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SER C O N VIVER TRA NSFO RMAR

Cuide da sua ansiedade


Quando acolhemos nossa agitação interior em um mundo de tantas cobranças,
percorremos caminhos mais amorosos para resgatar a calma no dia a dia

Amizade para durar É melhor ser alegre O planeta tem chance


Dá para superar as Cultivar momentos assim A esperança ativa pode
turbulências dessa relação traz leveza à rotina mudar o rumo da Terra
GABRIEL SÁ
natural de São Luís,
Maranhão, e residente
em São Paulo, enriquece
sua expressão artística
com uma mistura de
influências: doodle art,
graffiti, xilogravura e arte
vernacular. @gabrielsa.art
DEDICO A | PERTENCE A:

@VIDASIMPLES
28

38 44
SER • CONVIVER • TRANSFORMAR • FEVEREIRO 2024 NÚMERO 264

NESTA EDIÇÃO

20 C A PA
Cuide da sua ansiedade

28 H O R I ZO N T E S
É festa no mar

34 S U ST E N TA B I L I D A D E
O planeta ainda tem chance

38 R E L A Ç Õ E S
Elos que se refazem

44 E X P E R I Ê N C I A
Muito além do esquecimento

48 C O M P O RTA M E N TO
Licença para a alegria

TODO MÊS

06 C A RTA A O L E I TO R
20 07 M E N S A G E N S
08 C A L E I D O S C Ó P I O
13 L I V R OT E R A P I A
58 E N T R E N Ó S
59 P O E S I A PA R A O D I A A D I A

COLUNAS

54 CLARO INSTANTE 56 EGOTRIP


Kaká Werá Rossandro Klinjey

55 AFETOS 57 VOZ FUTURA


Ana Holanda Danilo Luiz

48
CARTA A O LEITOR

Essa voz aqui dentro


(desde 2002)

eu acho �ue ainda era criança quando me dei conta


de uma habilidade humana que me pareceu incrível: a
de estar em dois lugares ao mesmo tempo. Quer dizer,
PUBLISHER | CEO
não exatamente ao mesmo tempo, mas no mesmo es-
Luciana Pianaro
paço, porque o corpo estava no presente e a mente, no
futuro. Veja, eu posso estar aqui e, enquanto isso, pen-
sar no que vai acontecer um outro dia (muito prazer,
DIRETORA DE CONTEÚDO Débora Zanelato
piloto automático)! Talvez isso não tenha sido nada
EDITORA Raphaela de Campos Mello
demais até ter idade suficiente para pensar em proble-
EDITORA DE ARTE Verônica Nunes
mas – ainda que imaginários – e, então, vivenciar o que EDITORA ONLINE Carolina Vellei
depois entendi ser não exatamente a minha voz, mas ESTAGIÁRIAS Lóren Souza e Mariana Chagas
a dela, da ansiedade. Essa voz que às vezes fala bem REVISÃO Alexandre Carvalho
baixinho, mas que em outros momentos grita e espan-
ta toda a minha presença no agora. Tem horas que ela
parece até se multiplicar, tamanha a quantidade de PRODUTOS B2C Joyce Oliveira
pensamentos que me fazem viajar entre passado, pre- CIRCULAÇÃO E CLIENTES Katia Freitas
sente e futuro. Quem tem, sabe como é. E sei que não DADOS Samara Toralbo
estou sozinha – cada vez mais pessoas estão vivencian-
do uma ansiedade patológica. Por isso, em vez de silen-
ciar essas vozes, tenho parado por um momento para IMPRESSÃO E ACABAMENTO
escutá-las. O que essa ansiedade me conta sobre meus Oceano Indústria Gráfica e Editora

medos? Sobre o que eu estou tentando corresponder?


O que eu tanto desejo controlar? Qual parte minha ain-
+ VIDA SIMPLES
da precisa de mais afeto e confiança para não se deixar
www.vidasimples.co
levar por tantas pressões e demandas externas? Neste
mês, queremos que você possa lançar um olhar amoro-
so sobre si, abraçando essa ansiedade que se agiganta
no peito. Que possa acolher os sentimentos desafiado-
res como mensagens importantes sobre como ter mais
paz. Nem sempre é fácil, então vamos aos pouquinhos. VIDA SIMPLES ISBN 978-65-85440-08-0, ano 22, edição 264 é
Por aqui, muitas preocupações insistem em me tirar do uma publicação mensal da Vida Simples Participações Ltda (CNPJ:
30.487.265/0001-27), Av. Brigadeiro Faria Lima, 3729, 5º andar, Itaim
agora. Mas, quando essa voz se apazigua, eu ganho um Bibi, São Paulo – SP. CEP: 04538-905 • Matrícula no. 151, Livro B, do 3o
presente. O presente. Único lugar onde podemos expe- Cartório de Títulos e Documentos/SP • www.vidasimples.co

rimentar a vida e quem a gente realmente é.

Destine para
FOTO DANIELA PICORAL

a reciclagem
o plástico que
envolve sua edição.
Débora Zanelato,
Diretora de conteúdo Vida Simples ® é uma marca registrada que pertence
@deborazanelato à Vida Simples Participações Ltda.

6
M E NS A GENS

Cuidar bem de si mesmo Espero que sigam caminhando, se


Adorei a revista! Ótimas reporta- assim for possível e fizer sentido
gens. Parabéns à Vida Simples. para cada um de vocês. Saibam que
- Denise Carla Bock para mim fez sentido comprar e ler a
revista. Valeu a pena o investimento.
Incentivo para irmos em frente Não me arrependi.
Sou jornalista e leitora da revista - Marina de Mello Fontanelli
desde adolescente. Gostaria de te-
cer alguns comentários, pois acho Ops, erramos
que bons trabalhos merecem ser Diferentemente do que foi publicado
reconhecidos. Afinal, todos precisa- no Caleidoscópio da edição de de-
mos de um reforço para seguir ins- zembro, os nomes corretos dos cria- ➥ Aponte a câmera do seu
pirados. Que bonito vocês manterem dores do canal Histórias de Ter.a.pia celular para o QR Code
esse projeto, apesar dos ventos so- são Lucas Galdino e Alexandre Simo- acima e participe do
prarem forte para outras direções. ne. Pedimos desculpas pela falha. nosso blog Você + Simples.

fale com a gente

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com nome completo, profissão e cidade acesse nosso site: www.vidasimples.co

7
8
C

[1]
A
L
E
I
D
O
S
C
Ó
P
I
O

FOTOS 1. "AFETOCOLAGENS", DE SILVANA MENDES/COLEÇÃO DA ARTISTA; 2. "SEBASTIANA", DE VICTOR FIDELIS/COLEÇÃO KENNI KOOL; 3. "OS PARDOS TAMBÉM AMAM", DE PATY WOLFF/COLEÇÃO DA ARTISTA
PRESENÇA
NEGRA
Artistas afro-brasileiros do
século 19 até os dias de hoje
são consagrados em projeto de
mapeamento e exposição

“ser artista já acho difícil. Ser


artista negro no Brasil é ain-
da um pouco mais complicado.” Há
quase uma década, esta afirmação,
[2]
dita em 2016 pelo artista Sidney
Amaral para o projeto AfroTrans-
cendence, acompanha o pensamen-
to inquieto do jornalista e curador
Deri Andrade. Naquele mesmo ano,
movido pelo desejo de se dedicar
à história da arte afro-brasileira –
mas frustrado por não encontrar
muitas referências –, começou seu
minucioso trabalho de pesquisa e
catalogação de obras que, por vezes,
foram marginalizadas pela socieda-
de. O resultado chegou quatro anos
depois, com o lançamento do Proje-
to Afro, uma plataforma de mapea-
mento e difusão de artistas negros
da cultura afro-brasileira que, hoje,
[3]
já soma mais de 300 nomes de di-
ferentes épocas e regiões do país. A
"Mostra elenca nomes fundamentais para se (re)pensar os emaranhados de um fim de exaltar a pluralidade e a im-
sistema que é desigual", descreve o curador, incluindo artistas contemporâneos portância desse legado, o pesquisa-
dor criou a exposição Encruzilhadas
da Arte Afro-Brasileira, em cartaz no
Centro Cultural Banco do Brasil em
São Paulo (CCBB). “A história da ar-
te do país apaga a presença negra e
o artista negro do seu referencial”,
diz Deri, que traz um novo olhar aos
visitantes da mostra. E também às
próximas gerações e narrativas. - IDR

PROJETO AFRO
projetoafro.com

9
CAL EI DOSCÓPIO

FUTURO
VERDE
Reflorestar uma das áreas
mais devastadas e ameaçadas
da Mata Atlântica é a missão
da ONG Iracambi

uma lenda indígena conta que


todos os animais de uma flo-
resta em chamas correm para um
lugar seguro. Todos, exceto o bei-
ja-flor, que voa em direção ao fo-
go carregando uma gota de água
no bico. “Passarinho bobo, você
não vê que nunca conseguirá apa-
gar o fogo sozinho?”, perguntou a
águia a ele, que respondeu: “Vo-
cê está certa, mas estou fazendo a
minha parte”. A mensagem inspi-
rou a logomarca da Iracambi: o de-
senho de um beija-flor e uma go-
ta d’água. “Aqui, fazemos a nossa
parte desde 1999”, contam os fun-
dadores Binka e Robin Le Breton,
que concentram seus esforços em
torno da Serra do Brigadeiro, na
Mata Atlântica de Minas Gerais,
um dos ecossistemas mais ame-
açados do mundo, sobretudo pe-
lo interesse das mineradoras nes-
sa região rica em bauxita. “A pre-
servação da área é fundamental
para a conservação do bioma”, ex-
plica Juliana Ferreira, membro
da equipe. Para isso, a ONG reali-
za programas sociais, ambientais,
de educação, trabalho e volunta-
riado. Já foram plantadas mais
de 250 mil árvores: um quarto da
meta até 2030, estipulada para
FOTOS DIVULGAÇÃO

restaurar a floresta perdida. - IDR

IRACAMBI Cerca de 3 mil jovens ecolíderes já foram formados pela ONG, que atua em escolas
iracambi.com locais. Há também oficinas de terapias holísticas para mulheres rurais da região

10
UM SOM
NATURAL
Na praia do Estaleiro, em
Ubatuba, Roger Marza integra
suas improvisações à melodia
das ondas e natureza ao redor

o saxofonista Roger Marza é


também jornalista. E foi a par-
tir de uma reportagem sobre o es-
tudo científico de paisagens sono-
ras que ele criou uma série de mú-
sicas. "Descobri a riqueza de sons
que há nessas pesquisas", conta
ele, que passou a receber sons de
baleias e golfinhos gravados pelos
pesquisadores e a captar, ele pró-
prio, a melodia das ondas do mar,
de pássaros e cigarras. "Comecei
a brincar com o sax buscando um
diálogo com os animais." Nesse
mês, o artista lança o álbum Esta-
leiro, produzido no litoral paulis-
ta, onde também se apresenta em
eventos de ioga e meditação. - IDR

ROGER MARZA [1]


rogermarza.com

ECONOMIA CIRCULAR
O novo espaço interativo do Museu Catavento oferece uma experiên-
cia sobre a reciclagem e a economia circular do plástico. “A atividade
desperta em crianças e adolescentes uma nova percepção dessa matéria-
FOTOS 1. FLÁVIA GOMES; 2. DIVULGAÇÃO

-prima”, diz Mariana Cardoso, do Movimento Plástico Transforma. Além


de conhecer a história do plástico e as diferenças entre economia circu-
lar e linear, o visitante acompanha, por meio de uma projeção em maque-
te 3D, o caminho percorrido por um produto, desde a criação até o retor-
no à fábrica para ser transformado em um novo produto reciclado. - IDR

[2]
MUSEU CATAVENTO
museucatavento.org.br

11
CAL EI DOSCÓPIO

POR QUE ESTUDAR A PAZ?


Um curso de pós-graduação EAD ensina o aluno a criar habilidades para
lidar com conflitos de forma não violenta e se tornar um Agente de Paz

para responder à pergunta aci- construção da paz seria a capacida- co. “Essas qualidades são desenvol-
ma, Cerys Tramontini, fundado- de de imaginar e gerar respostas e vidas no Agente de Paz. Ao treiná-
ra do Instituto Paz & Mente, cita um iniciativas construtivas que, ao mes- -las dentro de si, ele se transforma.
pensamento do professor John Paul mo tempo em que são enraizadas Muda o hábito, a atitude e a manei-
Lederach, especialista em resolução nos desafios diários da violência, ra de se relacionar”, diz Cerys, e con-
de conflitos e mediação. Ele diz que transcendem e, em última análise, clui: “com a mente saudável, ele per-
o caminho para a violência é conhe- quebram os grilhões dos ciclos de cebe que tudo acontece em rede e
cido, porém, para a paz, é um misté- padrões destrutivos”, descreve ele, que, portanto, sua transformação
rio, e isso possibilita que as pesso- que estrutura sua ideia em quatro será levada para o mundo."- IDR
as recorram às potencialidades da disciplinas, base do programa Paz
imaginação moral, fazendo nascer & Mente: relacionamentos, curiosi- INSTITUTO PAZ & MENTE
algo (ou caminho) que não existe. “A dade paradoxal, criatividade e ris- pazemente.com.br

FOTOS DIVULGAÇÃO

Com início em março, o curso "Transformação de Conflitos e Estudos de Paz com ênfase no equilíbrio emocional", que passou a
ser online, compreende 13 módulos e um corpo docente formado por facilitadores nacionais e internacionais

12
HOMENS
E CROCHÊ
Filme mostra o processo
criativo da primeira coleção
de roupas desenvolvida numa
penitenciária masculina

fazer crochê ainda pode


ser tabu para alguns ho-
mens. E era para a maioria
dos alunos de Gustavo Silvestre no
início de seu curso na Penitenciária
Adriano Marrey, em São Paulo. Por
nove meses, eles aprenderam e cro-
chetaram a primeira coleção do pro-
jeto social do estilista, tema do do-
cumentário O Ponto Firme, de Laura
Artigas, com programação nas redes
sociais. O filme escancara uma face-
ta do país que poucos se atrevem
a encarar de maneira propositiva.
"O cárcere é a realidade de mais de
700 mil pessoas, das quais poucas
têm acesso a programas de trabalho
e educação", frisa Laura. - IDR

O PONTO FIRME [1]

@opontofirmedocumentario

DELICADEZA NA ROTINA
apaixonada por podcasts, a escritora e jornalista Ana Holan-
da – que já esteve à frente das páginas de Vida Simples – foi to-
mada pela vontade de ter seu próprio projeto de conversas ins-
FOTOS 1. KARLA COSTA; 2. CAROLINA PIRES

piradoras. Assim, nasceu o podcast Levo na Bolsa, disponível nas princi-


pais plataformas, com episódios novos a cada semana. "São conversas,
preferencialmente com mulheres, sobre os aprendizados do dia a dia e
como a rotina atravessa nossa escrita e alimenta a criatividade", con-
ta ela, nos convidando a olhar para a beleza dos pequenos gestos. - IDR

[2]
LEVO NA BOLSA
@anaholandaoficial

13
CAL EI DOSCÓPIO

GALERIA
INDÍGENA
Uma pequena loja no centro
de Paraty se tornou um dos
principais acervos de arte dos
povos originários do país

nina taterka cresceu em Para-


ty, no Rio de Janeiro, e trabalhou
por anos como artesã, um ofício que
faz diferença em sua vida como lo-
jista, curadora e, agora, proprietária
da Galeria Canoa, a primeira exclusi-
va de arte indígena do Brasil. Locali-
zada no centro histórico da cidade,
num casarão do século 17, o novo
espaço une peças tradicionais à pro-
dução contemporânea de artistas.
“É a representação da responsabili-
dade da marca em respeitar os mo-
dos de vida dos povos originários
por meio de relações sólidas e hu-
manas, que geram conexões, renda
e dão suporte na permanência deles
em seus territórios”, diz. - IDR

[1]
GALERIA CANOA
@canoaarteindigena

INCLUSÃO E EMPATIA DE VERDADE


a chegada de Chico, uma criança com síndrome de Down, transfor-
mou o mundo de seus pais que, por sua vez, passaram a se mobilizar.
“Pessoas com deficiência podem fazer tudo o que quiserem, dentro de
FOTOS 1. ANA ANDRADE; 2. DIVULGAÇÃO

seus próprios tempos e limites. Podem estudar, trabalhar, serem produ-


tivas e participar da construção de uma sociedade para todos”, explica a
mãe, Thaissa Alvarenga, que fundou a ONG Nosso Olhar, com uma série
de atividades de aceitação e acolhimento. “A sociedade precisa ter aces-
so à informação para que ocorra a verdadeira inclusão.” - IDR

[2]
NOSSO OLHAR
nossoolhar.org

14
O FANTÁSTICO MUNDO DO FLO
Quando duas mentes curiosas e fascinadas pelas flores se juntam,
podem criar arranjos dignos de sonho. É o que acontece neste ateliê

a inspiração surgiu numa via- cionais, nos deixou sonhando com ly, que retrata um romance. “Abri-
gem romântica a Paris. Em aquele momento”, lembra Carol. Na mos nossa primeira loja em 2015 e,
2012, quando Carol Nóbrega e Anto- época, moravam em apartamento e, desde então, temos colocado mui-
nio Jotta conheceram as floricultu- por isso, somaram a habilidade em tas ideias em prática.” De terrários
ras do Marais, um dos bairros mais lidar com plantas à vontade de le- a grandes projetos florais e arran-
elegantes da cidade francesa, imagi- var pequenos jardins para dentro jos especiais, a dupla vive em cons-
naram como seria montar um ateliê do lar, de forma prática, sem muitas tante movimento, incluindo progra-
botânico diferente, sem reprodução regas ou podas. A primeira semente mas de mentoria e até uma loja em
em massa e com a criatividade exal- foi plantada em 2013, com um ter- Nova York. Um sonho sem fim. - IDR
tada, em São Paulo. “A estética úni- rário feito pelas mãos do Jotta. Carol
ca, lúdica e com um quê de mistério, logo criou a marca FLO, cujo acrô- FLO ATELIER BOTÂNICO
tão distante das floriculturas tradi- nimo vem do filme For Lovers On- floatelierbotanico.com
FOTOS DIVULGAÇÃO

No ateliê, os floristas criaram uma espécie de laboratório, onde testam novidades e desenvolvem peças únicas. “Amamos a ideia
de fugir da repetição e, para alimentar essa paixão, preferimos não padronizar nossos produtos”

15
CAL EI DOSCÓPIO

MARKETING
DO BEM
Agência cria ações e narrativas
para marcas, projetos e pessoas
que buscam melhorar a vida dos
consumidores e comunidades

a conexão pelo coração é o


ponto de partida e de chegada
dos trabalhos realizados na The [1]

Good Hub, empresa de marketing


e comunicação que as sócias, Giu-
liana Sesso e Bruna Gama, gos-
tam de descrever como uma bou-
tique de ideias positivas para bo-
as marcas, bons projetos e boas
pessoas. “Fazemos imersões pro-
fundas no universo da marca e de
seus consumidores, e entende-
mos onde está o ponto de conver-
gência entre ambos, em que lugar
os corações batem juntos”, expli-
ca Giuliana, contando como pro-
movem bem-estar e saúde, auto-
estima e segurança, informação e
entretenimento, seja fazendo res-
gate de histórias, apoiando causas
sociais ou criando novas narrati-
vas. “Acreditamos que as marcas
(ou personas) têm a responsabili-
dade de pegar na mão dos consu-
midores e levá-los por um cami-
nho construtivo. De alguma forma,
elas refletem seu estilo de vida, os
fazem se sentir bem, trazem co-
nhecimento ou apoiam bandeiras
que os representam”, diz, sem dei-
FOTOS 1. DIVULGAÇÃO; 2. ALÊ VIRGÍLIO

xar de lado a consciência de quem


usufrui. “Cada compra é uma es-
colha, um voto.” E que ela seja se-
[2]
mente para um mundo melhor. - IDR

THE GOOD HUB Entre as atividades do projeto Sementes da Transformação, que Giuliana e Bruna
@the_good_hub fizeram para o @capimsantotrancoso, está a imersão no gelo guiada por Andre Sanches

16
L I V R OTE R API A

RESPIRO LITERÁRIO
Livros de ficção e não ficção escolhidos sob medida para quem
está tentando compreender e lidar melhor com a ansiedade

sou uma pessoa ansiosa por natureza. Tive de me confrontar com a mi-
nha ansiedade e estudei o tema para tentar entender como manejar CAROL SANDLER
aqueles momentos em que o coração acelera, o tempo parece passar mais Jornalista e escritora. Autora
rápido e a cabeça é dominada pela sensação de catástrofe iminente. Apren- da newsletter literária Vou te falar.
@voutefalar_news
di que um pouco de ansiedade faz parte do jogo – e, aos poucos, a me irma-
nar com ela. Estes foram os livros que mais me ajudaram nesse processo.

A VOZ NA SUA CABEÇA


Descobri na prática que uma
parte imensa da ansiedade tem
a ver com a ruminação cons-
tante à qual nos sujeitamos. Se-
rá que eu tranquei a porta de ca-
sa? Será que estou fazendo um
papelão aqui na frente de to-
do mundo? Esse diálogo inter-
no nos atormenta e é a base da
inquietação exacerbada. Kross,
que é neurocientista e psicólo-
go, explora neste livro a nature-
za da ruminação, nos ensina a
CALMA lidar melhor com ela e a usar es- A REDOMA DE VIDRO
De onde vem a sua ansiedade? sa conversa mental para o bem. Esther Greenwood é talvez a
Como ela surge? Você enten- personagem mais ansiosa e
de as raízes dela? O que fazer ETHAN KROSS deprimida da literatura. Ela é
quando ela emerge com tudo? Sextante uma jovem que vai morar em
Esta obra faz uma investigação Nova York para fazer um está-
detalhada sobre a ansiedade e gio em uma prestigiosa revista
ensina maneiras de manter a de moda. Quem sofre de ansie-
calma. Aprendi com ela que a dade vai se ver nas páginas do
serenidade é como um mús- livro e, de quebra, mergulhar
culo que pode ser exercitado em um dos mais importantes
e que posso sempre reagir de romances americanos do sé-
um modo mais tranquilo fren- culo 20. A beleza disso é que
te aos desafios da vida. Perma- conseguimos olhar para nos-
necer no eixo é uma arte, e o li- sas dores com maior compai-
vro nos guia por esse caminho xão, acolhendo-nos a cada fis-
FOTOS DIVULGAÇÃO

de autocontrole emocional. gada da afobação.

THE SCHOOL OF LIFE SYLVIA PLATH


Sextante Biblioteca Azul

17
CAL EI DOSCÓPIO

ADEUS,
INSÔNIA
Marca de produtos naturais
oferece fórmulas de alta
performance que cuidam do
sono ao longo das 24 horas do dia

os fundadores da Noomana,
Cecília Rosa, Nanina Rosa e
Thiago Colares, precisavam mu-
dar hábitos. “Por um tempo, nos
deparamos com soluções pouco
gentis para a nossa insônia, enxa-
queca e outras dores.” A partir daí,
começaram a buscar alternativas
naturais. “Isso passou a ser não só
um desafio pessoal, mas a grande
razão de existir do nosso projeto.”
Os produtos da marca são pensa-
dos para serem usados em conjun-
to, por meio de uma rotina com-
pleta. Afinal, “o sono de qualidade
é um processo ativo, movido por
escolhas conscientes, construídas
desde a manhã até a noite.” - IDR

NOOMANA [1]

noomana.com.br

TERAPIA COM CACHORROS


há �uem diga que o melhor amigo do homem pode ser um ótimo te-
rapeuta. Algumas instituições de educação ou saúde, como o Sabará
FOTO 1. DIVULGAÇÃO; 2. ERIC WARD/UNSPLASH

Hospital Infantil, por exemplo, utilizam a Intervenção Assistida por Ani-


mais (IAA) por meio do Instituto Cão Terapeuta, que leva cães para visi-
tar e alegrar os pequenos pacientes. “O animal é o agente facilitador des-
se processo”, diz Patricia Possa, comportamentalista do projeto. Por meio
desse simpático auxílio, é possível exercitar a condição motora, estabele-
cer vínculos, melhorar o humor e despertar sorrisos. - IDR

[2]
INSTITUTO CÃO TERAPEUTA
@caoterapeuta

18
P O RTA L V I D A S I M P L ES

TEM + VIDA SIMPLES


NO NOSSO PORTAL!
Aponte a câmera do celular para o QR code ao lado e desfrute
de uma seleção de conteúdos inspiradores que você vai encontrar
em vidasimples.co. Aqui, separamos alguns destaques:

COLUNAS PARA
VOCÊ ACOMPANHAR
Temos um time de colunistas
exclusivos do portal que
compartilham olhares diversos
sobre o universo de assuntos
Vida Simples. Olha só:

CINCO REFLEXÕES
TRANSFORMADORAS PARA SE
AUTOCONHECER NESTE ANO
Couple Of Things

ENCONTRE A ESPERANÇA É POSSÍVEL PERDOAR UMA QUER ESCREVER


Quando fortalecemos a TRAIÇÃO? COMO SEGUIR PARA NOSSO PORTAL?
nossa confiança no que está DEPOIS DESSA DOR? Assinantes podem publicar
por vir, voltamos a enxergar Caro Estranho no canal Você+Simples,
caminhos com clareza e um espaço para dividir
podemos nos lançar na 10 LIÇÕES QUE "DESAPRENDI" histórias e se inspirar!
vida novamente. Fazendo NA VIDA QUANDO CHEGUEI AOS
escolhas para que nossos 50 ANOS DE IDADE
anseios se concretizem. Ana Paula Borges

ASSINE VIDA SIMPLES


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AGENDA DA COMUNIDADE e descubra o plano que
mais tem a ver com você!
Veja ao que os assinantes terão acesso a cada quinta-feira de
fevereiro e se programe para se aprofundar em nossos temas
e estar com a gente em uma jornada de muitas transformações:

01/02: Acesse a versão digital da revista no portal


08/02: Baixe nosso Caderno de Exercícios sobre a matéria de capa
FOTOS DIVULGAÇÃO

29/02: Traga suas reflexões para o Clube de Leitura, online e ao vivo

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SER | CA PA

Cuide da sua ansiedade


Escolher caminhos mais amorosos e abrir mão da ilusão do controle sobre a
vida são formas alentadoras para lidar com as crises ansiosas do cotidiano
TEXTO GUSTAVO RANIERI ILUSTRAÇÃO GABRIEL SÁ

ainda �ue já tenha feito isso milhares de ás, com esse ano todinho pela frente, há sem-
vezes ao longo de 20 anos como jornalista, pre um frisson diante dos planos e resoluções
escrever este texto me deixou ansioso, tal para se colocar em prática.
como foi com todos os outros. Será que atingi Contudo, mal começamos esse século e um
a minha expectativa e a das editoras de Vida outro tipo de ansiedade, com características
Simples? Será que fui claro e sensível a quem patológicas e, portanto, muito mais grave, já é
me lê? Posso olhar para essa minha ansieda- considerada seu grande mal. Quiçá seja o mal
de de forma corriqueira, sem me estender em do milênio todo que está por vir, sendo fator
analisar o sentimento. Afinal, ela é parte da de risco para doenças e comprometendo signi-
natureza humana, desempenhando um papel ficativamente a qualidade de vida das pessoas.
adaptativo importante. Em termos evolutivos, A sociedade moderna, com suas demandas
por exemplo, é uma resposta de alerta diante aceleradas, pressões sociais e a constante
de ameaças percebidas, desencadeando uma exposição a informações, amplifica e dis-
série de reações fisiológicas e psicológicas torce a experiência natural da ansiedade.
que preparam o organismo para enfrentar ou Fatores como competitividade, comparação
evitar situações de perigo. E, em níveis mo- social e a busca incessante por sucesso con-
derados, é capaz de motivar as pessoas a se tribuem significativamente para o aumento
mover e enfrentar desafios, impulsionando a dos níveis de ansiedade. É quando, em nos-
busca por soluções e promovendo a ação. so cotidiano, inúmeras vezes não só duvida-
Aliás, até gostamos da sensação provocada mos como temos certeza de que não vamos
por aquela ansiedade que envolve alguma dar conta dos desafios, das tarefas diárias.
experiência possivelmente agradável e imi- Nos sentimos desorganizados internamen-
nente em nossas vidas, como quando se apro- te e, consequentemente, ansiosos.
xima a data para uma viagem tão aguardada, Como resposta a esse quadro, acabamos por
o primeiro encontro com quem nos traz um normalizar essa ansiedade patológica, que se
brilho ao olhar, o nascimento de um filho. Ali- tornou onipresente, infiltrando-se silen-

20
Começo de ano, objetivos traçados, vamos em frente. Mas, se não estivermos atentos, podemos ser atropelados pela ânsia de
fazer muitas coisas ao mesmo tempo, como também pela expectativa de que tudo saia como a gente quer
SER | CA PA

ciosamente em cada aspecto da vida. O que reconhecer e validar nossos sentimentos,


antes era um fenômeno esporádico ago- compreendendo que as emoções, mesmo
ra parece ser uma condição crônica que, as desconfortáveis, são mensageiras va-
infelizmente, muitos aceitam como parte liosas. Em vez de nos julgarmos por senti-
inevitável da existência. -la, podemos nos oferecer o mesmo cari-
nho e compreensão que ofereceríamos a
NÃO SE ENVERGONHE um amigo em dificuldades.
O psicólogo e escritor Alexandre Coimbra A amorosidade no tratamento da ansie-
Amaral, autor do livro Toda Ansiedade Me- dade está representada para Alexandre
rece Um Abraço (Paidós), lançado no ano por um abraço. Não à toa, ele escolheu essa
passado, enfatiza que o mundo produtivista palavra para o título do seu livro. “Acho que
gera a ansiedade e a eleva como parâmetro o abraço significa, primeiro, o reconhe-
de sobrevivência. Dessa forma, quanto mais cimento da universalidade do fenômeno,
ansioso você é, muitos entendem que mais não como psicopatológico ou como uma
conectado com o trabalho e com a empresa patologia psiquiátrica. A ansiedade é uma
você também é, e que assim estaria melhor produção dessa sociedade que nos leva o
comprometido com o seu propósito. tempo inteiro a ter que entregar, perfor-
“Há várias dessas expressões sobre certa mar, desempenhar, parecer ser para o ou-
celebração da ansiedade, ligadas à produ-
ção do trabalho na nossa sociedade. Então,
a ansiedade é, sim, elemento que nutre as
pessoas, mas, a partir do momento em que
Cultivar a amorosidade em relação à nossa
a gente se perde e a ansiedade colapsa nos- ansiedade envolve reconhecer e validar nossos
so corpo, ela deixa de ser essa entidade que
nos coloca para a frente, nos põe para tra-
sentimentos, pois as emoções, mesmo as
balhar e produzir; ela cobra um preço por desconfortáveis, são mensageiras valiosas
se viver 24x7 desse jeito”, identifica Amaral.
Sobre esse tema, o psiquiatra italiano
Mauro Maldonato enfatiza que a ansiedade tro, em todas as esferas da nossa vida e não
também é o termômetro dos movimentos só no trabalho. A gente tem que ir para a
contraditórios de uma civilização, a con- academia e postar, a gente tem que postar
temporânea, que não consegue mais resol- uma foto de viagem em que a gente está
ver seus próprios conflitos internos. Au- feliz num lugar lindo. Então, o tempo in-
tor, entre outros, do recente Exercícios de teiro a gente está sendo convocado para
Perplexidade: Aforismos (Edições Sesc São se colocar como uma pessoa que atinge
Paulo) e chefe do Programa de Psicopato- uma espécie de plenitude mítica na rea-
logia Clínica da Universidade de Nápoles lização de todas as dimensões da vida. E
Federico II, ele afirma que “vivemos uma isso é impossível, é uma meta inalcançá-
inédita e dramática ‘crise da presença’ hu- vel. É desumano e sobrehumano.”
mana que atingiu a ideia de civilização e o Como consequência, salienta o psicólogo,
sentido de nossa existência no mundo”. a ansiedade surge como uma coisa que nos
Mas, frente a esse quadro pouco alenta- envergonha, que nos constrange. E mesmo
dor, a resposta mais importante que pode- o ansioso sendo apenas mais um entre os
mos (e devemos) dar não é ver a ansiedade outros 8 bilhões iguais a ele espalhados
como uma adversária a ser derrotada, mas pelo globo terrestre, ele se sente na obriga-
acolhê-la como uma parte intrínseca da ção de ocultar, de mentir sobre como está
nossa humanidade. Cultivar a amorosida- se sentindo. “Então, o abraço, para mim, é
de em relação à nossa ansiedade envolve a quebra dessa percepção social de que

22
O mundo que nos cobra desempenho permanente é o mesmo que nos leva a acreditar que a ansiedade é uma inimiga a ser
derrotada. Pois ela é, sim, uma parte desorientada do nosso ser pedindo para que reavaliemos nosso modo de viver
SER | CA PA

a ansiedade é algo que precisa ser maquia- quem vivencia uma crise séria costuma ser
do. Não, nós ficamos mal por esse funcio- o hospital, onde os exames não apontam
namento humano, pós-moderno, ocidental. nada de errado, apenas a ansiedade.
Ele é adoecedor, e a ansiedade é fruto ine- “Saber disso é o primeiro passo para que
vitável, inexorável desse funcionamento so- a pessoa consiga se autogerir quando vi-
cial. Então, a gente poder falar disso é um vencia uma nova crise. Todo o processo
abraço. A gente poder reconhecer que isso é é desencadeado pela nossa mente, então
parte do nosso tempo é um abraço.” pensar que é algo passageiro e que não vai
nos matar já é um alívio”, afirma a psicólo-
REMOVENDO OS ESPINHOS ga. “Tentar respirar de forma mais lenta e
Precisamos compreender melhor as raízes profunda, focar em algo que acalma e dis-
profundas da ansiedade, tanto quanto ela trai, como uma música, um filme, utilizar
é reforçada a partir dos sentimentos de recursos de aromaterapia, meditação, ioga,
desamparo e insuficiência. O autoconheci- enfim, para cada um há um recurso que faz
mento é, outra vez, a chave-mestra desse mais sentido, inclusive medicamentoso,
processo. Quem destaca isso é a psicóloga quando necessário e recomendado. O im-
e paliativista Sandra Linquevis. portante é sempre lembrar que uma crise
Segundo ela, são as nossas criações men- ansiosa tem princípio e fim, e, se a gente
tais pessimistas e irreais que alimentam
a nossa ansiedade patológica. Medo do
futuro, de se perder ou de perder alguém
importante, de não encontrar sentido na
“Mergulhar em si mesmo, na própria história,
própria vida, de ser julgado e condenado. analisar nossas relações, nosso contexto, o
Medo de se sentir culpado, de ser injus-
tamente punido. Medo do vazio, medo da
tempo e o espaço em que vivemos, nos ajuda a
vida e medo da morte. “Todos esses me- compreender as origens das nossas ansiedades”
dos, quando vividos como certezas abso-
lutas, concretas e imediatas, acabam nos
paralisando. Mergulhar em si mesmo, na busca dentro de nós as raízes do problema,
própria história, analisar nossas relações, provavelmente não viveremos mais a an-
nosso contexto, o tempo e o espaço em que siedade como algo patológico.”
vivemos, são atitudes fundamentais para Mas, obviamente, o ideal seria desen-
compreendermos as origens das nossas volver uma melhor autoconsciência para
ansiedades”, atesta Sandra. identificar sinais precoces de ansiedade
Todavia, se uma crise de ansiedade já está antes que ela se torne dominante. Ale-
em ação, é preciso adotar estratégias gen- xandre Coimbra Amaral explica que isso
tis para retornar ao equilíbrio e superar é possível só depois de se viver todo um
esses momentos desafiadores. Sandra des- ciclo de ansiedade, uma vez que é preciso
taca que as crises ansiosas sempre se rela- ter conhecimento do circuito completo.
cionam ao medo de algo que pode aconte- Claro que as características do surgimento
cer. Porém, a maneira que se manifestam da ansiedade são diferentes para cada um,
varia muito. Muita gente relata aceleração sendo importante identificar as circuns-
do coração e falta de ar que levam ao receio tâncias em que ela surge.
de estar tendo um infarto. Outras pessoas “Outra coisa importante é a gente perce-
têm formigamentos e tremores ou ficam ber quais são as pessoas cujo relaciona-
paralisadas, achando que sofreram um mento conosco nos deixam mais ansiosos.
AVC. Alguns falam da sensação de angústia, E entender por que a gente fica assim. A
aperto no peito e na garganta. O destino de outra coisa é entender se a gente tem

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Quando se sentir assoberbado por tudo aquilo que acha que precisa ser, ter e mostrar para os outros, reduza a marcha e lhe
ofereça um abraço. Acolha seus medos, a sensação de que é insuficiente, o desamparo. Você pode contar consigo mesmo
SER | CA PA

algum tipo de vulnerabilidade, como cul- tranquilas, a meditação permite abster-


pa, vergonha e medo no enfrentamento -nos de estímulos demasiados e repousar
da vida. Que pode ser desde não se sentir a mente. Ambas as coisas levam a abdicar-
bem no próprio corpo. Então, isso causa mos do desejo de controlar o incontrolável
ansiedade no contato social. Outra coisa na vida”, destaca o monge.
que a gente tem a fazer é historiar o que Aceitar a ilusão do controle, inclusive, é,
vai acontecendo com o seu corpo e com na visão de Alexandre Coimbra Amaral, a
os seus pensamentos para ir construindo nossa maior âncora da existência. É pre-
estratégias para viver experiências contrá- ciso, então, buscar ancoragens mais rea-
rias a essa ansiedade”, orienta o psicólogo. listas. “A conexão humana é uma respos-
ta muito potente para os momentos em
NÓS E O IMPONDERÁVEL que a gente está diante da vivência muito
Não é novidade que o desejo de contro- contundente da falta de controle na vida.
le tem sido uma característica inata, em Portanto, conecte-se mais a pessoas, àque-
maior ou menor grau, a quase todos nós. las que também têm a mesma dificuldade,
Mas a sociedade contemporânea, perme- que não são infalíveis, pessoas de verdade.
ada pela busca por sucesso e segurança, Apenas um humano diante de outro huma-
intensificou essa ânsia de dominar todos no. Isso ajuda muito”, encoraja.
os aspectos da vida. Por isso, a ansiedade
patológica, muitas vezes, surge quando a
realidade se choca com a expectativa do
controle absoluto, gerando um ciclo de
A aceitação do fato de que nem tudo está sob
preocupações e medos constantes. nosso controle é crucial para aliviar o fardo mental
A aceitação do fato de que nem tudo está
sob nosso controle é crucial para aliviar o
e arrancar as raízes da ilusão de que podemos
fardo da ansiedade. E, portanto, arrancar governar todos os eventos em nossas vidas
as raízes da ilusão de que podemos go-
vernar todos os eventos em nossas vidas
é essencial. Na opinião de Mauro Maldo- Ao abraçar o incontrolável com com-
nato o momento atual do mundo seria paixão, podemos iniciar uma jornada de
propício para esse enfrentamento. “Nos- transformação emocional. Afinal, a verda-
sa era tumultuada é uma oportunidade deira paz não reside na busca desenfreada
para questionar o humano sem censura. pelo controle absoluto, mas na habilidade
Neste novo tempo, devemos acolher até de dançar harmoniosamente entre o que
mesmo as perguntas mais desconfortá- podemos guiar e o que devemos aceitar.
veis, sem medo, como aspectos indispen-
sáveis da aventura humana.”
O cultivo da espiritualidade pode ser uma ➥ Assinante, aponte
das formas de nos ajudar a abrir mão do a câmera do
controle, gerador de tanta ansiedade. O celular para o
monge Genshō Sensei, fundador da Comu- QR Code e acesse
nidade Zen-Budista Daissen, com sede em o Vida na Prática,
Florianópolis, explica que no zen-budismo com exercícios
a prática da meditação é vista como in- sobre esta matéria.
dispensável, e é necessário compreender
como a vida funciona por meio do conheci-
GUSTAVO RANIERI é jornalista e acredita que
mento da impermanência. “O saber nos dá reconhecer a natureza transitória de todas as coisas
condições para escolhas melhores e mais é também uma forma de abraço.

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Compreender quais crenças sobre a vida e quais relações nos desassossegam nos permite acalmar o alvoroço interior. Assim
podemos descobrir um bailado mais fluido e suave para os nossos dias. Em paz por ser quem se é. Que conforto!
H O RIZONTES

É festa no mar
Fotografias dos festejos para Iemanjá
trazem o olhar de quem tem fé na Grande
Mãe e acredita que o melhor está por vir
TEXTO IZABEL DUVA RAPOPORT
FOTO AMANDA TROPICANA

FOTOS DIVULGAÇÃO

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FOTOS DIVULGAÇÃO

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H O RIZONTES

“A Bahia se carrega na cabeça”, já dizia Jorge Amado sobre um cenário histórico que mantém traços culturais até hoje pelas ruas
e festas de Salvador, sobretudo as representadas por terreiros de candomblé e centros de umbanda

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emocionada por natureza, a fo- ra e dias melhores enviam flores e
tógrafa candomblecista Amanda oferendas à Iabá (orixá feminino).
Tropicana é íntima das águas. Ca- “Foi por meio dela que meu conta-
rioca, criada em Salvador, onde to com o candomblé aconteceu, e
vive na Bahia, é filha de Oxum em é em suas águas que descanso do
sua fé, a rainha dos rios e cachoei- mundo também”, conta Amanda.
ras. “Oxum tem forte ligação com Há mais de dez anos, ela fotografa
Iemanjá, a Grande Mãe rainha dos a manifestação de entrega estam-
mares e, como todo rio, corro para pada em cada rosto e movimento
o mar quando preciso desaguar”, de quem participa da festa. “Ain-
revela a artista, que não perde uma da que seja sempre o mesmo ato
festa no tradicional 2 de fevereiro, de levar os balaios para as águas,
quando acontece uma das cele- nunca é igual. Sempre é uma emo-
brações religiosas mais populares ção maior que a outra a cada ano
entre os baianos. Nesse dia, em que passa.” Ou até mesmo um sen-
1923, um grupo de pescadores que timento que se renova como as on-
sofria com a falta de peixes no mar das do mar em sua ginga infinita.
foi orientado pelos búzios a pre-
sentear e pedir ajuda à divindade. AMANDA TROPICANA é fotógrafa
Desde então, devotos em clima de e se dedica especialmente à cultura
gratidão e de esperança por fartu- afro-brasileira | @amandatropicana

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H O RIZONTES

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Ao longo do dia 2 de fevereiro, principalmente no bairro do Rio Vermelho, na capital baiana, uma multidão busca se conectar com
a energia da divindade africana que simboliza o elo entre os humanos e as profundezas do oceano

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T RAN S FORMA R | SUSTE N TAB I LI D AD E

O planeta ainda tem chance


Mesmo em face dos eventos climáticos extremos, acreditar que podemos
mudar o curso dessa história é, sem dúvida, nossa melhor opção
TEXTO GIULIANA CAPELLO

faz décadas �ue ouvimos sobre os perigos permitir que a sensação de impotência dian-
das mudanças no clima da Terra, agravadas te dos desafios nos leve à desesperança. “O
pela ação humana. Mesmo assim, no senso mundo sempre passou por processos difíceis
comum, até um tempo atrás esse tema pare- e complexos, e as mudanças civilizatórias
cia morar num futuro distante de nós, num acontecem a passos lentos. Talvez não seja a
imaginário apocalíptico meio perdido entre a nossa geração que vai dar conta da transfor-
ficção e as projeções de cientistas pessimis- mação”, afirma a engenheira ambiental e es-
tas. Se pensarmos nos 8 bilhões de habitantes pecialista em sustentabilidade Aline Matulja.
do planeta, uma minoria olhou com firmeza Ao mesmo tempo, ela avisa, não é mais pos-
para a possibilidade real desse horizonte sível esperar de forma orgânica e tranquila
sombrio, a ponto de adotar novos hábitos, por esse tempo civilizatório, pois estamos
buscar conhecimento ou compartilhar ideias cada vez mais perto do ponto de não retorno,
ecológicas com os amigos. em que não conseguiremos mais frear os efei-
Hoje, sabemos, a soma do que fizemos para tos das mudanças climáticas em curso. “Nes-
tentar corrigir a rota ainda está muito aquém se contexto, o ativismo atual se depara com a
do que precisamos para reverter o rumo do necessidade de ser mais rápido e consistente,
nosso próprio amanhã. O ano de 2023 foi o e integrar as várias formas de ativismo (am-
mais quente da história nos últimos 125 mil biental, de direitos humanos etc.) para viabi-
anos. Eventos extremos como chuvas torren- lizarmos um futuro possível”, comenta.
ciais, enchentes, derretimento de geleiras e
secas marcaram o noticiário em todo o mun- SAÍDAS POSSÍVEIS
do, registrando recordes históricos. Não é fácil encarar de frente a questão. Às ve-
A questão é: como podemos lidar com isso? zes, dá vontade mesmo de fugir das notícias
Como vamos (escolher) encarar a emergên- – o que não resolve nada. “Nas causas ante-
cia climática? Se não faz sentido negar ou riores, pensávamos globalmente e agíamos
não querer enxergar, tampouco deveríamos localmente, cuidando do nosso pedacinho,

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FOTO DREW BEAMER/UNSPLASH

Os sinais de que o planeta Terra está em sofrimento por causa do descuido humano estão se intensificando. Eventos climáticos
extremos viraram rotina, ameaçando o futuro. Não é hora de esmorecer, mas, sim, de converter a esperança em ação
T RAN S FORMA R | SUSTE N TAB I LI D AD E

separando lixo, plantando árvores. O que dividual. Foi pensando nisso – e depois de
leva desesperança a muitas pessoas é que, “acordar” para o tema da saúde do planeta
na questão climática, isso não basta, não durante a pandemia da Covid-19 – que ele
funciona”, afirma Aline, completando que escreveu o livro Baleias no Deserto: o corpo,
somente mudanças em escala de nações o clima, a cura pela terra (Editora Rua do
conseguirão nos tirar do trilho do colapso. Sabão). “Quis situar o leitor nesse momento
Para inibir o desânimo que às vezes bate planetário de declínio, mas falar também do
à porta, a ambientalista recorre a um con- fascínio do mundo, da relação de simbiose
ceito da ativista e escritora norte-america- na natureza, da inteligência das espécies,
na Joanna Macy, que é a ideia de esperança equilibrando isso tudo que nos traz incerte-
ativa (nome, inclusive, de um dos livros da zas e posturas mais reativas, às vezes, com
autora). “Mesmo nesse paradigma de in- um encantamento pelo mundo por parte de
certeza, esperançar como forma de viver alguém que é um curioso, e não um especia-
e manter a saúde mental tem me ajudado. lista”, conta Tiago, esperançoso.
Mas tem que ser uma esperança que colo- Para ele, tão importante quanto entender
ca movimento nos nossos valores, na nossa o presente é conseguir brincar de pensar o
capacidade de articulação e que usa a nos- futuro. “Existe uma certa escassez de ho-
so favor esse ritmo acelerado do mundo, rizonte. Precisamos mobilizar nossa fabu-
inclusive no campo tecnológico”, frisa.
O momento é agora. Como diz Joanna
Macy, o maior perigo de nossos tempos é
o enfraquecimento da nossa reação. É pre-
“Precisamos de uma esperança que coloca
ciso aproveitar que as pessoas estão sen- movimento nos nossos valores, na nossa
tindo na pele as ondas de calor, os estra-
gos das chuvas fortes e das secas extremas
capacidade de articulação e que usa a nosso favor
para que todo mundo integre a construção esse ritmo acelerado do mundo tecnológico”
de saídas possíveis. “Acredito que temos o
que precisamos para mobilizar as pessoas
na direção necessária”, emenda Aline. E lação e imaginação como uma maneira de
que direção seria essa? Já temos hoje inú- sonharmos um futuro que não seja dizer
meras iniciativas no Brasil e no exterior que é mais fácil vislumbrar o fim do mundo
que combatem, sim, o caos climático, redu- do que o fim do capitalismo”, sugere Tiago.
zindo a emissão de gases de efeito estufa De suas pesquisas e viagens, o escritor
(GEE). Todas as ações que apoiam a mobi- destaca como bons caminhos ações que es-
lidade ativa (com cidades mais adaptadas timulam nosso senso de comunidade, seja
para deslocamentos a pé e de bicicleta) e para pressionar e competir com grandes
minimizam o desmatamento são parte da lobbies, seja para resgatar práticas como
solução – assim como projetos que cami- cozinhar em grupo ou cultivar uma horta
nham para uma agricultura carbono neu- comunitária. As cidades com mais tecno-
tro e os que estimulam a compostagem nos logias verdes e relações estreitadas com
centros urbanos, aliviando os lixões. o campo (em nome de uma alimentação
mais sustentável) também são trilhas im-
REAVIVAR O FASCÍNIO DO MUNDO portantes. Reposicionar a bússola é o pri-
Na visão do escritor e psicanalista Tiago meiro passo. Bora fazer acontecer?
Novaes, embora o campo da política seja o
que tem as maiores chances de viabilizar GIULIANA CAPELLO é jornalista ambiental há quase
as grandes mudanças, o despertar para 20 anos. Já encarou momentos de descrença na
esse momento histórico continua sendo in- humanidade, mas ainda aposta na potência do coletivo.

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FOTO JAVIER ALLEGUE BARROS/UNSPLASH

Pesquisadores trazem notícias de práticas e iniciativas sustentáveis em curso em diferentes países. Das hortas e cozinhas
comunitárias, passando pela compostagem, até planos de mobilidade urbana. Esses modelos estão aí para nos inspirar e guiar
CO N VIVER | RELA ÇÕES

Elos que se refazem


Como toda relação, amizades podem atravessar crises. Saiba como lidar com
as turbulências e regenerar um laço fundamental para o nosso bem-estar
TEXTO RAPHAELA DE CAMPOS MELLO

“não �uero mais ser seu amigo.” Com a Colm e veja o que é possível fazer para rege-
frieza de uma lâmina, Colm corta a amizade nerar a amizade, se ela ainda for valiosa para
com Pádraic, um homem simples e cordial, você, claro! Pode confiar no seu coração.
atordoado com o que acaba de ouvir. A tra- Na visão do escritor Fabricio Carpinejar, a
ma do filme Os Banshees de Inisherin é fic- falta de sintonia entre amigos pode ser pas-
tícia, mas seu impacto me fez lembrar que, sageira. Além do mais, todo mundo tem o di-
na vida real, amizades também atravessam reito de perder a paciência, ser mais rude do
crises, ficam estremecidas e podem até se que de costume, fazer um comentário inopor-
desmanchar pelo caminho. tuno ou mesmo se afastar para lidar com as
Costuma ser delicado pisar nesse chão es- próprias dores no colo da solidão.
patifado. A gente não sabe muito bem o que “Rememore o quanto vocês se conhecem, o
fazer com a sensação de que a relação está quanto viveram de cumplicidade e segredos, o
diferente, seja porque você ou o outro se quanto superaram adversidades e desilusões.
modificaram, seja porque as afinidades se Não vale a pena sacrificar uma história inteira
evaporaram. Ou, então, porque as cobranças feliz por um dia ruim”, ele escreve no livro Ami-
ficaram pesadas demais para um laço que de- zade É Também Amor (Bertrand Brasil).
veria ser feito da mais pura espontaneidade. Claro que conversar sobre o que está inco-
Pois é, diferentemente da família – que nos modando, levando para as palavras o espírito
é dada pela loteria divina –, amigo é escolha, do entendimento, é a opção ideal. Porém, para
jamais obrigação; é um laço fundamental na que isso aconteça, é preciso que os dois lados
construção da nossa identidade e caráter, es- estejam disponíveis. Sincronia de tempos in-
pecialmente quando somos jovens; é aquele ternos. Se ainda não há abertura, afastamen-
lugar onde nos sentimos vistos e apoiados tos temporários podem aliviar decepções e
como em poucos nessa vida. Por isso mes- trazer novas perspectivas para a sua história
mo, quando ele se desestabiliza, merece ser de amizade. Já considerou essa possibilida-
repensado com carinho. Guarde a lâmina de de? “Dê um tempo para o amigo, afaste-se

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FOTO ANDREA RIONDINO/UNSPLASH

Aquela amizade que coloria nossa vida, de repente, se torna opaca. Um comentário infeliz, o silêncio que avança semanas adentro,
o pensar fora de sincronia. Não há como negar que algo mudou. O coração murcho sabe disso. Lamentamos
CO N VIVER | RELA ÇÕES

por uma semana, crie saudade de um mês, -querer ainda estava entre nós e foi mais
porém não destrua os laços em função de forte do que a mágoa ou o julgamento. E
uma implicância”, sugere Carpinejar. permanece assim até hoje.
Às vezes, porém, não tem outro jeito. Te-
AMIGOS DE INFÂNCIA mos de reconhecer e aceitar que uma ami-
Na vida adulta, é comum os amigos de lon- zade cumpriu seu ciclo e, portanto, não faz
ga data serem arrastados para longe: es- sentido insistir em sua existência. É a lei da
tudo, casamento, filhos, mudança de país, impermanência. Nós mudamos e, junto com
trabalho. Mesmo com a ajuda da tecnolo- as nossas metamorfoses, alguns laços per-
gia, a convivência não tem a mesma inten- dem a razão de ser. Nem todas as amizades
sidade da juventude. E isso pode melindrar são vitalícias. Mas isso não significa que não
os mais apegados, aqueles que esperam sa- possamos guardar as memórias compar-
ber de cada coisa que acontece na vida do tilhadas no escaninho da gratidão. Afinal,
amigo e, de preferência, participar delas. esses vínculos nos proporcionaram mo-
“Isso não quer dizer que a amizade se en- mentos significativos na época em que está-
cerrou. É importante que as pessoas con- vamos ali por inteiro, com a nossa verdade.
versem e possam lembrar qual é o senti-
do daquela relação na vida delas”, afirma
Danielle H. Admoni, psiquiatra geral e da
Infância e Adolescência, supervisora na
Amigo é escolha, jamais obrigação; é um laço
residência da Universidade Federal de São fundamental na construção da nossa identidade e
Paulo (Unifesp/EPM).
As amizades de infância, que nos acom-
caráter; é aquele lugar onde nos sentimos vistos e
panham jornada afora, são as mais impac- apoiados como em poucos nessa vida
tadas pelas mudanças de rumo, de opini-
ões, jeitos de viver. Haja flexibilidade para
compreender que o amor perdura, apesar
da ausência física, das discordâncias, das DIÁLOGO, LIMITES E CARINHO
rotinas contrastantes. Como escreve Car- A psicóloga Cristiane Machado explica que
pinejar, “assim como há os amigos imagi- certas relações de amizade podem nos
nários da infância, há os amigos invisíveis causar grande angústia e, em vez da leveza
na maturidade. Mas aqueles que não estão esperada, nos surpreender com a sensação
perto podem estar dentro”. de peso e até opressão. Quando isso acon-
“É legal a gente manter as nossas amizades tece, provavelmente, uma ferida emocional
de infância. Até para pensar como eram e ligada à nossa relação com alguma figura
para onde vão, pois nos formamos por meio da nossa família está sendo ativada por
das nossas relações”, destaca Danielle. aquela convivência específica.
Tenho uma amizade antiga que passou “Alguns sentimentos e emoções nossos
por uma prova e tanto. Marina era nossa são projetados nas amizades. E, quando a
amiga desde o Ensino Fundamental. For- relação é intensa, pode reproduzir víncu-
mávamos um grupinho de oito. Insepará- los familiares, padrões afetivos que não fo-
veis. Até que ela ingressou na faculdade, ram muito saudáveis”, afirma Cristiane.
começou a namorar um colega de turma Por depositarmos na amizade uma expec-
e se afastou da gente. Namorou, ficou noi- tativa amorosa, podemos sofrer uma série
va, desmanchou o noivado. E voltou para de frustrações: expectativas não atendidas,
a nossa turma dez anos depois. Era como investimento de afeto em proporções dife-
se nunca tivesse saído. Era como se a rentes – quando o dar e o receber se de-
gente tivesse se visto na véspera. O bem- sequilibram –, cobrança excessiva ou até

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FOTO ANDREA RIONDINO/UNSPLASH

O que se embaralhou nessa história pode vir à luz se dermos tempo para as emoções se assentarem dentro da gente. Com mais
clareza do que precisa de reparo, podemos reabrir o diálogo; falar e ouvir em nome do afeto que perdura
CO N VIVER | RELA ÇÕES

abandono em momentos de maior fragilida- UMA NOVA FASE, NÃO O FIM


de. “Se eu vejo esses padrões de relaciona- “Às vezes, a gente precisa de tempo para
mento reproduzidos nas minhas amizades, entender por que algo nos desagradou em
isso gera uma crise para mim. Para outras determinada relação de amizade. Se é um
pessoas pode ser que não”, pontua a psicó- aspecto ligado a uma ferida nossa e não
loga, canceriana sensível e introspectiva. necessariamente à postura do outro. Se for,
Diante desse desconforto, é possível se a gente precisa cuidar dessa questão para
afastar para, primeiro, tentar entender o não continuar projetando-a em nossos
que está se passando dentro de você, e só amigos”, orienta Cristiane.
então posicionar a outra pessoa, esclare- Além disso, alerta a psicóloga, precisamos
cendo o que incomodou e estabelecendo tomar cuidado para o nosso silêncio não se
limites para que a amizade possa prosse- tornar uma punição ao outro, que percebe-
guir em bases mais construtivas. rá o nosso distanciamento, muitas vezes,
Falando assim, parece fácil. No calor sem ter a menor ideia do que o motivou.
das emoções, entretanto, as coisas po- Esses cuidados podem nos mostrar que a
dem se atropelar. Anos atrás, as amigas amizade não precisa se encerrar por causa
Ana Paula e Mariângela tiveram que rea- dos descompassos, e sim o padrão de re-
linhar os termos da amizade. Só que isso lacionamento que vinha sendo praticado
não aconteceu numa conversa tranquila,
mas depois de uma explosão que trouxe à
tona pontos indigestos que foram se acu-
mulando com o passar do tempo.
“Às vezes, a gente precisa de tempo para entender
Colegas de firma há décadas, elas convi- por que algo nos desagradou numa amizade. Se é
viam diariamente e, fora dali, partilhavam
hobbies e interesses. Ana Paula, muito afe-
um aspecto relacionado a uma ferida nossa e não
tiva e cercada de amigos; Mariângela, con- necessariamente à postura do outro”
troladora e possessiva, sentia ciúmes des-
sas outras amizades. Além disso, Ana Paula
se incomodava com o fato de ser transpa- até então. Para que uma nova forma, mais
rente em relação às suas dores e dificul- equilibrada e satisfatória para ambas as
dades, e perceber que a amiga se fechava partes, possa ser construída. É um avanço,
quando tinha algum problema. O que lhe um amadurecimento, e não um adeus. Des-
parecia injusto e pouco íntimo. de que os dois lados estejam comprometi-
Mas nada disso era verbalizado. A convi- dos em zelar por esse espaço seguro, anco-
vência seguia. Até que, um dia, por causa rado na confiança e imune a julgamentos.
de uma picuinha, Ana Paula, que sempre Pois amigo de verdade nos ampara.
apelava para a diplomacia, foi mais grossa “De tempos em tempos, atravesso crises
do que de costume. Mariângela não gostou com minhas amigas, mas sei que vamos su-
e devolveu a estocada. Entre desabafos e perá-las, pois elas são minhas irmãs. Não
acusações, elas conseguiram externar cada há como seguir sem elas. Se a gente puder
coisinha que não ia bem na relação. ter um olhar carinhoso e compassivo com
Foi uma catarse. Elas ficaram emocional- o outro e com a gente mesma, isso é possí-
mente esgotadas, porém, depois daquele vel”, afirma Cristiane. Você também sente
episódio, o elo entre as duas se aprofun- assim, venha o que vier?
dou e se fortaleceu. Aliviadas, elas com-
preenderam que era possível fazer ajustes
RAPHAELA DE CAMPOS MELLO é jornalista e, como
e seguir cultivando uma amizade rara pelo boa aquariana, respeita o espaço e o momento de
tanto de afinidade que comportava. suas amigas. Longe dela sufocar alguém.

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FOTO ANDREA RIONDINO/UNSPLASH

No centro de um desencontro pode nascer uma nova relação entre amigos. Mais consciente das partes que a compõem: as zonas
sensíveis, os jeitos, às vezes, opostos de reagir aos acontecimentos, e, claro, o bem-querer que não se esgota jamais
CO N VIVER | EXPERIÊNC I A

Muito além do esquecimento


A doença degenerativa do meu avô me ensinou que o amor e a música são
capazes de ultrapassar barreiras físicas e mentais
TEXTO GABRIELA CATAN

a cada respiração, os movimentos são dife- para que eu pudesse, pelo menos por um dia,
rentes, ao passar um segundo as lembranças absorver um pouco mais de conhecimento
do agora não existem mais. Às vezes, as bati- vindo desse homem que eu admirava tanto,
das são as mesmas; outra hora, não perten- mas ele não existia mais.
cem a ninguém, não têm memórias e muito
menos algum resquício de vida. É como se EU VOU, POR QUE NÃO?
o corpo estivesse ali, vivo. Pulsando, funcio- Numa manhã, tomada por uma remota pre-
nando, mas a alma, não. Ela está perdida no guiça, cogitei ir à academia com um shorts de
espaço? No passado? No futuro? Quem sabe? pijama coberto de corações. Resolvi, então,
A lucidez e as histórias, essas não voltam pedir a opinião dele a respeito do traje. Olhou
mais. Não voltam, mas se transformam em no fundo dos meus olhos e, como de costume,
uma aquarela, na qual as cores são leves, sorriu. Ficou em silêncio por alguns segun-
misturam-se facilmente. Às vezes, são trans- dos e, em seguida, me questionou se eu tinha
parentes como água, mas, em dado momento, percebido os corações no shorts. Eu respondi
podem ser uma linda obra de arte. que sim. Ele me perguntou se os corações re-
Quando meu avô, Oswaldo, tinha 73 anos de presentavam para mim o amor. Respondi, no-
idade, foi diagnosticado com o Mal de Alzhei- vamente, que sim. Ele sorriu e terminou sua
mer. Por muito tempo, fiquei triste por assis- resposta: “Para mim também, então acho que
tir aos últimos anos de vida da pessoa mais não tem problema você ir assim, né?”.
inteligente que pude conhecer se resumirem Aquele não foi o dia em que eu fui de pija-
a quase nenhuma lembrança ou noção. ma para a academia. Mas, sim, o momento em
Advogado, preso na ditadura militar, nor- que eu compreendi o motivo pelo qual ele se
destino e fã de Caetano Veloso e Gilberto Gil, encontrava naquela situação. Talvez, se na-
não dava mais de três passos na rua sem con- quele momento em que desejei sua sanida-
versar com alguém. Um cara querido e gentil. de mental isso tivesse se tornado real, nossa
Em diversos momentos desejei sua sanidade conversa teria sido repleta de discursos

44
ILUSTRAÇÃO MANOELA AMBROSIO

Gabriela esteve junto de seu avô Oswaldo até o último abraço. Não foi fácil testemunhar o avanço do Mal de Alzheimer. Houve
momentos de desânimo e até desespero. “Mas se o amor não for maior do que tudo isso, de que vale a vida?”, ela questiona
CO N VIVER | EXPERIÊNC I A

políticos, que, sim, seriam incríveis, mas nele, achei-o mais abatido que o normal
eu não teria aprendido como um pijama de e carinhoso também. Horas antes de sua
coração pode ser lindo, pelo simples fato partida, pedi-lhe um abraço, e ele, assim,
de que pode representar o amor. finalmente se despediu de mim e daqui.
A primeira vez em muito tempo que o Certos assuntos são difíceis de concluir. É
vi reagir foi quando cantei: “Caminhando estranho temer a única certeza que temos
contra o vento, sem lenço e sem documen- em vida e, quem sabe, evitar esse pensa-
to, num sol de quase dezembro, eu vou”. mento seja morrer antes mesmo de partir.
Sim, Caetano. Meu avô, àquela altura, só
se lembrava de fechar as janelas, trancar É PRECISO SE DESPEDIR
portas e abrir freneticamente a geladei- A verdade é que a perda do homem mais
ra, ou então perguntar o dia e o horário. importante da minha vida me fez enxergar
“Alegria, Alegria” foi a única possibilidade que, por mais evoluídos que sejamos, não
de pincelada de amor, lucidez ou qualquer aprendemos a lidar com as perdas nem so-
que seja a referência para o lapso de me- mos ensinados a nos despedir. Acho que,
mória que ele teve. A partir dali, tivemos no fundo, temos a certeza de que podemos
todos os dias a mesma sequência de ações, deixar tudo isso para depois.
perguntas, confusões, mas, nos vãos des-
ses momentos, ele cantava Caetano.
Às vezes, não lembrava quem cantava a Certos assuntos são difíceis de concluir. É estranho
música ou a letra por completo, mas não
existiu um só dia em que ele não olhasse
temer a única certeza que temos em vida e, quem
para mim e perguntasse: “Caminhando con- sabe, evitar esse pensamento seja morrer antes
tra o vento?”. Eu continuava a canção, ele
sorria e terminava: “Eu vou, por que não?”.
mesmo de partir. No entanto, adiamos isso
Até mesmo em uma de suas internações
mais graves – em que meu avô não reagia
Daqui a pouco faz dois anos que meu avô
a nada –, bastou que a música tocasse para
morreu, e vivenciar essa doença por cerca
que ele proclamasse a famosa frase.
de 13 anos me fez enxergar a importância
de viver o agora e aproveitar todos os dias
SIMPLESMENTE, AMOR
como o primeiro. Eu precisei aprender a
Muito tempo se passou e eu convivi com
me apresentar e reapresentar diversas ve-
ele e sua doença até o dia de sua real parti-
zes no mesmo dia, repetir as mesmas his-
da. Minha dedicação e cuidados diários me
tórias com entonações diferentes e tornar
fizeram ter vontade de mostrar ao mundo
coisas simples, como dar banho, em um
o que aprendi simplesmente amando meu
conto de aventura, não raro, fantástico.
avô. No meu trabalho de conclusão do cur-
Aprendi a notar a pureza que ele apresen-
so de Jornalismo, escrevi um livro contando
tava em seu retardo mental, e a vida come-
nossas histórias e mais algumas outras so-
çou a ser mais leve para mim. A medicina,
bre o Alzheimer. Quando fui aprovada com
entretanto, o julgava incapaz – porque,
excelência, meu avô estava ao meu lado,
sim, ele fazia xixi na calça e não sabia di-
mesmo sem entender quase nada. “Eu es-
ferenciar mais manteiga de sabão. Mesmo
crevi um livro sobre você”, eu lhe disse, ele
assim, eu o admirava. Com todo meu amor.
me respondeu que não merecia.
Entre nós, nunca houve abismo algum.
Algum tempo depois que entreguei o
livro, em 7 de março de 2022, meu avô,
Oswaldo Catan, morreu. Aos 86 anos. No GABRIELA CATAN VELLOSO ITACARAMBY é
dia de sua morte, enquanto eu dava banho jornalista, pisciana e apaixonada por contar histórias.

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FOTO PAULA PRIETO/UNSPLASH

Os lapsos de memória soam de vários modos, em tons completamente distintos e outros extremamente idênticos. Que dia é hoje?
Que horas são? A pessoa não sabe onde está seu próprio eu. Mas os elos de cuidado constante ecoam fundo em seu coração
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Licença para a alegria


A atenção às pequenas coisas que nos entusiasmam ajuda a elevar nosso
estado de alma e a equilibrar a ciranda das emoções dentro de nós
TEXTO DÉBORA GOMES ILUSTRAÇÃO JORM SANGSORN

vez ou outra, principalmente quando conhe- palavras na certeza de que elas vão te encon-
ço pessoas novas, ouço que aparento ser mui- trar: em tudo isso há espaço para a alegria se
to alegre. É que estou quase sempre sorrindo, manifestar. Acontece que, muitas vezes, tam-
achando graça em toda a vida, praticando bém bloqueamos sua chegada, nos achando
gentilezas, tentando encontrar maneiras de menos dignos dela ou nos culpando por sen-
bendizer até os momentos mais estranhos da ti-la enquanto tantas situações desagradáveis
caminhada. Não sei se tudo isso tem realmen- continuam girando ao nosso redor. E nos es-
te a ver com a alegria, até porque me encontro quecemos, assim, do quão essencial ela é para
e me reconheço tão bem nos meus estágios o equilíbrio entre todas as nossas emoções.
de maior melancolia. No entanto, não posso É tarefa minuciosa cuidar da alegria e dar
negar nem rejeitar essas características que atenção a ela, permitindo que permaneça ao
sempre me acompanharam, disfarçadas de in- nosso lado pelo tempo necessário para nos
sistência em achar a beleza que mora nas pe- ajudar a lidar com outros sentimentos que
quenas coisas. E isso, por si só, já me confere surgem quando ela vai embora. Mas como po-
instantes de contentamento diante do viver. demos fazer isso? Como abrir caminho e dar
A alegria, assim como a tristeza e a raiva, é licença para a alegria descansar em nós, entre
uma emoção base e inerente a nós. Ou seja: nossos conflitos internos e externos?
buscando-a ou não, uma hora ou outra conhe-
ceremos e experimentaremos seus efeitos. EMOÇÃO CONTAGIANTE
Sabe aquela sensação que fica quando rea- Primeiro, é importante entendermos alguns
lizamos um projeto que desejávamos tanto? efeitos mais fisiológicos da alegria. Você sa-
Ou quando conseguimos experimentar coisas bia que, quando a sentimos, estimulamos a li-
que nos são essenciais? Um passeio ao ar li- beração de endorfina, serotonina, dopamina
vre, um momento de descanso, aquela nossa e oxitocina? Esses hormônios são conhecidos
música preferida que toca quando menos es- também como “o quarteto da felicidade”, ca-
peramos, o que sinto agora escrevendo essas pazes de nos trazer sensações agradáveis

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Algo dentro de nós se apruma, se encaixa, faz sentido e reverbera por todo o nosso ser. É a alegria. Luz, combustível, ânimo para
viver o hoje com vontade de criar o amanhã. Gratidão por retribuir o sorriso que a vida nos oferece
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de prazer, satisfação e bem-estar. Na pre- receptiva à alegria. Cultivar pensamentos


sença deles, é como se uma onda de boas- positivos, nos atentar para a bondade que
-novas invadisse o nosso corpo, trazendo ainda existe, manter contato com aqui-
uma resposta emocional positiva e conta- lo que nos conecta com nós mesmos. Por
giante. Se estamos muito felizes, emana- mais que as notícias negativas se espalhem
mos essa boa energia e afetamos também com extrema facilidade, bombardeando
quem nos cerca. O mesmo acontece quan- nossos pensamentos e emoções, ainda é
do permanecemos ao lado de quem está possível seguir semeando as coisas boas
preenchido por essa emoção. que trazemos em nós, sem nos alienar.
Na animação Divertida Mente (2015), “Vejo alegria no passarinho que voa, no
essa ação fica bem clara. No filme, as emo- nascer do sol, no sorriso de uma senhora,
ções básicas (alegria, tristeza, nojo, medo vejo a alegria por estar viva e, assim, me
e raiva) são representadas por persona- abasteço desses instantes e sigo meu ca-
gens diferentes entre si. A figura da alegria minho relembrando deles”, afirmou a psi-
é uma menina sorridente, de bem com a cóloga e psicanalista Tayná Amorim.
vida, otimista, empenhada em equilibrar Não se trata de ser otimista a qualquer
o convívio com as outras emoções. Nem custo. Mas, quando criamos esse hábi-
sempre ela consegue, às vezes passa um to de ver a alegria nas minúcias do dia a
pouco da conta, mas é fácil percebê-la e se
animar diante da sua presença. “A alegria
é esse movimento que nos coloca em con-
tato com o outro. Podemos experimentá-
“Um gesto nosso, uma entrega, uma gentileza, um
-la de diversas formas, individuais ou em sorriso, são capazes de melhorar a vida do outro.
coletivo. Mas ela sempre parte desse ponto
de se espalhar, ainda que por meio de um
E, como consequência, a nossa também. Assim se
sorriso ou uma palavra gentil”, pontuou a propaga a tão desejada onda da alegria”
educadora Marina Reis.
Uma vez por mês, Marina se transforma
em Rosinha e, com o rosto pintado e um dia, experimentamos chances de ser mais
nariz de palhaço, leva um pouco de diver- agradecidos por nossa existência, perce-
são e bom humor para pacientes em hos- bendo que, mesmo com tantos motivos
pitais em Belo Horizonte. Ela me contou para nos entristecer, também há aque-
que enxerga a alegria como um rio, que se les prontos a nos alegrar. “Acredito que,
propaga em ondas quando atiramos uma quanto mais descomplicamos a alegria,
única pedrinha. “Um movimento nosso, menos dependemos de grandiosidades
uma entrega, uma gentileza, um sorriso, para senti-la”, avaliou Tayná.
são capazes de melhorar a vida do outro. E, Sabe quando a gente se enche de condi-
como consequência, a nossa também. As- cionamentos, como “só vou ser feliz se con-
sim se propaga a onda da alegria”, explicou. seguir este emprego” ou “só me permitirei
“Se desejamos manter a alegria por perto, estar contente quando todos os problemas
precisamos andar com os bolsos cheios de desaparecerem”? Perdemos a chance de
pedrinhas para atirar nos rios da vida.” experimentar os pequenos prazeres que
passam por nós enquanto focamos e espe-
A MÁGICA DO SINGELO ramos apenas pelas grandes realizações.
Trazendo para a nossa realidade, podemos Desse jeito, nos distanciamos da alegria,
enxergar essas pedrinhas como as peque- dando a ela o lugar das expectativas e frus-
nas coisas, os hábitos miúdos que incluí- trações, assumindo até uma postura meio
mos em nossa rotina, a fim de torná-la mais ranzinza e desconectada da realidade.

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Se desgrudarmos os olhos das realizações futuras que nos prometem felicidade e pousarmos a atenção na altura do rio onde
estamos agora, certamente vamos nos entusiasmar com os encantos miúdos que se multiplicam pertinho de nós
SER | COMPORTA MENTO

“É fácil nos enganar com os prazeres rápi- te. “É um exercício diário reconhecer nossas
dos, com relações superficiais e momentos dores, como também nos encantar com o
vazios. A modernidade traz certas facilida- que nos alegra. Não é fingir que não senti-
des, mas, quando falamos de alegria, não é mos, mas passar a considerar nossas dores
sobre essa euforia comum”, explicou Tayná. e sofrimentos, assim como as alegrias e os
De acordo com a psicóloga, a ideia de ser- contentamentos”, advertiu Tayná.
mos alegres a qualquer custo ou baseando Isso não quer dizer que devemos buscar a
essa emoção apenas no ter diz mais sobre alegria com afinco ou mergulhar no medo
os estados de euforia. Aqueles passageiros, e na tristeza como se eles fossem uma ver-
sabe? E que, quando vão embora, deixam dade absoluta. Mas é muito mais nos aten-
um vazio enorme em nós. “Dizem que a gen- tar para o que sentimos, identificar o que
te nunca deve dizer certas coisas no ápice nos desperta certas emoções e compre-
da alegria ou da tristeza, pois depois pode- ender que todas elas fazem parte do que
mos nos arrepender. Penso que a euforia é somos. Nossa, como isso ajuda! “Os contrá-
essa pulsão que pega apenas um momento rios se complementam. Tristeza e alegria
e nos instiga a achar que estamos comple- devem ser acolhidas e entendidas. Ambas
tos, embora, às vezes, seja só um momento”, nos fazem crescer se as entendermos como
lembrou o psicólogo Dione Dias. aprendizado”, observou Dione.
Para ele, nos encantar pelas pequenas
coisas é uma forma de resistência, de fazer
algo por nós em meio a tantas informações
que recebemos durante um único dia. “O
Não se trata de ser otimista a qualquer custo. Mas,
que a gente precisa é olhar para nós e fazer quando vemos a alegria nas minúcias do dia a dia,
algo que a gente gosta, sem obrigação, mas
realizando por prazer.”
experimentamos chances de ser mais agradecidos
por nossa existência, apesar dos problemas
SENTIR O QUE SE APRESENTAR
É importante lembrar ainda que, assim como
as outras emoções, a alegria também é pas- Começar por pequenos cuidados com nós
sageira. Embora convivam, uma hora ou ou- mesmos, dar maior atenção à nossa mente
tra alguma delas vai se sobressair e, para nós, e ao que sentimos, assim como ao que nos
fica a tarefa de acolher cada uma, compreen- afeta em cada momento e em nossas rela-
dendo que é a harmonia entre o que senti- ções, não vai fazer com que a alegria perma-
mos que abre espaço para os aprendizados neça sempre conosco. Mas é um exercício
da vida. “Vivenciamos muitas dores e lutas, que pode nos levar a alternativas de cultivo
internas e externas. Em muitos momentos, mais leves, harmoniosos e condizentes com
será preciso dar espaço para a tristeza, para o nosso viver. “O caminho da felicidade é
a raiva e demais emoções que naturalmente muito desejado, mas não existe um mapa.
sentimos. Isso pode ser importante para que Encontrar o que nos alegra em cada mo-
a alegria venha depois”, pontuou Tayná. mento de nossa vida é mesmo uma jornada
Negar o que sentimos para forçar certa individual e diária”, reforçou Tayná. Aliás,
alegria não é um movimento saudável e essa trilha pode ser muito saborosa, se re-
pode nos machucar, trazendo incômodos pararmos bem. É só a gente pensar: Qual
ainda maiores. Por isso, é importante nos pedrinha vou atirar agora no rio da vida?
permitir sentir, seja qual emoção for, sem
pensar em certo ou errado, mas em plena DÉBORA GOMES é jornalista. E encontra a alegria
consciência de que tudo é mutável e a nossa enquanto escreve ou quando vê sua cachorrinha
missão será sempre nos dedicar ao presen- empolgada com seus passeios matinais.

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Terra boa faz brotar o contentamento. Ela se situa na intimidade do nosso silêncio. Lá onde mora o desejo de cuidar do nosso
sentir, sem rejeitar a tristeza, confiando que, no devido momento, ela dará lugar à alegria outra vez
c l a r o i n s ta n t e

Sagrada autenticidade
A necessidade de corresponder a padrões sociais predefinidos não
deve se sobrepor ao desejo de ser fiel a si mesmo _POR KAKÁ WERÁ

faz tempo que tenho me percebido preso Navegar entre a necessidade de pertencer
em uma determinada foto e vivendo com- e o desejo de ser fiel a si mesmo virou uma
portamentos como se fosse uma sequência encruzilhada. Encontrar um estado de inte-
de posts seletivos e manipulados a partir gridade no qual se possa expressar emoções,
daquele minúsculo aparelho que cabe na pensamentos e ações de maneira genuína,
palma da mão. Na era em que as redes sem máscaras ou pretensões egocêntricas,
sociais se tornaram palcos de representa- tornou-se uma moderna jornada do herói.
ções cuidadosamente curadas, quando a Ser autêntico envolve aceitar e abraçar
busca incessante por validação substitui suas próprias imperfeições, reconhecendo
a genuinidade, a pressão para se encaixar que a autenticidade está profundamente
em padrões sociais preestabelecidos tem enraizada na honestidade consigo mesmo e
levado a mim e muitos outros a esconder com os outros. Isso implica viver de acordo
suas verdadeiras identidades, perpetuan- com o que é verdadeiro para você, em vez
do uma cultura superficial. de ceder à pressão social para se encaixar
O problema da falta de autenticidade se em padrões ou papéis predefinidos. Ser au-
manifesta em relacionamentos rasos, car- têntico não significa ser perfeito, mas, sim,
reiras desprovidas de paixão e uma cons- ser fiel à sua essência única e original.
tante sensação de vazio existencial. As Trocar o olhar sobre o retangular metal
máscaras que usamos diariamente obs- mágico por um olhar em direção ao co-
curecem não apenas nossa visão pessoal, ração pode ser a cura do desvio da nossa
mas também minam a essência vital que originalidade. Buscando na interioridade a
torna cada indivíduo único. autoaceitação, a honestidade consigo mes-
O medo da rejeição e do julgamento, tan- mo, além de opiniões e reflexões próprias,
to pessoal quanto profissional, cria uma poderemos sentir a estabilidade entre o in-
barreira para aqueles que desejam romper finito do ser e a vulnerabilidade do existir.
com a convenção e abraçar sua verdadeira
essência. Além disso, a tentação de se con-
formar, de se ajustar aos moldes impostos KAKÁ WERÁ
pela cultura predominante, pode ser avas- é um ecologista
saladora. A incessante pressão para alcan- do ser e cultivador
çar padrões de beleza, sucesso e aceitação, da arte do equilíbrio
muitas vezes, leva à autossupressão, com- da natureza humana.
prometendo a integridade do ser. @kaka.wera

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a f e t o s

Eu, você, todos nós, velhos


Evitamos falar sobre o envelhecimento na ilusão de que não vamos
passar por isso. Mas só temos a perder com a negação _POR ANA HOLANDA

duas sacolas de compras e um pensamen- “Cuidado com o degrau na calçada.” “Va-


to: o que iria fazer para o almoço? Era assim mos esperar, agora não é seguro atraves-
que me encontrava quando saí do mercado sar.” De volta, contei a ela sobre meus pais.
a pé. Na esquina, uma senhora se aproxi- Disse que já estavam bem velhinhos. Mas
mou. O sol estava quase a pino. Ela usava que eu e minha irmã nos revezávamos para
um chapéu de sol de tecido. “Você poderia levá-los ao médico, ao dentista. Além de
me ajudar a atravessar a rua?”, pediu com tentarmos ser presentes. “Não temos uma
delicadeza. Coloquei as sacolas no braço cultura que olha para os velhos com gene-
esquerdo e usei o direito para guiá-la. Ao rosidade, carinho. A sociedade os percebe
longo da quadra seguinte, conversamos. O mais como peso do que fonte de sabedoria”,
nome dela é Luciana, havia feito um exa- comentei. Luciana concordou e disse que
me nos olhos e dilatado as pupilas. Como na cultura oriental era diferente.
assim?, pensei. Dilatar a pupila é igual a “É este prédio.” Esperei Luciana entrar.
não enxergar. Seus olhos praticamente “Que Deus lhe pague.” Fiquei parada, em
não abriam por causa da claridade. E ela frente ao portão, até perdê-la de vista. Pro-
cambaleava e se apoiava nas paredes para vavelmente nunca mais a verei.
não cair. Perguntei onde morava. Umas Fiquei pensando nos meus pais. Em mim,
cinco quadras de onde estávamos. Perto, nos meus irmãos, amigos. Todos vamos
mas, para quem estava naquele estado, era envelhecer. Mas não conversamos sobre
como atravessar uma ponte com um desfi- isso. Falamos sobre como disfarçar a idade
ladeiro embaixo, de olhos vendados. – gastamos bastante tempo e dinheiro com
Ao longo do trajeto descobri que Lucia- isso, aliás. Caminhei até a minha casa com
na tem quase 70. É casada. O marido esta- um nó na garganta que comprime o grito:
va trabalhando e, por isso, não a acompa- precisamos falar sobre os nossos velhos.
nhou. Não tem filhos... quer dizer, já teve. Precisamos falar sobre nós.
Um menino. Morreu com 2 anos. Ela era
filha temporã. E teve a companhia da mãe
por 26 anos. Os irmãos tinham, cada um,
seus próprios problemas de saúde: Al- ANA HOLANDA
zheimer, demência... Sobrinhos? Tem. Mas conversa bastante
não gosta de incomodá-los. Ou seja, não sobre a velhice com o
tinha mesmo quem pudesse acompanhá- companheiro e os filhos.
-la no exame e foi sozinha. @anaholandaoficial

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e g o t r i p

Dias de sol e de chuva


Aceitar as oscilações da vida reduz a resistência interna e nos move
em direção à próxima etapa da nossa jornada _POR ROSSANDRO KLINJEY

a vida é feita do que vivemos, do que lem- estava sendo internado no mesmo hospi-
bramos e de como compreendemos as tal onde minha mãe passou seus últimos
experiências vividas. Estamos em pleno dias. Do hotel à UTI. Nessas horas, des-
fevereiro de Carnaval e, como muitas da- cobrimos os recursos que temos, ou não,
tas e festividades nos lembram alguém, o para encarar os desafios.
Carnaval para mim remete ao Wilson, meu Aprendemos que resistir aos percalços
sogro. Um ser incrível, que recentemente e às dores da vida não nos impede de en-
vivenciou uma experiência delicada, que frentá-los. Na verdade, nossa resistência
tocou a todos nós. Gostaria de comparti- apenas prolonga a dor e atrasa a próxima
lhá-la, pois se trata de uma lição pedagó- etapa da nossa jornada. Aprendemos ain-
gica: os ciclos da vida e a aceitação de suas da que o movimento entre a vida e a dor é
inevitáveis flutuações, um tema funda- um espaço para nos adaptar, nos desenvol-
mental da existência humana. ver e criar mudanças duradouras.
Mas adianto que ele está bem! Foram dias Um momento dolorido nos chega em uma
delicados na UTI e, ao ver tantas realida- dança cíclica. Experimentamos esse desafio
des ali expostas, naturalmente revisitei e seguimos o caminho da aceitação para, en-
meus diálogos com Mário Sérgio Cortella tão, nos curar. Afinal, tudo se modifica.
sobre os ciclos da vida, algo que explora- Meu sogro adora ouvir frevos carnavales-
mos no livro As Quatro Estações da Alma: cos, algo que certamente fará neste Car-
Da Angústia à Esperança (Papirus 7 Ma- naval. Ele ama a vida, é uma alma alegre e
res), enfatizando a importância de apren- leve, e nos fez rir com a maneira como en-
der a navegar pelas diversas fases do viver. frentou o período na UTI. Por saber viver
Temos verões ensolarados, mas também intensamente as alegrias, ele encarou com
períodos invernosos e, às vezes, infernais, leveza – ainda que disfarçando sua angús-
que nos lembram a inevitabilidade dos tia – os dias chuvosos pelos quais passou.
momentos difíceis. A vida não é uma se-
quência linear de eventos felizes, mas um
mosaico de experiências variadas, algu- ROSSANDRO KLINJEY
mas alegres e outras desafiadoras. Psicólogo, escritor,
Muitas vezes, tentamos evitar os dias palestrante, cofundador
chuvosos, mas eles existem. Em nosso da Educa. Nesta Egotrip as
caso, voltávamos de viagem quando Wil- turbulências são passageiras.
son passou mal e, com quadro de pós-AVC, @rossandroklinjey

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v o z f u t u r a

Valorize o que você já tem


Tão importante quanto perseguir novas metas é reconhecer o valor
daquilo que foi conquistado e se sentir grato _POR DANILO LUIZ

falava ao telefone com minha mãe esses recrutava garotos e depois fazia jogos con-
dias e ela me contava sobre a visita das tra equipes do estado, tentando com que
mais de cem crianças e jovens do nosso algum de nós fosse escolhido.
projeto social, lá em Bicas, Minas Gerais, No primeiro dia, um choque: só havia água
ao estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. gelada para o banho, duas ou, no máximo,
“Quando entrei no estádio, não consegui três refeições diárias. Ainda tínhamos que
conter a emoção!”, ela me confessou. lavar as próprias roupas e chuteiras, além
Eu, ingênuo, respondi que ela já havia pas- de carregar todo o material de treinamento.
sado algumas vezes pelo Maracanã, e tam- No América-MG, esse “luxo” nós tínhamos,
bém por outros grandes estádios do mun- e eu nunca percebi o quanto aquilo era de
do, seguindo a minha jornada. Entretanto, valor para mim, até que não tive mais.
ela complementou: “Sim, já estive várias ve- Meses depois de mais alguns perrengues,
zes no Maracanã, mas, para muitos desses acabei voltando ao América-MG. Desde
jovens, terá sido a primeira e a única vez. então, valorizei aquele clube e as coisas
Nós temos tantas oportunidades na vida, e normais, como ter as refeições garantidas,
às vezes não damos o devido valor!”. Aquilo roupas e materiais de treinos sempre lim-
foi um golpe de sabedoria para mim. pinhos e disponíveis, como se estivesse no
Minha mãe tem razão. Principalmente, melhor lugar do mundo.
nesse momento do ano, quando nos con- Não fosse essa experiência de deixar de
centramos em identificar novos objetivos, ter o básico, não sei se teria valorizado tan-
muitas vezes nos esquecemos de dar va- to aquele ambiente, enquanto a maioria fo-
lor ao que já temos, às oportunidades que cava apenas no que faltava. Para esse novo
diariamente já recebemos. Veja bem, não ano, novas metas, mas também a capacida-
estou dizendo que traçar novas metas e se de de dar o valor necessário àquilo que já
dedicar a elas é algo que não deve ser feito. conquistamos. Acredite, é muito!
Estou apenas incentivando você a abrir os
olhos para o valor que, às vezes, não damos
àquilo que é mais habitual para nós. DANILO LUIZ
Eu vivi um pouco disso na minha juven- Pai do João e do Miguel,
tude, quando decidi abandonar o América- cofundador da VOZ Futura,
-MG e ir em busca de uma aventura, que, jogador da Seleção Brasileira
para mim, seria melhor. Fui para Cachoeiras e capitão da Juventus.
de Macacu (RJ), na casa de um senhor que @daniluiz2 @voz.futura

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EN T RE NÓS

Algo novo a descobrir


�uando falamos em desenvolvimento xergar além do óbvio. Inclusive, em uma
humano, um dos elementos que podemos entrevista de emprego, ele pode ser um
considerar para nos tornar pessoas mais diferencial na sua contratação.
interessantes é desenvolver repertório. Está certo, mas como eu expando meu re-
Mas, afinal, o que isso quer dizer? pertório? É mais fácil se você se interessa
Repertório é um termo que pode ser por um determinado assunto. Por exem-
usado em diferentes contextos, mas, ge- plo, na música, escolhendo seu gênero fa-
ralmente, refere-se ao conjunto de habi- vorito, conhecendo cantores de diferentes
lidades, conhecimentos e experiências nacionalidades, estudando a história da-
que uma pessoa adquire ao longo de sua quele momento musical; numa arte mar-
vida. Ele exige tempo, estudos e imer- cial, pesquisando a saga dos guerreiros,
sões em determinados temas. filmes e livros sobre a área, para além da
Possuir um repertório não é ter respos- própria atividade física.
ta ou opinião para tudo, mas, sim, reco- No desenvolvimento pessoal, pode ser o
nhecer nossas limitações e estar aberto conjunto de comportamentos, estratégias
ao aprendizado contínuo. É a humildade de enfrentamento e maneiras de pensar
intelectual de saber que sempre há algo empregado em diversas situações, um re-
novo a descobrir, um horizonte a explorar. curso aprendido por meio da terapia e/ou
Veja o exemplo de um dos grandes mes- do estudo. Você também desenvolve re-
tres da administração no mundo: Peter pertório quando se aprofunda na culinária,
Drucker (1909-2005). A cada cinco anos, estuda sobre vinhos, cafés ou chás, entre
ele se dedicava a um tema específico de outras searas, que até podem se passar
estudos, numa época em que não existia por hobbies em um primeiro momento.
a internet. Ou seja, ele se enriquecia a Compor uma coleção singular de saberes
partir de livros, revistas e vídeos em VHS. contribui para que tenhamos ferramentas
Hoje, quantas matérias podemos destrin- cognitivas para enfrentar desafios e apro-
char em cinco anos se verdadeiramente veitar oportunidades com sabedoria, dis-
nos dedicarmos a elas? cernimento e empatia. Esta janela para o
O desenvolvimento de repertório nos mundo nos permite entender com mais
ensina a pensar fora da caixa, a resolver profundidade as sutilezas da vida, alinha-
problemas de maneiras inovadoras e a en- vando melhor os pontos que a constroem.

LUCIANA PIANARO
Publisher e CEO da Vida Simples.
@lucianapianaro

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P O E S I A PA R A O D I A A DI A

A evolução
da forma
Enquanto a fonte é abundante,
o rio dá água sem cessar.
Por que te lamentas se nenhum
dos dois se detém?

A alma é a fonte,
e as coisas criadas, os rios.
Enquanto a fonte jorra,
correm os rios.
Tira da cabeça todo o pesar
e sorve aos borbotões
a água deste rio.
Que a água não seca,
ela não tem fim.

RUMI, POETA E TEÓLOGO SUFI

Nascido no ano de 1207, na província persa


de Bactro, atual Afeganistão, Maulana
Jalaladim Maomé, conhecido como Rumi,
teceu profundas reflexões sobre a jornada
espiritual do ser humano na Terra e sua
conexão com o divino. Após sua morte,
em 1273, seu túmulo, localizado na Turquia,
passou a atrair milhares de peregrinos.

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NA PRÓXIMA EDIÇÃO

SER CONVIVER TRANSFORMAR


NOSSOS PEQUENOS RITUAIS COTIDIANOS SABER PEDIR COLO FAZ DE NÓS SERES A CULTURA DA DOAÇÃO É UMA PODEROSA
NOS CONECTAM AO SAGRADO HUMANOS MAIS SADIOS E COMPLETOS FERRAMENTA DE MUDANÇA SOCIAL

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W W W.V I D A S I M P L E S . C O

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