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Sistémica e Modelos de Informação

Alemanha Nazi à luz do modelo de David Easton

Trabalho realizado por Andreia Dias (a2020128975)

Introdução

O objetivo fundamental deste trabalho é efetuar uma abordagem sistémica da


Alemanha Nazi à luz do modelo de David Easton.

Em primeiro lugar, será analisado o texto do cientista político, de forma cuidada,


com a finalidade de absorver e entender os conceitos nele compreendidos. Para tal, o
trabalho contêm a correta definição dos conceitos mencionados por David Easton. Toda
a análise e explicação da vida política como um sistema aberto e adaptável será
sustentada por argumentos e por citações de David Easton. Também a parte da estrutura
será mencionada, para que a consolidação do texto seja mais facilitada e melhor
percebida.

Em seguida, será feita a descrição e a análise da Alemanha Nazi à luz do modelo


de David Easton, sendo feita, evidentemente, uma análise sistémica do sistema
totalitarista que se viveu, na Alemanha, entre 1933 e 1945.

A vida política, sistema aberto e adaptável

O cientista político David Easton considera que o sistema político é um


“conjunto complexo de processos” e que a vida política é um sistema aberto e
adaptável. Através de uma abordagem sistémica, Easton analisa um conjunto de
categorias.

O texto de David Easton divide-se em três partes. Numa primeira instância, o


cientista político introduz e faz o enquadramento do tema, especificando algumas
características da vida política enquanto sistema aberto e adaptável. Informa ainda que

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este é um sistema de transformação sujeito a entradas e saídas e a mecanismos de


feedback. Aborda também a noção de equilíbrio na análise da vida política e prossegue
para a distinção entre equilíbrio e estabilidade. A pergunta inicial que se coloca é a
seguinte: “Como é que os sistemas (políticos) conseguem persistir num mundo onde
reinam simultaneamente a estabilidade e a transformação?”. Para responder a esta
pergunta, o cientista político afirma que é necessário ter em conta os processos vitais
dos sistemas políticos, essenciais à subsistência do sistema. O autor afirma ainda que:

“Podemos encarar a vida política como um sistema de comportamento incluído


num determinado meio e exposto às suas influências, mas com a possibilidade
de lhe responder.”

É, também, esclarecido por Easton que o sistema político não existe no vácuo e
está, aliás, rodeado por vários meios: meio físico, biológico, social e psicológico. Este
facto não deve ser descurado apenas por ser incontestável e, caso o “abandono” desta
veracidade aconteça, não será possível fazer uma análise rigorosa sobre o estudo dos
sistemas políticos:

“Se descurarmos o que parece tão incontestável, uma vez que já o admitimos,
será impossível estabelecer uma análise rigorosa sobre o modo como os
sistemas políticos conseguem persistir num mundo de estabilidade e
transformação.”

Daqui se conclui que um sistema político é um sistema aberto, uma vez que se
relaciona com o meio. A este tipo de sistema também se atribui a adaptabilidade, uma
vez que resistem, independentemente dos “golpes sofridos”:

“Por fim, o facto de certos sistemas sobreviverem efetivamente apesar dos


golpes que recebem do seu meio ambiente, revela-nos que eles devem ter a
possibilidade e os meios concretos de resposta a essas perturbações e a
possibilidade de se adaptarem às condições em que se encontram”

Assim, este sistema tem capacidade de resposta, isto é, tem mecanismos de


reação.

Como já referi anteriormente, o cientista político anota as principais diferenças entre


equilíbrio e estabilidade – “Um sistema pode perfeitamente ter outro objetivo do que
atingir este ou aquele ponto de equilíbrio.”. Conclui ainda que os membros de um

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sistema podem, eventualmente, tomar certas decisões com a finalidade de “destruírem


um equilíbrio anterior ou mesmo para atingir um novo estado de desequilíbrio
permanente”. Deste modo, o sistema pode ser considerado estável, apesar de se
encontrar numa situação de equilíbrio instável.

Desenvolvimento e conceitos indispensáveis para uma análise em termos de


sistema

Numa segunda parte, David Easton expõe os conceitos indispensáveis para uma
análise em termos de sistema, aborda as variáveis de ligação entre sistemas, assim como
os apoios e os pedidos considerados como formas de input, disserta também sobre
outputs e retroações. Analisa também o sistema político como processo.

Os conceitos indispensáveis para uma análise em termos de sistema são,


segundo Easton, os seguintes: sistema, sistema político, meio global (meio intra-societal
e meio extra-societal); influências e fontes de tensão; funções, propriedades e variáveis
e, finalmente, limiar crítico.

David Easton começa por definir aquilo que se designa de sistema – “Em
primeira análise podemos definir um sistema como um conjunto de variáveis seja qual
for o grau de relação existente entre elas.” e, depois, esclarece a definição de sistema
político, apontando, também, para a distinção entre um sistema político e os outros
sistemas do meio:

“[…] um sistema político pode ser designado como o conjunto das interações
através das quais, numa determinada sociedade, se realiza a atribuição
autoritário dos valores: aqui reside a principal diferença entre o sistema
político e os outros sistemas do seu meio.”

São esclarecidos também os conceitos intra-societal e extra-societal. O


primeiro realiza-se entre sociedades e diz respeito, portanto, ao meio nacional
(domestic), ao passo que o plano extra-societal é associado ao meio internacional.
Acrescenta-se, ainda, que o meio intra-societal envolve aspetos que não são políticos e
compreendem “conjuntos de comportamentos, atitudes e de ideias tais como a
economia, a cultura, a estrutura social e as personalidades”, enquanto que o meio
extra-societal se compõe com “os sistemas que existem fora da própria sociedade” e são

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necessários para que uma sociedade internacional funcione. O cientista político


acrescenta que: “o sistema cultural internacional constitui um bom exemplo de sistema
extra-societal.”. Os conceitos mencionados (meio intra-societal e meio extra-societal)
compõem o meio global e é a partir deste conceito que “partem influências que podem
constituir fontes de tensão para o sistema político”. As influências que se fazem sentir e
que provocam alterações no sistema causam perturbação. No entanto, nem todas as
perturbações causam tensão ao sistema, uma vez que umas favorecem a manutenção do
sistema, à proporção que outras são neutras. David Easton acrescenta ainda que nenhum
sistema consegue subsistir se não executar determinadas funções:

“Todos os sistemas políticos têm um ponto em comum: não podem subsistir se


não desempenharem com sucesso as seguintes funções: distribuição dos valores
numa determinada sociedade e capacidade de levar a maior parte dos seus
membros a aceitar esta distribuição como autoritária, pelo menos durante o
maior período de tempo possível. Estas duas propriedades distinguem os
sistemas políticos dos outros sistemas sociais.”

São estas variáveis, a distribuição dos valores por uma certa sociedade e a
aceitação dos mesmos por esta, que permitem saber quando e como é que as
perturbações que há no sistema se tornam fontes de tensão. São variáveis “essenciais de
toda a vida política”. O cientista política alerta para o facto de não ser possível a
existência de uma sociedade sem um sistema político, seja ele de que género for.

É importante referir que, por vezes, a questão fundamental não é se as variáveis


essenciais são eficazes ou inoperantes, uma vez que pode acontecer um certo estado de
tensão que não seja “amplo o suficiente para atingir o limiar crítico”, pois o sistema
consegue subsistir de algum modo.

Atingir o estado de tensão não é, normalmente, desejável, pois pode cair por não
saber tomar as medidas certas, e, como tal, o sistema deve possuir uma capacidade de
resposta a um eventual estado de tensão, com a finalidade de fazer face às tensões
exercidas sobre as suas variáveis essenciais. Essa resposta evita que o sistema passe por
um estado de tensão.

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As variáveis de ligação entre sistemas

O problema que se coloca é o seguinte: “de que modo as fontes possíveis de


tensão do meio comunicam com o próprio sistema político?” e, aliado a este problema,
é questionado se se deve ou não estudar cada perturbação separadamente, analisando as
consequências específicas de cada uma. A verdade é que, se tal acontecesse desse modo,
a análise sistémica seria inexpugnável e a solução que David Easton apresenta é a
utilização dos conceitos input e output, assim, as influências devem ser interpretadas
tendo em conta os comportamentos das pessoas inseridas no meio em termos de trocas
e de transações aptas para desobstruir o sistema. Referimo-nos a trocas quando se trata
da reciprocidade das relações entre o sistema político e os outros sistemas do meio, ao
passado que o termo transações é utilizado quando se deseja enfatizar o modo como
uma influência atua no sentido meio-sistema político, ou no sentido oposto, sem ter em
perspetiva a reação de outro sistema. O cientista político utilizou os conceitos input e
output do seguinte modo: “Nesta perspetiva chamei às ações que são transmitidas de
um sistema para outro output do primeiro sistema ou, ao contrário, input do segundo.”.
Daqui se conclui que uma transação ou uma troca entre dois sistemas será considerada
como uma ligação com a relação input-output.

Os apoios e os pedidos considerados como formas de input

David Easton anuncia que os inputs, se considerarmos o seu sentido mais amplo,
compreendem todos os acontecimentos exteriores que podem modificar o sistema e,
posto isto, a lista dos inputs que atuam sobre um sistema é inesgotável e isto não é útil,
na medida em que prejudica a organização e a simplificação da realidade. Em
consequência, limitar-nos-emos a “certas espécies de inputs que fixaremos a título de
indicadores, que resumem as ações mais importantes na constituição das tensões que se
exercem sobre os sistemas políticos a partir do meio”.

Os inputs são, então, divididos em duas categorias: os pedidos e os apoios. É


através dos pedidos e dos meios que nos apercebemos da forma como as influências dos
sistemas do meio atuam sobre o sistema político, segundo David Easton. Os outputs são
fundamentais para a compreensão das consequências decorrentes do comportamento
dos membros do sistema, não estando, por isso, relacionados com as ações do meio. Os
outputs, ao exercerem influência na sociedade, determinam os inputs. Em virtude do

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anel de retroação, é possível explicar os procedimentos através dos quais o sistema faz
face às tensões e, além deste aspeto, o sistema tenta ajustar o seu comportamento futuro:

“Há um anel de retroação cuja identificação nos permite explicar os processos


com a ajuda dos quais o sistema procura fazer face às tensões. Graças a esta
retroação o sistema pode aproveitar as circunstâncias tentando ajustar o seu
comportamento futuro.”

A retroação permite que as autoridades disponham de informações suficientes


para poderem atuar, isto é, necessitam de informação sobre os resultados de cada vaga
de “decisões”. Assim se constata que o exame dos processos de retroação é vital e tem
uma influência enorme sobre a capacidade que um sistema tem para responder às
tensões.

O sistema político como processo

Após esta análise do sistema político, pode-se deduzir que cada ação do sistema
pode ter consequências no comportamento do mesmo, daí que seja absolutamente
fundamental interpretar os processos políticos de forma contínua. Para acrescentar, os
resultados que um sistema político apresenta tomam a forma de outputs.

Assim sendo, entende-se que o sistema persiste através do efeito de retroação,


modelando assim o seu comportamento e tornando-o capaz de se adaptar e ter uma
capacidade de resposta face às tensões.

Alemanha Nazi à luz do modelo de David Easton


A Alemanha Nazi corresponde ao estado totalitário nazista que a Alemanha
viveu entre os anos de 1933 e 1945, quando era governada por Adolf Hitler e pelo
Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP).

Sendo a Alemanha dirigida por um sistema político totalitarista, é evidente que


existiu uma série de restrições à população de modo a assegurar o equilíbrio do sistema
político.

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O sistema político da Alemanha Nazi distingue-se dos outros sistemas do meio


porque é denominado como um conjunto de interações, através das quais, na sociedade
alemã durante a Alemanha Nazi, se realiza uma atribuição autoritária dos valores,
valores esses que visavam a recuperação dos valores tradicionais “alemães” e
“nórdicos”, além de incluírem a intencionalidade de limitar e eliminar a influência
judaica e todos aqueles que não se encaixassem nos valores pré-concebidos do sistema
Nazi.

Estas afirmações sustentam a ideia de Easton, que aponta para o facto de não se
dever descurar que o sistema político não existe no vácuo, estando rodeado pelo meio
físico, biológico, social e psicológico, sendo totalmente influenciado pelo povo alemão.
A partir deste ponto, também é possível deduzir que, efetivamente, o sistema político é
um sistema aberto.

Todos os valores compreendidos na Alemanha durante o período mencionado se


encaixam no meio intra-societal, o próprio Adolf Hitler é uma personalidade do
sistema intra-societal, assim como Joseph Goebbels, o Ministro da Propaganda na
Alemanha Nazi que, através da manipulação e de campanhas que disseminavam os
ideais nazis, conseguiu manter, durante um determinado tempo, o equilíbrio do sistema,
não prejudicando o meio global da época.

Apesar de o meio do sistema se ter mantido estável durante algum tempo, as


influências não deixaram de existir, mesmo que nem todas tinham sido causadoras de
fontes de tensão. Concretamente, a resistência alemã (Widerstand) foi a oposição de
indivíduos e grupos ao avanço e à consolidação do regime nazista. Destacam-se
personalidades Rosa Branca e Oskar Schindler. A Operação Valquíria, que ocorreu no
dia 20 de julho de 1944, foi a última tentativa da resistência organizada para terminar
com a vida do Führer. Tendo em conta estas possíveis fontes de tensão, torna-se, por
vezes, uma tarefa complicada para o sistema político desempenhar as suas funções, pois
é provável que a sociedade alemã, neste caso concreto, deixem de aceitar as variáveis
disseminadas pela Alemanha Nazi e, se tal acontecimento se prever, as perturbações
tornam-se, efetivamente, em fontes de tensão. A retroação, neste sentido, é
fundamental, porque as autoridades dispõem de informação suficiente para atuar. Na
situação específica que se está a analisar, as autoridades correspondem aos meios de
repressão, como a polícia secreta do estado, a Gestapo, e pelo Serviço de Segurança
(SD) do partido nazista.
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Em suma, pode-se entender que o limiar crítico do Terceiro Reich aconteceu,


precisamente, quando os Aliados derrotaram a Alemanha Nazi e obtiveram a sua
rendição, no dia 8 de maio de 1945.

Conclusão

Para finalizar, o sistema político da Alemanha entre 1933 e 1945 pode ser
abordado de uma forma sistémica, mais especificamente à luz do modelo de David
Easton.
É notável, não sendo possível um sistema político existir no vácuo, que o
sistema político da Alemanha Nazi esteve sempre exposto a influências, no entanto, teve
quase sempre a possibilidade de lhe responder, até que atingiu o seu limiar crítico,
devido à existência de um estado do tensão e, como é óbvio, ao facto de o sistema não
ter conseguido subsistir.
Por fim, segundo a tese de David Easton, um sistema político resulta de um
processo de interação cujo objetivo é a atribuição autoritária de valore e tem sido vista
como uma unidade que recebe inputs e outputs, o que envolve, também, a cibernética.
Um sistema político é um sistema aberto que se adapta conforme as necessidades do
próprio sistema.

Bibliografia

Easton, David (1975), Lisboa, Presença Sociologia Política

United States Holocaust Memorial Museum. “Introduction to the Holocaust.” Holocaust


Encyclopedia. https://encyclopedia.ushmm.org/content/en/article/introduction-to-the-
holocaust. Accessed on 15/12/2020.

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