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MANIPULAÇÃO DE FOTOS: O MUNDO “PHOTOSHOPADO”

Na primeira aula desta unidade, mostramos que mesmo as imagens autênticas


podem induzir o leitor ao erro, ao serem descontextualizadas ou associadas a textos que narram
histórias falsas. Na unidade sobre fotografia, também já havíamos discutido sobre as dificuldades
em tentar definir quão objetiva ou verdadeira é uma imagem. Nesta aula, vamos abordar os
aspectos mais técnicos que envolvem a manipulação fotográfica.

O QUE É MANIPULAÇÃO FOTOGRÁFICA?

São todas as interferências feitas em uma foto com alguma finalidade, das mais simples às mais
radicais, podendo ser adotadas de forma independente ou em conjunto, efetuadas tanto em
fotografias físicas quanto digitais, o que inclui:

Aplicação Ajustes de Cortes e retirada Colorização e Fusão de duas


de filtros imagem (brilho, de elementos inclusão de ou mais imagens
contraste…) elementos

HISTÓRIA
Os avanços tecnológicos tornaram a falsificação de imagens altamente disseminada e
acessível. Quantos ainda pensam que a fotografia retrata a verdade absoluta dos fatos? Isso,
porém, nunca foi verdade, nem mesmo antes do surgimento de procedimentos mais
sofisticados. Desde a criação da câmera fotográfica, técnicas de distorção existem e com
resultados convincentes. A exposição “Faking It: Manipulated Photography Before
Photoshop” (“Falsificando: Fotografia Manipulada Antes do Photoshop”, em tradução livre),
montada em 2012 no Museu Metropolitano de Arte de Nova York, mostra como imagens têm
sido alteradas de maneira fotorrealista desde o surgimento da fotografia, a serviço de campos
tão distintos quanto a arte, política, jornalismo, entretenimento e comércio.

PRIMÓRDIOS
As primeiras manipulações fotográficas tentavam compensar as
limitações dos equipamentos. Imagens em preto-e-branco eram
coloridas à mão. Imagens de paisagens eram produzidas a partir de
duas fotografias – uma do céu, outra da terra – com a exposição
ajustada para que nenhuma parte ficasse manchada ou estourada.

FONTE

USO ARTÍSTICO
Poucas décadas após a invenção da fotografia, seu
potencial imaginativo e expressivo passou a ser
explorado. Encenações elaboradas e colagem de negativos
transformaram as fotos em obras de arte. Na virada do
século 19 para o 20, surge o movimento pictorialista, que
tenta elevar a foto ao patamar da pintura, muitas vezes
imitando-a. Mais tarde, o surrealismo dá um passo além,
levando as fotos para um mundo de fantasia,
sonhos e imaginação. FONTE

PROPAGANDA
FONTE Fotos foram alteradas em diversos
momentos da história com fins políticos e
FONTE ideológicos, para influenciar a opinião
pública, promover o patriotismo, difundir
preconceitos e fortalecer regimes
FONTE totalitários. O governo de Joseph Stálin
ficou particularmente famoso por eliminar
inimigos de fotos históricas.

POR DIVERSÃO
Estúdios fotográficos ofereciam "fotografias mágicas" com imagens
absurdas, de fantasmas e cabeças voadoras a pessoas encolhidas ou
objetos gigantes, despertando a curiosidade, o ceticismo e a
admiração dos espectadores.

FONTE

MEIO IMPRESSO
Quando as fotografias chegaram aos jornais, os editores se
perguntaram se elas deveriam se ater estritamente aos fatos ou
equivaleriam às ilustrações e, portanto, poderiam ser
FONTE
modificadas. Fato é que muitas foram alteradas e até fabricadas
do zero ao longo do século 20. A publicidade impressa e as
revistas também abraçaram a fotografia em todas as etapas do
processo criativo.

FONTE

SURGE A MANIPULAÇÃO DIGITAL


Os primeiros sistemas computadorizados aparecem nos
anos 1980, voltados para o uso editorial e comercial. Em
1990, a Adobe lança o Photoshop 1.0, inicialmente
utilizado por designers, fotógrafos e artistas. Com a
difusão das câmeras digitais, o programa se torna
amplamente adotado. Hoje, a manipulação fotográfica
está ao alcance do cidadão comum.

FONTE

CÓDIGOS DE ÉTICA
No fotojornalismo dos dias atuais, é consenso que a manipulação deve se ater ao mínimo
necessário, como pequenos ajustes de cor e enquadramento. Veículos e associações
profissionais têm sido enfáticos quanto a isso em seus manuais de conduta.

“Imagens em nossas páginas, no papel ou na Web, que pretendem retratar a


realidade devem ser genuínas em todos os sentidos. Nenhuma pessoa ou objeto
pode ser adicionado, rearranjado, invertido, distorcido ou removido de uma
cena (exceto pela prática reconhecida de recortar para omitir partes externas
irrelevantes). Ajustes de cor ou escala de cinza devem ser limitados àqueles
minimamente necessários para uma reprodução clara e precisa [...]”

The New York Times - Diretrizes sobre Integridade

“São qualidades essenciais do fotojornalismo o ineditismo, o impacto, a


originalidade e a plasticidade. Em geral, a Folha não usa montagens
fotográficas, fotos recortadas, invertidas, retocadas, ovais ou redondas.”

Folha de S.Paulo - Manual de Redação

“A edição deve manter a integridade do conteúdo e do contexto das imagens


fotográficas. Não manipule imagens [...] de qualquer maneira que possa
induzir ao erro os espectadores ou deturpar os assuntos.”

Associação Nacional de Fotógrafos de Imprensa dos Estados Unidos


(NPPA) - Código de Ética

LEGISLAÇÃO
Quando aplicada a fotos de modelos, a manipulação fotográfica pode contribuir para
aumentar a pressão por determinados padrões de beleza e enganar o consumidor que almeja
um corpo semelhante. Nesse sentido, governos ao redor do mundo têm implantado leis
restringindo alterações que fazem a pessoa retratada parecer mais magra.

A França exige que, nessas situações, a imagem seja acompanhada do aviso “fotografia
retocada”, sob pena de multa em caso de violação. Itália, Espanha e Israel possuem legislação
semelhante. No Brasil, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 10.022/2018,
alterando o Código de Defesa do Consumidor para tornar obrigatório, em casos assim, o uso
da expressão “silhueta retocada” de maneira legível e clara.

TECNOLOGIA
Implantação de marcas d’água, ferramentas forenses e análise de metadados (voltaremos a
essas últimas nas próximas aulas) são algumas das técnicas que já existem há algum tempo
para auxiliar na detecção de imagens adulteradas, mas nem sempre são práticas ou
facilmente utilizáveis por leigos. Uma nova técnica está sendo desenvolvida por
pesquisadores da Adobe, com base em aprendizagem de máquina, para analisar
manipulações fotográficas com maior precisão e agilidade.

O software desenvolvido por essa equipe consegue distinguir três tipos de adulteração:
emenda, cópia/deslocamento ou remoção de elementos. Para isso, o programa analisa os
padrões de cores e de ruído, que são únicos e estão presentes em toda imagem, como se
fossem uma “impressão digital”. Manipulações digitais deixam rastros nesses padrões que,
embora invisíveis a olho nu, podem ser identificados por inteligência artificial.

Imagem autêntica Imagem adulterada Mapa de ruído Informação Resultado

FONTE

PARA SABER MAIS, ACESSE O MATERIAL COMPLEMENTAR DESTA UNIDADE.

REFERÊNCIAS:
ADOBE COMMUNICATIONS TEAM. Spotting Image Manipulation with AI. In: ADOBE Blog. [San Jose, CA]:
Adobe Inc., 22 jun. 2018. Disponível em: https://theblog.adobe.com/spotting-image-manipulation-ai/.
Acesso em: 30 jan. 2019.
ATÉ onde a manipulação pode ir?. In: CENTRO de Fotografia ESPM-Sul. Porto Alegre: ESPM, 19 jan. 2011.
Disponível em: http://foto.espm.br/index.php/sem-categoria/ate-onde-a-manipulacao-pode-ir/. Acesso
em: 30 jan. 2019.
ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/. Acesso em: 30 jan. 2019.
FAKING It: Manipulated Photography Before Photoshop. In: THE METROPOLITAN Museum of Art. Nova
York, 2012. Disponível em: https://www.metmuseum.org/exhibitions/listings/2012/faking-it. Acesso em:
30 jan. 2019.
FERREIRA, Felipe. Fotografias “photoshopadas” poderão levar aviso obrigatório de retoque no Brasil. In:
IPHOTO Channel. [S.l.], 18 de janeiro de 2018. Disponível em:
https://iphotochannel.com.br/colunistas-de-fotografia/fotografias-photoshopadas-poderao-levar-aviso
-obrigatorio-de-retoque-no-brasil. Acesso em: 30 jan. 2019.

Texto: Felipe Saldanha | Arte: Raquel Neris

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