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18 de Maio de 2022

A desobrigação da Contribuição Sindical e a exceção à


compulsoriedade dos tributos

Publicado por Jefferson Borges há 19 dias  446 visualizações

Teceremos considerações sobre as características tributárias da


contribuição sindical e analisar a dispensa da obrigatoriedade do seu
pagamento trazida pela reforma trabalhista de 2017 e o fato de estar
enquadrada na espécie tributária das contribuições.

Com o advento da reforma trabalhista (Lei nº 13.467/2017) a


Contribuição Sindical deixou de ser obrigatória (art. 578 da CLT) e,
com isso, surgiram diversos questionamentos a respeito do caráter
tributário dessa desobrigação, tendo em vista a determinação
insculpida no art. 3º do CTN, no qual o tributo tem a característica da
compulsoriedade.

Cabe esclarecer que a doutrina majoritária e o STF adotam a


classificação pentapartite, a qual separa os tributos em impostos,
taxas, contribuições de melhoria, empréstimos compulsórios e
contribuições. Nesta última, inclui-se a contribuição sindical e,
conforme redação do art. 149 da CF/88, especificamente dentro da
categoria de interesse de categorias profissionais ou econômicas.

Nesta toada, a despeito das contribuições estarem sujeitas à lei


complementar de normas gerais em matéria tributária (art. 146, III, b,
CF/88), ou seja, a disposições do CTN quanto a temas como obrigação,
lançamento, crédito, decadência e prescrição, cabe afirmar que, por
outro turno, apenas os impostos estão submetidos à lei complementar
no que tange a fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes. Assim,
a contrário sensu, podemos afirmar que as contribuições, quanto a
esses últimos (FG, BC e contribuintes) estariam sujeitas apenas à lei
ordinária.

Esse foi o entendimento do STF no julgamento da ADI 5794 DF, “À lei


ordinária compete dispor sobre fatos geradores, bases de cálculo e
contribuintes quanto à espécie tributária das contribuições, não sendo
exigível a edição de lei complementar para a temática, ex vi do art.
146, III, alínea ‘a’, da Constituição”.

Da leitura do julgamento dessa ADI, pode-se inferir que a característica


da compulsoriedade foi estabelecida em sede de lei complementar (
CTN) e não está prevista na CF/88, assim a contribuição sindical como
espécie de contribuição e inserida na classificação tributária, restaria
excepcionando a característica da compulsoriedade estatuída no art. 3º
do CTN. Essa exceção, ao nosso ver, seria a primeira no nosso sistema
tributário ou, por outro lado, deixou a espécie contribuição sindical
fora do arcabouço tributário nacional.

Com essa última afirmação nos filiamos, pois sangrar as espécies


tributárias com características de não compulsoriedade poderia abrir a
brecha para outras espécies ou subespécies tributárias almejarem essa
característica e, com isso, diminuir a arrecadação tributária nacional.

Desta forma, não estamos a afirmar que as contribuições definidas no


art. 149 da CF/88 estariam desenquadradas das espécies tributárias,
mas sim a contribuição sindical, a partir do momento que foi
estabelecida a sua desobrigação, o seu filiamento a subespécie não
tributária, ou seja, não seria mais uma subespécie de contribuição. De
outra forma restaria a pecha de cunho eminentemente civil, no qual o
enquadramento do sindicalizado ficaria no espectro da voluntariedade,
cuja aceitação precisaria de prévia e expressa autorização (art. 578, in
fine, da CLT).
Assim também pensa o ministro Marco Aurélio quando, em seu voto na
ADI 5794, declarou: “Excluo o enquadramento da contribuição social,
quer decorrente de deliberação da assembleia, quer prevista em lei,
como espécie tributária. Não se trata de um tributo (...) Se o fosse,
teria que concluir pela inconstitucionalidade da lei”.

Resta, com o tempo, a doutrina e jurisprudência debruçarem-se sobre


o tema e ampliarem seu estudo.

Referências bibliográficas

SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. 8. ed. São Paulo:


Saraiva, 2016.

MARTINES, Fernando. Ação contra fim da contribuição sindical


deve alegar inconstitucionalidade. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2018-mar-17/ação-contribuicao-sindical-
alegar-inconstitucionalidade#author. Acesso em: 29 abr. 2022.

De MELLO, Litza. STF confirmou a facultatividade da


contribuição sindical. Disponível em
https://www.migalhas.com.br/depeso/282860/stf-
confirmouafacultatividade-da-contribuicao-sindical. Acesso em: 29
abr. 2022.

BRASIL. Supremo Tribuna Federal. ADI 5794 DF. Relator: Min. Edson
Fachin. Brasília, 29 de junho de 2018.

Disponível em: https://jwborges9295.jusbrasil.com.br/artigos/1481069736/a-desobrigacao-da-


contribuicao-sindical-e-a-excecao-a-compulsoriedade-dos-tributos

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