Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
1
Na verdade o livro reúne uma série de artigos intitulados Social Control publicados entre os
anos de 1896 e 1898 na American Sociological Review. Para maiores informações sobre a
obra e itinerário intelectual e político de Ross ver Hertzler (1951).
2
A articulação entre as noções de controle social e integração social segundo as tradições
norte-americana e francesa pode ser encontrada em Bodê de Moraes e Berlatto, Controle
social (verbete), In Dicionário de Sociologia. Porto Alegre/RS: Global Ed., 2013 (no prelo)
3
e que possui coesão interna (DURKHEIM, 19773 [1893]), vale dizer, permite
que indivíduos pertencentes a diferentes classes sociais (WEBER, 1979;
MARX, 1978 [1844] e 2011) sintam-se instalados no presente (CASTEL, 1998)
na medida em que suas condições de existência permitem que planejem o
4
futuro (SENNETT, 1999) . 3. Isto significa que as sociedades possuem um
conjunto de regramentos e mecanismos que seriam capazes de diminuir as
desigualdades existentes sejam elas de que tipo forem. 4. O que conhecemos
como políticas públicas fazem parte daquele cenário e a sua implementação
deveria produzir um sentimento de segurança generalizado que
convencionamos chamar de Estado de Bem Estar Social.
Como os conceitos acima referidos, as hipóteses com eles construídas,
assim como os seus usos e operacionalização não são consensuais cabe uma
discussão, ainda que breve, do quadro analítico-interpretativo que utilizamos.
Para construção do nosso modelo analítico, partimos do princípio que
considera que modelos e os conceitos que os compõem são abstrações e, por
isto e segundo a sugestão weberiana, são tipos ideais, ou seja, ainda que
construídos com base na observação de realidades históricas e sociais, não se
confundem com aquelas realidades, sendo, outrossim, uma redução da
complexidade do mundo social. São constructos que viabilizam a análise
sociológica. Isto posto, destacamos que nosso modelo considera que existem
dois tipos ideais de controle social, um que por falta de terminologia melhor
denominaremos como normal e outro que tomado em relação com o primeiro
chamaremos de perverso. Se o tipo normal produziria uma organização social,
por intermédio da integração, que teria como efeito a percepção por parte dos
indivíduos, ou dito de outra forma, os indivíduos integrados ou, nos termos
durkheimianos, os indivíduos morais, ou seja, produto e produtores da coesão
social e observaríamos a produção de ciclos virtuosos. O tipo perverso não
conseguiria tal efeito, muito ao contrário produziria um constante estado de
insegurança e medo, instalando um círculo vicioso que realimentaria a
insegurança.
3
Para uma análise detalhada desta questão em Durkheim ver Bodê de Moraes (2006).
4
Não ignoramos que as discussões sobre o sentido e os diferente graus de coesão e
integração são inúmeras e apresentam, no seu conjunto, uma questão deveras complexa.
4
5
Acreditamos que negativação do termo controle social se deve em muito as questões postas
por Foucault. Para esta discussão ver Alvarez, 2004.
5
Ainda que a afirmação anterior possa, para alguns, soar estranha, além
não ser o que normalmente o campo dos estudos em políticas públicas
propugna, continuemos a reflexão ainda utilizando o caso exemplar do sistema
penitenciário.
O que parte da ideologia sobre a prisão, particularmente aquela que crê
que o papel da prisão seja punir e ressocializar6, assegura? Que a prisão é
capaz de melhorar as pessoas e isto será tanto mais real quanto maior for o
acesso à escola, ao trabalho, etc. Afirmação feita ignorando todas as
constatações obtidas sobre farto material empírico, que demonstra que o que
ocorre de fato é a socialização no mundo da prisão, ou seja, o indivíduo
aprende a ser preso, e a partir daí a produção de uma identidade estigmatizada
que o acompanhará pelo resto da vida com o nome de egresso (do sistema
penitenciário).
Frequentemente os presos na sua maioria nesta situação pela sua
condição social e/ou falta de defesa, tendo sido encarcerados por haver
cometido pequenos delitos, acabam por dar início efetivamente em uma
carreira criminosa, seja por assumirem a identidade construída na prisão, seja
porque recrutados pelos grupos organizados no interior das prisões. O dito
popular que assevera que a prisão “é a escola do crime” ou aquele que, mais
recentemente, afirma que a prisão “é o escritório do crime”, exemplificam o que
anteriormente dissemos.
Mas há, e este é o nosso ponto, outro tipo de política pública resultante
do aludido controle social perverso que em função de diversos processos de
legitimação ou de invisibilização é mais difícil de ser percebida como negativa
pelo menos em dois de seus efeitos: não solucionar o problema e marcar
negativamente a população destinatária da política. O que estamos nominando
como policialização das políticas públicas pretende refletir sobre o processo em
questão.
De forma muito resumida, mas suficiente para iniciar a reflexão, o que
estamos definindo como a policialização das políticas publicas é o processo por
intermédio do qual os discursos sobre a produção da segurança pública tomam
a centralidade na elaboração de uma política pública se constituindo pela
6
Sobre a crítica à noção de ressocialização consultar Garland (1993) e Bodê de Moraes
(2005).
7
7
Cabe ressaltar que a noção de violência pode ser utilizada como uma categoria analítica.
Citamos como exemplo no interior da teoria weberiana do poder que utiliza a noção de
violência legitima.
8
De acordo com a Secretaria Estadual da Segurança Pública, a partir do Programa Patrulha
Escolar, “O policiamento nas escolas passa a contar com policiais militares especialmente
capacitados que, conhecendo a realidade da comunidade escolar, buscam medidas que
minimizem a ação de criminosos nas escolas e proximidades.” (PATRULHA escolar. Disponível
em http://www.seguranca.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=26). Acesso em
25 mar 2013). Sobre o PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à
Violência), a SESP/PR informa que , através da Polícia Militar, “o Proerd ensina alunos de
quartas e sextas séries do ensino fundamental a não se envolverem com as drogas e outras
situações de violência. Os pais também são gradativamente integrados às lições do Programa.
As aulas são ministradas por PMs fardados, durante um semestre letivo”. (PROERD.
Disponível em http://www.seguranca.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=28).
8
9
Coelho (2005 [1987]) sugere já no título de seu artigo seminal o processo daria continuidade
quando aquele que foi criminalizado e, uma vez tomado como criminoso, é encarcerado e
neste momento ocorreria o que ele chamou de marginalização da criminalidade, completando o
circuito vicioso que na verdade encarcera os indivíduos em suas próprias vidas, agora vista
como carreira criminosa.
9
10
Como não é nossa intenção primeira a análise das UPPs e contexto de criação destas
unidades policiais indicamos o artigo de Machado da Silva (2010) intitulado Afinal, qual é a
das UPPs.
11
Termo utilizado por Konnick (2000) ao analisar a ressignificação das palavras ou a invenção
delas pelo neoliberalismo.
12
O termo pacificação é antigo e aponta para diferentes usos. Destacamos os usos militares
que sempre remetem para uma terminologia advinda da dominação romana, a pax romana.
Esta noção de pacificação foi atualizada pelo militar prussiano Clausewitz (2003) que, diga-se
de passagem, é uma referência teórica nas Escolas Militares modernas e o seu modelo de
fazer guerra inspira muitas campanhas militares contemporâneas (STRACHAN, 2008). Sobre o
processo de militarização em geral, indicamos as seguintes obras Virilio e Lotringer (1984);
Brigagão (1985) e Mathias (2004).
10
2 POLICIALIZAÇÃO DA CIDADANIA
13
Para efeitos de análise da política nacional de segurança pública, este artigo refere-se à
juventude como aqueles que têm entre 15 e 24 anos. Já em relação ao termo adolescência,
refere-se à fase compreendida entre 12 e 18 anos como preconizado pelo Estatuto da Criança
e do Adolescente, em seu 2º artigo (BRASIL, 1999, p.1).
14
A atividade de classificação indicativa de faixa etária para exibição da programação cultural,
especialmente cinema e televisão é desde então competência do Ministério da Justiça. Cabe
ao Ministério aplicar multas administrativas às empresas que descumprirem as orientações de
classificação apontadas pelo Ministério, bem como destinar os recursos decorrentes dessas
multas para o Fundo Nacional da Criança e do Adolescente, a serem utilizados no
financiamento de programas de cunho educativo a serem veiculados pela emissora violadora
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2000, p. 16).
15
Nesse sentido é pertinente observação da Secretaria Nacional de Direitos Humanos de que
“diante de uma situação de violência, a criança em geral é percebida como vítima,
12
16
Pesquisa em andamento no Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos
(CESPDH), sob orientação do Prof. Dr. Pedro R. Bodê de Moraes, na Universidade Federal do
Paraná, com previsão de conclusão para fevereiro de 2015.
17
Os jovens são identificados, pela sociedade, como indivíduos vivendo um período
intermediário, entre a infância e a vida adulta, marcado por um comportamento rebelde,
impulsivo e irresponsável. Nesse mesmo sentido, diversas ações, sentimentos e pensamentos
são atribuídos a este grupo, como sendo próprios da juventude. Cabe à Sociologia demonstrar
que este grupo social, os jovens, não se constitui de modo homogêneo e que, portanto, é
preciso conhecer as especificidades que identificam a juventude, em suas diferentes épocas e
contextos.
14
FIGURA 1 – PROTEJO
18
A expressão Território de Paz refere-se ao lançamento de um conjunto de ações do
PRONASCI num determinado bairro ou região. Foram lançados Territórios de Paz nas
seguintes localidades, entre os anos de 2009 e 2010: Santo Amaro – Recife/PE; Complexo do
Alemão – Rio de Janeiro/RJ; Zap 5 – Rio Branco/AC; Itapoã – Brasília/DF; São Pedro – Vitória
– ES; Benedito Bentes – Maceió/AL; Bom Jesus – Porto Alegre/RS; Tancredo Neves –
Salvador/BA; Guajuviras – Canoas/RS; Guamá e Terra Firme – Belém/PA; Grande Bom Jardim
– Fortaleza/CE; Grande Vargas – Sapucaia do Sul/RS; Parque Primavera – Esteio/RS; Vila
Anair – Cachoeirinha/RS; Cidade de Deus – Rio de Janeiro/RJ; Vila Paim – São Leopoldo/RS;
Santo Afonso – Novo Hamburgo/RS; Umbu – Alvorada/RS; Cohab – Guaíba/RS; Alvarenga –
São Bernardo do Campo/SP e Guatupê – São José dos Pinhais/PR (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, 2010).
15
entre a população. Para os jovens atingidos por ela, resta a identificação como
“classe perigosa”.
A lógica de ocupação policial e militar de um território para que sejam
realizadas em seguida ações sociais e de prevenção à violência, presente no
PRONASCI, é estrutural no programa das Unidades de Polícia Pacificadora –
UPPS, no Rio de Janeiro, política de segurança contemporânea ao
Programa19, como apontado anteriormente. A policialização das atividades
sociais que compõem o Programa torna-se um elemento indispensável em sua
execução.
Contribuindo com a discussão sobre a demarcação de um território nas
políticas de segurança pública, Machado da Silva, em artigo intitulado Afinal,
qual é a das UPPs?, analisa a distribuição das UPPs em diversas localidades
no Rio de Janeiro e indica que:
19
A 1ª UPP foi instalada no morro Santa Marta ou Dona Marta, em Botafogo, em novembro de
2008.
17
20
Cabe destacar que no Programa em questão caso não seja possível “resgatar” o jovem, ou
seja, desviá-lo da rota da criminalidade, é prevista a construção de estabelecimentos penais
destinados à separação da pessoa presa por idade 18 e 24 anos e delito cometido.
18
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. Espaço social e gêneses das ‘classes’. In: ___. O poder
simbólico. Lisboa: Difel, 1989. p. 133-161.
FREUD, Sigmund. O mal estar na civilização. São Paulo: Abril Cultural, 1978
[1929]. Coleção Os Pensadores.