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A DESOBRIGAÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL E SEUS EFEITOS

João Roberto Ribeiro


Profº Dr.Jeison Giovani Heiler

RESUMO: A presente pesquisa teve como problema de pesquisa identificar quais


efeitos que a desobrigação da contribuição sindical teve sobre os sindicatos e o
modelo laboral presente no país. A hipótese inicial foi de que embora enfraquecidos
num primeiro momento, a desobrigação da contribuição sindical abriu a possibilidade
para um sindicalismo mais ativo, liberando os sindicatos do acomodamento intrínseco
ao modelo de corporativismo estatal adotado no Brasil. Utilizou-se a metodologia da
abordagem dedutiva, tendo por ponto de partido uma generalização, e a partir deste
obtendo respostas para questões particularizadas. O procedimento adotado foi o
monográfico, sendo desenvolvida com a técnica documental. Ao final a hipótese
restou refutada. Concluiu-se que a desobrigação resultou na desestruturação do
modelo sindical, tornando os sindicatos vulneráveis a investidas da classe patronal e
dificultando a realização de suas atividades.

PALAVRAS-CHAVES: Desobrigação. Contribuição Sindical. Reforma Trabalhista.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente a Reforma Trabalhista de 2017 aproxima-se de seu quinto


aniversário. Tendo trazido mudanças significativas no que diz respeito ao direito do
trabalho e consequentemente à realidade laboral. Nesse contexto, a desobrigação da
contribuição sindical foi escolhida como tema de pesquisa devido ao seu impacto
direto sobre os sindicatos, uma das principais forças no debate sobre a legislação e
modelo laboral no país.
Como problema de pesquisa, tem-se a questão: Quais efeitos que a
desobrigação da contribuição teve sobre os sindicatos e modelo laboral no país.
No que diz respeito à hipótese inicial, tem-se a ideia de que, embora os
sindicatos foram enfraquecidos num primeiro momento pela perda de fundos, a
desobrigação abre caminho para um sindicalismo mais aditivo, prestigiando a efetiva
ação em defesa do trabalhador e eliminando o acomodamento inerente ao
corporativismo estatal adotado no Brasil.
O objeto geral é analisar os efeitos gerados pela desobrigação da contribuição
sindical no Brasil. Para realizar tal objeto, foram definidos como objetivos específicos:
a) Apresentar o conceito da contribuição sindical, as justificativas para sua existência

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e o contexto do movimento sindical brasileiro a partir dos anos 90 até o advento da
Reforma Trabalhista de 2017”; b) expor as diferentes correntes doutrinárias no que
diz respeito à desobrigação da contribuição sindical; e c)analisar a reação dos
sindicatos e os efeitos imediatos da desobrigação sobre eles.
Este projeto se utiliza da abordagem dedutiva, tendo por ponto de partido uma
generalização, e a partir deste obtendo respostas para questões particularizadas.
Utiliza o procedimento monográfica, tratando de um caso específico, o da
desobrigação da contribuição sindical no Brasil, mais especificamente em relação ao
movimento sindical. O trabalho tem por base a pesquisa monográfica, com análise da
doutrina e referenciais jurisprudências usados de maneira puramente ilustrativa.
Com vistas aos objetivos propostos a primeira seção apresenta o contexto
teórico e histórico, e busca responder ao primeiro objetivo específico. e esta é
subdividida em três tópicos. Abordando o que é a contribuição sindical, o modelo de
sindicalismo brasileiro e a recente trajetória do movimento sindical. A seção seguinte
apresenta a como a desobrigação é tratada conforme a doutrina, e busca responder
o segundo objetivo específico. É subdividida em cinco tópicos, discorrendo sobre o
contexto da reforma trabalhista, as correntes da doutrina a respeito da desobrigação,
a tese da inconstitucionalidade da desobrigação, a tese da constitucionalidade da
desobrigação e visões diferentes acerca do tema. A seção final discute a situação dos
sindicatos após a desobrigação, e busca responder o último objetivo específico, sendo
subdivida em dois tópicos, tratando dos Cortes e consolidação e novas fontes de
renda para a organização sindical. Por último são apresentadas as considerações
finais nas quais se retoma o problema e a hipótese de pesquisa.

2. CONTEXTO TEÓRICO E HISTÓRICO

Antes de adentrarmos em uma análise dos efeitos da desobrigação sindical, se


faz necessário uma contextualização, um referencial básico dos conceitos e contexto
sócio-políticos a serem abordados.
Nesse capítulo, será apresentado o conceito da contribuição sindical, as
justificativas para sua existência e o contexto do movimento sindical brasileiro a partir
dos anos 90 até o advento da Reforma Trabalhista de 2017.

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2.1 O QUE É A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL?

Antes de adentrarmos em uma análise dos efeitos da desobrigação sindical, se


faz necessário uma contextualização, um referencial básico dos conceitos e contexto
sócio-políticos a serem abordados.
Primeiramente, deve-se conceituar o que será nosso objeto de pesquisa: a
contribuição sindical. Uma sinopse útil desse conceito é dada por Manus (2017), que
o descreve nos seguintes termos:

A Constituição Federal, em seu artigo 8º, IV, ao cuidar da receita sindical


estabelecida pela assembleia geral do sindicato, ressalva a legalidade da
contribuição sindical prevista em lei. E na redação anterior à reforma
trabalhista de 2017, o artigo 579 da Consolidação das Leis do Trabalho dizia
que a contribuição era devida por todos aqueles que participassem de uma
determinada categoria profissional ou econômica, ou profissão liberal, em
favor do sindicato respectivo. Isto é, era obrigatória. [...]Assim, não só
sindicatos grandes e combativos podem sobreviver, mas também todos os
demais, pois têm direito ao recebimento da contribuição, que no caso dos
empregados corresponde ao salário de um dia de trabalho por ano,
independentemente de sua ação efetiva em prol da categoria.

Diante do exposto, podemos conceituar contribuição sindical como a


contribuição paga pelos empregados, empresas e profissionais liberais, em favor do
sindicato de determinada categoria.
Importante distingui-la das outras fontes de receita dos sindicatos. A distinção
entre essas fontes é nos fornecida por Yamamoto (2017):

Atualmente o sistema de receitas sindicais conta com quatro distintas fontes


de financiamento: a contribuição (“imposto”) sindical, a “taxa” assistencial, a
contribuição confederativa e a contribuição associativa (“mensalidade”). A
primeira e principal delas é a contribuição sindical que retira a remuneração
equivalente a um dia de trabalho do empregado por ano para financiar a
atividade do sindicato de base, tal qual da Federação, da Confederação e da
Central Sindical, quando há filiação. A jurisprudência consolidada do TST e
do STF há muito já pacificaram que a contribuição confederativa é exigível
apenas dos trabalhadores que são associados ao sindicato e que, quando é
prevista expressamente em Norma Coletiva da categoria, a contribuição
assistencial deve garantir direito de oposição para todos os trabalhadores.
Por fim, a contribuição associativa corresponde ao valor que o trabalhador
que se filia ao sindicato dispõe voluntariamente para participar da entidade.

A contribuição sindical não pode ser confundida com a contribuição sindical e


a taxa assistencial, ambas definidas por Norma Coletiva, tampouco com a contribuição
associativa, cobrada em troca de filiação efetiva participação da entidade sindical.

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Uma importante crítica dessa contribuição, quando ainda detinha
obrigatoriedade, é sua incidência em relação à trabalhadores não sindicalizados,
como apontado por Borges (2017):

Importante ressaltar que a incidência dessa contribuição em relação aos


trabalhadores não sindicalizados caracteriza a matriz parafiscal da receita.
Tal cobrança gera críticas severas no que tange à ofensa dos princípios da
liberdade associativa e da autonomia sindical. Sem embargo disso, foi
mantida no ordenamento jurídico pelo texto constitucional

Tal crítica, uma das principais ao sistema que existia anterior à reforma de
2017, será analisada de maneira mais aprofundada durante o desenvolvimento deste
trabalho, devendo já aqui ser identificada.
Importante salientar que a destinação da contribuição sindical é específica,
sendo definida por lei. A destinação da contribuição foi definida pelo art. 589 da CLT,
conforme explica Borges (2017):

A destinação da contribuição sindical é disciplinada pelo art 589 da CLT. No


referido artigo esta divisão da percentagem da seguinte forma: da
contribuição referente aos empregadores, 5% (cinco por cento) para a
confederação correspondente, 15% (quinze por cento) para a federação, 60%
(sessenta por cento) para o sindicato respectivo e 20% (vinte por cento) para
a “Conta Especial de Emprego e Salário”. Referente aos trabalhadores as
divisões das porcentagens de destinação da contribuição sindical são iguais,
salvo o acréscimo de 10% (dez por cento) para a central sindical e redução
para 10% (dez por cento) para a “Conta Especial de Emprego e Salário”. A
destinação da contribuição sindical não foi alterada pela Lei nº 13.467/2017
(p.12).

Diante disso, pode se observar que se trata de uma importante fonte de renda
do sistema sindical como um todo, dos pequenos sindicatos locais às grandes
confederações. De fato, a importância da contribuição obrigatória como tripé do
modelo sindical brasileiro será discutida em maior profundidade.

2.2 O MODELO DE SINDICALISMO BRASILEIRO

Como visto anteriormente, a contribuição sindical tem papel fundamental para


o funcionamento dos sindicatos. Tamanha sua importância que é incontroverso na
doutrina o status da obrigatoriedade da contribuição sindical como um dos pilares do
modelo sindical existente no Brasil anterior à reforma trabalhista. Nesse sentido,

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podemos trazer o voto do Min. Edson Fachin no julgamento da ADI nº 5794, que tratou
justamente da desobrigação da contribuição sindical:

O regime sindical estabelecido pela Constituição de 1988 está sustentado em


três pilares fundamentais: a unicidade sindical (art. 8º, II, da CRFB),
representatividade compulsória (art. 8º, III, da CRFB) e a contribuição sindical
(art. 8º, IV, parte final, da CRFB):

Tem-se aqui a identificação da contribuição como parte de um tripé que forma


a base no regime sindical brasileiro, junto à representatividade compulsória e à
unicidade sindical.
O modelo do sindicalismo brasileiro foi naturalmente influenciado pelo histórico
do desenvolvimento econômico do país. Um exemplo disso, como explica Pereira
(2019), foi o seu desenvolvimento tardio:

Como se observa, o sindicalismo no Brasil, devido às peculiaridades de sua


economia e sociedade apresentou um desenvolvimento tardio, quando
comparado com os países de industrialização mais antiga, pelo que se deflui,
também, que o sindicalismo se concretiza em simultaneidade ao processo de
industrialização e expansão do capitalismo, como instrumento de resistência
ao trabalho em condições desumanas, bem como da luta por melhores
condições de trabalho. (p.19)

O desenvolvimento tardio do sindicalismo brasileiro traz consigo peculiaridades


próprias, gerando um fenômeno distinto do existente em economias que sofreram um
processo de industrialização menos tardio.
As origens desse regime sindical remontam ao regime corporativista do Estado
Novo (1937-1945), governo durante o qual originou a CLT, conforme explica o Ministro
Fachin, também em seu voto no julgamento da ADI nº 5794:

Como ocorreu em diversos outros países, também no Brasil, as corporações


de ofício precederam os sindicatos e o direito de associação, o qual num
primeiro momento era proibido, e depois foi restabelecido, sendo fortemente
influenciado pelo movimento corporativista do Estado Novo, durante a década
de 30 do século XX e, finalmente, renovado e revigorado com o fim da
ditadura militar, na década de 80 do século XX.

Temos como origem do regime sindical brasileiro o corporativismo autoritário


do Estado Novo, algo que naturalmente é apontado como prova na sua natureza
fundamentalmente antidemocrática.
Não obstante tais origens, o sindicalismo brasileiro não é imutável, tendo
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passado por mudanças ao longo dos anos, em especial após a redemocratização e
consequente promulgação da Constituição de 1988. Nesse sentido, comenta Pereira
(2019):

A Constituição Federal de 1988 propiciou uma tímida liberdade sindical ao


expressamente declarar a liberdade de associação sindical, vedar a
interferência e intervenção do poder público na criação e organização dos
sindicatos, bem como ao alargar as prerrogativas de atuação, tanto em
questões administrativas, quanto judiciais, tornar obrigatória a participação
dos sindicatos na negociação coletiva e assegurar o direito de greve. (p.35)

Diante do exposto, fica evidente a existência no Brasil de um modelo de origem


corporativista, embora que tenha sofrido alterações ao longo do tempo, em especial
com a redemocratização.
Não obstante, diversas características de origem corporativista do modelo
sindical brasileiro são alvo de críticas, vistas como contrárias ao princípio da liberdade
sindical, em particular a unicidade sindical, como afirma Borges (2017):

O sistema sindical brasileiro é pautado na unicidade, ou seja, no monopólio


de representação sindical por imposição legal, de forma que não permite aos
trabalhadores a possibilidade de optarem espontaneamente pelo sindicato
que os representará. A unicidade sindical imposta pela legislação trabalhista
pátria é uma afronta à liberdade sindical preconizada pela Convenção nº 87
da Organização Internacional do Trabalho (OIT), relativa à Liberdade Sindical
e à Proteção do Direito de Sindicalização, aprovada em São Francisco, aos
17 de junho de 1948. (p.10)

A unicidade sindical é por vezes apontada como uma afronta a liberdade


sindical e obstáculo para efetiva organização dos trabalhadores, além de vista como
na contramão dos avanços históricos no sindicalismo internacional, conforme exposto
pela Convenção nº 87 da OIT. Tal crítica se demonstra de particular importância para
este trabalho, visto que a unicidade sindical é um dos “tripés” do modelo brasileiro,
sendo ligada diretamente ao objeto deste trabalho, ou seja, à contribuição sindical.
Em oposição a essa interpretação negativa da unicidade sindical, seus
defensores a veem como medida necessária para garantir organizações sindicais
fortes, dotados de reconhecimento e garantia estatal, pois estes podem resistir mais
efetivamente ao capital. Nesse sentido, Brasileiro e Brasileiro (2020) relatam:

Durante a pesquisa de campo, diversas foram as denúncias dos


entrevistados sobre condutas por parte da empresa que pressionavam os

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trabalhadores a não se sindicalizarem ou não contribuírem com seus
sindicatos. Também por essa razão, em entrevista, a representante do SinPro
Minas manifestou-se favorável à manutenção da unicidade sindical. Seu
temor é que, na ausência do reconhecimento oficial-legal do Estado, sejam
criados sindicatos por patrões para, supostamente, representar trabalhadores
e que seus empregados fossem coagidos a se sindicalizarem a tais sindicatos
fraudulentos. A projeção não parece ser infundada e demonstra como às
diversas alternativas esboçadas não suprem a desigualdade de forças entre
capital e trabalho, ainda que no plano das relações coletivas (p.2402).

Enquanto alguns a veem como ofensa à liberdade sindical, outros consideram


a unicidade sindical como um importante mecanismo para garantir o fortalecimento do
movimento sindical. De qualquer forma, o mérito ou não da unicidade sindical é algo
que escapa ao escopo do presente trabalho, sendo conceituado aqui meramente para
contextualização.

2.3 RECENTE TRAJETÓRIA DO MOVIMENTO SINDICAL

Tendo conceituado a contribuição sindical e modelo de sindicalismo onde esta


se insere, deve ser produzida uma imagem da realidade do movimento sindical no
período anterior à desobrigação, de maneira a ponderar sobre os efeitos da
desobrigação sobre este.
É praticamente unânime na doutrina considerar a década de 1990 como uma
de crise para o movimento sindical. Dito isso, há um grande repertório de evidência
apontando os anos 2000 como um período de ascensão e recuperação do movimento
sindical, superando teses de um suposto declínio. Nesse sentido comenta Heiler
(2013) em sua análise:

Amplamente amparados em dados sobre as Greves do DIEESE sustentam a


tese de que a) o sindicalismo não está em fase de declínio, concepção
erroneamente sustentada por alguns pesquisadores, b) apontam o período
da década de 90 como período de crise sindical no Brasil e c) que a partir dos
anos 2000 o movimento sindical apresenta uma fase ascendente de
recuperação, presente nas manifestações grevistas de cunho ofensivo com
efetivo ganho salarial para as classes trabalhadoras, não afetado nem mesmo
pela crise de 2008 na economia internacional.a fase ascendente de
recuperação, presente nas manifestações grevistas de cunho ofensivo com
efetivo ganho salarial para as classes trabalhadoras, não afetado nem mesmo
pela crise de 2008 na economia internacional.

As primeiras duas décadas deste século foram caracterizadas por uma


ascensão do movimento sindical, com aumento da atividade sindical e criação de
novas centrais sindicais, com destaque especial para o período após a Crise de 2008
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e consequente “declínio ideológico da matriz de pensamento neoliberal” (Heiler,
2013).
Não obstante essa ascensão, a década de 2000 também foi caracterizada por
crises em organizações, embora à nível menor, principalmente no que diz respeito ao
choque entre o apoio de lideranças sindicais ao governo Lula e à rejeição de aspectos
neoliberais de sua pauta por uma significativa parcela da base do movimento sindical.
A respeito desse tema, Galvão (2009) expõe:

A eleição de Lula modificou esse cenário, favorecendo a acomodação da


CUTt e aprofundando suas divisões internas. As diferenças entre CUT e FS
se reduzem, na medida em que a primeira se torna uma central governista e
a segunda tem dificuldades para exercer o papel de oposição. Ao mesmo
tempo, o primeiro mandato de Lula foi marcado pelo aprofundamento da
divisão do movimento sindical. Além da criação da NCST, a crise no interior
da CUT deu origem a novas experiências organizativas, como a Conlutas e a
Intersindical. (p.197)

Como pode ser observado, o apoio de lideranças sindicais ao governo Lula, e


posteriormente ao governo Dilma, aprofundando as fissuras dentro do movimento
sindical. No mais, como será apontado posteriormente, o contexto desta aliança entre
o PT e os sindicatos terá influência no desenvolvimento da reforma trabalhista de
2017, incluindo na desobrigação da contribuição sindical.
No que pese esses conflitos internos no movimento sindical, o período dos
governos petistas (2003-2016) distingue-se da crise da década anterior como um
período de recuperação quantitativa e qualitativa da atividade sindical, como conclui
Heiler (2013) em sua análise doutrinária:

A argumentação de José Dari Krein et al (2012) de que a tese hegemônica


existente nos anos 1990 de flexibilização das relações de trabalho foi
perdendo força com a melhora dos indicadores do mercado de trabalho,
especialmente após 2004, confirma a tese de Boito Jr e Marcelino (2010) que
rechaçam a ideia de declínio do movimento sindical. Para estes últimos, pelo
menos desde 2004 é presente uma conjuntura de recuperação da atividade
sindical no Brasil. Tese que é amparada também pelo trabalho de Andreia
Galvão (2012) ao indicar o surgimento de novas centrais sindicais durante o
governo Lula como consequência do acirramento político no período.
Portanto, os três trabalhos, por diferentes vias, partilham de um diagnóstico
positivo do sindicalismo brasileiro desde a eleição de Lula em 2002.

Pelo exposto, há ampla gama de evidência sustentando a tese do período


anterior à reforma de 2017, em particular a partir de 2004, como um período de
revitalização do movimento sindical, marcado simultaneamente pelo fim do processo
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de crise, erroneamente apontado como declínio, da década de 1990, e por divisões
internas no movimento sindical, reflexos do acirramento político deste período.
Uma vez explicado o status do movimento sindical no período anterior à
desobrigação da contribuição sindical, deve-se analisar o contexto histórico e político
de 2017, visando à exposição do pano de fundo da Lei 13.467/2017 e a
contextualização da desobrigação da contribuição sindical, objeto central deste
trabalho.

3. A DESOBRIGAÇÃO CONFORME A DOUTRINA

Nesse capítulo, será analisada a desobrigação sindical pelos olharas doutrina,


expondo as diferentes e suas interpretações a respeito da contribuição sindical e dos
efeitos da desobrigação. Tal análise objetiva atender o segundo objetivo específico.

3.1 O CONTEXTO DA REFORMA TRABALHISTA

Importante comentar sobre o contexto histórico no qual à Lei 13.467/2017 , ou


simplesmente reforma trabalhista de 2017, se insere. A nível nacional, o governo
Temer buscava se consolidar após o impeachment de Dilma Rousseff, tendo de
enfrentar uma alta impopularidade e uma série de escândalos que abalaram um
governo que já era tido por alguns como ilegítimo. A legitimidade não será objeto de
análise do presente trabalho, mas deve ser mencionada tendo em vista o contexto em
que a reforma surgiu e às reações a ela, conforme pode ser ilustrado pela seguinte
passagem de Yamamoto (2017):

Vale lembrar, por exemplo, que a Deforma Trabalhista foi enviada por um
Presidente ilegítimo com o objetivo de “abafar mais uma crise política” do
governo golpista. Ou seja, originariamente a proposta não era destruir
totalmente a CLT, como acabaram por fazer, mas antes, atacar pontualmente
as entidades sindicais e, sobretudo, lançar uma cortina de fumaça em mais
uma crise política que o governo atravessava, menos de um mês depois da
renúncia de seu Ministro-chefe da Secretaria de Governo, o hoje encarcerado
Geddel Vieira Lima. (p.2)

Tem-se um governo com fraco mandato popular buscando se consolidar em


meio a uma crise política de grandes proporções, com a reforma servindo como
reforço à legitimidade do governo e fonte de prestígio junto aos seus apoiadores

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políticos.
Inexoravelmente conectada à essa realidade política, temos a realidade
econômica do país no período, em meio à uma crise econômica que já entrava em
seu terceiro ano, como explicam Ferreira e da Silva (2019):

Até o ano de 2007, os índices de empregados registrados no país possuíam


uma boa margem, até que a taxa de desemprego atingiu quase 5%, em 2014,
sendo assim a menor taxa medida pelo IBGE até então. Com a crise
econômica que deu início em 2015, a recessão foi estrondosa, o que
ocasionou recuo no PIB por dois anos consecutivos. Dessa forma, a taxa de
desemprego foi atingida, fazendo com que em 2017, o número de
desempregados passou da marca de 14,2 milhões. No governo da
presidente Dilma Rousseff já havia propostas para a reforma, que foram
deixadas de lado por pressões de centrais sindicais. Ao assumir o cargo da
presidência, Michel Temer, fez discurso defendendo uma reforma trabalhista
no sistema, a qual, segundo ele, seria necessária para a geração de novos
empregos. (p.3)

A reforma trabalhista teve por justificativa a necessidade de combater a crise


econômica que assolava o país, em particular no que diz respeito à alta taxa de
desemprego. Tal resposta já havia sido proposta no governo Rousseff, sendo
abandonada pela pressão das centrais sindicais. Temer, por ter com a oposição de
tais organizações desde o início de seu governo e sendo dependente de apoio da
antiga oposição ao governo Rousseff, não foi compelido pela pressão destas e tomou
para si a bandeira da reforma trabalhista desde o início.
Ainda no contexto da política nacional, a reforma trabalhista atendia os anseios
do empresariado e do setor financeiro, grupos que o governo Temer desde o início
cortejou e formaram sua principal base de apoio, e ao mesmo tempo opunha os
interesses do movimento sindical, um grupo intimamente ligado ao antigo governo.
Conforme explicitado por Silva e Ferreira (2019), a tensão entre esses dois grupos
dominou o debate sobre a reforma:

Desde sua propositura, a reforma trabalhista foi criticada, pela Centra Única
dos Trabalhadores, outros sindicatos, pelo Ministério Público do Trabalho,
pela Organização Internacional do Trabalho. Em contrapartida, recebeu apoio
por economistas e empresários e, também, pelo presidente do Tribunal
Superior do Trabalho. (p.4)

Evidente que a reforma se insere dentro do realinhamento político após o


impeachment de Dilma Rousseff, onde determinados setores ganharam mais
influência às custas de outros grupos que agora se encontravam fora dos salões do
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poder. No caso in quo, o empresariado e o setor financeiro expandiram sua influência
às custas do movimento sindical, que não fazendo parte da coalizão construída ao
redor do governo Temer, foi marginalizado pela nova administração.
Além do contexto político e econômico nacional, a reforma deve ser entendida
como parte de tendência neoliberal, existente desde a segunda metade da década de
1970, que por si só vêm trazendo a quebra dos antigos paradigmas do sindicalismo,
como explicam Brasileiro e Brasileiro (2021):

[...]ao abordar a crise sindical, que atingiu os países de capitalismo avançado


na década de 1980 e o Terceiro Mundo na década de 1990,juntamente com
a expansão do neoliberalismo e a abertura para a reestruturação produtiva,
ressalta as tendências contextuais que dificultam a atuação sindical: 1)
relações de trabalho individualizadas; 2) desregulamentação e flexibilização
do mercado de trabalho; 3) esgotamento do sindicalismo de participação
impossibilitado pelo desemprego estrutural; 4) “burocratização e
institucionalização das entidades sindicais”; 5) “culto ao individualismo
exacerbado e resignação social”.

Logo, além de uma resposta à situação econômica e questões políticas de


ordem externa, a reforma trabalhista se insere dentro um contexto internacional: o
neoliberalismo e sua consequente onda desreguladora, um movimento já em curso
há décadas que encontrou no governo Temer condições favoráveis para seu avanço.
Por todo exposto, a reforma trabalhista deve ser entendida como,
simultaneamente, resultado do contexto político em que o país se encontrava, com o
governo Temer buscando sua consolidação, o atendimento de suas bases de apoio,
e a marginalização de sua oposição dos salões do poder, como também deve ser vista
como parte de uma conjuntura internacional pré-existente que promove a
desregulamentação e o neoliberalismo.
Explicado a visão da doutrina no que diz respeito ao contexto histórico da
reforma trabalhista, passamos agora para uma análise o que sera o resultado da
desobrigação segundo a doutrina.

3.2 CORRENTES DA DOUTRINA A RESPEITO DA DESOBRIGAÇÃO

É praticamente unânime o entendimento que, a curto prazo, a desobrigação da


contribuição sindical resultou no enfraquecimento dos sindicatos estabelecidos, tendo
resultado em significativa perda de seus fundos. Nesse sentido, Manus (2017) afirma:

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Uma questão a realçar neste tema é que a estrutura administrativa e a
atuação dos vários sindicatos profissionais e patronais é bastante complexa,
e seus compromissos financeiros são proporcionais a sua receita, o que
ocorre há muitas décadas. Desse modo, acreditamos que a retirada da
contribuição sindical obrigatória de imediato tanto num grande sindicato
quanto numa entidade de tamanho e representação menores cause sérios
abalos financeiros.

Embora haja um entendimento consolidado a respeito do impacto causado pela


desobrigação no curto prazo, sendo o exposto por Manus acima um exemplo
ilustrativo, os efeitos da mudança no longo prazo e seu significado para o paradigma
do sindicalismo brasileiro ainda são intensamente debatidos.
Como hipótese inicial deste trabalho, utiliza-se a ideia de que, embora
enfraquecidos num primeiro momento, a desobrigação da contribuição sindical abre a
possibilidade para um sindicalismo mais ativo, liberando os sindicatos do
acomodamento intrínseco ao modelo de corporativismo estatal adotado no Brasil.
Nesse sentido explica Borges (2017):

Um reflexo da opção de tornar a contribuição sindical facultativa seria a


mudança de postura na atuação das entidades sindicais, porque o fim da
compulsoriedade prestigia os sindicatos efetivamente atentos à defesa dos
trabalhadores representados, em detrimento dos sindicatos inoperantes.

Não obstante o entendimento inicial adotado nesse trabalho, é notória a


existência de entendimento contrário dentro da doutrina, e esta visão merece ser
devidamente abordada. Como representação desta corrente, podemos trazer
Yamamoto (2017):

Agora, abruptamente, tal qual Jacinto de Tormes na obra clássica “A cidade


e as serras”, os sindicatos oficiais se veem despidos da receita compulsória
que os sustentavam. Outrossim, suas responsabilidades aumentaram
desproporcionalmente, permitindo que negociem de forma a reduzir os
Direitos Sociais que até hoje a classe trabalhadora brasileira tinha garantido
por lei. Aos juristas que se recusam aderir à injusta legislação cínico-vulgar,
restam duas possibilidades: a primeira e melhor é o rechaço integral à
aplicação da lei, tendo em vista sua absoluta e total inconstitucionalidade; a
segunda, a qual se lança mão apenas subsidiariamente, é o entendimento de
que a única possibilidade de se compatibilizar o fim do financiamento
compulsório no atual ordenamento jurídico seria por meio do afastamento dos
dois outros pilares da estrutura sindical – a investidura e, sobretudo, a
unicidade sindical.

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Conforme demonstrado, existe na doutrina do direito do trabalho uma visão da
desobrigação como instrumento de enfraquecimento da classe trabalhadora e do
modelo sindical, inclusive argumentando, entre os expoentes mais radicais dessa
corrente, a inconstitucionalidade de tal reforma.

3.3 TESE DA INCONSTITUCIONALIDADE DA DESOBRIGAÇÃO

Como visto anteriormente, a contribuição sindical é um dos pontos mais


controversos do direito do trabalho e, naturalmente, recebeu especial atenção da
oposição à reforma trabalhista de 2017, como relata Silva (2020):

Coube, aos sindicatos propor várias ADI’s com o intuito de que a contribuição
sindical que antes era obrigatória, e agora passou a ser opcional devido a
aprovação da reforma trabalhista fosse declarada inconstitucional. Contudo,
o DTF decidiu pela sua constitucionalidade e unificou o reconhecimento das
18 ADIs que buscavam o contrário (p. 24).

A questão da constitucionalidade da desobrigação da contribuição sindical uma


importante controvérsia da doutrina no período inicia após a passagem da Lei nº
13.267/2017 e, portanto, merece ser analisada.
O julgamento da ADI 5794/DF, que tratou sobre o tema, se prova uma fonte
importante para analisar as correntes doutrinária desta controvérsia. No que diz
respeito aos argumentos para a inconstitucionalidade da desobrigação, podemos citar
o voto do relator, Min. Edson Fachin. Senão vejamos

Considerando que a contribuição sindical obrigatória tem destinação


específica estabelecida por lei, nos termos do artigo 589 da CLT, estando
10% (dez por cento) do valor arrecadado dos empregados destinado à Conta
Especial Emprego e Salário (FAT), constituindo, portanto, nesse particular,
receita pública, era obrigação constitucional expressamente imposta indicar,
para sua alteração, estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro
(artigo 113 do ADCT, acrescido pela Emenda Constitucional 95/2016), o que
não foi demonstrado nos autos.
Assim, está configurada a inconstitucionalidade formal das alterações legais
indigitadas nas ações diretas de inconstitucionalidade ora analisadas.

Primeiramente, o Ministro aponta uma inconstitucionalidade formal, diante da


inadequação da reforma ao imposto pela PEC do Teto de Gastos, e reconhecendo a
contribuição sindical como espécie de receita.

13
Porém, também temos, em maior sintonia com o debate doutrinário, seu
argumento para inconstitucionalidade material

Outrossim, sob a perspectiva da inconstitucionalidade material, o argumento


também ganha relevo em face da real possibilidade de frustrar e fazer
sucumbir o regime sindical reconhecido como direito fundamental social pelo
constituinte de 1988. Isso porque, ao manter-se, na sistemática constitucional
vigente, a unicidade sindical e a obrigação de representação de toda a
categoria, incluindo associados e não-associados, a inexistência de uma
fonte de custeio obrigatória inviabiliza a atuação do próprio regime sindical.

Temos aqui o argumento central da tese da inconstitucionalidade: a existência


de uma modelo de sindicalismo reconhecido pelo legislador constituinte originário que,
como visto anteriormente, tem como os seus pilares a unicidade sindical, a obrigação
de representação de toda a categoria e contribuição sindical obrigatória.
Consequentemente, a existência de tal modelo constitucionalmente estabelecido
implica na necessidade de emenda constitucional pare ser alterado.
As alterações ao modelo sindical constitucionalmente estabelecido, por sua
vez, devem ser realizadas de maneira a criar um sistema viável para proteção dos
direitos do trabalhador, do contrário temos a violação de seus direitos
constitucionalmente garantidos. Nesse sentido, afirma o Ministro Fachin:

O financiamento das entidades sindicais deve ser debatido a partir das


premissas estabelecidas na Constituição de 1988, pois enquanto o sistema
sindical estiver vinculado à unicidade sindical, que considera representativo
apenas um único sindicato por categoria em determinada base territorial, e,
por outro lado, enquanto a negociação coletiva espargir seus efeitos para
além dos trabalhadores associados, é necessário estabelecer-se um tributo
para custear esse sistema, sob pena de inviabilização do funcionamento
desse sistema.

Logo, segundo esta interpretação, a desobrigação da contribuição sindical só


seria constitucional se acompanhada do fim da unicidade sindical pois, do contrário,
implicaria na inviabilização do modelo de sindicalismo constitucionalmente
estabelecido.
Tal linha de argumentação implica no reconhecimento de uma limitação ao
princípio da liberdade sindical, imposta pelo legislador constitucional originário. Nesse
sentido, tem-se o voto da Ministra Rosa Weber, senão vejamos:

14
Entretanto, há de ser reconhecer a delimitação da organização constitucional
do sistema sindical brasileiro com base no princípio da liberdade sindical,
observadas as limitações expressamente estabelecidas, notadamente a
unicidade sindical e a contribuição sindical compulsória. Não há exercício da
ampla representatividade da categoria sem o respectivo custeio das
entidades sindicais. O financiamento constitui elemento indispensável à
estruturação saudável dos sindicatos. A diminuição brusca e repentina da
receita debilita a agência sindical com reflexos perniciosos na melhoria das
condições de trabalho em ofensa aos arts.

Logo, segundo esta concepção, o legislador constitucional teria reativado os


princípios de liberdade sindical e associativa ao impor o modelo de sindicalismo
constitucionalmente estabelecido.
Polo exposto, temos que os argumentos contra a constitucionalidade da
desobrigação da contribuição sindical se baseiam, principalmente, no reconhecimento
de um modelo de sindicalismo constitucionalmente estabelecido, que tem por bases
três pilares: a unicidade sindical, a obrigação de representação de toda a categoria e
contribuição sindical obrigatória. Logo, a desobrigação da contribuição sindical deve,
necessariamente, ocorrer por via de emenda constitucional e de maneira a substituir
o modelo de sindicalismo implanto no país, de maneira a preservar a efetividade da
representação sindical.

3.4 TESE DA CONSTITUCIONALIDADE DA DESOBRIGAÇÃO

Não obstante argumentos pela inconstitucionalidade de facultatividade da


contribuição sindical, tal tese não prosperou. Logo, se torna importante analisar os
argumentos vencedores, em favor da constitucionalidade de tal alteração.
Em contrapartida a corrente descrita anteriormente, a defesa da
constitucionalidade dessa alteração vê no legislador constitucional originário uma
relativação do modelo corporativista existente, com um movimento pela liberdade
sindical, em si parte de um movimento mais amplo de democratização da sociedade.
Nesse sentido temos o voto do Ministro Alexandre de Moraes no julgamento da ADI
5794/DF, senão vejamos:

A CONSTITUIÇÃO de 1988 fez o que foi possível à época, e, se não encerrou


a estrutura sindical centralizadora e paternalista, deu um importante passo
nesse sentido, estabelecendo normas imediatas e mediatas no sentido de
possibilitar a ruptura dos grilhões entre ESTADO/SINDICATO e
SINDICATO/TRABALHADOR, quanto à liberdade individual associativa.

15
A existência de tal processo implicaria num desejo de um processo de
liberalização do modelo sindical, expandindo a liberdade sindical e rompendo o
paradigma de corporativismo centralizado.
Tal movimento implica num desejo, por parte do legislador constitucional
originário, de ter tal processo de promoção da liberdade sindical continuado. Nesse
sentido, ainda no voto do Ministro Alexandre de Moraes, tem-se o seguinte:

Porém, além dessas normas imediatas de fortalecimento das liberdades


sindical e individual associativas, o texto constitucional permitiu ao legislador
que evoluísse na ampliação do sentido da própria liberdade individual de
associar-se, pois, além de não constitucionalizar o denominado “imposto
sindical”, estabeleceu como fonte principal de custeio dos sindicatos a
contribuição associativa fixada em assembleia geral. A CONSTITUIÇÃO
FEDERAL, portanto, nem extinguiu, nem tornou obrigatória a existência do
“imposto sindical”, delegando tal tarefa ao Congresso Nacional. Igualmente,
não estabeleceu um modelo vinculante ao Legislador – recolhimento
compulsório ou facultativo –, caso entendesse por bem instituir essa
contribuição.

Neste sentido, argumenta-se que inexistiria um modelo de sindicalismo


favorecido pelo legislador constitucional originário, a posto que inexistiria uma
constitucionalização do imposto sindical, sendo dada ao Legislador infraconstitucional
a liberdade de legislar sobre o assunto, sem ser a ele vinculado um modelo de
sindicalismo constitucionalmente estabelecido.
Ainda no voto do Ministro Moraes, é rejeitada a tese da inviabilização da
representação sindical e consequente violação desse direito constitucionalmente
favorecido, sob argumento da existência de outras formas de custeio dos sindicatos,
senão vejamos:

As alterações promovidas pela Lei 13.467/2017 em relação ao financiamento


dos sindicatos, embora tenham suprimido, por um lado, a exigibilidade
compulsória das contribuições sindicais, de outro, expandiram a
regulamentação da percepção de honorários nas causas trabalhistas, fixando
o direito de recebimento dessa parcela “entre o mínimo de 5% (cinco por
cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da
liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível
mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa”, a ser devido nas causas em
que o sindicato atue como assistente ou substituto processual (artigo 794-A,
caput, e § 1º, da Consolidação das Leis do Trabalho). Certo também é que
a contribuição sindical não representa a única fonte de custeio juridicamente
prevista em favor dos sindicatos. A própria CONSTITUIÇÃO FEDERAL prevê
a contribuição confederativa (artigo 8º, inciso IV) e a Consolidação das Leis
do Trabalho contempla, ainda, as mensalidades e taxas assistenciais (artigos

16
548, alínea “b”; e 513, alínea “e”), que podem ser reajustadas para fazer frente
ao decréscimo de receitas.

Argumenta-se que a existência de outras formas de custeio da atividade


sindical, inclusiva algumas que teriam sido favorecidas pela Lei nº 13.467/2017,
possibilitam a devida representação sindical e proteção dos direitos trabalhista mesmo
diante da facultatividade da contribuição sindical.
No mais, a concepção da constitucionalidade da desobrigação implica numa
maior valorização do princípio da liberdade sindical e associativa, sem a limitação
reconhecida pela corrente contrária. Nesse sentido, tem-se o voto do Ministro Marco
Aurélio:

Presidente, a Carta de 1988 implicou a passagem do regime de exceção para


o essencialmente democrático. Veio à balha a previsão do artigo 8º. Por duas
vezes, é indicado que associação é um direito a ser exercido, pelos
integrantes da categoria profissional, de forma espontânea.
A cabeça do artigo tem início com a referência "é livre a associação
profissional sindical". E no inciso V está previsto que "ninguém será obrigado
a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato".

Logo, segundo tal concepção, o direito constitucional de livre associação deve


se preponderar, sendo que a obrigatoriedade da contribuição violaria o espírito de
democratização da Constituição de 1988.
Pelo exposto, tem-se que os argumentos pela constitucionalidade da
desobrigação da contribuição sindical se baseiam, principalmente, na inexistência de
um modelo constitucionalmente institucionalizado de sindicalismo, na não
relativização da liberdade de associação sindical e na existência de outras formas de
custeio sindical, bem como numa interpretação da Constituição de 1988 como parte
de um movimento de liberalização e democratização das relações laborais.

3.5 VISÕES DISTINTAS

O debate sobre a desobrigação da contribuição sindical pode ser entendido


como uma extensão de um debate mais amplo, entre concepções distintas da
realidade contemporânea das relações de trabalho e da situação do movimento
sindical.

17
A defesa da desobrigação se insere dentro de uma visão do movimento sindical
como estagnado, atrofiado e distorcido. Como exemplo dessa visão, podemos citar o
voto do Ministro Gilmar Mendes o julgamento da ADI 5794/DF, senão vejamos:

O Brasil teria hoje 16.800 sindicatos, portanto é um modelo de associativismo


subsidiado pela contribuição sindical. A África do Sul tem 191, os Estados
Unidos 190, o Reino Unido 168, a Dinamarca 164, a Argentina, que também
ama o modelo de fortalecimento das entidades sindicais, com 91. De fato,
esse modelo levou a completas distorções.
Por outro lado, como já foi apontado aqui, não se cuida de suprimir um modelo
de sustentabilidade do sistema, mas, simplesmente, de fazer com que os
sindicatos sejam sustentados, como todas as demais associações, por
contribuições voluntárias, o que, claro, vai exigir de todos um esforço no
sentido de trazê-los para essa participação.

Dentro desta concepção, a facultatividade da contribuição sindical é vista uma


medida necessária para introduzir dinamismo e elã ao movimento sindical,
emperrados pelo comodismo.
De fato, a Lei nº 13.267/2017 como um todo foi justificada com argumentos de
modernização e dinamização da economia e das relações de trabalho, como explicam
Brasileiro e Brasileiro (2020):

Uma vez vigente a norma, para efeitos interpretativos, é necessário levar em


conta os motivos explicitados institucionalmente. Em parecer proferido pela
Comissão Especial destinada ao então PL 6.787/16, dentre as razões
apresentadas, encontram-se i) a modernização da legislação do trabalho, ii)
a facilitação à criação de empregos frente à forte crise econômica que o país
atravessava, iii) a diminuição da litigiosidade na Justiça Trabalhista e iv) a
ampliação da liberdade sindical nas relações coletivas. Todavia, estas
afirmativas são, por vezes, identificadas como mitos por estudiosos do Direito
do Trabalho. Passamos, então, à análise de cada uma delas.

A Lei nº 13.267/2017 tem por base uma visão das relações econômicas no país
como ultrapassadas e atrofiadas, necessitando de uma liberalização, obtendo um
dinamismo por meio da remoção daquilo que é percebido como “entrave” ao
desenvolvimento econômico.
Em contrapartida, para aqueles que se opõem à desobrigação, esta e a Lei nº
13.267/2017 como um todo são tidas como parte de um projeto de precarização das
relações de trabalho e enfraquecimento da classe trabalhadora. Nesse sentido, afirma
Nery (2022):
Não é nenhuma novidade a ninguém minimamente atento que o capitalismo
vive mais uma de suas crises, decorrentes da exploração desenfreada dos

18
recursos naturais, da acumulação da riqueza nas mãos de uns poucos, da
precarização das relações de trabalho que resulta em menos recursos
financeiros aos empobrecidos, resultando em menor circulação de riquezas.
O tema da distribuição de renda nunca esteve tão presente e centralizada no
debate político e econômico, ainda que a opinião dos ditos liberais insista em
se manter convicta no sentido de que somente as forças do mercado, a
iniciativa empreendedora e o aumento da produtividade é que irão permitir a
melhora de renda e de condições de vida das pessoas marginalizadas (p. 2).

Nessa concepção, as crises próprias do capitalismo são utilizadas para


precarizar as condições da classe trabalhadora e intensificar a acumulação de riqueza
das classes dominantes, sob o argumento de que tais medidas são necessárias para
retornar à prosperidade.
Para autores que seguem essa linha, tais medidas estão inclusas num projeto
neoliberal que visa a desestruturação das instituições democráticas e reestruturar a
sociedade de maneira mercantilizada. Nesse sentido, afirmam Brasileiro e Brasileiro
(2020):
A racionalidade neoliberal degrada elementos basilares da democracia. De
acordo com Wendy Brown, para além da dominância mercantil nas
instituições, fundamentos constitutivos da democracia, como princípios de
justiça, cultura política, hábitos de cidadania e, principalmente, o imaginário
intersubjetivo democrático, são desfeitos por uma racionalidade que
subordina todos os âmbitos da vida social à esfera econômica. Esse processo
é chamado pela autora de “economização” neoliberal da vida política ou de
desdemocratização neoliberal

Logo, a retórica de prosperidade e busca por dinamismo, segundo esta


corrente, esconderia um esforço para subornaras as instituições e princípios da
sociedade à ideologia e aos interesses do mercado.
Pelo exposto, podemos concluir que o debate sobre a contribuição sindical se
encontra dentro de um debate mais amplo entre, de um lado, aquele que acreditam
na necessidade de liberalização para trazer prosperidade e dinamismo à um conjunto
de realidades socioeconômicas tida por estes como estagnada e, no outro lado, um
grupo que vê nessa tendência um esforço para reestruturar a sociedade aos
interesses do mercado, antagônico aos interesses das classes mais baixas.

4. OS SINDICATOS APÓS A DESOBRIGAÇÃO

Nesse capítulo, será analisado os efeitos que a desobrigação da contribuição


sindical teve sobre o movimento sindical e, consequentemente, como os sindicatos
reagiram à essa nova realidade.
19
4.1 CORTES E CONSOLIDAÇÃO

No geral, observou-se que os sindicatos tomaram atitudes de retração após a


reforma, com vezes sofrendo perante uma ofensiva da classe patronal, como relatam
Brasileiro e Brasileiro (2020) em sua pesquisa:

Os representantes acreditam que, com o enfraquecimento financeiro das


entidades e a precarização da classe pela Reforma, sindicatos profissionais
não terão poder negocial para enfrentar as tentativas patronais de redução
dos direitos contidos nos Acordos e Convenções Coletivas de Trabalho. [...]
Todos os sindicatos haviam realizado negociações após a vigência da
Reforma e destacam a mudança do comportamento das empresas ou
sindicatos patronais no decorrer do processo ou no respeito às normas
coletivas. Alguns entrevistados, como os ligados ao STEFBH, o SJP-BH e o
SindMetal-BH, relatam a insegurança jurídica que dispositivos
inconstitucionais da Reforma provocaram. Para eles, o fato de não se saber
ainda qual o posicionamento que será adotado pela Justiça do Trabalho fez
com que o comportamento patronal durante as negociações deste ano tenha
sido mais cauteloso. Ainda assim, houve perda de direitos, como a
implementação de banco de horas positivo e negativo e a retirada de
benefícios, como plano de saúde.

Evidente que a redução de sua fonte de custeio interferiu diretamente com a


capacidade das organizações sindicais de realizarem sua função de defesas dos
interesses da classe, os colocando em posição de vulnerabilidade perante ofensivas
do poder patronal e em desvantagem em negociações.
Também foram registradas diminuições no número de acordos e convenções
coletivas, indicando uma diminuição da atividade sindical, como afirmam Batista e
Seferian (2020):

Uma primeira constatação, formulada pelo DIEESE a partir de plataforma


denominada Mediador, instituída pelo extinto Ministério do Trabalho para o
acompanhamento dos acordos e convenções coletivos de trabalho, dá conta
de que, em números absolutos, de janeiro a outubro de 2018, “as convenções
registravam queda de 25% em relação a igual período de 2017; e os acordos,
queda de 23%” (DIEESE, 2018: 7). Os números mostram de maneira clara,
portanto, que uma quantidade significativamente menor de categorias teve
acesso a negociações coletivas de trabalho.

A partir desses dados, pode-se concluir que a desobrigação afetou


negativamente a capacidade das organizações sindicais de realizarem suas ações
negociais, com potenciais efeitos negativos para o trabalhador.

20
De maneira a lidar com a renda reduzida, mudanças significativas tiveram de
ocorrer na estrutura dos sindicatos, com o corte de custos, como explicam Batista e
Seferian (2020):

Essa percepção dos dirigentes ganha importância quando se observa suas


respostas sobre as estratégias de resistência à contrarreforma, em que a
maior fração, de 53%, aponta a necessidade de adequar a estrutura do
sindicato à nova realidade financeira e política, ao lado da também expressiva
porção de 25% que mencionou o compartilhamento de estruturas.

Além do compartilhamento de estruturas, os autores relatam medidas como


redução de patrimônio e fechamento de subsedes (Batista; Sefarian, 2020), todas com
o objeto de reduzir custos perante a brusca redução da renda.
No mais, tem-se registrado uma redução significativa no número de registros
de novos sindicatos, indicando uma inviabilização da expansão da representação
sindical, como relata Silva (2020):

Discorrendo sobre o crescimento em número de sindicatos existentes no


Brasil com a contribuição obrigatória em vigor, chegou-se a mais de
dezessete mil sindicatos segundo reportagem do jornal O Estado de São
Paulo de 30 de agosto de 2018. Mas com o fim da obrigação da contribuição
sindical já estão diminuindo os registros de acordo com os dados do Cadastro
Nacional de Entidades Sindicais [...] (p. 26-27)

Evidente que fim da obrigatoriedade da contribuição sindical desencorajou o


exercício da liberdade sindical, tendo as vistas o maior risco de inadimplência perante
a parte desta fonte de renda.
Além da diminuição na criação de novos sindicatos, prevê-se a diminuição no
número de sindicatos como um todo, uma vez que pequenos sindicatos se tornam
economicamente inviáveis, sendo, portanto, encorajados a se fundir com sindicatos
maiores. O então Ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, já previu isso em 2017,
conforme entrevista feita com o site de notícias G1:

Atualmente, segundo o ministro, há cerca de 16,8 mil sindicatos no Brasil, dos


quais 5,1 mil são patronais. O restante, cerca de 11,3 mil, representa os
trabalhadores. "Eu acredito que deverá reduzir em 30% dos 11,3 mil
sindicatos [dos trabalhadores]", declarou o ministro. Segundo Nogueira, essa
redução vai acontecer porque parte dos sindicatos vai se fundir a outros
(MARTELLO; AMATO, 2017)

21
Com a fusão de sindicatos menores, tem-se uma reestruturação do ambiente
sindical brasileiro, favorecendo organizações sindicais maiores, sendo que é ainda é
cedo para determinar os efeitos dessa mudança para o trabalho.
Pelo exposto, é evidente que a desobrigação trouxe uma crise para o
movimento trabalhista como um todo, com retrocessos diante de contra investidas
patronais, redução no estabelecimento de novos sindicatos e uma reestruturação
diante de condições que favorecem sindicatos maiores, sendo que o movimento
sindical ainda está se adaptando à nova realidade. Tal desestruturação, e em especial
a diminuição na criação de novos sindicatos, implicam que a desobrigação atuou
como empecilho da realização da liberdade sindical.

4.2 NOVAS FONTES DE RENDA

Com a perda de sua principal fonte de renda, as organizações sindicais


buscaram novas fontes de renda. Uma das estratégias usadas foi a aprovação de taxa
negocial em assembleia, como explicam Brasileiro e Brasileiro (2020):

Dentre as estratégias utilizadas para substituir a renda retirada, o SinMetal-


BH, o SB-BH, STICBH-Marreta e o SinPro Minas afirmam terem aprovado em
assembleia a cobrança de taxa negocial, o que diverge da jurisprudência do
STF analisada, que veda a cobrança de tal contribuição para trabalhadores
não sindicalizados.

Tal estratégia busca, de certa maneira, recriar a obrigatoriedade da


contribuição, se valendo de uma brecha na nova redação do art. 578 da CLT, que não
explicita se a “autorização expressa” para contribuição sindical deve ser individual.
Não obstante, tal tese não têm encontrado respaldo na Corte Suprema, como
explicita Silva (2020, p. 30-31).
Outras estratégias usadas pelos sindicatos para substituir a renda da
contribuição obrigatória são as que envolvem prestação de serviços, como explicam
Brasileiro e Brasileiro (2020):

O STEF-BH diz que boa parte do orçamento do sindicato se sustenta por


meio de honorários advocatícios de ações bem-sucedidas. Alguns relatam
terem demitido funcionários. Até mesmo venda de livros e bazares têm sido
estratégias para arrecadar fundos, relata o SJP-BH.

22
Evidente que tais estratégias se tratam de soluções ad hoc, evidenciando o
dinamismo e resiliência do movimento sindical em tempos de crise, mas com
efetividade a longo prazo incerta.
Uma das propostas mais radicais seria o condicionamento aos benefícios
previstos em instrumentos coletivos à contribuição sindical. A esse respeito, explica
Pires (2019):

De fato, o processo de negociação coletiva gera gastos para os sindicatos e,


atualmente, só os sindicalizados estão obrigados a arcar com esses custos.
Devido à eficácia erga omnes da norma coletiva, o êxito é compartilhado por
todos, independentemente de filiação sindical. Portanto, para se evitar o
enriquecimento sem causa e a figura do “carona” (free-rider), o mais razoável
seria a exigência de contrapartida financeira do beneficiário das conquistas
negociais ao sindicato representativo (p. 93-94).

A autora discute essa hipótese com base num caso envolvendo o SINDPD-SP,
numa denúncia de fato indeferida liminarmente (Pires, 2019, p. 93). Caso essa prática
se propague, ela implicaria no oposto do previsto pelos idealizadores da Lei nº
13.267/2017, aumentando o poder dos sindicatos sobre os seus membros e
potencialmente diminuindo a abrangência da garantia sindical, um possível
desenvolvimento preocupante.
Pelo exposto, conclui-se que os sindicatos adotaram uma variedade de
métodos para fazer frente a queda de receitas, a maioria com viabilidade a longo prazo
ainda não comprovada, representando um desenvolvimento preocupante para o futuro
da defesa dos direitos trabalhistas.

5 CONCLUSÃO

O presente artigo teve como tema o fim da obrigatoriedade da contribuição


sindical introduzida no âmbito do conjunto de medidas adotadas com a Reforma
Trabalhista de 2017. Como problema de pesquisa, foi escolhido: Quais efeitos que a
desobrigação da contribuição sindical teve sobre os sindicatos e o modelo laboral
presente no país?
Neste trabalho ficou demonstrado que o debate sobre a contribuição sindical e
sua desobrigação está incluso dentro de uma discussão maior, com interpretações
distintas no que diz respeito a economia e o status das relações socioeconômicas no

23
país, entre dois grupos bem distinto, uma vez que um grupo sustenta a ideia da
economia coma entravada e atrofiada, necessitando de liberalização para atingir seu
potencial e prosperidade, e um outro grupou que vê nesse discurso uma tentativa de
descontruir as instituições socioeconômicas para favorecer o capital, sendo que tais
grupos correspondem com opiniões a favor e contra a desobrigação, respectivamente,
com o primeiro defendendo-a com base no princípio da liberdade sindical e de
associação e o segundo opondo-se a esse sob argumento que tal alteração
desestruturaria o modelo sindical em vigor, fragilizando o movimento sindical. Ao
analisar os sindicatos após a desobrigação, ficou evidente que esta afetou
negativamente a sua capacidade de realizar suas atividades, tornando-os vulneráveis
a ofensivas da classe patronal, além de favorecer a consolidação em sindicatos
maiores. Tal tendência, somada à possibilidade de proposta de condicionamento dos
direitos obtidos em acordos coletivos ao pagamento da contribuição sindical,
representa um desenvolvimento potencialmente perigoso à liberdade de associação.
Como resposta ao argumento de pesquisa, ficou evidente que a desobrigação
da contribuição sindical gerou uma desestruturação do movimento sindical, afetando
negativamente sua capacidade de realizar suas atividades, os tornando vulneráveis a
investidas da classe patronal. Não obstantes as falhas no modelo de sindicalismo
existente após a reforma, o fim de um de seus pilares desestabilizou todo o sistema,
mantendo as organizações burocráticas e com obrigação de representatividade
universal da unicidade sindical, mas negando-lhes sua principal fonte de renda,
colocando tais organizações em crises.
Diante de tal fato, foi rechaçada a hipótese inicial deste trabalho. A
desestruturação do movimento sindical impede qualquer benefício do “fim do
comodismo” negado pela permanência da unicidade sindical e do sindicalismo de
Estado, agora meramente desestabilizado pela perda de um de seus principais
pilares.

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