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Seu Madruga: vadio, porém com o português impecável

Sem lotar sua cabeça de nomes: pegue o dá/dar e troque


por algum outro verbo qualquer.

Se surgir o “r” no final do verbo, é dar. Se não, use dá.

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Ele vai dá/dar o anel de noivado amanhã.

Ele vai entrega o anel de noivado amanhã — errado.


Ele vai entregar o anel de noivado amanhã — certíssimo,
belo & moral.

Logo, o certo é: Ele vai dar o anel de noivado amanhã.

E o dá? Faça a mesmíssima coisa, uai:

Me dá cinco reais, por favor?

A frase está perfeitamente certa. Vamos aplicar o teste,


para conferir?

Me emprestar cinco reais, por favor?


Me empresta cinco reais, por favor?

Pô, Vossa Excelência ex-ministro…

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O troca-troca resolve 90% dos problemas (de português)
nessa vida. Troque o verbo haver por existir:

Existiam emendas parlamentares de R$ 55 milhões para


recuperar o museu.

Funcionou, né? Então haver tem o sentido de existir. Logo,


fica no singular. Sempre:

Havia emendas parlamentares de R$ 55 milhões para


recuperar o museu.

Fácil. Lindo. Duas observações, porém:

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1. O verbo não vai para o plural, mas seu
tempo muda:

Haverá emendas particulares…


Há emendas parlamentares…
Houvera emendas parlamentares…

2. Se, num português mais informal, você


usar tinha em vez de havia, ele também
não vai para o plural:

Tinha dois sujeitos estranhos ontem, na esquina de casa…

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O que dói mais? A mentira de um ou o erro de português
do outro?

Mas já fazem cinco dias.

Errado. O sentido é “já se passaram cinco dias”. Tempo.


Logo, o verbo tem que ficar quietinho. Não pode se mexer.

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Mas já faz cinco dias.

“Faz vários dias que eu não falo com você.”


“Terminei a prova faz quinze minutos.”
“Já vai fazer dois meses que ele viajou."

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Sociedade não é lugar, minha filha. Nem te conheço, e não te considero

Onde é um pronome que usamos quando existe a ideia


de lugar. Não importa se físico, virtual ou figurado. Tem
de ser a ideia de um lugar.

Por que a moça do print aqui em cima errou? O que é uma


sociedade? Resumindo: um monte de pessoas que vivem

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juntas, em princípio seguindo certas leis que se aplicam a
todas elas.

É um lugar físico? Não. É ideia de lugar? Não. É uma


metáfora? Não.

Mais outros exemplos do erro:

Na entrevista onde o ator disse aquilo…

Quais são as matérias onde você tirou nota dez?

Já dizia o Faustão: errrrrrroooooou! O certo seria:

Devemos sacudir a sociedade em que/na qual vivemos…


Na entrevista em que o ator disse aquilo…
Quais são as matérias em que você tirou nota dez?

Como usar onde certo?

O bairro onde eu moro é muito violento.

No meu coração, onde você já mora, ainda tem espaço.

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“Me diga aonde você vai, que eu vou varrendo” — também na gramática os
sujeitos tinham MOLEJO

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Qual é a diferença entre onde e aonde? Muitíssimo
simples. Temos um a grudado em onde. Um a que vem
de algum verbo.

Me diga aonde você vai.

Qual é o verbo da frase? Vai. Esse verbo sempre leva


consigo um a. Os dois estão grudados. Quer a prova?

Quem vai, vai a algum lugar.

Se juntarmos a + onde temos… tcharam! aonde. Para ficar


mais fácil enxergar a ligação entre os dois, deixa eu mudar
um pouquinho a frase:

Você vai aonde?


Agora ficou fácil ver a ligação. Portanto, eis a regra: só
usamos aonde com verbos que exijam o a. Quase sempre,
os verbos ir e chegar.

Sei muito bem aonde ele quer chegar com essa conversa.

“Se eu for aonde você está, vai rolar briga.”

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ERRADO. Quem está, está em algum lugar. O certo
seria onde.

ERRADO. Passamos o Natal ou Ano-Novo em algum lugar.


O certo seria onde.

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Para a norma culta, está errado dizer ou escrever coisas
assim:

Vou no banheiro;

Cheguei no trabalho.

Por quê? Acabamos de aprender, ué. Esses dois verbos


exigem um a. Quem vai, vai a algum lugar. Quem chega,
chega a algum lugar.

Ir no banheiro seria dizer que subimos EM CIMA do


banheiro, montando-o feito um pônei, e NELE vamos até
algum lugar.

Então, voltando: certo está o glorioso meme aqui em cima.


Não diz “em que ponto chegamos”. Diz o padrão, o chique,
o cultíssimo:

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A que ponto chegamos.

Meme 10/10 — também no português

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Anote: não é boa ideia usar o mesmo no lugar de ele. Não
faça isso.

Não faça como o senhor político que teve a ideia imbecil


de criar uma LEI obrigando todo mundo a grudar uma
plaquinha ao lado dos elevadores, com este parágrafo:

Antes de entrar, verifique se o mesmo encontra-se neste


andar.

E também não siga o caminho do pessoal que escreveu


estas frases:

A verdade é que João abandonou a esposa e os filhos,


sendo que a mesma mudou-se de estado.

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Pegue os relatórios com a secretária e verifique se os
mesmos foram carimbados.

A regra é não inventar moda. É brega,


desnecessariamente complicado e gramaticalmente
desaconselhável você usar o mesmo/a mesma no lugar
de ele(a). Veja as soluções:

Antes de entrar, verifique se ele encontra-se neste andar.

A verdade é que João abandonou a esposa e os filhos,


sendo que ela mudou-se de estado.

Pegue os relatórios com a secretária e verifique se eles


foram carimbados.

Pai verificando com o filho se o MESMO


estava dentro do elevador antes de entrar. E
não é que estava?

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Vacilou no xaveco E no português

Regrinha: depois de uma preposição (a, até, com, contra,


em, para, entre…), use mim. Não é uma escolha, tá? Não é
se você acha bonito ou legal. É o certo. Obrigatório:
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Entre mim e você.

É o certo. Ponto final. Aliás, usá-lo é a tendência natural


que temos em quase todas as frases:

Deu vários livros para mim. — Quem pensaria em escrever


para eu?
Estão todos contra mim? — Ninguém enfiaria um contra
eu aí.
Com memes, o Raul ensinou o português a mim. — a eu?

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Agora eu vou ser o-chatão-da-gramática-trazendo-uma-
exceção-debaixo-do-braço. Desculpa. Não tem jeito.

Só que não é uma exceção. Vem comigo.

O que eu disse na última lição? Se houver uma preposição


(a, até, com, contra, em, para, entre…), depois dela use mim.
Ora, maravilha! A frase aqui embaixo está certíssima:

Para mim fazer.

Preposição para. Pronome mim. Tudo lindo, maravilhoso.


Seguindo a regra à risca. A frase está certa.

Não. Está errada. Por uma razão muito simples: depois de


mim, temos um verbo. E o pronome está conjugando esse
verbo. Ora, está lembrado da regrinha do índio?

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Mim não conjuga verbo. Mim não faz nada. Se o mim não
conjuga, qual pronome o faz? Este aqui:

Para eu fazer.

Até eu encontrar você, estava perdido.


Entre eu falir e trabalhar o dobro, prefiro trabalhar o dobro.

Mim não conjuga verbo

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Porque nós temos uma palavrinha escondida aí. Um
substantivo à paisana. Só na moita. Invisível.

Na verdade, a frase é meio-dia e meia [hora]. A palavra


meia, portanto, é um adjetivo. Está modificando o
substantivo.

E adjetivos sempre concordam com o substantivo que


modificam. São lacaios fiéis. Têm de seguir o mestre
Substantivo. Vão para o plural ou trocam de gênero.
Ninguém diria:

Me dá meio hora que eu já chego aí.


Cara, levei meia minuto para fazer aquela prova.

Todos nós sabemos, instintivamente, como se fala


metade de um dia. Até o José de Abreu! É meia hora.

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Logo, o certo é:

Meio-dia e meia.

Tão exaltado estava o coitado do José de Abreu que trocou de por se

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Não existe meia louca.

Meia nervosa. Meia feliz. Meia melancólica. Meia bonita.


Meia histérica. Meia elegante. Meia corajosa. Meia…

O certo é meio louca.

Pronto. Lá venho eu com pegadinha outra vez.

Acabei de falar que o certo é meia hora, porque meio


virou feminino para seguir o substantivo hora. E agora
estou dizendo que meio NÃO pode variar. Que seria
errado a palavra tornar-se feminina.

Por quê?

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"Meia louca, eu? Não, querida. Sou louca INTEIRINHA

Uai, porque 1) louca não é substantivo. É


adjetivo.
E nenhuma das outras palavras que eu usei como
exemplo são substantivos. Todas são adjetivos.

As palavras que modificam adjetivos são os advérbios.


Meio (advérbio) louca (adjetivo).

E advérbios são invariáveis. Não se tornam plural, não


mudam de gênero. Ficam sempre iguais, parados,
estátuas.

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2) o sentido das duas palavras é diferente.

Em “meia hora” o sentido é de metade. Metade exata,


verificável. 30 minutos de 60.

Em “meia louca”, não. Aqui não estamos falando de uma


metade exata. 50% de você é maluca. É maluca das
pernas para cima, até a cintura. Passando um pouco do
umbigo.

Não. Aqui o sentido é “mais ou menos, um pouco, não


completamente”. É o mesmo sentido de:

Deixei a porta meio aberta.

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No fatídico dia 13 de agosto de 2015, numa entrevista
antes do amistoso que haveria de acontecer dali a alguns
dias, Dunga soltou uma pérola maravilhosa. Disse ele que
seu objetivo era que a seleção brasileira jogasse pelas
pontas, onde tinha “menas gente”.

Aqui eu não preciso nem explicar nada. Basta eu dar uma


ordem e pronto. A ordem é esta:

NUNCA USE MENAS. MENAS NÃO EXISTE.

Pronto. Simples. Use sempre menos. Ficou em dúvida?


Ponha menos. Continua com dúvida? Ponha dois menos,
três menos. Não importa. Só não use menas. Jamais.

Pra não ficar com cara de Dunga por aí.

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“Para de encher meu saco, bicho"

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Essa é para quem adora “falar bonito”. Ou seja: enfiar no
texto alguma palavra ou expressão que lhe pareça
chiquérrima. 1

A nível de capital, nossa empresa está praticamente falida.

Nossa! Deu até um arrepio, de tão chique. Tão


CORPORATIVO. Tão business. Comecei a ler a frase de
pijama e, quando terminei, estava de terno!

Pois é. Mas está errada. E, na real? É brega. Igual a o


mesmo. Se você notar bem, a nível de aí na frase não quer
dizer nada. Não está explicando ou especificando alguma
coisa. Não está enfatizando nada.

1
O certo é chiquíssima, mas não estou nem aí. Mil vezes prefiro “chiquérrima.”

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Você aí, ***arrasando***

Está… sobrando. Só para o sujeito que a escreveu se exibir


(mal).

Vamos simplificar as coisas — e melhorar a frase?

Nossa empresa está praticamente falida, pois não temos


capital.

A nível de gerência, conseguimos nos virar.


Em relação à/em se tratando da gerência, conseguimos
nos virar.

A nível de não existe, verdade. Sabe o que existe? Ao nível


de. E nós a usamos para indicar altura. Como em “Cidades
costeiras ficam ao nível do mar…”

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Um é de pobre, o outro é de rico. Sqn

Muita gente acha que esse é mais informal, mais povão e


gente como a gente. O este seria seu irmão mais culto;

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mais chique. Para ser usado em ocasiões formais, solenes.
Em provas, documentos e tudo o mais.

Balela.

Este e esse servem para basicamente três coisas


diferentes: 1) indicar a posição de algo físico; 2) indicar
tempo; 3) informar o leitor se algo já foi dito ou ainda será
dito.

Vamos por partes.

Posição de algo físico:

“Curtiu ESTE meu computador?”

Usamos o este para indicar algo que está perto de quem


fala.

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O belo e potente computador está perto do sujeito de
vermelho. Então ele precisa usar este.

Usamos o esse para indicar algo que está perto da pessoa


com a qual falamos:

Napoleão Bonaparte passa de cavalo em frente ao


barzinho, vê um daqueles risoles gordurosos na estufa,
aponta-lhe o dedo e pergunta ao garçom: esse salgado aí
é o do quê?

Certíssimo. O salgado, afinal de contas, está perto do


garçom. Da pessoa com quem ele está falando.

Para indicar tempo:


Usamos este(s) para indicar o presente. Para se lembrar,
é fácil.

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EsTE para o presenTE:

Errou duas vezes: 1) vai, sim, ter o Enem; 2) o certo é “neste ano”.

Este ano de 2021 está sendo casca grossa. Deus me livre!

Só que muita, MUITA gente erra nisso:

Usamos esse(s) para indicar ou um passado próximo. Para


se lembrar, é igualmente fácil. Esse é para o passado.

Nessa última semana eu me lasquei.

Musa Joelma: a Lua te traiu, mas você nunca errou. “Esse dia"
para o passado. Top, certíssimo.

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Para deixar o leitor sabendo se algo já foi
dito, ou ainda será dito:

Este nós usamos para APRESENTAR alguma coisa que


ainda não foi dita. Algo que ainda não tinha sido dito, e o
leitor desconhece:

Este é o problema: só fui estudar português depois de velho!

Esse nós usamos para RETOMAR algo que já foi dito às


claras. Que o leitor já conhece.

Errrroooooooooooou — já sabemos qual é o problema. O certo


seria esse

Só fui estudar português depois de velho: esse é o problema!

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Respira, que vou deixar a coisa ridiculamente simples, tá?
Se antes de “segunda” houver um de, crase pra quê? Tipo
aqui:

Atendemos de segunda a sexta.

É assim. Limpo, liso, cheiroso e sem crase. Porque temos


o de ali no começo. Mas se houver antes de segunda um
da, crase haverá:

A promoção vai rolar da próxima segunda à sexta.

Tem o da? Mete a crase sem dó. Agora, antes que você
venha choramingar e reclamar sobre “exceções”, já deixe
eu tirar seu cavalinho da chuva. Não é exceção nenhuma.
As duas frases dizem coisas diferentes.

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Na primeira, estamos generalizando. Atende-se TODAS
as segundas, passando por todo o resto dos dias até
TODAS as sextas-feiras. Na outra, uma segunda e sexta-
feira específicas foram marcadas.

A resposta que todo aluno AMA: “depende"

Todo mundo que sabe português, depois de ler isso

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Regra: antes de se ou quando, os verbos pôr, ver e
manter transformam-se em puser, vir e mantiver.

Se eu pôr a mão no fogo…

E se eu puser a mão no fogo por você?


Quando eu puser a mão no fogo por você, vou me arrepender?

Quando eu vir meu pai de novo…

Se eu vir você na rua, vou partir para a porrada.


Quando eu vir meu pai, vou dar nele um abraço apertado!

Se eu manter esse cachorro, estou lascado.

Leva esse cachorro embora. Se eu o mantiver aqui, vou ter


problemas.

Quando eu mantiver com segurança os filhos que tenho, penso


em outros.

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Repita comigo: é pode vir. É vai vir. É deve vir. É tem de
vir.

O único caso em que você vai usar vim com o verbo vir é
quando estiver falando de si mesmo, e no passado.

Eu vim para cá ontem, mas não tinha ninguém em casa.

Em todos os outros casos… use vir.

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Cemitério de professores que morreram só nos últimos 20 segundos,
cada vez que alguém falou "pode vim ou vai vim ou deve vim"

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Meu xará vacilou na letra — mas foi de
propósito

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O verbo haver já indica passado. Sozinho. Ocorre que
atrás também indica — veja, que coincidência! — passado.
Opa, temos algo sobrando. É como se disséssemos “no
passado que se passou”, ou “no passado de antigamente”.

Raul Seixas, quando escreveu a icônica letra “Eu nasci há


dez mil anos atrás” já sabia que tinha algo sobrando,
obviamente. Ele repetiu as duas palavras tanto para
enfatizá-las quanto para encaixar a letra na melodia. É a
tal da licença poética de que tanto se fala por aí.

Mas você não é o Raul Seixas. Você não tem licença


poética, aquieta o facho. Eu também não. Com ele, só
compartilho o nome e a barba.

Logo, o recomendável para a gente é usar ou há, ou atrás.


Se usar um, arranque o outro. E vice-versa.

Eu nasci dez mil anos atrás.

Eu nasci há dez mil anos.

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A pronúncia de alguns substantivos terminados em o
muda, assim que os colocamos no plural.

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Teimôso vira teimósos;
Corajôso vira corajósos;
Amistôso vira amistósos;
Tijôlo vira tijólos;
Ôsso vira óssos;
Esfôrço vira esfórços;
Ôvo vira óvos;
Miôlo vira miólos;
Jogo vira jógos;
Impôsto vira impóstos;

E ôlho, bem, vira ólhos.

Ufa! Agora este horrendo punhado


de erros vai se tornar um arsenal de
PORTUGUÊS ESCORREITO, CHIQUE E
CULTO PARA ESFREGAR NA CARA
DAZINIMIGA.

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