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1 INTRODUÇÃO
Pela Constituição Federal de 1988, vide art. 8, inciso III, toda entidade sindical possui
como base de atuação a “defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria,
inclusive em questões judiciais ou administrativas”. Nesse sentido, é que se entende a
importância dos sindicatos na defesa dos trabalhadores e na construção de um sistema
trabalhista mais justo.
É partir dessa perspectiva de proteção do trabalhador exercida pelo sindicato que
presente artigo, busca traçar um paralelo entre as diferentes formas de arrecadação financeira,
destacando a diferença entre a contribuição sindical e a contribuição assistencial. Discutindo a
facultatividade da contribuição sindical frente ao novo entendimento dado pelo Supremo
Tribunal Federal, por meio do Recurso Extraordinário com Agravo número 1.018.459, quanto
a cobrança da contribuição assistencial.
Enfim, apresenta como a participação sindical se deteriorou após a Reforma Trabalhista.
E se a contribuição assistencial se tornará uma alternativa ao financiamento dos sindicatos.
2 DESENVOLVIMENTO
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¹Acadêmico do Curso de Direito ofertado pela Universidade do Estado de Mato Grosso,
Campus Alta Floresta, 2023. E-mail: guilherme.dellalastra@unemat.bt.
²Docente orientadora, e-mail: taciani.fabiani@unemat.bt.
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Até então a contribuição sindical possuía caráter de imposto, pois como expresso no art.
582, o desconto era impositivo a todos os empregados, sindicalizados ou não (MARTINS, p.
781, 2012). No entanto, com a reforma trabalhista a contribuição sindical perdeu o caráter
impositivo, ou seja, o funcionário que não autorizar o desconto em folha de pagamento não será
obrigado a contribuir com o sindicato. Leia-se a nova redação do art. 582:
Desse modo, o termo contribuição sindical poderia ser sinônimo de imposto sindical até
o ano de 2017, pois a alteração da denominação pelos decretos acima citado não interferiram
na natureza da contribuição. Contudo, com a Reforma Trabalhista de fato a contribuição
sindical perdeu a natureza de imposto, sendo facultativo ao trabalhador pagar ou não a
contribuição ao sindicato (MARTINS, p. 497, 2023).
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Uma vez traçado essa importante mudança quanto a contribuição sindical, cabe pontuar
que os sindicatos possuem outros meios de arrecadação financeira, entre eles: a contribuição
confederativa (art. 8°, IV, da CF), a contribuição associativa (art. 548, b, da CLT) e a
contribuição assistencial (art. 513, e, da CLT) (MARTINS, p. 495, 2023). A principal
característica presente em todas as modalidades é o fato de serem facultativas ao trabalhador
não sindicalizado, que uma vez sindicalizado passa a ter a obrigação de contribuir para com o
sindicato de sua categoria. Além dessas contribuições arrecadam dinheiro também por meio das
rendas obtidas de bens e valores, doações e legados, multas e outras rendas eventuais
(MARTINS, p. 495, 2023).
Inicialmente, a contribuição confederativa é um dos meios previstos pela Constituição
Federal de 1988, art. 8, inciso IV, para o financiamento de todo sistema confederativo sindical.
Pelo disposto no referido artigo deve os sindicatos por meio de assembleia fixar o valor a ser
cobrado dos trabalhadores, quando esses forem filiados. A cobrança não é compulsória aos não
filiados (MARTINS, p. 502, 2023).
Já a contribuição associativa diz respeito sobre a cobrança advinda da associação do
trabalhador perante o sindicato que lhe representa. Desse modo, tem como consequência a
possibilidade de usufruir dos serviços prestados pelos sindicatos, por isso a cobrança é
obrigatória aquele que por livre vontade torna-se associado (MARTINS, p. 508, 2023).
E por último a contribuição assistencial, assim como as outras modalidades, também
possui caráter de financiar os sindicatos. A diferença é que o valor cobrado não é fixo e pré
determinado, por isso, os valores podem ser distintos dependendo de qual categoria, sindicato
que o trabalhador esteja submetido. Além disso, a cobrança não é obrigatória, sendo cobrada
apenas do trabalhador que autorizar previamente (MARTINS, p. 505, 2023).
A partir dessa explanação das formas de contribuição urge a necessidade de diferenciar
a contribuição assistencial da contribuição sindical, parte do objeto de discussão desse artigo.
Assim, a principal diferença entre elas está na destinação do recurso, enquanto a contribuição
sindical é voltada ao financiamento dos benefícios ofertados pelo sindicato aos trabalhadores,
como creche, educação e formação profissional, a contribuição assistencial é voltada para
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custear as despesas que o sindicato obtém dos serviços prestados nos acordos e convenções
coletivas em que participa e obtém melhores condições de trabalho (MARTINS, p. 499 e 505,
2023).
As formas de contribuição financeira para com os sindicatos tentam manter o
funcionamento dessas associações, porém, observa-se que entre todas elas não há
compulsoriedade no pagamento, assim contribui o trabalhador ou empregador que optar por tal
caminho, tornando os sindicatos reféns da vontade subjetiva do indivíduo.
Contribuição Sindical
R$ 4.500.000.000,00
R$ 4.000.000.000,00
R$ 3.500.000.000,00
Valores arrecadados
R$ 3.000.000.000,00
R$ 2.500.000.000,00
R$ 2.000.000.000,00
R$ 1.500.000.000,00
R$ 1.000.000.000,00
R$ 500.000.000,00
R$ 0,00
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Período analisado
Figura 01.
Fonte: elaborado pelo autor, 2023.
Com base nessa análise, conclui-se que os sindicatos perderam receita financeira, logo,
tiveram suas funções prejudicadas.
Como demonstrado ao longo desse artigo os sindicatos tiveram a sua fonte de renda
suprimida devido as alterações feitas pela reforma trabalhista, além disso as outras formas de
contribuições financeiras não conseguiram manter a pujança dos sindicatos no Brasil. Dessa
forma, o julgamento do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE 1.018.459) pelo Supremo
Tribunal Federal vem na tentativa de contrabalancear esse disparate jurídico quando se tornou
facultativo a cobrança da contribuição sindical.
Em sede de fundamentação pela parte recorrente do referido recurso, qual seja o
sindicato dos trabalhadores nas indústrias metalúrgicas, de máquinas, mecânica elétrico, de
veículos automotores, de autopeças e de componentes e partes para veículos automotores da
grande Curitiba, alegou que existe uma diferença fundamental entre associação sindical e a
vinculação dos trabalhadores e empregadores a um sindicato quando passam a exercer alguma
atividade econômica ou laboral.
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Compreende de fato que os sindicatos não podem cobrar nenhuma taxa daquele que não
for filiado, no entanto, o art. 513, alínea “e” da CLT estabelece que é prerrogativa dos sindicatos
a cobrança de contribuições para “todos aqueles que participam das categorias econômicas ou
profissionais ou das profissões liberais representadas”. Veja-se que o texto não cita o associado
ou filiado do sindicato, mas estabelece que entre as formas de cobrança é preciso que haja uma
tendo como foco todas as pessoas físicas e jurídicas integrantes de uma categoria profissional,
haja vista que os efeitos dos acordos e convenções coletivas possuem abrangência erga omnes,
ou seja, para todos, sindicalizados ou não.
Assim, estabelece a diferença entre associado ou filiado ao sindicato em face dos
trabalhadores e empregadores vinculados a um sindicato, mesmo sem a filiação, devido a
categoria em que exerce uma função. Para tanto quando o trabalhador optar por se filiar ao
sindicato que lhe representa estará submetido também a contribuição associativa. Já a
contribuição assistencial é devida a todos os sindicalizados ou não, pois trata-se de uma
cobrança permita pela CLT vide art. 513, alínea “e”.
Diante da argumentação apresentada, o STF alterou em julgamento de mérito a Tese até
então consolidada do Tema 935, passando a considerar que:
Cravando, enfim, que a contribuição assistencial é devida e para que o trabalhador deixe
de pagar é preciso comunicar perante a empresa em que trabalha ou diretamente na sede do
sindicato que lhe representa.
A mudança de entendimento pelo STF traduz à luz do ordenamento jurídico brasileiro,
por meio da interpretação da CLT, que o estado brasileiro deve agir como garantidor de
mecanismos de proteção ao trabalhador, como os sindicatos. Desse modo, quando permite a
cobrança compulsória, ainda que assegurado o direito de oposição, garante que as associações
sindicais possam ter meios de financiamentos que trazem resultado econômico, e que serão
utilizados na participação em acordos e convenções coletivas.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no que foi abordado é possível identificar que as organizações sindicais
obtiveram forte perda monetária em decorrência da extinção da compulsoriedade do pagamento
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Referências bibliográficas
BRASIL. Decreto Lei N° 5.452, de 1° de maio de 1943. Dispõe sobre a Consolidação das Leis
do Trabalho. Brasília, DF.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário com Agravo – ARE 1018459.
Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/repercussao-geral8982/false.
Acesso em: 03/10/2023.
MARTINS, Sergio P. Direito do trabalho. Disponível em: Minha Biblioteca, (39th edição).
Editora Saraiva, 2023.
MARTINS, Sergio P. Direito do trabalho. Disponível em: Minha Biblioteca, (28th edição).
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DINIZ, Wilson Brandão. Sindicalismo patronal rural no Brasil: avaliação do atual contexto
e panorama para um novo modelo de representação de classe. Acesso em: 04/10/2023.