Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
pág. 42
A beleza e a força de um
rio podem nos dar a falsa
impressão de abundância
Irritação
O texto da matéria de capa Mais Paz
e Menos Irritação, sobre esse senti-
mento que nos aflige, está fantásti-
co como sempre. É impressionante
como, ontem mesmo, eu fiquei irri-
tada no trânsito e cheguei em casa
pensando em como não me deixar
invadir por esse sentimento a partir
Envie comentários
dos ensinamentos da reportagem.
e sugestões pelo e-mail
— Hellen Haga
vidasimples@
maisleitor.com.br,
Aikido
com nome completo,
Gostaria de parabenizar a jornalista
profissão e cidade
e autora Liane Alves sobre a aborda-
gem do texto Mais Paz e Menos Irri-
tação, que ilustrou a capa da última
edição. A reportagem levanta diver-
Para consultar
sos pontos em que podemos agir de
edições recentes,
forma tranquila para evitar a irrita-
acesse nosso site:
ção. Um ponto abordado é o Maai,
vidasimples.uol.com.br
um pequeno intervalo de tempo en-
tre duas ações. Esse recurso é muito
utilizado no aikido. Entretanto, gos-
taria de corrigir a informação de que
Ou ainda participe
o aikido é uma arte marcial chine-
de nossas redes sociais
sa. A origem, na verdade, é japone-
FACEBOOK revistavidasimples
sa. Foi criada e desenvolvida no Ja-
INSTAGRAM vidasimples
pão pelo O-Sensei Morihei Ueshiba
TWITTER @vidasimples
(1883 - 1969). Sou praticante dessa
arte, e um dos motivos pelo quais co-
mecei foi por perceber a não violên-
cia nela. E isso muito contribui para
lidar com a irritação.
— Luis Gustavo Hidalgo
Sentimento abafado
O editorial da Ana Holanda falou di-
reto comigo. Quando me irrito com
pessoas, com o comportamento de-
las, faço esse mesmo exercício. Na
maioria das vezes percebo que o que
me incomodou foi algo que reflete
minha própria fraqueza. E daí surge
a necessidade de lidar com isso tam-
bém. Dói, mas fortalece.
— Melissa Bertuzzi
Emoção
Há algum tempo, tenho percebido
uma pré-disposição em me emo-
cionar, pela manhã, lendo as re-
portagens de vida simples. Basta
ler e meu coração amolece no mes-
mo instante. Hoje tive a percepção
@blogdabru @karynnebossolani @lauracboni
de que me emociono não pelo fa-
to de ser de manhã ou de tarde. O
que causa isso é o carinho, cuidado
e amor com que a revista é prepara-
da. Esses sentimentos chegam até
nossos corações, por isso leio e con-
tinuarei lendo essa publicação, que
me dá um prazer imenso em fazer
uma pausa no meu dia, abri-la e me
@kellysantolini @eterea_world @manuelabarreiros
emocionar. As pessoas que fazem
esta revista, com certeza, deixam o
mundo de todos mais leve e conse-
guem trazer páginas contaminadas Dilemas Evoluir
com essa energia gostosa. A seção Dilemas (uma paceria entre O melhor da revista vida simples é
— Luma Oquendo vida simples e a The School of Life) que não é uma publicação de autoa-
está maravilhosa! Assim como toda juda. Os textos falam sobre manei-
Gratidão a edição. Leio bem devagar para não ras de enxergar o mundo, as pesso-
Já li vida simples em fases diferen- demorar para chegar ao fim. as, as situações, e a partir daí é que
tes da minha trajetória. No entanto, — Rafael Borba começa o processo de se entender
há pouco mais de um ano, as maté- e/ou entender o outro. vida sim-
rias têm me feito muito bem, são te- Achados ples me faz, todos os meses, rir e
rapêuticas. Gratidão por vocês se- Adorei a entrevista com o escritor e também chorar. Mas ela consegue,
rem tão sensíveis e lindos com o poeta Zack Magiezi, na última edi- principalmente, me ajudar a evoluir
mundo ao fazerem uma revista tão ção de vida simples. Ele sabe como em minha trajetória e também a me
especial para todos nós. desvendar a alma. transformar a cada dia.
— Rosa Fonseca — Daniela Mendes Araujo — Camila Araújo
Aprender brincando
Blocos de montar ao estilo Lego se transformam em alfabeto braille para
ajudar crianças com deficiência visual a ler e a escrever
De portas
abertas
Com base na confiança e na paixão
por pessoas, Bruna já acolheu mais
de 100 estrangeiros em sua casa
b
Plante na bike
agOra vOCê pode
levar flores ao passear
de bicicleta. A ideia de
criar pequenos vasinhos
acopláveis ao guidão
da bike é da designer
americana Colleen
Jordan, cujas peças são
feitas em impressoras
3D. “O processo é
iniciado digitalmente.
Depois, os arquivos
são levados para uma
impressora e finalizados
à mão”, conta Colleen.
Os delicados acessórios
Eu escuto você
podem ser comprados
na loja virtual dela.
Couro de folha
de abacaxi
b
pode ser usado
em diversos
De mudança
acessórios
qUem bUsca uma
nova cidade para
morar se depara com
muitas variáveis, que
devem ser levadas em
conta. O Teleport é um
aplicativo que promete
facilitar essa procura:
ele compara custo de
moradia, salário médio,
qualidade de de vida e
outros aspectos em mais
de 150 locais do mundo.
Para isso, basta que você
responda a algumas
perguntas. O aplicativo
absorpLate | http://bit.ly/1TiYdob
Pássaros em pintura
Artista desenha aves em muros da cidade londrina para chamar a
atenção das pessoas sobre o risco de extinção das espécies
Muitas aves podem, literal- o artista londrino ATM vem pintan- de cada espécie retratada. Ele acredi-
> mente, deixar de existir. Isso
pode acontecer pela modificação de
do belos e expressivos retratos desses
pássaros nos muros da cidade. “Mi-
ta que a arte deve ter uma função so-
cial e trabalha para que isso influen-
seu habitat, convertido em regiões nhas pinturas são uma celebração cie o poder público a tomar medidas
mais urbanas, ou pelas mudanças das aves, uma maneira de lembrar para evitar o fim de mais espécies.
climáticas, que causam efeitos desas- quem viveu aqui”, diz. Em seu site,
trosos na natureza. Para alertar sobre ATM divulga as imagens de suas pin- ATM
o desaparecimento de algumas aves, turas e também fala sobre a condição http://atmstreetart.tumblr.com
b
Existe amor
em SP
se os olhares
pudessem ver a cidade
para além do cimento,
carros e pessoas indo e
voltando, quais histórias
seriam resgatadas?
Para falar disso, o
projeto Comum A2, do
casal Carolina Sab e
Thiago Domingues, faz
intervenções poéticas
em São Paulo através de
cartazes estilo lambe-
-lambe. Por mais cor
e menos cinza, mais
Designer holandês cria aparelho enterrado no solo que não necessita Comum a2
de energia elétrica para conservar e manter frescos os alimentos www.facebook.com/
comumadois
Não é preciso energia elétri- dependente”, diz Floris. Vencedora
> ca para que a geladeira criada
pelo designer holandês Floris Scho-
de um prêmio holandês de design no
ano passado, a Groundfridge não é só
openderbeek seja capaz de conservar uma opção diferente para economi-
os alimentos. A Groundfridge é fei- zar energia. É também uma alterna-
ta para ser usada no subsolo, e, nes- tiva para quem vive em lugares onde
sas condições, o próprio solo regula a energia elétrica ainda não chega.
a temperatura. “Ela é um meio para
quem deseja lidar com a sua comi- GrouNdfridGe
da de um jeito mais autônomo e in- http://bit.ly/1X2lOKp
Tarde de sábado. Você está esparramado no Mais Forte do que Nunca (Sextante), Brené vai
sofá, ainda de pijama, com um balde de pipoca até o chão e conversa de igual para igual. “Estou
e assistindo ao mesmo filme pela enésima vez, aprendendo que o processo de lidar com a dor e
apesar do dia ensolarado e do convite para en- superá-la tem tanto a nos oferecer quanto o de
contrar os amigos. É que a vida lá fora parece agir com coragem. É na hora de recuperar a es-
seguir um ritmo dissonante do seu. Além dis- tabilidade emocional em meio às dificuldades
so, você está machucado, frustrado, se sentin- que nossa coragem é testada e nossos valores
do um fracasso. Os motivos que o levaram para são forjados. Dar a volta por cima depois de uma
esse lugar podem ser variados: o fim de um rela- queda é a maneira de cultivar uma vida plena,
cionamento (longo, intenso ou que deveria ser além de ser o processo que mais ensina sobre
“para sempre”); uma demissão ou aquela pro- nós mesmos”, escreve nas primeiras páginas e
moção que não aconteceu; a aposta no próprio já adiantando muito do que o livro traz. Ela mes-
negócio que ruiu e onde você havia apostado to- ma, inclusive, conta algumas de suas quedas, o
das as fichas; ou a sua decisão errada que afetou que sentiu em cada uma delas e como conseguiu
uma porção de gente. Levar um tremendo tom- sair da situação colecionando bons aprendiza-
bo, cair com a cara no chão e não saber como se dos – e essa abertura para expor seus fracassos,
reerguer acontece com todo mundo, mesmo! por si só, já é linda.
Mas como encontrar forças para se levantar?
Pois é, esse é o problema. Não sabemos ou ten- Vamos falar sobre isso?
tamos nos levantar de maneira tão brusca que Brené Brown dedicou mais de dez anos de sua
a próxima queda pode vir logo em seguida. En- carreira para pesquisar, pela Universidade de
tender como é possível seguir em frente depois Houston (EUA), a vulnerabilidade ou por que
de um tombo da vida foi o mote do último livro fugimos de emoções como medo, mágoa, de-
da pesquisadora americana Brené Brown – e que cepção. Ela se tornou mundialmente conhecida
chegou há pouco mais de um mês por aqui. Em depois que falou sobre isso no TEDxHouston,
conferência que tem como objetivo dissemi- que criou uma organização chamada, veja só,
nar boas ideias, em 2010. A palestra já foi assis- Fail Forward (Fracasse para a Frente, em tra-
tida por mais de 25 milhões de pessoas e está dução livre). O trabalho de Ashley é ajudar pes-
entre os maiores sucessos do TED. Seu último soas e empresas a expor seus fracassos. Segun-
livro, Mais Forte do que Nunca, é um desdobra- do ela, é através dessa aceitação – sim, nós fa-
mento dessa ampla pesquisa sobre a vulnera- lhamos, erramos, nos demos mal em relação
bilidade. Nele, ela esmiúça nossos tombos e, já às nossas escolhas – que vamos conseguir sair
nas primeiras linhas, revela algo que faz mui- de tudo isso mais fortes. No caso das empresas,
to sentido: não sabemos como lidar com nos- é uma forma de chegar à almejada inovação.
sos fracassos porque não falamos sobre isso. Por Ashley percebeu, na prática, que, quando um
exemplo, quando lemos ou tomamos conheci- líder assume seus erros, em vez da temida cha-
mento de histórias de superação, em geral, fica- cota, recebe em troca uma equipe mais próxi-
mos com a impressão de que todo mundo cai, ma que percebe ali não um chefe infalível, mas
mas sempre se levanta num passe de mágica. É uma pessoa como eu e você. E isso muda tudo.
a história de alguém que emagreceu muitos qui- Ashley ajudou a fundar um site bem interessan-
los, com imagens do “antes” (uma foto no seu te, o AdmittingFailure.com (admita seu fracas-
pior ângulo) e “depois” (feliz e bem-vestido). so), no qual é possível compartilhar casos de in-
Mas ninguém sabe como foram os dias em que sucesso e as lições tiradas de cada um deles.
aquela pessoa quis colocar tudo a perder; como Os tombos que levamos por aí são também
se sentiu solitária em meio ao desânimo ou on- o mote do livro da americana Sarah Lewis O
de buscou energia para seguir em frente com as Poder do Fracasso (Sextante). “Com certo dis-
mudanças na alimentação, seu esteio emocio- tanciamento crítico, somos capazes de ver que
nal, e no estilo de vida. Trazendo isso para mais muitas de nossas conquistas mais grandiosas
perto, sabe aquele seu amigo que era diretor de – desde descobertas recentes do Prêmio No-
uma multinacional e foi demitido? Pior, depois bel, passando por clássicos da literatura, das
de meses de incerteza, ele conseguiu um novo artes plásticas e da dança, até empreendimen-
emprego, só que em um cargo e com um salá- tos inovadores, revolucionários – foram, na ver-
rio menor (mas a gente não deveria sempre an- dade, não proezas revolucionárias, mas corre-
dar para a frente?). Certamente nem você – nem ções graduais, ajustes incrementais, com base
ninguém – conversou com ele. Como sobreviveu na experiência adquirida depois do disparo da
à incerteza? E o que está sentindo agora: frustra- flecha anterior”, escreve Sarah. Ao longo dos
ção, mágoa? Ninguém sugere algo como: “Quer capítulos, ela conta casos reais de fracasso, que
conversar sobre isso? Estou aqui para ouvi-lo...” ela prefere chamar de aprendizado ou aprimo-
Provavelmente, nem o amigo nem você vão se ramento (e talvez esteja certa em fazer isso). O
sentir à vontade com esse diálogo. mais bacana é que ela lança um olhar humano
Ninguém está imune ao fracasso, a cair em relação aos nossos tombos, dizendo, por
com a cara no chão da vida e machucar doloro- exemplo, que falhar pode ser o fim de algo ou o
samente a alma. Todo mundo pode passar por início de possibilidades infinitas. E é essa forma
isso – incluindo eu e você – muitas e muitas ve- de encarar as coisas com compaixão, aceitação
zes ao longo da jornada. A questão é que existe das fraquezas e erros – e da gente ser quem real-
uma diferença enorme entre aprender com es- mente é – que nos torna aptos a superar fases as-
se momento e sair dele mais forte ou fingir que sim como pessoas, e não como heróis.
o tombo não doeu e passar o resto dos dias usan-
do curativos para estancar o sangramento (so- Medo do quê?
mos craques em camuflar a dor). A americana Brené Brown costuma dizer que
“Nada é perfeito, mas é possível usar nos- quando caímos somos tomados pelo medo: do
sas inevitáveis falhas para inspirar a inovação.” lugar onde fomos parar (perde-se o chão), de ex-
É isso o que acredita a canadense Ashley Good, por nossas falhas e imperfeições. O psiquiatra
e professor de psicologia da PUC-SP Alexan- currículos até perder a conta de quantos. Depois
dre Saadeh explica o que acontece nesses mo- de muito esperar por uma resposta positiva, par-
mentos de crise. “Saímos da zona de conforto ticipar de infindáveis entrevistas e ouvir sempre
para um lugar onde tudo se perde. É difícil não o mesmo “não”, sentiu-se profundamente aba-
sentir seu impacto, porque é uma situação de lada, mesmo contando com o apoio do marido.
perda. Lamentamos pelo que estava garantido, “Passei a acreditar que eu não sabia fazer nada.
que era uma certeza e foi perdido.” E comple- Me esforcei para pagar por todo aquele conhe-
ta: “É natural lamentar por aquilo que se per- cimento e ele agora não servia para nada. Acre-
deu, mas é necessário buscar um novo lugar, ter ditei que tudo havia sido em vão”, conta.
a disponibilidade de arriscar outras possibilida- Sentimentos como os descritos por Gabi são
des. É nessas horas que medimos a capacidade bem normais. Quando fracassamos – ou quando
que temos de nos adaptar a situações novas, de algo não sai exatamente da maneira como ima-
fazer uma reavaliação e mudar”. ginávamos – a sensação é de que “somos” aqui-
Quando caímos é como se alguém apagas- lo: um grande fracasso. E é nesse momento em
se todas as luzes e tivéssemos que tatear um ca- que tudo parece péssimo que precisamos com-
minho desconhecido na escuridão. O psicólo- partilhar nossos sentimentos com outras pes-
go americano Timothy Butler, da Universidade soas. Pode ser com alguém da família (cônjuge,
de Harvard, escreveu sobre isso em Como Sair irmão, primo querido) ou um amigo próximo.
do Impasse: Como Transformar Crises em Opor- Um terapeuta também pode ajudar nessa fase.
tunidades (Campus). “Temos a sensação de que Recorrer à espiritualidade é outra alternativa
a vida está fluindo ao nosso redor, mas que so- de grande valia. E isso não se restringe a uma
mos como uma rocha em um rio, ansiando pa- crença religiosa. A espiritualidade de que esta-
ra sermos levados e transformados pela energia mos falando é aquela que alimenta a alma. Tem
do rio. Quando estamos presos em um impasse, gente que encontra esse refúgio para o espírito
esquecemos que a próxima coisa que nos des- em uma atividade esportiva, como a corrida, o
pertará e nos energizará profundamente já es- ciclismo, uma arte marcial, ou em outras varia-
tá em movimento, se deslocando na direção de ções, como a jardinagem, a pesca, a pintura, a
nossa consciência. Quando atingimos um be- culinária. Cada um sabe o que traz calma para a
co sem saída, algumas vezes deixamos de per- mente e aconchego para o coração.
ceber que se trata de uma crise necessária. Sem A americana Julie Powell, protagonista de
ela não podemos crescer, mudar e, mais cedo Julie & Julia (Record), que depois ganhou ver-
ou mais tarde, viver plenamente em um mun- são para o cinema, encontrou na cozinha seu re-
do mais amplo”, explica ele. fúgio para entender o que havia dado de errado
Essa sensação foi experimentada pela em- em sua vida. Num momento de profunda insa-
presária e designer digital Gabriela Rodrigues, tisfação com a carreira – ela se sentia um com-
há dois anos. Como qualquer estudante, ela co- pleto fracasso, principalmente em comparação
meçou a faculdade cheia de empolgação, certa às amigas –, decidiu refazer, receita por recei-
de que assim que colocasse as mãos no diploma ta, o livro da incrível culinarista Julia Child, que
pelo menos uma grande empresa reconheceria teve papel importante na gastronomia ameri-
seu talento e lhe daria um bom cargo. Antes do cana. A comida, nesse caso, a salvou. Mas não
que pensava conseguiu um estágio na área de pense que foi algo fácil no estilo “do fracasso ao
criação em uma das maiores editoras do país. sucesso”. No meio do percurso, ela teve várias
Mas sua alegria acabou junto com a graduação. outras quedas, com direito a lágrimas e crises:
Gabi foi demitida porque a empresa estava pas- o casamento ficou por um fio, teve algumas de-
sando por cortes. E ela engrossou, de uma ho- cepções consigo mesma e com os outros, e pre-
ra para outra, a rotina de milhares de brasileiros cisou enfrentar seu medo de começar o proje-
que procuram emprego todos os dias. Durante to de cozinhar e escrever um blog, onde posta-
um ano, usou todas as suas manhãs para enviar va suas experiências ao preparar as receitas.
Trajetória não muito diferente foi a da tam- levam diretamente ao desespero. Por sua vez,
bém americana Cheryl Strayed, registrada no o desespero dá um nó nos pensamentos e tira a
best seller Livre (Objetiva). Aos 22 anos, a mãe, nossa capacidade de refletir em relação às ati-
a pessoa mais importante de sua vida, mor- tudes, sentimentos e escolhas. “As pessoas são
reu após um câncer devastador. Cheryl se viu criadas com a ideia de que tudo vai continuar
sem chão. Mas ao invés de procurar apoio, se garantido, que a segurança nunca vai faltar. Is-
fechou e optou por não expor a dor. Acabou se so é ruim, porque sempre vai acontecer alguma
afastando da família e do marido, de quem se coisa para nos desestabilizar. Quando levanta-
separou depois. Aos 26, estava sozinha e em mos da cama e saímos, já estamos expostos a
um poço bastante fundo. Foi quando decidiu, riscos. Ou nos arriscamos ou nos contentamos
como última cartada, percorrer a Pacific Crest com a vida do jeito que está. Ou acreditamos na
Trail (PCT), uma trilha de 1.770 km, sozinha. nossa capacidade de escolher ou seremos sem-
Ela acreditava que na solidão iria conseguir en- pre aquela figura frágil, que a vida escolhe o que
contrar as repostas que buscava. Sim, ela ficou quer”, afirma Alexandre Saadeh.
só em muitos trechos, enfrentou momentos de Lembram da Gabriela Rodrigues, a desig-
dor física e emocional. Também pagou o preço ner cuja história foi compartilhada na página
por suas decisões equivocadas, da mochila pe- anterior? Ela se sentiu fracassada por algum
sada ao tênis apertado, mas foi com as pesso- tempo e também envergonhada. Mas soube
as que conheceu pela trilha que aprendeu mais buscar ajuda – o marido foi incrível nisso e os
sobre a PCT e sobre si mesma. Ou seja, para se amigos também –, expor suas fraquezas e traçar,
reerguer é preciso silenciar para ouvir onde dói aos poucos, uma nova rota. Voltou ao passado e
ou perceber em qual direção o caminho aponta. ao passatempo antigo de fazer trabalhos manu-
Para Cheryl foi a diferença entre passar a vida ais para presentear pessoas queridas e enxergou
olhando para o chão, se sentindo a pior pessoa ali uma oportunidade. Procurou a ajuda do Se-
do mundo, ou para a frente e perceber que o uni- brae, fez cursos diversos e optou por algo bem
verso é bem mais amplo, cheio de estrelas e de familiar em tempos de instabilidade econômi-
possibilidades de estradas para trilhar. ca: montou um negócio próprio, uma loja virtu-
al onde vende objetos decorativos produzidos
Silenciar para ouvir com materiais reutilizados, como garrafas, CDs
A psicóloga e escritora americana Barry Stevens e discos de vinil. Em poucos meses de ativida-
é autora de um livro conhecido mundo afora, de, já participou de feiras de rua, foi convidada
Não Apresse o Rio – Ele Corre Sozinho (Summus). para oficinas e exposições e recebe encomendas
Nele, ela se utiliza da citação zen que dá título a pelo site e redes sociais. “Me senti capaz de no-
obra para falar sobre algo que precisamos apren- vo, embora a parte financeira ainda não esteja
der e que cabe muito bem aqui: “Deixar-se ir equilibrada. Mas estou pessoalmente realizada.
junto com a vida, sem tentar fazê-la ir para al- Às vezes fico frustrada quando não vendo co-
gum lugar, sem tentar fazer com que algo acon- mo gostaria, mas transformo o desapontamen-
teça, mas simplesmente ir, como o rio. E, sabe, o to em aprendizado”, diz. Não existem garantias
rio, quando chega nas pedras, simplesmente se de que o negócio de Gabi vai dar certo. Se, por
desvia, dá a volta. Quando chega a um lugar pla- acaso, as coisas desandarem, ela com certeza já
no, ele se espalha e fica tranquilo. Simplesmente saberá lidar com a situação com mais sabedo-
vai se movendo junto com a situação em torno, ria. Ela, afinal, aprendeu algo que boa parte de
qualquer que seja ela”. Uma das inspirações de nós derrapa para compreender: perdemos tem-
Barry foi observar como os índios americanos po demais evitando nossas histórias difíceis, do-
extraíam das dificuldades recursos internos pa- res e fracassos. E não percebemos que são exa-
ra se desenvolver como pessoas e para aprimo- tamente os ensinamentos dos caminhos mais
rar o trabalho. É preciso calma e também con- complicados que nos trazem força para chegar
fiança nos movimentos da vida. As crises nos aonde desejamos, de verdade. ƒ
A busca pelo
nosso melhor
Entender o significado original dos Jogos Olímpicos é
resgatar a nossa humanidade. É isso o que acredita a especialista
Katia Rubio, que mergulhou nas histórias desses atletas
TEXTO Ana Holanda
Os JOgOs OlímpicOs, da cerimô- das grandes especialistas do país em a estudar psicologia. Me interessei
nia às competições, têm uma rela- Olimpíadas. Em uma sala da univer- pela psicologia do esporte e me de-
ção muito próxima com a nossa es- sidade, ela conversou sobre uma de parei com algo que estava a servi-
sência e condição humana. “O atle- suas paixões: os Jogos Olímpicos. A ço de um rendimento que não é hu-
ta olímpico simboliza a busca pelo outra paixão, descobrimos naquele mano. Foi uma luta bastante gran-
nosso melhor. Temos que nos espe- mesmo dia, é a jardinagem. Mas is- de, porque eu sempre me preocupei
lhar nele”, conta Katia Rubio, que so é assunto para outro dia. em ver a pessoa como ela é, e não co-
dedicou quase duas décadas a en- mo uma máquina (Katia foi uma das
tender o que faz um atleta se tornar Como surgiu seu interesse pelos Jo- fundadoras da Associação Brasilei-
olímpico. Para isso, ela ouviu quase gos? Desde criança gosto de Jogos ra de Psicologia do Esporte). Depois
2 mil esportistas e encontrou histó- Olímpicos. A primeira edição olím- que a associação já estava em pé, fui
rias encantadoras, tocantes, huma- pica de que me lembro foi a de 1976, atrás da leitura simbólica das coi-
nas. “São trajetórias que podem ser em Montreal (Canadá). Eu fazia gi- sas. Em 2001, meu tema de douto-
comparadas à de um herói mítico”, nástica olímpica e, quando via (ro- rado foi sobre o atleta e o mito do he-
diz. Foi por meio dessa teoria, ali- mena) Nadia Comaneci (da ginás- rói. E, nos últimos 17 anos, fui enten-
ás, que conhecemos Katia, durante tica olímpica) fazendo o que fazia, der, pelas histórias dos atletas, qual
uma palestra no Path, um festival de eu chorava, porque sabia que nun- a motivação para que aquela pessoa
ideias que aconteceu em maio, em ca seria igual. Pratiquei esporte a se tornasse um esportista.
São Paulo. Katia tem currículo ex- vida inteira. Eu era muito elétrica e
tenso, é formada em jornalismo, psi- a atividade física me ajudava a dar Quem é o atleta brasileiro? Ele é a
cologia, tem mais de 22 livros publi- vazão a essa energia. Prestei vesti- encarnação do mito do herói. É al-
cados e hoje é professora associada bular para educação física, mas não guém, muitas vezes, extremamen-
da Escola de Educação Física e Es- fui aprovada. Na sequência, fui fa- te determinado, que segue em fren-
portes da USP e considerada uma zer jornalismo e anos depois voltei te sem se dar conta do que acontece
ao redor, e também tenaz. É essa te- anos, a vida dele se decide em um dele) descontava esses dias das fé-
nacidade que faz com que um sujei- dia, e ele não pode errar. Só perce- rias do garoto. O André treinava no
to mirrado seja capaz de carregar o bemos o momento em que está re- horário do almoço e depois do expe-
que os grandes garanhões não carre- cebendo a medalha. É fugaz. Para diente. Ou seja, mesmo sendo her-
gam. Ele tem a inteligência e a pers- o público, só fica esse lado glorioso. deiro de uma das maiores fortunas
picácia de um herói como Ulisses, do país, ele ralou tanto quanto qual-
que vai dando nó em pingo d’água Qual é a consequência de só olhar- quer atleta. O fato de você ter con-
para poder chegar ao seu destino. E mos para o momento da premia- dições de ter um barco ou um cava-
possui a matreirice do Macunaíma ção? É perder a referência da nos- lo não significa que vai se tornar um
e o romantismo de Peri, que canta a sa humanidade. Não somos produto atleta de modalidades que necessi-
beleza de um país tão diverso. de um momento, mas de uma histó- tem de um cavalo ou de um barco. É
ria de vida. A medalha coroa o esfor- preciso ter algo a mais, interno, que
Mas o que torna um esportista um ço. Mas precisamos olhar para o que lhe dê condições para enfrentar um
atleta olímpico? O atleta só chega a está além daquele retrato. O atleta é treinamento duro. É preciso enfren-
ser olímpico se treinar muito, se ma- um ser notável, e isso independe de tar os Doze Trabalhos de Hércules.
tar um leão por dia. E, na época da classe social. Por exemplo, o André Ou seja, é na dificuldade da jorna-
fotos matheus matta/divulgação
competição, tem que matar mais de Bie Gerdau Johannpeter, presiden- da, no dia a dia do treinamento, que
um leão por dia, porque às vezes ele te da metalúrgica Gerdau, foi atleta reside o espírito olímpico do atleta.
define sua história em um dia. No ju- olímpico (ganhou duas medalhas de E isso não há dinheiro que compre.
dô, por exemplo, há apenas um dia bronze no hipismo, em Atlanta, em
de luta. Ele precisa passar por qua- 1996). Ele começou a trabalhar na Você costuma dizer que estamos
tro a cinco lutas apenas para chegar fábrica do pai aos 14 anos. E, quan- vivendo uma perda do significado.
à medalha de ouro. Ou seja, depois do queria participar de uma compe- Poderia falar sobre isso? O processo
de treinar 10 mil horas ao longo dos tição e precisava viajar, o Jorge (pai de profissionalização do esporte,
que aconteceu na década de 1980, de ser uma luta contra si mesmo pa- isso que em Olímpia, na Grécia, on-
transformou o significado do espor- ra ser a obtenção do resultado que o de nasceram os Jogos, ainda é pos-
te olímpico de atividade amadora outro espera de você. sível ver, até hoje, o nome dos ven-
para profissional. Amador, original- cedores das provas do estádio escri-
mente, significa “fazer por amor”. Então esse é o significado original to no local. Todos já morreram, mas
Então, no olimpismo antigo, “fazer das Olimpíadas? Sim. É obter o seu permanecem vivos nessa marca que
por amor” simbolizava não ter qual- melhor. O adversário, na sua condi- deixam pela sua vitória.
quer benefício por essa entrega, que ção essencial, é o meu referencial
era desenvolver uma habilidade, para eu dar o melhor de mim. Por Qual é o grande legado de uma
treinar, competir e ter resultados. A isso que a excelência é um dos va- Olimpíada? As pessoas costumam
profissionalização, portanto, trans- lores olímpicos. Ela não significa a falar que o legado está nas obras,
forma essa relação. E nesse processo vitória a qualquer preço. Mas sim a estádios, na infraestrutura gerada
valem também as regras do merca- busca do ser humano em dar o me- a partir do evento. Mas o verdadei-
do, que quer para si o melhor profis- lhor de si. O treinamento é o traba- ro legado são os atletas olímpicos,
ilustração feita com imagens shutterstock
sional (do esporte). Dessa maneira, lho diário para poder fazer aquele “a que multiplicam o desejo dos seres
muitos interesses do mercado pas- mais” todos os dias e me aproximar, humanos de serem atletas. Não no
saram a reger também o esporte, e a nessa condição heroica, daquilo que sentido literal. Mas o desejo de cada
necessidade de um ótimo resultado me coloca mais próximo da divinda- um em buscar o melhor de si. Atle-
(do atleta) a qualquer preço. Aconte- de. O herói se imortaliza num gesto tas olímpicos como Jesse Owens
ceu, por conta dessa mudança, um em vida. É isso que o aproxima dos (atletismo), Nadia Comaneti, Adhe-
esvaziamento do significado maior deuses. O herói morre porque é fi- mar Ferreira da Silva (salto triplo)
do evento, que era o esportista em lho de um divino com um mortal. E ou Torben Grael (iatismo), mais do
busca do melhor de si mesmo. E os a imortalização dele se dá pela rea- que medalhistas, devem ser fonte
Jogos Olímpicos deixaram, assim, lização de algo que faz em vida. Por de inspiração para todos nós.
Biscoito ou bolacha
Segredos passados de mãe para filha dão forma
aos biscoitos caseiros, que resgatam memórias e
perpetuam a história de um jeito delicado
TEXTO Ana Nejar FOTOGRAFIA Rogério Pallatta
primeira leva, então com 39 pessoas, e sua mãe, Dorli Bartz. O lugar sur-
aportou no Rio dos Sinos e se embre- giu pela insistência dos amigos, pre-
nhou numa terra repleta de banha- senteados frequentemente com bis-
dos e com características adversas coitos cobertos com glacê e cucas
Para esta reportagem, a equipe da redação se propôs a colocar a mão na massa e a compor a cena com objetos próprios.
Os biscoitos de baunilha, acima, foram feitos pela editora Ana Holanda, com a ajuda da filha Clara, de 7 anos
comer
A designer Dandara Hahn optou por preparar bolachinhas de maisena com coco.
Elas derretiam na boca quando mordidas e sumiram do pote, depois da foto, em pouquíssimos minutos
produzidas pela dupla. O negó- gostava de presentear amigos com
cio abriu as portas há quatro anos. essas delícias. Minha filha e meus
“Desde pequena sou apaixonada sobrinhos fazem, desde pequenos,
por gastronomia. O rosto de felici- biscoitos com a avó.” Mas, muito
dade das pessoas que comeram meu além de um negócio que mantém
primeiro bolo ainda está na memó- viva a tradição familiar de confei-
ria”, descreve Nêmora. “Fui pro- tar essas delicadezas, o empreendi-
fessora e coordenadora de curso de mento mostrou a Nêmora que é pos-
hotelaria e acabei no poder públi- sível mudar de rota sempre.
co. Mas não estava feliz. Queria, na
verdade, buscar na infância aqueles Biscoito ou bolacha?
sorrisos que surgiam em quem expe- A divergência é antiga. Nêmora ex-
rimentava meu bolo. Foi quando me plica que, antes da abertura do ne-
dei conta de que eu precisava urgen- gócio, realizou uma pesquisa pro-
temente resgatar aquela menina.” funda. “Uns dizem que o biscoito
A partir dessa inquietação, Nê- é mais delicado e sofisticado”, res-
mora e a mãe pensaram numa alter- salta. Na prática, os dois nomes es-
nativa de negócio: por que não uma tão corretos. A diferença, ao que tu-
loja de biscoitos? “Toda vez que al- do indica, é que o termo biscoito en-
guém experimenta um biscoito na trou primeiro na língua portuguesa
minha frente, percebo a felicida- – e esse é o único critério em que é
de estampada em seu rosto, e isso é possível apontar um vencedor. “Na
impagável”, revela. A trajetória do Alemanha, também existe essa po-
negócio começou com o auxílio do lêmica até hoje: kekse ou plätzien”,
Sebrae. “Logo depois viajei para a compara Nêmora, se referindo às
Alemanha. Essa experiência foi fan- palavras, em alemão, usadas para
tástica e só agregou valor ao produto biscoito ou bolacha.
que temos hoje”, conta Nêmora. Por Existem, no entanto, outras ex-
lá, a descendente de alemães visi- plicações. Há quem diga que a dife-
tou senhoras de comunidades lute- rença estaria no produto final. Am-
ranas, que lhe ensinaram receitas e bos são feitos com massa de fari-
desvendaram segredos sobre os tra- nha de qualquer cereal, com ou sem
dicionais biscoitos alemães (aman- açúcar, gordura ou levedura. Mas as
teigados e cobertos com glacê colo- bolachas, em geral, são secas e pla-
rido ou lindamente confeitados). Na nas, enquanto os biscoitos podem
cidade de Nürenberg, por exemplo, ser secos ou úmidos e com formato
aprendeu a receita do chamado Bo- mais “gordinho”. Há menções, ain-
linho de Amêndoas, doce tradicio- da, sobre os homens das cavernas,
nal e fez, ainda, um estágio de du- que comiam grãos triturados com os
as semanas em uma padaria. “Algu- dentes até que houve a tentativa de
mas receitas eu sigo à risca, outras moê-los com pedra, agregar água e
tive que adaptar. O resultado disso secá-los no fogo por duas vezes, ga-
é a linha de biscoitos ‘brasilidade’, rantindo a conservação por um perí-
que alia técnicas alemãs com ingre- odo maior. Biscoito foi o nome dado
dientes daqui, como o maracujá.” a essa invenção crocante e quebra-
Nêmora conta que a mãe é sua diça. Um pão para durar. A bola-
grande inspiração. “Ela aprendeu a cha é ainda citada como integrante
tradição alemã de fazer biscoitos e nas provisões de viagens desde a
A designer Paola Viveiros, que está à frente da equipe de arte, preparou estrelinhas crocantes.
Tem banana e canela nessa receita, que faz par perfeito com um café recém-coado
Indústrias de Biscoitos, Massas Ali- maquinários – que as amigas Paula
mentícias e Pães & Bolos Industria- Maria Maldonado D’Almeida e Lu-
lizados (Abimapi), foram comercia- ciana Pereira Maciel mergulharam
lizados cerca de R$ 21 bilhões em na feitura dos biscoitos à moda an-
biscoitos por aqui, só no ano pas- tiga. Deu certo. Foi assim que nas-
sado, contra R$ 19 bilhões de 2014. ceu a marca paulista Dona do Doce
“Somos pequenas ainda. Nosso pro- Bolacharia Gourmet, que vende bis-
duto é sazonal e não conseguimos coitos delicados, daqueles que der-
ter uma grande noção da influência retem na boca, tem açúcar na me-
da crise econômica nas vendas. No dida e recheio caseiro, facilmente
entanto, estamos sempre atentas e, reconhecido pelo paladar: doce de
quando percebemos uma queda, lo- leite, goiabada, pistache... O objeti-
go tratamos de buscar uma solução vo da dupla sempre foi, aliás, encon-
e perceber os desejos do mercado. trar a receita perfeita para que, a ca-
Foi assim que lançamos a linha in- da mordida, a bolacha causasse uma
tegral Vovi’s”, conta Nêmora. onda de lembranças da infância de
cada um ou dos doces feitos em ca-
Dona do doce sa. Para conseguir isso, elas recorre-
A versão industrializada é, de fato, ram à mãe e à avó de Luciana, Do-
dominante no mercado. Prova dis- racilda Isabel Pereira Alves, a Do-
so é que dá para comprar um paco- ra (mãe de Luciana), e Maria Isabel
te ou um saco – alguns são vendidos Pereira, ou dona Isabel (avó) – o ne-
a granel – em qualquer mercado ou gócio, aliás, nasceu e funcionou por
vendinha de rua. A facilidade de en- dois anos na casa de dona Isabel.
contrar o produto, com açúcar, con- Hoje, a Dona do Doce possui um
servantes e, muitas vezes, aromati- ateliê onde acontece a produção ar-
zantes além da conta, não intimida tesanal e a venda dos biscoitos, tu-
gente como Nêmora ou Rosana, ci- do feito sob encomenda – já existem,
tada no início deste texto. Pessoas no entanto, algumas lojas itineran-
que percebem na arte de fazer bis- tes, em formato de carrinhos, que
coitos algo mais do que um passa- comercializam as bolachinhas em
tempo ou negócio. A mistura da fa- feiras e lojas voltadas para cerimô-
rinha com a manteiga e os ovos, que nias de casamento. Isso porque a bo-
precisa ser delicadamente assada, lacha, chamada de gourmet, tem se
faz parte da história de cada uma de- tornado uma alternativa para quem
las. E isso a gente ainda não encon- quer fugir do tradicional “casadi-
tra no mercado. Rosana vai além e nho” como lembrancinha pós-ceri-
percebe nesse preparar e assar uma mônia. Uma prova de que, no final
reflexão sobre seus caminhos e des- das contas, os sabores e as histórias
caminhos. “Temos que assar de olho relacionadas às nossas memórias de
no forno, porque biscoito mesmo infância são referências que ajudam
que pouco queimado fica amargo, a compor quem somos. E isso paco-
como tantas coisas na vida quando te pronto nenhum apaga. ƒ
passam do ponto”, filosofa.
fotos divulgação
DILEMA:
AUTOCRÍTICA
POR QUE
SOMOS TÃO
DUROS COM
NÓS MESMOS?
a série dilemas é uma parceria entre a revista vida simples e a The School
of Life e traz artigos assinados por professores da chamada “Escola da Vida”. A
série tem como objetivo nos ajudar a entender nossos medos mais frequentes,
angústias cotidianas e dificuldades para lidar com os percalços da vida.
TEXTO
Débora Zanelato
FOTOGRAFIA
Valdemir Cunha
SE VOCÊ TRABALHA no mercado fi- zindo carnes secas, ovos pochés du- Massimo tinha contratado um
nanceiro, opera na bolsa de valores, ros e massas desmanchadas. Tudo sous chef (o segundo comando na
ou dirige um fundo de investimen- obra da maldade do ponto... Além cozinha) japonês, que estava ali
tos, está cansado do estresse da ro- disso, o molho da carne não pode fi- em um evidente esforço de apri-
tina de oscilações do mercado ou car pronto nem antes nem depois do moramento. Quando voltasse para
da instabilidade da economia e es- que a própria carne atingir o ponto Tokyo, Takahiko Kondo seria con-
tá pensando em largar tudo e fazer perfeito. O suflê não pode desandar. siderado um mestre, e não lhe fal-
algo mais tranquilo, como abrir um É como comprar na baixa e vender tariam convites de restaurantes da
restaurante ou apenas virar cozi- na alta. É preciso estar atento. badalada gastronomia internacional
nheiro – afinal, cozinhar é uma gran- Foi em uma dessas cozinhas, di- que se pratica no Oriente. Trabalhar
de paixão sua –, esqueça. tas perfeitas, com uma estrela na em uma cozinha italiana tem o va-
Se a ideia é fugir do estresse, vo- porta e a segunda quase chegando, lor de um PhD. E lá estava Taka, com
cê não poderia estar indo para um que o jovem chef italiano Massimo seu talento pessoal, acompanhado
lugar menos apropriado. A cozinha Bottura trabalhava, com uma equi- da paciência e determinação samu-
de um restaurante costuma ser um pe também jovem mas já experien- rais, sempre atencioso e silencioso.
lugar tenso nos dias cheios e, nos te. A cidade era Modena, para onde Foi numa noite de sábado que
bons restaurantes, todos os dias são ele voltara depois de uma ótima ex- o acidente, que se tornou famoso,
cheios. O chef recebe o pedido, pen- periência em Nova York. Como ele aconteceu. A casa estava cheia, e tal-
dura em um pequeno quadro de fácil mesmo diz, Modena, na Itália, é a ci- vez um crítico Michelin estivesse no
visualização, ao mesmo tempo que dade dos carros velozes e da comida salão, disfarçado de cliente comum,
grita a ordem para os responsáveis lenta – fast cars and slow food! Foi lá como é do costume do famoso guia.
por cada prato. O que segue é uma que surgiram a Ferrari e o Maserati. Um dos segredos da boa cozi-
coreografia perfeita, em que cada Foi também onde nasceu (Luciano) nha, além da qualidade dos ingre-
um sabe de sua responsabilidade, e Pavarotti e seu inigualável alcance dientes, dos temperos e do talento
a integração tem que ser total. vocal. É lá que se produz o melhor de quem nela trabalha, é sua organi-
A cozinha é o lugar onde mora o queijo grana. E é lá que está uma das zação impecável. Nada pode faltar, e
“ponto”. Aquela combinação mi- melhores gastronomias italianas, nada pode sobrar. A quantidade de
limétrica entre calor e tempo, algo onde o clássico e o moderno se en- produtos disponíveis é calculada pe-
que a maioria das receitas omite, e contram em uma harmonia inespe- la demanda provável, e é importan-
que só pode ser aprendido na prá- rada, cujo sabor confunde e encanta te calcular bem, pois, se faltar, vexa-
tica, depois de muito errar, produ- até os mais exigentes críticos. me, se sobrar, prejuízo.
A noite estava encerrando e tudo uma bronca, impropérios contra a foi colocada sobre essa superfície,
tinha corrido bem até então, quan- desatenção, o desleixo. Mas esse como se tivesse sido quebrada de
do a última mesa fez o último pedi- não é o estilo do chef Massimo. Tu- propósito. A torta que estava inteira
do: duas fatias de torta de limão. De- do o que ele disse foi: “Dire di nuovo, foi quebrada também, e remontada
pois, dois expressos, quem sabe um Taka”(“Diga de novo, Taka!”). com uma precisão artística que en-
limoncello (licor de limão), e pronto, O japonês, que depois contou canta aos olhos antes de ser comida.
mais um expediente seria encerrado que naquele momento tinha pensa- A nova sobremesa ficou belíssima!
comme il faut (como convém). do que por um erro equivalente um “Naquele momento criamos uma
Takahiko, já cansado, abriu a ancestral seu teria cometido haraki- nova sobremesa” – disse Massimo
porta da geladeira das sobremesas ri, repetiu que tinha, simplesmen- depois. A sobremesa aparece hoje
e, com alívio, viu as duas últimas fa- te, derrubado a torta, falando agora no cardápio da Osteria Francescana
tias de torta, esperando para serem em inglês: “I dropped the lemon tart, com seu nome de batismo: “Oops! I
saboreadas. Ao retirar as tortas, en- chef”! “Pois vamos reconstruir a par- dropped the lemon tart”. Para Takahi-
tretanto, o inesperado se fez presen- tir do que temos!”, disse o chef ita- ko, ficou o ensinamento de que de-
te. Uma fatia foi cuidadosamente liano, conhecido por manter na co- vemos aprender com nossos erros,
colocada sobre o prato de sobreme- zinha um clima ameno e cordial, ao acreditar na reconstrução e usar a
sa, mas a segunda, misteriosamen- contrário de muitos dos colegas fa- criatividade para produzir, a partir
te, caiu das mãos habitualmente fir- mosos, que acham que gritar, des- disso, algo ainda melhor.
mes do samurai, ficando a metade tratar os funcionários e jogar pane- Na cozinha, como na vida, valem
no prato e a outra metade espalhada las no chão fazem parte obrigatória a competência, a dedicação e o ta-
sobre a bancada de trabalho. da liturgia. O que se viu a seguir foi lento, mas também a resiliência, a
“Oops! Mi è caduta la crostata al uma fabulosa combinação de lide- criatividade e o empenho. Em qual-
limone.” (“Ops! Derrubei a torta de rança, resiliência e criatividade. quer situação, e em qualquer fase da
limão.”) O que se seguiu foi um si- Para o encanto de todos que assis- vida, depois do “Ops, deixei cair!”,
lêncio profundo. Todos olharam tiram à cena, o chef Massimo rapi- pode vir o “Oba, olha o que eu aca-
para o japonês desastrado, e em se- damente criou um novo prato, uma bei de criar!”. Só depende de você. ƒ
guida para Massimo, o chef italia- nova sobremesa a partir daque-
no. Poder-se-ia ouvir uma mosqui- le desastre. Começou espalhando
nha voando, se houvesse um desses zabaione de limão sobre um prato, EUGENIO MUSSAK já deixou cair muitas
dípteros em uma cozinha imacula- criando uma sensação de algo der- tortas pela vida e afirma que sempre
damente limpa. Todos esperavam ramado por acaso. A torta quebrada fez algo melhor a partir do que sobrou.
Digerindo fantasias
Muitas vezes precisamos de um tempo para conseguir, finalmente,
digerir sentimentos e deixar vir à tona as nossas verdades
SAIO BOBA do cinema, nunca tenho A agilidade de emitir uma opinião Nos dias que correm, opiniões li-
palavras sobre o que acabei de assis- pode ser privilégio de iniciados, por geiras e inabaláveis sobre tudo do-
tir. Se alguém pergunta minhas im- exemplo, deve ser mais fácil para minam mesas de bares, redes so-
pressões, ou pior, espera algum ve- quem tem uma cabeça acostuma- ciais e todo tipo de ambiente social.
redicto sobre o filme, posso até bal- da a essa linguagem. Cineastas e ci- Ninguém pode correr o risco de du-
buciar alguma banalidade cheia de néfilos enxergam detalhes de basti- vidar ou de não saber o que dizer.
exclamações. Se logo se arma al- dores, decifram as cenas como má- Qualquer ideia do senso comum, ou
gum tipo de debate a respeito, aca- gicos assistindo a um espetáculo de mesmo cacos de referências, pode
bo concordando com a última colo- ilusionismo. Porém, creio que tam- servir para livrar-se da inquietação.
cação, mesmo que seja oposta a uma bém eles ficam meio catatônicos Quem está ainda processando o que
que anteriormente pareceu-me bri- quando encontram uma obra que os viveu e percebeu que ainda não sabe
lhante. O sentimento que me domi- impacta. Para os psicanalistas, os so- nem o que pensar se avexa. Quem
na ao acender as luzes é de assom- nhos falam uma língua que lhes é fa- não opina enfaticamente é conside-
bro e confusão. Essa confissão pare- miliar, sabem como enfrentar algu- rado burro ou fraco.
ce estranha para quem me conhece, mas de suas charadas. Porém, dor- No caso do cinema, por exem-
pois canso de participar de debates e mindo estão à mercê das peripécias plo, um filme viaja dentro da nossa
de escrever sobre filmes recém-lan- oníricas como qualquer leigo. mente, encontrando-se com senti-
çados. Quem me escuta ou lê pensa Para o espectador comum, en- mentos e referências a seu bel pra-
que saio do cinema cheia de aprecia- tre os quais me incluo, um filme na zer. O que iremos achar é resultado
ções estéticas e psicanalíticas. escuridão compartilhada com des- da lenta digestão daquela trama que
O momento dos créditos finais é conhecidos é uma experiência da nos envolveu. A voz que finalmente
similar ao lento despertar de um so- qual emergimos desalinhados, com surge, após minutos, horas ou dias
nho, em que tentamos fisgá-lo pe- a maquiagem escorrida, as roupas de elaboração, trará junto algumas
la ponta do rabo, enquanto ele foge amarfanhadas. Para sair precisa- de nossas verdades. É preciso ter co-
sorrateiro para o reino de sombras. mos de um tempinho para pentear ragem para deixar a arte e a fantasia
Em filmes e sonhos estamos frente a as ideias. Os opinantes peremptó- tomarem a palavra em nós. ƒ
uma trama da qual sentimos ter feito rios, aqueles que para quem o vere-
parte, mesmo que saibamos tratar- dicto se ilumina junto com a sala de
-se de uma ilusão. A magia do cine- exibição, são, em sua maioria (ex- DIANA CORSO éautora do livro Tomo
ma depende desse empréstimo do cluindo os especialistas no assunto), Conta do Mundo – Conficções de
sonho: o envolvimento emocional. gente que não se deixa descabelar. uma Psicanalista.
VOCÊ PERDOARIA uma traição? Qual Não é uma questão de trocar pala- tas, usava uma lógica chamada te-
o próximo passo em sua carreira de vras, mas de operar a mente com re- tralema para refutar quatro afirma-
sucesso? Como aumentar a auto- ferenciais mais amplos. Não é tam- ções insuficientes diante da realida-
estima? Quanto amor você sente? pouco o caso de ser chato, de criticar de: é; não é; é e não é; nem é nem
O quanto é saudável ceder no casa- ou de discordar. Estamos removen- não é. Atualmente a escritora e pro-
mento? Onde estão os valores da fa- do o chão da pergunta, abrindo um fessora budista Elizabeth Mattis
mília brasileira? Por que a lei da atra- diálogo para além da bolha de onde Namgyel costuma dizer que pode-
ção não funciona para mim? Como veio a questão. Faça um teste: per- ríamos ser tão fluidos quanto as ex-
achar sua essência e seu propósi- gunte “A, B ou C?” e peça que o ou- periências da vida, com um coração
to? Em que ponto uma paixão vira tro fale livremente. Alguns se acham capaz de se flexibilizar até acomo-
amor? Como sair da rotina? Mono- espertos soltando um “D!” e poucas dar qualquer situação. Olhe ao re-
gamia ou relacionamento aberto? pessoas falam “crocodilo” ou “149”. dor: cada fenômeno é um convite
Como lidar com pessoas negativas? Com essa mente condicionada, vira- para que nossa mente se torne tão
Seria falta de educação, mas eu mos escravos de referenciais que ra- ampla quanto a própria vida.
gostaria de responder a tudo isso pidamente se naturalizam. Convido você a participar dessa
com “Eu não penso nesses termos”. Uma pessoa pode pensar: “Que brincadeira: diante de uma pergun-
Quando é um jornalista desavisa- bela carreira! Nada como trabalhar ta com referenciais estreitos, expe-
do, encaro como uma tentativa de com o que gosta!”. Mas o outro tal- rimente dizer: “Não penso nesses
comunicação e direciono. Quando vez responda: “Eu me aproximo dos termos”. Ninguém espera esse “es-
é uma pessoa pedindo ajuda, às ve- seres e me alegro quando consigo ticador de horizontes” (expressão
zes é benéfico mostrar como cada beneficiá-los de algum modo”. Sem criada pelo escritor Manoel de Bar-
conceito só atrapalha. Antes de sair pensar em termos de “carreira”, não ros). Com uma mente sem rigidez,
em busca da resposta, é melhor ana- há tal coisa a ser apontada: que car- podemos transitar livremente entre
lisar se estamos com uma boa per- reira? O brilho dos olhos é compai- os infinitos referenciais para com-
gunta. Muitas de nossas perguntas xão, não exatamente um sentimen- preender e alargar os mundos que
são expressões dos enganos que nos to de gostar do que faz. chamamos de pessoas. ƒ
aprisionam – tentar responder nos Não importa o quão sofistica-
enreda ainda mais. Até a linguagem do seja nosso pacote de teorias, ele
com a qual descrevemos os proble- nunca chega a dar conta da profun- GUSTAVO GITTI é professor de TaKeTiNa
mas guarda diversos pressupostos didade das coisas. Nagarjuna (séc. (florescimento humano pelo ritmo).
que herdamos sem ceticismo. II), um dos maiores mestres budis- Seu site é gustavogitti.com
Autocrítica do privilégio
Para conseguir criar uma sociedade mais justa para todos nós
é preciso, antes, reconhecer a origem da desigualdade
MILENAR, o privilégio é o primogê- -se e o que era um privilégio debaixo Em pleno século 21, o privilégio
nito da lei do mais forte. Desde que do pano ganha visibilidade e torna- sobrevive com mimos medievais,
o mundo é mundo é dessa maneira. -se plenamente inaceitável. nas águas turvas do capital livre e
Por princípio, o privilégio cuida dos Mas o privilégio não limpa sua da meritocracia. São 62 indivídu-
seus à custa dos demais. Parasitário, própria privada. Mimado e infantil, os, brancos e machos em sua gran-
ele não se sustenta só. Não há privi- ele escuta pouco, e quando não é ou- de maioria, que concentram metade
légio social sem opressão. vido, bate. Forte e duro de aniquilar, da riqueza da Terra, o nosso planeta,
A opressão, por sua vez, tem cozi- o privilégio é pior que vampiro ou lo- sabe? Por aqui, apenas um em cada
mento lento. O oprimido ignora sua bosimem em filme barato. Nem bala dez habitantes vive em uma demo-
própria condição e muitas vezes não de prata nem estaca de madeira fun- cracia plena e metade das pessoas é
reage ao abuso. Acontece que o pri- cionam para acabar com eles. Nes- submetida a regimes autocráticos.
vilégio não entende limites e só cede ses casos, só uma educação liber- Olhando assim, até que a golea-
na marra. A cena se repete, monóto- tadora pode funcionar. Sem ela, o da de sete a um que o Brasil levou do
na, ao longo da história, um privilé- sonho do oprimido é tornar-se, um privilégio não parece tão ruim. Só
gio por vez. A exploração tensiona dia, também um opressor. As pala- que não, pois ele não conhece limi-
além da conta e a corda arrebenta. vras são do (educador) Paulo Freire, tes e abusa do jumento até a carcaça
A gota d’água se ergue e o tacho ine- nosso “caçador de vampiros”. romper. Tentaram eliminar o Minis-
vitavelmente transborda. Sem alter- Assim como seus primos da famí- tério da Cultura, subjugaram a Cor-
nativa, os maltrapilhos seguem pa- lia do preconceito, o mimado e in- regedoria Geral da União. Ameaçam
ra as ruas. A massa, antes disforme fantil privilégio de tão clarinho qua- as leis trabalhistas e o Bolsa Família.
e inerte, torna-se uma onda. As for- se não se vê. É exatamente na falta O próximo bote vai ser no fim do fi-
ças de segurança fazem o que po- de transparência que ele sobrevive. nanciamento privado de campanha.
dem, mas não há remédio para isso. E não adianta fazer de conta que não Vamos ficar quietos com as esporas
Frente a esse tipo de tsunami, nada é com você, que privilégio quase to- no lombo ou vamos marchar e ba-
consegue ficar de pé. do mundo tem um pouco. Quando ter panelas até que eles não possam
Um foco depois do outro, as re- não é de classe, é de gênero. E quan- dormir? Resistência pacífica neles. ƒ
voltas contra o privilégio tomam to- do não é de cor é de cidadania. Vi-
do o planeta. Foi assim com o fim da vemos em um mundo de privilégios
monarquia, com a podridão escra- diversos e só vamos fazer algo a res- LUCAS TAUIL DE FREITAS devia escrever
vocrata e com o direito ao voto das peito quando esses mesmos privilé- sobre a vida de uma família nômade,
mulheres. A nova moral esparrama- gios tiverem visibilidade. mas não tem sangue de barata.
O BRASIL é o segundo país mais es- trás de tudo o que acontece no mun- viu que aquilo foi importante para
tressado do mundo. Mais de 70% do, não há erros no Universo: o mo- você e, muitas vezes, o melhor que
da população experimenta regular- mento presente é sempre perfeito. poderia ter acontecido na sua vida?
mente sintomas físicos e psicológi- Acontece que, assim como quando Pode ter sido uma demissão, separa-
cos causados pelo estresse. Hoje te- colocamos um endereço no GPS do ção, divórcio, uma doença grave ou
nho uma boa e uma má notícia pra carro, na vida também enxergamos mesmo a morte de uma pessoa que-
você. A boa é que muito provavel- apenas um pedacinho do mapa da rida. Naquele momento, você pode
mente a maior causa do seu estres- nossa jornada: os próximos 20 me- ter se sentido sem chão, perdido, de-
se está em uma única palavra. Ao eli- tros, mais ou menos. samparado, frustrado ou com raiva
miná-la do seu vocabulário e da sua Muitas vezes, a gente tem a nítida do mundo. Mas, depois de um tem-
vida, você vai se sentir cada vez mais sensação de ter desviado da rota, ou po, o que aconteceu? Você cresceu,
tranquilo e em paz. A má notícia é pegado um caminho errado, ou mes- foi forçado a descobrir talentos, de-
que eliminar essa palavra da sua vi- mo de estar perdido. Esquecemos senvolver novas habilidades, abriu
da é simples, mas não é fácil. que o momento presente é sempre os olhos para possibilidades que
A vida é Deus em ação. Se você perfeito, e nos voltamos contra ele. antes não enxergava, passou a ver
não acredita em Deus, chame de Rejeitamos ou resistimos à realida- o mundo de uma nova perspectiva
Universo, Cosmos, Amor, ou mes- de, seja ela o nosso trabalho, nossos e... evoluiu! (psiu, lembra que esse é
mo o Campo Unificado Descober- relacionamentos, nossa saúde ou si- o plano do Universo?).
to Pela Física Quântica. Fato é que tuação financeira. E aí usamos inad- Aceite o momento presente, mes-
existe uma Inteligência Superior vertidamente a tal palavrinha que é mo quando ele – momentaneamen-
regendo tudo o que acontece a ca- a causa de todo o estresse: deveria. te, não se esqueça disso! – não for o
da instante no mundo – inteligência Toda vez que você se estressa, é que você acredita que deveria ser. E
essa já reconhecida pela ciência. Es- porque você acredita que o mundo só utilize essa palavra a partir de ho-
sa inteligência leva o mundo a cami- não está funcionando exatamen- je para lembrar que tudo está acon-
nhar em uma única direção, que é a te do jeitinho que você gostaria. Do tecendo do jeitinho como deveria, o
da evolução. E você, por incrível que jeitinho que deveria. Mas, pare um tempo inteiro. ƒ
pareça, faz parte do mundo e desse minuto e reflita sobre o seu passa-
plano evolutivo do Universo. do: quantas vezes você passou por
Se a vida é Deus em ação, e se es- um problema, ou mesmo viveu uma PAULA ABREU é coach e autora do livro
tá cientificamente comprovado que grande tragédia e, meses, anos ou Escolha Sua Vida (Sextante). Seu site
existe uma Inteligência Superior por décadas depois, olhando para trás, é escolhasuavida.com.br.
Brincadeira à
moda antiga
Artigos de tecido são a especialidade de
uma arquiteta paulista que redesenhou a
carreira a partir das lembranças de infância
RESGATE DA HISTÓRIA
Filme da brasileira Tata Amaral nos obriga a olhar para o passado
recente, marcado pela ditadura, violência e falta de liberdade
A CADERNETA
FOTOS DIVULGAÇÃO
Bruna Pavão para o Eduk, um portal Malu Lobo ensina a fazer temperos
de cursos online voltados para a e molhos e também pratos quentes,
educação. O bacana dessa aula é como burguer de pescada com goji
que Bruna ensina a preparar delícias berry, o suflê de ricota com tomate
como brownie, torta de frutas, seco e alho-poro e um delicioso
profiteroles ou roscas sem glúten ou cupcake de banana com calda de
lactose na receita. frutas vermelhas.
“Num sábado à noite, em janeiro deste ano, eu e meu marido, Pedro Henrique, fomos com
meu pai e meu avô para a casa de um tio, que mora um pouco afastado da cidade. Levamos a VIDA SIMPLES quer
nossa cadelinha Eva junto. Enquanto “os mais velhos” jogavam baralho, eu, o Pedro e a Eva saber como você
ficamos na varanda, em um momento família. Eu estava sentada colorindo e o Pedro, lendo enxerga as ruas, as
notícias enquanto Eva descobria o ambiente. Foi quando vi essa imagem que me chamou muito cenas, os personagens
a atenção pela beleza e pelos tons de caramelo. Do lado de fora dessa janela tem muito verde da sua cidade.
e uma horta linda, além de muitos bichinhos. Com certeza os cheiros a atraíram bastante.” Mande sua fotografia
— Raissa Bamberg, Teófilo Otoni, MG para vidasimples@
maisleitor.com.br