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A Moral no Método de Análise da Ciência Social

Universidade Estadual de Montes Claros


Carlos Vinicius Colares Rodrigues

Compreender sociedades é fundamental para a construção do trabalho historiográfico,


compreensão que passa pela forma como compreendemos o social e suas complexidades. A
forma que concebemos a complexidade do social foi certamente uma importante construção,
oriunda de reflexões de grandes pensadores pioneiros que trouxeram, além desse
entendimento, novos conceitos importantes.

Para isso, generalizações, construções de concepções morais, foram primordiais no


desenvolvimento daquilo que se consolidou como caminhos na busca de entender sociedades
e culturas. A fim de exemplificar e explicar esses conceitos, é primordial apresentar alguns
dos cientistas sociais que influenciaram a maneira como se pensa as ciências, principalmente
ciências humanas, tanto nas questões qualitativas e morais, quanto nas quantitativas e
metodológicas e na própria articulação entre esses dois polos.

Harriet Martineau
Iniciando com a exposição da socióloga britânica Harriet Martineau, considerada -
juntamente com Auguste Comte, Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim - uma pioneira
das ciências sociais. Martineau defende em um dos seus escritos - "COMO OBSERVAR
MORAL E COSTUMES" - a ideia de um método de observação da moral e dos costumes dos
povos. Método que é apresentado em três partes: "Requisitos para observação", "O que
observar" e os "Métodos mecânicos", sendo a mais interessante para esta exposição a
observação de Martineau acerca dos “requisitos filosóficos” (a maneira como o estudo será
conduzido) que seriam necessários para o início de um trabalho sociológico.

A Clareza na decisão do objetivo da pesquisa por parte do pesquisador, a necessidade


de ter meios para a obtenção da informação desejada, a noção de como a ideia de certo e
errado se desenvolveram naquela determinada sociedade e além disso é, segundo Martineau,
dever do pesquisador estar atento aos julgamentos de conduta que são comuns em nações e
sociedades menores.
É interessante como esses requisitos filosóficos dentro do método que nos é oferecido
por Martineau traz conceitos interessantes sobre o dever do observador ao utilizar desse
método. Conceitos e generalizações que nos apontam um caminho para aplicar a sua
metodologia de pesquisa. Isso fica claro na afirmação da autora que a conduta humana é
guiada por regras gerais, uma afirmação que traz uma generalização necessária para a
existência do próprio método, a compreensão do certo e errado universal, segundo Martineau,
deve estar na consciência do observador.

Portanto, Martineau, ao demonstrar o seu método, também aponta para as questões


morais que envolve a aplicabilidade desse método, na ênfase de como a escolha do objeto
deve ser feita e como o objeto escolhido deve ser trabalhado, requisitos filosóficos já citados e
morais como o não considerar a visão do preconceito moral no momento de observar e outro
que é a necessidade de "mergulhar" na cultura, com compreensão, ou como Martinaeu cita,
com simpatia.

Émile Durkheim

Dando continuidade às colocações do tema proposto em cada autor, temos o francês


Émile Durkheim (1858), exclusivamente, em sua obra "Da Divisão do Trabalho Social". Uma
obra que nos oferece conceitos bem determinados e estabelecidos, através da abordagem da
maneira em que se dá a divisão do trabalho nas mais diversas sociedades, conceitos que
começam a determinar questões gerais na diferenciação dada por ele a essas sociedades em
superiores ou inferiores. Uma característica interessante, pois, novamente, um autor com
determinada visão, que favorece a aplicabilidade do seu próprio método de análise social: o
funcionalismo, que utiliza da comparação, um aspecto que evidentemente se relaciona com a
ideia de sociedades superiores e inferiores. A moralidade se relaciona também na questão das
diferenças nas regras morais ao comparar sociedades inferiores e superiores, onde conclui que
a moralidade no sentido estrito da palavra - a moral é o conjunto de vínculos que nos prendem
uns aos outros e às sociedades (DURKHEIM) - tem mais importância nas sociedades
"inferiores", ou que, segundo Durkheim não passaram por um processo de "especialização" da
moral como as sociedades "superiores".

Durkheim oferece outra ideia que basicamente explica o modo de coesão que há em
determinada sociedade. Modo que pode ser através da solidariedade mecânica e orgânica,
onde a primeira, mais predominante nas sociedades superiores, segundo Durkheim, as sanções
são mais repressivas e institucionais, já a orgânica é mais comum em sociedades inferiores,
determinadas por Durkheim, mais restitutivas na forma de coagir, onde a instituição e
repressão dá lugar às ressignificações e juízos de valor informais. Portanto, Durkheim, ao
demonstrar o seu método, também dá àquele que ousa observar algum aspecto social, ideias e
princípios que orientam a observação em prol do rigor cientifico do seu método.

Durkheim sobre tudo, para a História, na questão da determinação, nos fornece um


método que foi utilizado durante certo período do pensamento historiográfico, sobretudo o
positivista, fato que dá mais evidencia a realidade de que as ciências sociais e seus métodos
com seus princípios orientadores podem auxiliar o observador historiador na compreensão de
sociedades do passado e com a devida adaptação relacionar o social passado com o social
contemporâneo.

Auguste Comte

Finalmente, o filósofo francês, considerado o fundador da Sociologia, Auguste Comte


(1798) que se dedicou a postular o fundamento da doutrina positivista e seu método.
Postulado que foi assentado na sua obra: "Curso de Filosofia Positiva, que conta com duas
lições para tratar dos temas propostos.

Na Primeira lição temos uma abordagem de conte sobre o sentido de se fazer o curso,
as mudanças históricas das sociedades e suas crenças, que só são superadas pelas a
inteligência humana que alcança o seu estado definitivo: "a filosofia positiva". Comte, ao
afirmar isso, reforça os alicerces filosóficos que mantém o seu método, os princípios que deve
ser seguido para que um observador consiga, segundo ele, alcançar o estado próprio do
homem e da sociedade.

O sentimento, as sensibilidades internas, desprezadas pelo método positivista de


Comte, que preza pelo que está no externo, o que se pode observar com os sentidos físicos,
que pode ser medido, quantificado e que produza um trabalho cientifico concreto (geralmente
observável). Nessas apologias, Comte, reforça a importância do estabelecimento de
generalidades dentro do próprio método, para que ele funcione e que os padrões formados por
essas concepções morais deem uma unidade possível ao método, que mesmo assim, como no
caso dos outros autores citados anteriormente, pode ser influenciado pela moralidade
individual do observador.
Após essa breve abordagem aos pensamentos de cada um dos três pensadores e aos
elementos que circulam esses métodos, como a moral, os princípios e os conceitos, podemos
fazer uma abordagem a esses diversos pensamentos e elementos citados, fazendo uma relação
importante entre a historiografia e a análise sociológica que, já citando, é a de uma certa
dependência.

A historiografia necessita de visões e métodos diversos para utiliza-los em


determinadas situações e as ciências socias fornecem essa possibilidade como vimos
brevemente no presente texto. Situações que constantemente estão relacionadas ao contexto
histórico, que é primordialmente social e esses métodos da sociologia fornece ferramentas que
possibilitam a análise do historiador sobre a ação humana, nas relações, através do poder
institucional ou até mesmo no próprio estabelecimento de normas metodológicas e cientificas,
que são também ações humanas na sociedade, que podem ser - e constantemente são -
primordiais para o entendimento de determinadas características dos contextos históricos,
como o renascimento ou iluminismo.

Referências Bibliográficas

COMTE, Auguste. Primeira lição (Curso de Filosofia Positiva); Prefácio (Catecismo


Positivista). In: Os pensadores. São Paulo: Civita, 1973. [32 ps.]
DURKHEIM, Émile. Prefácios; Introdução; Cap. I Método para determinar essa função;
Conclusão. In: Da divisão do trabalho social. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. [95
ps.]

MARTINEAU, Harriet. Como observar moral e costumes: requisitos filosóficos. CAOS -


Revista Eletrônica de Ciências Sociais. João Pessoa, n. 24, jan./jun. 2020. Disponível em:
https://doi.org/10.46906/caos.n24.52437.p255-274 Acesso em: 30 de julho de 2021. [20 ps.].

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