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EDIÇÃO N.

175: ICMS - IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE


MERCADORIAS, BENS E SERVIÇOS - II

Os entendimentos foram extraídos de julgados publicados até 06/08/2021.

1) A superveniência da Lei Complementar nº 160/2017, que promoveu alteração no art. 30 da


Lei nº 12.973/2014 e passou a enquadrar o incentivo fiscal estadual como subvenção para
investimento, não tem o condão de alterar o entendimento de que a tributação federal do
crédito presumido de ICMS representa violação do princípio federativo.

ICMS
O ICMS é um imposto estadual previsto no art. 155, II, da CF/88 e na LC nº 87/96
(conhecida como Lei Kandir):
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
(...)
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços
de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as
operações e as prestações se iniciem no exterior;

O que é crédito presumido de ICMS?


Trata-se de um incentivo dado pela legislação, concedendo-se um crédito ao contribuinte para
que ele pague menos ICMS.
Assim, se a empresa contribuinte cumprir determinados requisitos previstos na legislação,
poderá ter direito a esse “crédito”, pagando menos ICMS.
Desse modo, pode-se concluir que a concessão de crédito presumido de ICMS possui natureza
jurídica de incentivo fiscal.

Como deve ser concedido o crédito presumido de ICMS?


A Constituição Federal possui diversos dispositivos que preveem medidas de incentivo fiscal com
o objetivo de reduzir desigualdades regionais, alavancar o desenvolvimento social e econômico
do país, inclusive mediante desoneração ou diminuição da carga tributária.
A outorga de crédito presumido de ICMS insere-se nesse contexto, devendo ser instituída por
legislação local específica do ente federativo tributante.
O art. 155, § 2º, XII, “g”, da CF/88, atribuiu aos Estados-membros e ao Distrito
Federal a competência para instituir o ICMS - e, por consequência, outorgar
isenções, benefícios e incentivos fiscais, atendidos os pressupostos de lei
complementar:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:

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(...)
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal
e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;
(...)
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
(...)
XII - cabe à lei complementar:
(...)
g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal,
isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados.

A concessão de incentivo por Estado-membro, observados os requisitos legais, configura, portanto,


instrumento legítimo de política fiscal para materialização dessa autonomia consagrada pelo modelo
federativo.
A Lei Complementar nº 24/75 trata sobre o tema e prevê que as isenções de ICMS
serão disciplinadas em convênios celebrados pelos Estados e DF:
Art. 1º As isenções do imposto sobre operações relativas à circulação de
mercadorias serão concedidas ou revogadas nos termos de convênios celebrados
e ratificados pelos Estados e pelo Distrito Federal, segundo esta Lei.

Essas deliberações são formalizadas pelo Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ.

Lei Complementar nº 160/2017


Em 22/11/2017, entrou em vigor o art. 9º da LC nº 160/2017, que acrescentou os
parágrafos 4º e 5º ao art. 30 da Lei nº 12.973/14, que trata sobre subvenções para
investimento:
Art. 30.
(...)
§ 4º. Os incentivos e os benefícios fiscais ou financeiro-fiscais relativos ao imposto
previsto no inciso II do caput do art. 155 da Constituição Federal, concedidos pelos
Estados e pelo Distrito Federal, são considerados subvenções para investimento,
vedada a exigência de outros requisitos ou condições não previstos neste artigo.
§ 5º. O disposto no § 4º deste artigo aplica-se inclusive aos processos
administrativos e judiciais ainda não definitivamente julgados.

Com isso, passou a existir expressa determinação legal no sentido de que os benefícios fiscais
de ICMS são subvenções de investimento (§ 4º) de modo que, se atendidas as condições
previstas no art. 30 da Lei nº 12.973/2014, eles não devem ser computados no lucro real, para
fins de apuração das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL.

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Qual era o entendimento do STJ antes dessa alteração legislativa?
O STJ dizia que:
Crédito presumido de ICMS não integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.517.492-PR, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd. Min.
Regina Helena Costa, julgado em 08/11/2017 (Info 618).

O crédito presumido de ICMS, por representar, indiretamente, um lucro para a pessoa jurídica,
deverá ser incluído na base de cálculo do IRPJ e da CSLL?
NÃO. Não se pode considerar o crédito presumido como lucro da empresa, para fins de tributação
do IRPJ e da CSLL, sob pena de admitirmos a possibilidade de a União retirar, por via oblíqua, o
incentivo fiscal que o Estado-membro, no exercício de sua competência tributária, outorgou. Essa
interpretação faria com que houvesse o esvaziamento ou a redução do incentivo fiscal que foi
legitimamente outorgado pelo Estado-membro. Isso porque se, por um lado, a empresa pagaria
menos ICMS, por outro, teria que pagar mais IRPJ e CSLL.
A concessão de incentivo por Estado-membro, observados os requisitos legais, configura, portanto,
instrumento legítimo de política fiscal para materialização dessa autonomia consagrada pelo modelo
federativo. Nesse caminho, a tributação pela União de valores correspondentes a incentivo fiscal
estimula competição indireta com o Estado-membro, em desapreço à cooperação e à igualdade,
pedras de toque da Federação.
Vale lembrar que, à semelhança do que foi dito sobre base de cálculo do IRPJ e da
CSLL, o STF assentou a inconstitucionalidade da inclusão do ICMS na base de
cálculo do PIS e da COFINS, ao julgar, em regime de repercussão geral, o RE n.
574.706/PR. Entendeu o Plenário da Corte que o valor de ICMS não se incorpora
ao patrimônio do contribuinte, constituindo mero ingresso de caixa, cujo destino final
é os cofres públicos.
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não compõe a base
de cálculo para a incidência da contribuição para o PIS e da COFINS.
STF. Plenário. RE 574706/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/3/2017
(repercussão geral) (Info 857).

Como ficou o entendimento do STJ após a alteração legislativa?


Sendo certo que a alteração legislativa entrou em vigor após o julgamento do ERESP nº
1.517.492 e que a lei nova se aplica aos processos judiciais não definitivamente julgados (§ 5º),
parecia prudente que o precedente da 1ª Seção do STJ fosse atualizado com a seguinte
proposição: os créditos presumidos de ICMS não devem ser computados na determinação do
Lucro Real, desde que atendidas as condições do art. 30 da Lei 12.973/14, com as alterações da
LC 160/17.

Mas não foi isso que o STJ decidiu:


A superveniência da Lei Complementar n. 160/2017, que promoveu alteração no art.
30 da Lei n. 12.973/2014 e passou a enquadrar o incentivo fiscal estadual como

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subvenção para investimento, não tem o condão de alterar o entendimento de que
a tributação federal do crédito presumido de ICMS representa violação do princípio
federativo.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.517.492-PR, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd. Min.
Regina Helena Costa, julgado em 08/11/2017 (Info 618).

Nas razões de decidir, o STJ compreendeu que posicionamento contrário sufragaria a


possibilidade de a União retirar, por via oblíqua, o incentivo fiscal que o Estado-membro, no
exercício de sua competência tributária, legitimamente outorgou.
A classificação dos créditos presumidos de ICMS como subvenção para investimento, promovida
pela LC nº 160/2017, não tem o condão de interferir – menos ainda de elidir – a fundamentação
calcada na ofensa ao princípio federativo.

Colaboraram com os comentários: Felipe Duque e Emanuella Melo.

2) O arrendamento mercantil, contratado pela indústria aeronáutica de grande porte para


viabilizar o uso, pelas companhias de navegação aérea, de aeronaves por ela construídas, não
constitui operação relativa à circulação de mercadoria sujeita à incidência do ICMS. (Recurso
Repetitivo – Tema 274)

Fatos geradores do ICMS


Eduardo Sabbag afirma que, resumidamente, o ICMS pode ter os seguintes fatos geradores
(Manual de Direito Tributário. 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1061):
•Circulação de mercadorias;
•Prestação de serviços de transporte intermunicipal;
•Prestação de serviços de transporte interestadual;
•Prestação de serviços de comunicação.

O ICMS também incide na importação, ou seja, nas “operações e as prestações se iniciem no


exterior” (art. 155, II, da CF/88). Nesse caso, a doutrina chama de “ICMS importação”.
Assim, haverá cobrança de ICMS importação nos casos de mercadoria importada do exterior ou
nas hipóteses de serviço prestado no exterior. Ex: uma empresa que fabrica roupas deverá pagar
ICMS se comprou da China uma máquina têxtil para utilizar em sua linha de produção.

O que é arrendamento mercantil (leasing)?


Arrendamento mercantil (também chamado de leasing) é uma espécie de contrato de locação
no qual o locatário tem a possibilidade de, ao final do prazo do ajuste, comprar o bem, pagando
uma quantia chamada de valor residual garantido (VRG).

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Segundo definição do parágrafo único do art. 1º da Lei nº 6.099/74, o arrendamento mercantil
constitui “negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e
pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento
de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio
desta.”
A Lei nº 6.099/74 dispõe sobre o tratamento tributário das operações de arrendamento
mercantil.

Opções do arrendatário:
Ao final do leasing, o arrendatário terá três opções:
• renovar a locação, prorrogando o contrato;
• não renovar a locação, encerrando o contrato;
• pagar o valor residual e, com isso, comprar o bem alugado.

Exemplo:
“A” faz um contrato de leasing com a empresa “B” para arrendamento de um veículo 0km pelo
prazo de cinco anos. Logo, “A” pagará todos os meses um valor a título de aluguel e poderá usar
o carro. A principal diferença para uma locação comum é que “A”, ao final do prazo do contrato,
poderá pagar o valor residual e ficar definitivamente com o automóvel.
Obs.: é comum, na prática, que o contrato já estabeleça que o valor residual será diluído nas
prestações do aluguel. Assim, o contrato prevê que o arrendatário já declara que deseja comprar
o bem e, todos os meses, junto ao valor do aluguel, ocorre também o pagamento do valor
residual de forma parcelada. Como dito, isso é extremamente frequente, especialmente no caso
de leasing financeiro. No entanto, nem sempre isso ocorre.

O STJ considera legítima essa prática?


SIM. Trata-se de entendimento sumulado do STJ:
Súmula 293-STJ: A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não
descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil.

ICMS e leasing
Em regra, o ICMS não incide sobre as operações de arrendamento mercantil de coisas móveis.
Isso porque, para a ocorrência do fato gerador do ICMS, é necessária a efetiva circulação da
mercadoria, com a necessária transferência da sua titularidade. No leasing não ocorre a
transferência da titularidade.
Exceção: haverá incidência de ICMS no leasing caso a sua natureza fique descaracterizada.

O que é o leasing internacional (arrendamento mercantil internacional)?

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Ocorre quando uma empresa situada no Brasil celebra contrato de leasing com um arrendador
para trazer ao país um bem fabricado no exterior.

Há incidência de ICMS no caso de leasing internacional?


REGRA: NÃO. Em regra, não incide o ICMS importação na operação de
arrendamento mercantil internacional, uma vez que no leasing não há,
necessariamente, a transferência de titularidade do bem. Em outras palavras, pode
haver ou não a compra. É o que diz essa tese do STJ:
O arrendamento mercantil, contratado pela indústria aeronáutica de grande porte
para viabilizar o uso, pelas companhias de navegação aérea, de aeronaves por ela
construídas, não constitui operação relativa à circulação de mercadoria sujeita à
incidência do ICMS. (Recurso Repetitivo – Tema 274)

Vale destacar, nesse sentido, tese de repercussão geral firmada pelo STF:
Não incide o ICMS na operação de arrendamento mercantil internacional, salvo na
hipótese de antecipação da opção de compra, quando configurada a transferência
da titularidade do bem

Nessa tese de repercussão geral, o STF destaca exceção a esse entendimento:


Incidirá ICMS importação se ficar demonstrado que houve a antecipação da opção
de compra. Isso ocorre quando não existe a possibilidade de o bem ser restituído
ao proprietário, seja por circunstâncias naturais (físicas), seja porque se trata de
insumo.
STF. Plenário. RE 540829/SP, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 11/9/2014
(repercussão geral) (Info 758).
STF. Plenário. RE 226899/SP, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min.
Cármen Lúcia, julgado em 1º/10/2014 (Info 761).

Cuidado para não confundir essa tese do STJ com o enunciado da seguinte súmula:
Súmula 155-STJ: O ICMS incide na importação de aeronave, por pessoa física, para
uso próprio.

No caso trazido pela súmula há circulação de mercadoria, ou seja, há mudança na titularidade


do bem, razão pela qual ocorre o fato gerador do ICMS.

3) As empresas de construção civil não estão obrigadas a pagar ICMS sobre mercadorias
adquiridas como insumos em operações interestaduais (Recurso Repetitivo – Tema 261)

É o teor da súmula do STJ:

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Súmula 432-STJ: As empresas de construção civil não estão obrigadas a pagar
ICMS sobre mercadorias adquiridas como insumos em operações interestaduais.

As empresas de construção civil, normalmente, são prestadoras de serviços (e não


fornecedoras de matérias-primas). Logo, em regra, devem pagar apenas ISS (e não
ICMS):
“(...) a atividade normalmente desenvolvida pelas empresas de construção civil consiste
numa obrigação de fazer pois estas visam a planejar e executar um serviço que
primordialmente visa a transformar um conjunto de materiais diversos em uma coisa
unitária, para só depois entregá-la. Ou seja, a sua atividade preponderante,
indubitavelmente, implica em obrigação de fazer. E como os materiais utilizados em sua
atividade normalmente são mero meio indispensável para se atingir a finalidade visada,
óbvio concluir que normalmente a atividade desenvolvida por estas empresas está
sujeita a incidência do ISS, sendo estas contribuintes do ISS e não do ICMS. E se em regra
elas não são contribuintes do ICMS, lógico que não podem receber a incidência do art.
155, § 2º, VII, a, da CF (...)” (MELO, Angelo Braga Netto Rodrigues de. ICMS: construção
civil – Diferencial de alíquota interestadual. Uma burla à tributação. Da necessidade de
revisão do entendimento predominante. RTFP 54/09, fev. 2004).

De acordo com o regime constitucional, ISS e ICMS são excludentes: incide um ou outro sobre a
prestação de serviço (art. 155, II, § 2º, IX, b, e art. 156, III, da CF/88).
Assim, a LC nº 116/2003 delimita a competência tributária do Município para
incidência do ISS sobre os serviços de construção civil realizados mediante
empreitada ou subempreitada:
7.02 – Execução, por administração, empreitada ou subempreitada, de obras de
construção civil, hidráulica ou elétrica e de outras obras semelhantes, inclusive
sondagem, perfuração de poços, escavação, drenagem e irrigação, terraplanagem,
pavimentação, concretagem e a instalação e montagem de produtos, peças e
equipamentos (exceto o fornecimento de mercadorias produzidas pelo prestador de
serviços fora do local da prestação dos serviços, que fica sujeito ao ICMS).

Quanto à exceção prevista nesse item 7.02, quanto ao fornecimento de mercadorias produzidas
pelo prestador de serviços fora do local da prestação de serviços, serão especificados os valores
dos serviços – sobre os quais incide ISS – e das mercadorias fornecidas – sobre as quais incide
ICMS.
No mesmo sentido de que as empresas de construção civil, quando adquirem bens necessários
ao desenvolvimento de sua atividade-fim, não são contribuintes do ICMS, temos a seguinte
súmula:
Súmula 167-STJ: O fornecimento de concreto, por empreitada, para construção civil,
preparado no trajeto até a obra em betoneiras acopladas a caminhões, é prestação
de serviço, sujeitando-se apenas à incidência do ISS.

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4) As atividades de panificação e de congelamento de produtos perecíveis realizadas por
supermercados não configuram processo de industrialização de alimentos, razão pela qual
não existe direito ao crédito do ICMS recolhido em relação à energia elétrica consumida na
realização de tais atividades.

De acordo com o art. 33, II, “b”, da LC nº 87/96, o contribuinte tem direito ao creditamento de
ICMS pago na entrada da energia elétrica consumida no estabelecimento comercial, se
comprovar ter utilizado essa energia elétrica “no processo de industrialização”.
Ocorre que a “panificação” e as atividades de “rotisseria e restaurante”, “açougue e
peixaria” e “frios e laticínios”, desenvolvidas pelos supermercados, não são
consideradas operações de industrialização conforme previsto no art. 5º, I, “a”, do
Regulamento do IPI:
Art. 5º Não se considera industrialização:
I - o preparo de produtos alimentares, não acondicionados em embalagem de
apresentação:
a) na residência do preparador ou em restaurantes, bares, sorveterias, confeitarias,
padarias, quitandas e semelhantes, desde que os produtos se destinem a venda
direta a consumidor;
(...)

Como o contribuinte não tem como comprovar que houve processo de industrialização em que
se utilizou a energia elétrica, não tem direito ao creditamento de ICMS recolhido em relação à
energia elétrica consumida na realização de tais atividades.

5) O ICMS incide sobre o fornecimento de alimentação e bebidas em bares, restaurantes e


estabelecimentos congêneres, cuja base de cálculo compreende o valor total das operações
realizadas, inclusive aquelas correspondentes à prestação de serviço. (Recurso Repetitivo -
Tema 278)

Fornecimento de alimentação e bebida em bares e restaurantes: operação mista


Os bares e restaurantes além de venderem os produtos, também prestam serviços (atendem o
consumidor, fazem a limpeza das mesas, recepcionam os consumidores etc.). É diferente dos
supermercados, por exemplo, que apenas fornecem alimentos.
Desse modo, pode-se dizer que se trata de uma operação mista. Operação mista é aquela na
qual o contribuinte realiza a prestação de serviços, mas também fornece mercadorias.
No caso de operações mistas, haverá pagamento de ICMS ou ISS?

REGRA:
• Se o serviço prestado estiver na lista anexa da LC 116/2003: haverá pagamento apenas de ISS.

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• Se o serviço prestado não estiver na lista anexa da LC 116/2003: haverá pagamento apenas de
ICMS.

EXCEÇÃO:
Existem algumas operações mistas nas quais a LC 116/2003 prevê que sobre elas
deverão incidir tanto o ISS (sobre o serviço prestado) como também o ICMS (sobre
a circulação de mercadorias). É o que preconiza o art. 1º, § 2º da LC:
Art. 1º (...)
§ 2º Ressalvadas as exceções expressas na lista anexa, os serviços nela
mencionados não ficam sujeitos ao Imposto Sobre Operações Relativas à
Circulação de Mercadorias e Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e
Intermunicipal e de Comunicação – ICMS, ainda que sua prestação envolva
fornecimento de mercadorias.

Tendo isso em vista, há incidência de ICMS (e não ISS) sobre tais atividades, já que
a legislação de regência as incluiu como hipótese de incidência do ICMS:
Decreto-Lei 406/68:
Art 1º O impôsto sôbre operações relativas à circulação de mercadorias tem como
fato gerador:
(...)
III - o fornecimento de alimentação, bebidas e outras mercadorias em restaurantes,
bares, cafés e estabelecimentos similares.

Nesse sentido é o entendimento consolidado no STJ:


Súmula 163-STJ: O fornecimento de mercadorias com a simultânea prestação de
serviços em bares, restaurantes e estabelecimentos similares constitui fato gerador
do ICMS a incidir sobre o valor total da operação.

A base de cálculo do ICMS será o valor total da operação, ou seja: não se separa o valor do
serviço do valor das mercadorias fornecidas para fins de tributação. Haverá incidência do ICMS
sobre os valores atribuídos a título de bebidas e alimentação e a título do serviço prestado, para
fins de praticabilidade da tributação.
Assim, o STJ entende que o ICMS incide sobre o fornecimento de alimentação e bebidas em
bares, restaurantes e estabelecimentos congêneres, cuja base de cálculo compreende o valor
total das operações realizadas, inclusive aquelas correspondentes à prestação de serviço.

6) Não incide ICMS sobre a prestação de serviços conexos ao de comunicação por meio da
telefonia móvel por assumirem o caráter de atividade meio e não constituírem efetivamente
serviço de comunicação (transmissão de informação de qualquer natureza), este sim, passível
de incidência de ICMS.

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Serviços de comunicação
Um dos fatos geradores do ICMS são os serviços de comunicação. Veja o que
afirma a LC 87/96 sobre esse fato gerador:
Art. 2º O imposto incide sobre:
(...)
III — prestações onerosas de serviços de comunicação, por qualquer meio, inclusive
a geração, a emissão, a recepção, a transmissão, a retransmissão, a repetição e a
ampliação de comunicação de qualquer natureza;

Desse modo, o ICMS será cobrado da empresa quando há a prestação onerosa de serviços de
comunicação.

Serviços conexos ao de comunicação


Existem alguns serviços prestados pelas empresas que são acessórios aos serviços de
comunicação. Exs.: troca de titularidade de aparelho celular, conta detalhada, troca de aparelho,
troca de número, mudança de endereço de cobrança de conta telefônica, troca de área de
registro, troca de plano de serviço, bloqueio de DDD e DDI, habilitação e religação etc.

Poderá haver cobrança de ICMS quando a empresa de telefonia prestar esses serviços
acessórios aos serviços de comunicação?
NÃO. Não incide ICMS sobre a prestação de serviços acessórios aos serviços de comunicação.
Segundo entendimento consolidado do STJ e do STF, a prestação de serviços conexos ao de
comunicação (que são preparatórios, acessórios ou intermediários da comunicação) não se
confunde com a prestação da atividade fim — processo de transmissão (emissão ou recepção)
de informações de qualquer natureza —, esta sim, passível de incidência do ICMS.
Desse modo, apesar de alguns desses serviços conexos serem essenciais à efetiva prestação do
serviço de comunicação e admitirem a cobrança de tarifa pela prestadora do serviço
(concessionária de serviço público), por assumirem o caráter de atividade meio, não constituem,
efetivamente, serviços de comunicação, razão pela qual não é possível a incidência do ICMS (STJ.
1ª Seção. REsp 1.176.753/RJ, Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques, DJe de
19/12/2012).

No mesmo sentido dessa tese, vale lembrar o teor da súmula a seguir:


Súmula 350–STJ: O ICMS não incide sobre o serviço de habilitação de telefone
celular.

7) No regime de substituição tributária, as mercadorias dadas em bonificação e os descontos


incondicionais integram a base de cálculo do ICMS.

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Bonificação
A bonificação é uma modalidade de desconto que consiste na entrega de uma maior quantidade
de produto vendido em vez de conceder uma redução do valor da venda. Dessa forma, há
benefício ao vendedor das mercadorias porque, apesar da redução do preço médio de cada
produto, não isso implica redução no valor do negócio.

Desconto incondicional
Desconto incondicional é aquele concedido pelo vendedor, no momento da compra,
independentemente de qualquer atitude do comprador.
O desconto condicional, como o próprio nome sugere, é aquele no qual só é concedido porque
o comprador adotou determinado comportamento exigido para aquele benefício. Ex: subvenção
concedida pelo Governo Federal às concessionárias de energia para redução do valor cobrado
junto aos consumidores de baixa renda (CASTRO Eduardo M. L Rodrigues. ICMS. 3ª ed., Salvador:
Juspodivm, 2019, p. 154)

• Desconto incondicional: não integra a base de cálculo do ICMS (em regra).


• Desconto condicional: integra a base de cálculo do ICMS.

Em regra, as bonificações e os descontos incondicionais não integram a base de cálculo do


ICMS:
Segundo o art. 13, I, da LC 87/96, a base de cálculo do ICMS no caso de saída da mercadoria é o
“valor da operação”.
O valor do desconto incondicional não integra a base de cálculo do ICMS por uma razão lógica:
se foi concedido o desconto, esse valor não foi computado no valor da operação.
Trata-se de entendimento sumulado do STJ:
Súmula 457-STJ: Os descontos incondicionais nas operações mercantis não se
incluem na base de cálculo do ICMS.

No mesmo sentido, o STJ entende que não incide ICMS na operação em que a mercadoria é dada
em bonificação porque não é preenchido o critério material de incidência do imposto, por
ausência de circulação econômica da mercadoria (STJ. 1ª Seção. REsp 1.111.156/SP, Rel. Min.
Humberto Martins, DJE 22/10/2009).

Exceção: no regime de substituição tributária, as mercadorias dadas em bonificação e os


descontos incondicionais integram a base de cálculo do ICMS
Imagine a seguinte situação hipotética

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Uma farmácia oferece produtos em bonificação aos seus clientes fidelizados. Ex: “troque seus
pontos por produtos”.
Nesse caso, a farmácia é substituta tributária do ICMS: recolhe antecipadamente o imposto que
será devido apenas quando o produto chegar ao consumidor final. A farmácia poderá recuperar
o montante do ICMS pago pelos produtos que ofereceu em bonificação aos seus clientes, uma
vez que a base de cálculo do imposto deve ficar adstrita aos valores efetivamente auferidos em
decorrência da comercialização das mercadorias realizadas pela empresa?
Não, a farmácia não poderá recuperar o ICMS, neste caso.
O STJ entende que, embora as mercadorias dadas em forma de bônus não integrem a base de
cálculo do tributo, considera-se devido o ICMS (ICMS-ST) no regime de substituição tributária,
já que não se pode presumir a perpetuação da bonificação na cadeia de circulação no sentido
de beneficiar igualmente o consumidor final. Na hipótese de bonificação - concessão de mais
mercadorias pelo mesmo preço -, há favorecimento tão somente ao partícipe imediato da cadeia
de circulação (próximo contribuinte na cadeia), a não ser que a bonificação seja estendida a toda
a cadeia até atingir o consumidor final, o que demandaria prova da repercussão. O mesmo se
pode dizer da existência do desconto incondicionado na operação por conta do próprio
substituto (REsp 993.409-MG, DJe 21/5/2008. REsp 1.167.564-MG, Rel. Min. Eliana Calmon,
julgado em 5/8/2010).
Em síntese, quando não há regime de substituição tributária, não se incluem na base de cálculo
do ICMS nas mercadorias dadas em bonificação e nos descontos incondicionais. Sob o regime
de substituição tributária, há incidência do ICMS (ICMS-ST) em tais operações.

8) O ICMS incide sobre o valor da venda a prazo constante da nota fiscal (Súmula n. 395/STJ)

A “venda a prazo” é uma espécie de compra e venda na qual o vendedor oferece ao comprador
o pagamento parcelado do produto, acrescendo-lhe um plus ao preço final. Esse acréscimo
integra o valor da operação de compra e venda, sendo lançado na nota fiscal. Por isso o valor
“cheio” desta operação constitui a base de cálculo do ICMS, na qual se incorpora, assim, o preço
“normal” da mercadoria (preço de venda à vista) e o acréscimo decorrente do parcelamento na
venda a prazo. Assim, o ICMS deve incidir sobre o valor real da operação descrito na nota fiscal
de venda do produto ao consumidor.

9) Incide ICMS sobre o valor total da operação (preço de venda à vista, acrescido do valor
referente ao parcelamento), quando a venda a prazo for realizada sem a intermediação de
instituição financeira.

A “venda financiada” e a “venda a prazo” são figuras distintas para fins tributários.
A “venda a prazo”, descrita na tese anterior, ocorre sem a intermediação de instituição
financeira e incide ICMS (STJ. 1ª Seção. REsp 1.106.462/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
23/9/2009).

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Já na “venda financiada”, há intermediação de instituição financeira e incidem outros
acréscimos ao valor da compra, tais como a taxa de administração cobrada pelas
administradoras, bem como encargos relativos ao custo da defasagem de tempo entre a
circulação da mercadoria e o efetivo recebimento dos valores, devendo ser excluídos da base
de cálculo do ICMS.

BASE DE CÁLCULO DO ICMS

VENDA A PRAZO VENDA FINANCIADA

Ocorre quando o adquirente combina com o Ocorre quando o adquirente, não tendo
vendedor de comprar o bem de forma como pagar à vista, contrata um
parcelada, pagando as prestações para o financiamento para a compra, recebe um
vendedor. empréstimo, paga o vendedor e fica pagando
o mútuo realizado.
Neste caso, o vendedor cobra mais caro por
estar vendendo o produto a prazo.

A base de cálculo do ICMS na venda a prazo A base de cálculo do ICMS será o preço da
será o preço “normal” da mercadoria (preço mercadoria (preço da operação) sem incluir o
de venda à vista) mais os eventuais valor do financiamento.
acréscimos decorrentes do parcelamento.

O ICMS incide sobre o valor da venda a prazo Incide ICMS sobre o valor do preço de venda
constante da nota fiscal (Súmula 395 do STJ). à vista, sem acréscimo do valor referente ao
parcelamento, quando a venda a prazo for
realizada com a intermediação de instituição
financeira.

Se o vendedor está cobrando mais caro O financiamento é a remuneração do capital


quando vende a prazo, não há como dizer obtido em empréstimo para pagar a compra
que o valor cobrado a mais na venda a termo e, portanto, não tem nada a ver com o
não compõe o valor da operação. vendedor.

10) É lícito ao comerciante de boa-fé aproveitar os créditos de ICMS decorrentes de nota fiscal
posteriormente declarada inidônea, quando demonstrada a veracidade da compra e venda.
(Súmula 509 do STJ) (Recurso Repetitivo - Tema 272)

Súmula 509-STJ: É lícito ao comerciante de boa-fé aproveitar os créditos de ICMS


decorrentes de nota fiscal posteriormente declarada inidônea, quando demonstrada
a veracidade da compra e venda.

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Imagine a seguinte situação hipotética:
A distribuidora “A” comprou diversas mercadorias da empresa “X” e depois as
revendeu. Por força do princípio da não-cumulatividade, a distribuidora “A” registrou
como crédito o valor que a empresa “X” teria pago de ICMS ao vender-lhe as
mercadorias. Esse crédito foi utilizado pela distribuidora para abater o valor de ICMS
que teria que pagar ao revender as mercadorias. Ocorre que, posteriormente, as
notas fiscais emitidas pela empresa “X” (vendedora) foram declaradas inidôneas
pela Receita estadual. Diante disso, o Fisco, com base no art. 23 da LC nº 87/96,
cobrou o valor que a distribuidora “A” utilizou como crédito decorrente da aquisição
das mercadorias. Veja o dispositivo legal:
Art. 23. O direito de crédito, para efeito de compensação com débito do imposto,
reconhecido ao estabelecimento que tenha recebido as mercadorias ou para o qual
tenham sido prestados os serviços, está condicionado à idoneidade da
documentação e, se for o caso, à escrituração nos prazos e condições estabelecidos
na legislação.

Agiu de maneira correta o Fisco estadual?


NÃO. Segundo a jurisprudência do STJ, o comerciante que adquire mercadoria, cuja nota fiscal
(emitida pela empresa vendedora) tenha sido, posteriormente, declarada inidônea, é
considerado terceiro de boa-fé, o que autoriza o aproveitamento do crédito do ICMS pelo
princípio da não-cumulatividade, desde que demonstrada a veracidade da compra e venda
efetuada (em observância ao disposto no art. 136, do CTN).
O ato declaratório da inidoneidade somente produz efeitos a partir de sua publicação. Assim,
somente se a distribuidora comprasse os produtos após a declaração de inidoneidade é que não
poderia ser feito o creditamento do ICMS. Nesse sentido:
(...) A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça pacificou-se no sentido de que
o adquirente de boa-fé não pode ser responsabilizado pela inidoneidade de notas
fiscais emitidas pela empresa vendedora. Nesse caso, é possível o aproveitamento
de crédito de ICMS relativo às referidas notas fiscais. Todavia, para tanto, é
necessário que o contribuinte demonstre, pelos registros contábeis, que a operação
de compra e venda efetivamente se realizou, incumbindo-lhe, portanto, o ônus da
prova. (...) STJ. 1ª Turma. EDcl nos EDcl no REsp 623.335/PR, Rel. Min. Denise
Arruda, julgado em 11/03/2008.

11) Sob a égide do Convênio ICMS nº 66/88 (antes, portanto, da entrada em vigor da Lei
Complementar nº 87/96) não havia direito do contribuinte ao crédito de ICMS recolhido
quando pago em razão de operações de consumo de energia elétrica. (Recurso Repetitivo -
Tema 170)

ICMS e energia elétrica


A energia elétrica é considerada “mercadoria” para fins de ICMS? Quando ocorre a circulação
(compra e venda) de energia elétrica, haverá incidência de ICMS?
SIM. A energia elétrica é classificada como “mercadoria”, havendo pagamento de ICMS.

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Em verdade, a própria CF/88 catalogou a energia elétrica como mercadoria para fins de ICMS
(art. 155, § 2º, X, “b”e § 3º).

Algumas conclusões sobre o ICMS e a energia elétrica:


No caso da energia elétrica, o nosso sistema tributário adotou como elemento temporal da hipótese
de incidência do ICMS o consumo, vale dizer, o momento em que a energia, saindo da rede elétrica,
é utilizada pelo estabelecimento consumidor. Em outras palavras, o ICMS incide por ocasião do
consumo da energia elétrica.
O fato gerador do ICMS apenas se aperfeiçoa, fazendo com que surja a obrigação tributária, com
o fornecimento da energia elétrica ao consumidor final.
Se a venda de energia elétrica envolver mais de um Estado, o ICMS deverá ser recolhido ao
Estado de destino, onde situado o consumidor final. Desse modo, o elemento espacial do ICMS-
Energia é o local onde consumida a energia.
As empresas distribuidoras de energia elétrica são responsáveis, na qualidade de substitutas
tributárias, pelo recolhimento do imposto que será devido ao Estado de destino.
O ICMS deve incidir sobre o valor da energia elétrica efetivamente consumida, isto é, a que for
entregue ao consumidor, a que tenha saído da linha de transmissão e entrado no
estabelecimento da empresa. Assim, a energia elétrica só é gerada e só circula quando há
consumo (STJ REsp960.476/SC).

Feitas essas explicações, vejamos o que foi debatido pelo STJ:


Nos estabelecimentos comerciais, há direito de creditamento do ICMS pago na
aquisição de energia elétrica quando:
LC nº 87/96. Art. 33 (...)
II – somente dará direito a crédito a entrada de energia elétrica no estabelecimento:
a) quando for objeto de operação de saída de energia elétrica;
b) quando consumida no processo de industrialização;
c) quando seu consumo resultar em operação de saída ou prestação para o exterior,
na proporção destas sobre as saídas ou prestações totais; e
d) a partir de 1º de janeiro de 2033, nas demais hipóteses;
(Redação dada pela Lei Complementar nº 171, de 2019)

No entanto, antes da edição da LC 87/96, o tratamento era diferente. Não havia previsão legal
de tal creditamento.
Val lembrar que a CF/88 exige a edição de lei complementar para regular a não-cumulatividade
do ICMS. Diz o art. 155, § 2, I, da CF/88 que o ICMS "será não cumulativo, compensando-se o
que foi devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços
com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal",
complementando o seu inciso XII, que "cabe à lei complementar (...) c) disciplinar o regime de
compensação do imposto". Conclui o art. 146 que cabe à lei complementar "III – estabelecer

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normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: ". b) obrigação,
lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários".
Editada a LC nº 87/96, o STJ decidiu foi que não há retroatividade desta nem das suas alterações:
As operações de consumo de energia elétrica não geravam direito a creditamento
do ICMS, sob a égide do Convênio ICMS 66/88, considerando-se a irretroatividade
da Lei Complementar 87/96, que, em sua redação original, autorizava o
aproveitamento imediato de crédito de ICMS decorrente da aquisição de energia
elétrica usada ou consumida no estabelecimento (o que restou alterado pelas Leis
Complementares 102/2000, 114/2002 e 122/2006)" (REsp 977.090/ES, Rel.
Ministro Luiz Fux, Primeira Seção, DJe 18/12/2009).

12) Não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento de mercadoria de um para
outro estabelecimento do mesmo contribuinte. (Recurso Repetitivo - Tema 259)

Como visto em tese anterior, a circulação de mercadorias é um dos fatos geradores do ICMS.
A circulação de mercadorias prevista no art. 155 da CF/88 é a circulação jurídica, que exige
efetivo ato de mercancia, para o qual concorrem a finalidade de obtenção de lucro e a
transferência de titularidade, a qual, por sua vez, pressupõe a transferência de uma pessoa para
outra da posse ou da propriedade da mercadoria.
Assim, algumas vezes haverá circulação física da mercadoria, mas não haverá circulação jurídica
(transferência da propriedade). Nesses casos, não se pode falar em ocorrência do fato gerador
do ICMS. É o caso, por exemplo, de uma empresa que realiza um comodato de mercadorias.
Haverá circulação física, mas não jurídica, de forma que não haverá fato gerador de ICMS. Nesse
sentido é a Súmula 573 do STF: Não constitui fato gerador do imposto de circulação de
mercadorias a saída física de máquinas, utensílios e implementos a título de comodato.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


A empresa “XXX Comércio Ltda” transferiu mercadorias de seu estoque central em Porto Alegre
(RS) para sua filial em Curitiba (PR).
O Fisco estadual cobrou ICMS dessa operação.

Essa cobrança é devida?


NÃO. A transferência de mercadorias entre estabelecimentos do mesmo titular não configura
hipótese de incidência do ICMS. Isso porque não há transferência de propriedade. Nesse
sentido:
O deslocamento de bens ou mercadorias entre estabelecimentos de uma mesma
empresa, por si, não se subsume à hipótese de incidência do ICMS, porquanto, para
a ocorrência do fato imponível é imprescindível a circulação jurídica da mercadoria
com a transferência da propriedade.
STJ. 1ª Seção. REsp 1125133/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/08/2010.

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Súmula 166-STJ: Não constitui fato gerador do ICMS o simples deslocamento de
mercadoria de um para outro estabelecimento do mesmo contribuinte.

Não incide ICMS no deslocamento de bens de um estabelecimento para outro do


mesmo contribuinte localizados em estados distintos, visto não haver a transferência
da titularidade ou a realização de ato de mercancia.
STF. Plenário. ARE 1255885 RG, Rel. Ministro Presidente Dias Toffoli, julgado em
14/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 1099).

13) Ainda que, em tese, o deslocamento de bens do ativo imobilizado e de material de uso e
consumo entre estabelecimentos de uma mesma instituição financeira não configure hipótese
de incidência do ICMS, compete ao Fisco Estadual averiguar a veracidade da aludida operação,
sobressaindo a razoabilidade e proporcionalidade da norma jurídica que tão-somente exige
que os bens da pessoa jurídica sejam acompanhados das respectivas notas fiscais. (Recurso
Repetitivo – Tema 367)

Como visto, o contribuinte pode deslocar os bens ou mercadorias entre estabelecimentos da


mesma empresa sem que configure hipótese de incidência do ICMS. Para tanto, exige-se
documento fiscal para acompanhar o deslocamento físico de bens entre estabelecimentos de
uma mesma pessoa jurídica não contribuinte do ICMS (trata-se de obrigação acessória). Essa
exigência se justifica para que o Fisco estadual possa averiguar a veracidade da operação, de
acordo as informações descritas em nota fiscal.
O que o STJ decidiu nesse caso foi que, além disso, não se pode exigir de empresa cuja atividade
não está sujeita ao ICMS, mas sim ao ISSQN, que faça registros em livros contábeis inerentes à
escrituração do imposto estadual (Livros de Registros de Entradas, de Saídas e de Apuração de
ICMS e Livro de Inventário).
O argumento de que, em tese, a empresa pode vir a praticar um fato gerador de tributo de
competência de inclusive de outras Fazendas Públicas não é justificativa plausível para que ela
mantenha a escrituração contábil estabelecida para cada ente federativo. Sobressai a
razoabilidade e proporcionalidade da norma jurídica, que exige apenas que os bens da pessoa
jurídica sejam acompanhados das respectivas notas fiscais.
Jurisprudência em Teses do STJ
EDIÇÃO N. 121: IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS, BENS E SERVIÇOS - ICMS

1) Não é possível a inclusão de crédito presumido de ICMS na base de cálculo do imposto de


renda da pessoa jurídica - IRPJ e da contribuição social sobre o lucro líquido - CSLL.

2) O crédito presumido de ICMS não integra a base de cálculo da contribuição para o programa
de integração social - PIS e da contribuição para o financiamento da seguridade social -
COFINS.
Repercussão geral reconhecida pelo STF no RE 835818 (Tema 843).

3) O ICMS não compõe a base de cálculo para a incidência do PIS e da COFINS.


No mesmo sentido: STF. Plenário. RE 574706/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/3/2017 (repercussão geral)
(Info 857).

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4) É legítima a inclusão da subvenção econômica instituída pela Lei n. 10.604/2002 na base de
cálculo do ICMS sobre a energia elétrica, uma vez que se enquadra no conceito do termo "valor
da operação", à luz do disposto nos arts. 12, XII, e 13, VII e § 1°, da Lei Complementar n.
87/1996.

5) O ICMS incide sobre o valor da tarifa de energia elétrica correspondente à demanda de


potência efetivamente utilizada. (Súmula n. 391/STJ) (Recurso Repetitivo - Tema 63)
A demanda de potência elétrica não é passível, por si só, de tributação via ICMS, porquanto somente integram a base
de cálculo desse imposto os valores referentes àquelas operações em que haja efetivo consumo de energia elétrica
pelo consumidor (STF. Plenário. RE 593824, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/04/2020 – Repercussão Geral –
Tema 176).

6) Diante do que dispõe a legislação que disciplina as concessões de serviço público e da


peculiar relação envolvendo o Estado-concedente, a concessionária e o consumidor, esse
último tem legitimidade para propor ação declaratória c/c repetição de indébito na qual se
busca afastar, no tocante ao fornecimento de energia elétrica, a incidência do ICMS sobre a
demanda contratada e não utilizada. (Recurso Repetitivo - Tema 537)

7) Nos casos em que a substituta tributária (a montadora/fabricante de veículos) não efetua


o transporte nem o engendra por sua conta e ordem, o valor do frete não deve ser incluído na
base de cálculo do ICMS, ante o disposto no art. 13, § 1º, inciso II, alínea "b", da Lei
Complementar n. 87/1996.

8) Não incide ICMS sobre serviço de transporte interestadual de mercadorias destinadas ao


exterior.

9) As operações de importação de bacalhau (peixe seco e salgado, espécie do gênero pescado),


provenientes de países signatários do GATT - General Agreement on Tariffs and Trade,
realizadas até 30 de abril de 1999, são isentas de recolhimento do ICMS. (Recurso Repetitivo
- Tema 89)

10) O Estado de Minas Gerais por meio do Decreto n. 27.281, de 27.08.1987, que ratificou o
Convênio n. 29, de 18.08.1987, revogou expressamente a isenção do ICMS ao peixe seco e
salgado nacional, assim, em consequência, finda a isenção do produto nacional, encerra-se,
igualmente, no Estado, o benefício concedido ao bacalhau importado de país signatário do
GATT, não sendo aplicável o entendimento firmado pelo REsp 871.760/BA, julgado sob o
regime dos recursos repetitivos.

11) A isenção do ICMS para pescados no âmbito do Estado de Pernambuco foi extinta em
13.3.1997 pelo Decreto estadual n. 19.631, que efetivou a revogação autorizada pelo Convênio
ICMS 102/1995, de modo que, a partir de então, não há falar em benefício fiscal em favor do
similar importado de país signatário do GATT para referida unidade da federação.

12) Os descontos incondicionais nas operações mercantis não se incluem na base de cálculo
do ICMS. (Súmula n. 457/STJ) (Recurso Repetitivo - Tema 144)

13) O valor pago pelo consumidor final a título de seguro de garantia estendida não integra a
base de cálculo do ICMS incidente sobre a operação de compra e venda de mercadoria.

Jurisprudência em Teses do STJ


EDIÇÃO N. 118: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS - I

18
1) O fato gerador do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI, incidente
sobre mercadoria importada, é o desembaraço aduaneiro (art. 46, I, do Código
Tributário Nacional - CTN), sendo irrelevante se o bem é adquirido a título de
compra e venda ou de arrendamento, incidindo o tributo sobre a base de
cálculo proporcional nos casos de ingresso do bem em caráter temporário no
território nacional, nos termos do art. 79 da Lei n. 9.430/1996.

2) Os produtos importados estão sujeitos a uma nova incidência do IPI quando


de sua saída do estabelecimento importador na operação de revenda, mesmo
que não tenham sofrido industrialização no Brasil. (Recurso Repetitivo - Tema
912)
No mesmo sentido:
É constitucional a incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI no desembaraço aduaneiro
de bem industrializado e na saída do estabelecimento importador para comercialização no mercado interno.
STF. Plenário. RE 946648/SC, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/08/2020
(Repercussão Geral - Tema 906).

3) Não incide o IPI sobre alimentos e outras preparações utilizadas na


alimentação de cães e gatos quando acondicionados e comercializados em
embalagens com peso superior a 10 kg (dez quilos).

4) Não incide Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI nos serviços de


composição e de impressão gráfica.

5) Combustíveis, lubrificantes e energia elétrica, embora consumidos durante


o processo de industrialização, não podem ser considerados como matéria-
prima, insumos ou produtos intermediários, para o fim de inclusão no cálculo
do crédito presumido de IPI.

6) Não incide Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI sobre a venda de


produtos, na hipótese em que ocorre roubo ou furto de mercadoria, antes da
entrega ao comprador, porquanto não configurado o fator gerador, com a
efetivação da operação mercantil.

7) A ficção jurídica prevista no art. 11 da Lei n. 9.779/1999 não alcança situação


reveladora de isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI que a
antecedeu. (Recurso Repetitivo - Tema 159)

8) Não se admite interpretação extensiva do art. 11 da Lei n. 9.779/1999 para


permitir o creditamento, após a sua vigência, dos produtos finais não
tributados, pois o benefício somente foi reconhecido pela lei para os produtos
finais isentos ou sujeitos ao regime de alíquota zero.

19
9) É legítima a aplicação das alíquotas previstas na Resolução da Comissão
de Incentivo à Exportação - CIEX 02/1979, para fins de cálculo do crédito-
prêmio do IPI.

10) Em se tratando de ressarcimento de crédito-prêmio de IPI, a liquidação da


sentença se dará por artigos, oportunidade em que a parte deverá apresentar
toda a documentação suficiente à comprovação da efetiva operação de
exportação, bem como do ingresso de divisas no País, sem o que não se
habilita à fruição do benefício, mesmo estando ele reconhecido na sentença.
Jurisprudência em Teses do STJ
EDIÇÃO N. 70: DIREITO TRIBUTÁRIO - PARTE GERAL

1) Aplica-se a taxa SELIC - Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, a partir de 1º/1/1996,


na atualização monetária do indébito tributário, não podendo ser cumulada com qualquer
outro índice, seja de juros ou atualização monetária. (Recurso Repetitivo - Tema 145)

2) Os depósitos judiciais e extrajudiciais referentes a tributos federais efetuados a partir da


vigência da Lei n. 9.703/98 são atualizados pela taxa SELIC.

3) A decisão que reconhece a imunidade tributária possui natureza declaratória e produz


efeitos retroativos ao momento em que preenchidos os requisitos legais para a concessão do
benefício.

4) A revisão do lançamento tributário pode ser exercida nas hipóteses do art. 149 do CTN,
desde que observado o prazo decadencial para a constituição do crédito tributário.

5) A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito


tributário, dispensada qualquer outra providência por parte do fisco. (Tese julgada pelo rito
do art. 543-C do CPC/73 - Tema 96) (Súmula n. 436/STJ)

6) A notificação do contribuinte do auto de infração constitui definitivamente o crédito


tributário e dá início ao cômputo do prazo prescricional para a sua cobrança, não havendo que
se falar em prazo decadencial.

7) A prescrição quinquenal para a cobrança dos tributos sujeitos a lançamento de ofício é


contada da data de sua constituição definitiva, ou seja, quando já não caiba recurso
administrativo ou findo o prazo para sua interposição.

8) A confissão espontânea da dívida e seu parcelamento não têm o condão de restabelecer a


exigibilidade do crédito tributário extinto pela decadência ou prescrição.

9) Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas


os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes
a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão. (Tese julgada pelo rito do art. 543-C do
CPC/73 - Tema 382) (Súmula n. 554/STJ)

10) O arrolamento de bens previsto no art. 64 da Lei n. 9.532/97 viabiliza o acompanhamento


da evolução patrimonial do sujeito passivo da obrigação tributária e não impede a livre
disposição do patrimônio do contribuinte.

20
11) A suspensão da exigibilidade do crédito tributário não implica o cancelamento do
arrolamento de bens previsto nos § § 8º e 9º do art. 64 da Lei n. 9.532/97.

12) É incabível o mandado de segurança para convalidar a compensação tributária realizada


pelo contribuinte. (Tese julgada pelo rito do art. 543-C do CPC/73 - Tema 258) (Súmula n.
460/STJ)

13) A compensação mediante o aproveitamento de tributo objeto de contestação judicial pelo


sujeito passivo, nos termos do art. 170-A do CTN, não exige o trânsito em julgado da respectiva
decisão judicial para as ações ajuizadas antes de 10/01/2001.

14) O disposto no art. 170-A do CTN aplica-se também a indébitos tributários decorrentes de
vício de inconstitucionalidade. (Recurso Repetitivo - Tema 346)

15) A compensação de débitos tributários com precatórios vencidos, não pagos e adquiridos
de terceiro, só é possível, à luz do art. 170 do CTN, quando houver lei específica autorizadora.

16) A extinção do crédito tributário por meio de compensação está sujeita à condição
resolutória da sua homologação.
Jurisprudência em Teses do STJ
EDIÇÃO N. 64: IMPOSTOS MUNICIPAIS II - ISS

1) A listagem de serviços que constituem fatos geradores do Imposto Sobre Serviços de


Qualquer Natureza - ISSQN (anexa ao Decreto-Lei n. 406/1968 e à Lei Complementar n.
116/2003) comporta interpretação extensiva para abarcar os serviços congêneres àqueles
previstos taxativamente. (Recurso Repetitivo - Tema 132)

2) O ISS é espécie tributária que pode se caracterizar como tributo direto ou indireto, sendo
necessário avaliar se seu valor é repassado ou não ao preço cobrado pelo serviço. (Recurso
Repetitivo - Tema 398)

3) A partir da vigência da Lei Complementar n. 116/03, a competência tributária ativa para a


cobrança do ISSQN recai sobre o município em que o serviço é efetivamente realizado, desde
que, no local, haja unidade econômica ou profissional do estabelecimento prestador. (Recurso
Repetitivo - Temas 354 e 355)

4) Incide ISSQN e não ICMS nas hipóteses em que são desenvolvidas operações mistas de
fornecimento de mercadorias e prestação de serviço, desde que este esteja expressamente
previsto na listagem anexa ao DL n. 406/1968 e à LC n. 116/2003.

5) O tratamento diferenciado que assegura a alíquota fixa do ISS às sociedades profissionais,


nos moldes do art. 9º do Decreto-Lei n. 406/68, não foi revogado pelo art. 10 da Lei
Complementar n. 116/03.

6) O benefício da alíquota fixa do Imposto sobre Serviços estabelecida no art. 9º, §§ 1º e 3º,
do DL n. 406/68 somente é concedido às sociedades uni ou pluripessoais integradas por
profissionais que atuam com responsabilidade pessoal e sem caráter empresarial.

7) A tributação fixa do ISS não alcança as sociedades constituídas sob a forma de


responsabilidade limitada, em razão do caráter empresarial de que se reveste este tipo
societário.

21
8) As sociedades simples constituídas sob a forma societária limitada fazem jus ao benefício
da tributação por alíquota fixa desde que os seus sócios prestem serviços de forma pessoal e
sem caráter empresarial.

9) Não incide ISS sobre os serviços de rebocagem na vigência do Decreto-Lei n. 406/68, tanto
por ausência de expressa previsão legal (art. 108, §1º, do CTN), como por não ser serviço
congênere ao de atracação.

10) A base de cálculo do ISSQN incidente na prestação do serviço público de transporte


coletivo é o valor pago pelo usuário no momento da aquisição da passagem, e não o valor da
tarifa vigente na data da sua utilização.

11) O valor suportado pelo beneficiário do serviço, nele incluindo a quantia referente ao
ISSQN, compõe o conceito de receita ou faturamento para fins de adequação à hipótese de
incidência do PIS e da COFINS. (Recurso Repetitivo - Tema 634)
A matéria referente à inclusão do ISS na base de cálculo do PIS e da Cofins teve repercussão geral reconhecida pelo
STF nos autos do RE 592.616/RS (Tema 118).

12) É inconstitucional a incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza - ISS sobre
operações de locação de bens móveis dissociadas da prestação de serviços. (Súmula
Vinculante n. 31/STF)

13) É legítima a incidência de ISS sobre os serviços bancários congêneres da lista anexa ao DL
n. 406/1968 e à LC n. 56/1987. (Súmula n. 424/STJ) (Julgado sob o rito do art. 543-C do CPC/73
- Tema 132)

14) Não se aplica à prestação de serviços de registros públicos cartorários e notariais o regime
especial de alíquota fixa do ISS previsto no § 1º do art. 9º do DL n. 406/1968.

15) A competência para o recolhimento do ISS nas hipóteses de construção civil é do município
onde a obra foi realizada, independentemente do serviço ter sido prestado antes ou após a
edição da LC n. 116/03. (Recurso Repetitivo - Tema 198)

16) O custo dos materiais empregados na construção civil pode ser deduzido da base de cálculo
do Imposto sobre Serviços.

17) O ISSQN incide apenas sobre a taxa de agenciamento quando o serviço prestado por
sociedade empresária de trabalho temporário for de intermediação, devendo, entretanto,
englobar também os valores dos salários e encargos sociais dos trabalhadores por ela
contratados nas hipóteses de fornecimento de mão de obra. (Recurso Repetitivo - Tema 403)

18) Não incide ISS sobre o serviço de provedor de acesso à internet, por ausência de previsão
legal.

19) Incide ISS sobre a intermediação de negócios na Bolsa de Mercadorias e Futuro - BM&F,
cuja atividade é voltada para a comercialização de mercadorias.

Jurisprudência em Teses do STJ


EDIÇÃO N. 58: PIS E COFINS

22
1) As receitas provenientes das operações de locação de bens móveis caracterizam-se como
faturamento, razão pela qual integram a base de cálculo do PIS e da COFINS. (Recurso
Repetitivo - Tema 196) (Súmula n. 423/STJ)

2) As receitas obtidas com a locação de imóveis próprios das pessoas jurídicas integram o
conceito de faturamento como base de cálculo para a incidência do PIS e da COFINS, ainda
que tal atividade não constitua o objeto social da empresa.

3) Não são dedutíveis da base de cálculo das contribuições ao PIS e COFINS o valor destinado
aos acionistas a título de juros sobre o capital próprio - JCP, na vigência da Lei n. 10.637/2002
e da Lei n. 10.833/2003. (Recurso Repetitivo - Tema 454)

4) Não incide PIS/COFINS sobre os JCP recebido durante a vigência da Lei n. 9.718/98 até a
edição das Leis 10.637/02 (cujo art. 1º entrou em vigor a partir de 01.12.2002) e 10.833/03,
tal como no caso dos autos, que se refere apenas ao período compreendido entre 01.03.1999
e 30.09.2002. (Recurso Repetitivo - Tema 455)

5) A possibilidade de incidência do PIS e COFINS sobre a taxa de administração dos cartões de


débito e crédito implica necessária análise do conceito de faturamento, inviável em recurso
especial, por se tratar de matéria eminentemente constitucional.
A matéria é objeto do RE 1.049.811, no qual foi reconhecida a repercussão geral.

6) Os atos praticados pela cooperativa com terceiros estão no campo de incidência de


contribuição ao PIS e à COFINS.

7) O conceito de insumo para fins de creditamento de PIS e COFINS diz respeito aos bens e
serviços essenciais à realização da atividade fim da empresa.
O conceito de insumo deve ser aferido, no caso concreto, à luz dos critérios de essencialidade ou relevância,
considerando-se a imprescindibilidade ou a importância de terminado item - bem ou serviço - para o desenvolvimento
da atividade econômica desempenhada pelo contribuinte (STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1747154/SE, Rel. Min.
Francisco Falcão, julgado em 22/04/2020).

8) O benefício fiscal do ressarcimento do crédito presumido do IPI relativo às exportações


incide mesmo quando as matérias-primas ou os insumos sejam adquiridos de pessoa física ou
jurídica não contribuinte do PIS/PASEP. (Súmula n. 494/STJ)

9) A contribuição social destinada ao PIS permaneceu exigível no período compreendido entre


outubro de 1995 a fevereiro de 1996, por força da Lei Complementar n. 7/70, e entre março
de 1996 a outubro de 1998, por força da Medida Provisória n. 1.212/95 e suas reedições.
(Recurso Repetitivo - Tema 263)

11) Os créditos escriturais apurados pelos contribuintes no regime não cumulativo do


Programa de Integração Social - PIS e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social - COFINS integram a base de cálculo do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas - IRPJ e
da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL.

12) O crédito presumido referente ao ICMS não tem natureza de receita ou faturamento, razão
pela qual não pode ser incluído na base de cálculo do PIS e da COFINS.
A matéria é objeto do RE 835818 (Tema 843), que teve a repercussão geral reconhecida.

13) A base de cálculo do PIS e da COFINS, independentemente do regime normativo aplicável


(Leis Complementares n. 7/70 e 70/91 ou Leis Ordinárias n. 10.637/2002 e 10.833/2003),
abrange os valores recebidos pelas empresas prestadoras de serviços de locação de mão de

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obra temporária (regidas pela Lei n. 6.019/1974 e pelo Decreto n. 73.841/1974), a título de
pagamento de salários e encargos sociais dos trabalhadores temporários. (Recurso Repetitivo
- Tema 279)

14) O repasse econômico do PIS e da COFINS realizados pelas empresas concessionárias de


serviços de telecomunicação é legal e condiz com as regras de economia e de mercado.
(Recurso Repetitivo - Tema 293)

15) A base de cálculo do PIS, até a edição da MP n. 1.212/1995, era o faturamento ocorrido no
sexto mês anterior ao do fato gerador. (Súmula n. 468/STJ)

16) As despesas de frete somente geram crédito no pagamento do PIS/COFINS quando


suportadas pelo vendedor nas hipóteses de venda ou revenda, fato que não ocorre no
transporte interno de mercadorias entre estabelecimentos de uma mesma empresa.

17) O valor suportado pelo beneficiário do serviço, nele incluindo a quantia referente ao
ISSQN, compõe o conceito de receita ou faturamento para fins de adequação à hipótese de
incidência do PIS e da COFINS. (Recurso Repetitivo Tema 634)

18) As vendas inadimplidas não se equiparam às vendas canceladas, pois o inadimplemento


não descaracteriza o fato gerador das contribuições do PIS e da COFINS.

19) Os resultados das variações monetárias oriundos de empréstimos em moeda estrangeira


deverão ser considerados, para fins de incidência do PIS e da COFINS, quando da efetiva
liquidação das operações.

Jurisprudência em Teses do STJ


EDIÇÃO N. 55: IMPOSTOS MUNICIPAIS

1) É legítima a cobrança do Imposto Predial Territorial Urbano - IPTU sobre imóveis situados
em área de expansão urbana, ainda que não dotada dos melhoramentos previstos no art. 32,
§ 1º, do CTN.
Súmula 626-STJ: A incidência do IPTU sobre imóvel situado em área considerada pela lei local como urbanizável ou
de expansão urbana não está condicionada à existência dos melhoramentos elencados no art. 32, § 1º, do CTN.

2) O cessionário de direito uso de imóvel público não é contribuinte do IPTU, pois detém a
posse mediante relação de natureza pessoal, sem animus domini.
Superada.
Incide o IPTU considerado bem público cedido a pessoa jurídica de direito privado, sendo esta a devedora (STF. RE
601720, Relator(a) p/ Acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 19/04/2017).
O STJ curvou-se a esse entendimento do STF:
(...) O Plenário da Corte Constitucional, no RE n. 601.720/RJ, com repercussão geral reconhecida, ao apreciar o Tema
n. 437 - Reconhecimento de imunidade tributária recíproca a empresa privada ocupante de bem público -, assentou
a tese de que "incide o IPTU considerado imóvel de pessoa jurídica de direito público cedido a pessoa jurídica de
direito privado, devedora do tributo". 2. Hipótese em que a concessionária de uso de bem público é empresa que
exerce no imóvel em questão atividade econômica (comércio de veículos e peças), ostentando, assim, a condição de
devedora do IPTU. 3. Agravo regimental provido (STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1192012/RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria,
julgado em 20/02/2018).

3) O contribuinte do IPTU é notificado do lançamento pelo envio do carnê ao seu endereço.


(Súmula n. 397/STJ) (Recurso Repetitivo - Tema 116)

4) Cabe ao contribuinte comprovar a ausência de notificação do lançamento tributário pelo


não recebimento do carnê de cobrança do IPTU. (Recurso Repetitivo - Tema 248)

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5) É defeso ao município atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao índice
oficial de correção monetária. (Súmula n. 160/STJ)

6) Nos tributos em que o lançamento se dá de ofício, como é o caso do IPTU, o prazo


prescricional para se pleitear a repetição de indébito é de cinco anos, contados a partir da data
em que se deu o pagamento do tributo, nos termos do art. 168, I, do CTN. (Recurso Repetitivo
- Tema 229)

7) O locatário, por não ostentar a condição de contribuinte ou de responsável, não tem


legitimidade ativa para litigar em ações de natureza tributária envolvendo o IPTU.

8) O usufrutuário de imóvel urbano possui legitimidade ativa para questionar o IPTU.

9) É possível a utilização da metragem do imóvel como base de cálculo da cobrança da taxa de


coleta de lixo.

10) A publicação oficial da planta de valores imobiliários é obrigatória para fins de apuração
da base de cálculo do IPTU.
Assim, a mera afixação da Planta de Valores no átrio da sede do município não supre a mencionada exigência (STJ. 2ª
Turma. REsp 1645832/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 07/03/2017).

11) Não incide IPTU, mas ITR, sobre imóvel localizado na área urbana do Município, desde que
comprovadamente utilizado em exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou
agroindustrial (art. 15 do DL 57/1966). (Recurso Repetitivo - Tema 174)

12) O ônus de provar que o imóvel não está afetado à destinação institucional da autarquia
ou da fundação recai sobre o ente tributante que pretende afastar a imunidade.

13) Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a
qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição Federal, desde que o
valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas.
(Súmula Vinculante n. 52)

14) A arrematação em hasta pública exonera a reponsabilidade do adquirente pelo


pagamento do IPTU, havendo a sub-rogação do crédito tributário sobre o preço pelo qual foi
arrematado o bem (art. 130, parágrafo único, do CTN).

15) A previsão expressa no edital acerca da existência de débitos de IPTU sobre o imóvel
arrematado transfere ao arrematante a responsabilidade pela sua quitação, o que não
acarreta ofensa ao parágrafo único do art. 130 do CTN.

16) Cabe à legislação municipal estabelecer o sujeito passivo do IPTU. (Súmula n. 399/STJ)
(Recurso Repetitivo - Tema 122)

17) O promitente comprador do imóvel e o proprietário/promitente vendedor são


contribuintes responsáveis pelo pagamento do IPTU. (Recurso Repetitivo - Tema 122)

18) O fato gerador do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis - ITBI é a transmissão do
domínio do bem, não incidindo o tributo sobre a promessa de compra e venda na medida que
se trata de contrato preliminar que poderá ou não se concretizar em contrato definitivo, este
sim ensejador da cobrança do aludido tributo.

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19) O valor venal do imóvel apurado para fins de IPTU não coincide, necessariamente, com
aquele adotado para lançamento do ITBI.

20) O valor venal do imóvel para efeito de definição da base de cálculo do ITBI, no caso de
alienação judicial, é o montante alcançado em hasta pública.

EDIÇÃO N. 28: IMPOSTO DE RENDA

1) As verbas concedidas ao empregado, por mera liberalidade do empregador,


quando da rescisão unilateral de seu contrato de trabalho sujeitam-se à
incidência do imposto de renda. (Recurso Repetitivo - Tema 139)

2) Incide imposto de renda sobre os valores recebidos a título de antecipação


dos direitos à Aposentadoria Complementar Móvel Vitalícia ACMV, pois tais
valores decorrem de renúncia de direito trabalhista de natureza remuneratória,
configurando acréscimo patrimonial.

3) Por força da isenção concedida pelo art. 6º, VII, b, da Lei n. 7.713/88, na
redação anterior à que lhe foi dada pela Lei n. 9.250/95, é indevida a cobrança
de imposto de renda sobre o valor da complementação de aposentadoria e o
do resgate de contribuições correspondentes a recolhimentos para entidade
de previdência privada ocorridos no período de 01/01/1989 a 31/12/1995.
Súmula 556-STJ: É indevida a incidência de imposto de renda sobre o valor da
complementação de aposentadoria pago por entidade de previdência privada e em
relação ao resgate de contribuições recolhidas para referidas entidades
patrocinadoras no período de 1º/1/1989 a 31/12/1995, em razão da isenção
concedida pelo art. 6º, VII, b, da Lei nº 7.713/1988, na redação anterior à que lhe foi
dada pela Lei nº 9.250/1995.

4) Não incide imposto de renda sobre os juros de mora percebidos na situação


de rescisão do contrato de trabalho decorrente da perda do emprego,
independentemente da natureza da verba principal.

5) São isentas de imposto de renda as indenizações de férias proporcionais e


o respectivo adicional. (Súmula n. 386/STJ)

6) A restituição do imposto de renda incidente sobre a complementação de


aposentadoria, sob o regime da Lei n. 7.713/88, exige apenas a comprovação
do recolhimento da contribuição para a entidade de previdência
complementar, cabendo à Fazenda Nacional fazer prova sobre a tributação
dos valores.

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7) Incide imposto de renda sobre os valores recebidos a título de
complementação temporária de aposentadoria.

8) Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais.


(Súmula n. 498/ STJ) (Recurso Repetitivo - Tema 370)
O fato gerador do IR é a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica
decorrente de acréscimo patrimonial (art. 43 do CTN). O STJ entende que as verbas
recebidas a título de indenização por danos morais não representam acréscimo
patrimonial.

9) Não incide imposto de renda sobre os valores recebidos a título de licença-


prêmio não gozada, verba de natureza indenizatória que não implica
acréscimo patrimonial.

10) Incide imposto de renda sobre os juros de mora decorrentes de verbas


previdenciárias pagas a destempo, exceto se o principal era verba isenta de
recolhimento da exação.
Penso que a tese se encontra superada em razão do seguinte entendimento do STF:
Não incide imposto de renda sobre os juros de mora devidos pelo atraso no
pagamento de remuneração por exercício de emprego, cargo ou função.
STF. Plenário. RE 855091/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/3/2021
(Repercussão Geral – Tema 808) (Info 1009).

11) Não incide imposto de renda sobre a verba paga a título de indenização
por rompimento do contrato de trabalho no período de estabilidade provisória.

12) Não incide imposto de renda sobre os proventos de aposentadoria e


pensão dos anistiados políticos, nos termos da Lei n. 10.559/2002.

13) A indenização recebida pela adesão a programa de incentivo à demissão


voluntária não está sujeita à incidência do imposto de renda. (Súmula n.
215/STJ)

14) A isenção do imposto de renda decorrente de doença grave pode ser


deferida independentemente de laudo pericial oficial, bastando a existência de
provas suficientes nos autos.
Súmula 598-STJ: É desnecessária a apresentação de laudo médico oficial para o
reconhecimento judicial da isenção do Imposto de Renda, desde que o magistrado
entenda suficientemente demonstrada a doença grave por outros meios de prova.

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15) O termo inicial da isenção do imposto de renda prevista no art. 6º da Lei n.
7.713/88 deve ser fixado na data em que a moléstia grave foi comprovada
através de diagnóstico médico, e não a partir da emissão do laudo oficial.

16) É taxativo o rol de moléstias graves previstas no art. 6º, XIV, da Lei n.
7.713/88 que dá direito à isenção do imposto de renda sobre os proventos
decorrentes de aposentadoria ou reforma.

17) A isenção do imposto de renda sobre a aposentadoria ou reforma


concedida aos portadores de moléstias graves, nos termos do art. 6º, inciso
XIV, da Lei n. 7.713/88, não exige do contribuinte a demonstração da
contemporaneidade dos sintomas, nem a indicação de validade do laudo
pericial, ou a comprovação de recidiva da enfermidade, para o gozo do
benefício isencional.
Súmula 627-STJ: O contribuinte faz jus à concessão ou à manutenção da isenção
do imposto de renda, não se lhe exigindo a demonstração da contemporaneidade
dos sintomas da doença nem da recidiva da enfermidade.

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