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ÉTICA PASTORAL
EGUINALDO HÉLIO DE SOUZA
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25 ÉTICA PASTORAL

Sumário
03 u Introdução

06 u Capítulo 1 q A ética pastoral


06  Conceituação
06  Hábitos salutares
07  Irrepreensível no falar
07  Pontualidade
08  Cuidados com a aparência
08  Pagamento de dívidas

09 u Capítulo 2 q O ministro e sua cidadania


10  Diante das autoridades civis
11  Diante da sua comunidade
12  Diante dos não-crentes
12  Diante da mídia

14 u Capítulo 3 q O ministro e sua liderança familiar


15  Diante do cônjuge
15  Diante dos filhos
16  Diante da parentela

17 u Capítulo 4 q O ministro e sua liderança eclesiástica


18  Diante dos congregados
19  Diante dos auxiliares
21  Diante dos líderes
22  Diante das questões financeiras
22  Diante das questões administrativas
23  Diante das questões disciplinares
23  Diante de ministros convidados
25  Diante da mudança de congregação
26  Diante das crises e das críticas
27  Lidando com os opositores
27  Diante dos fracassos

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25 ÉTICA PASTORAL

29 u Capítulo 5 q O ministro e sua filiação denominacional


30  Diante dos colegas da denominação
31  Diante das posições doutrinárias
31  Diante das mudanças desagradáveis
32  Diante de uma mudança de denominação

33 u Capítulo 6 q O ministro pregador


34  Erros que devem ser evitados na pregação
36  Pregando como convidado

37 u Capítulo 7 q O embaixador do Reino de Deus


38  Diante de outros ministros e denominações

39 u Conclusão

41 u Referências bibliográficas

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25 ÉTICA PASTORAL

q Introdução

“E sta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra


deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mu-
lher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho,
não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não conten-
cioso, não avarento; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em su-
jeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria
casa, terá cuidado da igreja de Deus?); não neófito, para que, ensoberbecendo-
se, não caia na condenação do diabo. Convém também que tenha bom teste-
munho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo.
Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a
muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância; guardando o mistério da fé numa
consciência pura. E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem
irrepreensíveis. Da mesma sorte as esposas sejam honestas, não maldizentes, sóbrias
e fiéis em tudo. Os diáconos sejam maridos de uma só mulher, e governem bem a
seus filhos e suas próprias casas. Porque os que servirem bem como diáconos, ad-
quirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus.”
(1Tm 3.1-13).
“Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coi-
sas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já
te mandei: aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos
fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. Porque
convém que o bispo seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não
soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de
torpe ganância; mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, san-
to, temperante; retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que
seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os
contradizentes. Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores,
principalmente os da circuncisão, aos quais convém tapar a boca; homens que
transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância. Um
deles, seu próprio profeta, disse: Os cretenses são sempre mentirosos, bestas ruins,
ventres preguiçosos. Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severa-
mente, para que sejam sãos na fé.” (Tt 5.13).

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25 ÉTICA PASTORAL

É fácil medirmos a importância da ética dentro do contexto do cristianismo de


forma geral e dentro da liderança cristã de forma específica. Há algum tempo, um
programa de TV de grande audiência mostrou a filmagem feita por um dono de
padaria sobre um suposto pastor que lá entrava e roubava sempre alguns doces.
Este é um fato corriqueiro que ocorre todos os dias. Mas, por se tratar de um líder
cristão, virou notícia nacional.

Quando surge algum caso de adultério ou fraude com algum ministro evangé-
lico é logo veiculado na imprensa, mesmo que a pessoa envolvida não seja muito
conhecida. Dessa forma, percebemos as dimensões da cobrança com respeito ao
comportamento dos ministros.

É bom lembrar que a cobrança não é primeiramente social, mas, sim, bíblica.
Esta exige que o homem de Deus seja “irrepreensível”. A finalidade da Palavra de
Deus é tornar “o homem de Deus perfeito, e perfeitamente instruído para toda
a boa obra” (2Tm 3.17). A expressão “perfeito”, no sentido bíblico, não significa
infalível ou sem pecado, embora este deva ser nosso alvo constante. Perfeito, sig-
nifica completo, acabado, pronto para o propósito para o qual existe. Um Deus
perfeito só pode desejar ministros perfeitos.

Todavia, bem sabemos que esta perfeição nem sempre está à mão. Sem que-
rer nos apoiar em erros alheios para justificar os nossos, não podemos ignorar que o
próprio Pedro, já como uma das colunas de Jerusalém, foi considerado repreensível
por Paulo, devido à sua conduta diante dos cristãos judaicos: “E, chegando Pedro
à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível” (Gl 2.11). Por isso, temos de
ser bastante cuidados neste ponto, não desejando ser excessivamente tolerantes, a
ponto de permitir que desvios morais e éticos sérios venham ser acobertados, nem
excessivamente julgadores, a ponto de transformar os líderes cristãos em alvo de
padrões legalistas de conduta.

Outro fator que deve ser levado em consideração é que a Bíblia é explícita em
mostrar um maior rigor no julgamento dos líderes (Tg 3.1). Isto é natural, uma vez
que o líder é o representante, a síntese de um povo. É fato que muitos movimentos,
mesmo eclesiásticos, ficaram ligados à pessoa de seus fundadores e líderes, como,
por exemplo, os valdenses, os luteranos, os calvinistas, os wesleyanos, etc. Por isso,
sua conduta deve estar acima dos demais.

Ao tomar uma posição de vanguarda, o líder fica exposto aos olhos, aos ouvi-
dos e, principalmente, à língua de seus liderados e de outros. Embora seja agradá-
vel, isto é fato. Quem é alvo de atenção é alvo de crítica também. Quem tem suas
virtudes conhecidas pelo público, também tem seus vícios sujeitos aos julgamentos
dos outros. Não há como escapar.

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Sabemos que muito da ética aqui expressa não é exclusiva aos ministros, mas
está relacionada aos cristãos em geral. Todavia, os líderes são o “exemplo do re-
banho” (1Pe 5.3) e seu comportamento determinará, no todo ou em parte, o com-
portamento de seus liderados. Além disso, o líder eclesiástico, como qualquer líder,
representa a ideologia à qual pertence. Sua falha é a falha do grupo. Sua imagem
é a imagem do grupo. Por isso, sua responsabilidade é maior. É curioso como no
livro de Levítico a oferta pelo pecado do príncipe era igual à oferta pelo pecado
da congregação toda (Lv 4.13-26). O peso era o mesmo.

Para amenizar um pouco esta intensa cobrança moral existente sobre o repre-
sentante eclesiástico, cabe destacar que a cobrança, tanto do meio eclesiástico
quanto de fora, costuma ser exagerada. Aquilo que poderia ser uma crítica cons-
trutiva acaba se tornando maledicência.

Ao invés de gerar um sentimento de busca por aperfeiçoamento no líder, gera


uma gama de sentimentos nocivos. Um exemplo é a crítica a Moisés pelos seus ir-
mãos (Nm 12.1-16). Um líder precisa de conselheiros e intercessores para se tornar
melhor, não de críticos e acusadores.

Outro fator a ser considerado é o fato de a vida cristã ser um processo. Estamos
sendo continuamente aperfeiçoados pela ação do Espírito, da Palavra de Deus e
das circunstâncias (Sl 119.67; 1Co 3.18; 2Tm 3.14-17). O tempo é um fator a ser consi-
derado na vida do líder. Isto não é um “deixar para depois” que nunca chega, mas
um reconhecimento de que falhas existentes hoje podem ser corrigidas amanhã. O
caminho de um líder sofre um aperfeiçoamento, como disse Davi (Sl 18. 32).

É muito importante, e isto é um alerta a todos os líderes, que as exigências éti-


cas não se tornem traumáticas para o líder e sua família. O que a Bíblia exige dos
homens e mulheres de Deus é que sejam perfeitos e perfeitamente instruídos (2Tm
3.17), e ela não pode pedir menos, pois é a Palavra de Deus e Deus é perfeito. Não
quer dizer que a perfeição é impossível, mas que é um padrão bastante elevado.
E esta cobrança é, às vezes, lançada sobre o líder e sua família, em algumas oca-
siões, de forma perversa. Ou seja, não é um desejo sincero pelo aperfeiçoamento,
mas uma forma de acusação e exigência que está relacionada ao egoísmo. Qual-
quer falha é alvejada sem misericórdia. Tudo o que não for feito em amor não pro-
cede de Deus e as críticas, muito menos.

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Capítulo
q A ética pastoral
1
 Conceituação

E mbora o título da matéria seja “Ética pastoral”, preferimos usar o termo “mi-
nistro”, “líder”, “representante eclesiástico”, ou outro semelhante, para desig-
nar as pessoas envolvidas nos conceitos éticos aqui expostos. Isto por dois motivos:
Primeiro, porque o termo “pastor”, muito comum no Brasil, não é designação
geral. Existem outros títulos que também são utilizados para descrever este cargo,
tais como: reverendo, bispo, missionário, presbítero. Os princípios éticos aqui des-
critos não estão ligados a um termo utilizado, mas ao tipo de pessoa que exerce
liderança na Igreja de Cristo.
O segundo motivo é que a ética é pertinente a qualquer nível hierárquico, a
qualquer posição de liderança no contexto eclesiástico. Seja um missionário, um
pastor, um evangelista, um professor, todos estão, de uma forma ou de outra, sujei-
tos a certos princípios éticos norteadores. Talvez, uns mais do que outros, mas todos,
de maneira geral, têm sua parcela de responsabilidade.

 Hábitos salutares

“T em cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazen-


do isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” (1Tm 4.16).
Alguns hábitos são imprescindíveis na vida do líder eclesiástico. A ausência de-
les provoca constrangimento nas pessoas ao seu redor e, muitas vezes, o desqua-
lifica diante dos seus liderados, impedindo que vejam as suas demais qualidades.
No geral, esses hábitos são muito simples, por serem questões de costume, não de
natureza. Isso significa que podem ser mudados ao longo do tempo, mas é neces-
sário conscientizar-se de que são verdadeiramente nocivos.
Entretanto, isso não significa atar o ministro em uma camisa de força de com-
portamento em que não haja espaço para ser humano. Mas é certo que a repe-
tição de certas deficiências quase sempre é um indicador de que alguma coisa
precisa ser mudada. Entre os hábitos obrigatórios aos ministros eclesiásticos, desta-
camos o que cada um deve ser e ter:

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 Irrepreensível no falar

Lemos no Salmo 15.1-4: “Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem


morará no teu santo monte? Aquele que anda sinceramente, e pratica a justiça,
e fala a verdade no seu coração. Aquele que não difama com a sua língua,
nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhum opróbrio contra o seu próxi-
mo; a cujos olhos o réprobo é desprezado; mas honra os que temem ao Senhor;
aquele que jura com dano seu, e contudo não muda”. O próprio Jesus mostrou a
necessidade de uma posição sem ambigüidades no falar: “Seja, porém, o vosso
falar: Sim, sim; não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna.”
(Mt 5.37).

Isso não implica que não possamos mudar de idéia. Antes, significa que pro-
ceder de uma maneira hoje e fazer outra amanhã é uma atitude reprovável. Se
agirmos assim, somos dignos das maiores críticas.

Quantas vezes, na correria diária, os líderes são direcionados a dizer coisas


que não estão dispostos a cumprir, ou que não analisaram claramente e depois
são obrigados a retroceder ou a não cumprir. Deve-se, portanto, tomar muito
cuidado com a palavra pronunciada (Pv 6.2).

Muitos ministros, cientes da importância de manter a palavra, já foram pre-


judicados por saberem que o maior prejuízo é deixar de cumprir as promessas.
Mesmo sofrendo algum dano por esta idônea atitude, são reconhecidos como
“homens de palavra”, redundando em bênçãos para suas vidas.

 Pontualidade

Outro aspecto muito sério na vida de um líder é a questão dos ­h orários. Um


líder atrasado terá um povo atrasado. Sabemos que no Brasil este é um aspecto
quase cultural. Marca-se uma reunião para determinada hora e o atraso chega
a ser até de uma hora ou mais, e quando não, acaba nem ocorrendo, porque o
líder termina influenciado por essa “cultura” desleixada.

Mas, em um grupo, sempre existem aqueles que primam por começar os


compromissos no horário correto. Esses vêem no pastor ou professor, constante-
mente retardatário, uma pessoa com ausência de caráter.

Nem sempre nos damos conta de que quando chegamos atrasados estamos
cometendo uma espécie de agressão. É como se o outro, que deixou seus com-
promissos e se esmerou em chegar na hora, não valesse a nossa preocupação.
Como resultado, ganhamos antipatia e má fama. E isso não é bom.

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Não se trata de ser escravo do relógio. Claro que podemos, vez ou outra,
chegar atrasados em algum compromisso. Quando, porém, isto é uma constan-
te, ficamos caracterizados, ou melhor, “caricaturados”, o que torna totalmente
conveniente o jargão popular que nos tacha de “atrazildos”.

 Cuidados com a aparência


Uma coisa é a esnobação, o requinte desnecessário, o pedantismo no vestir,
a preocupação excessiva com a aparência; outra coisa, porém, é o desleixo, a
falta de asseio, de zelo com nosso corpo. Sabemos que muitos servos de Deus que
trabalham em lugares difíceis e de pouco recurso não podem ser avaliados pelos
mesmos critérios dos que estão em lugares e condições melhores de sobrevivência.
Muitos não se arrumam melhor porque, de fato, não têm condições para isso.
Todavia, se esse não é o nosso caso, temos obrigação de nos apresentarmos
de modo agradável, pois somos pessoas públicas. O líder não precisa estar vestido
de gala, mas também não pode estar vestido com descaso. Não é a roupa que
impõe respeito e dá valor a uma pessoa, mas a pessoa que se veste bem é reco-
nhecida como alguém que está apto a viver socialmente.
A limpeza das roupas, o corte dos cabelos, o cuidado com os odores do corpo,
tudo faz parte de nossas atitudes que impedem que as pessoas venham a ser re-
pelidas por falta de asseio. A esposa do líder deve estar sempre preocupada com
esse aspecto. As mulheres, como alguém já disse, vêem o mundo pelo microscópio
e, por isso, percebem detalhes que, às vezes, ao homem parecem irrelevantes. Isso
também é um hábito que pode e deve ser cultivado.

 Pagamento das dívidas


Principalmente no mundo urbanizado de hoje, em que ­“necessidades” são
criadas a todo instante e todos buscam se adequar a elas, não é incomum que as
despesas fiquem acima das receitas, mesmo para os que exercem o papel de lide-
rança. Isso obriga as pessoas a lançarem mão de financiamentos constantemente.
Somos tentados continuamente a gastar mais do que ganhamos.
Se o líder não for cuidadoso nesse aspecto, logo estará emaranhado em uma
teia de empréstimos e dívidas que o sufocarão e o levarão a parecer alguém in-
conseqüente para seus liderados. Se há dívidas, devem ser devidamente pagas e
controladas dentro dos limites do orçamento familiar.
A situação se torna pior quando esse empréstimo é feito com membros do âm-
bito eclesiástico. Quantos já não naufragaram na fé, devido a um ministro que não
lhes pagou um dinheiro emprestado ou que nem lhes deu a devida explicação.
Entre os pecados da vida moderna, a dívida tem sido um dos mais constantes.

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Capítulo
q O ministro e sua cidadania
2
“C onvém também que tenha bom testemunho dos que estão
de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo”
­(1Tm 3.7). Não somos do mundo, conforme atestam as Escrituras Sagradas, mas
vivemos nele. É impossível evitar algum tipo de interação. O líder está inserido em
uma comunidade, em uma sociedade, em uma cultura. Ele é um cidadão de um
país e, como tal, tem responsabilidades, direitos e deveres para os quais não pode
se omitir.
Os que pertencem ao meio eclesiástico tendem a ser mais tolerantes em rela-
ção aos seus representantes. Eles conhecem as dificuldades da vida cristã e ten-
dem a ser cooperativistas algumas vezes, minimizando os erros de seus ministros.
Entretanto, as pessoas que não fazem parte desse meio nem sempre agem assim.
Pelo contrário, usam as falhas dos líderes eclesiásticos como uma desculpa para
sua vida dissoluta ou os tomam como referência para analisar sua própria conduta.
Logo, os líderes cristãos estão continuamente em evidência.
Por causa disto, muitas vezes, o julgamento dos não-crentes é implacável.
Quem nunca ouviu a expressão: “E ele é um pastor, já imaginou?”. O apóstolo
Paulo, perante o presidente Félix, enfatizou a necessidade de se ter a consciência
limpa perante todos os homens (At 24.16).

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 Diante das autoridades civis

“T odos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há au-


toridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por
ele estabelecidas. Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se co-
locando contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem con-
denação sobre si mesmos. Pois os governantes não devem ser temidos, a não ser
pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique
o bem, e ela o enaltecerá. Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você
praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de
Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal. Portanto, é necessário que
sejamos submissos às autoridades, não apenas por causa da possibilidade de uma
punição, mas também por questão de consciência. É por isso também que vocês
pagam imposto, pois as autoridades estão a serviço de Deus, sempre dedicadas a
esse trabalho. Dêem a cada um o que lhe é devido: se imposto, imposto; se tributo,
tributo; se temor, temor; se honra, honra.” (Rm 13.1-7 NVI).
O texto citado é um padrão de conduta diante do governo humano, que deve
ser considerado com toda a seriedade pelos líderes cristãos. Este assunto tem sido
freqüentemente debatido durante toda a história da Igreja, dentro de determina-
das circunstâncias, a fim de avaliar os limites da obediência ao Estado.
Para tomarmos um exemplo do século passado, temos o caso do comporta-
mento das igrejas evangélicas de um modo geral, com relação ao Nazismo. A Igre-
ja deveria ou não obedecer às diretrizes traçadas pelo governo? Sabemos que hoje
parece fácil decidir, pois, estamos “fora do contexto”, tanto geográfico quanto
histórico. Mas os ministros tinham diante de si um dilema, uma vez que algumas de-
cisões de Hitler eram legítimas e de fato benéficas para a população alemã.
Naquele tempo, algumas igrejas e ministros adotaram uma postura de oposi-
ção com relação ao Partido Nacional Socialista, enquanto outras adotaram uma
postura de cooperação. É difícil dizer se as igrejas que cooperaram estavam sendo
covardes ou agindo por uma questão de princípios. Nem sempre as coisas são tão
claras no início quanto são no final. Claro que agora sabemos quem tinha razão,
mas isso não era o que parecia para muitos na ocasião.
Imagine uma guerra injusta, proclamada pelo Brasil, contra o Paraguai, por
exemplo. Muitos ministros terão de se posicionar diante do governo civil. Essas são
questões éticas complicadas.
Mas, na maioria das vezes, a questão não é tão complexa assim. Há uma le-
gislação que abrange as igrejas como pessoas jurídicas e os ministros devem se
enquadrar dentro dessas leis. Há leis com respeito ao silêncio, às normas estatutá-
rias, contábeis, tributárias, etc. Alguns gostam de dar um status de “perseguição” a

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certas normas governamentais que, na verdade, não passam de uma regulamen-


tação para evitar excessos e os líderes devem respeitar tais limites.
Se uma igreja sofre punições por atuar em desacordo com a lei, ela deve hu-
mildemente aceitar esta disciplina, porque, biblicamente, seu líder deveria traba-
lhar para deixar tudo de acordo com a legislação. Claro que uma autoridade má-
intencionada pode querer utilizar-se de algum dispositivo legal, até mesmo para
fechar uma igreja. Mas nem sempre será possível fazer alguma coisa quando há
base legal para isso. O líder ético não é um revolucionário que busca desobedecer
a seus governantes.
Isso não significa que ele não possa criticar ou discordar de alguma lei vigente
ou de algum comportamento inadequado. O líder eclesiástico tem deveres e direi-
tos, como qualquer cidadão. Mas cabe a ele tomar posse desses direitos de modo
sóbrio e legítimo.
Quando Paulo exigiu a presença das autoridades romanas quando foi solto em
Filipos (At 16.35-39), ele estava apenas exigindo seus direitos de cidadão. Ele teve
seus direitos transgredidos e queria reparação. Jesus expôs ao sumo sacerdote a
incoerência de suas acusações (Jo 18.20-23), mas respeitou sua decisão.
É claro que se um governo quer impor uma norma que fere os princípios cris-
tãos, é da responsabilidade dos líderes uma postura contrária. Essa foi a situação
dos amigos de Daniel (Dn 3), do próprio Daniel (Dn 6) e dos apóstolos (At 4.18,19).
Em países onde o evangelho é proibido, seria incoerente tomar Romanos 13 como
regra e deixar de obedecer à ordem de Cristo, de pregar o evangelho a toda cria-
tura. A ética, neste caso, dentro da perseguição, é procedida de outra forma.
Um caso clássico é o do líder da Missão Portas Abertas, irmão André, que con-
trabandeava Bíblia para os países da “Cortina de Ferro”. Sem dúvida, seu ato era
desobediência às autoridades constituídas. Neste caso, porém, há uma autoridade
superior que devia ser obedecida, isto é, Deus.

 Diante da sua comunidade

A o abordarmos este tema (comunidade), queremos dizer o bairro ou a vizi-


nhança onde fixamos residência. Imagine um ministro que esteja em cons-
tante conflito com seus vizinhos ou que diante deles tenha uma conduta reprová-
vel. Seu testemunho será um tropeço para o agir de Deus e impedirá a muitos de se
voltarem para Ele.
O líder não deve se isolar das questões que envolvem a comunidade, seja ela
global, nacional ou local. Hoje em dia, existem movimentos que são bons, mesmo
não sendo de inspiração evangélica. Negar nosso apoio pode significar antipatizar,
desnecessariamente, com a nossa comunidade.

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Devemos, todavia, ser extremamente cautelosos quanto a essa questão. Po-


demos, por descuido, apoiar uma entidade completamente imersa no paganismo:
“Examinai tudo. Retende o bem” (1Ts 5.21). Francis Schaffer, em seu livro A Igreja no
século XX expôs o conceito de que a Igreja deve ser bem clara em seus princípios,
explicando que podemos ser co-beligerantes sem sermos necessariamente aliados,
isto é, podemos até concordar com certas causas e batalhar por elas sem que isto
signifique que concordamos com outros grupos que fazem o mesmo.
Podemos, por exemplo, defender a necessidade de dar assistência às pessoas
carentes, sem com isso querer dizer que concordamos com os espíritas ou com a
LBV. Fazemos as coisas por princípio bíblico, não por modismos ou instigação de
algum grupo específico.
O mesmo se dá no ambiente de trabalho, se esse for o caso. Esse é um dos
lugares onde a vida cristã do ministro se mostra mais necessitada de um bom teste-
munho, pois a proximidade e os conflitos possíveis vão manifestar quem verdadei-
ramente ele é.

 Diante dos não-crentes

A frase “A minha educação depende da sua” não é uma máxima c ­ ristã.


Nosso procedimento não depende de outro. Em lugar dessa, a nossa máxi-
ma é a regra contida em Mateus 7.12: “Tudo o que vós quereis que os homens vos
façam, fazei-lho também vós”. Diante das atitudes de certos não-crentes, é muito
fácil perder o controle, terminando por falar e fazer coisas não apropriadas para
um ministro de Deus. Mas a Bíblia aconselha que mais vale aquele que “controla o
seu ânimo do que aquele que toma uma cidade” (Pv 16.32).

 Diante da mídia

É fato que nem todos os ministros estarão um dia diante da imprensa secular.
Mas isso pode acontecer e de fato já tem acontecido atualmente com mui-
to mais freqüência do que em outros tempos. Nem todos, também, estão prepara-
dos e correm o risco de tomar posturas éticas que podem embaraçar o evangelho.
Há necessidade de muita sabedoria em muitas questões.
Para citar um exemplo, um líder evangélico foi entrevistado em um programa e
questionado acerca do uso de preservativo por parte dos jovens. A questão era se
ele aprovava ou não o uso. Na verdade, a pergunta era ambígua em sua natureza.
Nós, cristãos, somos contra o sexo fora do casamento. Se ele respondesse que era
a favor, de certo modo, apresentaria uma aprovação ao sexo extraconjugal. Se
dissesse que não, seria criticado por fazer uma declaração que vai de encontro ao
que é divulgado pela sociedade, até por questões de saúde.

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Não vamos entrar no mérito da sua resposta. Mas podemos captar, por esse
fato, que um ministro na mídia está fora de seu contexto, lidando com pessoas de
mentalidade bem oposta à sua. Embora esta pareça ser uma ótima forma de di-
vulgar o evangelho, também pode ser uma forma de envergonhá-lo. É necessário
saber responder com sabedoria, pois, o efeito de suas colocações será decisivo.
Estar na mídia é uma exposição muito ampla ao julgamento público e, por isso,
uma situação que exige comportamento ético exemplar. É comum líderes nessa
situação negarem os seus princípios ou afirmá-los de um modo inconveniente.
Quando analisamos Mateus 22, vemos ali diversos grupos diferentes querendo
apanhar Jesus em alguma falta. Era de sua competência responder sabiamente,
para não se comprometer com sua resposta e, ao mesmo tempo, não comprome-
ter a mensagem do evangelho.

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25 ÉTICA PASTORAL

Capítulo
q
3
O ministro e sua liderança familiar

“V ós, mulheres, estai sujeitas a vossos próprios maridos, como c


­ onvém no
Senhor. Vós, maridos, amai a vossas mulheres, e não vos irriteis contra
elas. Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor.
Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para que não percam o ânimo” (Cl 3.18-21)
“Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua famí-
lia, negou a fé, e é pior do que o infiel” (1Tm 5.8).
“Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda
a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado
da igreja de Deus?)” (1Tm 3.4,5)
A situação da família do obreiro é um dos quesitos listados por Pau-
lo na qualificação do ministro. A maneira como conduz sua casa é um es-
pelho para sua igreja. “Andarei em minha casa com um coração sincero.”
(Sl 101.2). Seu relacionamento com a esposa, com os filhos e mesmo com seus pais
deve ser regido por princípios éticos estabelecidos na Palavra de Deus. Na verda-
de, o ministério é de toda a família.
Os líderes eclesiásticos, principalmente os que exercem função pasto-
ral, estão constantemente sob cobrança por parte dos membros da igreja,
a tal ponto que, às vezes, são levados a se descuidar de seus familiares. É necessá-
ria uma constante vigilância nesse aspecto, pois, às vezes, as pessoas que estão de
fora acabam recebendo maior atenção do que os que estão dentro, seus familia-
res. Isso tem causado traumas em muitas famílias, tanto por parte da esposa quanto
por parte dos filhos. Esse é um desvio de comportamento que tem levado muitos
homens de Deus ao fracasso. Sem uma família forte, será impossível estabelecer
uma igreja forte.

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25 ÉTICA PASTORAL

 Diante do cônjuge

N ão podemos dizer que um líder cristão não possa vir a ter um c ­ ônjuge
não-crente, temporária ou definitivamente. Isso pode até vir a acontecer,
porque ele é livre. Mas esta situação é de difícil justificativa e abala, seriamente,
o ministério do líder. Neste caso, é necessário um comportamento ainda mais sin-
cero para que o outro cônjuge venha a ser tocado e transformado. O mau teste-
munho pode ser motivo da inconversão do outro, ou mesmo de seu afastamento
da igreja.
Todavia, se ambos são servos de Deus, cabe aos dois um testemunho exemplar.
A maneira como o marido trata a esposa e como a esposa trata o marido, com
certeza, será observada por todos. A insubmissão da mulher ou a falta de amor do
marido fere a expectativa da igreja, que busca em ambos o padrão. O casal minis-
terial deve reger sua vida pelos padrões de Efésios 5.22-23.
Um obreiro, ao tratar mal sua esposa, principalmente diante de outros, apre-
senta um defeito sério. Não pense alguém que isso é incomum. Existem casos de
obreiros que têm atitudes, com suas esposas, completamente reprováveis. O que é
um problema grave, pois, geralmente, é ocultado de forma muito hábil. A mulher,
para não envergonhar o marido, nada comenta, vivendo de máscaras.
A situação fica ainda pior quando a mulher comenta o problema com os ou-
tros, denegrindo a imagem do marido, ao invés de tentar corrigir a situação junta-
mente com ele, em oração. Muitos lares de ministros já foram destruídos por falta
de ética nesse ponto, tanto por parte de um como do outro.

 Diante dos filhos

A educação dos filhos não é uma tarefa primeiramente da igreja, mas uma
responsabilidade dos pais que devem criá-los no ensino cristão, conforme
ensina a Bíblia (Ef 6.4). O ministro deve ter autoridade sobre os filhos, sem, contudo,
tornar-se um tirano (Cl 3.21). É bom lembrar que os filhos tendem a espelhar-se em
seus pais ou, ao menos, serem influenciados por eles. As crianças procedentes de
um lar em que não se falam palavrões, geralmente não enveredarão por esse “ca-
minho”, pois refletem a educação de casa.
A princípio, isso é óbvio e simples, mas deve ser devidamente pesado. Primei-
ramente, as crianças e adolescentes têm suas próprias personalidades. Podem ser
mais agitadas, extrovertidas, independentes, etc. Estereotipar o comportamento
dos filhos de determinado ministro pode gerar juízos errôneos e lançar sobre eles
traumas que os levem a rejeitar tudo o que se refere ao âmbito eclesiástico, o que
freqüentemente acontece.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 15


25 ÉTICA PASTORAL

Os ministros devem saber pesar o que são lançados sobre seus filhos. Não de-
vem pensar que todos os comentários que fazem deles devem ser levados em con-
ta. Há muitos casos de filhos rebeldes de ministros, em sua adolescência, que hoje
são verdadeiros instrumentos de Deus. Mas o ambiente eclesiástico carregado de
cobranças, ao invés de encorajá-los, irritou-os. O ministro deve verificar cada ques-
tão e confirmá-las, se assim for o caso. Estamos em tempos difíceis e se o líder não
tiver um diálogo aberto com seus filhos não saberá quando estiverem correndo um
perigo real.
O líder também deve se posicionar na congregação diante dos erros de seus
filhos, caso sejam membros. Ele pode ser tentado a encobrir a falta, mas será pior.
As pessoas acabam nutrindo o falso conceito de que os filhos do ministro herdam
uma espécie de “superDNA” que os tornam diferentes dos demais seres humanos.
Tal conceito não é verdadeiro. Eles podem pecar, cair, desviar-se e o ministro terá
de lidar com isto. Ele precisa aceitar que os filhos podem falhar em sua caminhada
cristã tanto quanto qualquer outro e não exigir nem mais nem menos do que exigi-
ria das demais pessoas.

 Diante da parentela

O conceito de parentela é muito amplo. Inclui a família do líder e a de seu


cônjuge. Entre os familiares haverá aqueles que já tiveram uma experiên-
cia com o Senhor e, portanto, podem ser mais compreensíveis em certos aspectos.
Como pode haver também aqueles que, por sua filiação a uma denominação mais
radical, tragam conflitos. Pode haver até mesmo não-crentes que causem ou não
transtornos.
Dentro desse contexto, o líder pode se ver em posições difíceis, pois se torna
alvo de atenção. Isolar-se tem sido, muitas vezes, a decisão de alguns, que prefe-
rem um afastamento completo dos familiares e um envolvimento integral apenas
com a “família na fé”. Na verdade, não há nada errado nisso, se ele simplesmente
demonstrar amor toda vez que se fizer necessário. Isso é muito bom e um grande
testemunho, principalmente se houver muitos não-crentes envolvidos.

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25 ÉTICA PASTORAL

Capítulo
q
4
O ministro e sua liderança eclesiástica

É importante notar que as qualificações dos bispos e dos diáconos, r­ elacionadas


por Paulo, são todas de âmbito moral e ético. O apóstolo não fala de dons
espetaculares, de grandes dotes de retórica, de grandes manifestações espirituais.
Esse fato tem sido um problema, pois muito do que é edificado pelos dons é derru-
bado pelo caráter.
Claro que as manifestações divinas são essenciais para o bom desempenho da
liderança, mas são tão essenciais quanto as características morais e, de modo al-
gum, são superiores. Talvez, Mateus 7.13,14 seja uma amostra do que muitas vezes
ocorre. Muitos querem manter a estrutura da igreja sob b­ ases apenas carismáticas
que, mais tarde, começam a ruir por falta de princípios éticos. Bem conhecemos
a queda de grandes trabalhos como conseqüência do desvio de comportamento
de seus líderes. Mais cedo ou mais tarde o resultado de procedimentos incorretos
provoca dramas em muitas vidas.

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25 ÉTICA PASTORAL

 Diante dos congregados

“E screvo-te estas coisas, esperando ir ver-te bem depressa; mas, se eu tar-


dar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a
igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1Tm 3.14,15).
O sistema de governo da igreja interfere bastante no relacionamento entre o
líder e seus congregados. Mas, seja ele episcopal, presbiteriano ou congregacional,
a relação entre o ministro e seus membros deve ter princípios éticos, bíblicos e sóli-
dos. Alguns sistemas por si só, já são mais exigentes nesse aspecto. Outros permitem
uma menor prestação de contas, mas, mesmo assim, a frustação deve ocorrer.
Talvez, a melhor palavra para descrever essa relação seja a transparência. O
apóstolo Paulo, por diversas vezes, mostrou sua honestidade e sinceridade diante
de seus leitores (2Co 4.2, por exemplo). A desconfiança anula qualquer tentativa
de desenvolvimento. Se a congregação perceber desvios no líder, o ministro ficará
sem base para agir.
Às vezes, é necessário que o líder se dispa da sua “aura de perfeição” e ad-
mita que cometeu certos erros. Muito ao contrário de destruir sua reputação, esse
reconhecimento vai deixar seu povo ainda mais convicto de que ele é sincero e
humilde, disposto a reconhecer seu erro e corrigi-lo.
Certo ministro, em determinada ocasião, ao assinar um documento, sem saber,
abriu mão de um terreno cedido por um amigo. O autor do documento foi o filho
desse amigo, que, por não conhecer o evangelho, quis reaver o terreno onde fora
edificado o prédio da igreja e a casa pastoral. Foi uma verdadeira tragédia para
toda a igreja. Mas o fato de o ministro admitir seu erro permitiu que muitos irmãos
compreendessem a situação e lutassem para reerguer o trabalho.
Atualmente, tem-se apresentado aos ministros um posicionamento diferente
daquele de super-homem, infalível, que nunca se sente desanimado, cansado ou
entristecido. Essa não é uma forma de diminuir o padrão de santidade dos líderes.
Pelo contrário, demonstra limites da capacidade humana. O trabalho pastoral é
desgastante, pois o ministro lida diretamente com as deficiências das pessoas. Um
alto padrão ético deve ser alcançado dentro do mover da graça, não de acordo
com as ataduras da lei. O ministro, em termos éticos, deve reconhecer seu erro, seja
diante da congregação ou de superiores.
Em nossa relação individual, com as pessoas, as nossas atitudes devem ser apro-
priadas, conforme aquele com quem estamos lidando. O apóstolo Paulo instrui seu
colaborador na maneira como ele deve se portar diante das pessoas mais idosas,
dos jovens e das jovens: “Não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-
os como a pais; aos moços como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães, às

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25 ÉTICA PASTORAL

moças, como a irmãs, em toda a pureza. Honra as viúvas que verdadeiramente são
viúvas” (1Tm 5.1-3).

Dentro desse aspecto da ética pastoral, vale a pena ressaltar a questão da re-
lação com o sexo oposto. Nossa sociedade atual é mais livre nos relacionamentos,
mas isso não deve servir de tropeços e falatórios. Não é conveniente ao líder con-
versar em oculto com uma pessoa do sexo oposto. Um dos dois deve estar acom-
panhado pelo cônjuge ou por outra pessoa. Não só por uma questão de evitar
possíveis deslizes, mas também para cortar comentários que possam se originar de
mal-entendidos. Essa é uma atitude sábia e ética.

Ainda uma questão ética é a acepção de pessoas. Não é proibido um ministro


ter suas preferências. Mas não é ético manter exclusividades. Tratar alguns com
todo afeto e outros com todo desprezo com certeza não é uma atitude correta.
Essa atitude gera ciúmes, muitas vezes justificáveis. Outras vezes, porém, cabe ao
ministro ignorar certos procedimentos que não têm fundamento com a realidade.

 Diante dos auxiliares

T odo ministro está cercado por cooperadores de todos os níveis e capacida-


des que, geralmente, são colaboradores sinceros ou opositores ferrenhos.
Existem aqueles que estão com o líder para “o que der e vier” e aqueles que são
seus principais críticos. Com ambos, o ministro deve agir baseado nos princípios
éticos.

É muito fácil, em um quadro como esse, o líder desenvolver critérios distintos de


tratamento e julgamento. Mas isso pode agravar ainda mais a situação e impedir
(ou pelo menos prejudicar) a unidade da equipe. Esse é seu staff , seu exército ime-
diato, e ele deve evitar ao máximo cometer certos tipos de injustiças, pois isso não
lhe seria útil nem moralmente correto.

Não faça críticas públicas sem necessidade. A referência em 1Timóteo 5.20 é


um caso extremo, em caso de pecado grosseiro, não de falhas humanas corriquei-
ras. Claro que conhecemos o defeito de cada um e podemos até comentar as
limitações de um com o outro, mas tomando cuidado ao dizer. Há uma diferença
considerável entre um comentário como “Fulano não tem aptidão para o ensino,
mas, na administração ele se dá muito bem. Vamos transferi-lo para outra área” e
um comentário antiético como: “Fulano não sabe ensinar nada, ninguém está gos-
tando. Vou tirá-lo de sua posição e colocar Beltrano”. Isso de fato soa muito mal.

Também não é ético fazer comparações desnecessárias. Isso é diferente de


elogiar. Tomar alguém por referência e criticar os outros, usando o seu padrão de

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25 ÉTICA PASTORAL

comportamento, pode gerar ciúmes e desmotivação nos demais. Ninguém gosta


de ser comparado e se isso for feito sem critérios pode gerar intrigas difíceis de
curar.
Os elogios devem ser públicos, mas as críticas devem ser privadas. Desmerecer
alguém na presença de outros gera sentimentos de revolta e desânimo. Tente re-
solver as questões de forma mais privativa possível. Na igreja, todos somos colabo-
radores voluntários e não devemos jamais imaginar que a nossa posição nos dá o
direito de diminuir alguém perante os outros. Se uma falha for apontada, deve ser
feito com todo amor. Caso contrário, podemos tornar a situação pior (Gl 6.1).
Elogiar e recompensar são formas de reconhecer o valor de cada um. Por mais
longe que um homem tenha ido, e por mais sucesso que tenha alcançado, ele
nunca terá conquistado seus ideais sozinho. Toda vitória é sempre coletiva, mesmo
quando isso não é reconhecido.
Um líder deve tomar cuidado para não cometer injustiças, elogiando e recom-
pensando quem não merece e deixando de elogiar e recompensar quem merece.
Nosso sentimento de gratidão deve se dirigir a Deus primeiramente, mas não
exclusivamente. Quando as pessoas fizerem algo que o agrada, elogie-as. Muitos
dizem que o elogio estraga as pessoas, mas o que estraga as pessoas não é o
elogio, mas sim, a ingratidão. Porque ela apaga o “fogo do entusiasmo”. Diz um
provérbio latino: “Censura teus amigos na intimidade e elogia-os em público”. Um
bom líder reconhece o valor individual de cada pessoa.
Alguém já disse que nós temos dois ouvidos e uma boca, para que ouçamos
mais e falemos menos. Quando lideramos, somos tentados pelo orgulho a não ouvir
ninguém, a julgar que sabemos tudo e que somos auto-suficientes. Essa atitude difi-
culta as coisas, pois muitas pessoas têm excelentes idéias que, se uma vez ouvidas
e postas em prática, podem produzir enorme resultado.
Conta-se que, certa vez, o cineasta Alfred Hitchcock estava fazendo um filme
e teve de parar o trabalho devido ao mau tempo. Assentado com sua equipe no
alto de uma escadaria, foi chamado por um mendigo que passava e que disse que
tinha a resposta para o seu problema. Ele desceu a escada, escutou o homem e
lhe explicou porque sua idéia não poderia ser aplicada. Seus companheiros se
admiraram de ele parar para ouvir aquele homem. Ao que Hitchcock respondeu:
“As boas idéias partem de qualquer um. Se você não as ouvir, está perdido”.
As empresas, hoje, têm aprendido que qualquer funcionário pode fornecer
idéias magníficas. Uma empresa de eletrodomésticos economizou milhões ao abrir
um programa de sugestões, inclusive com recompensa em dinheiro. Um funcioná-
rio sugeriu substituir um parafuso feito de material muito caro por um de plástico e
esta idéia proporcionou enorme lucro à empresa.

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25 ÉTICA PASTORAL

Um dos motivos pelos quais Hitler perdeu a guerra foi o fato de não mais ouvir
seus generais. Ele julgava que, sozinho, poderia conduzir e acertar tudo. É muito
oportuno citarmos aqui o que escreveu o apóstolo Tiago: “Portanto, meus amados
irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar”
(Tg 1.19).

 Diante dos líderes

“E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que


presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais em
grande estima e amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós” (1Ts 5.12,13).

Nem todo líder, ministro ou obreiro se encontra no topo da pirâmide hierárqui-


ca. Aliás, dentro de uma estrutura qualquer, existem diversos níveis de liderança e o
nosso relacionamento com aqueles que estão acima de nós devem ser regidos por
princípios de respeito à autoridade.

Quando o apóstolo Paulo insurgiu-se contra o sumo sacerdote, desculpou-se,


pois não sabia que se tratava da figura do sumo sacerdote e tinha consciência de
que lhe cabia prestar o devido respeito (At 23.1-5). Embora se achassem em esfe-
ras diferentes de ação, isso não significa que poderia proceder de qualquer jeito.
Nem sempre os nossos superiores tomarão decisões que hão de nos agradar. Nem
sempre concordaremos com eles em tudo. Mas isso não justifica maledicências e
críticas ferinas pelas costas.

Geralmente, estamos em uma posição intermediária e se não cumprirmos bem


nosso papel de mediadores, falharemos tanto como líderes quanto como liderados.
Ninguém seguramente manda, senão quem aprendeu a obedecer. Somos pontes
entre as pessoas e nos cabe ser pontes eficazes.

Não é incomum que alguém, em determinada posição eclesiástica, deseje


uma posição superior à sua. Um ministro auxiliar pode querer se tornar o principal. O
principal pode querer ser um coordenador regional, e assim por diante. Aspirações
desse âmbito não são más em si. Paulo diz que aquele que deseja o episcopado,
excelente obra deseja (1Tm 3.1).

Todavia, alguns tomam uma postura completamente reprovável, criticando


e falando mal de seus líderes. Isso demonstra imaturidade e carnalidade em sua
atitude. Se almejarmos uma posição maior dentro de nossa organização, teremos
de levar em conta duas coisas: chamado e dom motivacional (Rm 12.6-8). Se não
tivermos ambos, deveremos nos conformar com aquilo que Deus nos deu e saber
aguardar a hora certa, caso saibamos que Ele tem algo diferente para nós.

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25 ÉTICA PASTORAL

 Diante das questões financeiras

“E tu dentre todo o povo procura homens capazes, tementes a Deus, ho-


mens de verdade, que odeiem a avareza; e põe-nos sobre eles por maio-
rais de mil, maiorais de cem, maiorais de cinqüenta, e maiorais de dez” (Êx 18.21).
“...Não cobiçoso de torpe ganância [...] avarento” (1Tm 3.3)
Vemos que esta característica se repete constantemente na esco-
lha da liderança, porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda sorte de males
(1Tm 6.10). Sabemos que “quem amar o dinheiro jamais dele se fartará”
(Ec 5.10). Diante desse quadro, um dos pontos mais importantes na vida de um mi-
nistro é a maneira como ele lida com o dinheiro.
Moisés, Samuel e Arão, em seus discursos finais, fizeram questão de manifestar
sua integridade financeira diante de seus seguidores (1Sm 12.1-5). Semelhantemen-
te, o apóstolo Paulo, em diversas epístolas, mostrou sua relação com o dinheiro e a
importância em manter um procedimento correto nesse aspecto (1Ts 5.5).
Um líder deve se preocupar com a “prestação de contas” no sentido literal da
expressão. Alguns elogiam o ministério de Billy Graham, pois este apresenta a con-
tabilidade minuciosa de tudo quanto arrecada e gasta. Dessa forma, ele nunca foi
envolvido em escândalos financeiros como outros ministérios semelhantes ao seu.
Muitos já se arruinaram por se corromperem por questões econômicas. Outros não
se corromperam, mas, por falta de transparência, foram acusados e não tiveram
como se defender.
A fidelidade do ministro, quanto aos dízimos e ofertas, também se inclui dentro
do aspecto ético. Os demais membros estão em falha diante de Deus quando não
contribuem devidamente. Mas, no caso do líder, isso assume um caráter mais sério,
pois se torna hipocrisia exigir algo da congregação e liderados que, na verdade,
não se está praticando. O pastor deve ser um dizimista e contribuinte fiel na obra
de Deus.

 Diante das questões administrativas

N ão há muito a ser dito aqui, uma vez que questões de administração já


estão inclusas em outras áreas. Mas vale lembrar que um ministro não ad-
ministra para si mesmo e sim para os outros.
No Brasil, o historiador Raimundo Faoro, já identificou o que ele chamou de
“patrimonialismo”. O “patrimonialismo” procede de Portugal e se caracteriza pelo
fato de os bens do Estado pertencerem ao governante do Estado. Dessa forma, o
regente da nação julga que aquilo que ele administra lhe pertence.

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25 ÉTICA PASTORAL

Os líderes eclesiásticos correm o perigo de se deixarem envolver nesse aspecto


cultural brasileiro. Começam a usar e administrar as coisas pertencentes à igreja
como sendo sua propriedade, o que é reprovável. Vários conflitos já aconteceram
por causa dessa identificação com o patrimônio. Administramos em prol da comu-
nidade e não em prol de nós mesmos.

 Diante das questões disciplinares

P rincipalmente no ofício pastoral, o líder se depara com quedas, algumas


vezes graves, de seus liderados. Não é uma tarefa fácil disciplinar, e mui-
to menos agir de forma correta, pois cada caso oferece detalhes diferentes que
precisam ser levados em conta no momento da aplicação de uma disciplina. Um
critério errado, ou a falta desse, pode gerar insatisfações e desagrados em muitos.
O excesso, ou a falta de severidade, pode pôr a perder uma ação cuja finalidade
é manter a pureza da congregação e, ao mesmo tempo, permitir o crescimento
dela.
A primeira falha, neste sentido, é deixar de disciplinar quando há consciência
do erro do membro. Às vezes, muitos estão cientes da situação e o responsável
pela igreja fica procrastinando uma atitude corretiva por motivos diversos: medo
de perder o membro, a posição ou a consideração. Deve se ter a consciência que,
agindo assim, torna-se grande o perigo de o líder desagradar a todos porque pre-
tende não desagradar a uma única pessoa ou família.
Outro desvio ético é agir com parcialidade. As Escrituras Sagradas ensinam
que dois pesos e duas medidas são abominação ao Senhor (Pv 20.10). Neste caso,
o líder faz papel de juiz e uma das exigências das Escrituras Sagradas sempre foi a
de que os juízes fossem justos. Nem mesmo o pobre deveria ser poupado por causa
de sua condição social.

 Diante de ministros convidados

Q uem tem um ministério amplo sendo convidado constantemente para mi-


nistrar em diferentes congregações ou denominações, já deve ter passa-
do por experiências boas ou ruins e, portanto, está mais sensível neste sentido. Mas
ministros e líderes “caseiros” podem, de certo modo, não saber agir de forma corre-
ta, transmitindo impressões erradas aos pregadores e palestrantes em visita.
Uma das primeiras questões a serem analisadas é quanto ao tempo. Muitos pre-
gadores se ressentem porque são convidados para pregar em determinado lugar e
se preparam com esmero para fazê-lo. Todavia, o tempo do culto é tomado por inú-
meras oportunidades e o espaço para a pregação da palavra se torna muito curto.

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25 ÉTICA PASTORAL

Ou mesmo quando lhe é declarado para “ficar à vontade” quanto ao horário e o


horário, às vezes, já se excedeu muito o normal e o povo está cansado e não con-
segue absorver a mensagem como deveria. Convidados não se sentem à vontade
quando são obrigados a resumir o assunto que vão falar.
Também é muito importante, antes de convidar alguém para ministrar na igre-
ja, saber o que ele pensa sobre certos assuntos, para que não seja “podado” no
momento da mensagem.

É também antiético querer corrigir as afirmações do pregador depois da men-


sagem. A congregação deve sempre estar bem ensinada e apta para separar o
joio do trigo. Cada um deve estar firme no seu próprio entendimento (Rm 14.5). Não
podemos envergonhar ou desmerecer o pregador, somente porque certos pontos
de vista não estão de acordo com aquilo que ensinamos.

Existe o outro lado da questão, que é o obreiro não saber se portar quando
convidado para pregar, palestrar ou ministrar louvor em outra congregação. Muitos
acabam deixando uma impressão tão ruim, que não só não são mais convidados
como também fecham outras oportunidades. Isso ocorre até com pregadores, pa-
lestrantes ou cantores de renome, pois acham que a sua fama obriga a todos a
perdoarem seus desvios de comportamento.

São necessários certos cuidados ao ser chamado para ministrar em outras co-
munidades:

Chegar no horário ou informar que não poderá fazê-lo, caso tenha contra-
tempos já previstos;

Pedir o máximo de informações antes de aceitar o convite: estilo da congre-


gação, da música, das vestes, das linhas teológicas (pregar contra batismo
por aspersão em uma igreja presbiteriana ou falar contra o dom de línguas
em uma igreja pentecostal não é nada r­ espeitoso);

Não tente impor suas posições após conhecer as características da congre-


gação. Isso pode ser muito nocivo;

Pedir autorização ao ministro ou ao líder da congregação para qualquer coi-


sa diferente que deseja fazer;

Caso alguma coisa não lhe agrade, suporte. Não faça críticas diretas nem
comente quando estiver em outro lugar. Maledicência é um dos piores erros
para quem faz um trabalho itinerante. Observe que o apóstolo Paulo, ao co-
mentar de uma congregação à outra, falava apenas as coisas boas.

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25 ÉTICA PASTORAL

 Diante da mudança de congregação

S eja iniciando ou saindo da liderança de uma congregação, o ministro tem


de ter princípios sólidos, pois muitas vezes essas mudanças não são de sua
vontade. Pode haver uma tendência a tomar certas atitudes hostis com relação
à decisão de seus superiores ou com o ministro que está tomando posse da nova
congregação ou com o que saiu.
No Brasil, muitas vezes, tivemos cenas cômicas nas trocas relacionadas à pre-
sidência de igrejas. Houve até mesmo casos em que o presidente da igreja, que
estava saindo, levou embora a chave da sala presidencial e, no dia da posse, foi
necessário chamar um chaveiro.
Mas, biblicamente, dentro da esfera de autoridade no reino de Deus, os con-
ceitos são totalmente diferentes: “Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse:
Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes
exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que qui-
ser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; e, qualquer que entre vós quiser ser
o primeiro, seja vosso servo; bem como o Filho do homem não veio para ser servido,
mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Mt 20.25-28).
O líder que está deixando a congregação deve manter as coisas bem-ajusta-
das para o seu sucessor. Seja a igreja como um todo, seja um setor, como Grupo
de Jovens, Escola Dominical, Departamento de Missões, etc. Nós servimos ao povo
e não a nós mesmos. Criar antecipadamente uma boa relação entre o novo líder
e o povo é uma atitude cristã que possibilita um desenvolvimento saudável da
igreja. Utilizar-se de frases, sejam diretas ou indiretas, colocando, de alguma forma,
o grupo contra o novo ministro é uma atitude mesquinha e antiética e evidencia
um procedimento inaceitável por parte de alguém que simboliza os princípios do
cristianismo.
Em posição contrária, quando o líder está “chegando” na congregação, este
também deve ter a mesma atitude de respeito e consideração pelo seu antecessor.
É bem provável que ao chegar em determinada comunidade, alguém como novo
líder discorde de certas características da liderança do antecessor. Isto, todavia,
não é motivo para críticas e maledicências. Não podemos esquecer que sempre
edificaremos sobre o fundamento de outros. E mesmo que julguemos necessário
desfazer uma parte para construir outra, devemos muito aos que nos precederam.
Note que o apóstolo Paulo, apesar de ser constantemente perseguido, buscou
sempre mostrar o lado bom na diferença dos ministérios e não a superioridade de
um sobre o outro: “E, quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais tenham
sido noutro tempo, não se me dá; Deus não aceita a aparência do homem), esses,
digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicaram; antes, pelo ­contrário,

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 25


25 ÉTICA PASTORAL

quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pe-


dro o da circuncisão (Porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o
apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para com
os gentios), e conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as
colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão
comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão”
(Gl 2.6-9). Quando Ele mostrou uma determinada falha em Pedro, foi somente para
defender sua autoridade e a superioridade da graça diante dos que o acusavam
(Gl 2.11-15).

 Diante das crises e das críticas

D iante de situações difíceis, revelamos quem realmente somos. ­A lguém já


disse que errar é humano e jogar a culpa nos outros então, nem se fala. É
mais fácil achar alguém para atribuir a culpa do que assumi-la. Mas essa é uma ati-
tude bastante comum, infelizmente, de alguns obreiros. Sua primeira preocupação
não é tentar resolver a situação provisória ou definitivamente, mas encontrar um
culpado e puni-lo.
O líder é aquele que mantém a calma quando todos já a perderam, que cala
quando todos falam sem parar, que não se deixa levar pelo impulso das massas,
e é capaz de olhar as coisas com mais clareza que os demais e de agir de modo
diferente.
O óbvio é entender que não vamos escapar das críticas: “Se chamaram Bel-
zebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?” (Mt 10.25). Ninguém
que tenha uma posição de destaque deixará de ser avaliado pelas pessoas com o
objetivo de, logo em seguida, ser elogiado por uns e criticado por outros. Portanto,
diante da crítica só podemos ter duas atitudes:

Se a crítica for verdadeira, devemos aceitá-la, independente se é feita por


um amigo ou um inimigo. O ministro deve ser humilde o suficiente para admi-
tir que pode estar errado. Sendo assim, nossos críticos se tornam “vigias gra-
tuitos de nossas almas” e vamos nos poupar de muitas quedas se soubermos
pesar as críticas.

Se a crítica for falsa, apenas ignore.


“Palavras são palavras. Cortam os ares,
mas não quebram os ossos.” (Thomaz de Kempis). Não faça disso um cavalo
de batalha. Se em alguma ocasião você tiver a oportunidade de explicar
por que procede de tal maneira, faça-o, não como obrigação, mas para
que outros vejam que você realiza seus atos baseados em princípios.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 26


25 ÉTICA PASTORAL

 Lidando com os opositores

“O melhor modo de vingar-se de um inimigo é não se assemelhar a ele.”


(Marco Aurélio)
“O maior herói é aquele que faz do inimigo um amigo.” (Talmude)
Nem sempre teremos um resultado eficaz ao tentarmos lidar com nossos adver-
sários, mas devemos lutar e perseguir esse objetivo. Caso não consiga, a responsa-
bilidade está entre a pessoa e Deus. Mas quando sabemos do antagonismo aberto
ou oculto que alguém nutre por nós, devemos ao menos agir no sentido de acabar
com isso, pois a situação poderá se tornar ainda mais grave:

Dialogue, pois na maioria das vezes, evitamos a pessoa ou fazemos de conta


que está tudo bem. Isso não resolve a questão, apenas adia o que pode tor-
nar a coisa ainda mais grave;

Comporte-se com ele assim como gostaria que ele agisse com você, não
seja contaminado pelo proceder dele;

Ouça-o, pois muitas vezes, ele tem razão de estar aborrecido com você. Não
esqueça que as decisões de um líder podem facilmente gerar certos proble-
mas para alguns, mesmo quando tomadas com um coração sincero;

Se os opositores forem um grupo, busque conversar individualmente. O indi-


víduo sozinho pensa melhor, sem a pressão dos demais. Se conseguir ganhar
pelo menos alguns deles, a oposição se tornará mais fraca.

 Diante dos fracassos

T alvez, alguns possam julgar muito inconveniente falar em fracasso, pois o


triunfalismo evangélico tem criado uma mentalidade de impecabilidade e
sucesso que, na maioria das vezes, não condiz com a realidade. Longe de ser be-
néfica, essa aura de perfeição, que só existe na teoria, acaba se tornando um
obstáculo para a restauração de líderes que poderiam ter seu ministério refeito e
próspero.
Não podemos deixar de citar o caso de Davi. Nas duas vezes em que ele caiu,
foi possível uma restauração, pois essa era uma possibilidade disponível. Como re-
sultado, esse fracasso foi apenas temporário. O mesmo se deu com Pedro. Sua ne-
gação a Jesus não foi o fim. Se houver um comportamento ético diante das falhas,
é possível um retorno.

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25 ÉTICA PASTORAL

Em relação ao erro de Davi, convém notar certas atitudes dignas de elogios. Al-
guns incrédulos ou mesmo crentes revoltados chegam a acusar Deus de ser parcial
por ter perdoado a Davi e tê-lo restaurado no trono. Mas quando olhamos para as
atitudes dele (Davi), vemos que teve um comportamento digno e esse foi um dos
motivos pelos quais seu ministério pôde ser restaurado.

Davi pecou e reconheceu seu erro (2Sm 12.13) – Sua atitude foi diferente de
muitos líderes que ocultam seus fracassos ou buscam justificá-los com argu-
mentos nada razoáveis;

Davi pecou e pediu perdão pelo seu erro (Sl 51) – Foi uma grande lição de
humildade e reconhecimento. Diferente dos grandes líderes do mundo an-
tigo, que se consideravam verdadeiros descendentes dos deuses. O rei de
Israel estava disposto a pedir perdão da forma mais natural possível;

Davi pecou e aceitou as conseqüências de seu erro (2Sm 16.5-11) – Muitos


que reconheceram seu erro falharam em aceitar a devida punição. Quando
se depararam diante da perda de privilégios, cargos e posições, revoltaram-
se e tomaram atitudes rebeldes. Se tivessem aceitado o castigo devido, se-
riam vistos com outros olhos e poderiam ser restaurados no tempo certo.

Não usamos o pecado de Davi querendo dizer que o fracasso seja um pecado.
Muitas vezes, o fracasso se resume em não atingir o alvo, ter sido rejeitado por qual-
quer motivo, ou ter tomado atitudes erradas que o prejudicaram.
Gostaríamos de lembrar o caso de muitos televangelistas que foram impedidos
de ter uma postura correta, devido ao falso conceito de infalibilidade que carre-
garam. Caíram e com certeza, isso trouxe marcas em suas vidas. Mas o que muitas
vezes impossibilitou o retorno foi justamente à falta de princípios que nortearam
seus deslizes.
Na outra ponta do procedimento ético está a nossa atitude diante do fracasso
alheio. Muitos assumem uma atitude de indiferença e até dizem “bem-feito”, ou
ainda jogam “vinagre na ferida” quando testemunham. Claro que podemos tecer
comentários e até aprender e ensinar alguma lição diante da queda de alguém,
como fazemos usualmente. Mas isso deve ser feito em uma atitude de temor e amor
para com aquele que caiu. Uma atitude de julgamento, neste caso, é reprovável,
conforme Mateus 7.1-3.

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25 ÉTICA PASTORAL

Capítulo
q
5
O ministro e sua filiação denominacional

E mbora, em muitos aspectos, haja pontos éticos semelhantes àqueles refe-


rentes à convivência dentro de uma única congregação, estamos aqui am-
pliando o círculo de relações para abranger toda uma denominação, como é o
caso em muitas igrejas no país.
Muitas igrejas se tornaram independentes. Algumas delas por motivos legíti-
mos, como por não concordar com o envolvimento de pastores na maçonaria, por
exemplo. Outras, todavia, o fizeram por motivos errados ou porque a convivência
dentro de um conjunto maior implicou em certas situações com as quais nem sem-
pre foram fáceis de lidar. Muitas outras, por fim, terminaram por se unir a outras
convenções ou agremiações de igrejas, pois reconheceram a força que a unidade
possui.
Lembremos uma parábola bastante interessante, dentro desse aspecto de difi-
culdade versus necessidade de união: “Durante a era glacial, muitos animais mor-
riam por causa do frio. Os porcos-espinhos, percebendo essa situação, resolveram
se juntar em grupos. Assim, se agasalhavam e se protegiam mutuamente. Mas os
espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que
forneciam calor. E, por isso, tornavam a se afastar uns dos outros. Voltaram a morrer
congelados e precisavam fazer uma escolha: Desapareceriam da face da terra
ou aceitavam os espinhos do semelhante. Com sabedoria, decidiram voltar e ficar
juntos. Aprenderam assim a conviver com as pequenas feridas que uma relação
muito próxima podia causar, já que o mais importante era o calor do outro. Sobre-
viveram.”

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25 ÉTICA PASTORAL

 Diante dos colegas da denominação

P or trás de muitas questões entre os ministros de uma denominação está,


sem dúvida, a inveja, por vezes, de ambos os lados. Não queremos aqui
classificar a todos como invejosos, mas essa é uma reação comum dentro de um
grupo quando vemos alguém com maior destaque. Nem sempre é fácil lidar com
a inveja, nem com a nossa nem com a dos outros. Mas existem algumas atitudes
que podemos tomar diante desse sentimento que nos ajudarão a lidar com ele de
maneira ética:
 Vencendo a própria inveja
Passos para vencer a inveja:

A inveja nos diminui e nos impede de ganhar o amor daquele a quem ama-
mos;

Lembre-se de que somos membros uns dos outros. Dessa forma, a exaltação
de meu irmão é a minha também. Aquilo que ele possuir de bom mais cedo
ou mais tarde me beneficiará;

A inveja nos faz perder de vista o propósito de Deus para nós, que, com cer-
teza, é tão bom quanto o propósito dele para o outro (Jo 21.21,22);

Diga todo o bem que puder sobre a pessoa a quem você se ver tentado a
invejar e ore continuamente por ela, para que seja ainda mais a
­ bençoada.

 Vencendo o invejoso
Nem sempre isso será possível. Mas até neste sentido temos de ter uma atitude
correta. Querer ostentar as coisas que temos, sejam talentos naturais ou bens ma-
teriais, é uma forma de diminuir os outros e despertar a inveja. José, o personagem
bíblico, foi vítima da inveja de seus irmãos logo após ter se mostrado com a bela
túnica que só ele havia ganhado de seu pai, e falado de um sonho que o exaltava
acima dos seus irmãos. Não estamos justificando a atitude dos irmãos de José, mas
somente mostrando que devemos fugir de atitudes como essa, pois, com certeza,
darão fruto de inveja.
Tente fazer com que todos participem de seu sucesso. Quando as pessoas sen-
tem que crescem junto com você e que são beneficiadas com os seus benefícios,
elas se sentem mais aptas a apreciar sua vitória e até mesmo a desejarão.
No mais, caso não consiga resolver o problema do invejoso, deixe-o. Seu cami-
nho é curto e em breve não estará mais ao seu lado, ou por não suportar mais seu
sucesso ou porque o seu próprio pecado o derrubará.

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25 ÉTICA PASTORAL

Elogie e valorize o invejoso, pois a Bíblia ordena: “Bendizei os que vos maldizem,
e orai pelos que vos caluniam.” (Lc 6.28). Muitos possuem esta má qualidade por se
sentirem inferiorizados. Quando se vêem valorizados, o sentimento de inferioridade
que acompanha a inveja também cessa. E podem se transformar em verdadeiros
aliados.

 Diante das posições doutrinárias

A pior coisa para um ministro é não crer em seu próprio credo religioso. É
possível haver momentos na vida de quem está inserido em determinada
organização em que a pessoa não concorda com certas posições doutrinárias. A
Bíblia diz que cada um deve estar seguro no seu próprio entendimento (Rm 14.5).

Muitas posições doutrinárias podem ser aceitas por um ministro sem qualquer
dificuldade. Outras, porém, podem chocar a consciência, de modo que sua acei-
tação e defesa por parte do ministro se tornem incômodas. Realmente, é difícil
permanecer de coração dividido entre a consciência e a fidelidade, mas alguns,
não sabendo lidar com essa situação, acabam manchando seus nomes, pois não
se atrevem a se desvincular da denominação a qual pertencem e vivem fazendo
críticas internas que enfraquecem o grupo. É possível discordar em paz. É possível
desprender-se sem dor, sem necessidade de conflito. Importante é a imagem de
Paulo, dando as destras aos líderes em Jerusalém (Gl 2.9). Claro que havia diferen-
ças de métodos e de conceitos, mas isso não era impedimento ao bom andamento
do evangelho.

Alguém já disse que os três maiores problemas de uma organização são: co-
municação, comunicação e comunicação. Ninguém consegue expressar seus sen-
timentos e prefere, às vezes, tomar certas atitudes que acabam ferindo ambos os
lados, quando tudo poderia ser resolvido com uma boa conversa. É importante
comentar sobre essa atitude, pois evita diversos comportamentos antiéticos.

 Diante de mudanças desagradáveis

T odos nós temos certo temor com relação às mudanças. Uma prova bíblica
disso é que os judeus cristãos tiveram receios quanto à pregação do após-
tolo Paulo, pelo fato de suas proposições variarem daquilo que haviam aprendido
no judaísmo tradicional. Alguns também dizem que os nicolaítas referidos em Apo-
calipse 2.6 foram seguidores de Nicolau, diácono escolhido, conforme atesta Atos
6, e que rejeitou as decisões do Concílio de Jerusalém (At 15), permanecendo nas
práticas judaicas.

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25 ÉTICA PASTORAL

Um líder que se encontra inserido em determinada denominação nem sempre


terá voz ativa para contestar ou propor decisões, mas receberá ordens que deverá
obedecer. Mudanças de qualquer tipo, sejam doutrinárias, administrativas, práticas,
eclesiásticas ou mesmo transferências de lugar devem ser acatadas com respeito.
Se contestadas, isso deve ser feito dentro dos limites adequados, conversando com
a pessoa certa, da forma certa.
Algumas mudanças podem, a princípio, soar como algo ruim, pois nos apega-
mos às tradições e não queremos deixá-las de modo algum. Mas o protestantismo
tem sido marcado pela sua capacidade de se adaptar às épocas e lugares em que
se encontra inserido, mantendo, todavia, seu conteúdo. Reagir negativamente a
qualquer mudança, muitas vezes, esconde o mero medo e a insegurança.

 Diante de uma mudança de denominação

É tico é sair e deixar sempre a porta aberta. É louvável quando alguém, ao


se desligar de sua denominação, age sem contendas, sem maledicências
e sem acusações. Quão triste é quando alguém se desliga da comunidade a que
participou por tantos anos como se fosse um estranho fugindo de estranhos. Às ve-
zes, sem dar as devidas satisfações, machucado por alguns e machucando outros.
Caso precise deixar a sua denominação, saia falando bem, abraçando e elogian-
do, se este for o caso. Mas, antes disso, tenha a certeza de que esgotou todas as
possibilidades.
Por outro lado, alguém não deve desprezar um colega apenas porque ele está
deixando sua denominação. A comunhão entre os líderes não é baseada em filia-
ção organizacional, mas em verdadeiro amor cristão. Claro que, às vezes, fere nos-
so orgulho ver um amigo de denominação se afastando, mas isso deve despertar
tristeza e saudade, não ressentimento e contenda. Abençoe o colega que sai. Esta
será sempre a melhor atitude a tomar depois que todas as outras possibilidades de
acerto foram esgotadas.

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25 ÉTICA PASTORAL

Capítulo
q O ministro pregador
6
D e tudo o que estudamos até aqui, pudemos constatar a sabedoria devida
a um líder. Mas sabedoria é saber o caminho certo. O líder precisa mais
do que isso. Ele precisa ter autocontrole tanto no que precisa fazer quanto no que
precisa dizer. Esse princípio pode ser percebido em Tiago 3.2.
Uma personalidade firme não se adquire “do dia para a noite”. É necessário
muito treino, muita disciplina interior, para que o líder saiba controlar suas pala-
vras e atos. Há ministros, por exemplo, que são tentados a transformar o púlpito
em um lugar de onde podem atirar indiretas. Pode ser presenciado isso quando só
há uma pessoa cometendo determinado pecado em toda a congregação e, por
não ter segurança de falar direto à pessoa, o ministro comenta algo relacionado
ao caso para toda a igreja, o que é tolice. Para tudo há tempo e modo. Contro-
lando seus impulsos, o ministro conseguirá encontrar o momento certo para dizer
o que precisa ser dito.

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25 ÉTICA PASTORAL

 Erros que devem ser evitados na pregação


 Não se preparar para a mensagem
Há pregadores que não fazem qualquer preparação para entregar a mensa-
gem. Abrem aleatoriamente uma página das Escrituras, lêem-na e falam o que lhes
vem à cabeça. Embora essa prática possa parecer espiritual, e alguma vez resulte
em uma boa mensagem, na maioria das vezes a pregação se torna confusa e sem
sentido. Nem todos têm a capacidade de improvisar alguma coisa. Não é esse o
significado real de “pregar no espírito”.
A preparação não significa necessariamente escrever as palavras a serem pre-
gadas. Mas é importante que tenha sido gasto tempo diante de Deus em oração e
meditação para oferecer aos ouvintes algo de valor.

 Mensagem sem um centro (1Co 2.2)


Há pregadores que lêem o texto, saem do texto, e nunca mais voltam para o
texto. O que pregam não tem nada a ver com a passagem lida. Como resultado,
na maioria das vezes, seus ouvintes não gravam a mensagem. Podem até se alegrar
no momento, mas não foram “modelados” pela Palavra de Deus. Falam a respeito
de muitas coisas e conclui-se que não falaram sobre nada. A mensagem apresen-
tada pelo ministro tem de ter um tema. Uma pregação pode até abranger vários
assuntos, mas os assuntos estarão sempre interligados, sob um mesmo tema.

 Mensagem muito longa (At 20.9)


Ao término do culto, um irmão disse ao ministro.
— Pastor, sua mensagem foi como uma espada.
— Como? Cortante? Penetrante?
— Não, chata e comprida.
Não podemos cansar a igreja. Esse não deve ser o objetivo da mensagem. A
média ideal de duração de uma mensagem é de 30 minutos. Além disso, é difícil
prender a atenção dos ouvintes. Considere esta uma média geral. Não sejamos es-
cravos do relógio, pois, em muitas ocasiões, será bom e necessário prolongar-se.

 Desrespeitar horários (At 20.7)


O pastor visitante perguntou a um dos membros daquela igreja:
— Até que horas eu posso pregar?
— Até a hora que o senhor quiser, mas os membros vão embora às 9h30.
Na maioria das vezes, os que dizem estar sendo movidos pelo Espírito, na verdade,
não têm domínio próprio e, portanto, querem obrigar os outros à sua falta de controle.

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25 ÉTICA PASTORAL

 Usar o púlpito para agredir (Ef 6.17)

A Bíblia é a espada do Espírito, não o punhal da carne. É mortal quando uma


pessoa utiliza a Palavra de Deus para agredir alguém em particular. Problemas pes-
soais devem ser resolvidos pessoalmente (Gl 6.1). Lançar indiretas de cima do púl-
pito é pecado.

 Discursar sem considerar a audiência (1Co 14.10,11)

Certa vez, em um casamento, um certo ministro pregou sobre o endemoninha-


do gadareno e cantou o hino “Uma barca quase a naufragar”.
Pregar uma mensagem sobre salvação para uma audiência em que só há
crentes é ineficaz. Entregar uma mensagem sobre crescimento espiritual para uma
audiência em que só há não-crentes, também. É importante distinguir entre um
culto de jovens, mulheres, crianças, etc., bem como um culto em uma casa, igreja,
na rua, etc.

 Mais alguns cuidados ao pregar

Não faça movimentos bruscos e agressivos, como socos no púlpito e batidas


de pé. Embora alguns possam achar que isso seja sinal de fervor ou de auto-
ridade, a maioria das pessoas não vai interpretar dessa forma;

Não olhe para uma única pessoa, principalmente, se for do sexo o­ posto. Ge-
ralmente, toda a assembléia tem de ser contemplada durante a mensagem.
Mesmo que isso não passe de inexperiência na prática de falar em público,
cabe corrigir o mais breve possível para evitar más interpretações;

Não fique com a cabeça baixa. Olhe a congregação nos olhos. Se tiver de
ler algo, leia e depois torne a levantar a cabeça. Certas atitudes que geral-
mente são fruto da timidez ou da insegurança podem ter outra interpretação
por parte da audiência;

Não fique falando de si mesmo, ao menos que seja edificante (Pv 25.27). Um
testemunho pessoal pode ser bastante edificante, mas quando as pessoas
deixam de pregar a Palavra de Deus e começam a tecer um currículo verbal
isso soa como pedantismo para os ouvintes;

Não use termos grosseiros (Tt 2.8). É importante saber que certos termos que
usamos com facilidade podem não ser recebidos por outros com a mesma
naturalidade. Em alguns lugares, usar a palavra “desgraça” em pregações
equivale a invocar a mesma, independente de como seja usada. É bom sem-
pre conhecer a cultura do lugar onde estamos pregando;

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25 ÉTICA PASTORAL

Seja você mesmo, não imite o estilo de ninguém. É comum pregadores de


destaque serem imitados. Essa imitação, ao invés de tornar a pregação atra-
ente, pode ter efeito contrário, pois as pessoas ignorarão o conteúdo porque
percebem o plágio no estilo. Também se deve tomar muito cuidado com
sermões pré-prontos. Certos pregadores não levam nem a Bíblia e pregam a
mensagem de outro na íntegra;

Não eleve a voz e aumente a velocidade a ponto de ficar incompreensível.


Os pregadores avivalistas, às vezes, fazem isso com sucesso, mas, dependen-
do do timbre de sua voz, a mensagem fica incompreensível. Não estamos
falando em uma pregação desmotivada, apática. Estamos falando de gri-
tarias sem-razão. Se este também não for seu estilo, mas for mais discursivo,
não tente forçar. Uma boa ou má pregação não está ligada à tonalidade
da voz.

 Pregando como convidado

A o ministrar a Palavra de Deus a convite, é importante redobrar os cuidados.


Aqui vai um aviso – mesmo que o mandem se sentir em casa, não se sinta
em casa. Certas liberdades podem não ser vistas com bons olhos. Horário, palavras,
movimentações, conteúdo da mensagem, etc., são coisas que devem ser avalia-
das com cuidado. Não estamos falando de impedir a ação do Espírito Santo, mas
apenas de ter a consciência de que as coisas que edificam em nossa congrega-
ção podem não ter o mesmo efeito na congregação alheia.
Por exemplo, existem pastores que acostumam seu povo a não ter horário fixo
para o término do culto. Se estão sentindo a presença de Deus, continuam indefini-
damente. O povo acostumado até considera isso normal e edificante, estranhando
quando o mesmo não acontece, chegando mesmo a considerar falta de espiri-
tualidade e frieza. Em outras igrejas, por seu turno, não terminar o culto no horário
determinado é visto como falta de ordem, de reverência e zelo.
Esse exemplo serve para alertar o pregador, levando-o a considerar a cultura
de cada igreja e a respeitá-la, não querendo medi-la pelos seus próprios padrões.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 36


25 ÉTICA PASTORAL

Capítulo
q
7
Ministro: O embaixador do reino de Deus

O denominacionalismo, embora deva ser aceito como sendo a realidade


do protestantismo, tem seus vícios e, muitas vezes, obscurece o sentido
do reino de Deus. Cada denominação alega estar certa e rejeita ou inferioriza as
outras. Algumas se isolam excludentemente a ponto de se tornarem incapazes de
qualquer comunhão, mesmo verbal, com outras igrejas e denominações. Quando
há alguma consciência teológica da validade do outro como igreja, mesmo assim
faz questão de permanecer à parte.
Muitos que estão de fora se escandalizam com esse comportamento. Perce-
bem aquilo que o historiador Edward Gibbon chama de “rancor teológico”, um
sentimento de aversão e hostilidade ao outro, por questões doutrinárias, gerando
um mau testemunho.
De fato, temos de admitir algumas mudanças nesse sentido. O respeito tem
crescido e a comunhão de crentes de confissões diferentes está cada vez mais co-
mum. As dificuldades, porém, continuam sendo maiores, justamente por parte dos
líderes.

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25 ÉTICA PASTORAL

 Diante de outros ministros e denominações

A s denominações se caracterizam por sua ênfase. Elas se erguem ao redor


de determinado dom ou ministério. Algumas destacam o exorcismo, outras
a cura, outras o ensino, outras a pregação, outras o louvor, e assim por diante. Se
somarmos todas elas, teremos algo muito maior e eficaz do que cada uma delas
em particular. Por isso, devemos respeitar outros ministros, mesmo que saibamos
que sua denominação tem ênfases completamente diferentes das nossas. Zombar
ou fazer chacota de seus pontos teológicos é uma atitude completamente destituí-
da de amor e cristianismo. Rejeitar um ministro por causa de sua cultura é um ultraje
sério ao reino de Deus.
Não estamos falando em rejeitar determinado grupo por causa de suas here-
sias abertas. Neste caso, o afastamento é legítimo e teremos como nos justificar,
caso sejamos indagados a respeito. É até mesmo difícil defender nossa posição
diante da verdadeira igreja, caso estejamos nos associando com grupos reconhe-
cidamente heréticos.
Uma atitude de cooperação, amizade e respeito para com outros ministros,
dentro de linhas consideradas justas, é uma atitude eticamente correta.
O líder deve possuir discernimento quanto às críticas denominacionais. Um cris-
tão maduro entende perfeitamente quando um ministro cristão faz certas obser-
vações aos erros doutrinários ou práticos de um grupo específico. Um não-crente,
todavia, entende isso como um reino dividido. Ele não consegue entender alguém
criticando “sua própria religião”.
Por outro lado, não significa justificar qualquer coisa alegando evitar desenten-
dimentos. Não se posicionar ou ser evasivo pode também ser entendido como uma
aprovação do erro, o que equivale a ser conivente e dar abertura para generali-
zações. Logo, cabe ao ministro achar um ponto de equilíbrio. Mostrar que também
não concorda com esse tipo de abordagem não basta para invalidar o trabalho
de tal grupo.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 38


25 ÉTICA PASTORAL

q Conclusão

A valiamos um pouco das posturas que julgamos serem adequadas e inade-


quadas aos ministros de Deus, mas isso não significa que estes parâmetros
sejam inquestionáveis. Tudo precisa ser devidamente medido e pesado.
Também não se trata de um estudo exaustivo. Há diversas questões que não
foram tratadas aqui por questão de espaço ou mesmo por não haver necessidade
para tanto. Mas julgamos que este conteúdo é suficiente para despertar nos líderes
cristãos um senso crítico apurado e uma preocupação legítima com esses aspectos
da Bíblia.
Como aplicar os princípios aqui esboçados fica a critério de cada um. Uma
pessoa que age por princípios tem menos possibilidade de errar, de tomar decisões
incertas ou mesmo de ficar indeciso, porque já tem seu comportamento previa-
mente estabelecido.
Lembramos também que ser ético e agir por princípios não significa agradar a
todos em todo o tempo. Pelo contrário, justamente por agir assim o ministro pode
desagradar a muitos o tempo todo. A maioria das pessoas, até mesmo as cristãs,
não vive pelos seus princípios. Já dizia o filósofo ­Sêneca que é mais fácil um homem
morrer pelos seus princípios do que viver segundo eles. Portanto, não estranhe se
seu comportamento incomodar muita gente. Isso pode ocorrer.
Também não podemos transformar a moral cristã em uma moral judaica. Não
podemos tomar os princípios aqui expostos e dizer: “Ajuste-se a este modelo”. A
graça se distingue da lei não pela diferença dos preceitos morais, mas pela força
que a apóia. Enquanto uma lhe dá uma pesada tábua de pedra para carregar, a
outra escreve esses mandamentos em seu coração. Enquanto uma é só externa, a
outra é interna. Enquanto uma só lhe diz o que deve ser feito, a outra lhe dá força
para fazê-lo. Uma estaciona na letra, a outra vai além e se torna espírito. Mesmo a
ética pastoral não pode fugir dessa relação lei-graça.
O mundo precisa de cura. A igreja precisa de ética. O mundo precisa conhecer
a fé em Cristo. A Igreja precisa vivê-la. Bênçãos não são incentivos à obediência,
mas conseqüências dela. Se não queremos nos tornar uma igreja em que a prova
da presença de Deus na vida de um líder é a marca do seu carro e a sua posição
social, precisamos começar a levar em consideração certos valores perdidos den-
tro do cristianismo.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 39


25 ÉTICA PASTORAL

“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque
haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfe-
mos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconci-
liáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores,
obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo
aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. Porque
deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres nés-
cias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências; que aprendem
sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade. E, como Janes e
Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo ho-
mens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé. Não irão, porém, avante;
porque a todos será manifesto o seu desvario, como também o foi o daqueles. Tu,
porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade,
amor, paciência, perseguições e aflições tais quais me aconteceram em Antioquia,
em Icônio, e em Listra; quantas perseguições sofri, e o Senhor de todas me livrou;
e também todos os que piamente querem viver em ­C risto Jesus padecerão perse-
guições. Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e
sendo enganados. Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste
inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes
as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há
em Cristo Jesus. Toda Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar,
para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus
seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2Tm 3.1-17).

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 40


25 ÉTICA PASTORAL

q Referências bibliográficas
COLLINS, Gary R. Aconselhamento cristão. São Paulo: Edições Vida Nova,
1984.
FILHO, Tácito Gama Leite. Liderança cristã. Cidade: FTFG, 2001.
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KESSLER, Nemuel. Ética pastoral. Rio de Janeiro: CPAD, 1988.
KESSLER, Nemuel Kessler & CÂMARA, Samuel. Administração eclesiástica. Rio
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KILINSK, K.K & WOFFORD,J. Organização e liderança na igreja local. São Pau-
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LUTZER, Erwin. De pastor para pastor. São Paulo: Editora Vida, 2000.
MARTINS, Jaziel Guerreiro. Manual do pastor e da igreja. Curitiba: Editora AD
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QUEIRÓZ, Elyseu de Souza. Introdução ao ministério pastoral. Rio de ­Janeiro:
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TRASK, Thomas E. O pastor pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.

MATERIAL EXCLUSIVO PARA ALUNOS 41


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