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DIREITO DO TRABALHO
CLÁUDIO FREITAS
Crédito: Pixabay
Tal enquadramento, na visão do professor Ivan Alemão, foi o arcabouço estrutural que
legitimou a intervenção política nos sindicatos. Isso porque jamais houve questionamento
quanto à validade ou correção do sistema, até mesmo pelos defensores da pluralidade
sindical, sendo que a maior defesa destes, inclusive, era pela criação de mais sindicatos
dentro da mesma “categoria”2.
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Ainda segundo Ivan Alemão, o enquadramento geral dos trabalhadores substituiu a função
maior da sindicalização, transformando-a em algo sem maior importância ao trabalhador
e resultando no fato de todos estarem obrigados à contribuição financeira compulsória e à
vinculação automática das negociações coletivas3.
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Dessa forma, tínhamos até pouquíssimo tempo (até o advento da Lei 13.467/17,
respeitando-se a vacatio legis de 120 dias, iniciando-se a vigência em 11/11/2017) a
contribuição sindical obrigatória e legal, sempre acompanhada da automática eficácia erga
omnes das cláusulas dos acordos e convenções coletivas a todos os trabalhadores
enquadrados em determinada categoria (artigo 611 da CLT, mantido pela Lei 13.467/17),
independente se sindicalização (filiação) dos mesmos.
Já no que se refere à eficácia erga omnes das negociações coletivas, a situação acima
narrada nem sempre se deu da mesma forma no país.
Somente após tais momentos foi que o Brasil passou a adotar o sistema de vinculação de
toda categoria à negociação coletiva, independente de filiação5, amoldando-se, neste caso,
à Declaração III da Carta Del Lavoro6.
Orlando Gomes, em obra clássica e quase secular, pontuou que existiam países que se
situaram em um ou mais grupos de nações que elegeram a aplicação da negociação
coletiva de forma diversa, a saber7, (i) negociação coletiva aplicada somente aos filiados
aos sindicatos, tendo como exemplos de países o Chile e Finlândia e suas respectivas leis
de 1924, Letônia e Holanda, com legislações de 1927, Suécia e sua lei de 1928 e a
legislação de 1929 da Estônia), a (ii) negociação coletiva aplicada aos filiados, mas
podendo ser estendido (eficácia erga omnes) a toda categoria através de ato oficial, em que
a convenção passa a adquirir o caráter de “lei profissional” da categoria. Tal eficácia erga
omnes pode ocorrer por meio de órgãos arbitrais (como o Tribunal Permanente de
Arbitragem da Dinamarca, assim como órgãos arbitrais da Polônia e Noruega),
conciliatórios (como o Oficio de Conciliação da Áustria, com base em lei de 1919) ou por
ato do Ministro do Trabalho (como no Brasil à época e México) e (iii) negociação coletiva
aplicada a toda a categoria, independente de filiação, como era o caso da antiga URSS (cujo
objetivo era o de assegurar unicamente o interesse dos trabalhadores, em verdadeira
“ditadura do proletariado”) e Itália (cujo objetivo do regime fascista era o de tentar
harmonizar o antagonismo de interesses entre classe burguesa e classe operária no
interesse da produção, para engrandecimento e prosperidade da nação).
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Conforme acima observado, o Brasil passou por todos esses estágios cronologicamente,
caminho inverso ao de Portugal, por exemplo, que primeiramente aplicava a vinculação
das negociações coletivas a toda categoria, mas que, posteriormente, passou a utilizá-las
somente aos filiados, podendo o Executivo estendê-las aos não filiados, vigorando tal
sistema até os dias de hoje8.
Carreando a temática para os dias atuais, vale destacar que com a Reforma Trabalhista
(Lei 13.467/17) passamos a ter “contribuição sindical” legal, mas não automática (artigos
578 e seguintes da CLT, com as novas redações dadas pela Reforma), assim como as
instituídas em negociação coletiva (“contribuições devidas ao sindicato” do artigo 545 da
CLT com a nova redação, sem especificar a nomenclatura).
Ou seja, foi mantida a eficácia erga omnes da negociação coletiva a toda a categoria, seja
quanto aos filiados, seja no que tange aos não filiados às respectivas entidades sindicais,
em que pese a profunda modificação no que se refere à forma de financiamento das
entidades representativas.
Vale destacar que a “contribuição sindical” perdeu o seu caráter de tributo (compulsório),
transmudando-se a um caráter legal, mas não vinculante a toda a categoria, eis que
legalmente criada e permitida, com valores estipulados em lei (vide artigo 581 da CLT, não
revogado pela Lei 13.467/17), mas necessitando de prévia autorização no seu desconto
em relação ao trabalhador ou empregador não filiado. Esse novo tipo chamaríamos de
contribuição legal não obrigacional.
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Perguntar-se-ia: afinal, seria retirada a eficácia erga omnes da negociação coletiva a toda a
categoria, independentemente de filiação?
Ademais, seria enorme retrocesso restringir a negociação não mais a toda categoria nesse
momento embrionário em que se busca o início da efetivação da liberdade sindical e
democracia participativa dentro das entidades sindicais.
O ideal de verdadeira representatividade por meio dos sindicatos mais fortes e que
garantam negociações estruturalmente favoráveis aos trabalhadores deve ser buscado,
devendo ser mantido, para tanto, a eficácia erga omnes da negociação coletiva a toda a
categoria. O processo evolutivo deve ser naturalmente alcançado sem rupturas tão
incisivas, sob pena de tornar inviável, ao final, o funcionamento até de entidades sindicais
verdadeiramente representativas e o seu grande mote de funcionamento, qual seja, a
negociação coletiva.
Vale destacar, ainda, que segundo Isabel Vieira Borges, tal eficácia geral da negociação
coletiva ainda vigora no país em razão da unicidade sindical, conforme artigo 8º, II da
CRFB/88, pela qual a categoria não é representada por outra entidade senão aquela que
celebrou a negociação coletiva10, sem o que sequer se poderia falar em restrições
negociadas de forma diversa aos filiados e não filiados. Isso ainda é um ponto crucial.
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Ainda mais uma situação: seria de todo pouco imaginável limitar a negociação coletiva a
somente os filiados, já que criaria situação de dificultoso controle e aplicação de
benefícios negociados coletivamente àqueles que aderiram à entidade sindical (no caso
dos filiados) ou que espontaneamente concordaram com o desconto (no caso de não
filiados), o que, certamente, desembocaria em uma enxurrada de demandas ajuizadas sob
o mote de equiparação salarial (artigo 461 da CLT)11.
Vale destacar que tal situação não impossibilita, naturalmente (e como já o é nos dias de
hoje), que sejam estipulados benefícios não econômicos somente aos filiados (planos de
saúde, odontológicos, acesso a áreas recreativas, etc), já que tais serviços seriam
financiados pelas outras contribuições que não a sindical legalmente permitida, não sendo
acarretada qualquer discriminação negativa, eis que se tratam de situações desiguais
concretamente12, merecedoras de tratamento distinto, ou seja, a concessão de
determinadas benesses não econômicas aos filiados e contribuintes efetivos em
detrimento dos não filiados.
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Na Itália, de acordo com o artigo 10 da Lei 563/1926 (“Lei Rocco”), a negociação coletiva
se aplica de forma indistinta a toda a categoria, independente de filiação sindical, nos
mesmos moldes do Brasil atualmente.
Por fim, em Portugal o atual sistema é de aplicação das negociações coletivas somente
aos filiados, conforme disposto no Código do Trabalho português (artigo 496), podendo o
Executivo estendê-las aos não filiados por meio das chamadas “Portarias de Extensão”
(artigos 514/516), emitidas pelo Ministro do Trabalho e da Segurança Social. O prazo de
publicação de tais portarias recentemente foi encurtado de 120 (cento e vinte) dias úteis
para 35 (trinta e cinco), conforme item II da Resolução 82/2017 do Conselho de Ministros
(publicação em 09/06/2017). O prazo de publicação de tais Portarias recentemente foi
encurtado de 120 (cento e vinte) dias úteis para 35 (trinta e cinco), conforme Item II da
Resolução 82/2017 do Conselho de Ministros (publicação em 09/06/2017).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALEMÃO, Ivan. OAB e Sindicatos: importância da filiação corporativa no mercado. São
Paulo: LTr, 2009.
BORGES, Isabel Vieira. Níveis de negociação colectiva e eficácia erga omnes da convenção
Colectiva de Trabalho: abordagem tradicional e novas tendências. Notas. In RAMALHO,
Maria do Rosário Palma; MOREIRA, Teresa Coelho (orgs.). Contractação Colectiva: velhos e
novos desafios em Portugal e Espanha. Lisboa: AAFDL, 2017.
FERRAZ. Fernando Basto. Princípio Constitucional da Igualdade. São Paulo, Revista LTR
69-10, 2005.
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2 Ibidem, p.68.
3 Ibidem, p.76.
4 Art. 612. O contrato coletivo, celebrado nos termos do presente capítulo, aplica-se aos
1936, pp.218/233.
10 BORGES, Isabel Vieira. Níveis de negociação colectiva e eficácia erga omnes da
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11 Como ocorre frequentemente em Portugal, eis que em tais situações a jurisprudência
12 FERRAZ. Fernando Basto. Princípio Constitucional da Igualdade. São Paulo, Revista
CLÁUDIO FREITAS – Juiz do Trabalho do TRT da 1ª Região. Ex-advogado concursado da Petróleo Brasileiro S.A.
(PETROBRAS). Graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pós-graduado em
Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Universidade Veiga de Almeida (UVA). Mestre em Sociologia e
Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
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