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TRANSCRIÇÃO AULA 01

A INSUSTEN-
TÁVEL LEVE-
ZA DO SER
MILAN KUNDERA

Raul Martins - suporte@oraulmartins.com.br - IP: 177.95.39.94


Introdução e comentários

E aí, pessoal, tudo bem?

Bem vindos à primeira aula sobre A Insustentável Leveza do Ser, de Milan


Kundera!

Esse livro foi um dos mais aclamados por vocês, aplendizes, a obra que tiveram,
aparentemente, mais facilidade para ler do começo ao fim.

Com isso em vista, gostaria de saber de vocês: o que acharam do livro? O que
ele causou em vossas senhorias? Que tipo de sentimento ou reflexões o
Levinho lhes trouxe?

“Senti angústia.”
“É um livro tranquilo de ler, considerando os últimos que lemos.”
“Achei angustiante do começo ao fim.”

O curioso é que o Levinho, em sua “confecção”, é leve, entretanto o conteúdo é


pesado. Portanto, o próprio livro explicita essa dicotomia que o Kundera trabalha,
problematiza e aprofunda ao longo da obra.

“A ambiguidade do livro me deixou melancólica, porque a vida humana é


complexa.”
“Gostei muito mas não achei fácil e tranquilo de ler porque é um livro
pesado, angustiante.”
“Finalmente um livro de fácil compreensão da filosofia e da história dos
personagens.”
“O mais confuso foram os sonhos da Tereza.”
“A leitura flui bastante.”
“Esse livro é muito legal! Quando li pela primeira vez não peguei o ponto do
livro e terminei pensando que teria que ler de novo. Dessa vez, com as
aulas, peguei bem mais da história, mas ainda não terminei.”
“Não consegui me importar muito com os personagens. Tive pena da
Tereza… os outros poderiam se lascar que eu não tava nem aí.”

Maravilha!

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A primeira coisa que eu gostaria de dizer — que vocês até já disseram — é que, de
fato, o Levinho é muitíssimo bem estruturado.

E eu tenho mais uma pergunta aos que acharam o livro angustiante: por que
acharam isso? É por que os personagens se ferram no final? Ou talvez porque
só tomam decisões erradas e vocês, no lugar delas, teriam feito algo
diferente?

“Angustiante foi imaginar a solidão da Tereza e tudo que ela engoliu


calada.”
“É angustiante porque as pessoas parecem constantemente presas entre
aquilo que elas querem e o que de fato fazem. As escolhas parecem
sempre ambíguas."
“Achei a relação entre Tereza e Tomas bem cansativa, quase doentia.”
“Como uma decisão pode mudar a vida para sempre, ainda mais num
ambiente hostil.”

Certo… Outra coisa da qual ninguém falou é o contexto histórico e político do livro,
que começa a surgir mais pela segunda metade em diante. E eu confesso que
achei essa parte bem mais tranquila do que pensei que seria.

E vocês conseguiram encontrar alguma ligação entre a pergunta do começo do


livro e a história? Me refiro à pergunta sobre o eterno retorno de Nietzsche,
sobre a qual falei na primeira miniaula.

Nietzsche questiona: e se sua vida se repetisse infinitamente ao longo da


eternidade — ou pelo menos da perenidade — ou seja, não acabasse nunca. Você
acharia isso uma benção ou o próprio inferno na terra?

Desse ponto, Kundera extrai uma segunda pergunta: se é assim, isso gera um
insustentável peso — ou leveza — do ser; pois, se de fato as coisas se repetissem
de forma indefinida, a vida seria insuportavelmente pesada, porque cada ato e
escolha ambígua acrescentaria o peso da eternidade à vida.

Por outro lado, temos a leveza.

Alguns personagens, no começo do livro e em sua superfície, representam


essa leveza. Outros representam o peso.

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Início da aula

O objetivo do autor

Nas perguntas que fiz no começo da aula, alguns de vocês disseram sentir
angústia ou agonia durante a leitura. Eu tentei explorar um pouco esse
sentimento fazendo mais perguntas, para tentar extrair de vocês os motivos por
trás dessa agonia, embora saiba que seja meio difícil descrever essas coisas.

Kundera é um autor que tem uma visão muito específica do gênero romance —
ou seja, livros de ficção. O autor diz que você não deve escrever nenhum livro, a
não ser para dizer algo novo sobre alguma coisa importante, e de um modo que
nenhuma outra arte ou gênero de escrita possa expressar.

Em algumas de nossas discussões, vocês disseram se lembrar de 1984, de


George Orwell, assim como de A Revolução dos Bichos, do mesmo autor,
quando estavam lendo o Levinho.

Kundera não gosta de Orwell, pois em A Revolução dos Bichos o que vemos é
uma alegoria.

E o que é uma alegoria?

Vou explicar com um exemplo: em Crônicas de Nárnia, Aslan, o leão, é uma


alegoria de Cristo. Esse personagem se sacrifica, voluntariamente, por
Edmundo, numa mesa de pedra, para que este se salve. Depois disso, Aslan
ressuscita, quebrando a mesa de pedra.

Alegorias não são, digamos, uma forma muito alta de arte, pois têm uma só
correspondência. É por isso que Kundera não gosta de Orwell, pois Orwell
escreve alegorias, e Kundera as considera “fáceis” — coisa com a qual concordo.

Mas, vejam, não estou dizendo que as alegorias são ruins. O que estou dizendo é
que Kundera abordava o romance de um modo muito específico: queria
escrever de forma a transmitir uma, ou várias, experiências de um modo que
nenhuma outra coisa pudesse fazer.

E Kundera quer, com A Insustentável Leveza do Ser, transmitir uma coisa: o fato
de que essa separação simplista entre peso de um lado e leveza do outro, não
é bem o que parece.
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Mas Kundera, assim que o livro começa, já nos mostra que, sob certo aspecto,
Tomas era um peso para Tereza e Sabina; que Sabina era um peso para Tomas
tanto quanto era para Franz; que Franz podia simbolizar a leveza que, para
Sabina, seria a fuga de seu vício em trair tudo.

Tereza, que parece ser peso para Tomas, no final do livro nos mostra que tinha
sido leveza para ele, já que por causa de Tereza, Tomas tinha tomado uma série
de decisões que levara o casal a um estado quase paradisíaco: uma vida no
campo, sem bajulações, falsos amigos ou perseguições políticas. Em suma, sem
ambições mundanas.

Então a ideia de Kundera, tanto nesse livro como em toda obra que escreve, é
justamente nos mostrar que o ser humano é um bicho complicado. Cada um
de nós tem uma maneira específica de enxergar o mundo; cada um de nós dá
cor ao vocabulário com toda nossa carga de experiências.

De modo que o capítulo sobre o léxico incompreensível, em que as palavras têm


um sentido para Franz e outro para Sabina, e os motivos pelos quais isso ocorre,
é maravilhoso. Esse trecho do livro mostra, de fato, que mesmo dizer uma
palavra aparentemente tão neutra como “cemitério” traz em si, em cada
indivíduo, uma carga tão única de experiências que, no fim das contas, torna a
palavra tudo, menos neutra.

Dito isso, se eu puder dar um conselho para vocês, digo o seguinte: você pode
sentir raiva dos personagens, mas tente não julgá-los. Procure encará-los da
forma que só um romance permita que você faça. Pois quando você conhece a
história de alguém que realmente fez tudo aquilo, é muito mais difícil de se
afastar e não julgar a pessoa. Mas em um livro as pessoas são ficcionais; aquelas
coisas poderiam ter acontecido e, por mais que sejam verossímeis, não
aconteceram.

Logo, você não é obrigado a tomar uma posição contra ou a favor.

Você pode simplesmente contemplar o espetáculo da complexidade da vida


humana e, quem sabe, tornar-se alguém mais sagaz, alguém mais
psicologicamente preparado para lidar com ambiguidades quando elas
surgirem em sua própria vida; alguém menos propenso a julgar as pessoas que
estão ao seu redor; alguém mais apto a entender que, às vezes, uma ação, na
superfície, pode parecer uma coisa, mas por baixo ser fruto de uma longa cadeia
de acontecimentos que, talvez não a justifiquem, mas ao menos a tornem
compreensível.

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Assim fica mais difícil de você se tornar aquele tipo de pessoa que acha que o
mundo é preto e branco, e que separa os outros entre bons e maus.

Porque, leitor, a verdade é que todo mundo que está aqui fez um monte de
merda misturada com um monte de coisas boas.

É muito difícil encontrar alguém muito mau ou muito bom: é muito raro
encontrar um Rasputin e um Santo Agostinho.

A verdade é que a esmagadora maioria das pessoas está nessa área cinzenta,
um verdadeiro lamaçal de onde, ocasionalmente, desponta uma flor.

“Resumindo: o peso e a leveza são relativos, e às vezes o peso é bom e te


traz leveza, e vice-versa.”

Sim, essa é uma ótima forma de resumir o livro.

“É certo falar que cada um teve seu momento de peso e leveza?”

Certíssimo. Por exemplo: logo no começo do livro, ficamos achando que Tereza é
apenas peso. Ela é chata. Chega a ser um peso até para nós, como leitores, que
passamos a achá-la dramática e fraca.

Até que nos deparamos com a cena em que a Rússia invade a Tchecoslováquia,
e Tereza vê os tanques de guerra. Essa visão é, para Tereza, leveza, pois a moça
consegue, nesse momento, esquecer um pouco seu drama com Tomas,
voltando-se para a invasão.

Preste atenção aqui, leitor: a invasão de um país, uma tragédia, algo que seria,
em termos absolutos, peso para todo mundo, para Tereza torna-se leveza.

Quando perde todo seu prestígio como médico e se torna um lavador de


vidraças, Tomas fica uma semana em desespero, só para descobrir que, no fim
das contas, aquela vida era muito boa, pois dava-lhe uma espécie de liberdade.

O sujeito ter perdido tudo o que tinha, portanto, torna-se leveza.

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A melodia dos personagens

Kundera faz uma coisa interessante nesse livro, que é quebrar a quarta parede.

O autor se dirige a nós, leitores, e chega a nos dizer que ele é um escritor e que
Tomas, Tereza e todos os outros citados na história são personagens.

Kundera diz que Tomas era um personagem que surgira de uma frase em
alemão que quer dizer “uma vez é nunca”. Se algo só acontece uma vez, é muito
leve e fugidio; é frágil demais e vai sumir no tempo. Ou seja, basicamente nunca
aconteceu,

Tomas meio que vivia de acordo com essa filosofia de desprendimento. Por
outro lado, essa frase tem a ver com outra citação, conhecida por “tem de ser
assim”. Essa frase inspirou Beethoven a criar seu último quarteto.

Kundera se inspirou num quarteto musical para escrever o livro.

Um quarteto musical consiste, obviamente, em quatro instrumentos que, juntos,


criam uma melodia, que não seria a mesma se só houvesse um, dois, três ou
quatro instrumentos.

Portanto, Tomas, Tereza, Sabina e Franz estão interligados.

A ideia da qual Tereza tinha surgido era a de que assim que conheceu Tomas, sua
barriga começou a doer e fazer barulhos.

Então, a primeira dicotomia que Kundera insere na história é o peso e a leveza.

Logo no começo do capítulo, já percebemos que peso e leveza são termos


relativos, e que a “boa vida” estaria no meio dos dois. Também aprendemos que
ninguém consegue ser apenas peso ou apenas leveza.

Uma pessoa que estiver sendo um peso para si mesma, às vezes está sendo
leveza para outra, e vice-versa. Então esse não é um conceito que se possa
atribuir a pessoas, mas a ações. Porém, mesmo essas ações podem ser, para
uma pessoa, peso, e para outra, leveza.

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A alma e o corpo

Na segunda parte do livro temos a dualidade entre corpo e alma. Essa parte é
interessantíssima, pois aqui começamos a entender porque Tereza era
daquele jeito.

Logo no começo do livro, Tereza soa como uma mulher louca da cabeça. Parece
ser uma pessoa extremamente frágil, e algumas de suas atitudes não têm
explicação. É como se houvesse nela, ao mesmo tempo, uma fragilidade e uma
vaidade gigantescas, mostrada naquela ideia dela de ficar se olhando no
espelho. Então nós, de fora, ficamos achando que Tereza era vaidosa porque
vazia. Que era uma mulher frágil, besta, boboca, covarde e ainda por cima
vaidosa.

Mas Tereza era daquele jeito porque ficara traumatizada com a mãe, que era uma
pessoa horrível, e durante toda a vida tinha reduzido Tereza, por inveja à beleza
da filha e desgosto com a própria vida, ao simples corpo, e o corpo, por sua vez,
a uma simples máquina de cagar e peidar. A mãe de Tereza era extremamente
vulgar. Quando começa a perder a beleza e sentir que a única coisa que havia
nela estava se esvaindo, a mulher, em vez de lidar com aquilo, pegando esse
peso — que era dela — e colocando-o sobre os ombros, opta por jogá-lo nas
costas da filha.

E aqui temos a primeira lição: quantas vezes eu ou você já não vimos pais e
mães que descarregam todas as suas frustrações nos filhos?

Quantas vezes não vimos pais que, incapazes de lidar com suas próprias
escolhas, querem ou dirigir as decisões dos filhos ou mesmo impedi-los de
tomá-las? Quantas mães não querem prender os filhos? Quantas mães não são
obcecadas pelos filhos? Quantas mães, solteiras, não se apegam aos filhos
como se estes fossem a tábua da salvação de suas vidas, e em vez de destruí-los
como fez a mãe da Tereza, o fazem pelo “amor” sufocante?

Então Tereza se parecia fisicamente com a mãe, mas tinha pavor disso. E sua
alma, sua essência, por assim dizer, não queria aquele corpo, pois sua mãe a
tinha treinado, desde muito cedo, a odiá-lo.

Logo, essa dualidade entre alma e corpo não é real: é uma coisa criada por Tereza
que, desde nova, tentava se desvencilhar do próprio corpo olhando-o de fora,
enquanto ficava escondida em suas entranhas. Tereza era retraída.

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E quando conhece Tomas, por uma série de acasos — sobre os quais iremos falar
— a alma de Tereza, escondida em suas entranhas, sobe à superfície de seu
corpo. Essa imagem é linda, no livro: Kundera diz que a alma de Tereza era como
uma tripulação de navio que só fica escondida cobertas abaixo. Quando Tereza
tem contato com Tomas, a tripulação — sua alma — sobe ao convés do navio.

É como se, nesse momento, a vida de Tereza se acendesse, e seu corpo se


tornasse mais do que simples carne. Tereza se apaixona instantaneamente
por Tomas. Agora, perceba: essa coisa de o corpo ser algo que já entendemos é
uma realidade de nossa era contemporânea. Realmente nós achamos que já
entendemos totalmente nosso corpo, como se fosse ele uma máquina, por
assim dizer, como um carro, com motor, válvulas, bielas e escape. E dentro dele
existe uma coisa chamada “alma” como uma pequena chama tremulando; logo,
acreditamos que existe uma diferença essencial entre alma e corpo.

Às vezes podemos pensar que é possível nos distanciar de nosso corpo, mas
não é; Nosso corpo faz parte de quem nós somos. Tereza começa a criar essa
separação entre corpo e alma não só porque sua mãe queria reduzir o corpo a
uma máquina igual a qualquer outra, mas porque Tereza se parecia com sua
mãe, coisa que não queria. Daí vem sua vontade de se separar de si mesma.

Mas, infelizmente, Tereza não poderia fazer isso. Nosso corpo somos nós e
vice-versa. Ele é muito mais do que um simples veículo para nossa alma; nosso
corpo é nossa alma.

Nosso corpo é a manifestação física de nossa alma.

Pense nisso, leitor: antes de haver um corpo formado, e antes mesmo de haver
um espermatozóide, já tinha de existir uma alma. E a alma, antes de virar corpo,
já carregava em si tudo o que o corpo viraria. Eu nasci. Antes de nascer, eu estava
na barriga da minha mãe. Antes de estar na barriga da minha mãe, eu estava no
meu pai. Você já parou para pensar que o homem produz centenas de milhões
de espermatozóides, e quando acontece uma ejaculação, são liberadas milhões
de possibilidades de seres humanos?

E quando ocorre o encontro do espermatozóide com o óvulo, tudo o que aquela


pessoa talvez venha a ser já está dado no espermatozóide, senão ela seria outra
pessoa.

Então veja que isso que Tereza tem já é uma espécie de neurose, de patologia,
algo que, se piorado, poderia transformar-se num seríssimo problema
psicológico.

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Parmênides

Kundera fala de Parmênides no começo do livro. Parmênides geralmente é


citado, na história da filosofia, ao lado de outro filósofo: Heráclito. Parmênides
dizia que só existia o ser, que as coisas não mudaram. Que só existia a unidade
do ser. Nada mudava e tudo era eternamente o que sempre foi.

Aí você me diz: “Mas é claro que existe mudança, Raul! Eu, por exemplo,
emagreci e perdi 5 quilos!”

E eu te respondo: “Certo, você emagreceu, mas continua sendo você mesmo,


não é?”

Mas se você perde 5 quilos; se perde, digamos, a memória; se perde um braço;


se perde todos os seus familiares; se perde a capacidade de falar ou enxergar…
Em que sentido podemos dizer que você continua sendo você?

E se você entrar em estado vegetativo? Ainda podemos dizer que você continua
sendo você? A questão não é tão simples como Parmênides faz parecer, não é?
Heráclito, por outro lado, dizia que só existia uma coisa chamada mudança. Esse
filósofo é o famoso sujeito que disse que nós nunca nos banhamos no mesmo
rio duas vezes.

Mas aí vocês vão me dizer: “Como assim só existe mudança? É óbvio que tem
que existir algo que é estável.”

Pois bem, o problema desses dois filósofos, é que apresentavam verdades de


forma inquestionável.

Existe uma coisa chamada continuidade e outra chamada mudança. Ambas


existem na vida real e são inseparáveis. Como se explica isso? Bem, Aristóteles
nos dá uma explicação, por meio da teoria mais elegante que já vi em minha
vida: a distinção entre potência e ato.

Potência e ato

Há uma certa esfera da realidade em que existem coisas que podem acontecer,
mas talvez não aconteçam. Mas se elas PODEM acontecer, é como se, de certa
forma, tivessem acontecido.
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Um exemplo: digamos que um sujeito não consiga se aguentar, faça sexo com
uma mulher e a engravide. A mulher não engravida de milhões de filhos de uma
vez, ela engravida de um; em raros casos de dois, três ou pouco mais que isso.

Todos aqueles milhões de espermatozóides, se houvessem sido fecundados,


também virariam pessoas. Pense comigo: em que área da existência estão
essas milhões de almas — que ainda não são almas, propriamente — mas que
poderiam sê-lo?

Essas almas são potencialidades. São potências. Potências são coisas que
poderiam ter virado realidade, mas não viraram. Então essas almas não são
realidade, mas também não deixam de ser: estão no meio
Um espermatozóide fecundado, na linguagem aristotélica, passou da potência
ao ato. Ou seja, é uma coisa que poderia ter acontecido, e de fato aconteceu.

TUDO o que existe no universo segue esse padrão.

A alma humana é essa potência que, pelo acaso — ou pela Providência divina,
segundo a visão cristã — é puxada do reino do quase ser para o ser. E quando
isso ocorre, a alma já é si mesma desde o começo.

“Tereza teria sido ela mesma se não tivesse acontecido aquilo com ela?”

Não, não teria. Mas aquilo aconteceu com ela, e não com outra pessoa. Portanto,
sua identidade e continuidade se mantêm, porém algo de externo entra em jogo
e a muda. É assim como todo mundo, e é daí, inclusive, que surge a
individualidade.

O acaso

Quando Tereza conhece Tomas, vemos que existem uma série de acasos aos
quais ela atribui sentido, como se “uma mãozinha cósmica” a tivesse empurrado
até ali. Tomas não a conhecia e deixara um livro sobre a mesa. Nesse momento
está tocando Beethoven, um músico a cujo concerto Tereza tinha ido na época
em que quisera elevar-se, se distanciando de sua mãe. Depois, Tereza aborda
Tomas e lhe pergunta em que quarto ele estava. Tomas responde que estava no
quarto de número 6. Tereza se lembra de que seus pais moravam no prédio 6. Lá
fora, Tereza avista Tomas sentado no mesmo banco em que ela estivera sentada
no dia anterior, também lendo.

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Tereza começa, então, a ler mensagens subliminares do universo nesses
acontecimentos.

Tomas, por outro lado, quando quer achar algum motivo para se afastar de
Tereza, apela justamente aos acasos.

Pensa que jamais teria conhecido Tereza se um médico não tivesse tido um
problema no nervo ciático, desencadeando uma série de eventos que o fizeram
conhecer a mulher.

E então eu faço uma pergunta: as coisas acontecem por acaso ou por que têm
que acontecer? Tudo é puro acaso, totalmente aleatório? Ou, às vezes, as coisas
ocorrem de modo “intencional”?

“Não sei.”
“Mas se não agirmos, como saberemos qual movimento vai mudar ou
não?”
“Não sei opinar.”
“Aleatório.”
“Nem tanto ao céu nem tanto à terra. Casos acontecem, mas tudo o que
rola depende de nossas reações ao que acontece.”
“Eu acho que é como se a gente tivesse um final premeditado, mas no
meio vários acasos levariam a esse final.”
“Nada é acaso, mas tudo está submetido ao livre-arbítrio humano.”

Eu perguntei isso porque, no final das contas, Tereza atribui sentido a ações
aparentemente — ou de fato — aleatórias, porque quer fazer isso.

Ou seja, o desejo de sentido é anterior ao que Tereza realmente enxerga.

Só que Tomas, como tem o desejo diametralmente oposto, atribui o contrário a


uma mesma sequência de fatos “aparentemente” aleatórios. Então, no fim das
contas, não importa se é ou não acaso. Tomas atribui o que quer aos
acontecimentos, e Tereza faz a mesma coisa. Porém, no fim das contas, Tomas
continua com Tereza. Tomas atribui aquilo tudo ao acaso, mas não larga a
mulher. Portanto, se tivéssemos que dizer que a realidade comprova alguma das
teorias, nesse caso seria comprovada a teoria da Tereza.

Acaso ou não, o “sentido” que Tereza enxergou venceu quando ambos ficaram
juntos.
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A minha história com a Camila, minha esposa, tem um pouco disso. Quando
começamos a namorar, ela estava com 18 anos, eu com 25, e no logo no
princípio do relacionamento eu não queria já mais namorar, pois desejava ter
“liberdade”.

Como tinha sido um frouxo com minha namorada anterior, e me ferrado por
conta disso, agora não queria me atrelar a ninguém. Não queria um peso. Então
a Camila começou a se integrar à vida da minha família, e fez isso de forma
rápida, conquistando meus pais, irmã e amigos. Eu sabia que não havia um
bom motivo para terminar com ela; tinha consciência disso. É por isso que
sempre reforço que Orgulho e Preconceito é um livro tão bom: como vimos lá, o
amor acontece com o ato da razão. A paixão é que é irracional, mas nem sempre
há paixão no começo.

E, voltando à minha história, o que aconteceu? Eu tentei, de fato, terminar o


relacionamento com a Camila várias vezes. Umas 6 ou 7, para você ter ideia,
leitor.

Na última crise pela qual passamos — a mais séria — ficamos quase uma
semana sem nos falar. Foi quando, num belo dia, eu em casa e ela no trabalho,
recebo uma ligação e a Camila me diz que iria passar na minha casa para pegar
as roupas dela. E eu sabia que com a Camila seria assim. Ela aguentaria muito,
mas quando acabasse, seria mesmo o ponto final. Respondi que tudo bem e
fiquei esperando ela vir. Me vi numa posição confortável: dizia para mim mesmo,
omo um covarde, que não tinha sido eu a terminar, e sim ela.

Na hora que a Camila desceu do ônibus, já perto da minha casa, de celular na


mão, dois moleques a assaltaram, puxando o celular da mão dela de forma
violenta, fazendo-a cair no chão.

A Camila fez o caminho do ponto de ônibus até a casa dos meus pais chorando,
e apareceu assim no portão. Estava desesperada, soluçando e chorando sem
parar. Quando a vi naquele estado, me sobreveio um sentimento incontrolável
de protegê-la. Fui até o portão, o abri, peguei a Camila no colo e entrei com ela em
casa.

Não terminamos.

Vou ser sincero aqui: para mim fica difícil acreditar que foi uma coincidência que,
bem no dia em que iríamos terminar tudo, isso tenha acontecido com a Camila.
Antes disso minha esposa nunca tinha sido assaltada.

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Se o assalto não tivesse acontecido, a Camila passaria na minha casa, eu não
pediria para ela ficar, e ela também não ficaria, de qualquer forma. Nosso
namoro acabaria ali.

“Não teríamos os catarrentos nem a Meuri.”

Sim. E provavelmente nem este Clube haveria, pois eu só quis entrar na internet
com essa gana porque me casei e precisava trazer sustento para minha família.
E só me casei porque, quando a Camila ia terminar comigo, houve um assalto NO
DIA em que tudo ia terminar. Nós não estaríamos aqui se aquilo não tivesse
acontecido exatamente naquele dia, e naquela hora.

Esse meu testemunho é para que você pense sobre a teoria do acaso e da
premeditação. E ainda podemos encaixar o livre-arbítrio nessa situação: mesmo
com tudo o que aconteceu, eu poderia ter sido um sujeito completamente
insensível, consolando a Camila naquele momento, para terminar com ela
depois; ou a própria Camila também poderia, apesar de tudo, ter insistido em
terminar comigo. Mas aquilo mudou nossa visão, servindo como um sinal.

“O assalto da Mestla foi como a febre da Tereza.”

Pois é! Viu só porque literatura é um troço tão maravilhoso?

Tomas e Tereza

A dicotomia do peso e da leveza começa a se tornar uma coisa complicada


dentro da alma da Tereza. Como Kundera diz, Tereza “sentia a vertigem da
queda”. Sempre que está muito mal, Tereza sente vontade de se tornar tudo
aquilo que sua mãe sempre quis que ela fosse: um mero corpo, uma máquina
que peida e caga.

E quanto a Tomas? Será que realmente amava Tereza, ou não? Era algo
doentio, ou havia em Tomas, no fundo, amor real?

Veja bem: Tomas — e aí entram as ambiguidades — volta para um país sitiado,


abandonando todos os confortos e facilidades de que dispunha, fazendo um
verdadeiro sacrifício de vida, por Tereza. Sem pensar duas vezes, Tomas volta a
um país sitiado sabendo que não teria uma segunda chance, por conta dela.

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Isso me faz pensar: afinal, o que é amor?

Se o sujeito volta, por uma mulher, a um país em guerra, em que havia grandes
chances de sua vida virar uma merda — coisa que aconteceu — que direito
teríamos de não chamar isso de amor? Quando começamos a nos fazer essas
perguntas com real seriedade, começa a surgir um troço chamado filosofia.
Parece fácil definir o que é amor, não é mesmo?

Só que não é.

“Amor é sacrifício, é entrega.”

Sim, de fato também é isso. E um sacrifício Tomas não fez quase a vida inteira: a
fidelidade. Por outro lado, Tomas sacrificou sua vida; posteriormente sacrificou a
medicina, que era sua profissão e real vocação e, mesmo tendo demorado
muito, acabou por renunciar às outras mulheres.

"Então, é impossível avaliar os sentimentos dos outros.”

Só que amor não é bem um sentimento. E a verdade é que não conhecemos


muito bem nem nossos próprios sentimentos, muitas vezes. Apenas agimos,
sem saber. E a ação constrói ou se afasta de algo.

Mas ninguém pode dizer que SEMPRE age exatamente de acordo com o que
sente. A coisa não funciona assim.

“Amar não significa que conseguimos sacrificar tudo.”

De fato, não significa! O que Kundera quer que enxerguemos — e é por isso que
estou problematizando ainda mais cada uma das coisas que o autor falou — é
que a vida é complexa.

“Se você ama alguém, não quer fazer essa pessoa sofrer. Tomas via o
efeito que suas traições causavam, mas seguiu traindo. Isso não é amor.”

Concordo, mas em parte. Essa não é, de fato, uma atitude amorosa. Mas uma
atitude não amorosa não quer dizer que não exista amor num geral. Se fosse
assim, ninguém iria amar.

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Por exemplo: no final do livro, Tereza finalmente confessa para si mesma que
sempre tinha usado sua fraqueza de forma consciente. Tereza voltou para Praga,
no começo do livro, sabendo, ou pelo menos desejando, que Tomas voltasse
consigo. Ter voltado para não machucar Tomas fora um pretexto que Tereza dera
para si mesma. No fundo tinha feito aquilo para tentar trazê-lo de volta. Assim
sendo, Tereza sabia que tanto ela quanto Tomas sofreriam ao voltar a Praga.

Eu não estou defendendo ninguém aqui: estou dizendo apenas que, no final
do livro, a própria Tereza confessa que usou sua fraqueza para trazer Tomas de
volta, e que ele acabou como motorista de caminhão por causa dela.

Tereza sofreu muito ao longo de todo o livro? É óbvio que sim! Mas o que estou
tentando mostrar é que AMBOS tiveram atitudes não amorosas.

E por que estou trazendo tudo isso aqui?

Porque acho que, especialmente com o Instagram, as pessoas simplificam


demais as coisas. Hoje em dia tudo são relações simples, valores simples, ações
simples… tudo é fácil e cristalino, sendo que, na realidade, é tudo muito
complicado. É por isso que é tão importante termos contato com algo que não
possamos explicar à primeira vista, que nos deixe perplexos e em dúvida. E é
imprescindível que nos abramos para isso.

E vou fazer uma ressalva: não estou dizendo para você virar um relativista,
que acha normal um sujeito trair a esposa quinhentas vezes. O que estou
dizendo é que um termo como “amor” só parece fácil de definir. Só que não é.
Não é nada fácil. E outra coisa: existe o “cinza” na vida dos religiosos tanto quanto
ele existe na vida dos não religiosos. A religião não vai te dar as respostas para
todos os dilemas da vida.

Sabina e Franz

Sabina tinha o vício de trair, não sexualmente falando, mas num sentido mais
amplo de trair qualquer ordem, porque seu pai tinha sido, no começo de sua
vida, uma ordem repressiva, e mais tarde o comunismo tornara-se mil vezes
pior; uma imagem amplificada do pai de Sabina.

Ou seja, a ordem, para Sabina, era sempre repressão, sempre algo mau.

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Numa situação dessas, a pessoa pode entender “ordem” como qualquer coisa
estável, como um relacionamento ou uma família. Tudo isso parecia repulsivo
para Sabina, mesmo quando sabia que não se tratava de algo mau. Mas esse
senso era tão forte em Sabina, e ela tantas vezes tinha traído a “ordem”, que
aquilo passou a se tornar um hábito.

E Aristóteles, para citar novamente o filósofo, dizia que a virtude, assim como
o vício, é fruto do hábito. Quanto mais você faz uma coisa, mais difícil fica deixar
de fazê-la. Sua alma vai tomando uma certa forma. Se você for um mentiroso a
vida inteira, será mais difícil deixar de mentir perto do final da vida. É como
uma construção.

E Sabina foi se construindo, reiteradamente, como alguém que traía, que fugia,
que subvertia a ordem. Sabina desejava gozar um tempo de estabilidade, para
no final traí-la e chegar à próxima aventura. Sabina era viciada em novidades:
queria o próximo homem, a próxima cidade, a próxima pátria. Não era fiel a
nada, a não ser a sua própria ideia de ser infiel a tudo.

E como Sabina termina? Mal e sozinha.

Sabina chega ao final da vida e percebe que faltavam-lhe coisas para trair. Se já
traíra a família, os relacionamentos, o trabalho, a pátria… chegou uma hora em
que não sobrava mais nada para trair. Não existia mais nenhuma aventura à
espreita. Sabina mergulhou na monotonia, pois caiu na repetição, e uma
repetição sem amor.

Você vai, fatalmente, cair na estabilidade. Sua única escolha é cair numa
estabilidade construída com amor, que tem sentido e significado; ou cair, em
algum momento da vida, na estabilidade solitária, sem sentido e sem amor.

Sabina escolheu a segunda opção e se deu mal. Quando teve a oportunidade de


se entregar a alguém que realmente a amava, que era o Franz — que no ato de
amá-la estava traindo outra — Sabina o nega.

Sabina era escrava de sua liberdade.

Franz, por seu lado, termina o livro odiando a mulher. Mas quando morre, quem
cuida dele? A mesma mulher, que a vida inteira o tinha reprimido.

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Nada é fácil, leitor.

Outra coisa desconfortável que o livro nos apresenta é o momento em que


Tereza conhece Sabina, e ambas sabem que compartilham o mesmo homem.
Tereza sente simpatia por Sabina, coisa que não era para acontecer. Inclusive,
em dado momento, até acontece um interesse erótico entre as duas, o que torna
a situação duplamente bizarra.

O Paraíso

No final do livro, Kundera diz que o Paraíso não era como a vida aqui na terra, que
é como uma linha que vai se esticando. Segundo Kundera o Paraíso não é uma
linha reta, mas sim um lugar de repetição, só que repetição feliz: um círculo de
repetições com significado e com sentido. Esse é o círculo de repetições ao
qual Tomas e Tereza chegam no final de suas vidas. Ambos estão numa fazenda
onde nada acontece, mas sentem-se profundamente felizes. Além disso, o casal
alcança algo que pareceria uma desgraça para os dois no começo do livro: a
repetição. Pois Tomas queria conhecer mulheres novas todos os dias. Tinha o
desejo de captar a minúscula dessemelhança, inimaginável e única em cada
mulher: queria experiências novas.

No fim da vida os dois descobrem que a vida boa não é uma linha reta em que
você vai acumulando experiências; a vida boa é, na verdade, um círculo em
que você vai se aprofundando nas mesmas experiências e nelas descobrindo,
a cada dia, novos significados por meio de uma coisa chamada amor.

O casamento é basicamente isso: se esforçar para, todo dia, encontrar no seu


cônjuge, que é a mesma pessoa, um novo aspecto ou um ângulo diferente sobre
o mesmo aspecto. E, dessa forma, amar, amar e amar, todos os dias, num eterno
ciclo de repetição, com significado e com sentido. Isso é uma aliança. Tomas e
Tereza ficam libertos apenas no final, quando vão para a fazenda. E isso, de fora,
parece o inverso da liberdade.

Veja, leitor, o livro começa nos apresentando pessoas que parecem muito livres,
especialmente Tomas e Sabina. E o livro termina com Tomas e Tereza sem
nenhuma liberdade política, com seu passado totalmente apagado e sem
dinheiro.

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Exteriormente, essa vida parece uma porcaria. Mas interiormente isso era, para
eles, liberdade. Pois liberdade é, como diria Santo Tomás de Aquino, o poder de
fazer o bem todos os dias. Sacrificando-se por aquele bem diário, o
transformamos em algo significativo. E no dia seguinte, fazemos a mesma coisa,
e assim por diante, repetindo o processo infinitamente. Pense na Sabina. Sua
vida era composta por várias linhas, de tamanhos diferentes, traçadas para
vários lados, e nenhuma delas se fechava em algo completo. Em outras
palavras, uma vida sem forma, porque sem amor. O mesmo acontece com
Franz.

Tomas e Tereza conseguem criar essa forma, mesmo que morram no final. Os
dois, no fim, morrem, e a morte deles é mais feliz do que a vida de Sabina. Nos
sentimos mais felizes com a morte de Tomas e Tereza do que com a vida de
Sabina, pois esta vida era sem sentido. E Sabina sabia do que estava em busca,
pois ela mesma o dizia. Estava à procura de uma casa suburbana, com um pai e
uma mãe felizes, e filhos contentes. Mas Sabina fugia daquilo, e no final também
confessa: queria Franz, queria estabilidade, mas tinha medo.

Medo não é liberdade, medo é escravidão. Sabina era covarde. Então veja que
no final do livro a situação se inverte: Tereza, que parecia frágil, era quem
realmente era forte, pois aguentou muita coisa. Sabina, que parecia forte, era
covarde, pois fugia de tudo.

Conclusão

A ideia desse livro é explicitar a ambiguidade. Seu intuito não é nos entregar
respostas, e sim nos fazer refletir, e entender, no final das contas, que a vida
humana é sim, complexa, mas também é maravilhosa. Tem mais coisas sobre
as quais quero falar, e de forma mais organizada, portanto farei isso na próxima
aula.

Encerramento da aula

Como sempre, muito obrigado pela sua atenção, leitor! Nos vemos na segunda
aula de A Insustentável Leveza do Ser — para os íntimos, “o Levinho”!

Um forte abraço do Mestle!

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