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A CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL COMO ALTERNATIVA DE FINANCIAMENTO

DOS SINDICATOS FRENTE A EXTINÇÃO DO PAGAMENTO COMPULSÓRIO DO


IMPOSTO SINDICAL PELA REFORMA TRABALHISTA

Guilherme Menezes Dellalastra¹


Taciane Fabiani²

Resumo: O presente artigo aborda como a extinção do pagamento compulsório da contribuição


sindical afetou a arrecadação e, assim, a atuação dos sindicatos. Com base em análise de dados
obtidos pelo Boletim de Informações Financeiras do Fundo de Amparo ao Trabalhador
comprava-se a tese defendida. E partir desse contexto busca entender se a contribuição
assistencial pode se tornar um meio alternativo para essa lacuna.
Palavras-Chave: Sindicato; Contribuição sindical; Contribuição Assistencial.

1 INTRODUÇÃO

Pela Constituição Federal de 1988, vide art. 8, inciso III, toda entidade sindical possui
como base de atuação a “defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria,
inclusive em questões judiciais ou administrativas”. Nesse sentido, é que se entende a
importância dos sindicatos na defesa dos trabalhadores e na construção de um sistema
trabalhista mais justo.
É partir dessa perspectiva de proteção do trabalhador exercida pelo sindicato que
presente artigo, busca traçar um paralelo entre as diferentes formas de arrecadação financeira,
destacando a diferença entre a contribuição sindical e a contribuição assistencial. Discutindo a
facultatividade da contribuição sindical frente ao novo entendimento dado pelo Supremo
Tribunal Federal, por meio do Recurso Extraordinário com Agravo número 1.018.459, quanto
a cobrança da contribuição assistencial.
Enfim, apresenta como a participação sindical se deteriorou após a Reforma Trabalhista.
E se a contribuição assistencial se tornará uma alternativa ao financiamento dos sindicatos.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Paralelo entre as diferentes formas de arrecadação sindical

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¹Acadêmico do Curso de Direito ofertado pela Universidade do Estado de Mato Grosso,
Campus Alta Floresta, 2023. E-mail: guilherme.dellalastra@unemat.bt.
²Docente orientadora, e-mail: taciani.fabiani@unemat.bt.
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Desde o advento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), pelo Decreto-Lei n.


5.452, de 1943, o sistema sindical foi estruturado para garantir que o trabalhador tivesse meios
para discutir seus direitos frente a classe empregadora. A norma em questão destina
especificamente o artigo 511 ao 610 sobre a organização sindical e seus aspectos de
funcionamento, administração, contribuição entre outros pontos fundamentais para a existência
de um sindicato.
No capítulo III, do título V da CLT o legislador tratou-se em discutir sobre a contribuição
sindical, meio utilizado como mecanismo de financiamento dessas instituições. A contribuição
sindical, por muito tempo conhecido como imposto sindical, possou-se a ser assim denominada
a partir do Decreto-Lei n. 27, de 1966, e ratificado pelo Decreto-Lei n. 229, de 1967. Assim, na
prática a contribuição sindical era o imposto sindical.
Antes da reforma trabalhista pela Lei n. 13.467, de 2017, a contribuição sindical ou
imposto sindical era imposto a todo trabalhador, assim de acordo com a redação do art. 582 da
CLT antes da reforma o empregador era obrigado a descontar dos seus funcionários a
contribuição sindical devida na folha de pagamento relativa ao mês de março de cada ano. Leia-
se o artigo:

“Art. 582 - Os empregadores são obrigados a descontar, da folha de pagamento de


seus empregados relativa ao mês de março de cada ano, a contribuição sindical por
estes devida aos respectivos sindicatos”.

Até então a contribuição sindical possuía caráter de imposto, pois como expresso no art.
582, o desconto era impositivo a todos os empregados, sindicalizados ou não (MARTINS, p.
781, 2012). No entanto, com a reforma trabalhista a contribuição sindical perdeu o caráter
impositivo, ou seja, o funcionário que não autorizar o desconto em folha de pagamento não será
obrigado a contribuir com o sindicato. Leia-se a nova redação do art. 582:

“Art. 582 - Os empregadores são obrigados a descontar da folha de pagamento de seus


empregados relativa ao mês de março de cada ano a contribuição sindical dos
empregados que autorizaram prévia e expressamente o seu recolhimento aos
respectivos sindicatos.”

Desse modo, o termo contribuição sindical poderia ser sinônimo de imposto sindical até
o ano de 2017, pois a alteração da denominação pelos decretos acima citado não interferiram
na natureza da contribuição. Contudo, com a Reforma Trabalhista de fato a contribuição
sindical perdeu a natureza de imposto, sendo facultativo ao trabalhador pagar ou não a
contribuição ao sindicato (MARTINS, p. 497, 2023).
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Assim conclui Wilson Brandão Diniz:

“A Lei nº 13.467/2017, conhecida como a Reforma Trabalhista alterou a CLT e


adequou a legislação a um novo contexto de relações do trabalho. Entre as alterações
previstas na reforma, a Contribuição Sindical passou a ser facultativa, só passível de
cobrança quando da expressa autorização por parte de um componente de classe
econômica ou profissional”.

Uma vez traçado essa importante mudança quanto a contribuição sindical, cabe pontuar
que os sindicatos possuem outros meios de arrecadação financeira, entre eles: a contribuição
confederativa (art. 8°, IV, da CF), a contribuição associativa (art. 548, b, da CLT) e a
contribuição assistencial (art. 513, e, da CLT) (MARTINS, p. 495, 2023). A principal
característica presente em todas as modalidades é o fato de serem facultativas ao trabalhador
não sindicalizado, que uma vez sindicalizado passa a ter a obrigação de contribuir para com o
sindicato de sua categoria. Além dessas contribuições arrecadam dinheiro também por meio das
rendas obtidas de bens e valores, doações e legados, multas e outras rendas eventuais
(MARTINS, p. 495, 2023).
Inicialmente, a contribuição confederativa é um dos meios previstos pela Constituição
Federal de 1988, art. 8, inciso IV, para o financiamento de todo sistema confederativo sindical.
Pelo disposto no referido artigo deve os sindicatos por meio de assembleia fixar o valor a ser
cobrado dos trabalhadores, quando esses forem filiados. A cobrança não é compulsória aos não
filiados (MARTINS, p. 502, 2023).
Já a contribuição associativa diz respeito sobre a cobrança advinda da associação do
trabalhador perante o sindicato que lhe representa. Desse modo, tem como consequência a
possibilidade de usufruir dos serviços prestados pelos sindicatos, por isso a cobrança é
obrigatória aquele que por livre vontade torna-se associado (MARTINS, p. 508, 2023).
E por último a contribuição assistencial, assim como as outras modalidades, também
possui caráter de financiar os sindicatos. A diferença é que o valor cobrado não é fixo e pré
determinado, por isso, os valores podem ser distintos dependendo de qual categoria, sindicato
que o trabalhador esteja submetido. Além disso, a cobrança não é obrigatória, sendo cobrada
apenas do trabalhador que autorizar previamente (MARTINS, p. 505, 2023).
A partir dessa explanação das formas de contribuição urge a necessidade de diferenciar
a contribuição assistencial da contribuição sindical, parte do objeto de discussão desse artigo.
Assim, a principal diferença entre elas está na destinação do recurso, enquanto a contribuição
sindical é voltada ao financiamento dos benefícios ofertados pelo sindicato aos trabalhadores,
como creche, educação e formação profissional, a contribuição assistencial é voltada para
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custear as despesas que o sindicato obtém dos serviços prestados nos acordos e convenções
coletivas em que participa e obtém melhores condições de trabalho (MARTINS, p. 499 e 505,
2023).
As formas de contribuição financeira para com os sindicatos tentam manter o
funcionamento dessas associações, porém, observa-se que entre todas elas não há
compulsoriedade no pagamento, assim contribui o trabalhador ou empregador que optar por tal
caminho, tornando os sindicatos reféns da vontade subjetiva do indivíduo.

2.2 Enfraquecimento dos sindicatos diante da extinção da compulsoriedade do pagamento


do imposto sindical ou contribuição sindical

Com a promulgação da Reforma Trabalhista, no ano de 2017, importantes mudanças


foram incorporadas ao regime trabalhista brasileiro, entre elas, foi extinto a compulsoriedade
do pagamento da contribuição sindical. Desse modo, para manter a contribuição, o trabalhador
deve manifestar sua vontade perante o empregador ou contribuir de outras formas, como se
filiando ao sindicato e se submetendo a contribuição associativa, por exemplo.
Salienta-se, que a contribuição sindical representava para os sindicatos uma importante
fonte de arrecadação, segundo análise de dados disponíveis no Boletim de Informações
Financeiras do Fundo de Amparo ao Trabalhador a arrecadação sindical apresentou sucessivas
quedas desde a vigência da Reforma Trabalhista, no que tange o montante adquirido pela
contribuição sindical.
Em análise de janeiro a dezembro de 2016 a arrecadação alcançou R$ 3,96 bilhões, um
aumento de 5,52% se comparado ao mesmo período de 2015. Durante esse mesmo período no
ano de 2017 a arrecadação foi de R$ 4.085,05 milhões, valor 3,00% maior que o registrado em
2016. Já em 2018, primeiro ano completo da reforma trabalhista a arrecadação alcançou R$
666,2 milhões, valor este 83,7% inferior ao registrado em 2017. Em 2019 a arrecadação foi de
R$ 255,3 milhões, valor este 61,1% inferior ao registrado em 2018. Em 2020 a arrecadação foi
de R$ 140,0 milhões, valor este 42,05% inferior ao registrado em 2019. Em 2021 a arrecadação
foi de R$ 120,3 milhões, valor este 18,68% inferior ao registrado em 2020. Em 2022 a
arrecadação foi de R$ 100,00 milhões, valor este 16,93% inferior ao registrado em 2021. Já em
relação a 2023, no período entre janeiro e junho, a arrecadação já representa 0,94% a menor do
que em relação ao mesmo período de 2022, simbolizando estatisticamente que deve permanecer
a tendencia de queda conforme os outros anos após a reforma trabalhista. Abaixo segue uma
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ilustração gráfica que facilita a visualização da diminuição drástica da arrecadação financeira


pela contribuição sindical.

Contribuição Sindical
R$ 4.500.000.000,00
R$ 4.000.000.000,00
R$ 3.500.000.000,00
Valores arrecadados

R$ 3.000.000.000,00
R$ 2.500.000.000,00
R$ 2.000.000.000,00
R$ 1.500.000.000,00
R$ 1.000.000.000,00
R$ 500.000.000,00
R$ 0,00
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Período analisado

Figura 01.
Fonte: elaborado pelo autor, 2023.

Com base nessa análise, conclui-se que os sindicatos perderam receita financeira, logo,
tiveram suas funções prejudicadas.

2.3 Julgamento do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE 1.018.459)

Como demonstrado ao longo desse artigo os sindicatos tiveram a sua fonte de renda
suprimida devido as alterações feitas pela reforma trabalhista, além disso as outras formas de
contribuições financeiras não conseguiram manter a pujança dos sindicatos no Brasil. Dessa
forma, o julgamento do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE 1.018.459) pelo Supremo
Tribunal Federal vem na tentativa de contrabalancear esse disparate jurídico quando se tornou
facultativo a cobrança da contribuição sindical.
Em sede de fundamentação pela parte recorrente do referido recurso, qual seja o
sindicato dos trabalhadores nas indústrias metalúrgicas, de máquinas, mecânica elétrico, de
veículos automotores, de autopeças e de componentes e partes para veículos automotores da
grande Curitiba, alegou que existe uma diferença fundamental entre associação sindical e a
vinculação dos trabalhadores e empregadores a um sindicato quando passam a exercer alguma
atividade econômica ou laboral.
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Compreende de fato que os sindicatos não podem cobrar nenhuma taxa daquele que não
for filiado, no entanto, o art. 513, alínea “e” da CLT estabelece que é prerrogativa dos sindicatos
a cobrança de contribuições para “todos aqueles que participam das categorias econômicas ou
profissionais ou das profissões liberais representadas”. Veja-se que o texto não cita o associado
ou filiado do sindicato, mas estabelece que entre as formas de cobrança é preciso que haja uma
tendo como foco todas as pessoas físicas e jurídicas integrantes de uma categoria profissional,
haja vista que os efeitos dos acordos e convenções coletivas possuem abrangência erga omnes,
ou seja, para todos, sindicalizados ou não.
Assim, estabelece a diferença entre associado ou filiado ao sindicato em face dos
trabalhadores e empregadores vinculados a um sindicato, mesmo sem a filiação, devido a
categoria em que exerce uma função. Para tanto quando o trabalhador optar por se filiar ao
sindicato que lhe representa estará submetido também a contribuição associativa. Já a
contribuição assistencial é devida a todos os sindicalizados ou não, pois trata-se de uma
cobrança permita pela CLT vide art. 513, alínea “e”.
Diante da argumentação apresentada, o STF alterou em julgamento de mérito a Tese até
então consolidada do Tema 935, passando a considerar que:

"É constitucional a instituição, por acordo ou convenção coletivos, de contribuições


assistenciais a serem impostas a todos os empregados da categoria, ainda que não
sindicalizados, desde que assegurado o direito de oposição".

Cravando, enfim, que a contribuição assistencial é devida e para que o trabalhador deixe
de pagar é preciso comunicar perante a empresa em que trabalha ou diretamente na sede do
sindicato que lhe representa.
A mudança de entendimento pelo STF traduz à luz do ordenamento jurídico brasileiro,
por meio da interpretação da CLT, que o estado brasileiro deve agir como garantidor de
mecanismos de proteção ao trabalhador, como os sindicatos. Desse modo, quando permite a
cobrança compulsória, ainda que assegurado o direito de oposição, garante que as associações
sindicais possam ter meios de financiamentos que trazem resultado econômico, e que serão
utilizados na participação em acordos e convenções coletivas.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base no que foi abordado é possível identificar que as organizações sindicais
obtiveram forte perda monetária em decorrência da extinção da compulsoriedade do pagamento
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da contribuição sindical. Evidenciado pelos dados analisados do Boletim de Informações


Financeiras do Fundo de Amparo ao Trabalhador.
Além disso, é demonstrado que as outras formas de arrecadação financeira dos
sindicatos, são por sua natureza, limitadas a vontade do próprio trabalhador ou empregador. O
que, considerando a cadeia de pensamento brasileiro em relação a atuação e significância
sindical, não contribui com o fortalecimento dessas unidades na defesa do trabalhador.
Para tanto, percebe-se que a contribuição assistencial, agora com a mudança optada pelo
Supremo Tribunal Federal, tornando-a obrigatória, desde que haja possibilidade de oposição do
trabalhador, tentará equilibrar as contas dos sindicatos. Entretanto, é discutível se de fato
conseguirão restabelecer a pujança em que os sindicatos possuíam antes da alteração perante a
contribuição sindical. Situação a ser analisada e discutida no decurso do tempo.
Por fim, o que por hora fica declinado é a perda significativa dos sindicatos quanto as
suas receitas, além da força de atuação nas negociações e acordo coletivos. Bem como, a
tentativa do judiciário brasileiro em restabelecer medidas eficientes para fortalecer as unidades
sindicais.

Referências bibliográficas
BRASIL. Decreto Lei N° 5.452, de 1° de maio de 1943. Dispõe sobre a Consolidação das Leis
do Trabalho. Brasília, DF.

BRASIL. Ministério do Trabalho. Boletim de Informações Financeiras do Fundo de


Amparo ao trabalhador. Disponível em: https://portalfat.mte.gov.br/execucao-financeira-do-
fat/boletim-de-informacoes-financeiras/. Acesso em: 01/10/2023.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF,


Senado, 1998.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário com Agravo – ARE 1018459.
Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/repercussao-geral8982/false.
Acesso em: 03/10/2023.

MARTINS, Sergio P. Direito do trabalho. Disponível em: Minha Biblioteca, (39th edição).
Editora Saraiva, 2023.

MARTINS, Sergio P. Direito do trabalho. Disponível em: Minha Biblioteca, (28th edição).
Editora Saraiva, 2012.

DINIZ, Wilson Brandão. Sindicalismo patronal rural no Brasil: avaliação do atual contexto
e panorama para um novo modelo de representação de classe. Acesso em: 04/10/2023.

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