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VitorAraújo Filgueiras
Introdução
Professora Assistente Doutora do Depto de Ciência Política da Unicamp
Mestre em Ciência Política pela Unicamp, Doutorando em Sociologia, UFBA
1
Como, por exemplo, os movimentos pela reforma agrária, feminista e de mulheres, o movimento negro,
ecologista, de saúde, por moradia, entre outros.
2
Como não houve regulamentação posterior do artigo constitucional, esse dispositivo ainda não ganhou eficácia.
2
refletir sobre as dificuldades e desafios colocados para o movimento sindical brasileiro neste
começo de século.
sindicato ao qual se filiavam anteriormente, seja porque parte não desprezível das atividades
subcontratadas se desenvolveu, e ainda se desenvolve, na informalidade e os trabalhadores
nelas envolvidos geralmente não têm acesso à representação sindical. Além disso, o
surgimento de novos tipos de negócios e de novas ocupações nas atividades terceirizadas
incentivou a formação de um grande número de novos sindicatos, em geral com um pequeno
número de associados, colaborando para aprofundar a fragmentação já existente no
sindicalismo brasileiro, como mostraremos em seção posterior deste artigo.
O movimento sindical sofreu, portanto, duplamente: com uma redução do número de
sindicalizados, devido ao desemprego e à terceirização, e com a dificuldade de mobilizar os
trabalhadores diante da insegurança generalizada e do medo da perda do emprego.
O processo de reestruturação teve como conseqüência também uma mudança
significativa no perfil da força de trabalho que permaneceu empregada e a ampliação da
heterogeneidade interna entre os trabalhadores. Observou-se um processo de feminização
crescente e o predomínio de uma força de trabalho mais escolarizada e com maior
estabilidade. Essa mudança na composição dos trabalhadores sobreviventes afetou também os
sindicatos, principalmente porque a maior escolarização correspondeu à entrada nas grandes
empresas de um contingente de jovens que tendem a incorporar com mais facilidade o
discurso gerencial de envolvimento e compromisso com a empresa e a resistir à participação
sindical.
Desse modo, é possível supor que a queda nas taxas de sindicalização, especialmente
nos principais sindicatos da indústria e do setor bancário, deveu-se, em grande medida, ao
enxugamento das grandes empresas, nas quais os sindicatos têm tradicionalmente maior
penetração, mas também ao deslocamento do emprego para as empresas de menor porte e
para o setor informal, nos quais os sindicalistas encontram maior dificuldade em organizar e
representar os trabalhadores.
No plano político, o sindicalismo brasileiro enfrentou nos anos 90, em um contexto de
avanço do neoliberalismo, pressões e tentativas de redução e flexibilização dos direitos
trabalhistas. A instituição do contrato flexível (Lei 9.601/98) deu-se pela ampliação do uso do
contrato por tempo determinado, que foi estendido a todo e qualquer setor de atividade e sua
duração ampliada para no mínimo 6 meses e no máximo 24 meses. 3
Foi também estabelecida a flexibilização da jornada de trabalho (lei 9601), através da
implantação da anualização das horas de trabalho ou do chamado “banco de horas”. Além
3
Foram reduzidos alguns benéficos para o trabalhador admitido neste tipo de contrato, como a alíquota do FGTS
que passou de 8% para 2%.
4
4
Inclusive a substituição do contrato em tempo integral pelo de tempo parcial, com a correspondente redução de
salário, encargos e benefícios (MPs 1709-4/98 e 1726/98).
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maioria deles no âmbito das empresas. De 1996 até o final da década, no entanto, houve uma
redução paulatina do número de movimentos paredistas que chegou, em 1999, a cerca de 500,
índice semelhante ao de 1984.8
Além da redução do âmbito das ações grevistas que passaram a se concentrar nas
empresas, as motivações dos grevistas também sofreram alterações, assumindo um caráter de
defesa de direitos desrespeitados. As paralisações desencadeadas pelo descumprimento de
direitos tiveram crescimento brutal, enquanto as decorrentes de reivindicações por reajuste ou
aumento da remuneração apresentaram uma redução significativa. Foi possível observar a
presença, de forma crescente, de temas como a manutenção do emprego, a jornada de trabalho
e a reivindicação de auxílios e/ou adicionais como motivos das greves. Outra característica
desse período foi a redução do número de paralisações ocorridas no setor industrial e o seu
progressivo aumento no setor de serviços e no funcionalismo público.9
Essas dificuldades foram ampliadas com o surgimento de novas centrais sindicais que
levou a uma maior fragmentação política, ao acirramento da competição e das disputas
ideológicas no movimento sindical.10 A Força Sindical, fundada em 1991, com uma proposta
política próxima do sindicalismo de negócios norte americano, tornou-se ao longo da década a
segunda central sindical do país, constituindo-se como a principal adversária da CUT, devido
à sua postura de apoio a medidas de corte neoliberal proposta pelo Governo Fernando
Henrique Cardoso. Além disso, a mudança de estratégia da CUT, que passou a adotar, por
decisão de sua ala majoritária, uma orientação mais moderada, negociadora e propositiva,
acirrou as divergências político-ideológicas internas, dificultando cada vez mais o
estabelecimento de estratégias de ação comuns, inclusive nas negociações coletivas, entre os
sindicatos a ela filiados pertencentes a distintas tendências.
Assim, em decorrência dessas injunções, principalmente a partir de meados dos anos 90,
os resultados das negociações coletivas foram sendo gradativamente piores para os
trabalhadores. Em primeiro lugar, ocorreu uma descentralização das negociações que
8
Informações baseadas na pesquisa NEPP/Unicamp, “Acompanhamento das greves no Brasil”, citada por Costa
(2005). Ainda de acordo com estes dados, o número de grevistas depois de atingir um pico de cerca de 20
milhões em 1990, decresceu continuamente, atingindo seu ponto mais baixo em 1997. A ligeira elevação
ocorrida nos anos posteriores, no entanto, manteve o número de grevistas entre 800 mil e um milhão, o que era
bem inferior aos cerca de cinco milhões que realizaram paralisações em 1992. Ver Gráficos 2 e 3 in Costa,
2005:8 e 9.
9
De acordo com informações do Dieese, até 1998 a maioria das greves ainda ocorreu no setor industrial, apesar
da participação crescente dos trabalhadores do setor de serviços e do funcionalismo público, que realizou os
movimentos de mais longa duração. Em 1999 e 2000, as paralisações no setor de serviços superaram as dos
trabalhadores industriais. Ver sobre as greves os Boletins do Dieese, de 1990 a 2000.
10
Ao longo dos anos 90 surgiram 4 novas centrais sindicais: a Força Sindical (FS), a Confederação Geral dos
Trabalhadores do Brasil (CGTB, resultado de uma divisão da Confederação Geral dos Trabalhadores), a Social
Democracia Sindical (SDS) e a Central Autônoma dos Trabalhadores (CAT).
8
passaram a ser realizadas principalmente no nível das empresas. Isto se deveu, em grande
medida, ao fato das mudanças nas relações de trabalho por iniciativa do governo federal terem
introduzido temas cuja negociação restringia-se ao âmbito das empresas, como a participação
nos lucros e/ou resultados e a flexibilização da jornada de trabalho. Frente a essas medidas,
implementadas em um ambiente caracterizado por altas taxas de desemprego, o movimento
sindical viu-se obrigado a alterar as estratégias para a defesa de seus interesses.
No que diz respeito aos salários, a extinção dos reajustes automáticos e a introdução da
negociação sobre participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas (PLR)
tiveram conseqüências importantes nas negociações. Primeiro porque levaram à redução ou a
não concessão de reajustes salariais, ao mesmo tempo em que se disseminou a negociação de
percentuais de remuneração condicionados aos lucros e/ou resultados, que freqüentemente
eram associados a metas de desempenho dos trabalhadores. Isso provocou o rebaixamento do
salário fixo e o crescimento da parcela variável da remuneração. Além disso, afetou a
dinâmica das negociações coletivas dado que a PLR intensificou o processo de
descentralização das negociações para o âmbito das empresas.
Quanto à questão do emprego, embora aumentassem as demandas relativas à garantia de
emprego e a maioria das categorias profissionais incluísse em seus acordos cláusulas
referentes às demissões, essas eram de cunho defensivo, assegurando apenas garantias
adicionais aos trabalhadores demitidos. São pouquíssimos os registros de garantia de
preservação do nível de emprego ou de estabilidade temporária aos trabalhadores.
Quanto ao vínculo empregatício, ainda que restrito a acordos realizados por um pequeno
número de categorias, houve aumento de garantias visando restringir a terceirização ou
assegurar aos trabalhadores terceirizados a extensão dos direitos conquistados pela categoria.
A partir de meados da década, foi introduzida, por iniciativa empresarial, a negociação
da flexibilização da jornada de trabalho, de forma a adequá-la ao fluxo da produção. Algumas
convenções coletivas passaram a incluir cláusulas referentes à flexibilização da jornada,
sinalizando a possibilidade de sua negociação nas empresas da base ou estipulando regras
para a sua implantação. Desde então, se disseminou a negociação dos chamados “bancos de
horas” (ou a anualização da jornada) que igualmente fortaleceu a tendência já marcante de
descentralização das negociações para o âmbito das empresas.
Apesar dos novos problemas gerados pelas mudanças no processo produtivo, as
negociações coletivas não conseguiram tratar e resolver questões referentes à regulamentação
de procedimentos envolvidos no processo de trabalho, como ritmo e intensidade. A grande
maioria das garantias relacionadas às condições de trabalho presente nos acordos foi
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longas e com o maior número de participantes, tendo sido responsáveis por 67,4% do total de
trabalhadores X horas paradas em 2004 e por 85% desse total em 2005. Em terceiro,
predominaram as greves com caráter ofensivo, ou seja, as que se orientaram por demandas
relativas à ampliação de direitos ou garantias já estabelecidas e/ou pela criação de novos
direitos19.
Finalmente, merece destaque o fato da maior parte dos movimentos ter resultado em
negociações (79,9 em 200420 e 88,6% em 2005)21 e obtido resultados positivos, com o
atendimento de pelo menos uma parte das reivindicações. Isto ocorreu em 69,5% das greves
realizadas em 2004 e em 75% das realizadas em 2005, sendo que em 30,5% das greves do
primeiro ano e em 14,8% do segundo o atendimento das demandas foi integral.
Nos anos de 2006 e 2007, além do número de greves ter variado muito pouco (320 e
316 respectivamente), boa parte das características observadas nos movimentos paredistas dos
dois anos anteriores foram mantidas, apesar de ter reduzido o número de greves no setor
público que ficou em torno de 51%. Tomando os quatro anos, foi crescente a proporção de
grevistas e de greves realizadas no setor privado. Em 2007, pela primeira vez desde 2004, a
média de grevistas na esfera privada superou a do funcionalismo público: foram 641.766 na
primeira e 546.955 entre os segundos. No que diz respeito à relação grevistas X número de
horas paradas, contudo, as paralisações no setor público, geralmente realizadas por categoria,
continuaram tendo uma participação muito maior no total. Assim, enquanto a proporção de
trabalhadores X horas paradas no serviço público foi 78,9% (ou 143.327.224) do total em
2006, em 2007 a proporção nesse setor alcançou 87,5% (ou 207.320.120), contra 8,1% no
setor privado e 4,2% nas empresas estatais (Dieese, 2008). Esta grande diferença pode ser
explicada pelo fato da maioria das paralisações no setor privado ter ocorrido por empresa,
envolvendo um número muito menor de trabalhadores, e com duração bem mais curta do que
as do funcionalismo público.
Quanto aos motivos que levaram à deflagração das greves, tanto em 2006 quanto em
2007, em cerca de dois terços dos movimentos os trabalhadores lutavam por melhoria salarial
e avanços em relação às condições vigentes de trabalho, destacando-se como os principais
itens das pautas de reivindicações os reajustes salariais, os planos de cargos e salários,
19
Esta tendência se ampliou ainda mais em 2005, quando 69% das paralisações tinham esse caráter contra 65,2%
das realizadas em 2004.(Dieese, 2005). As demandas de caráter defensivo, predominantes nos anos 90, ainda
permaneceram nas greves de 2004 e 2005, que foram motivadas pelo descumprimento de direitos ou pela luta
para a renovação ou manutenção das condições vigentes, mas em menor proporção do que as de caráter
ofensivo.
20
Ver nota 13, p.21 em Dieese, 2006b.
21
Esses dados são relativas à 180 greves em 2004 e a 166 em 2005, para as quais há informação sobre seu
encaminhamento.
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22
O aumento registrado em 2005 foi de 4,6%. Esse foi o primeiro aumento desde 1996, mas apesar dele, a renda
ainda era 15% inferior à alcançada nesse ano. Resultados da Pesquisa PNAD, divulgada em setembro de 2006.
Ver “Renda aumenta pela 1ª vez desde 1996”, Folha de São Paulo, Caderno Dinheiro2, 16/09/2006, p. B13.
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23
O Ministério do Trabalho e Emprego não dispõe de uma base de dados consolidada que abarque o total dos
sindicatos existentes no país. Os cerca de 300 registros anuais citados foram estipulados a partir de dados anuais
fornecidos pelo MTE – entre 2001 e 2004 – que incluem sindicatos de trabalhadores e empregadores (em 2001, 680
registros; em 2002, 422; em 2003, 379; em 2004 (1o semestre), 262), tendo em vista a proporção histórica de 2
sindicatos de trabalhadores para cada entidade patronal. Além disso, documento do MTE de 2005 aponta a
existência de cerca de 23 mil entidades sindicais de trabalhadores e empregadores registradas ou com pedidos de
registro no MTE. Todavia, além de esse dado contemplar tanto entidades patronais quanto de trabalhadores,
parte dessas associações foi extinta, permanecendo apenas os arquivos da sua documentação no Ministério. Há
dados, na sede do MTE, que apontam a realização de cerca de 10 mil registros de novos sindicatos de
trabalhadores e empregadores, entre 1988 e 2005. Por outro lado, há grande quantidade de sindicatos que atuam
sem registro no MTE.
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Tabela 3
Sindicatos de trabalhadores, por abrangência da base territorial, Brasil 1989 e 2001
Sindicatos de trabalhadores
Ano Abrangência da base territorial (Total e percentual)
s Total Interestadu Intermunicipa
Nacional Estadual Municipal
al l
1989 6.397 13 0,2 746 12 3926 61 41 0,6 1671 26
2001 11.354 45 0,4 1 923 17 6 397 56 75 0,6 2 914 26
Fontes: IBGE (1992 e 2003)
24
Em 2001, existiam 1923 sindicatos de trabalhadores com base estadual. Segundo o IBGE (2003), entre
sindicatos de trabalhadores e empregadores com base estadual (2864 no total), havia 252 entidades que eram
fruto de alteração de base. Seguindo a proporção geral da pesquisa que aponta 7 sindicatos de trabalhadores para
cada 3 entidades de empregadores, 176 sindicatos de trabalhadores com base estadual seriam resultado de
alteração de base – o que é uma sugestão enviesada, já que há uma quantidade desproporcional de sindicatos
estaduais de empregadores –, ou 9% do total das entidades com tal abrangência.
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25
Houve controvérsia jurídica ao longo das duas últimas décadas acerca da necessidade de registro em algum
órgão do aparelho estatal para que um sindicato exerça suas prerrogativas. Na prática, durante o período no qual
esteve focada a investigação (1988-2005), os sindicatos conseguiam atuar tanto com registro no Ministério do
Trabalho e Emprego, quanto com registro no Cartório de Pessoas Jurídicas.
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26
Na Pesquisa Sindical, o IBGE (2003) utiliza o quadro de atividades econômicas da CLT (mesmo que
revogado, como o próprio IBGE reconhece) para discriminar os sindicatos por setores da economia. O setor
comércio, além de sindicatos presentes em empresas dessa atividade, engloba uma série de outras como
lavanderias, estacionamentos e garagens, conservação de elevadores, toda sorte de serviços de saúde, casas de
diversões, institutos de beleza, locadoras de veículos, entre tantas. Ou seja, os dados apresentados para o setor
“comércio” contemplam grande parte dos sindicatos oriundos do chamado setor terciário da economia.
27
Até 1988, as associações de servidores públicos não eram reconhecidas pelo Estado como sindicatos, apesar de
se organizarem como tal. Naquela data, existiam cerca de duzentas associações de servidores.
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28
Dado fornecido por documento de Ministério do Trabalho (2005).
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Caso não houvesse subcontratação, essas categorias seriam provavelmente abrangidas pelo sindicato
representante dos empregados das atividades-fim das empresas onde o serviço é executado (ex: metalúrgicos,
químicos, etc.). Deve-se ressaltar que terceirização colabora para a distorção de dados, pois muitos sindicatos
que surgem, no setor industrial, acabam sendo classificados como entidades de trabalhadores do setor terciário –
como os casos da limpeza e vigilância.
30
Deve-se lembrar que a classificação comércio equivale a grande parte do setor terciário da economia.
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Tabela 17
Número total de fusões e a discriminação por principais
setores econômicos - Brasil, 2001
Setores profissionais selecionados Fusões
Indústria 47
Comércio 27
Transportes terrestres 8
Educação e cultura 6
Servidores públicos 22
Trabalhadores rurais 33
Total entre todos os setores 156
Fonte: IBGE, BME (formulação própria)
Como já mencionado neste texto, com o advento da Constituição de 1988 as centrais sindicais
deixaram de ser proibidas. Contudo, sua existência continuou sendo produto da organização
autônoma dos trabalhadores, já que não havia previsão sobre elas no quadro jurídico (com
exceção de diplomas estatais que abordavam a atuação das centrais nos órgãos públicos e
fóruns tripartites - como o art.3º, §3º da Lei 8.036/90; art. 3º, §2º da Lei 8.213/91; art. 18, §3º
da Lei n.º 7.998/90 -, mas não disciplinavam as centrais, em si). A absorção formal das
centrais sindicais ao quadro jurídico ocorreu apenas em 2008, com a supracitada lei, que
impôs condições ao reconhecimento das centrais pelo Estado, tendo como contrapartida a
concessão formal de prerrogativas às entidades, das quais se destaca a participação dessas
organizações na apropriação da contribuição sindical obrigatória (dez por cento do valor total
arrecadado). Apenas em 2008 foram transferidos compulsoriamente às centrais sindicais
62,968 milhões de reais – as centrais sindicais CUT, Força Sindical, UGT, CTB, CGTB e
NCST se enquadravam à lei, amealhando os referidos valores (Claudia Rolli e Fátima
Bernardes) -, montante que pode incentivar as disputas internas entre os setores componentes
das entidades, fomentando novos fracionamentos na organização sindical brasileira.
Considerações Finais
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Pois na política econômica continuamos com a tríade: juros mais altos do mundo, total desregulamentação
financeira e bolsa juros (superávit primário).
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mobilização das bases e um certo refluxo do movimento grevista, com um número de greves
inferior ao verificado nos últimos anos da década de 90.
A fragmentação do sindicalismo brasileiro não apenas persistiu, como parece ter se
intensificado entre 2001, data do último levantamento feito pelo IBGE, e meados de 2005,
quando o Ministério do Trabalho e Emprego calculava que existiam pouco mais de 23.000
sindicatos32. Além disso, ampliou-se a fragmentação política, com o aprofundamento das
divergências internas à CUT, principalmente decorrentes de posições distintas frente ao
Governo Lula. Essas divergências levaram ao rompimento de alguns sindicatos com a Central
e à formação de uma nova central sindical.
A partir de 2004, o crescimento da economia permitiu a criação de empregos formais em
proporção muito superior ao que foi gerado entre 1995 e 2002. Além disso, verificou-se a
partir de 2005 uma elevação da renda do trabalho, depois de 16 anos de queda continua,
provavelmente devido ao crescimento do emprego, à melhoria na negociação dos reajustes
salariais, à transferência de renda para os seguimentos mais pobres da população e ao
aumento real do salário mínimo que ocorreu de forma contínua até 2009.
As condições políticas favoráveis e os sinais de melhora das condições do mercado de
trabalho permitiram que uma parcela dos sindicatos adotasse estratégias mais ofensivas nas
greves e nas negociações coletivas. Essas últimas mostraram resultados positivos,
principalmente nos reajustes salariais equivalentes ou superiores à inflação na maioria dos
casos, mas também na inclusão, em parte dos acordos, de novas cláusulas sociais ou
ampliação de benefícios existentes.
No entanto, as expectativas do movimento sindical com a aprovação da reforma sindical
que viria regulamentar e complementar as mudanças constitucionais foram frustradas quando
denúncias de corrupção envolvendo deputados do PT, dos partidos aliados no Congresso e
membros do Governo ampliaram as insatisfações e as críticas de uma parcela das lideranças
sindicais e inviabilizaram sua tramitação e aprovação no Congresso. Do mesmo modo, a
tentativa do Governo de reconhecer as centrais sindicais através de uma medida provisória
enviada ao Congresso em 2006 fracassou com a votação majoritariamente contrária a esta
medida.
No segundo Governo Lula, a questão do reconhecimento das centrais voltou a ser
colocada na agenda, apesar do debate em torno da reforma sindical não ter sido retomada.
Apenas em 2008, segundo ano do segundo mandato, foi aprovado o reconhecimento das
32
Incluindo entidades patronais e de trabalhadores.
25
centrais que passaram a receber, como os outros organismos da estrutura sindical, uma parcela
da contribuição sindical.
As disputas políticas internas à CUT e a expectativa de receber recursos do imposto
sindical com o reconhecimento das centrais levou a um rearranjo entre as centrais com
algumas fusões mas principalmente com o surgimento de cinco novas centrais, aprofundando
a fragmentação também neste nível da organização sindical.
Esse quadro político, mas principalmente as dificuldades e debilidades vivenciadas pelo
movimento sindical, desde os anos 90 e ainda persistentes, colocam para suas lideranças um
conjunto de desafios.
Diante da persistência de taxas de desemprego ainda consideradas altas, da predominância
de empregos informais e precários, o conjunto do movimento sindical continua a enfrentar os
desafios de ampliar sua base de apoio e a representatividade de suas entidades, reduzindo a
fragmentação, incorporando jovens e mulheres, organizando os trabalhadores do setor
informal e lutando para a extensão de direitos básicos a esses(as) trabalhadores(as), além de
lutar pela sindicalização dos trabalhadores das empresas subcontratadas nas mesmas
categorias para as quais prestam serviços.
Referências:
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sindical brasileiro”, in Revista História Hoje, Revista Eletrônica de História, vol. 2, nº6,
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CONSTITUIÇÃO Federal. Revista dos Tribunais. São Paulo, 2005.
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