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Do avanço do maoísmo na AP
Foi no segundo semestre de 1967 que a
Ação Popular deslocou um dos
dirigentes de seu Comando Regional
para a região de Maringá, o advogado
trabalhista Edésio Passos, juntamente
com sua esposa, também militante da
No sexagésimo AP, a socióloga e professora Zélia
aniversário da Revolução Chinesa, tema Passos.
deste dossiê organizado pela Revista A organização da AP no Paraná data da
Espaço Acadêmico, é oportuno resgatar primeira metade daquela década, mas
o debate acerca da influência exercida havia ocorrido, a exemplo do que se
sobre a esquerda brasileira nas décadas verificava em âmbito nacional, um
de 1960 e1970. Este artigo aborda processo de desarticulação no imediato
aspectos da influência do maoísmo na pós-1964, consequência da repressão
intervenção política da organização desencadeada pela ditadura civil-militar
Ação Popular – AP, focalizando sua então instaurada. Com estímulo da
atuação na região Noroeste do Paraná, direção nacional, houve a reorganização
polarizada pela cidade de Maringá, onde da AP no Paraná e a constituição do
se implantou, entre 1967 e 1968, sob Comando Regional 2, cuja área de
inspiração da linha chinesa. abrangência também incorporava Santa
Para entender o significado do maoísmo Catarina. Aos remanescentes da fase de
na história da AP, é importante não origem, somaram-se militantes então
apenas abordar as dimensões incorporados, entre os quais Edésio
conceituais, mas também investigar a Passos e o jornalista Walmor
relação da teoria com a prática política Marcellino, que tinham feito parte do
em realidades concretas. Utilizo dados PSB. Ambos integraram a coordenação
coligidos em pesquisas de pós- do CR-2, ao lado de Paulo Gustavo
graduação (DIAS, 2003 e 2004), Barros Carvalho, fundador da AP no
atualizados por questões suscitadas pelo Paraná.
meu interesse permanente pelo tema. Em âmbito nacional, além da
reestruturação orgânica, a AP vivia anos
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Brasil tem uma formação social que foi visto, por anos, como o principal
complexa, combinando relações representante do maoísmo no Brasil.20
capitalistas, relações semifeudais e A luta interna se acirrou. Após expulsar
feudais com a predominância das dirigentes da chamada “minoria”, a ala
relações capitalistas. No Brasil, majoritária da direção, em 1973,
predominaria o capitalismo, mas restos declarou extinta a AP e comandou a
feudais sobreviveriam com destacada
incorporação ao PC do B.21 Outro setor
importância. Assim, “a tarefa procurou reorganizar a AP, que teve
democrática principal da revolução
existência até o início da década de
brasileira é de extirpar todo o sistema 1980.
latifundiário, o monopólio da
propriedade da terra e o cortejo de suas Logo após a cisão, a Ação Popular
sobrevivências feudais. A revolução viveu um período de grande fragilidade
nacional e democrática é assim anti- organizativa (OLIVEIRA, JR, 2000).
imperialista e agrária” (AÇÃO Na segunda metade de 1973, o aparato
POPULAR, 1972b, p. 78). repressivo provocou uma série de
“quedas” de militantes. Nessa fase da
Essa ala, que formou maioria na direção década de 1970, a AP promoveu um
da AP, defendeu a incorporação ao PC movimento autocrítico, comum às
do B, com base na afinidade de várias organizações de esquerda do
programas e no reconhecimento de que período, acerca do isolamento que a
ele seria o partido histórico da classe radicalização política tinha vivenciado
operária. Para tal, houve autocrítica em em relação aos movimentos de
relação ao maoísmo como terceira fase trabalhadores. Tal autocrítica tomava
do marxismo, condição estabelecida como baliza o marxismo revolucionário
pelo PC do B. Não obstante, ainda que e a dinâmica concreta do movimento de
houvesse algumas atualizações na massas e da classe operária. Propôs-se,
formulação, a defesa da revolução ainda, a constituição da Tendência
nacional-democrática, inspirada na linha Proletária, com organizações da
chinesa, cimentava essa aproximação e
a proposta de incorporação ao PC do B,
20 No final da década de 1960, o PC do B era
reconhecido como representante autorizado do
PCCh no Brasil. Em suas publicações desse
visão, o espaço rural é pensado de forma mais período e do início da década seguinte, O PC do
ampla através da noção de ruralidade. Por isso, B não economizou elogios à experiência chinesa
se adotou o recorte sugerido por vários autores e a seu líder máximo (GORENDER, 1987, 213).
para os municípios rurais, que são aqueles que Todavia, houve uma reviravolta no fim da
possuem menos de 50.000 habitantes e década, quando que se abandonou a China como
apresentam uma densidade demográfica de até referência (REIS FILHO, 1991). Como explicou
80 hab./km2. Com isso, são valorizadas outras Jean Rodrigues Sales, procedeu-se, a partir
dimensões importantes, como a relação com os dessa cisão, a “uma crítica retrospectiva ao
recursos naturais e os ecossistemas, a produção modelo chinês, na qual se procura mostrar que o
de conhecimentos e saberes, o patrimônio partido já demonstrava discordância com este
cultural; a organização social e as inter-relações modelo pelo menos desde 1963” (SALES, 2000,
existentes entre o rural e o urbano e entre as p.114).
atividades agropecuárias, não-agropecuárias e 21 A defesa desse caminho está sistematizada
extrativistas. Disponível no sítio eletrônico do no livro que Haroldo Lima e Aldo Arantes
Ministério do Desenvolvimento Agrário. escreveram sobre a trajetória da AP (LIMA &
http://www.mda.gov.br/condraf/index.php?ctuid ARANTES, 1985). Em outro artigo, fiz uma
=18565&sccid=1756 análise específica desse livro (DIAS, 2006).
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D.A. et alii. História do marxismo no Brasil.
LIMA, H. & ARANTES, A. História da Ação
V. I. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1991.
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Omega, 1984, p. 158. RIDENTI, M. Ação Popular: cristianismo e
marxismo. In RIDENTI, M. & REIS FILHO, D.
LUZ, France. As migrações internas no
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contexto do capitalismo no Brasil: a
5. Campinas: Editora da Unicamp, 2002.
microrregião "Norte Novo de Maringá" -
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1988. do Brasil – Pc do B: Propostas teóricas e
prática política 1961-1976. Dissertação de
OLIVEIRA JR, F. Paixão e revolução:
Mestrado em História. Campinas, Unicamp,
capítulos sobre a história da AP. 2000. Tese de
2000.
Doutorado em História. Recife, Universidade
Federal de Pernambuco, 2000. SANTANA, Cristiane S. de. Maoísmo na
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em História. Salvador, Universidade Federal da
operários militantes: a experiência da
Bahia, 2008;
“integração na produção” na história da Ação
Popular (1965-1970). Dissertação de Mestrado SILVA, Osvaldo H. A foice e a cruz:
em História. Campinas, Unicamp, 2005. comunistas e católicos na história do
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PRIORI, A. O protesto do trabalho. Maringá,
Curitiba: Rosa de Bassi, 2006.
Eduem, 1996.
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REGINALDO BENEDITO DIAS é professor do Departamento de História da Universidade Estadual
de Maringá; Doutor em História Política pela UNESP. E-mail: reginaldodias13@gmail.com
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