo emitido por Sul América Capitalização S.A - Sulacap, CNPJ nº03.558.096/0001-04 e
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Sumário JULHO 2016

ARTIGOS

38 SEGREDOS QUE EU 72 A CIÊNCIA DIZ QUE VOCÊ


QUERO LHE CONTAR PODE VIVER 100 ANOS
Seu corpo gostaria de compartilhar Só no Brasil, o número de
com você algumas dicas que o centenários triplicou nas últimas
farão funcionar melhor. décadas. Quer saber como você
também pode chegar lá?
48 UM HERÓI NA FUMAÇA
Ele só se tornará um bombeiro 78 ARMADILHAS PARA
de verdade se enfrentar (e EVITAR NAS FÉRIAS
superar) um batismo de fogo. Não passe vergonha na China!
Nem pelo mundo afora.
58 OUVINDO PELA PRIMEIRA
VEZ AOS 39 ANOS 86 MOMENTOS MÁGICOS
Para sair de um mundo sem Além dos pódios, há outros
sons, Jo precisou ouvir sua voz momentos olímpicos
interior e arriscar tudo. inesquecíveis.

64 VESTIDOS PARA VENCER 90 A MÚSICA EM MIM


Para vencer uma Olimpíada é Dançe como se ninguém
preciso se preparar, ter garra... e estivesse olhando (porque, no
se vestir bem! fundo, ninguém está mesmo).

P. | 64

2 | 05•2016
Aprovado pelos leitores em pesquisa prévia à publicação.

94 RUMO AO CÉU DEPARTAMENTOS


Que tal um passeio pelos
Saúde
elevadores mais belos – e um
16 A cirurgia que pode
tanto surreais – do mundo?
provocar AVCs
100 A ESTAÇÃO DO ANO MAIS 20 Problemas da urina
PERFEITA NA SUÉCIA 21 Notícias do mundo da
Os suecos são um povo
medicina
obcecado pelo verão. Talvez
porque ele passe tão rápido Casa
que quase não dê tempo de 23 Até a última gota
aproveitar tamanha beleza. Brasil
24 Crédito, débito ou pulseira
108 ATAQUE DE TUBARÃO
Nicole já está dentro da Comida
água quando vê os homens 26 O churrasco é minha
acenando. Ela acena de volta, verdade, e o prato minha
feliz, até se dar conta da testemunha
mensagem.
Suba aqui! Ainda
tem muito!
TODOS OS MESES
Hummm!
8 Frente e verso
P. | 23
12 Interaja
28 Essas crianças...
29 Papo de livro
32 Boas-novas
34 Complete a frase
36 Flagrantes da vida real
56 Ossos do ofício Tá bom!
77 Entre aspas Ei, traz um
122 Piadas de caserna pouco de
123 Enriqueça seu vocabulário geleia!
125 Desafio Seleções
126 Rir é o melhor remédio
128 Sorriso final
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Jornalista Responsável Marina Góes Presidente e CEO Bonnie Kintzer
Editora de Arte Tanara Vieira Vice-presidente e Diretor de Operações
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Da editora
Como chegar aos 100
HÁ ALGUMAS SEMANAS, numa reunião da equipe, a jornalista
Marina Góes contou algumas aventuras de seu avô, que está prestes
a completar 102 anos. Parei ao ouvir aquele número e as peripécias
desse senhor que já atravessou um século inteiro, de ponta a ponta. Tentei
me imaginar com essa idade, mas confesso que tenho a mesma dificuldade
de me ver ganhando sozinha um prêmio da loteria acumulado.
Sim, porque é muita sorte chegar a essa idade com saúde, senhor do
seu corpo e de todas as suas funções. E tirando de letra as limitações que
obrigatoriamente o tempo nos impõe. Ou não?
Será mesmo que é só sorte? Ou apenas consequência de uma genética
generosa? Para ajudar você a responder a essas perguntas, preparamos
uma reportagem contando como chegar lá, a esse marco
de um século de idade, com saúde e aproveitando a vida.
E além dos especialistas consultados em “A ciência
diz que você pode viver 100 anos”, resolvemos ouvir
alguém muito importante e que tem muito a
contribuir para o sucesso dessa longa empreitada:
o seu corpo. Veja o quanto ele tem a dizer em
“Segredos que eu quero lhe contar”.
Depois de ler todos os conselhos e dicas que
você encontra nas páginas desta edição, começo
a acreditar que pode não ser tão difícil chegar
lá e que é possível dar mais do que uma
“mãozinha” à sorte.
Então, partiu 100?

Raquel Zampil editor@rdbrasil.com.br


Editora-executiva twitter: @revistaselecoes
8 | 07•2016
FOTOS: © © REUTERS/CHINA DA ILY
FRENTE
Vire a página

07•2016 | 9
...E VERSO
Natal em julho – onde se vê isso?
Numa província no leste da China!
O verão na cidade de Yiwu signi-
fica o pico da produção de decora-
ções natalinas – e isso apesar de
a maioria das pessoas que moram
ali nem conhecer o feriado.
Embora neve, pequenos elfos
e um homem gorducho de barba
branca só sejam encontrados ali
em plástico, cerca de 60% das
decorações de Natal no mundo
todo são produzidas e exportadas
dali, todos os anos.

10 | 07•2016
Interaja
CARTAS DOS LEITORES

Esta edição de julho de Seleções é dedicada aos leitores Nadja


Melo, Recife (PE), José Zefirino dos Santos, Amélia Rodrigues (BA),
e Patricia Brasil, Campina Grande (PB).

ENERGIA NOS PÉS


Adorei a matéria “Um passo
de cada vez” sobre energia
sustentável (abril). O mundo
precisa de jovens com garra
e determinação como
Laurence Kemball. A ideia
de gerar eletricidade através
do impacto da caminhada
é fantástica – uma ideia
muito inovadora.
IZABEL TAVARES, R i o de Ja n e i ro ( R J )

UM COPO MEIO CHEIO COMIDA DE ATLETA


Já estou aplicando no meu dia É incrível o tanto que os atletas
a dia as dicas sugeridas em comem para se preparar para as
“Como ser otimista” (junho)! É Olimpíadas! Ao ler “Alimentar
importante ser humilde e ver o uma Olimpíada” (junho), fiquei
copo sempre “meio cheio” para com vontade de visitar o refeitó-
alcançar a felicidade em nossos rio da Vila Olímpica e me acabar
relacionamentos e obrigações. na comida também!
MARIA DAS DORES SILVA, Mo ss o ró ( R N ) AUGUSTA MAGALHÃES, G u aíra (SP)

NÓS QUEREMOS OUVIR VOCÊ


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12 | 07•2016
Você em Seleções
Vida de pedreiro não é
CONTE UMA HISTÓRIA ENGRAÇADA moleza, não...
E GANHE ATÉ R$ 400* É sempre trabalhando
pesado e dando
Sua história real pode ser publicada em Flagrantes da o máximo de si.
vida real (experiências do dia a dia que revelem a na- Ainda bem que
tureza humana), Ossos do ofício (humor no trabalho), o bom humor
Piadas de caserna (humor na carreira militar) e Essas
crianças... (o mundo do ponto de vista delas). Piadas
ajuda a tornar mais
podem ser publicadas em Rir é o melhor remédio. leve a maioria
das situações pelas
AS REGRAS quais passamos,
Por favor, inclua nome, endereço e telefone em suas não é mesmo?
contribuições. Todo material previamente publicado Quando três pedreiros
deve conter nome da fonte, data de publicação, nú-
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passam a ter todos os direitos de uso revertidos para Confira na piada
Seleções. As contribuições poderão ser editadas, e enviada pelo leitor
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João José
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Cavalcante Leal,
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07•2016 | 13
SAÚDE

A cirurgia que
pode provocar AVCs
Conheça os
fatos antes de
entrar na faca
para limpar
as carótidas
POR L AU R A B E I L

Caption-black
ducita sint. Ga.
Miliqui suntemp
orpo renihit
labor aut vendit
DURANTE UM EXAME de rotina ralisada, por causa de um acidente
quando fez 60 anos, Martha Bowes vascular cerebral (AVC) – o problema
descobriu que suas carótidas, as que a cirurgia deveria prevenir.
grandes artérias do pescoço que
levam sangue ao cérebro, estavam A ascensão de um risco
obstruídas por placas. Como se sen- Hoje Martha diz que, se conhecesse
tia bem, ela não se preocupou muito, as opções, pensaria duas vezes antes
até ir ao consultório de um cirurgião. de se submeter à cirurgia. Estima-se
O médico fizera um procedimento que 4% a 5% dos adultos de meia-
em seu marido e o casal voltava para -idade tenham alguma obstrução nas
o retorno. Enquanto juntavam suas carótidas, a chamada estenose. Todo
coisas, o médico perguntou a Martha ano, cerca de 100 mil a 140 mil pes-
como iam as carótidas (preocupado, soas fazem a mesma cirurgia para
o marido mencionara a obstrução). limpar as carótidas.
Sem dúvida ela precisava de uma Em outras, um tubinho de tela cha-
cirurgia, disse o médico. Com base mado stent é enfiado em uma das arté-
na descrição que ele fez, Martha rias para abri-la. Mas, ao contrário do
ficou com a impressão de que seria cirurgião que operou Martha, outros
rápido e simples como uma extração especialistas acreditam que provavel-
de amígdalas. “Fazemos uma incisão mente o risco de AVC era tão pequeno
no pescoço e limpamos a placa”, que ela ficaria bem se tomasse medi-
disse ele, segundo ela recorda. Ela camentos para baixar o colesterol e fi-
hesitou, ele insistiu. “Temos de fazer zesse uma alimentação saudável.
isso imediatamente, senão você terá As doenças cerebrovasculares, entre
um AVC”, disse ele. elas o AVC, são a causa mais comuns
Ela marcou a data mais próxima de morte e incapacidade física Brasil.
possível. No final daquela semana, Mas apenas cerca de 20% dos AVCs se
ILUSTRADO POR BRYA N CHRI STIE DESIGN

quando Martha acordou da cirurgia, devem à obstrução de uma grande ar-


sua boca não articulava as palavras téria como a carótida. A maioria das
direito. Ela olhou o relógio na parede pessoas com obstrução da carótida
e teve dificuldade de dizer que horas morrerá com ela, não por causa dela.
eram. E descobriu que não conseguia Nos Estados Unidos, um estudo da
mexer o lado esquerdo. “Quando per- revista JAMA Neurology acompanhou
cebi isso, fiquei apavorada”, conta ela. 3.681 pacientes cardíacos de 1990 a
Antes da cirurgia, Martha caminhava 2014; dos 316 que apresentaram
5 km por dia em Lubbock, no Texas, e doença das carótidas, apenas um so-
viajava regularmente. Agora estava pa- freu um AVC no período.

07•2016 | 17
Limpar a carótida obstruída pode A cirurgia ajuda ou não?
ser uma solução em busca de um pro- Em 2014, a Força-Tarefa de Serviços
blema. Durante o procedimento ou Preventivos dos EUA se declarou con-
depois dele, pedacinhos da placa po- trária a incluir a carótida nos exames
dem se soltar e se abrigar nos peque- de rotina. Mesmo assim, esses exames
nos vasos do cérebro, provocando o ainda são feitos com frequência. Um
AVC que se queria impedir. A probabi- relatório recente da revista JAMA In-
lidade depende de muitas variáveis, ternal Medicine citou o exame de ca-
inclusive da habilidade do cirurgião. rótida como um dos procedimentos
Um estudo de 2015 na revista Journal realizados com mais exagero em 2014.
of the American College Embora, intuitiva-
of Cardiology comparou mente, remover as pla-
o resultado de cirurgias Neurologistas e cas faça sentido, nem
para instalação de stents sempre os estudos cor-
na carótida feitas em
especialistas em roboram essa ideia.
188 hospitais. O risco AVCs se Dois estudos impor-
de AVC depois do pro- entusiasmam tantes que compararam
cedimento variou de cirurgias como a de
0% a quase 19%.
menos com Martha com o trata-
Para alguns especia- intervenções que mento clínico foram
listas, os medicamentos os cirurgiões. publicados em 1995 e
que baixam o colesterol 2010. O risco de AVC
e controlam o peso e a baixou cerca de 30%
pressão arterial são tão potentes que, depois da cirurgia, o que seria uma vi-
se o paciente não tiver sintomas, é me- tória decisiva da equipe cirúrgica se
lhor deixar as carótidas em paz. No en- não fosse o seguinte: o uso das estati-
tanto, quando o paciente tem nas, medicamentos potentes para bai-
sintomas, a maioria dos médicos xar o colesterol, só se tornou comum
aconselha a intervenção. “Esse é o de- depois que a pesquisa estava em anda-
bate mais acirrado sobre doenças car- mento, como explica o Dr. David
diovasculares”, diz o Dr. Christopher Spence, neurologista da Universidade
White, diretor do Instituto Cardiovas- do Oeste de Ontário. Os pacientes des-
cular Ochsner, em Nova Orleans. Um ses importantes estudos tomavam
encontro profissional de médicos teve principalmente anticoagulantes. Isso
uma sessão intitulada “Imprudência, tornou os resultados desatualizados.
negligência ou crime?” para descrever Também existe um debate sobre
a popularidade dos stents de carótida. qual procedimento – stents ou cirurgia

18 | 07•2016
– é melhor; outros estudos ainda mos- O que os pacientes
traram interpretações conflitantes. deveriam saber
Num artigo de 2009 da revista Stroke, a Não façam exames das carótidas sem
neurologista australiana Dra. Anne Ab- razão. Se o médico encontrar placas,
bott relatou que, quando há mudanças adote o gerenciamento clínico – esta-
do estilo de vida (deixar de fumar, con- tinas, exercícios, emagrecimento e
trolar o peso e baixar o colesterol e a controle da pressão arterial – mesmo
pressão), o benefício contra os AVCs que vá fazer o procedimento, aconse-
excede o histórico da cirurgia e dos lha o Dr. James Meschia, neurologista
stents. Mas seu resultado não obteve da Clínica Mayo e principal pesquisa-
concordância universal. O Dr. Richard dor do novo estudo em andamento.
Cambria, chefe de Cirurgia Vascular Se estiver pensando no procedi-
do Hospital Geral de Massachusetts, mento, peça uma segunda ou terceira
ressalta limitações das conclusões da opinião a especialistas diferentes. Um
Dra. Abbott. Ele diz que seus dados estudo constatou que os neurologis-
mostram que, em cerca de 40% dos tas e especialistas em AVCs se entu-
pacientes em terapia clínica, inclusive siasmam menos com as intervenções
com estatinas, as obstruções pioraram. do que os cardiologistas e cirurgiões.
Em dezembro de 2014, a Clínica Considere o modo como você se
Mayo iniciou um estudo que pode preocupa. “Quando contamos a al-
resolver a questão. Nele, estão envol- guns pacientes que há uma obstrução,
vidas 2.500 pessoas, direcionadas arruinamos sua vida”, diz o Dr. White,
aleatoriamente para cirurgia, coloca- do Instituto Ochsner. “Eles passam os
ção de stents ou tratamento clínico dias com medo de um AVC. Mas ou-
apenas. O resultado só estará dispo- tras pessoas dizem: ‘Sabe, doutor, não
nível por volta de 2020. Enquanto está me incomodando. Ligarei quando
isso, os pesquisadores trabalham tiver um problema.’ Para estes, a tera-
para determinar o que faz algumas pia clínica é melhor.”
obstruções terem mais probabilidade E é por isso que Martha Bowes
do que outras de causar AVCs. Há in- gostaria de ter podido escolher.
dícios de que as placas envoltas em Quinze anos depois do AVC, ela con-
revestimentos espessos e fibrosos segue andar com tala e bengala, mas
têm menos probabilidade de provo- o braço e a mão esquerdos estão pa-
car AVCs, segundo o Dr. David Tha- ralisados. Ela não condena ninguém
ler, presidente do Departamento de que prefira a cirurgia, mas aconselha:
Neurologia da Escola de Medicina “Entenda as alternativas. Não me
da Universidade Tufts. deram nenhuma.”

07•2016 | 19
SAÚDE

Como lidar com as infecções


do trato urinário

Problemas
da urina
P OR SAM A N T H A R I D E OUT

EM RAZÃO DAS IDIOSSINCRA-


SIAS do corpo humano, é no trato uri-
nário que as infecções bacterianas são
mais comuns. Metade das mulheres
enfrentará esse problema pelo menos
uma vez – 12% dos homens –, em parte
porque é menor a distância percorrida com cápsulas ou cremes”, diz a Dra.
pelas bactérias entre o ânus (onde se Suzanne E. Geerlings, especialista em
encontram as fezes) e a uretra. doenças infecciosas do Centro Médico
Ao contrário da crença popular, o Acadêmico de Amsterdã.
risco de infecção urinária em ambos Os sintomas clássicos de infecção
os sexos aumenta com a idade. A prós- urinária são necessidade frequente e
tata dos homens com mais de urgente de urinar, dor pélvica e ardor
50 anos costuma aumentar, o que na micção, mas muitos idosos abri-
pode bloquear a bexiga e prender a gam bactérias no trato urinário sem
urina por tempo suficiente para os ger- sofrer nada disso. Esse não é necessa-
mes se multiplicarem. Já as mulheres riamente um problema: em geral, os
da mesma idade produzem menos es- micro-organismos não prejudicam
© I STOCK PHOTO

trogênio, que fortalece o revestimento pacientes assintomáticos. De acordo


protetor do trato urinário. No entanto, com as diretrizes oficiais da Associa-
“nas mulheres pós-menopausa o estro- ção Europeia de Urologia, só se reco-
gênio vaginal pode ser suplementado mendam antibióticos quando a

20 | 07•2016
infecção urinária afetar o paciente; não sejam raras, a ingestão de bas-
caso contrário, ele deve ser deixado tante líquido pode reduzir as repeti-
em paz, porque ministrar antibióticos ções. Um remédio caseiro popular é
em excesso fornece os o suco de cranberry

80%
supermicróbios resis- ou oxicoco: as fruti-
tentes a medicamen- nhas contêm proan-
tos. (Há exceções tocianidinas tipo A,

a 90%
quando se teme que o flavonoides que difi-
paciente desenvolva cultam a aderência
infecção renal ou ou- das bactérias à pa-
tras complicações.) rede da bexiga. Ape-
Às vezes, as infec- sar disso, os indícios
das infecções urinárias se
ções assintomáticas devem à bactéria E. coli. As de seu impacto no
provocam confusão cepas dessa espécie resis- tratamento ou na
mental e delírios. Se tente a antibióticos estão au- prevenção de infec-
esses sintomas surgi- mentando no mundo inteiro. ções não são conclu-
rem de repente, con- sivos. Não faz mal
sulte o médico, que pode descobrir tomar o suco, mas talvez ele não
se a origem é uma infecção urinária. faça mais efeito do que qualquer
Embora as infecções recorrentes outro líquido.

Notícias do mundo
da medicina
Doenças graves costumam sação de isolamento e os ataques de
provocar trauma fúria. Além disso, 40% das pacientes
Um ano depois do diagnóstico, mais que já tinham passado por algum
da metade das pacientes com câncer trauma – um assalto, digamos – clas-
de mama apresentam um ou mais sificaram o câncer de mama como
sintomas de transtorno de estresse mais perturbador. Esses achados
© I STOCK PHOTO

pós-traumático, de acordo com um parecem mostrar que pessoas com


estudo de 166 pacientes no Hospital doenças que causem risco de vida
Universitário CCCLMU de Munique, deveriam buscar apoio psicológico,
na Alemanha. Entre eles, estão a sen- como a psicoterapia.

07•2016 | 21
SELEÇÕES

A luz da rua atrapalha o sono “exposição guiada”, as participantes


Um estudo feito pela Universidade de observaram seu corpo no espelho en-
Stanford com mais de 15.800 ameri- quanto o descreviam em termos neu-
canos concluiu que o excesso de luz tros. A segunda técnica, “exposição
da rua causa um forte efeito sobre o pura”, permitiu que as pacientes expri-
sono. Os cientistas da Califórnia des- missem seus sentimentos a respeito
cobriram que os participantes que da aparência. Ambas reduziram o
moravam em áreas com iluminação nível de cortisol, o hormônio do es-
externa forte tinham mais probabili- tresse, e aumentaram a satisfação com
dade de se queixar de distúrbios do o corpo. Mas a exposição pura foi mais
sono, de dormir menos e de sentir eficaz, talvez por permitir que as pa-
mais fadiga durante o dia. Cortinas cientes aprendessem a expressar rea-
grossas ou máscaras oculares talvez ções negativas e lidar com elas.
ajudem a combater o problema.

Viagra pode agravar o


câncer de pele TESTE SEU QI MÉDICO
Um artigo alemão publicado na re-
vista Cell Reports propôs uma explica- Má absorção é…
ção para o fato de serem encontrados
A. O cérebro não guarda novas
mais melanomas em homens que to- informações.
mam sildenafil (Viagra). Parece que o
popular medicamento para disfunção B. Um medicamento não faz
efeito.
erétil inibe uma enzima que retarda-
ria as vias de sinalização que as célu- C. O sangue não coagula num
ferimento.
las do melanoma usam para crescer.
Notícia boa: o medicamento pode es- D. O organismo tem dificuldade
de tirar nutrientes da comida.
timular cânceres já existentes, mas
provavelmente não provoca o tumor. Resposta: D. A má absorção é
a redução da capacidade do
corpo de obter nutrientes com a
A terapia do espelho pode comida. Pode causar emagreci-
ser útil na bulimia mento, náusea, diarreia, desgaste
Pesquisadores da Universidade de muscular e gases e é provocada
por doenças como a de Crohn e
Granada, na Espanha, testaram duas problemas hepáticos. Também
técnicas para reduzir a insatisfação pode ser efeito colateral de
que as mulheres com bulimia nervosa medicamentos.
sentem com o próprio corpo. Numa

22 | 07•2016
CASA

Até a última
gota Suba aqui! Ainda
tem muito!
POR K E L SE Y K LOSS
Hummm!
Loção: AQUEÇA Deixe o recipiente
fechado numa vasilha com água
quente por alguns minutos para
aquecer e liquefazer o restinho.

Manteiga de amendoim:
MISTURE Ponha na embalagem par-
tes iguais de aveia em flocos e leite. Tá bom!
Acrescente ¼ de xícara de iogurte
grego, 1/2 banana picada, canela e Ei, traz um
açúcar a gosto. Sacuda e deixe na pouco de
geladeira durante a noite. Pela ma- geleia!
nhã, deleite-se.

Azeite: FAÇA MOLHO DE SALADA


Se ainda houver azeite agarrado às
paredes da garrafa, crie um novo
molho de salada. Acrescente vinagre
e temperos como tomilho ou
manjericão. Sacuda bem para formar bolsões de ar e ajudar o molho
misturar e despeje sobre as verduras. a se mover.

Pasta de dente: USE O ROLO Rímel: PONHA SOLUÇÃO PARA


DE PASTEL Já espremeu tudo o que LENTES DE CONTATO Ficou resse-
pôde? Passe o rolo de pastel pelo cado? Ponha no tubo duas a cinco
tubo para tirar o restinho. gotas de solução para lentes de con-
tato. Atarraxe a tampa, sacuda e use
Ketchup: CUTUQUE COM O o aplicador para mexer.
CANUDO Enfie um canudo até o Fontes: apartmenttherapy.com, michellephan.com,
hungrylittlegirl.com, buzzfeed.com, lifehacker.com,
fundo do frasco e retire. Ele vai howcast.com, parenthacks.com

ILUSTRADO POR PETER ARKLE 07•2016 | 23


BRASIL

Um trio de catarinenses criou uma maneira discreta de usar


dinheiro com uma tecnologia ainda pouco explorada no Brasil

Crédito, débito ou pulseira


PO R MA R I N A G Ó E S

SAIR DE CASA com pouca coisa


proporciona, além de conforto, certa
sensação de segurança. Com os celu-
lares cada vez mais finos e menos
incômodos de se carregar no bolso,
faltava nos livrarmos da carteira,
objeto que costuma atrair a atenção
de oportunistas. Desenvolvedores de
A pulseira
tecnologia, sempre repensando
Atar Band
velhos processos a fim de dinamizá-
-los, não deixaram essa passar e
assim surgiram os wearables. No Brasil já surgiram as primeiras
Você pode até achar que não sabe startups especializadas nesse tipo de
do que trata essa tecnologia, mas tecnologia e, mais uma vez, se en-
sabe sim: wearable significa vestível, gana quem acha que ela é pouco
um tendência do mercado tecnoló- acessível. Vem da cidade de Timbó,
gico que vem crescendo desde 2014 Vale do Itajaí (SC), a tal ideia que
com a criação dos primeiros relógios permite realizar pagamentos de ma-
smart. De acordo com uma projeção neira discreta, sem que seja necessá-
sobre os próximos cinco anos da rio sacar um cartão. Orlando Purim
área, o número de produtos dessa Jr., Mike Allan, e Luiz Fernando Hei-
categoria chegará a 578 milhões em drich se perguntaram: e se pudésse-
2019, em todo o mundo. mos substituir o cartão por uma

24 | 07•2016
pulseira discreta? E assim nasceu a
Atar Band, na qual o usuário insere
créditos em uma conta associada à
ATAR e pronto. Basta aproximar a
pulseira a uma máquina de débito e
o pagamento é feito. Sem senha e
sem complicações. Em caso de perda
ou roubo, é possível bloquear a pul-
seira por um aplicativo, onde tam-
bém ficam registrados todos os
gastos e o saldo disponível. Mike, Orlando e Luiz Fernando
conquistaram oito prêmios com a ATAR.
O que pode parecer futurístico é,
na verdade, uma maneira relativa- “No processo de pesquisa, imagi-
mente simples de aproveitar um sis- namos quantos pagamentos um mo-
tema já disponível em larga escala no rador de grandes centros faz todos os
Brasil. Mais de 85% das máquinas de dias. A pulseira que criamos tem o
débito no país funcionam utilizando propósito de ser um meio de paga-
tecnologia de comunicação por mento rápido, conveniente e, acima
campo próximo (NFC, na sigla em de tudo, seguro, pois não será mais
inglês). E o futuro é promissor: se- preciso sacar a carteira ou tirar o
gundo estimativas de operadoras de celular do bolso no momento da
cartão de crédito, mais de 1,9 bilhão compra, diminuindo a exposição”,
de dispositivos estarão aptos a reali- explica Purim, para quem os
zar pagamentos por NFC até 2018. wearables “vieram para ficar”.

O RÚGBI (BRASILEIRO) DE VOLTA ÀS OLIMPÍADAS

Uma das novidades do Comitê Olímpico Internacional para as Olimpíadas do


Rio é a volta de uma modalidade pouco conhecida: o rúgbi, que esteve pre-
sente nas edições dos Jogos Olímpicos de Paris (1900), Londres (1908),
Antuérpia (1920) e Paris (1924). Agora, retorna com equipes masculinas e
femininas de sete jogadores (o time tradicional tem 15). Praticado por aqui
© DI VULGAÇÃO

desde 1891, com a criação do Clube Brasileiro de Futebol Rugby, no Rio de


Janeiro, o esporte terá pela primeira vez uma equipe olímpica brasileira. A
modalidade também estará nos Jogos Paralímpicos, em cadeira de rodas.

07•2016 | 25
COMIDA

O churrasco é minha verdade,


e o prato minha testemunha
P OR JAS O N S H E E H A N DA N PR

ACREDITO EM CHURRASCOS como


alimento para a alma, alimento de con-
solo e alimento saudável, culinária de re-
conforto e comemoração. Quando me
sinto bem, quero churrasco. Quando
me sinto mal, simplesmente quero
mais churrasco. Acredito em chur-
rasco com todas as suas varia-
ções regionais e traduções étni-
cas, desde as costillas muito
bem temperadas, servidas
sobre toalhas brancas, até
as costelas chinesas para
viagem, que sujam os
dedos de vermelho, e
as costelas mais au-
tênticas do Sul dos
Estados Unidos, ser-
vidas em papel impermeá-
vel. Acredito que, como
acontece com o sol e o
bom sexo, não há dia ruim
quando há churrasco.
Acredito no gênio
artístico de gerações
de carvoeiros que tra-

26 | 07•2016 FOTOGRAFADO POR CLAIRE BENOIST


balharam em relativa obscuridade quadro-negro) chega perto demais
para manter vivo o ofício da defuma- de ser metido a besta.
ção lenta, praticada desde que existe Creio que o bom churrasco precisa
fogo. O cozinheiro precisa ter uma tanto de acompanhamento quanto o
compreensão íntima do ofício: a física rhythm precisa do blues, e que só há
do fogo e da convecção, a ciência exata uma regra: sirva o que quiser, desde
da carne, do calor e da fumaça... e de- que seja fresco.
pois esquecer tudo para atingir um Acredito que o bom churrasco
instinto zen que vem das entranhas. deva vir em porções generosas. Ma-
Acredito que o churrasco impele a gros podem comer churrasco, e co-
cultura, e não o contrário. Alguns mem, mas a cozinha deveria traba-
ESTILI STA DE ALI MEN TOS: JAM I E KI M M. A DEREÇOS: SARA H GUIDO-LAAKS O PARA HAL L E Y RE SOU RCE S

dos primeiros golpes a favor da lhar para um gordo que não comeu
igualdade racial e dos direitos civis nada desde que acordou. As sobras
dos negros no Sul dos Estados Uni- deveriam durar dias.
dos não aconteceram em tribunais, Acredito que, se você não ficar com
escolas e ônibus, mas junto às chur- molho sob as unhas ao comer, é por-
rasqueiras. Algumas salas de jantar, que está comendo errado. Penso que,
quintais e restaurantes de beira de se não manchar a camisa, é porque
estrada integraram brancos e negros você não está se esforçando.
muito antes dos outros lugares Acredito – sei – que churrasco de-
públicos. mais não existe. Bom, ruim ou inter-
Acredito que bons churrascos não mediário, na antiga churrasqueira de
exigem ambientação. Pratos de papel carvão ou moderno e tecnológico: não
resolvem. E talheres de plástico. E importa. Sem parafernália nem rebim-
desconfio que qualquer lugar cujo bocas, o churrasco é a verdade; é his-
cardápio tenha mais de uma página tória, é lar. A única coisa em que não
(ou melhor, que não seja apenas um acredito é que um dia vou enjoar.
NPR (29 DE MAIO DE 2006), © 2006 DE JASON SHEEHAN, NPR.ORG.

DIGA SIM, DIGA NÃO

Todos os grandes homens e mulheres do mundo


foram pessoas que, mais do que dizer “sim”, disseram
um “NÃO” bem grande a tudo que não combinava
com um ideal de bondade e crescimento.
PAULO COELHO

07•2016 | 27
Essas crianças...

– Pode me fazer um favor? Pergunte a ele se prefere aulas de


futebol à tarde ou caratê de manhã cedo.

NO JANTAR DO Dia de Ação de – VOCÊ VAI TER um menino ou uma


Graças, minha pequena sobrinha menina? – perguntou meu sobrinho
Mackenzie começou a brincar com de 4 anos, fitando minha barriga de
a aliança de meu pai. grávida.
– Ela nunca sai – disse papai. – Sabe – Não sei – respondi.
por quê? Porque eu amo sua avó. – Quando você vai decidir?
Foi aí que Mackenzie lhe informou: CINDY FORISH
– Mas vovó tira a dela.
ELIZABETH VELDBROOM DEIXEI MEU FILHO na pré-escola
outro dia. Ao sair do carro, ele disse:
FUI VER um consultor financeiro – Bom fim de semana, mamãe!
com meu filho de 7 anos. Quando É óbvio que ele tinha planos que
nos sentamos um ao lado do outro não me incluíam. huffingtonpost.com

diante da mesa, meu filho lhe disse:


Sua história pode valer até R$ 400. Visite
– Olá. Não sou o marido dela. o site selecoes.com.br ou veja os detalhes
KELLYLOUISE ENISZ, em huffingtonpost.com na página 13.

28 | 07•2016
PAPO DE LIVRO

No meio do caminho
tinha uma barata
POR C L AU D I A N I N A

EM A PAIXÃO SEGUNDO GH, de Clarice Lispector, um dos


livros mais densos e filosóficos da autora, a barata é persona-
gem solene, que dá ensejo a uma série de reflexões ontológi-
cas. A escritora mirim Nina Krivochein, autora de “Bete, a
barata”, talvez ainda não conheça o texto, é quase certo que
não. Mas imagino que chegará o dia em que ela vai se con-
CLAUDIA NINA
frontar com a barata de Clarice. A história de Bete é uma das
é jornalista
e escritora, reunidas na antologia Filhos de peixe, que, além de Nina, filha
autora, entre da autora Joana Cabral, reúne vários filhos e netos de escrito-
outros, de res. Entre eles, preciso dizer, minha filha Amelie.
Paisagem de
porcelana
A barata de Nina é cor-de-rosa. O curioso é que a menina faz
(Rocco). dela um animal de estimação – não há estranhamento algum
em relação ao asqueroso. Até
porque se trata de uma barata
especial; não é sempre que se
veem baratas cor-de-rosa
andando na rua. Tão espe-
cial que a menina queria le-
var Bete para a escola. E por aí
caminha uma história que soma
improbabilidades em uma receita
cheia de imaginação.
Tem ainda os monstros de Nina Go-
mes (filha do autor Alex Gomes, organi-
zador da antologia, e da ilustradora
Cris Alhadeff ), o pai confundido com
um abacaxi, no conto de André
Cunha (filho de Leo Cunha), o

07•2016 | 29
SELEÇÕES

cachorro poliglota de Guilherme Esta pode ser uma ideia a se fazer


Albuquerque (neto da escritora Lu- em família: quem sabe pedir às
ciana Savaget), entre outros. Tudo crianças que escrevam? Simples-
ilustrado pelo competente Guigo, mente escrevam, sem nenhuma in-
irmão de Nina Gomes. tenção outra a não ser escrever.
A ideia que me ocorre, tomando Deixar de pensar nas redações va-
como ponto de par- lendo nota ou em
tida a barata cor-de- qualquer interesse

ILUSTRAÇÕES (PÁGI NA AN TERIO R): ( NINA) © ROD RIG O BIXIG ÃO; © ISTOCK
-rosa, é a de que as
Depois de real de publicação.
crianças se confron- Quando coloquei
tam com o insólito escrita, a minha filha na oficina
divertidamente, en- palavra ganha de redação no colé-
quanto o escritor asas... um gio, não podia imagi-
adulto faz do estranho
aprendizado nar que uma de suas
um ponto de repug- histórias iria virar
nância e de confronto que o tempo irá conto em uma anto-
com um desconhe- dimensionar. logia. Desde pequena,
cido que incomoda, ela percebeu a res-
enoja e, portanto, abre ponsabilidade com a
caminho para uma série de refle- palavra: a gente nunca sabe quais
xões sobre as relações humanas, o serão os caminhos que um texto
sagrado e o imponderável, como é o pode ter no futuro. Depois de es-
caso do texto de Clarice Lispector. crita, a palavra ganha asas... Mais
Bacana pensar em quanto essas um aprendizado que o tempo irá
crianças, estimuladas a colocar no dimensionar de outras diversas e
papel seus insólitos, irão mergulhar inusitadas formas.
depois na literatura adulta com olhos A vida é mesmo imprevisível.
mais aguçados, percebendo os cami- E, no meio do caminho, tudo pode
nhos da sensibilidade. Mesmo que acontecer – até toparmos, de
não se tornem autores, esses peque- repente, com uma
nos com certeza serão leitores mais barata cor-de-rosa,
assíduos, até porque nasceram e vi- filtrada por uma ma-
veram em casas de livros. O exercício nhã de sol colorido.
da escrita aguça a percepção da rea-
lidade e o sentido de organização – Filhos de peixe
Vários autores, organiza-
ainda que seja a organização do caos ção de Alexandre Gomes
e do mais absurdo improvável. (Mar de ideias)

30 | 07•2016
Informe
Publicitário

O que você sabe sobre


o câncer de mama?
O câncer de mama é o segundo tipo
mais frequente da doença a acometer Principais fatores de risco para o de-
as mulheres em todo o mundo. No Bra- senvolvimento do câncer de mama:
sil, estima-se que surjam 58 mil novos
1. Fatores hormonais
casos em 2016. Os dados alertam para
Menarca (primeira menstruação)
que medidas preventivas sejam adota-
precoce, antes dos 12 anos; meno-
das, de modo a reconhecê-los e realizar
pausa tardia, depois dos 53 anos;
as terapias necessárias, já que a maioria
nuliparidade (não ter tido filhos); pri-
dos eventos é tratável e curável quando a
meira gestação depois dos 30 anos;
descoberta é precoce.
uso de pílula anticoncepcional oral
De acordo com o médico de família e por longo tempo (mais de 10 anos);
comunidade da Unimed Vale dos Sinos uso de hormônios de terapia de re-
José Índio, o câncer de mama geralmen- posição hormonal.
te decorre da soma de várias causas, di-
retas ou indiretas. Apenas um tipo, que 2. Fatores relacionados ao comporta-
corresponde a aproximadamente 5% das mento e ao ambiente
incidências, tem claras ligações genéti- Sedentarismo; uso rotineiro de bebi-
cas. “Nessa situação, sempre encontra- das alcoólicas; sobrepeso ou obesida-
mos algum familiar direto que tem ou de; tabagismo; consumo de grandes
teve a doença, como mãe, avó, filha ou quantidades de alimentos defuma-
irmã”, explica. Já existe um exame labo- dos; exposição a raios X (radiografias
ratorial para esses casos, que verifica se em geral, mamografias, tomografias);
há alguma anomalia nos genes BRCA-1 e exposição a radiações ionizantes,
BRCA-2, responsáveis pelo aparecimen- como nas radioterapias.
to do câncer de mama e de ovário.

Prevenção A simples adoção de uma alimentação


Não há nenhuma medida 100% natural e bem equilibrada, aliada à
eficiente para a prevenção do câncer prática de atividades físicas regulares
de mama. Entretanto, o simples fato de e ao abandono do fumo e do álcool,
viver uma vida leve e alegre causa uma pode reduzir em até 28% o risco de
influência positiva. desenvolver a doença.

App Store Google Play Use seu leitor CUIDAR DE VOCÊ. ESSE É O PLANO.
de QR Code
para baixar o
aplicativo do
Guia Médico
Mobile da
Unimed.
HISTÓRIAS POSITIVAS QUE CHEGAM ATÉ NÓS

Boas-novas
P O R TIM H ULS E

Uma aeronave para a Mas Dickinson acredita que o apa-


humanidade relho poderia ser usado em todo tipo
AVIAÇÃO Bruce Dickinson é mais de emergência devido ao tamanho e à
famoso por ser o cantor principal do capacidade de pousar verticalmente
grupo britânico de heavy metal Iron em quase qualquer terreno. “Quer
Maiden. Mas atualmente ele também levar um hospital à África? Ponha o
faz barulho na aviação como piloto hospital inteiro dentro dele e zuuum.
habilitado e como financiador do Ligue o gerador”, diz ele. Com esses
projeto da maior aeronave do veículos, é possível levar um tanque
mundo. Ele espera que o híbrido de dez toneladas de água limpa e po-
de avião e nave espacial tenha tável a uma aldeia africana. É espan-
aplicações humanitárias. toso o que dá para fazer e que seria
Em testes no Reino Unido, o Thew impossível de outra maneira.
Airlander 10 tem 92 metros de com-
primento e 26 de altura. Tem autono- O parque eólico que flutua
mia de voo de até cinco dias e usa ENERGIA A Statoil, gigantesca em-
apenas um quarto do combustível presa norueguesa de petróleo e gás,
gasto por aviões comuns. está construindo o primeiro parque
O Airlander 10 não tem estrutura eólico flutuante do mundo. As cinco
interna, mas se torna rígido quando turbinas no alto de cilindros de aço
cheio de hélio. A princípio, a inten- lastreados podem ser vistas a 25 km
ção era criar um meio de transporte do litoral leste da Escócia. Espera-se
comercial; mais tarde, o foco mudou começar a produção de eletricidade
para o setor de viagens de luxo. no final do ano que vem.

“Como me preparo? A questão é aumentar a confiança.


No começo eu não era muito bom, mas aos poucos
fiquei mais forte. É isso que os seres humanos fazem.”
Co me d i a nte Eddie I zzard , s o bre c o r re r 2 7 m a rat o n a s
e m 2 7 d i a s p a ra l e va nt a r re cu rs o s p a ra c a r i d a de.

32 | 07•2016
Embora o parque eólico só ali-
mente 20 mil residências, a ideia é HERÓIS
que esse seja o primeiro projeto do UMA PROFESSORA
tipo para aumentar de forma signifi- QUE INSPIRA
cativa a produção mundial de ener- Hanan Al Hroub cresceu num
campo de refugiados palestinos
gia eólica.
e hoje, especializada em ajudar
crianças traumatizadas pela vio-
Bactérias comem plástico lência, dá aulas a refugiados. No
MEIO AMBIENTE A maior parte das início deste ano, foi nomeada
300 toneladas de plástico produzidas “melhor professora do mundo”
todo ano vai parar em lixões ou no
oceano. É um grande risco ambien-
tal, mas os cientistas do Instituto de
Tecnologia de Quioto e da Universi-
dade Keio fizeram uma descoberta
importante que pode resolver parte
do problema.
A equipe encontrou uma espécie
de bactéria que come tereftalato de
polietileno (PET), que responde por
um sexto de toda a produção de plás-
ticos. Leve, forte e incolor, é usado na
num evento cheio de celebrida-
maioria das garrafas descartáveis, em des em Dubai. Ela pretende usar
roupas de poliéster, bandejas de su- o prêmio de um milhão de dóla-
permercado e embalagens. res para ajudar seus alunos e diz:
A bactéria Ideonella sakaiensis usa “Professores podem mudar o
duas enzimas para decompor o PET mundo.” O prêmio Global Tea-
e obter carbono e energia para cres- cher foi criado pela Fundação
cer. No entanto, o processo é lento: Varkey, instituição sem fins lucra-
tivos que visa a aumentar o
as bactérias levam seis semanas para
© REUTERS/MOHAMA D TOROKMAN

padrão da educação de crianças


acabar com uma pequena película desprivilegiadas. O fundador
de PET amorfo. Sunny Varkey afirma esperar que
Uwe Bornscheuer, professor de bio- a história de Hanan Al Hroub
química da Universidade Greifswald, “inspire aqueles que almejam
na Alemanha, acredita que as bacté- seguir essa profissão”.
rias também podem acelerar a de-
composição nos lixões. “O ritmo da FONTES: Aviação: Good News Network, 17 de março de
2016. Energia: The Local (Noruega), 22 de março de 2016.
degradação é lento, mas funciona”, diz Meio ambiente: Los Angeles Times, Wall Street Journal,
ambos de 10 de março de 2016. Heróis: BBC News, 14 de
ele. O desafio é acelerar o processo. março de 2016

07•2016 | 33
COMPLETE A FRASE

...entrei
na selva só de
short e camiseta?
ADILSON MONTEIRO
Manaus, Am az o n a s

...passei por
baixo da cerca, indo para um
campo onde tinha uma vaca que
correu atrás de mim?
ANTONIA GARCIA
Brasília, D i str i t o Fe de ral

...me casei?
JUSCELINO SANTOS
Joinville, S ant a C at ar in a

O que eu estava
pensando quando…
34 | 07•2016
...me formei
em contabilidade se eu queria
ser engenheiro agrônomo?
JOSÉ ZEFERINO DOS SANTOS
Amélia Rodrigues, Bahi a

...não me
pendurei em seu pescoço
e tasquei um beijo para
nunca mais soltar?
NADJA MELO, Recife, Pern amb u c o

...comprei
um sapato com o número
maior que o meu só porque
era bonito?
SHEILA PEGGI
São Paulo, S ã o Paul o

...deixei de
agir com medo de errar?
ÉRICA LIBERATI, Maringá, Paran á

...cursei história
se tive a oportunidade de cursar
direito que era meu foco?
TÂNIA SOUZA
Imbé, R i o G ra n de do Sul
Flagrantes
DA VIDA REAL

“Eis o que acontece quando você ignora as coisas por tempo demais, Greg.”

MINHA FILHA de 3 anos levantou Entre uma mordida e outra, ela


a mão e disse: respondeu:
– Olha a mosca que eu matei, mãe. – Bati nela com meu pepino.
Como ela estava comendo pepino CINDY YATES
em conserva, meti debaixo da tor-
neira suas mãos contaminadas e as MEU MARIDO praticava esqui
lavei com sabão antisséptico. Depois aquático e caiu no rio. Enquanto o
de sentá-la de novo para terminar o barco dava a volta para recolhê-lo,
pepino, perguntei, com assombro: vendo um caçador de patos num
– Como você conseguiu matar barco entre os juncos, meu marido
aquela mosca sozinha? levantou as mãos no ar e brincou:

36 | 07•2016 ILUSTRADO POR CHRIS CATER


– Não atire! Então me acalmei até que ele
O caçador respondeu: concluiu:
– Não grasne. KATIE O’CONNELL – Afinal, a probabilidade de
morrer de anestesia é maior do
NUNCA TINHA FEITO uma cirurgia e que a de morrer na cirurgia. T. F.
estava nervoso.
– É um procedimento simples – disse Sua história pode valer até R$ 400. Visite
o anestesista para me tranquilizar. o site selecoes.com.br ou veja os detalhes
na página 13.

OS CANDIDATOS DIZEM O QUÊ?!

Em qualquer parte do mundo, não faltam motivos para nos surpreender-


mos com nossos políticos. Na hora de ofender, eles se esmeram e quase
transformam em arte o xingamento de adversários. Veja alguns exemplos
pelo mundo afora:

“O correto, culto e “Provavelmente ela “O deputado nasceu


honrado cavalheiro acha que Sinai é plural no século errado. Ele
atravessou duas vezes de sino.” deveria ter nascido
o piso desta Casa, dei- JONATHAN AITKEN, quando funcionava a
parlamentar britânico
xando sempre atrás de Santa Inquisição.”
si um rastro de gosma.” SIBÁ MACHADO,
DAVID LLOYD GEORGE, “A Casa notou, nas deputado federal
pelo Acre
ex-primeiro-ministro britânico últimas semanas, a
extraordinária transfor- “Às vezes ele trope-
“Ele tem percorrido mação do primeiro-mi-
o país em deliberada çava na verdade, mas
nistro: de Stalin em Mr. logo se recobrava e
agitação para provo- Bean.” VINCENT CABLE,
car apatia.” continuava andando
político britânico
WILLIAM WHITELAW, como se nada tivesse
político britânico acontecido.”
“O honrado colega é WINSTON CHURCHILL,
“[Ele se agarra] aos a prova viva de que ex-primeiro-ministro britânico

dados como um uma bexiga de porco


bêbado se agarra presa numa varinha “Ele parece um arre-
aos postes.” pode ser eleita para pio à espera de uma
PAOLO ROMANI, o Parlamento.” espinha.” PAUL KEATING,
ex-primeiro-ministro italiano TONY BANKS, político britânico ex-primeiro-ministro australiano

07•2016 | 37
S E G R E D O S
S E G R E D O S
S E G R E D O S
S E G R E D O S
S E G R E D O S
S E G R E D O S
S E G R E D O S
que eu quero lhe contar
O que eu, seu corpo, realmente
preciso para ter boa saúde, ficar bem
nutrido, dormir, aliviar a dor e mais P O R TER ESA DU MA I N

38 | 07•2016 FOTOGRAFADO POR HENRY LEUTWYLER


07•2016 | 39
SELEÇÕES

CONHEÇA MEUS TRUQUES termogênese, um processo de produ-


MENTAIS INCRÍVEIS ção de calor. Isso pode ajudar as pes-
Posso me convencer de que estou soas a trabalhar melhor em ambientes
satisfeito. Segundo um estudo publi- muito frios.
cado na revista Health Psychology, se
você tomar um milk-shake e eu achar Posso acrescentar anos à vida. Com
que ele é rico em gordura e calorias, o uma atitude positiva diante do enve-
nível de grelina, o hormônio da fome, lhecimento e continuando a me sentir
cai um pouco mais e me deixa mais útil e feliz, é bem provável que eu viva
satisfeito do que quando acho que es- sete anos mais, de acordo com pes-
tou tomando alguma coisa mais sau- quisas da Universidade de Yale.
dável, mesmo que os dois tenham a
mesma contagem de calorias. PENSE DUAS VEZES
ANTES DE...
Consigo reconfigurar meu cérebro Tomar refrigerantes. Tome uma lata
com meditação. Segundo exames de ou mais por dia e acumule três vezes
ressonância magnética, o hipocampo mais gordura abdominal do que quem
(parte do cérebro encarregada do não toma (não estou exagerando).
aprendizado e da memória) fica mais Pesquisadores do Texas fizeram os
espesso depois de alguns meses de exames e as medições: quem tomava
meditação com atenção plena. A den- refrigerante todo dia ganhou 8 cm de

ADEREÇOS: JOCELYN BEAUDOI N PARA DEPARTMEN TO DE ARTE


sidade de neurônios também diminui cintura em nove anos; quem não to-
na amígdala (responsável por medo, mava ganhou apenas 2 cm (os que to-
ansiedade e estresse). Essas mudanças mavam de vez em quando ganharam
podem alterar o estado de espírito. 4,5 cm). Optar pelo refrigerante diet
para poupar calorias pode ser um tiro
Consigo elevar minha temperatura. que sai pela culatra; um estudo mos-
Um grupo de monjas tibetanas conse- trou que quem fez isso consumiu mais
gue aumentar a temperatura corporal calorias no decorrer do dia. Prefira
até 37,8° em temperatura ambiente água com gás, por favor.
abaixo de zero com um tipo específico
de meditação chamado g-tummo. Sim, Baixar a cabeça para olhar o celular.
é um grupo raro, mas os cientistas en- Você penduraria quatro bolas de bo-
sinaram uma técnica semelhante a liche no pescoço? Antes de dizer que
participantes ocidentais e verificaram essa é uma pergunta ridícula, pense
que eles também conseguiam elevar a bem: 28 kg (mais ou menos o peso to-
temperatura. A respiração provocava tal dessas bolas) corresponde à força

40 | 07•2016
exercida quando você baixa a cabeça é importante falar disso. Às vezes, um
num ângulo de 60° para mandar medicamento ou combinação de me-
e-mails e mensagens pelo celular. E dicamentos me deixa esquecido ou
você faz isso durante até quatro horas confuso. A ansiedade e a depressão
(horas!) por dia. Por amor à integri- também podem causar esse efeito, as-
dade da coluna cervical, levante esse sim como a tireoide preguiçosa ou a
celular até sua linha de visão. deficiência de vitamina B12. Tudo isso é
tratável. E se, por acaso, os sintomas de
Pegar um agasalho assim que sentir memória estiverem ligados à demência,
frio. Aguente um pouco. Os pesquisa- o diagnóstico precoce é fundamental;
dores descobriram que tremer de frio ele dá à mente uma probabilidade me-
estimula hormônios que convertem a lhor de se beneficiar com o tratamento.
gordura branca que armazena energia
em gordura marrom que queima ca- AH, SE EU PUDESSE
lorias. Tremer durante 10 a 15 minu- EXPLICAR...
tos tem efeito hormonal semelhante a Por que pessoas saudáveis têm cân-
uma hora de exercício moderado. cer. Provavelmente você conhece
alguém que seguiu todas as “regras” –
Deixar os alongamentos de lado. usou filtro solar, comeu hortaliças, não
Você arranja tempo para o treina- fumou – e mesmo assim teve câncer.
mento aeróbico e de força, e gosto Eu gostaria de ter uma boa explicação
disso. Mas minhas articulações pre- para isso, mas a verdade é que cerca
cisam ser alongadas, principalmente de dois terços da variação do risco de
quando envelheço. O tecido conjun- câncer são explicados por mutações
tivo dos tendões e ligamentos fica genéticas aleatórias que provocam o
mais rígido e quebradiço com a idade, crescimento de tumores. Em essência,
o que provoca movimentos limitados e azar. No entanto, isso não o isenta de
redução da flexibilidade. Pilates e ioga seguir as regras. Embora alguns fatores
são duas boas opções, mas até alonga- de risco não possam ser controlados,
mentos controlados simples mantidos muitos outros podem.
por 10 a 30 segundos podem ajudar a
me mover com mais facilidade. Como funciona o placebo. Tomar um
comprimido de açúcar pode afetar o
“Esquecer” de contar ao médico os ritmo cardíaco, alterar a atividade ce-
lapsos de memória. Apenas um quarto rebral, aliviar a depressão e melhorar
dos adultos acima de 45 anos confessa os sintomas da doença de Parkinson:
que tem problemas de memória. Mas reações reais e fisiológicas a um trata-

07•2016 | 41
SELEÇÕES

42 | 07•2016
mento falso. Uma análise de 84 estudos cognitivos. Ele não foi projetado para
de medicamentos contra dor crônica processar coisas demais ao mesmo
revelou que o efeito placebo está fi- tempo. Numa rota conhecida, posso
cando mais forte. Em 2013, os pacientes escutar o rádio e, mesmo assim, pres-
que receberam placebos tiveram uma tar atenção à rua. Mas, se precisar ler
redução média de 30% do nível de dor, placas ou procurar o número de uma
comparada a 5% em 1990. Os cientistas casa, a música me distrai.
estão tentando descobrir por que uma
pessoa reage bem a um placebo e ou- Franzir os olhos me ajuda a ver com
tra não, o que acontece no organismo mais clareza. Estreitar os olhos de
e no cérebro de quem toma o placebo e leve muda o formato deles e reduz
como se benefiiciar desse poder. a quantidade de luz que entra pelas
pálpebras, o que me ajuda a focalizar.
Como o intestino afeta o humor.
Abrigo até cem trilhões de micróbios, a Conversar com desconhecidos me
maioria deles no intestino. As bactérias deixa feliz. Formar ligações com
“boas” me ajudam a metabolizar os ali- outras pessoas, mesmo que breves
mentos; as “más” provocam gases e au- – como conversar com o barista que
mentam inflamações. O desequilíbrio prepara seu café ou com a pessoa sen-
da flora intestinal está ligado a muitas tada a seu lado na volta do trabalho –,
doenças. A ligação menos conhecida me dá a sensação de fazer parte de um
é entre as bactérias do intestino e o grupo e melhora meu humor.
cérebro. Uma possibilidade é que as
bactérias produzam serotonina e do- Balanço os braços ao andar. Meus
pamina ou outras substâncias quími- braços são como pêndulos que balan-
cas reguladoras do humor e capazes de çam naturalmente quando me movo.
afetar a ansiedade e a depressão. Outra Gasto menos energia quando eles fa-
possibilidade: os micróbios ativariam o zem isso. Mantê-los parados quando
nervo vago, principal linha de comuni- ando gasta 12% mais energia.
cação entre o intestino e o cérebro. Os
cientistas estão superconcentrados nas O QUE A COR DOS OLHOS
bactérias, portanto, fique atento. PODE REVELAR
Se forem escuros (castanhos)
QUERO EXPLICAR POR QUE... n Menos risco de degeneração
Você desliga o rádio do carro macular
quando se perde. Meu cérebro tem n Menos risco de melanoma
uma quantidade limitada de recursos n Mais confiabilidade

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SELEÇÕES

Se forem claros (azuis, verdes) do humor do que os amigos em am-


n Mais competitividade biente rural. Passar algum tempo junto
n Menos risco de vitiligo, doença à natureza pode aquietar o córtex pré-
autoimune, com manchas na pele -frontal subgenual, que se ativa quando
n Mais consumo de álcool nos preocupamos e está ligado a trans-
tornos mentais. Encontre um parque
HÁBITOS QUE EU GOSTARIA ou trilha que sejam tranquilos e arbori-
QUE VOCÊ ADOTASSE zados e você terá menos pensamentos
Ler livros. Livros impressos. Os cien- negativos, como mostram as pesquisas.
tistas descobriram que quem usa lei-
tores eletrônicos tem mais dificuldade Adotar o treino intervalado. Meu
de recordar detalhes da história do método favorito de queimar gordura é
que quem leu a versão no papel. Se- alternar picos extenuantes de atividade
gurar o livro, virar as páginas e tocar com períodos de recuperação menos
as folhas podem favorecer a recons- intensos. Pesquisadores dinamarque-
trução mental da trama. Sem falar que ses testaram a fórmula 10-20-30 num
a exposição à luz azul da tela do leitor grupo de corredores recreacionais. Em
antes de dormir prejudica o sono. apenas sete semanas, a pressão arte-
rial e o colesterol deles baixou, assim
Cobrir a boca ao espirrar. É, você como o tempo gasto para correr 5 km,
aprendeu isso no jardim de infância. apesar da redução do período total de
Mas uma em cada quatro pessoas exercício à metade. Experimente: 30
deixa de cobrir a boca ao tossir e espir- segundos de corrida leve, 20 segundos
rar em público, de acordo com um es- em ritmo moderado e 10 segundos de
tudo de observação. Pior ainda: menos máximo esforço, num total de um mi-
de 5% das pessoas usaram lenços de nuto. Faça 3 séries de 5 minutos (com
papel ou tossiram e espirraram no co- 2 minutos de descanso entre as séries)
tovelo, como recomendam os especia- e você terá um exercício cardiovascular
listas. E veja só: os cientistas acabaram fantástico em 20 minutos.
de descobrir que o espirro humano
expele uma nuvem de alta velocidade Digitar lentamente. Isso pode me-
que, em média, contamina uma sala lhorar sua redação. Os pesquisadores
inteira em minutos. Que nojo. constataram que quem usou apenas
uma das mãos para redigir um ensaio
Passear pelo parque. Parece que as empregou um vocabulário mais am-
pessoas que moram em área urbana plo e sofisticado do que quem digitou
têm risco maior de sofrer transtornos com as duas mãos. A teoria é que de-

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sacelerar aumenta o tempo para pen- de sete vezes mais vulnerável do que
sar nas palavras que quero usar para uma articulação saudável.
me exprimir com mais eloquência.
Quando os dedos voam pelo teclado, Último cigarro fumado: Apenas
só posso oferecer a primeira palavra cinco anos depois de largar o cigarro,
que me vem à cabeça. meu risco de desenvolver câncer de
boca, garganta, esôfago e bexiga cai
ATENÇÃO A ESTES MARCOS para a metade. Obrigado.
Primeira menstruação: Sinal de que
você se tornou mulher, disseram sua Primeira fratura: Trate o osso, é claro,
mãe, sua avó e a tia intrometida. Pes- mas, se você tiver 50 anos ou mais,
quisadores britânicos acrescentam peça também um exame de densi-
que a idade da menarca pode estar li- dade óssea. Cerca de 80% das pessoas
gada ao risco de doença cardíaca. Um pulam essa parte. A osteoporose pode
estudo com 1,2 milhão de mulheres ser responsável pela fratura, principal-
de meia-idade mostrou que as que ti- mente se a lesão não resultou de um
veram o primeiro ciclo menstrual aos grande trauma, como um acidente de
13 anos apresentaram menos risco de trânsito. Se minha massa óssea estiver
problemas cardíacos; as que tinham baixa, é bom saber logo para tomar
aos 10 anos ou menos e aos 17 ou providências e retardar a perda.
mais tiveram risco mais alto. A idade
da menarca pode indicar algo sobre a TRUQUES QUE ME DEIXAM
saúde metabólica geral. Outros estu- MAIS SAUDÁVEL
dos encontraram vínculos com o risco Misture o iogurte. Aquele líquido em
de diabetes e a baixa massa óssea. cima é o soro, rico em proteínas, cálcio
para os ossos, vitamina D e probióticos
Primeira lesão do joelho: Basta uma para o intestino. Quando você o joga
para aumentar a probabilidade de na pia, saio perdendo.
artrite pós-traumática. E a lesão não
precisa ser grave: o comuníssimo rom- Asse as batatas. Assá-las no forno con-
pimento do menisco ou do ligamento vencional ou no micro-ondas retém
cruzado anterior depois de uma queda mais nutrientes. Se descascá-las e fer-
pode deixar meu joelho instável e re- vê-las, você perde toda a fibra da casca
sultar em desgaste mais rápido. Nem e cerca de dois terços da vitamina C.
sempre a lesão provoca osteoartrite (a
idade, o peso e os genes influenciam), Deixe o alho picado descansar.
mas uma articulação lesionada é cerca Quando o dente é picado ou esma-

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SELEÇÕES

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gado, libera-se uma enzima chamada Colorir reduz o estresse. Hoje há
alinase que provoca a formação de muitos livros de colorir feitos para
compostos que combatem doenças. adultos, embora você também possa
Deixe-o descansar de 10 a 15 minu- pegar emprestado o de sua sobrinha.
tos. O cozimento do alho cedo demais Não importa: colorir pode eliminar a
pode desativar a enzima. ansiedade. Quando me concentro em
algo concreto e repetitivo, aciono por-
Esprema limão no espinafre. Esta ções de meu lobo parietal, a mesma
verdura escura é boa fonte de ferro, área do cérebro ligada à espirituali-
mas, para facilitar a absorção das dade e que tende a ficar ativa durante
formas vegetais desse mineral, o es- a meditação e as orações.
pinafre precisa ser consumido com
vitamina C (por isso o suco de limão). Fazer cara feia ganha a negociação.
Numa negociação difícil (quando
Descasque o abacaxi. Sei que dá tra- você quer escapar da “última” oferta
balho, mas comprar abacaxi fresco já ou da insistência de um vendedor,
descascado e picado pode lhe furtar por exemplo), fazer cara feia pode
alguns nutrientes. De acordo com as ter mais resultado do que uma cara
pesquisas, depois de seis dias na gela- de paisagem. Segundo as pesquisas,
deira os cubos de abacaxi perdem 10% ela pode dar mais credibilidade às
da vitamina C e 25% dos carotenoides ameaças.
(antioxidantes) se comparados à fruta
inteira picada no dia em que é comida. Gelar a mão alivia a dor de dente.
Esfregue um cubo de gelo na mem-
TRUQUES QUE ME ALEGRAM brana entre o polegar e o indicador.
Batucar na testa controla a vontade Os nervos desse ponto enviam sinais
de comer. Esquisito? Pois é. Mas os de frio ao cérebro que podem reduzir
pesquisadores testaram algumas téc- os sinais de dor vindos do dente. Cien-
nicas de 30 segundos para impedir o tistas canadenses afirmaram que, com-
ato de comer sem pensar. Esse foi o parado a massagear o ponto sem usar
que funcionou melhor para afastar os gelo, esse método reduziu em até 50%
participantes obesos de seus alimentos a dor de dentes.
favoritos, reduzindo assim a vontade Especialistas que contribuíram: Dr. Joseph Borrelli, cirurgião
ortopédico e diretor de Ortopedia do Texas Health
de comer. A próxima vez que um so- Arlington Memorial Hospital; David Bucci, professor de
Ciências Psicológicas e Cerebrais do Dartmouth College;
nho de chocolate chamar seu nome, Jeffrey Mogil, professor da cátedra E. P. Taylor de Estudos
da Dor da Universidade McGill; Ben Michaelis, psicólogo
ponha o dedo na testa e batuque para clínico e autor de Your Next Big Thing: Ten Small Steps to
Get Moving and Get Happy; Dra. Andrea J. Singer, diretora
o desejo ir embora. clínica da National Osteoporosis Foundation

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UM

H E RÓ I

NA

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DRAMA DA VIDA REAL

Um apartamento em chamas.
Crianças desaparecidas. Jordan
Sullivan recebe o chamado.

F U M AÇ A

P O R N. R. KLE INFIELD
D O T H E N E W YO R K T I ME S

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P
SELEÇÕES

ERGUNTE A UM BOMBEIRO como foi seu primeiro


incêndio e serão muitos os detalhes. Foi no laboratório
de química de uma escola, numa pizzaria, numa
lavanderia. Foi na esquina das ruas 78 e York, no
encanamento de um restaurante chinês. Foi no andar
de cima de um prédio antigo, o homem na retaguarda
com a mangueira. O capitão tirou uma foto, o novato no primeiro
incêndio, exibida numa moldura em casa.
Foi isso que Jordan Sullivan, bom- de praticar luta livre na escola secun-
beiro novato recém-saído da Aca- dária e um pouco na faculdade, quis
demia de Combate a Incêndios da ser treinador. Mas, após os ataques de
cidade de Nova York, esperou durante 2001 ao World Trade Center, ele deci-
96 dias: seu primeiro incêndio. Ele já diu que queria ser bombeiro.
havia cumprido cerca de 200 missões, Em 2002, fez a prova de 85 questões
quase sempre no posto menos im- para entrar no Departamento de In-
portante no caminhão: o “homem da cêndios. A nota 89 que tirou era boa,
lata”, que levava um grande extintor. mas não o suficiente para classificá-lo
Já estivera presente em incêndios, entre os 17.850 participantes do con-
mas sempre em papel secundário, de- curso. E, quando o concurso seguinte
pois que as chamas já estavam contro- chegasse, em 2007, ele teria 29 anos,

FOTO, PÁGIN AS AN TERI ORES: © PAUL EDM ONDSON/STOC KSY


ladas. No entanto, ainda não passara velho demais para se inscrever pelos
pelo que os bombeiros consideram padrões do departamento.
seu batismo de fogo. É quando seu Mas, em julho de 2009, um juiz fe-
caminhão é o primeiro a chegar e, por- deral determinou que os concursos
tanto, são eles que entram primeiro. de 1999 e 2002 tinham discriminado
Às 2h15 da madrugada de 16 de candidatos negros e hispânicos. Pela
março de 2014, um domingo, Sullivan reforma ordenada pelo tribunal,
finalmente teve sua oportunidade. Um candidatos negros e hispânicos pro-
morador avisou que havia fumaça num missores não classificados naqueles
prédio de apartamentos no Brooklyn, concursos poderiam prestar outro,
ali perto. Nessa missão, Sullivan estava qualquer que fosse sua idade, e teriam
no primeiro caminhão a chegar. prioridade na contratação.
No início de 2012, uma década
SULLIVAN FALA BAIXO, tem olhos depois daquela primeira vontade,
atentos e um sorriso cativante. Depois Sullivan estava entre as centenas de

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candidatos negros e latinos convidados ombro e uma vara de madeira de 1,80
a fazer a nova prova. Ele ficou espan- metro com uma ponta de metal para
tado e agradecidíssimo por essa ajuda sondar e rasgar paredes. Presos ao ca-
da Providência. Passou na prova e no pacete estavam uma cunha de madeira
exame físico e foi aceito na contratação e sete pregos para arrombar portas. Ele
prioritária, um dos 76 que formariam a mede 1,75 metro e pesa 70 quilos. Co-
classe mais diversificada da história do berto de equipamento, pesava 45 qui-
departamento. Em julho de 2013, com los a mais. A frente do capacete exibia
36 anos, Jordan Sullivan, que achou o “emblema abóbora”, a insígnia cor de
que nunca conseguiria ser bombeiro, laranja com as letras PROB gravadas
entrou na Academia de para anunciar sua con-
Combate a Incêndios. dição de novato.
Os três homens subi-
O C A M I N H ÃO dos Havia ram pela escada enfu-
bombeiros parou diante fumaça na maçada, com Sullivan
de Wyckoff Gardens, escada. E na retaguarda. Em pré-
um desbotado prédio uma mulher dios altos, uma das es-
residencial de 21 an- gritava, em cadas é utilizada para o
dares. Para Sullivan, o pânico: ataque com a mangueira
tempo pareceu acelerar. “Meu Deus, e para a equipe interna,
Na porta da frente, um meus bebês enquanto a outra fica
morador virou a cabeça
estão lá para evacuação. Na lista
para cima e gritou: “É do sim e não: em incên-
no quinto andar!”
dentro!” dios até o sétimo andar,
Todos têm uma fun- use a escada. E só use o
ção na coreografia do elevador até dois anda-
combate ao fogo. Três integrantes da res abaixo do incêndio, para não ficar
guarnição formavam a equipe que preso acima dele.
encontraria o fogo para o caminhão Havia fumaça na escada. A cada
apagar e procuraria vítimas. Era co- lance, ela engrossava. No quinto andar,
mandada pelo tenente John LaBar- um homem que apertava a camisa no
bera e formada pelo bombeiro John rosto apontou: “É lá.” E Gloria Mea-
Crowley, o “homem dos ferros”, que dows, de 64 anos, gritava em pânico:
levava as ferramentas para arrombar “Meu Deus, meus bebês estão lá dentro!
portas, e Sullivan, o “homem da lata”. Meu Deus, meus bebês estão lá dentro!”
Sullivan levava um extintor de 2,5 ga- Gloria escapara com dois netos,
lões de água (9,5 litros) pendurado no o de 1 ano e o de 14, mas os outros

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SELEÇÕES

dois estavam lá dentro, um bebê de 5 se lutasse contra o vento em algum la-


meses e uma menina de 8 anos. Pelo birinto macabro. Com a mão direita,
rádio, LaBarbera pediu a Mike Kehoe, Sullivan balançava a vara como uma
outro integrante da equipe, que man- batuta, procurando. Não perca a pa-
dasse um 10-75, o código de incêndio rede. Não perca a parede.
em andamento. Bombeiros novos que sondam um
O homem na escada os guiou até a apartamento em chamas têm a sen-
porta e os três bombeiros se ajoelha- sação de estar num imenso labirinto.
ram. Normalmente, eles combatem Depois, quando a fumaça acaba, eles
incêndios e vasculham descobrem que não era
prédios engatinhando, nada demais. O aparta-
às vezes arrastando-se mento parecia imenso
pelo chão, onde o calor A cômoda p a ra Su l l i v a n , ma s
é menos intenso e a vi- estava em media uns 55 metros
sibilidade, melhor. chamas, com quadrados.
Ro l o s d e f u ma ça labaredas Ele ainda estava cheio
saíam de baixo da porta. lambendo de adrenalina. Seu tan-
LaBarbera tentou a ma- o teto. que de oxigênio con-
çaneta. Estava destran- Sullivan tinha ar comprimido
cada. A fumaça negra navegou estimado para durar 45
invadia o apartamento. pelas espirais minutos, mas isso se
Crowley disse a Sulli-
de fumaça. ele estivesse, digamos,
van que olhasse atrás da arrancando o mato do
porta da frente. Havia jardim. Nos testes, o

FOTO: © DAM ON WI NTER/NEW YORK TI MES /REDUX


coisas ali, talvez roupas, Departamento de In-
mas nenhuma criança. LaBarbera, se- cêndios calculou que um bombeiro
guido por Sullivan, foi para a esquerda; no combate ao fogo teria, em média,
Crowley, para a direita. dezessete minutos e meio de ar. O
LaBarbera levava uma câmera tér- novato ansioso pode ter bem menos,
mica para localizar o fogo, e todos os talvez uns dez minutos. O treinamento
bombeiros tinham lanternas, mas elas ensina a regular a respiração: “não su-
pouco ajudavam na fumaça densa. gue o ar”, “não sopre no tanque”.
Sullivan se arrastava sobre o linó- Como um novato conseguiria man-
leo gasto do piso, perto o suficiente de ter a calma no primeiro incêndio?
LaBarbera para tocar seus tornozelos Sullivan aprendera truques como
mas não para vê-lo. Sua mão esquerda trincar os dentes. Era difícil. Ele es-
estava na parede, e ele avançava como tava sugando o ar.

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A CÔMODA DO QUARTO de dormir Os bombeiros aprendem que, sem
estava em chamas, com labaredas combate, o fogo tende a dobrar a
lambendo o teto. Crowley foi para a cada trinta segundos. Onde estavam
esquerda, mantendo o pé esquerdo as crianças? Quanto tempo viveriam?
em contato com a parede. Sullivan foi Sullivan tateou à frente com a mão
para a direita, uma das mãos tocando esquerda e sentiu alguma coisa. A
a parede, navegando pelas espirais de perna fina de um móvel. Tateou
fumaça. Não perca a parede. mais alto. Grades. Ele sabia o que era
O tempo passava. Estavam vários aquilo: um berço.
minutos dentro de um apartamento Ele se levantou, pôs as mãos lá den-
em chamas, ainda sem a mangueira. tro e, cautelosamente, tateou o que
achou que fossem cobertores e brin-
“A adrenalina bombava”, diz Sullivan. quedos; não conseguia enxergar.
“Estava ansioso para me pôr à prova.” A lanterna estava presa ao ombro;

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SELEÇÕES

ele se inclinou e ela iluminou alguma joelhos, jogaram no fogo mil litros
coisa. Era branca e macia. Ele também d’água por minuto, apagando-o.
sabia o que era: uma fralda. Sullivan entrou no segundo quarto.
Estranhamente, encontrar o bebê o
ASSIM QUE VIU a fralda e sentiu a acalmara. Um minuto e meio tinha se
maciez do corpo, ele soube que era o passado desde que o achara. Ele ou-
bebê. Sullivan o pegou no colo. viu alguém gritar 10-45. Bryan Kelly,
O treinamento diz para manter a bombeiro do Esquadrão 1, localizara a
calma. Transmita informações com menina de 8 anos caída, inconsciente.
frases claras e concisas. No primeiro quarto,
Ele não estava calmo, os homens da man-
nem um pouquinho. gueira ouviram um
Quando sentiu o bebê, Assim que ruído abafado, talvez
berrou: “Achei o bebê, viu a fralda e um brinquedo. Debaixo
senhor!” sentiu a da cama estava um cão-
Pelo rádio, Crowley maciez do zinho minúsculo, vivo e
transmitiu o código corpo, encharcado.
10-45, ou seja, uma ví- Sullivan Nos dez minutos se-
tima fora encontrada. soube que guintes, os homens da
Ele não pôde deixar de
era o bebê e mangueira contiveram
rir, porque, mesmo na- o fogo. Novos bombei-
quelas circunstâncias
o pegou. ros chegaram para fazer
difíceis, Sullivan con- uma segunda busca.
tinuava terminando Nisso, o número de
tudo com “senhor”, sempre o novato bombeiros no local já era cerca de 60.
perfeito. Os outros do carro 105 tiraram a más-
Sullivan aconchegou a criança des- cara. LaBarbera notou que Sullivan
falecida contra o ombro e saiu cor- ainda usava a dele e lhe disse que po-
rendo do apartamento. No corredor, dia retirá-la. Ele tinha ar. O alarme de
encontrou Dale Ford, bombeiro do falta de ar não soou.
carro 110, que disse: “Me dê o bebê A fumaça se dissipou e a escuridão
e volte lá para dentro.” Ele entregou a se desfez. O apartamento encharcado
criança e retornou ao apartamento à e carbonizado parecia ter passado por
procura da menina. uma imensa tempestade.
O resto aconteceu depressa. Os
homens do caminhão estenderam a LÁ EMBAIXO, ENQUANTO a lua su-
mangueira até o apartamento e, de bia no céu, os bombeiros fizeram seu

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relatório a Matthew Ferris, coman- se confundira, sem saber quem estava
dante do batalhão, recapitulando os onde. Mas fora batizado. E sentiu-se
fatos. Ele deu parabéns a Sullivan, humilde com o fato estonteante aconte-
que ainda não parara com o “senhor”. cido dentro daquele prédio: ele pegara
O chefe lhe disse: “Calma, não preci- uma criança e lhe devolvera a vida.
samos de senhores aqui.” Entre as ordens que os novatos têm
Naquele momento, as crianças, de obedecer está a de não usar o ce-
aconchegadas em leitos de hospital, lular no trabalho. Dessa vez, Sullivan
estavam sendo tratadas. Elas se re- quebrou a regra. Um pouco depois
cuperariam e receberiam alta. (O ca- das quatro, nas primeiras horas da
chorro também sobreviveu.) manhã, ele ligou para o pai.
Quatro dias ainda se passariam até – Achei um bebê – disse. – Não posso
alguns bombeiros visitarem a família falar agora. Estou no quartel.
numa escola local, quando Sullivan O pai, um homem rígido, respondeu:
voltou a pegar o bebê no colo. – Tudo bem. Conversamos depois.
O resto do turno foi tranquilo. E en-
DEPOIS DO RELATÓRIO, os bom- tão ele se dirigiu ao ginásio do quartel,
beiros subiram no caminhão, com onde se exercitou antes de ir para casa.
fumaça e água nas roupas. Na tran- Estava inquieto demais para dormir.
quilidade do quartel, tiraram o equi- Logo chegou a hora de cumprir seu
pamento encharcado e tomaram próximo turno. O pessoal de relações
banho. Sullivan estava cansado. públicas do Corpo de Bombeiros
Ele sabia que continuava a ser um combinara com alguns canais de TV
bombeiro ainda novato que tinha para entrevistá-lo diante do quartel.
muito a aprender. Depois que os jornalistas partiram, ele
Ao relembrar a noite, achou que po- voltou ao território dos novatos: a pia
deria ter ficado mais atento. Às vezes cheia de louça para lavar.
NEW YORK TIMES (20 DE JUNHO DE 2014), © 2014 THE NEW YORK TIMES CO., NYTIMES.COM.

CAMINHO DE MÃO DUPLA

Um dos caminhos mais simples para a mudança profunda


é os menos poderosos falarem tanto quanto ouvem e
os mais poderosos ouvirem tanto quanto falam.
GLORIA STEINEM

07•2016 | 55
Ossos
DO OFÍCIO

“Como brinde, podemos acordá-lo bem cedo?”

DERAM A MEU amigo estagiário 50 eu queria ser dali a cinco anos,


dólares para buscar o almoço do pre- respondi: piloto de corrida.”
sidente do banco. Disseram-lhe que ■■ “Ele me pediu que falasse um
comprasse algo para ele também; ele pouco de mim, e literalmente
comprou uma camisa. Fonte: storify.com esqueci quem eu era.”
■■ “Perguntaram minha opinião
VOCÊ JÁ SOFREU um CEE (colapso sobre pontualidade. Respondi
na entrevista de emprego)? Estes ho- que era bom falar com clareza e
mens e mulheres, sim: educação e ótimo usar a gramática
■■ “Fiquei tão nervoso na entrevista correta na fala e na escrita.”
que, quando ele me perguntou o que Fonte: dailymail.co.uk

56 | 07•2016 ILUSTRADO POR MARY NADLER


ESTÁVAMOS DEMOLINDO uma an-
tiga privada externa com três lugares NÃO SE OUVE ISTO
quando a vizinha perguntou se podia EM TODO LUGAR
ficar com o assento: uma tábua única
com três buracos. Eu disse “claro”. O músico Graham Nash – do grupo
Seis meses depois, ela me convidou Crosby, Stills, Nash and Young –
descreve como ouviu Harvest, o
a ir à sua casa. Lá, me mostrou a sala
clássico disco solo de Neil Young,
de estar recém-decorada, com as fotos pela primeira vez:
dos três netos emolduradas por uma
tábua única com três buracos. D. R. “Um dia eu estava no sítio de Neil,
onde havia um lindo lago. Ele me
perguntou se eu queria ouvir seu
DO REGISTRO de ocorrências da
novo disco, Harvest. Eu disse que
polícia ou o que um policial enfrenta sim. Ele me pediu que entrasse no
nas ruas todo dia: barco a remo. Perguntei: ‘No barco?’
NEIL YOUNG: © MIC HA EL P UTLAND/GETTY IM AGES. BARCO: BLUERIN GM ED IA/G E TTY IMAG E S

■■Um policial averiguou a queixa de Ele respondeu: ‘Sim. Vamos para o


que havia um veículo parando nas meio do lago.’ Bem, achei que ele
estivesse com um gravadorzinho
caixas de correio. Era a van do correio.
cassete e que ouviríamos em rela-
■■ Uma mulher disse que o filho tiva paz, no meio do lago. Nada
tinha sido atacado por um gato e disso. Ele tinha a casa inteira como
que o gato não a deixava levar o filho alto-falante esquerdo, o celeiro in-
ao hospital. teiro como alto-falante direito. E
ouvi Harvest vindo desses dois alto-
■■ Um morador disse que alguém en-
-falantes enormes, em volume altís-
trara em sua casa à noite e roubara simo. Elliot Mazer, produtor de Neil,
dois quilos de bacon. Depois de in- veio até a margem e berrou: ‘Está
vestigar, a polícia descobriu que a bom, Neil?’ E, juro, Neil respondeu:
mulher dele fizera um lanchinho no ‘Mais celeiro!’” De openculture.com

meio da noite.
■■ Um homem avisou que um esquilo
corria em círculos na Rua Davis e
que ele não sabia se o animal estava
doente ou se fora atropelado. Um
policial foi averiguar e, ao passar
pela rua, atropelou o esquilo.
Fonte: uniformstories.com

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na página 13.

07•2016 | 57
Ouvindo Uma mulher
que nasceu

pela
surda resolve
correr o risco
e escapa de
um mundo

primeira
de silêncio

vez...
FOTOGRAFADO P OR NADAV KANDER

…aos 39 anos
P O R JO M ILNE
D O LI V R O BR E AK I N G T H E S I L E N CE

07•2016 | 59
M
SELEÇÕES

ATT, MEU cão- rei até o ruído difuso em que passei a


-guia, se remexe confiar, um som que lembra o que se
a meus pés. Es- escuta debaixo d’água.
tamos num trem Estou cheia de medo. Minha mãe
lotado e tento também está preocupada. “Você está
montar a ima- bem assim, Joanne”, diz ela. “E se não
gem mental dos outros viajantes. der certo?”
Sinto um cheiro forte e doce. Pro- Mas e se der? E se eu tiver a chance
vavelmente os outros passageiros não de tirar o aparelho de audição e nunca
notaram; estão ocupados conversando mais usá-lo?
pelo celular ou lendo o jornal. Mas, para Sei que algum dia perderei o que me
mim, é uma pista. O aroma delicioso resta de visão; tenho retinite pigmen-
pertencerá a uma moça a caminho de tosa, outro sintoma da síndrome de
ver o namorado? Será Usher, doença genética
um primeiro encontro? rara e cruel que me rou-
Também sinto cheiro de “E se bou a audição quando
café. Digo a mim mesma
não der nasci. Desde os vinte e
para tomar cuidado, no tantos anos, quando co-
caso de haver uma be-
certo?”, mecei a ficar cega, não
bida quente por perto. pergunta tenho visão periférica,
mamãe.

C ABELO E M AQUIAGEM: CHA RLOTTE CAVE PARA ONE REPRES ENTS


Essa é minha vida apenas um túnel estreito
de cega e surda: presa Mas e se der? diante do rosto que me
num mundo que fica permite ler lábios. Mas
mais escuro a cada dia, haverá mesmo a possi-
um mundo silencioso interrompido bilidade de que, em troca, os médicos
apenas pelo ruído branco difuso e de me devolvam os ouvidos?
baixo volume do aparelho auditivo.
Mas daqui a um mês farei implan- PARECE QUE ALGUÉM PÔS PESOS
tes cocleares. Os cirurgiões me dizem de chumbo em minhas pálpebras.
que, com 39 anos, talvez eu consiga Devagar, com imenso esforço, pisco
ouvir pela primeira vez a voz das pes- e elas se abrem. Uma rachadura no
soas que amo: minha família, meus teto da enfermaria do hospital entra
amigos e os colegas com quem tra- em foco. Depois, um rosto aparece em
balho como coordenadora de acon- minha visão tunelar. É mamãe.
selhamento. É uma possibilidade “Eles fizeram a operação?”, consigo
incrível, mas traz riscos graves. Se o grasnir. “Já acabou?”
nervo auditivo for danificado, perde- Mamãe ri.

60 | 07•2016
DOIS DIAS DEPOIS DA CIRURGIA, sores que cuspiam em minhas costas
estou em casa, em Gateshead, na In- no ônibus da escola e achavam engra-
glaterra. Os especialistas acham que çado eu não conseguir ouvi-los.
tudo deu certo, mas tenho de esperar Três minutos: olho a tela e engulo
um mês até ligarem os implantes. Só em seco.
então saberemos se foi um sucesso. Um minuto: estou fitando o chão e
De repente, fiquei incapaz. Não vejo um par de sapatos pretos surgir à
posso mais usar o aparelho auditivo minha frente. Ergo os olhos, vejo um
e, sem ele, o ruído branco que me rosto amistoso aparecer em meu túnel
guiava todos os dias sumiu. O silêncio e sinto as vibrações de mamãe, que se
total e completo é um companheiro levanta a meu lado.
deprimente.
O que mais me assusta é a ideia de SENTO-ME DIANTE DE LOUISE, a au-
ficar assim para sempre. diologista, em seu consultório. Antes
de ligar os implantes, ela precisa usar

U
M MÊS DEPOIS, volto ao hos- o computador para alinhar 22 eletro-
pital. Mamãe e eu estamos dos em cada ouvido. É um processo
na sala de espera. Uma TV de demorado, em que Louise prende no
tela grande mostra o nome e o tempo computador os fios de meus novos
de espera de cada paciente. aparelhos auditivos. Quando os co-
Joanne Milne, dez minutos. loca atrás da minha orelha pela pri-
Seis minutos: aquele medo impor- meira vez, parecem duros e frios.
tuno que não desaparece. E se a ope- Depois de repetir várias vezes o
ração não deu certo? mesmo processo laborioso em cada
Cinco minutos: penso em outras eletrodo, Louise pousa a caneta e sorri
coisas. O medo no rosto de mamãe para mim.
ao sair correndo de casa quando fui “Conseeeeegue... meeeee... ouviiiiir?”
atropelada ainda pequena porque não As primeiras palavras que já escutei.
consegui ouvir o carro se aproximar. A Cada letra, cada sílaba ricocheteia
vez em que consegui me soltar do car- nas paredes, no teto, nas portas, soa
rinho enquanto mamãe olhava uma pela sala, nos meus ouvidos e choca-
vitrine. As duas horas frenéticas que lha dentro do cérebro, que, desespe-
ela passou me procurando no meio da rado, tenta filtrar todos os novos sons
multidão, sabendo que não adiantava que saíram girando da boca de Louise
chamar meu nome. A briga que teve e atingiram minhas orelhas, explo-
para me pôr na mesma escola em que dindo como fogos de artifício.
estudavam minhas irmãs. Os agres- É assim que soa? Não é um ruído

07•2016 | 61
SELEÇÕES

branco nem um zumbido suave. É as- comuns, mas, para mim, são as mais
sim que é não ser surdo. Isso é audição. lindas que existem.
“Vou dizer os dias da semana”, ex- Mamãe está em pé à minha direita,
plica Louise devagar. A voz dela é filmando o momento. Tento falar e te-
como imaginei que seria a de um robô: nho essa estranha sensação por den-
aguda, guinchada, eletrônica. “Segun- tro. Uma voz em minha cabeça. Minha
da-feira... terça-feira... quarta-feira...” própria voz.
As emoções saem borbulhando de – Soa muito agudo – digo.
meu corpo como de uma lata de refri- – Vai soar agudo a princípio – Louise
gerante sacudida. As lágrimas pingam concorda. – Seu cérebro se acostumará
no colo enquanto tento absorver tudo e não soará assim para sempre.
aquilo. “Quinta-feira... sexta-feira... sá- Baixo a cabeça até o colo e choro.
bado... domingo...” – Sorria – diz mamãe, em pé com
Palavras que conheço a vida inteira, a câmera.
mas que ouço pela primeira vez. Tão Ela tem sido minha porta-voz, meus
ouvidos, meus olhos a vida inteira, e
até agora eu nunca soube como era a
voz dela. Meu cérebro tenta registrar a
diferença entre a voz dela e a de Louise
e percebe instantaneamente: o sotaque
do norte da Inglaterra de mamãe. En-
tão é assim que falamos.
A operação deu certo. Posso ouvir.
Se fosse possível medir a alegria em
grau máximo, era o que eu faria. Em
todos esses anos em meu mundo silen-
cioso, as palavras de nada me adianta-
vam, eram desconhecidas com quem
eu desejava, de longe, fazer amizade.
E, sim, há uma pergunta óbvia: como é
que sei o que significam essas palavras
pronunciadas se nunca as ouvi? Todos
esses anos lendo lábios ensinaram a
meu cérebro o formato e a sensação
das palavras faladas, antes mesmo que
eu as ouvisse. Agora, de repente, som e
significado se juntam.

62 | 07•2016
Saio do consultório de Louise como fos batendo nos pratos, o zumbido
uma mulher que ouve. Enquanto an- das conversas. Então noto mais uma
damos, ouço o batuque dos passos no coisa: o som de meus talheres ras-
chão. Depois surge outro som. pando o prato.
– Que barulho é esse? – pergunto a – Faço muito barulho quando como
mamãe. – digo rindo a mamãe.
– É o telefone tocando – diz ela, e, Para mim, tudo é maravilhoso: o
quando ergo os olhos, minha visão tu- fato de responder à garçonete quando
nelar revela a recepcionista pegando ela pergunta se quero parmesão na
o aparelho. massa, embora eu esteja olhando para
– Que barulho é esse? – pergunto o outro lado; o ruído que o copo faz
de novo, quando um clinque-clinque quando o pouso com força demais na
passa por mim. mesa; o gelo que tilinta entre as fatias
– É o carrinho do café. de limão dentro do copo.
Os sinais que, de tão comuns pas- Eu achava que as bebidas eram
sam despercebidos, colorem meu silenciosas e que copos não faziam
mundo, dando-lhe uma vida que barulho. E também que a gente só
nunca senti. podia se comunicar quando olhasse
os outros. Tudo isso são segredos que

Q
UANDO SAÍMOS DO hospi- o mundo sonoro agora me revela.
tal e entramos naquele dia de Ao voltarmos a nosso quarto de
março, o vento açoita o chão, hotel, meu cérebro está exausto com
levantando as folhas em redemoinho. o esforço de escutar. Quando mamãe
E então percebo que o vento faz ba- pendura o casaco no guarda-roupa,
rulho, um barulho soprado, corrido. peço-lhe, pela primeira vez na vida,
Paramos num restaurante e me es- que faça silêncio.
panto com a barulheira do mundo: – Oooh, desculpe! – diz ela.E caímos
o estrépito da cozinha, facas e gar- na gargalhada.
BREAKING THE SILENCE: MY STORY AS I LEARNED TO HEAR FOR THE FIRST TIME, DE JO MILNE E ANNA WHARTON, © 2015 DE JO MILNE,
PUBLICADO POR CORONET BOOKS, CORONETBOOKS.COM.

O IMPORTANTE É A AMIZADE

Eu costumava adorar corrigir a gramática das pessoas até


que me dei conta de que gostava mais de ter amigos.
@MARAWRITESSTUF

07•2016 | 63
O Rio de Janeiro está se arrumando para as
Olimpíadas. Mas, de barbas a biquínis, regras
rigorosas determinam o que os atletas podem vestir

Vestidos
vencer
para

POR DAV I D T H O M AS

EM MARÇO DE 2012, a Federação Internacio-


nal de Voleibol fez um anúncio que abalou o
mundo do esporte. A entidade revogou uma
regra que transformara o vôlei de praia em
um esporte adorado pelos homens: as atletas
não precisariam mais usar biquínis.
Até aquele ano, as regras do esporte estipu-
lavam que a parte de baixo dos biquínis deve-
ria ter “uma largura lateral máxima de 7 cm”.
Mas as novas determinações permitiriam
“shorts com um comprimento máximo de 3 cm
acima do joelho, e tops com ou sem mangas”.
A federação apresentou a mudança como
um meio de facilitar a adesão de mais países A jogadora
ao vôlei de praia feminino: “Muitos países têm americana de
exigências culturais e religiosas, portanto o vôlei de praia
Kerri Walsh (à
uniforme precisava ser mais adaptável”, direita, na foto)
ponderou o porta-voz Richard Baker. é fã do biquíni.

64 | 07•2016 © DAVID EUL ITT/KANSAS CITY STAR/MCT/ZUMAPRESS.COM/ACTION IMAGES


PHOTO/I LLUSTRATI ON CREDIT
SELEÇÕES

Mas os fundamentalistas não são os de Copacabana. E, se existe um lugar


únicos inimigos do biquíni. O vôlei de no mundo onde um biquíni é o traje
praia se tornou uma questão feminista. apropriado, sem dúvida é aquele. As-
A Comissão Australiana de Esportes sim, admiradores de mulheres altas,
investigou a “exploração sexual” no saradas e belas, vestindo pouquíssi-
esporte, apontando que as mulheres mas roupas, podem ficar tranquilos.
teriam sido estimuladas Embora isso suscite
a usar “uniformes inten- uma questão interes-
cionalmente [projetados] Há quase 3 mil sante: que outras regras
para exibir o corpo, e não anos, nas se aplicariam à aparên-
por qualquer motivo tec- Olimpíadas, cia dos atletas nos Jogos
nológico, prático ou fun- Olímpicos?
cional”.
As jogadoras de vôlei NAS OLIMPÍADAS an-
de praia, no entanto, tigas, há cerca de 3 mil
não ficaram tão anima- anos, a única regra para
das com o novo look. a vestimenta era: “Sem
Nas palavras de Kerri roupas.” Todos os atletas
Walsh, estrela ameri- eram homens e compe-
cana dessa modalidade: tiam nus. Mulheres não
“Precisamos dos biquí- podiam ter participação
nis. Não podemos vestir todos os atletas nos eventos esportivos
roupas largas. Biquínis eram do sexo da época. Mulheres ca-
são funcionais e ousa- masculino e sadas não podiam se-
dos ao mesmo tempo.” competiam nus. quer ver os Jogos, sob
Suas companheiras pena de morte. Uma
competidoras eviden- viúva, no entanto, cha-
temente concordaram. Como um mada Kallipateira, ousou ser diferente
porta-voz da federação explica, com – assim reza a lenda.
© ACE STOCK LIMI TED/A LAM Y

a formalidade cansada de alguém Ela queria torcer pelo filho, o ginasta


que já respondeu a perguntas demais Peisirodus. Então, se disfarçou de seu
sobre o assunto: “Nas Olimpíadas de treinador e o acompanhou até Olím-
Londres, as atletas escolheram usar o pia, onde o rapaz venceu a competi-
uniforme tradicional, bem como no ção. Quando Kallipateira deu um pulo
Circuito Mundial de Vôlei de Praia.” para comemorar a vitória do filho, suas
No Rio de Janeiro, o torneio de vô- roupas se abriram com o vento e reve-
lei de praia vai acontecer nas areias laram seu corpo de mulher.

66 | 07•2016
A vida dela foi poupada. Mas, a par- Atletas do Irã e da Rússia nas Olimpíadas de
tir de então, todos os treinadores, as- Londres, em 2012: a barba dos lutadores em
eventos olímpicos deve ter no mínimo 5mm.
sim como os atletas, foram obrigados
a ficar sem roupas, a fim de provar sua bém foram proibidos de ter qualquer
masculinidade. suor no corpo quando chegassem ao
Hoje, as regras que regem os espor- tatame para o início de uma luta, ou
tes individuais são formuladas por no início de cada round. Não podem
suas diversas entidades responsáveis, “aplicar qualquer substância oleosa
supervisionadas pelo Comitê Olím- ou pegajosa no corpo”. As competi-
pico Internacional (COI). doras não podem usar sutiã com aro
Num primeiro momento, algumas no bojo.
parecem um pouco estranhas. Por Existem bons motivos para todo
© RIA N OVOSTI/TOPFOTO

exemplo, o Artigo 23 dos regulamen- esse regulamento. Não é permitido a


tos da United World Wrestling esti- um competidor usar barba curta ou
pula que “os competidores devem rala porque seu queixo poderia “ar-
ter a barba completamente raspada. ranhar como uma lixa a pele do opo-
Se usarem barbas, elas não podem nente e até cortá-la”, de acordo com a
ser menores do que 5mm”. Eles tam- entidade responsável pelas lutas.

07•2016 | 67
SELEÇÕES

Se o corpo de um lutador estiver usaram os macacões LZR Racer, da


suado ou oleoso, ficará muito mais Speedo, conquistaram 98% das meda-
difícil de ser agarrado, o que coloca- lhas, quebrando 23 recordes mundiais.
ria o oponente em desvantagem. Um Os macacões cobriam todo o tronco
sutiã com aro no bojo é proibido por- do nadador e iam até os joelhos, ou
que “qualquer objeto de até os tornozelos. Eles
metal, incluindo zípe- não só eram superaero-
res, pode ser perigoso dinâmicos, diminuindo
durante a luta e furar Em Pequim, a resistência na água,
ou espetar o adversário”. 2008, nadadores como também, dizia-se,
É compreensível a com o macacão ajudavam na flutuação.
preocupação em evitar Alguns competidores
que o uniforme dê ao usaram vários deles, um
atleta vantagem injusta. em cima do outro, para
As regras do ciclismo flutuar mais facilmente
instituem que “a ves- e ganhar velocidade.
timenta não pode ser Ma i s t a rd e, Ja s o n
adaptada para servir a Rance, que liderou a
qualquer propósito que equipe de pesquisa e
não seja o de vestir o desenvolvimento do
corpo. macacão da Speedo,
Como exemplo de um
LZR Racer, da insistiu que os rumores
design que seria vetado, Speedo, sobre a flutuação não
as regras mencionam quebraram 23 eram verdadeiros: “A
“asas” entre os braços recordes. Speedo sempre testou
e o corpo do ciclista, ou a flutuabilidade porque
sapatilhas projetadas nós não acreditamos
para que o competidor se torne mais que seja justo o nadador usar um ma-
aerodinâmico. Da mesma forma, atle- cacão que, basicamente, o ajude a flu-
tas em provas de saltos não podem tuar. O que fazemos é ajudar a reduzir
usar sapatilhas com solados grossos, a resistência da água.”
antiderrapantes. No entanto, a Federação Internacio-
nal de Natação (Fina), órgão que con-
A IMPORTÂNCIA DA HONESTIDADE trola a natação mundial, baniu todo e
© SPEEDO

nas roupas esportivas foi destacada qualquer macacão de corpo inteiro,


pelas provas de natação em 2008, em de alta tecnologia, e as diretrizes para
Pequim, quando os competidores que as Olimpíadas de 2016 estão ajusta-

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das para que os uniformes adotados A equipe canadense de nado sincronizado,
sejam o mais convencionais possível. em Pequim, 2008: as atletas são proibidas
de usar “maquiagem teatral”.
Todo fabricante cujas roupas serão
usadas nas provas de natação devem força, flexibilidade e uma tremenda
fornecer um metro quadrado do te- resistência cardiovascular. Mas, por-
cido a partir do qual elas serão feitas, que usam roupas coloridas e brilhan-
para assegurar que sejam adequadas. tes, maquiagem pesada e ostentam
um sorriso congelado no rosto, elas
O NADO SINCRONIZADO TAMBÉM podem ser vistas como estereótipos
é alvo de investigação. Junto com a de uma feminilidade submissa.
ginástica rítmica, ele é um esporte Enquanto discutem a aparência das
© SIPA PRESS/REX/SHUTTERSTOCK

olímpico no qual há apenas compe- meninas do nado sincronizado, as re-


tidoras. E, como ocorre com tantos gras tentam tornar o esporte mais dis-
outros esportes que envolvem a par- creto, menos chamativo. Por exemplo,
ticipação feminina, principalmente as regras afirmam que: “Maquiagem
os que implicam julgamento estético, teatral não deve ser usada. Uma ma-
a questão da aparência se tornou um quiagem simples, que dê uma aparên-
tópico de debate acalorado. cia natural, limpa e saudável é aceita.”
As meninas do nado sincronizado Os únicos comentários acerca dos
são atletas saradas, que possuem figurinos vêm das orientações para

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SELEÇÕES

eventos aquáticos controlados pela Usain Bolt vence os 100 m, em Londres,


Fina. Elas afirmam que: “Os maiôs de- 2012: os velocistas preferem roupas
colantes que diminuam a resistência do ar.
vem ter bom gosto e estar de acordo
com a moralidade.” E alertam contra sexos são pessoas jovens com corpos
roupas que possam ser transparentes. fantásticos. Não deveríamos estar sur-
E também não há qualquer obriga- presos se eles gostassem de exibi-los.
ção de que as competidoras de nado
sincronizado sorriam. As regras sim- AS REGRAS DO ATLETISMO ATESTAM
plesmente declaram que serão acres- que os uniformes dos competidores
centados pontos pela “expressão do devem ser discretos “e projetados e
humor da música” e “o modo da apre- usados de forma a não serem repreen-
sentação”. síveis”. Devem ser feitos de material
A maioria das apresentações de que “não seria transparente, mesmo
nado sincronizado é acompanhada quando molhado” e ter a mesma cor
por músicas alegres, apropriadas ao na frente e atrás. Apesar disso, no en-
© STREETER LECKA/GETTY I MAGES

tipo de coreografia das nadadoras. tanto, quem decide que tipo de uni-
Mas não há nada nas regras que as forme usar são os corredores e suas
impeça de chorar copiosamente du- federações nacionais.
rante a “Marcha fúnebre”. Esses atletas, geralmente, ainda
Assim, talvez, como acontece com usam shorts e camisetas que quase
as jogadoras de vôlei de praia, as não sofreram alteração nos últimos
meninas do nado sincronizado sim- 50 anos, apesar de os velocistas agora
plesmente gostem de usar maiôs cha- tenderem a usar uniformes justos,
mativos. Afinal, atletas de ambos os para diminuir a resistência do ar. As

70 | 07•2016
mulheres, no entanto, mudaram de um homem em boa forma vestindo
shorts e camisetas, como os homens, roupas de equitação aderidas ao corpo,
para uniformes de duas peças bem da mesma forma que homens sejam
menores e mais justos, cada vez mais atraídos por lindas mulheres de biquíni.
parecidos com os biquínis das jogado- Mas isso não significa que o sexismo
ras de vôlei de praia. não exista no esporte, ou que as roupas
Nenhuma regra causou esta mu- não sejam parte de sua causa.
dança. Trata-se apenas do que os atle- Vejamos a história de Niklas Stoe-
tas querem vestir. E, mesmo quando pel, de Wattenscheid, na Alemanha.
atletas olímpicos de ambos os sexos Ele treinou seu esporte desde os 7
parecem vestir uniformes tradicio- anos, alcançou o mais alto padrão e
nais, mudanças estão acontecendo. deveria ter sido indicado para a sele-
As competições equestres, que são ção alemã. Ele sonhava em competir
únicas pelo fato de que homens e mu- nos Jogos Olímpicos.
lheres competem diretamente entre Só havia um problema. Niklas,
si, ainda exigem uniformes de equita- como um número crescente de jovens
ção cujos designs datam do século 19. meninos, era um nadador de nado
Mas, apesar de as versões atuais pa- sincronizado. Ele não se incomodava
recerem semelhantes, antigos culotes em raspar as pernas, como os nada-
de tecido de lã penteada e casacas de dores e os ciclistas fazem, ou em usar
lã estão sendo substituídos por teci- roupas cheias de purpurina, como fa-
dos modernos que deixam a pele de zem os dançarinos de balé.
cavaleiros e amazonas transpirar, re- Mas o COI não permite que atle-
movendo o suor e esticando à medida tas do sexo masculino entrem em
que os atletas se movimentam. competições de nado sincronizado.
Um porta-voz da Federação Eques- Em 2014, a Federação Internacional
© ROSS K INNA IRD/A LLS PORT/GETTY IMAGES

tre Internacional observa: “A mu- de Natação mudou de ideia e jovens


dança é norteada pelos competidores. atletas como Niklas puderam compe-
A percepção é que o cavaleiro e a tir em duetos mistos.
amazona parecem antigos; mas, hoje O COI, no entanto, não mudou de
em dia, não. São atletas com roupas ideia. Não haverá atletas masculinos
colantes, e eles têm corpos maravilho- no nado sincronizado nas Olimpíadas
sos porque são muito sarados. Nosso do Rio, em 2016. Mulheres podem cal-
uniforme é bem bonito e sexy.” çar luvas de boxe, mas as regras ainda
proíbem homens de usar maquiagem
É SENSATO IMAGINAR QUE MUITAS e figurinos divertidos. Se isso não é
espectadoras se sintam atraídas por discriminação, é o quê?

07•2016 | 71
FOTOGRAF IA DE CLAIRE BENOIST ADEREÇOS: SA RAH GUI DO-LAAKS O PARA HAL L E Y RE SOU RCE S
A ciência
diz que você
pode viver
100 anos
São mais de 30 mil centenários hoje
no Brasil, número que triplicou na última
década. Eis como se tornar um deles.
POR A LYSSA J U N G

VOCÊ ACHA QUE mais. A diferença foi tão significativa


TEM A IDADE ERRADA – sentir-se mais velho foi ligado a um
Jura que você se sente como se tivesse aumento de 41% do risco de morrer –
35 anos e não 55? Isso é bom para a que os autores do estudo recomenda-
longevidade, de acordo com um re- ram aos médicos que, como parte do
cente estudo britânico. Todos os parti- exame físico anual, perguntassem aos
cipantes tinham 65 anos ou mais, e os pacientes que idade sentem que têm.
que se sentiam com três ou mais anos a
menos do que tinham de fato apresen- VOCÊ COME MAIS
taram menos probabilidade de morrer DESSAS DUAS COISAS
dentro de oito anos do que aqueles As mulheres que consumiram mais
que sentiam ter a idade verdadeira ou hortaliças e frutas tiveram pro-

07•2016 | 73
SELEÇÕES

babilidade 46% menor de morrer liativa da Escola de Medicina Icahn do


num período de cinco anos quando hospital Monte Sinai, em Nova York.
comparadas às que as comiam rara-
mente, de acordo com um estudo da VOCÊ APRECIA O QUE
Universidade de Michigan com 700 CAIR NA REDE
participantes entre 70 e 79 anos. (A Idosos com nível sanguíneo mais alto
ingestão foi medida com a avaliação de ácidos graxos ômega-3 viveram,
do nível sanguíneo de alguns com- em média, dois anos mais do que os
postos vegetais.) que tinham nível mais baixo, como
Os moradores de Oki- mostrou um estudo de
nawa, no Japão, que se Har vard. Os partici-
gabam de ter uma das Os que fazem pantes não tomaram
proporções mais altas do suplementos de óleo
mundo de centenários regularmente de peixe; eles simples-
(cerca de 50 em cada meia horinha mente comeram muito
100 mil habitantes, con- de sesta correm peixe rico em ômega-3.
tra apenas dez a vinte
nos Estados Unidos), menos risco de VOCÊ COME
são a prova viva de que cardiopatia. FEITO UM GREGO
é bom comer legumes Sabemos que a ali-
e verduras. Os habitan- mentação de estilo me-
tes mais idosos passaram quase toda diterrâneo (com ênfase em azeite,
a vida com uma alimentação de base leguminosas, nozes, castanhas e ce-
vegetal, e quase todos têm ou tiveram reais integrais, além de frutas, hor-
uma horta. taliças e peixe) foi ligada a uma vida
mais longa. Mas uma nova pesquisa
VOCÊ TEM ATITUDE POSITIVA de Harvard com mais de 4.600 mulhe-
A personalidade dos quase centená- res revela o efeito cumulativo da boa
rios costuma apresentar em comum nutrição. Os pesquisadores classifica-
características como alegria e oti- ram os voluntários pela adesão a esse
mismo, de acordo com um estudo estilo alimentar; os que tiveram nota
com 243 voluntários publicado em mais alta demonstraram menor enve-
2012 na revista Aging. “Ser adaptável lhecimento celular.
e flexível ajuda a evitar o estresse e a
ansiedade e, assim, aumenta a longe- VOCÊ NÃO PERDE A SESTA
vidade”, diz a Dra. Rosanne Leipzig, Os moradores de Ikaria, pequena ilha
professora de Geriatria e Medicina Pa- grega no Mediterrâneo com elevada

74 | 07•2016
OS CENTENÁRIOS FALAM

Cinco integrantes do clube dos três algarismos revelam sua fórmula.

n Grandes metas. sannah, que nasceu no neiro por mais de 40


“Correr me trouxe de Alabama e hoje mora anos; parou de traba-
volta à vida e me fez em Nova York, sempre lhar só aos 95. Hoje, aos
esquecer meus trau- teve um fraco pelas 101, diz que o segredo
mas e tristezas”, disse lingeries da Blooming- de sua longevidade
Fauja Singh, de 104 dale’s, disse sua sobri- sempre esteve no tra-
anos, à CNN. Esse bi- nha na revista Time. balho. “Manter a mente
savô nascido na Índia n Costume. Aveia e ativa com dados, infor-
correu sua primeira flexões no café da ma- mações e cálculos sem-
maratona com 89 nhã, depois peixe com pre me fez sentir
anos e, desde então, legumes no jantar: é jovem”, explica ele.
competiu em corridas assim que o nova-ior- n Gentileza. Gertrude
no mundo inteiro. quino Duranord Veil- Weaver faleceu em
n Luxo. “Ninguém fica lard explica seus 109 abril passado com 116
velho demais para anos. De acordo com o anos, mas em 2014 ela
usar coisas bonitas”, jornal USA Today, Veil- contou à revista Time
disse Susannah lard faz cinco a sete seu conselho para uma
Mushatt Jones, de 116 flexões toda manhã, vida longa. “Trate bem
anos, quando foi fazer observado por Jeanne, as pessoas e seja gentil
um eletrocardiograma a esposa de 82 anos. com os outros, do
e os médicos se sur- n Trabaho. Amaro mesmo modo que gos-
preenderam com sua Góes foi corretor de taria que fossem gentis
lingerie rendada. Su- imóveis no Rio de Ja- com você”, disse ela.

população de centenários, gostam VOCÊ CORRE


de fazer a sesta, e isso é bom para o COM BOM RITMO
coração. Os pesquisadores de Har- Um estudo de 2012 publicado na re-
vard estudaram mais de 23 mil pes- vista Archives of Internal Medicine
soas durante seis anos e constataram confirmou que a boa forma física na
que quem tirava um cochilo de meia meia-idade pode prever a saúde que
hora tinha probabilidade 37% menor se terá mais tarde. Depois de acom-
de morrer de doenças cardíacas do panhar 19 mil adultos de meia-idade,
que os que ficavam acordados o dia o estudo verificou que os que estavam
inteiro. mais em forma tinham menos proba-

07•2016 | 75
SELEÇÕES

bilidade de ter doença de Alzheimer, expectativa de vida cinco anos menor


alguns tipos de câncer, cardiopatia depois dos 40 do que as mulheres
e diabete tipo 2 depois dos 70 anos. com 69 cm ou menos de cintura. Nos
Os homens em melhor forma estavam homens, uma cintura de 109 cm ou
em condições de correr um quilô- mais foi ligada à redução de três anos
metro em cinco minutos; as mulhe- da expectativa de vida, em compara-
res, um quilômetro em seis minutos ção aos que tinham 89 cm ou menos
e doze segundos. “Quem se man- de cintura. A redução de poucos cen-
tém ativo a vida inteira, seja cor- tímetros na largura das calças pode
re n d o, c a m i n ha n d o ter grande impacto na
o u p e d a l a n d o, v i v e saúde. “Digo a meus
mais”, diz o Dr. Jeremy “Digo a meus pacientes que, sempre
Walston, professor de
pacientes que, que possível, andem e
Medicina Geriátrica da não dirijam”, afirma a
Escola de Medicina sempre que Dra. Leipzig.
da Universidade Johns possível, andem
Hopkins.
e não dirijam”, VOCÊ MANTÉM
LIGAÇÕES
VOCÊ FAZ COISAS diz a Dra. Sentir-se ligado à família
IMPORTANTES Rosanne e aos amigos mantém a
Um novo estudo da pessoa engajada e faci-
Leipzig.
revista Psychological lita o envelhecimento
Science verificou que saudável, diz o Dr. Wals-
a probabilidade de morrer num pe- ton. “O isolamento tem efeito contrário
ríodo de 14 anos é menor quando e pode provocar doenças crônicas.” Na
se tem um propósito na vida. “Faça Sardenha, minúscula ilha italiana no
novos amigos, escolha um novo pas- Mediterrâneo com grande população
satempo, seja voluntário”, diz a Dra. centenária, a amizade é fundamental,
Leipzig. “Meu tio-avô de 90 e poucos de acordo com Dan Buettner, que via-
anos ainda trabalha na oficina de car- jou pelo mundo para estudar os povos
pintaria quase todo dia”, acrescenta o mais longevos. “A vida é muito social.
Dr. Walston. Todos se encontram na rua diaria-
mente e saboreiam a companhia uns
VOCÊ É ESGUIO dos outros. Eles contam com os ami-
ONDE ISSO CONTA gos. Quando alguém adoece, os vizi-
Um estudo constatou que as mulheres nhos estão bem ali”, escreveu ele no
com 94 cm ou mais de cintura tinham Wall Street Journal.

76 | 07•2016
Entre aspas
A PARTI R DO ALTO: © SGRA NITZ/GETTY IMAGES. © TIBRI NA HOBSON/GETTY IMAG E S. © TONY BARSON/G E TTY IMAG E S

Quem ri melhor DIGA O


QUE PENSA,
aprende mais. MESMO QUE A
JOHN CLEESE , VOZ TREMA.
comediante e escritor M AG G I E K U H N , a t i v i s t a

Habilidade é algo que


aprendemos. Talento é A PRIMEIRA PÁGINA VENDE O
o que não conseguimos
deixar de fazer. LIVRO; A ÚLTIMA, VENDE O LIVRO
C A R O LI N E G H OS N ,
CEO da Levo
SEGUINTE. M I C K E Y S P I LL A N E , r o m a n c i s t a p o l i c i a l

Ser fã é saber que amar


supera muito ser amado.
C A R R I E B R OW N S TE I N , m ú s i c a

MEU PAI SEMPRE ME Prometo que


DISSE QUE UM haverá um
IDIOTA AOS 40 amanhã. Hoje
já é amanhã na
SERÁ IDIOTA PELO Austrália.
RESTO DA VIDA. CH A R LE S SCH U L Z ,
cartunista
I D R I S E LBA , a t o r

Nada é tão perigoso para aprisionar a


inteligência do que aceitar passivamente as
informações. AU G U S TO C U RY,
n o l i v r o Nu n c a d e s i s t a d e s e u s s o n h o s

07•2016 | 77
Guia de etiqueta em viagens

Armadilhas
para
evitar
nas férias
POR J UL I U S SC H O P H O FF

E
M ROMA, como os romanos. Uma
saudação casual e até o gesto mais
bem-intencionado podem bastar
para ofender seus anfitriões, como
lhe contarão nossos colegas do Reader’s Digest
em quatro continentes. Nosso guia de férias
lhe dará algumas orientações para você não
tropeçar em viagens pelo mundo.

78 | 07•2016 ILUSTRAÇÕES DE JAN BAZING


07•2016 | 79
SELEÇÕES

Europa FINLÂNDIA Embora os finlandeses


INGLATERRA Os ingleses são o único passem boa parte da vida em cabanas
povo do mundo apaixonado por filas de madeira cheias de vapor, uma coisa
onde quer que seja: no supermercado, que eles simplesmente não suportam
no correio, nos pontos de ônibus. é conversa fiada. Portanto, esqueça o
Em 1999, quando dois trens des- papo furado e não se surpreenda se as
carrilaram em Londres, em vez de conversas forem marcadas por silên-
saírem correndo dos vagões virados, cios prolongados. Se tiver a sorte de
os passageiros formaram uma fila or- ser convidado a visitar a casa de um
deira, à moda britânica clássica. “Os finlandês, demonstre a mesma reserva
ingleses não toleram fura-filas. Por- de seus anfitriões. Evite abraçá-los e
tanto, mesmo que haja apenas uma beijá-los ao chegar e não se esqueça
única pessoa aguardando no ponto de tirar os sapatos; é fácil marcar o as-
de ônibus, é melhor ficar atrás dela soalho lustroso de madeira.

“Se houver apenas uma pessoa


no ponto de ônibus, é melhor ficar
atrás dela.” ALEX FINER, editor-chefe da revista
Reader’s Digest em Londres

e deixar que embarque primeiro”, diz “Nunca tome mais bebida alcoólica
Alex Finer, editor-chefe da redação do que levou consigo e, aconteça o
europeia da revista Reader’s Digest que acontecer, nem pense em acen-
em Londres. der um cigarro!”, diz Ilkka Virtanen,
E não chegue perto demais; essa editor-chefe da Valitut Palat, a revista
atitude é vista como invasão do es- Reader’s Digest na Finlândia. “Os fin-
paço pessoal. Por outro lado, se você landeses não se incomodam com o
ficar muito longe, pode ter certeza vapor da sauna, mas não toleram fu-
de que, quando outras pessoas che- maça dentro de casa!”
garem, vão lhe perguntar enfatica-
mente se você está na fila. O jornal FRANÇA Nesse país, a boa educação
The Guardian recomenda que, como é tudo. O tratamento formal tam-
regra geral, você deixe o mesmo es- bém se usa nos cumprimentos e até
paço que manteria “ao dançar com a nas respostas mais curtas: “Bonjour,
tia-avó Hildegard”. Monsieur”, “Merci, Madame”. Sua me-

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lhor oportunidade de se aproximar de
um francês é durante o ritual do beijo,
que ocorre sempre que se encontra
alguém. “Dependendo da região, o
ritual pode envolver dois, três e até
quatro beijos. Mas, por favor, resista
à tentação de forçar um grande beijo
estalado neles; um soprinho no om-
bro é mais do que suficiente”, diz
Stéphane Calmeyn, editor-chefe de
nossa revista francesa.
A não ser que você seja real-
mente íntimo da pessoa, não deve
haver nenhum contato com o rosto.

ALEMANHA Os alemães são cui-


dadosos, ordeiros e disciplinados.
Separam meticulosamente o lixo
para reciclagem e jamais sonharão
em avançar um sinal, mesmo que não
haja outro carro até onde a vista al- ITÁLIA Pizza. Macarrão. Antepastos.
cança. Mas a virtude mais notável dos Há restaurantes italianos nos cantos
alemães é a pontualidade. Por menos mais remotos do planeta. Mas cui-
importante que seja a razão do en- dado: jantar na capital gastronômica
contro, o alemão nunca se atrasará. do mundo não é igual a pedir uma
“Eles sairão de casa supercedo para o pizza na pizzaria da esquina. Na Itá-
caso de surgirem atrasos inesperados”, lia, a macarronada que você sempre
diz Doris Kochanek, editora-chefe de come em casa é apenas o primeiro
nossa revista alemã. prato (primo) e também se espera que
E se isso fizer com que cheguem você peça o prato principal (secondo)
cedo demais, não há com que se preo- de carne ou peixe. Quando finalmente
cupar; todos os outros já estarão lá de terminar a sobremesa, é claro que
qualquer modo. Um provérbio alemão você precisará de uma xícara de café.
explica tudo: “Fünf Minuten vor der “Mas não peça um capuccino; a partir
Zeit ist des Deutschen Pünktlichkeit” do meio-dia, os italianos só tomam
(na Alemanha, ser pontual é chegar café espresso”, diz Mario Giacchetta,
cinco minutos antes). nosso representante italiano.

07•2016 | 81
E, se chegar até lá sem incidentes, com 5 anos, treinando com a irmã
não estrague tudo pedindo contas mais velha.
detalhadas e separadas. Na Itália, a
conta é dividida igualmente por todos ESPANHA Os espanhóis adoram ba-
na mesa – finito! rulho. Motonetas matraqueantes, bu-
zinas, TVs aos berros: eles parecem
POLÔNIA Os poloneses são cava- ter uma necessidade inata de fazer
lheiros de verdade. “Eles abrem a algazarra. Portanto, nem pense em
porta para a dama, ajudam-na a tirar se queixar à recepção do hotel por-
o casaco e puxam a cadeira para ela, que os lixeiros o acordaram no meio
soltando pelo caminho todo tipo de da noite.
cumprimento encantador”, diz Mal- O melhor a fazer é, para começar,
gorzata Makowska, da equipe edito- escolher o quarto com cuidado: veja
rial da Polônia. “Os mais velhos até se fica nos fundos do hotel, no andar
cumprimentarão as damas tocando a mais alto possível. “Muitos restau-
mão delas com os lábios.” rantes e outros lugares públicos são
As mulheres polonesas gostam cheios de pessoas berrando umas
dessa atenção cavalheiresca, embora com as outras a plenos pulmões”, diz
turistas emancipadas as vejam como Natalia Alonso, editora-chefe da Rea-
galanteios. Portanto, senhoras, tentem der’s Digest na Espanha.
se lembrar de que os meninos polo- O poeta espanhol Leon Felipe
neses são criados, desde pequenos, explicou com ironia por que seus
para serem corteses e galantes com compatriotas falam tão alto: todos
as mulheres, e não tenham medo de descendem de Rodrigo de Triana, o
entrar na dança! Quando conhecer vigia de Cristóvão Colombo que avis-
um polonês, ofereça-lhe a mão reca- tou o Novo Mundo e gritou: “Terra à
tadamente. Talvez ajude se o imaginar vista!”

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Américas Aceite que, se não pode vencê-los,
BRASIL Os brasileiros gostam de se o melhor é se juntar a eles. Adie todos
apresentar imaculadamente em todas os compromissos para o dia seguinte
as ocasiões. Sempre de banho tomado como questão de princípios. No Mé-
e bem-vestidos, nunca têm um fio de xico, a pontualidade é rara, portanto
cabelo fora do lugar. Mesmo em ôni- tome o cuidado de chegar pelo menos
bus lotados e boates cheias, o aroma meia hora atrasado.
de loção pós-barba e perfume enche o
ar. Portanto, não importa se você vai a ESTADOS UNIDOS Bem-vindo à terra
um restaurante de alta classe ou ape- do papo furado sem fim. Quando al-
nas à praia – arrume-se! guém lhe perguntar “How are you?”
A Praia de Copacabana é uma pas- (“Como vai?”), você pode lhe contar
sarela de areia. Se quiser parecer da que levou quatro horas para passar
terra, jogue fora aqueles calções largos pela segurança do aeroporto, que seu
e velhos e arranje uma sunga decente. carro alugado ficou sem combustível
“Embora os biquínis reveladores sejam no meio da estrada e que você se quei-
de praxe no Brasil, é necessário usar al- mou com o sol enquanto andava até o
gum tipo de cobertura. Fazer topless e posto de gasolina mais próximo. Mas
nadar sem roupa são tabus”, diz Raquel só em poucas frases. Dê à pessoa com
Zampil, editora da edição brasileira. quem estiver falando a oportunidade
de participar da conversa ou, educa-
MÉXICO Para demonstrar que se in- damente, saia dela. “Os americanos
teressa pela rica cultura desse país, gostam de bater papo e adoram uma
aprenda algumas expressões em es- boa anedota que possam contar aos
panhol. Uma das primeiras palavras amigos”, diz Markus Ward, diretor de
que você vai ouvir será mañana – arte da revista alemã natural dos Es-
amanhã. Espere ouvi-la sempre que tados Unidos.
um mexicano precisar de um serviço Mas no elevador as regras são dife-
com urgência, como consertar o carro rentes: “Não converse com ninguém
ou chamar o encanador. Nesse caso, nem olhe ninguém no rosto”, diz ele.
não cometa o erro de supor que ama-
nhã realmente significa o dia seguinte. Austrália
“Mañana é um conceito elástico; AUSTRÁLIA Os australianos têm um
quando amanhã chegar, ‘amanhã’ será bom humor abençoado. São amistosos
o dia seguinte, e assim por diante”, diz e solícitos. Não gostam muito de cum-
Mitssue Guzmán, coordenadora edi- primentos formais e preferem um sim-
torial no México. ples “How y´re going?” (Como vai?).

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SELEÇÕES

Adoram ficar ao ar livre, e um de seus abrem o presente na hora, diante


passatempos favoritos é o churrasco. de quem o deu”, diz Raycine Chang,
“Se for convidado para um chur- editora-executiva de nossa edição de
rasco, podem lhe pedir que ‘bring a Taiwan. “Portanto, não se ofenda se
plate’, ou seja, que leve um prato”, diz o anfitrião guardar seu presente sem
Lynn Lewis, diretora editorial da Rea- abri-lo e parecer não ligar para ele.
der’s Digest na Austrália. “Isso signi- Pode ter certeza de que o abrirá assim
fica ‘levar um prato de comida’ como que você for embora.”

“Não se ofenda se seu anfitrião


chinês guardar seu presente
sem abrir.”
RAYCINE CHANG, editora-executiva da Reader’s Digest em Taiwan

contribuição para a refeição. Não leve ÍNDIA Ali, pechinchar faz parte das
simplesmente um prato vazio.” compras. Mas uma cena especial-
mente dramática acontece várias ve-
Ásia zes nas feiras. O indiano que vende a
CHINA Nesse país, quase tudo acon- mercadoria – uma echarpe de seda,
tecia na hora de comer. Você talvez por exemplo – diz um preço. O turista
ainda veja e ouça membros da gera- que quer comprar oferece a metade.
ção mais velha sugando, mascando O indiano balança a cabeça. O turista
com ruído e arrotando. Não lhes falta continua aumentando a oferta, mas
boa educação; eles estão demons- o vendedor continua balançando a
trando que gostam da comida. Isso cabeça, cada vez com mais força, até
não significa que você também deva chegarem ao preço original pedido.
fazer isso! Apreciar a boa comida é E até esse é recebido com o mesmo
bom; parecer voraz, não. Siga a eti- gesto de cabeça do vendedor. Nesse
queta chinesa correta e, sempre com momento, os dois lados estão arran-
educação, recuse a comida e a bebida cando os cabelos; o turista porque
que lhe oferecerem quando visitar acha que o vendedor se recusa a ce-
uma casa chinesa. Não se preocupe: der; o vendedor, porque na verdade
oferecerão de novo. Os presentes concordou com o preço faz tempo.
são bem-vindos. Mas há algo que Se quiser evitar um roteiro pare-
você deve saber: “Os chineses nunca cido, lembre-se de que, em alguns

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lugares da Índia, balançar a cabeça los tatames da sala com as pantufas
de um lado para outro é sinal de con- do banheiro.”
cordância. “Os viajantes não devem
confiar apenas nos gestos. É bom TAILÂNDIA Os tailandeses acreditam
aprender as palavras locais para sim e que nunca se deve perder o autocon-
não”, aconselha Sanghamitra Chakra- trole. “É tabu demonstrar qualquer
borty, editora-chefe em nossa redação sinal de raiva”, diz o renomado ilus-
de Nova Délhi. trador Ingo Fast, que se mudou para
Bangcoc com a família há mais de
JAPÃO Os japoneses têm imensa ne- cinco anos. “Você nunca verá ninguém
cessidade de que tudo esteja impe- levantando-se de um salto, gritando
cável. A limpeza e a higiene estão no nem batendo o punho na mesa.”
âmago de sua identidade nacional, e Aconteça o que acontecer, os tai-
é bom se lembrar disso quando en- landeses sempre têm um sorriso nos
trar na casa de alguém no Japão. Não lábios. Compre uma estátua do Buda,
se esqueça de tirar os sapatos e vestir estude sua expressão e treine diante do
as pantufas oferecidas pelo anfitrião. espelho. Seja resoluto na crença de que
“Na hora de ir ao banheiro, você nada poderá irritá-lo. Depois de domi-
precisa trocar as pantufas por ou- nar o sorriso permanente na praia de
tras específicas”, diz Matthias Reich, Koh Samui, ponha-o à prova nas ruas
escritor alemão casado com uma ja- movimentadas de Bangcoc. O que fazer
ponesa e que mora no Japão há dez se o seu ônibus ficar preso num engar-
anos. “E não se esqueça de calçar as rafamento enorme, o ar-condicionado
pantufas domésticas quando termi- não estiver funcionando e, quando por
nar; não seja um daqueles pobres es- fim descer, você descobrir que sua car-
trangeiros que se esquecem do que teira sumiu? Basta sorrir e dizer: “Mai
calçam e acabam perambulando pe- pen rai” (Nada preocupante).

DIFÍCIL ACREDITAR...

• Nos Estados Unidos, o quilo da pipoca no cinema


custa mais que o do filé-mignon.
• Ter R$ 270.000 em ativos põe você entre os 10% mais ricos do mundo.
• O artigo esportivo mais popular nos Estados Unidos é o
Frisbee, deixando para trás bolas de beisebol, de basquete
e de futebol juntas. FONTES: NPR e inquisitr.com

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Não é só a vitória que conta.
Às vezes, os atletas olímpicos
dão uma dramaticidade
diferente à competição.

P O R JAM ES HA DLEY

Momentos
mágicos
Uma lenda na piscina bos desclassificados por queimarem
Eric Moussambani, nadador da Guiné a largada. Isso deixou Moussambani
Equatorial, chegou à Olimpíada de sozinho para competir com o relógio,
2000, em Sydney, por uma repesca- observado por 17 mil espectadores.
gem que permitiu a participação de Ele pareceu começar bem: mergu-
atletas de países em desenvolvimento. lhou com confiança e foi bastante ve-
Oito meses antes, ele mal sabia nadar; loz nos 10 ou 15 primeiros segundos.
aprendeu nado livre sozinho e treinou Mas logo se desacelerou, seu avanço
(sem a ajuda de um treinador) na pis- dolorosa e comicamente lento. Alguns
©SI PA PRESS/REX/S HUTTERSTOC K

cina de um hotel de sua cidade natal. duvidaram até que terminasse.


Quando chegou a Sydney, Mou- Ofegante, mas ovacionado pela mul-
ssambani nunca vira uma piscina tidão, Moussambani conseguiu termi-
olímpica, e a maior distância que já nar em pouco menos de 1 minuto e
treinara era de 50 metros. Na bateria 53 segundos. Foi um recorde pessoal,
de qualificação para os 100 metros mas também foram os 100 metros mais
nado livre masculino, ele competiria demorados da história olímpica. Na
com apenas mais dois nadadores, am- verdade, o tempo de Moussambani foi

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Sydney, 2000: Eric
Moussambani, ou
Eric, a Enguia,
conquista corações.

quase sete segundos maior do que o do na bateria feminina dos 800 metros.
nadador australiano Ian Thorpe, que Quando ela atravessou a linha de che-
nadou o dobro da distância na mesma gada, a reação do público foi uma ova-
piscina no dia anterior. Mas Moussam- ção em pé de centenas de espectadores.
bani se tornou uma lenda instantânea A razão: coberta dos pés à cabeça
pela valentia e perseverança heroica e usando véu, ela acabara de se tor-
e foi apelidado de Eric, a Enguia. Se- nar a primeira mulher a competir
gundo Thorpe observou: “É disso que num evento atlético por seu país, a
©OLIVI ER MORI N/AF P/GETTYIM AGES

se faz uma Olimpíada.” Arábia Saudita. Sua determinação foi


considerada uma vitó-
Apoio às mulheres ria importante para os
Na Olimpíada de Londres, direitos da mulher na-
em 2012, a corredora Sarah quele Estado patriarcal
Attar (foto à direita) che- do Oriente Médio.
gou em último lugar, mais “É uma imensa honra
de meio minuto depois da e uma experiência ex-
competidora mais próxima, traordinária representar

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SELEÇÕES

as mulheres”, disse Sarah. “Sei que isso uma atitude de excepcional espírito es-
pode fazer uma enorme diferença.” portivo. “O que fiz qualquer um faria.
Era o que tinha de ser feito”, observou
Uma ação altruísta Lemieux depois. “Não foi diferente de
O velejador canadense Lawrence Le- ver alguém num carro no acostamento,
mieux voltou das Olimpíadas de 1988 obviamente precisando de ajuda.”
em Seul com uma medalha, mas não
a que buscava. Quando chegou a hora O poder da determinação
de sua bateria na classe Finn mascu- Como muitos atletas, o corredor britâ-
lina solo, as águas ao largo de Busan nico Derek Redmond foi atormentado
estavam revoltas, com o vento so- por lesões. Em 1988, ele deixou a Olim-
prando a 35 nós (64,8 km/h) e produ- píada de Seul com uma lesão no tendão
zindo ondas excepcionalmente altas. de Aquiles, mas quatro anos depois, na
Mesmo assim, Lemieux avançou até Olimpíada de Barcelona, competiu pela
notar um barco virado que competia medalha dos 400 metros. Na primeira
por Cingapura em outra bateria. Os bateria, obteve seu menor tempo em
dois tripulantes estavam feridos, um quatro anos. Na semifinal, começou
boiando, o outro agarrado ao com confiança. Então, com 250
casco da embarcação. “Tive metros percorridos, veio o
de tomar uma decisão, desastre. Redmond pa-
e, assim que percebi rou em agonia, com
a dinâmica do pro- um tendão rom-
blema, não havia pido. Poderia ter
o que questionar”, sido o fim de sua
explicou Lemieux Olimpíada. Mas,
mais tarde. apesar da dor,
Ele abandonou Redmond pros-
Barcelona, 1992: Derek
seu curso para sal- seguiu na prova,
Redmond, lesionado e
var os outros dois ve- ajudado pelo pai. mancando.
lejadores, que arrastou Então, outra sur-
©ANL/REX/SHUTTERSTOCK

até seu barco. Depois de os presa: na plateia estava o


entregar a um barco de resgate, pai de Redmond, que, temendo
voltou à corrida e conseguiu chegar em que o filho agravasse a lesão, correu até
22º lugar entre os 32 competidores. a pista e, driblando a segurança, aju-
A ação altruísta de Lemieux lhe va- dou Redmond, angustiado e em lágri-
leu a medalha Pierre de Coubertin, do mas, a mancar até a linha de chegada.
Comitê Olímpico Internacional, por O público aplaudiu.

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Erro de identidade
Em 1984, nas Olimpíadas de
Los Angeles, depois de se lesio-
nar no salto em distância, Ma-
deline de Jesús, de Porto Rico,
se viu diante de um dilema. Ela
também teria de competir na
equipe de seu país na corrida
de revezamento 4 × 400.
A solução de Madeline foi pe-
dir a Margaret, sua irmã gêmea
idêntica, também atleta e espec-
tadora nos Jogos, que ocupasse
seu lugar na bateria de classifi-
cação. O plano secreto deu certo,
mas, depois da corrida, Freddie
Vargas, o treinador-chefe por-
to-riquenho, descobriu o logro,
não gostou nem um pouquinho México, 1968: Tommie Smith
e tirou a equipe das finais. (ouro) e John Carlos (bronze)
passam sua mensagem.
Mensagem ao mundo
É uma imagem famosa: os corredores O gesto virou manchete no mundo
afro-americanos Tommie Smith e John inteiro e fez com que os dois fossem
Carlos, em pé no pódio dos vencedo- vilipendiados em sua terra natal, in-
res dos Jogos da Cidade do México, clusive com ameaças de morte. A
em 1968, a cabeça baixa e o punho história, no entanto, os considerou
erguido, de luva preta e fechado, en- heróis, por mandarem ao mundo uma
quanto o hino americano tocava. Seu oportuna mensagem. “Éramos ape-
protesto potente, calado e desafiador nas seres humanos que viram a ne-
contra a desigualdade racial seis meses cessidade de chamar a atenção para
©REX /SHUTTERSTOC K

depois do assassinato de Martin Luther a desigualdade em nosso país”, disse


King, líder da luta pelos direitos civis Tommie Smith depois.
dos negros, provocou a suspensão da Em 2012, John Carlos refletiu: “Eu
equipe olímpica dos EUA por violação tinha a obrigação de me pronunciar. A
do princípio de que a política não ti- moralidade era uma força muito maior
nha lugar na Olimpíada. do que as regras e regulamentos.”

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Depois de décadas de vergonha, eu
sonhava em me soltar na pista de dança
P O R LISA FIELDS

A música
em mim
H
AVIA APENAS um mês Com meu melhor sorriso de descul-
que Michael e eu estáva- pas, confessei:
mos namorando quando – Não danço muito bem.
ele me fez uma pergunta Ele não se intimidou.
que me causou muito mal-estar. – Ué, mas você gosta de dançar?
Ele não queria pescar detalhes sórdi- Parei, surpresa com a pergunta.
dos de meu divórcio. Não me sondava Lá no fundo, sempre adorei a liber-
ILUSTRAÇÃO DE CHRIS SILAS NEAL

para descobrir quanto eu ganhava. O dade que senti nas poucas ocasiões
que ele perguntou foi muito pior: em que me permiti dançar sem amar-
– Quer sair para dançar comigo um ras. Numa boate lotada. De brinca-
dia desses? deira, com minha amiga Jacki e seu
A maioria teria respondido que sim Just Dance, do Wii. Na maioria das
sem hesitar. Quem não gostaria de ir vezes em que me senti obrigada a dan-
a uma boate na cidade e se entregar çar, fiquei tensa, sem graça, com medo
à música a noite toda? Pois é, eu não, de que todo mundo estivesse olhando
porque nunca aprendi a dançar. e visse que eu fazia tudo “errado”.

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SELEÇÕES

Afinal de contas, ninguém me ensi- zona de conforto. Prometi me aceitar


nou para que lado ir nem o que fazer a ponto de dançar com ele.
com as mãos. Nas reprises do seriado Mas percebi que precisava de ajuda.
de TV The Brady Bunch, vi a filha mais Primeiro, liguei para Jacki, minha
velha receber uma aula de dança do pai amiga do Wii que, de todo mundo que
antes de um baile importante. Quando conheço, é quem dança melhor. Ela
adolescente, esperei que meu pai me achou que eu aprenderia a me diver-
desse minha aula estilo Brady, mas ele tir se dançasse frequentemente com
nunca ofereceu e eu nunca pedi. alguém que me deixasse à vontade.
Nos bailes da escola, Eu relaxava com meu
eu dançava as músicas filho e minha filha,
lentas com os meninos mesmo nos momentos
Eu dançava
a um braço de distância, mais difíceis. Portanto,
mas sempre que come-
músicas lentas dei uma festa de dança
çava uma música rápida com os meninos, improvisada e saí gi-
eu corria para a cadeira mas, quando rando pela casa com os
mais próxima. Era tí- uma música dois. Não fiquei nem um
mida, envergonhada e rápida tocava, pouco envergonhada.
não queria fazer papel Mais confiante, pedi
corria para a
de boba diante dos co- orientação a MacKen-
legas. Tinha certeza de
cadeira. zie Mushel, Professora
que me criticariam. Já Nacional de Dança do
havia acontecido. Ano de 2014 da entidade SHAPE Ame-
Nos últimos anos do ensino funda- rica. “Muita gente acha que dançar em
mental, quando me senti muito sem público é um risco imenso”, disse ela.
graça aprendendo a coreografia de “O mais difícil é superar a ansiedade
“YMCA”, o adolescente que nos en- de ‘Como fico quando danço?’. Se você
sinava me criticou na frente de todo descobrir alguns passos que a deixem
mundo. Em todos os casamentos da à vontade, eles podem ser sua base.”
família a que compareci durante o Eu e meus filhos começamos a dan-
ensino médio e a faculdade, meu pai çar regularmente, e relaxei com minha
brincava que eu herdara seus genes técnica. Em poucas semanas, me senti
(ruins) de dança. Mesmo com 30 e tan- pronta para dançar em público, mas,
tos anos, meu hoje ex-marido zombava graças ao histórico de timidez, entrei
de meus passos. em contato com um especialista.
Mas eu gostava muito de Michael, Bernardo Carducci, diretor do
tanto que me dispus a sair de minha Instituto de Pesquisa da Timidez do

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campus Sudeste da Universidade de Lá dentro, a música estava animada.
Indiana, me disse para pensar positi- Os casais giravam pela pista. Eu e Mi-
vamente, porque sempre me agarrara chael nos sentamos e nos envolvemos
às críticas dos outros à minha dança. na conversa. Uma hora depois, ainda
“Quem é muito envergonhado se con- não tínhamos nos levantado, e, com
centra nas características negativas e ousadia, eu o convidei para dançar.
prefere recordar um único comentário Segurei a mão dele e o levei até a
negativo em vez das muitas coisas cer- massa que girava, embora uma vozi-
tas que fez”, disse ele. “A verdade é que nha dentro da minha cabeça sussur-
ninguém liga para seu modo de dan- rasse: “Não é a música certa... Como é
çar; cada um só liga para si.” que vou dançar com música ao vivo?”
Carducci também insistiu para que Foi aí que percebi que o que acon-
eu não bebesse, porque quem bebe tecesse naquela noite não teria im-
para superar a timidez atribui o su- portância. Minha verdadeira dança
cesso ao álcool, e não a si mesmo. da vitória, por assim dizer, foi quando
Naquela semana, convidei minha saí com Paula. Não precisava provar a
amiga Paula, dançarina de salsa, para Michael que tinha coragem para dan-
ir à boate do bairro. Fiquei tomando çar na pista; precisava provar isso para
água tônica até o DJ tocar uma música mim, e já provara. Se tinha dançado
de que eu gostava, e fomos para a pista. numa pista cheia de desconhecidos, é
Só dez pessoas dançavam, e não ha- claro que conseguiria dançar de novo
via multidão para me camuflar. Mesmo com o homem que me amava.
assim, dancei como treinara em casa. A orquestra tocava e eu me balancei
Foi revigorante! Cheguei a levantar e dancei com Michael, que não tinha
os braços acima da cabeça, coisa que a mínima ideia do esforço que eu fi-
nunca tinha feito em público. “Você zera para chegar àquele momento.
não dança mal!”, gritou Paula acima Foi fortalecedor me mover sem pedir
da música, com cara de quem não desculpas nem sentir vergonha. Eu
entendia por que estávamos ali. me senti livre.
Isso foi bom. Mais tarde, percebi que não consigo
me lembrar de Michael quando está-

N
ÃO MUITO DEPOIS, Michael vamos dançando, o que me fez sorrir.
e eu passamos por um bar Carducci tinha razão. Fiquei tão obce-
específico e sugeri que en- cada comigo que nem prestei atenção
trássemos. (Não mencionei que havia ao homem que amo. Acho que em
anos que queria ir lá, mas sempre evi- breve terei de convidá-lo para dançar
tara por causa da pista de dança.) de novo.

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© TJETJEP RUSTAN DI/ALA MY STOCK P HOTO
Rumo

céu
ao

Nenhum desafio é alto demais para os


elevadores mais extraordinários do mundo
P O R CO R N ELIA KUM FE RT

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96 | 07•2016
SELEÇÕES

(NO ALTO) © L ASSE ANSAHARJ U/AL AMY; (AB AIXO) © MAR K WAU G H /
AL AMY; (À D IRE ITA) G E TTY IMAG E S/ LONE LY PL ANE T IMAG E S
O elevador Bailong (página anterior)
leva cerca de um minuto para trans-
portar os passageiros cerca de 330
metros rumo ao céu. Instalado no meio
de um parque nacional chinês, o “ele-
vador dos cem dragões” é o elevador
externo mais alto do mundo.
 Um passeio nas cabines de vidro
do Globe permite uma vista inesquecí-
vel de Estocolmo, a capital da Suécia.
Os dois elevadores arredondados le-
vam os passageiros pela fachada exte-
rior até o teto do maior prédio esférico
do mundo. Pouco aconselhável para
quem tem medo de altura!
 O caminho mais rápido para chegar
ao ponto mais alto de Lucerna, na
Suíça, é pegar o elevador Hammetsch-
wand. Com paredes de vidro, é o mais
alto da Europa ao ar livre, e se eleva
152,8 metros acima do solo.
 O sistema de elevadores do Hotel
Marriott Marquis, em Nova York, é
nota 10 na inteligência do projeto. Ele
conduz os hóspedes ao elevador que
os levará mais depressa ao destino.
O hotel afirma que o sistema reduz
à metade o tempo de viagem nas
futuristas cabines de vidro.
 O primeiro elevador paternoster
começou a funcionar em 1876, em Lon-
dres. Esses elevadores circulam para
cima e para baixo numa volta contínua,
como uma roda-gigante. No entanto,
com velocidade máxima de apenas
0,45 metro por segundo, são bem mais

(EM SENTIDO HORÁ RIO, A PARTI R DA ESQUERDA ) © EMM EPI I M AGES/ALAMY;


lentos do que o brinquedo dos parques
de diversões!

© GETTY I MAGES; © 2005, HAN S KEM P; © GETTY IMAGES/I STOCKP HOTO


 Talvez o elevador mais romântico
seja o que sobe entre os pilares da
Torre Eiffel. Todo dia, cerca de 20 mil
pessoas vão até o topo do colosso
de ferro de 120 anos – pouquíssimas
pela escada.
 O Radisson Blu Hotel de Berlim se
gaba de ter o maior aquário cilíndrico
do mundo. Isso já é bem impressio-
nante, mas o maior destaque é o eleva-
dor que passa pelo meio desse mundo
subaquático artificial. Uma viagem
de elevador que nunca será chata!
 O Elevador Lacerda, em Salvador,
BA, ajuda os moradores a ir do porto
à cidade velha desde 1873. O projeto
original de cordas e roldanas foi substi-
tuído em 1906 por um sistema elétrico.
Hoje, o elevador faz o trajeto de 72 me-
tros em cerca de 30 segundos.

98 | 07•2016
07•2016 | 99
A estação
do ano mais
perfeita
na Suécia

O porto de
Fjällbacka

Ele passa tão rapidamente quanto


um cometa. Nessa divertida obsessão
pelo verão, os suecos aproveitam o máximo
que podem de sol e de água do mar .
P O R P ETER JO N LIND BE RG DO TRAVEL + LEI SU RE
É UMA DAQUELAS TARDES SUECAS CINTILANTES, quando tudo
parece reluzir: as casas de barcos pulsando um vermelho vivo; a baía
brilhante, ondulada pelo vento; e as casas brancas como giz da costa
de Fjällbacka, luminosa sob o céu nórdico.
Risadas e o badalar dos sinos das embarcações ecoam da marina.
Pode-se caminhar quase um quilômetro até o mar apenas pulando de
deque em deque de escunas e iates. (No oeste da Suécia há um barco
para cada homem, mulher, criança e cachorro.) No deque do Restau-
rang Matilda, um grupo ruidoso canta músicas folclóricas suecas
enquanto bebe Aquavita e devora pratos de lagostim.

Na Suécia, o verão passa tão rá- cresci, adotei rituais semelhantes no


pido quanto um cometa, quente, Maine, onde os dias eram medidos em
luminoso e impiedosamente veloz, abluções de água salgada e lagosta no
depois desaparece por muito tempo. almoço. Mas foi meu amigo Marcus
Mesmo no auge da estação, cada ga- Samuelsson, chefe de cozinha sue-
nho abençoado – em temperatura, co-americano – que passa o verão na
luz do dia e lagostins – precisa ser antiga casa de sua família, em Smögen
valorizado ante à perda iminente. “O –, que inspirou meu retorno à origem.
verão é idolatrado pelos suecos como Em agosto passado, na companhia
se fosse uma religião”, diz o aclamado de Marcus, percorri a costa sueca de
chefe de cozinha Niklas Ekstedt, de Bohuslän com aquela alegre obses-
Estocolmo. Tudo começou nos tem- são. Acordava às cinco da manhã para
pos pré-cristãos, com o Midsummer’s andar de caiaque; passava cada hora
Day, o solstício de verão. E a tradição dourada do dia ao ar livre; e permane-
permaneceu, apesar da Igreja e da co- cia na rua até desaparecer do céu da
mercialização. meia-noite a última aura rosada de sol.
Assim, por volta da terceira semana Ao contrário da verdejante costa
de junho, os suecos iniciam sua grande leste da Suécia, a região ocidental é
migração – em direção a vastos lagos selvagem e açoitada pelo vento, mais
interiores, a rios caudalosos e, princi- granito do que verde. Com seus resorts
palmente, ao litoral – para aproveitar à beira-mar e distante apenas poucas
ao máximo o sol e a água do mar. horas de carro de Oslo, ao norte, e
Como neto de imigrantes suecos, Gotemburgo, ao sul, a região atrai um
tenho familiaridade com os rituais fluxo enorme de foliões de verão.
quase pagãos de verão. Depois que As cidades que compõem o balneá-

07•2016 | 101
Läckberg, famosa escritora de roman-
ces policiais. Seus oito livros são am-
bientados nessa cidade preguiçosa
de 900 habitantes (durante o verão a
população pula para 15 mil pessoas).
Eu já li alguns livros dela, e sua ima-
ginação pareceu ainda mais impres-
sionante quando vi Fjällbacka à luz
do dia. Sério? Este lugar, uma cidade
sinistra, cheia de mistérios? Parecia
mais uma cidade miniatura daquelas
ferrovias de brinquedo.
Quando saí na minha primeira ma-
nhã, uma fila já havia se formado do
lado de fora da Setterlinds Bageri, velha
favorita de Ingrid Bergman, que fazia
verdadeiras peregrinações em busca
do seu delicioso bolo de amêndoas
Frutos do mar e cerveja artesanal
Mandelberg e de kardemummabullar
em Everts Sjöbod. (pãezinhos doces de cardamomo).
No píer, crianças muito louras de-
rio de Bohuslän podem parecer iguais, voravam saquinhos de jujuba. Lindas
mas há diferenças – principalmente mulheres e homens impossivelmente
quanto ao pescado. Há Lysekil, no sul, bronzeados caminhavam até Vette-
e seus mexilhões com sabor nitida- berget, uma colina de rocha graní-
mente de nozes. Grebbestad, ao norte, tica, no centro da cidade, com quase
e suas celebradas ostras. E Smögen, no 80 metros de altura. Em um lado me-
meio do caminho, com seu camarão nos íngreme, sobre o cais, caminhos
cor-de-rosa, de sabor adocicado. de paralelepípedos levavam a chalés
Fjällbacka, a mais bonita dessas com telhados vermelhos e fachadas
comunidades, é conhecida por dois em estilo vitoriano, conhecidos como
ilustres moradores. Ingrid Bergman snickarglädje ou “alegria do carpin-
manteve uma casa na ilha de Dannhol- teiro”. Cada jardineira nas janelas es-
men, na costa de Fjällbacka, de 1958 tava repleta de gerânios, e a bandeira
até sua morte, em 1982. Há um busto azul e amarela da Suécia tremulava
de bronze da atriz na praça da cidade. nos telhados.
Tours a pé são dedicados a Camilla Essa estranha mistura de aspereza e

102 | 07•2016
delicadeza – de rochas marcadas pelo estamos em 1884: velas derretem de
vento e roseirais – é o que dá a Bohus- garrafas de cerveja âmbar; lampiões
län sua comovente beleza. Mas seus descansam sobre barris de madeira;
recursos mais valiosos estão escondi- cordas e redes de pesca pendem dos
dos debaixo d’água. Dessas baías frias caibros nodosos.
e cristalinas vêm alguns dos melhores Em maio passado, os irmãos acres-
frutos do mar da Europa Setentrional, centaram seis quartos com cozinhas
entre eles os cobiçados e deliciosos la- e revestidos de madeira clara. Per me
gostins. Aqui, o mar é tudo. levou até uma das menores suítes no
Se você, como eu, veio a fim de de- andar de cima, com vista para a baía.
vorar a maior quantidade possível de Depois, saímos para coletar ostras.
frutos do mar, deveria programar uma Foi mais fácil do que eu esperava.
ida até Grebbestad, onde são cultiva- Do píer da casa de barcos, Per mergu-
dos metade das lagostas da Suécia, lhou seu ancinho de pegar ostras, de
70% de seus lagostins e 90% de suas quase três metros, vasculhou o fundo
ostras. Uma dica é dirigir de Fjäll- do mar e coletou meia dúzia de ostras
planas europeias, do tamanho e da
cor de bolachas-da-praia. Logo tínha-
mos três dúzias delas. Levamos nosso
ESSA ESTRANHA balde cheio para o pequeno barco
MISTURA DE ASPEREZA de pesca dos irmãos, e, com Lars no
E DELICADEZA É O QUE leme, fomos em direção à baía.
DÁ A BOHUSLÄN SUA Depois que o barco ancorou em
BELEZA COMOVENTE. uma ilhota onde focas se esbaldavam
ao sol, Per me deu uma faca, e estáva-
mos prontos para iniciar os trabalhos.
backa até Grönemad, e passar um dia Mesmo no verão, as ostras eram gran-
e uma noite numa vila de pescadores des e muito saborosas. Ainda geladas
que parece um acampamento viking, por causa da água do mar, elas nem
no fim do mundo. Se Fjällbacka é precisaram ficar no gelo. E combinavam
uma cidade que dorme, Grönemad perfeitamente com a excelente cerveja
definitivamente está em coma. artesanal de Per.
Os irmãos navegadores Per e Lars Depois de várias goladas e mastiga-
Karlsson promovem “safáris” de os- das, eu estava inebriado. Era início da
tras e lagostas do lado de fora de noite, mas o sol ainda estava a pino.
Everts Sjöbod, sua casa de barcos de “Vamos voltar para Sjöbod?”, pergun-
130 anos de idade. Dentro dela, ainda tou Lars, sugando a última ostra. Mais

07•2016 | 103
N O RU E G A

Na manhã seguinte, parti para Smö-


gen, onde Marcus me esperava. Esse
Grönemad chefe de cozinha é um orgulhoso filho
Co sta
Grebbestad de Gotemburgo, porém muitas de suas
Fjällbacka
estimadas memórias de infância ocor-
reram 80 quilômetros ao norte, em
de Boh

Smögen Smögen, onde seu pai adotivo nasceu.


Lysekil O clã Samuelsson se reunia todo verão
numa casa vitoriana de três andares
uslän

da avó de Marcus. O jovem Marcus


aprendeu a pescar e a cozinhar seu
agerrak
Sk pescado sob o olhar cuidadoso de seu
pai e de seus tios.
Gotemburgo
Smögen – com população de 1.400
DINAMARCA pessoas durante o ano – é um dos mais
importantes e mais antigos centros de
pesca da Europa. Seu famoso leilão de
tarde, o pôr do sol coloriu tudo de cor- peixes, fundado em 1919, ainda acon-
-de-rosa. Eram 9h55 da noite, e eu me tece duas vezes por dia, mas hoje rara-
sentei no terraço para ler O cortador mente está aberto ao público. Smögen
de pedras, de Camilla Läckberg. Uma também é a sede do conglomerado de
garota de Fjällbacka apareceu afogada frutos do mar Abba, produtor do ado-
(assassinada?), seu corpo preso em rado Kalles Kaviar (em bisnaga), cuja
uma armadilha para lagostas. embalagem retrô azul e amarela é fa-
Logo depois, ouvi um grito e um miliar aos compradores da IKEA.
splash. No píer público, crianças da- Ao longo do seu porto central está
vam cambalhotas na baía cristalina. o maior calçadão da Suécia – repleto
Uma família sueca aproveitava o resti- de restaurantes, bares, lojas de suve-
nho de luz. Aquilo parecia muito bom nires e mercados de peixes. É uma das
para eu deixar passar. Vesti minha maiores atrações turísticas do país.
roupa de banho e mergulhei da doca Marcus e eu caminhamos por lá na
da casa de barcos. A água estava sur- nossa primeira tarde. Dentro, os res-
preendentemente agradável. Quando taurantes estavam vazios, mas as va-
a luz enfim desapareceu, a família randas das docas se achavam lotadas.
também se foi, e tudo ficou silencioso. “Em julho”, disse Marcus, “o calçadão
Nadei de volta e subi na ponta dos pés fica cheio em toda a sua extensão. É
as escadas até o quarto. uma loucura.”

104 | 07•2016
No sentido horário, a partir do alto,
à esquerda: Mergulhando das docas
em Smögen; casas de barcos no
principal calçadão de Smögen;
vista de Fjällbacka a partir do mar;
ALL P HOTOS: ©M IKKEL VANG/TAVERNEAGENCY

ostras e cerveja Porter servidas por


Lars Karlsson.

07•2016 | 105
SELEÇÕES

Estávamos com a prima de Marcus, ficilmente conseguimos ver sequer


Karin Samuelsson, que administra o gato do vizinho”, comentou Karin.
uma agência de aluguéis por tempo- “Aí, nesse curto período, somos todos
rada. Ela e Marcus conhecem metade amigáveis.” Ela riu. “É um pouco can-
das pessoas do local, e, à medida que sativo!”
caminhávamos, todo mundo falava Passei três dias em Smögen com
com eles. Para um visitante acostu- Marcus e sua família, e consumi me-
mado com a introspecção nórdica, tade do meu peso corporal em la-
era interessante ver suecos tão arti- gostim. No último dia, Marcus e eu
culados. Como um lagostim trocando marcamos uma viagem com Martin
de casa, eles irrompiam de suas con- Olofsson, da nona geração de pesca-
chas. “Durante nove meses, nós di- dores, a fim de pegar mais alguns.

DICAS DE VIAGEM
ONDE FICAR Gullmarsstrand Hotel, a partir de
Lysekil, atravessando o fiorde, este
Everts Sjöbod Grebbestad, gues-
moderno hotel e centro de conferên-
thouse rústica, com seis quartos, em
cias fica em uma península fora de
Grönemad. “Safáris” de crustáceos,
Fiskebacksil, quartos duplos a partir
festivais de frutos do mar, a partir de
de 183 euros: gullmarsstrand.se
75 euros: evertssjobod.se
ONDE COMER
Stora Hotellet Bryggan, hotel próximo
ao píer principal de Fjällbacka, quartos Setterlinds Bageri, Falkevägen 2A,
duplos a partir de 250 euros: storaho- Fjällbacka, melhor padaria da cidade.
telletbryggan.se Restaurang Matilda & Café Bryggan,
Hotell Smögens Hafvsbad, quartos Ingrid Bergmans Torg, Fjällbacka. Res-
contemporâneos no centro de Smö- taurante-bar-cafeteria popular com vá-
gen, duplos a partir de 182 euros: rios andares no calçadão:
smogenshafvsbad. se storahotelletbryggan.se
Smögens Rum o Stuga. Agência de Göstas Fisk, Fiskhamnsgatan 32,
aluguéis de temporada que oferece Smögen. Este restaurante simples de
quartos e chalés nas cercanias de frutos do mar é o favorito de Marcus
Smögen: info@rumostuga.se Samuelsson: gostasfisk.se
Strandflickornas Havshotell, principal Lyckans Stenugnsbageri, fabuloso
casa de quatro andares em Lysekil, de café e padaria orgânica de estrada,
caracaterística antiga, quartos duplos entre Smögen e Lysekil na estrada 171:
a partir de 195 euros: strandflickorna.se stenugnsbageri.se

106 | 07•2016
Vestindo capas impermeáveis os preços alcançaram a alta da esta-
amarelas, macacões e grossas botas ção: 18 euros cada 450 gramas.
de borracha, navegamos por alguns Mais cedo, no píer ensolarado, achei
quilômetros com Martin e sua tripu- que a capa de chuva fosse dispensável.
lação. As armadilhas para este tipo Mas agora, à medida que o céu escu-
de crustáceo lembram as de lagosta, rece, percebo o que nove gerações de
e recolhê-las do fundo do mar foi Olofssons podem ensinar a um Lind-
bem simples: Martin se aproximou berg sobre o clima no oeste da Suécia.
das boias laranja, e, com longas va- Podíamos avistar Hållö, o icô-
ras com ganchos na ponta, Marcus nico farol de Smögen, ainda sendo
e eu puxamos as linhas. Com uma sacudido por fortes ondas como se
manivela, içamos as armadilhas. A estivesse no coração do Atlântico.
maioria continha pelo menos alguns Deslizando pelo deque molhado,
lagostins, além de caranguejos ou me- adernando um contra o outro, Mar-
dusas. Trabalhando rapidamente, es- cus e eu conseguimos jogar todas as
vaziamos as armadilhas – as patas dos armadilhas de volta ao mar. Martin,
caranguejos beliscando nossos dedos enquanto isso, permanecia firme e
–, recolocamos pedaços de arenque sorridente no leme, seguro, na sua
salgado como isca e as deixamos no zona de conforto.
deque para serem usadas depois. – Jag älskar sommaren! – gritou ele,
Foi cansativo, mas emocionante. abrindo um sorriso enquanto uma
Depois de uma hora, recolhemos 63 onda gigantesca atingia o casco.
lagostins. O momento não poderia ser – Eu também amo o verão! – Marcus
melhor, disse Martin: naquela manhã, exclamou, e todos nós gargalhamos.
© 2015 POR PETER JON LINDBERG. TRAVEL+LEISURE (JUNHO DE 2015) TRAVELANDLEISURE.COM

SOBRE LER E RELER

Reler um livro produz novos insights porque o leitor é uma


pessoa diferente em momentos diferentes. De fato, um bom livro
é muito semelhante a um espelho: o vidro é o mesmo, ano após
ano, mas o que se reflete nele muda com o tempo.
CHRISTOPHER B. NELSON, presidente do St. John’s College, no Wall Street Zournal

Leio tanto na internet que tenho a sensação de estar na página


um milhão do pior livro do mundo. AZIZ ANSARI, c o median te

07•2016 | 107
LIVRO DO MÊS

Nicole gira, olhando a praia. E começa a nadar naquela


direção. Mas o tubarão-de-cabeça-chata está a
poucos metros. Então Nicole sente um esbarrão...

Ataque de
tubarão!
BY PE
POR
FROM
DO
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LIVRO
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STOORY
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SUI VAL
RV I VA L

108 | 07•2016
© HEATHER PERRY/GETTY IM AGES

07•2016 | 109
N
SELEÇÕES

ICOLE MOORE CAMINHA com a água pela cintura na


Praia de Cancún, no México. É o último dia de janeiro
de 2011. A enfermeira de 39 anos passa as férias com
um grupo de amigos que se exercitam juntos em
Orangeville, cidadezinha ao norte de Toronto, no
Canadá. Mas nesse momento está sozinha. Acabou
de jogar vôlei de praia e, enquanto os amigos voltam para almoçar
no pátio do hotel, ela vai para a água morna lavar a areia do corpo,
resultado de algumas incríveis salvadas de bola. Ela não percebe,
mas essa simples ação cria uma perturbação no mar.

Nicole ergue os olhos e avista dois Não importa; instintivamente, ele faz
jet skis cujos pilotos acenam para ela. o que seus ancestrais vêm fazendo du-
Ambos gritam em espanhol. Nicole rante séculos e acelera para examinar
acena de volta e ri, achando que estão a possível presa. O animal esbarra em
se divertindo. Nicole, que se vira. O que foi isso?!
O que ela não sabe é que os homens Ela sente um frio na barriga ao
estão gritando para que saia da água. perceber o que acabou de acontecer.
Viram dois tubarões na área e tentam Mas, antes que consiga reagir, o tuba-
avisá-la enquanto se esforçam para rão rasga sua coxa esquerda. Os den-
enxotar los tiburones em direção a tes, serrilhados como facas, dilaceram
águas profundas. a carne até o osso. O tubarão arranca
Um dos tubarões parte, mas o ou- mais de 30 centímetros de pele e mús-
tro se mostra persistente. Em vez de culo da perna de Nicole.
voltar para o mar aberto, ele segue Na mesma hora a água se incendeia
para a praia, pronto para combater os com ondas de sangue vermelho-vivo.
atacantes. A princípio, Nicole não sente dor.
Os pilotos gritam outra vez para Ni- Mas ela sabe a difícil situação em que
cole. E só então ela percebe que eles se encontra. Tubarões gostam de san-
não estão brincando. Há algo errado. gue. Ela precisa sair da água. Mas o
Ela gira na direção da praia e se tubarão destruiu sua perna esquerda.
apressa naquela direção. Mas o tu- Está imprestável. Então Nicole co-
barão-de-cabeça-chata está a poucos meça a usar os braços a fim de se
metros. É possível que tenha confun- impelir em direção à praia, esforçan-
dido Nicole com um peixe ou com o do-se para avançar na água. Mas sem
responsável pelo ataque dos jet skis. a perna esquerda o avanço é lento.

110 | 07•2016
O tubarão então circunda seu corpo, instinto, Nicole levanta o punho di-
mergulha sobre o braço esquerdo e o reito e soca com vontade o focinho do
abocanha com os maxilares preda- animal, ao mesmo tempo que puxa o
dores, aplicando uma pressão monu- braço esquerdo na direção do corpo.
mental. Nicole não acredita que aquilo Para seu alívio, a pressão da mandí-
esteja acontecendo. “Não!”, grita. bula se afrouxa. O tubarão a solta,
O tubarão está com seu braço in- submerge e se afasta.
teiro dentro da boca. Ele morde com Nicole fica se debatendo num mar
força e começa a puxá-la para debaixo de sangue, tomada pelo choque e pelo
d’água. Será o fim? Será desse jeito que trauma, e correndo o risco de perder a
minhas filhas perderão a mãe? A per- consciência. O braço esquerdo pende,
gunta cruza a mente de Nicole. quase arrancado. A perna esquerda
Ela vislumbra os olhos negros e ví- não se mexe. E a água continua fi-
treos do atacante. Penetrantes, indi- cando vermelha, o sangue que verte
ferentes. Ele olha para ela, gengivas de seu corpo se espalhando.
puxadas para trás, dentes à mostra. Ela tenta se mover na direção da
A força do tubarão é inacreditável. praia, mas está lerda. Fitando com
Mas, sem saber como, movida pelo olhos nebulosos os pilotos dos jet skis
CORTESI A DE NICOLE MOORE

Nicole, na extrema esquerda, e os amigos na praia de Cancún.

07•2016 | 111
SELEÇÕES

e lutando para manter o autocontrole, com o rosto para cima. Está coberta
reúne forças e grita: “Vocês têm de me de sangue e areia.
tirar daqui!” Todos em torno de Nicole se acham
Os homens permanecem sentados em choque, tontos. Movem-se em câ-
em suas máquinas, imóveis, atordoa- mera lenta. A própria Nicole, ainda
dos com o que ocorreu. consciente, tenta juntar forças e fazer
Ela se pergunta se a escutaram. um exame em si mesma. Apoiando-se
De repente, um deles acelera na di- na areia, levanta um pouquinho a ca-
reção de Nicole, que se debate e corre beça e os ombros para olhar a perna,
o risco de afundar sob as ondas. O depois o braço. E vê como os ferimen-
homem estende o braço e, ao mesmo tos são graves, como sua situação é
tempo, ela salta com toda a força que desesperadora.
lhe resta na perna direita. As pontas “Socorro...”, ofega ao deixar a cabeça
dos dedos se encontram. O piloto lhe cair de volta na areia. Ela só tem von-
agarra a mão direita e acelera o jet ski, tade de se entregar à exaustão. Mas
rebocando-a até a praia e deixando seu treinamento médico lhe diz para
na água uma trilha de sangue. não ceder a um sono que pode ser
seu último adeus. “Falem... comigo!”,
“FALEM COMIGO... apela com a voz fraca. “Me mante-
POR FAVOR...”

O
nham acordada, por favor...”
piloto para o jet ski na beira Tinha perdido tanto sangue que res-
da praia, pula e puxa Nicole pirar se tornou quase impossível. O
pela areia, o rosto voltado coração não consegue bombear sangue
para baixo. Em seguida ele se apruma, suficiente para os pulmões. E, se o san-
incerto sobre o que fazer, achando gue não chega aos pulmões, a troca de
que ela está quase morta. oxigênio não acontece, o que provoca
Uma multidão começa a se formar, insuficiência respiratória. Uma torrente
falando em inglês e espanhol. Final- de sangue jorra da perna, lançando no
mente alguém percebe que ela precisa ar um esguicho de uns 30 centímetros
ser virada, e várias pessoas se incli- a cada vez que o coração bate.
nam para rolar seu corpo e colocá-la A voz de Nicole parece despertar as

“Falem... comigo”, apela, ofegante. “Me mante-


nham acordada, por favor...” Ela perdeu tanto
sangue que respirar se tornou quase impossível.

112 | 07•2016
Ela tenta ficar calma, desa-
celerar a respiração e manter
o ritmo cardíaco lento, lu-
tando a cada minuto. Dá para
ver o sangue sair pulsando do
braço.
“Meu braço...”, diz, com a
voz enfraquecida. “Preciso de
um torniquete...”
Duas moças se dizem en-
fermeiras. Uma grita: “Alguém
aí tem um barbante?” Um
homem arranca o cordão da
bermuda e o entrega a uma
das enfermeiras, que faz um
torniquete no braço dilace-
rado de Nicole. Um especta-
dor sussurra: “Ela vai morrer.
Ninguém perde tanto sangue
assim e sobrevive.”
Mas as enfermeiras con-
tinuam falando com Nicole,
tentando mantê-la acordada.
O homem se concentra em sua
CORTESI A DE P ESO QUINTANA ROO, VI A S IPS E.COM

Os paramédicos prendem Nicole a uma perna, pressionando a artéria.


prancha na praia.
Para Nicole, o tempo de-
pessoas do estupor. Um espectador se sacelera. Ela pensa nas duas filhas
ajoelha e segura sua perna. Com as pequenas. Não verá mais as meninas,
mãos grandes, ele pressiona a artéria, o marido, o pai. E vê uma luz pura e
restringindo o fluxo de sangue. brilhante. Envolvente. Calmante. E se
O gerente do hotel ouve a comoção. prepara para morrer na praia, coberta
Corre até a praia e, quando vê o que de areia, suor e sangue.
aconteceu, liga para o escritório: “Pre- Então uma sirene grita. A ambulân-
ciso de uma ambulância aqui, agora!” cia. Os olhos de Nicole ficam vidrados.
Nicole olha os rostos em torno dela. Ela não consegue focalizar mais nada.
“Falem comigo...”, ofega. “Me man- Os paramédicos surgem na praia,
tenham acordada...” gritando em espanhol. Prendem Ni-

07•2016 | 113
SELEÇÕES

cole a uma prancha e depois a levam


pela areia quente e pesada. Cruzam o
saguão do hotel até a ambulância na
frente do prédio. O motorista acelera
ao máximo, e a maca de Nicole saco-
leja enquanto passam por lombadas e
curvas numa corrida contra o tempo.
A pele de Nicole está fria e úmida.
Seus órgãos vitais vão parando de fun-
cionar. Ela perde a consciência. Os pa-
ramédicos lutam para criar um acesso
intravenoso, esforçando-se para obter Os ataques de tubarões-de-cabeça-
alguma leitura da pressão arterial. -chata são raros, mas devastadores.
Chegam ao hospital. Mas, quando
é levada através das portas do pronto- Era quase a coxa inteira. Eles a pe-
-socorro, a respiração de Nicole cessa garam e a puseram num saco plás-
totalmente. tico cheio de gelo. Um dos amigos do
grupo de exercícios de Nicole a levou
A SALA DE TRAUMA

A
ao hospital.
equipe do pronto-socorro cor- Outro amigo ligou para Jay Moore,
reu contra o relógio para man- o marido de Nicole, no Canadá. Como
ter Nicole viva. Em oito horas policial, às vezes tinha de dar péssimas
de cirurgia, inseriram um cateter ve- notícias; depois do choque inicial, ele
noso central diretamente no coração entrou em ação. Alberto, pai de Nicole,
e bombearam bolsas e mais bolsas mora com o casal. Jay lhe deu a notí-
de sangue e produtos do sangue para cia, e ambos perceberam que tinham
mantê-lo funcionando. de ir imediatamente para Cancún.
Enquanto isso, depois que a ambu- Alberto embarcou no primeiro avião.
lância partiu, o gerente do hotel, em Jay ligou para os pais, que moram a
pé na praia com o chefe da segurança, três horas de distância, para que fos-
tentava entender o que tinha aconte- sem ficar com as meninas. Enquanto
© JOSE AN GEL ASTOR

cido. De repente, ele notou algo flu- isso, ele se preparou para ir a Cancún,
tuando na água. e partiu de Toronto no dia seguinte, no
– O que é aquilo? meio de uma nevasca.
– Meu Deus! – disse o chefe da se- Quando recuperou a consciên-
gurança. – É o pedaço da perna dela cia, Nicole estava num leito. Presa a
que o tubarão arrancou! um respirador mecânico, tinha um

114 | 07•2016
tubo passando pela garganta. Ela re- que achava que ela não conseguiria
cordou a sala de trauma. A tesoura. respirar sozinha.
Uma enfermeira se preparava para Nicole balançava a cabeça, tentando
cortar o biquíni caro que o pai lhe lhe dizer que não precisava do respi-
dera como presente de férias. Que es- rador mecânico. Ela sabia que conse-
quisito, pensou, estou morrendo, mas guiria respirar sem ele. “Não, não, está
me preocupo com uma coisa tão sem tudo bem”, o médico insistia. “Confie
importância quanto um biquíni. em mim, você ainda precisa dele.”
Ela estava zonza, em estresse trau- Incansável, Nicole continuou pe-
mático. Nem tinha certeza de estar dindo que o médico removesse o
viva. Teria perdido o braço? A perna? tubo. Finalmente, para seu alívio, ele
Não sabia de nada, e não havia nin- a desentubou. E ela respirou sozinha.
guém por ali para lhe dar respostas. Nicole soube que o tubarão arran-
O aparelho estava regulado para cara metade de sua coxa. O pedaço
respirar por Nicole num ritmo deter- fora levado ao hospital por seus ami-
minado pelo médico. Mas seu cérebro gos, e os médicos o tinham costurado
desperto queria assumir o controle e na perna. Mas o procedimento fora
respirar em ritmo próprio. O aparelho feito sem recuperar a corrente san-
não cedia. A impressão de Nicole é guínea, e era inevitável que o tecido
que tinha sobre a cabeça um traves- necrosasse.
seiro que a sufocava lentamente. Não Ela soube que o braço estava muito
entre em pânico, disse a si mesma. dilacerado. Os médicos achavam que
Sem ninguém por perto, ela percebeu poderia ser salvo. Mas aparentemente
que a única opção era respirar junta- nada tinham feito além de enfaixar, e,
mente com a máquina em vez de lutar no segundo dia, Nicole notou que a
contra ela. Inspire... pausa. Expire... mão estava ficando preta.
pausa. Inspire... A dor no braço continuava aumen-
Finalmente, o médico entrou no tando. Ela ainda estava com o cateter
quarto. Da melhor maneira possí- venoso central indo diretamente ao
vel, Nicole pediu com gestos que ele coração. Havia muitas toxinas cor-
tirasse o tubo. Ele sorriu e lhe disse rendo pelo corpo, decorrentes do

Ela nem tinha certeza de estar viva. Teria


perdido o braço? A perna? Não havia ninguém
por perto para responder.

07•2016 | 115
SELEÇÕES

trauma propriamente dito. Ela estava cias da Saúde, em Toronto. A médica


desidratada e sentia uma dor de ca- concordou em assumir o caso.
beça terrível. Estava pesada, letárgica, Em 5 de fevereiro de 2011, o sexto
muito cansada. Mas estava viva. dia desde o ataque do tubarão, um
Os amigos foram visitá-la no hos- avião-hospital decolou de Tampa, na
pital. Depois o pai, Alberto, chegou. Flórida, e pousou no Aeroporto Inter-
Mais tarde, quando entrou no quarto, nacional de Cancún. A ambulância
Jay teve de conter as lágrimas. Para aguardava na pista. Jay foi no avião
alegrar o momento, ele – que vinha com Nicole, que estava alerta e de
relutando aos pedidos da mulher para bom humor, chegando a brincar com
arranjar um cãozinho para as meni- a tripulação. Quatro horas e meia de-
nas – disse a Nicole: “Tudo bem, você pois, eles pousaram em Toronto.
pode ter seu cachorro!” A respeitadíssima Dra. Snell é es-
Nicole estava enfaixada com atadu- pecialista da divisão de cirurgia plás-
ras, e Jay não podia ver a extensão dos tica reconstrutora do Sunnybrook.
ferimentos. Ela o informou o melhor Com ela, estava o Dr. Andrew Fagan,
que pôde. Nisso, os médicos ordena- praticante de surfe e com interesse
ram que ela descansasse, e Jay e Al- especial no caso. “O que nos espan-
berto só puderam fazer visitas de 15 tou foram as marcas de dentes nos
minutos. O hospital cedeu a Jay um ossos”, disse.
quarto no andar de cima, e o pai ia e Eles removeram as ataduras e vi-
vinha de um hotel próximo. ram o apodrecimento e até um pouco
de água do mar e areia misturados
DIAS PERIGOSOS

J
aos curativos. O cheiro de pus e das
ay entrou em contato com a se- secreções era avassalador. O fato de
guradora e depois telefonou para o pedaço costurado na perna de Ni-
a mãe, que trabalhava para um cole não ter circulação sanguínea e
médico num hospital no norte de estar simplesmente apodrecendo era
Ontário. A mãe de Jay conversou com chocante. E a alteração da cor dos de-
seu chefe, que ligou para a Dra. Laura dos não era um bom augúrio para a
Snell, do Centro Sunnybrook de Ciên- salvação do braço. Os dedos estavam

Nicole estava pronta para avançar. Não importava


o que a Dra. Snell lhe dissesse, a resposta era
sempre: “Tudo bem, e o que faremos depois?”

116 | 07•2016
esverdeados, havia pus e mui-
tas secreções.
Na sala de cirurgia, a Dra.
Snell lavou a areia e os detri-
tos dos ferimentos. Os dois
médicos limparam a área e
removeram os tecidos mortos,
danificados e infeccionados.
Viram que não havia corrente
sanguínea no braço além do
ponto onde estava a maior
parte da lesão.
Eles ligaram para o serviço
de doenças infecciosas do
Sunnybrook, porque sabiam
que as mordidas de animais
são os piores ferimentos; a
boca do tubarão é um ninho
de culturas bacterianas. De-
pois que o organismo começa
a gerar a reação inflamató-
ria à infecção, recuperar-se
pode ser difícil. Se entrasse Jay e Nicole, vestida e pronta para encontrar as
em sepsia, Nicole talvez não duas filhas para jantar na lanchonete.
sobrevivesse.
A equipe médica removeu o pe- conversar. Nicole era extremamente
daço morto suturado na perna de positiva e disposta, ansiosa para sa-
Nicole e o substituiu por um grande ber tudo e pronta para avançar. Não
curativo. Depois a Dra. Snell soltou as importava o que a Dra. Snell lhe dis-
suturas do braço, para aliviar parte da sesse, a resposta era sempre: “Tudo
CORTESI A DE NICOLE MOORE

pressão do tecido necrosado. Foram bem, e o que faremos depois?”


necessários litros de solução salina Enquanto isso, Tia e Ella, as duas fi-
para lavar as feridas, removendo a lhas de Nicole, estavam com os pais de
areia e os detritos. Jay. Um dia eles levaram as meninas
A Dra. Snell sabia a gravidade do para visitar a mãe. “Fiquei com medo
estado de Nicole e se surpreendeu de que chorassem, não quisessem me
ao ver que ela conseguia se sentar e ver ou que fosse traumático demais

07•2016 | 117
SELEÇÕES

para elas”, recordou Nicole depois. quietante: a operação não dera certo.
“Mas tudo deu certo. Elas entraram Aquele foi um dia de derrota.
e foi ‘Mamãããããããe!’. Muitos abra-
HORA DE IR EM FRENTE

A
ços. Em menos de uma hora, estavam
aconchegadas na cama comigo.” o ser informada, Nicole per-
Em 8 de fevereiro, Nicole voltou cebeu que voltara para onde
ao centro cirúrgico pela terceira vez estava quando chegara do
depois de chegar ao Sunnybrook. Os México. O braço ainda estava aberto.
médicos tirariam tecido da perna A perna tinha uma ferida enorme, o
direita para tentar cobrir o fêmur es- osso ainda exposto. Eles não sabiam
querdo. Passaram dez horas retirando a gravidade de sua infecção. E a dor
pele, deslocando gordura e refazendo ainda era intensa.
a rede sanguínea. A equipe cirúrgica A má notícia finalmente alquebrou
ficou satisfeita com o resultado. Mas o espírito de Nicole Moore. “Fiquei ar-
sabiam que enxertos, como qual- rasada, esmagada”, recordou ela. “Eu só
quer transplante de órgãos, podem pensava: Será que tudo vai dar errado?
ser rejeitados. Em geral, a rejeição Chorei, chorei e falei que não queria
acontece nas primeiras 48 horas. As- mais receber visitas. ‘Me deixem em
sim, no terceiro dia a esperança era paz’, era o que eu dizia a todo mundo.”
grande. O quarto dia veio e se foi. O Na manhã seguinte, ela acordou
quinto também. com o coração apertado. Fez a si
Mas aí chegou o sexto dia. Eles ve- mesma a costumeira exortação e
rificavam o enxerto de tantas em tan- pensou em todas as pessoas que a
tas horas, até que uma enfermeira viu ajudavam, a incentivavam, a anima-
algo errado. Chamaram a Dra. Snell, vam. “Quando não consegui mais
que começou a remover os grampos e me aguentar, foram os outros que
a cortar, para ver se havia circulação. me ergueram”, disse mais tarde. Ela
Não havia. Nicole voltou à sala de viu as fotos na parede, as páginas dos
cirurgia. Os médicos passaram algu- cadernos de recordações das filhas,
mas horas tentando salvar o enxerto. os cartões, os anjos, as obras de arte.
Mas tiveram de enfrentar um fato in- Uma amiga levou-lhe uma enorme

Nicole voltou à sala de cirurgia, mas tiveram


de enfrentar um fato inquietante. Aquele
foi um dia de derrota.

118 | 07•2016
embalagem cheia de ba-
las em forma de tubarão, e
criou-se um ritual: todas as
visitas tinham de morder
ou atacar uma das balas.
“As pessoas me deram
todo tipo de coisa para ani-
mar meus dias e demons-
traram apoio”, recordou
Nicole. “Sua atenção e seu
carinho me comoveram
profundamente.”
Ela recorreu ao laptop e,
com uma só mão, come-
çou a escrever aos outros
para exprimir seu apreço.
Criou um blog para contar
sua história, se comunicar
com amigos e familiares e
agradecer a todos o apoio.
E assim foi se recupe-
rando, dizendo à enfer-
meira: “Hoje é um novo
Nicole com Tia e Ella, felizes de estar com a mãe,
dia. Eu me sinto um lixo,
que voltou para casa dois meses depois do ataque.
mas vamos erguer o queixo
e continuar avançando.” mais uma vez e viram que mais tecido
A Dra. Snell e o Dr. Fagan não enten- morria e apodrecia. Concluíram que a
diam por que o enxerto fora rejeitado. amputação era inevitável.
Todos os tecidos pareciam limpos e Quando foi informada da decisão,
viáveis. O osso parecia saudável. E Nicole manteve a calma. Ela já sabia
CORTESI A DE NICOLE MOORE

durante cinco dias a pele estivera boa. que houvera lesões nervosas graves.
Mesmo assim, o que ocorrera não po- Mesmo se conseguissem salvar o
dia ser revertido. Era hora de avançar, braço, ele seria praticamente um peso
ou seja, descanso para Nicole no hos- morto. E ela foi forte, na esperança de
pital seguido por cirurgias semanais e que a dor constante cessasse. “Isso
limpeza contínua do braço e da perna. aconteceu comigo”, disse. “Tenho de
Eles verificaram o braço de Nicole melhorar.”

07•2016 | 119
SELEÇÕES

Naquela noite, ela contou ao


marido, e eles discutiram como
dar a notícia às meninas. O de-
safio era contar sem traumatizá-
-las ainda mais.
Jay levou as duas filhas ao
hospital na noite seguinte. A
equipe arrumou Nicole para que
ficasse bonita e, com a ajuda de
um sistema de elevação, puse-
ram-na numa cadeira de rodas.
Quando chegaram para jantar
e viram Nicole na cadeira de
rodas, as meninas, orgulhosas,
ajudaram a levar a mãe para a
lanchonete.
Nicole explicou com delica-
deza que seu braço estava muito
mal e não podia ser consertado.
Os médicos teriam de cortá-lo.
“Eu e Jay nos preparamos”, disse
Nicole depois, “prevendo uma
choradeira.” Em vez disso, Tia Nicole na Corrida dos Guerreiros de 2015,
pareceu pensativa, enquanto uma difícil corrida de obstáculos, de 5 km.
Ella segurou a mão da mãe e
perguntou: SURPRESA EM CASA

E
– Mamãe, dói muito? m 4 de março de 2011, o braço
Nicole respondeu com a verdade: de Nicole foi amputado. A ci-
– Dói. rurgia correu bem, e ela con-
– Então tudo bem – disse Ella. – tinuou se esforçando. Com cuidado,
CORTESI A DE NICOLE MOORE

Agora, o que vamos comer? começou a andar de muletas. Logo,


Logo as meninas corriam pela lan- conseguia ir ao banheiro e tomar ba-
chonete como se fosse um imenso nho. Então passou a insistir em voltar
parquinho. para casa. Em 25 de março, recebeu
“Elas aceitaram muito bem”, conta alta do Sunnybrook. Mas, antes de
Nicole. “E é como elas têm agido sair de lá, haveria uma última etapa:
desde então.” o centro de reabilitação.

120 | 07•2016
Em seis dias, Nicole parou de tomar Em novembro de 2011, menos de um
os analgésicos. Começou a andar com ano depois do ataque, Nicole voltou à
bengala e aprendeu a subir escadas. praia de Cancún. Queria enfrentar o
Ainda tinha um buraco na perna e dor medo, além de descobrir mais sobre
no toco do braço esquerdo. Mas, final- seu tratamento médico no hospital
mente, dois meses depois do ataque mexicano. Ela também pediu maior
do tubarão, ela estava pronta. segurança na praia. Os ataques de tu-
Era 1-º de abril, o Dia da Mentira. barões são raros, mas devastadores. E
Nicole e Jay não disseram nada às me- a associação de hotéis de Cancún de-
ninas. Quando Tia e Ella voltaram da senvolveu várias recomendações para
escola, Jay lhes disse que tinha uma prevenir ataques, como guarda-vidas
surpresa para elas e mandou que a equipados com binóculo e um sistema
procurassem. Elas olharam por toda de alerta com bandeiras vermelhas.
parte, seguindo as pistas que o pai Hoje, Nicole trabalha com várias
lhes dava. Mas nada encontraram. entidades para dar apoio aos sobrevi-
– Primeiro de Abril! – gritou Jay, fi- ventes de ataques de tubarões e para
nalmente. conservar a população de tubarões do
– Puxa, pai – responderam as me- mundo, que vem se reduzindo. Ela faz
ninas, desapontadas. – Pensamos que apresentações públicas que sempre
você tinha comprado o Nintendo que a deixam a plateia inspirada. Voltou a
gente queria. trabalhar como supervisora hospita-
Então as duas seguiram juntas para lar e, desde 2012, participa da Corrida
a cozinha e a encontraram. “Não há dos Guerreiros, uma cansativa prova
palavras para descrever aquela efu- de obstáculos de cinco quilômetros
são de emoções”, conta Nicole. “Foi por pântanos e estradas de terra
um dos momentos mais preciosos de cheias de lama.
minha vida.” E diz: “Acredito que podemos esco-
Nicole enfrentou uma extenuante lher como enfrentar a vida. Podemos
rotina de reabilitação e sofreu várias vivê-la ou nos recostar e deixar que
outras cirurgias para reparar a perna. ela passe. Por mim, digo: vamos em
Ela ainda tinha dificuldade para se ves- frente!... Detesto me queixar, e, quando
tir, tomar banho e fazer o serviço do- dá vontade, me lembro de que estou
méstico. E, como muitos amputados, viva e que isso é precioso.”
sofria com a dor fantasma, o que não
lhe permitia usar a prótese de braço. Leia mais sobre Nicole em
www.sharkassault.com.

SHARK ASSAULT: AN AMAZING STORY OF SURVIVAL, DE PETER JENNINGS E NICOLE MOORE. © 2015 PETER JENNINGS E NICOLE MOORE,
PUBLICADO POR DUNDURN PRESS LIMITED.

07•2016 | 121
Piadas de caserna

“Isto não é um pedido, é uma ordem!”

“A PRÓXIMA VEZ que tiver de man- – É, as crianças crescem depressa,


dar um imbecil, vou eu mesmo.” não é? THOMAS CLEMENTS

SGTO. LOUIS CUKELA, que teria dito isso na


batalha de Belleau, na 1ª Guerra Mundial
QUANDO O SARGENTO disse ao
nosso novo comandante que sua
A MÉDIA DE IDADE dos moradores motorista não poderia participar da
de nossa comunidade de militares próxima manobra por estar grávida,
reformados é de 85 anos. Recente- o comandante, irritado, perguntou
mente, um vizinho fez 100 anos e até que ponto ela estava grávida.
houve uma grande festa de aniversá- Resposta do sargento:
rio. Até o filho dele apareceu. – Completamente, senhor.
– Quantos anos você tem? – per- DAVID RASBERRY
guntou um morador.
Sua história pode valer até R$ 400. Visite
– Oitenta e um – foi a resposta. o site selecoes.com.br ou veja os detalhes
O morador balançou a cabeça. na página 13.

122 | 07•2016 ILUSTRADO POR ANDY COWAN E DAN MCCONNELL


Enriqueça
SEU VOCABULÁRIO

As línguas africanas do grupo banto estão na origem de várias palavras da


nossa língua. Determine o significado dos termos abaixo. Respostas no verso.
P O R RICARD O SALLES

1. aça s. 2 gên. – A: preto muito


escuro; B: híbrido de preto e índio;
C: mulato alourado.
2. babaça s. 2 gên. – A: irmão ou
irmã mais nova; B: irmão ou irmã
gêmea; C: órfão ou órfã de pai e mãe.
3. cacimba s.f. – A: chuva torrencial;
B: nevoeiro úmido; C: calor escaldante.
4. caculo s.m. – A: gêmeo que nasce
primeiro; B: gêmeo que nasce de-
pois; C: filho único.
5. calango s.m. – A: tipo de lagarto;
B: tipo de cobra; C: tipo de felino.
6. caluje s.m. – A: riacho; B: palhoça; 11. ponga s.f. – A: chute; B: ato de
C: tipo de palmeira. capinar; C: ato de pegar carona.
7. catito s.m. – A: gorila montanhês; 12. quizumba s.f. – A: missa negra;
B: cobra sem veneno; C: camundongo. B: confusão; C: habitação de empre-
gados domésticos.
8. curiango s.m. – A: tipo de ave;
B: tipo de peixe; C: tipo de macaco. 13. saravá interj. – A: xingamento;
B: saudação; C: invocação de
9. impala s. 2 gên. – A: elefante sem
divindade.
as presas; B: rinoceronte sem o
chifre; C: tipo de antílope. 14. sengar vb – A: enfumaçar;
B: cozinhar; C: peneirar.
10. mucanda s.f. – A: mensagem
escrita; B: chapéu com abas largas; 15. uanga s.f. – A: feitiço; B: corrida;
C: escrava doméstica. C: banquete.

ILUSTRADO POR MARCELO BADARI 07•2016 | 123


SELEÇÕES

Respostas
1. aça – C: mulato alourado (vem 9. impala – C: tipo de antílope (veio
do quimbundo hasa, ‘esbranquiçado pelo quimbundo mpala; parece ser
[albino]’). na origem uma palavra importada do
2. babaça – B: irmão ou irmã gêmea zulu, igualmente língua banta, com
(do quimbundo babasa, ‘gêmeos’, presença em vários idiomas africanos
plural de kabasa, ‘gêmeo’). da família, em geral através do inglês).

3. cacimba – B: nevoeiro úmido 10. mucanda – A: mensagem escrita


(parece vir do quimbundo kixibu, (do quimbundo mukanda, ‘carta’;
‘inverno’; para Nei Lopes, kixibu teria parece que, de início, era uma espécie
dado cacimbo, em português, forma de letra de câmbio, como se fosse di-
mais própria; há, ainda, cacimba, nheiro; a opção C é mucama [<quim-
tipo de cisterna, que vem do quim- bundo mukama, ‘escrava amante’]).
bundo kixima, ‘poço’). 11. ponga – C: ato de pegar carona
4. caculo – A: gêmeo que nasce pri- (segundo Nei Lopes, do quimbundo
meiro (vem do quimbundo kakulu, pro- bonga, ‘apanhar, pegar’).
priamente o mais antigo, o anterior). 12. quizumba – B: confusão (do
5. calango – A: tipo de lagarto (o étimo quimbundo kizomba, ‘festa’).
é o quimbundo kalanga, ‘lagarto’). 13. saravá – B: saudação (alteração
6. caluje – B: palhoça (para Nei Lo- fonética da saudação portuguesa
pes, vem do quimbundo kanzo-kaloji, ‘salve!’ produzida por falantes de
propriamente o casebre [palhoça] língua banta; para Nei Lopes, bantui-
onde vivia o feiticeiro). zação de ‘salvar: saudar’; nessa linha
o rotacismo l>r [salvar > *salavá >
7. catito – C: camundongo (para Nei saravá] estaria coerente com a ten-
Lopes, do quimbundo kaxito, ‘bichi- dência fonética de falares bantos).
nho, cria’; anote-se a existência de
okatito, com significado genérico de 14. sengar – C: peneirar (do quim-
‘pequeno’, em umbundo, uma das lín- bundo senga, ‘repudiar [separar]’).
guas bantas mais faladas em Angola). 15. uanga – A: feitiço (do quim-
8. curiango – A: tipo de ave (o bacu- bundo uanga, idem).
rau, ave noturna; segundo alguns,
viria do quimbundo kudianga, ‘pre-
ceder : precedente’ porque esse pás-  Para testar seu vocabulário numa
versão interativa em seu tablet, baixe o
saro costuma voar à frente de aplicativo Perfil Seleções na Apple Store
caminhantes noturnos). ou no Goggle Play e acesse a revista digital.

SOME OS PONTOS E CONHEÇA SEU NÍVEL: 4–9: bom 10–12: excelente 13–15: excepcional

124 | 07•2016
Desafio Seleções
Responda a estas perguntas e revele seu gênio interior.

1. A quem é falsamente atribuída a 8. Em que parte da Bíblia é dito


frase “O Brasil não era um país sério”? que “Deus ajuda os que ajudam a
si mesmos”?
2. Quais são os 4 membros do atual
Clube dos 13 que jamais conquista- 9. “Anverso ou reverso?” seria uma
ram um título brasileiro de futebol? forma tecnicamente correta de qual
pergunta?
3. Qual é o único país que produziu
armas nucleares e depois, volunta- 10. Que serviço peculiar o
riamente, as desativou? McDonald’s oferece em Hong Kong?
4. Antes de concordar em fazer 11. Qual guerra civil brasileira do
Rocky II, o produtor Irwin Winkler século 20, de fortes componentes reli-
forçou seu estúdio a apoiar qual gioso e monarquista, foi palco das pri-
outro filme sobre boxe? meiras operações aéreas brasileiras?
5. Que cidade, sede dos Jogos 12. As abelhas dormem?
Olímpicos de 1980, recusou-se
13. Qual série policial do canal
a hospedar os Jogos Paralím-
FOX foi divulgada com ence-
picos daquele ano?
nações de prisões em massa
6. Quantos países da e ações policiais em locais
Terra têm uma superfície movimentados?
mais extensa que a de
14. O que é ablutomania?
Plutão?
© S HUTTERSTOCK

7. Que estrela de Holly- 15. Que idioma do sudeste


wood teve pele verde em asiático tem um “vocabulário
Guardiões da Galáxia e real” usado apenas para falar
pele azul em Avatar? com ou sobre a monarquia?

Obsessão por limpeza das mãos. 15. O tailandês.


ou coroa?”. 10. Casamentos. 11. A Guerra do Contestado. 12. Sim. 13. 9mm: São Paulo. 14.
Sul. 4. Touro Indomável. 5. Moscou. 6. Um, a Rússia. 7. Zoe Saldana. 8. Nenhuma. 9. “Cara
do Brasil na França de 1956 a 1964. 2. Goiás, Juventude, Portuguesa e Vitória. 3. África do
RESPOSTAS: 1. Charles de Gaulle. A frase é de Carlos Alves de Souza Filho, embaixador

07•2016 | 125
Rir
É O MELHOR REMÉDIO

“É tão calmante...”

CINCO ENDEREÇOS de e-mail que UM POLICIAL entra na radiopatrulha


seria difícil ditar... e faz contato com a central.
■■ MikeSublinha2004@yahoo.com – Tenho um caso interessante aqui
■■ MikeArrobaYahooPontoCom@hot- – diz ele. – A mulher matou o marido
mail.com a tiros por pisar no chão que ela
■■ Mike–WardTudoJunto@yahoo.com acabou de lavar.
■■AAAAAASeisASeguidos@yahoo.com – Você a prendeu? – pergunta o
■■ 1UmOPrimeiroSoNumeroOSegun- delegado.
doPorExtenso@hotmail.com – Não, ainda não. O chão ainda
MICHAEL WARD está molhado. ROSE MATTIX

126 | 07•2016 ILUSTRADO POR MARK ANDERSON


TALVEZ SEJA o vinho falando, mas NÃO, NÃO estou andando com
eu amo muito, muito, muito o vinho. perna de pau. Essa é a primeira vez
@ROBINMCCAULEY que saio de pernas nuas depois do
inverno. @SASSYCURMUDGEON

MINHA MÃE me ensinou...


■■ Lógica: “Se você cair desse ESTOU empolgadíssima com uma
balanço e quebrar o pescoço, não amiga grávida. Não pelo bebê, mas
vai à loja comigo.” porque ela é minha amiga mais
■■ Humor: “Se o cortador de grama magra. @MICHELLEISAWOLF
cortar os dedos de seu pé, não venha
correndo atrás de mim.” ♥
■■ Justiça: “Quando você tiver filhos,
tomara que sejam iguais a você. Aí
ERA UMA NOITE ESCURA
você vai ver o que é bom!”
E TEMPESTUOSA!
Fonte: thestir.cafemom.com

Se gosta de literatura ruim, você


TRÊS PEDREIROS entram de teve sorte: aqui estão dois
férias e vão à praia pela primeira vez. começos ruins de propósito
– Quanta água! – o primeiro diz. para romances inexistentes.
– Quanta areia! – o segundo Enquanto ele acariciava seu ca-
exclama. belo, rosto, testa, queixo, clavícu-
Então o terceiro completa: las, ombros, braço e barriga, ela
– Vamos embora antes que alguém viu que acertara ao aceitar como
amante o Homem-Polvo. L. C.
traga o cimento!!
Se Vicky Walters soubesse que,
JOÃO JOSÉ C. LEAL, Fo r t a l e z a (CE)
naquela quarta-feira, seu pedido
de mais um espresso com uma
DEPOIS DE OUVIR um sermão com dose grande de xarope de gro-
o Salmo 52:3-4 (sobre mentiras), um selha sem açúcar nem gordura,
homem escreveu à Receita Federal: duas doses de xarope de bauni-
lha e creme de leite de soja pro-
“Não consigo dormir porque menti
vocaria sua morte e posterior
no imposto de renda. Mando um renascimento como vampira,
cheque de 150 dólares. Se continuar talvez ela pedisse no mínimo
sem dormir, mando o restante.” uma dose de chantili. M. C.
Do Concurso de Ficção Bulwer-Lytton

P: Que tipo de exercício fazem os


Sua história pode valer até R$ 400. Visite
preguiçosos? o site selecoes.com.br ou veja os detalhes
R: Deitar na esteira. VALERIE LUNT na página 13.

07•2015 | 127
128 | 07•2016
Sorriso final

ILUSTRAÇ ÃO DE MIROSLAV BARTÁ K

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