Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 INTRODUÇÃO
1
e o contexto do movimento sindical brasileiro a partir dos anos 90 até o advento da
Reforma Trabalhista de 2017”; b) expor as diferentes correntes doutrinárias no que
diz respeito à desobrigação da contribuição sindical; e c)analisar a reação dos
sindicatos e os efeitos imediatos da desobrigação sobre eles.
Este projeto se utiliza da abordagem dedutiva, tendo por ponto de partido uma
generalização, e a partir deste obtendo respostas para questões particularizadas.
Utiliza o procedimento monográfica, tratando de um caso específico, o da
desobrigação da contribuição sindical no Brasil, mais especificamente em relação ao
movimento sindical. O trabalho tem por base a pesquisa monográfica, com análise da
doutrina e referenciais jurisprudências usados de maneira puramente ilustrativa.
Com vistas aos objetivos propostos a primeira seção apresenta o contexto
teórico e histórico, e busca responder ao primeiro objetivo específico. e esta é
subdividida em três tópicos. Abordando o que é a contribuição sindical, o modelo de
sindicalismo brasileiro e a recente trajetória do movimento sindical. A seção seguinte
apresenta a como a desobrigação é tratada conforme a doutrina, e busca responder
o segundo objetivo específico. É subdividida em cinco tópicos, discorrendo sobre o
contexto da reforma trabalhista, as correntes da doutrina a respeito da desobrigação,
a tese da inconstitucionalidade da desobrigação, a tese da constitucionalidade da
desobrigação e visões diferentes acerca do tema. A seção final discute a situação dos
sindicatos após a desobrigação, e busca responder o último objetivo específico, sendo
subdivida em dois tópicos, tratando dos Cortes e consolidação e novas fontes de
renda para a organização sindical. Por último são apresentadas as considerações
finais nas quais se retoma o problema e a hipótese de pesquisa.
2
2.1 O QUE É A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL?
3
Uma importante crítica dessa contribuição, quando ainda detinha
obrigatoriedade, é sua incidência em relação à trabalhadores não sindicalizados,
como apontado por Borges (2017):
Tal crítica, uma das principais ao sistema que existia anterior à reforma de
2017, será analisada de maneira mais aprofundada durante o desenvolvimento deste
trabalho, devendo já aqui ser identificada.
Importante salientar que a destinação da contribuição sindical é específica,
sendo definida por lei. A destinação da contribuição foi definida pelo art. 589 da CLT,
conforme explica Borges (2017):
Diante disso, pode se observar que se trata de uma importante fonte de renda
do sistema sindical como um todo, dos pequenos sindicatos locais às grandes
confederações. De fato, a importância da contribuição obrigatória como tripé do
modelo sindical brasileiro será discutida em maior profundidade.
4
podemos trazer o voto do Min. Edson Fachin no julgamento da ADI nº 5794, que tratou
justamente da desobrigação da contribuição sindical:
6
trabalhadores a não se sindicalizarem ou não contribuírem com seus
sindicatos. Também por essa razão, em entrevista, a representante do SinPro
Minas manifestou-se favorável à manutenção da unicidade sindical. Seu
temor é que, na ausência do reconhecimento oficial-legal do Estado, sejam
criados sindicatos por patrões para, supostamente, representar trabalhadores
e que seus empregados fossem coagidos a se sindicalizarem a tais sindicatos
fraudulentos. A projeção não parece ser infundada e demonstra como às
diversas alternativas esboçadas não suprem a desigualdade de forças entre
capital e trabalho, ainda que no plano das relações coletivas (p.2402).
Vale lembrar, por exemplo, que a Deforma Trabalhista foi enviada por um
Presidente ilegítimo com o objetivo de “abafar mais uma crise política” do
governo golpista. Ou seja, originariamente a proposta não era destruir
totalmente a CLT, como acabaram por fazer, mas antes, atacar pontualmente
as entidades sindicais e, sobretudo, lançar uma cortina de fumaça em mais
uma crise política que o governo atravessava, menos de um mês depois da
renúncia de seu Ministro-chefe da Secretaria de Governo, o hoje encarcerado
Geddel Vieira Lima. (p.2)
9
políticos.
Inexoravelmente conectada à essa realidade política, temos a realidade
econômica do país no período, em meio à uma crise econômica que já entrava em
seu terceiro ano, como explicam Ferreira e da Silva (2019):
Desde sua propositura, a reforma trabalhista foi criticada, pela Centra Única
dos Trabalhadores, outros sindicatos, pelo Ministério Público do Trabalho,
pela Organização Internacional do Trabalho. Em contrapartida, recebeu apoio
por economistas e empresários e, também, pelo presidente do Tribunal
Superior do Trabalho. (p.4)
11
Uma questão a realçar neste tema é que a estrutura administrativa e a
atuação dos vários sindicatos profissionais e patronais é bastante complexa,
e seus compromissos financeiros são proporcionais a sua receita, o que
ocorre há muitas décadas. Desse modo, acreditamos que a retirada da
contribuição sindical obrigatória de imediato tanto num grande sindicato
quanto numa entidade de tamanho e representação menores cause sérios
abalos financeiros.
12
Conforme demonstrado, existe na doutrina do direito do trabalho uma visão da
desobrigação como instrumento de enfraquecimento da classe trabalhadora e do
modelo sindical, inclusive argumentando, entre os expoentes mais radicais dessa
corrente, a inconstitucionalidade de tal reforma.
Coube, aos sindicatos propor várias ADI’s com o intuito de que a contribuição
sindical que antes era obrigatória, e agora passou a ser opcional devido a
aprovação da reforma trabalhista fosse declarada inconstitucional. Contudo,
o DTF decidiu pela sua constitucionalidade e unificou o reconhecimento das
18 ADIs que buscavam o contrário (p. 24).
13
Porém, também temos, em maior sintonia com o debate doutrinário, seu
argumento para inconstitucionalidade material
14
Entretanto, há de ser reconhecer a delimitação da organização constitucional
do sistema sindical brasileiro com base no princípio da liberdade sindical,
observadas as limitações expressamente estabelecidas, notadamente a
unicidade sindical e a contribuição sindical compulsória. Não há exercício da
ampla representatividade da categoria sem o respectivo custeio das
entidades sindicais. O financiamento constitui elemento indispensável à
estruturação saudável dos sindicatos. A diminuição brusca e repentina da
receita debilita a agência sindical com reflexos perniciosos na melhoria das
condições de trabalho em ofensa aos arts.
15
A existência de tal processo implicaria num desejo de um processo de
liberalização do modelo sindical, expandindo a liberdade sindical e rompendo o
paradigma de corporativismo centralizado.
Tal movimento implica num desejo, por parte do legislador constitucional
originário, de ter tal processo de promoção da liberdade sindical continuado. Nesse
sentido, ainda no voto do Ministro Alexandre de Moraes, tem-se o seguinte:
16
548, alínea “b”; e 513, alínea “e”), que podem ser reajustadas para fazer frente
ao decréscimo de receitas.
17
A defesa da desobrigação se insere dentro de uma visão do movimento sindical
como estagnado, atrofiado e distorcido. Como exemplo dessa visão, podemos citar o
voto do Ministro Gilmar Mendes o julgamento da ADI 5794/DF, senão vejamos:
A Lei nº 13.267/2017 tem por base uma visão das relações econômicas no país
como ultrapassadas e atrofiadas, necessitando de uma liberalização, obtendo um
dinamismo por meio da remoção daquilo que é percebido como “entrave” ao
desenvolvimento econômico.
Em contrapartida, para aqueles que se opõem à desobrigação, esta e a Lei nº
13.267/2017 como um todo são tidas como parte de um projeto de precarização das
relações de trabalho e enfraquecimento da classe trabalhadora. Nesse sentido, afirma
Nery (2022):
Não é nenhuma novidade a ninguém minimamente atento que o capitalismo
vive mais uma de suas crises, decorrentes da exploração desenfreada dos
18
recursos naturais, da acumulação da riqueza nas mãos de uns poucos, da
precarização das relações de trabalho que resulta em menos recursos
financeiros aos empobrecidos, resultando em menor circulação de riquezas.
O tema da distribuição de renda nunca esteve tão presente e centralizada no
debate político e econômico, ainda que a opinião dos ditos liberais insista em
se manter convicta no sentido de que somente as forças do mercado, a
iniciativa empreendedora e o aumento da produtividade é que irão permitir a
melhora de renda e de condições de vida das pessoas marginalizadas (p. 2).
20
De maneira a lidar com a renda reduzida, mudanças significativas tiveram de
ocorrer na estrutura dos sindicatos, com o corte de custos, como explicam Batista e
Seferian (2020):
21
Com a fusão de sindicatos menores, tem-se uma reestruturação do ambiente
sindical brasileiro, favorecendo organizações sindicais maiores, sendo que é ainda é
cedo para determinar os efeitos dessa mudança para o trabalho.
Pelo exposto, é evidente que a desobrigação trouxe uma crise para o
movimento trabalhista como um todo, com retrocessos diante de contra investidas
patronais, redução no estabelecimento de novos sindicatos e uma reestruturação
diante de condições que favorecem sindicatos maiores, sendo que o movimento
sindical ainda está se adaptando à nova realidade. Tal desestruturação, e em especial
a diminuição na criação de novos sindicatos, implicam que a desobrigação atuou
como empecilho da realização da liberdade sindical.
22
Evidente que tais estratégias se tratam de soluções ad hoc, evidenciando o
dinamismo e resiliência do movimento sindical em tempos de crise, mas com
efetividade a longo prazo incerta.
Uma das propostas mais radicais seria o condicionamento aos benefícios
previstos em instrumentos coletivos à contribuição sindical. A esse respeito, explica
Pires (2019):
A autora discute essa hipótese com base num caso envolvendo o SINDPD-SP,
numa denúncia de fato indeferida liminarmente (Pires, 2019, p. 93). Caso essa prática
se propague, ela implicaria no oposto do previsto pelos idealizadores da Lei nº
13.267/2017, aumentando o poder dos sindicatos sobre os seus membros e
potencialmente diminuindo a abrangência da garantia sindical, um possível
desenvolvimento preocupante.
Pelo exposto, conclui-se que os sindicatos adotaram uma variedade de
métodos para fazer frente a queda de receitas, a maioria com viabilidade a longo prazo
ainda não comprovada, representando um desenvolvimento preocupante para o futuro
da defesa dos direitos trabalhistas.
5 CONCLUSÃO
23
país, entre dois grupos bem distinto, uma vez que um grupo sustenta a ideia da
economia coma entravada e atrofiada, necessitando de liberalização para atingir seu
potencial e prosperidade, e um outro grupou que vê nesse discurso uma tentativa de
descontruir as instituições socioeconômicas para favorecer o capital, sendo que tais
grupos correspondem com opiniões a favor e contra a desobrigação, respectivamente,
com o primeiro defendendo-a com base no princípio da liberdade sindical e de
associação e o segundo opondo-se a esse sob argumento que tal alteração
desestruturaria o modelo sindical em vigor, fragilizando o movimento sindical. Ao
analisar os sindicatos após a desobrigação, ficou evidente que esta afetou
negativamente a sua capacidade de realizar suas atividades, tornando-os vulneráveis
a ofensivas da classe patronal, além de favorecer a consolidação em sindicatos
maiores. Tal tendência, somada à possibilidade de proposta de condicionamento dos
direitos obtidos em acordos coletivos ao pagamento da contribuição sindical,
representa um desenvolvimento potencialmente perigoso à liberdade de associação.
Como resposta ao argumento de pesquisa, ficou evidente que a desobrigação
da contribuição sindical gerou uma desestruturação do movimento sindical, afetando
negativamente sua capacidade de realizar suas atividades, os tornando vulneráveis a
investidas da classe patronal. Não obstantes as falhas no modelo de sindicalismo
existente após a reforma, o fim de um de seus pilares desestabilizou todo o sistema,
mantendo as organizações burocráticas e com obrigação de representatividade
universal da unicidade sindical, mas negando-lhes sua principal fonte de renda,
colocando tais organizações em crises.
Diante de tal fato, foi rechaçada a hipótese inicial deste trabalho. A
desestruturação do movimento sindical impede qualquer benefício do “fim do
comodismo” negado pela permanência da unicidade sindical e do sindicalismo de
Estado, agora meramente desestabilizado pela perda de um de seus principais
pilares.
REFERÊNCIAS
24
obrigatoria-ministro-estima-que-mais-de-3-mil-sindicatos-desaparecerao.ghtml >.
Acesso em: 27 out. 2022.
25
372 - 384. Disponível em: <https://revistas.unaerp.br/rede/article/view/2128/1580>.
Acesso em: 27 oub. 2022.
SILVA, Eliezer Alvez da. O fim da contribuição sindical obrigatória: uma análise
jurídica da Lei nº. 13.467/2017. Faculdade de Inhumas, Inhumas, 2020.
26