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724 Direito do Trabalho • Martins

2 Conceito

Direito Coletivo do Trabalho é o segmento do Direito do Trabalho encarregado de


tratar da organização sindical, da negociação coletiva, dos contratos coletivos, da repre­
sentação dos trabalhadores e da greve.
O Direito Coletivo do Trabalho é apenas uma das divisões do Direito do Trabalho,
não possuindo autonomia, pois não tem diferenças específicas em relação aos demais
ramos do Direito do Trabalho, estando inserido, como os demais, em sua maioria, na CLT.
Na definição deve ser destacada a representação dos trabalhadores, pois hoje é possí­
vel que não existam sindicatos, federações ou confederações juridicamente organizadas,
fazendo com que o trabalhador tenha que se organizar num grupo, que não reveste a
roupagem de um sindicato ou assodação, para reivindicar seus direitos trabalhistas.
Não deixa o Direito Coletivo do Trabalho de ser instrumento para a melhoria das
condições de trabalho do empregado, como ocorre com os demais ramos da matéria
em estudo.

3 Divisão

Vou estudar no Diréito Coletivo do Trabalho a organização sindical, que compreende


sua natureza jurídica, a proteção à sindicalização, seus órgãos, eleições sindicais e as re­
ceitas dos sindicatos; os acordos e as convenções coletivas de trabalho; a greve; o lockout
e outras formas de solução dos conflitos coletivos.

4 Histórico

Antes de passar ao exame da primeira etapa do Direito Coletivo do Trabalho, que é


a liberdade sindical, há necessidade de um pequeno esboço histórico sobre o tema, para
melhor compreensão.
O Direito Coletivo do Trabalho nasce com o reconhecimento do direito de assodação
dos trabalhadores, o que veio a ocorrer após a Revolução Industrial (século XVHI).
As crises que importaram no desaparecimento das corporações de ofício acabaram
propidando o surgimento dos sindicatos. As corporações de oficio foram criadas como
forma de reunião dos trabalhadores, objetivando melhores condições de vida. A forma de
funcionamento das corporações acabou também provocando um antagonismo interno,
pois os mestres determinavam tudo, terminando com a união existente e dando lugar áo
descontentamento, razão pela qual foram surgindo reivindicações, prindpalmente dos
aprendizes e companheiros.
Pode-se dizer que o berço do sindicalismo foi a Inglaterra, onde, em 1720, foram
formadas assodações de trabalhadores para reivindicar melhores salários e condições de
trabalho, indusive limitação da jomada de trabalho. Desde 1824 houve uma fase de tole­
rânda com os sindicatos; somente em 21-6-1824, as coligações deixaram de ser proibidas
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em relação aos trabalhadores, por ato do parlamento; não se reconhecia, porém, o direito
de greve, nem os trade unions. Apenas por lei de 1875, consolidada em 1906, é que houve
a possibilidade da criação livre dos sindicatos.
Ha França, a Lei Le Chapellier, de 17-7-1791, proibia que “os cidadãos de um mes­
mo estado ou profissão tomassem decisões ou deliberações a respeito de seus pretensos
interesses comuns”. O Código de Napoleão, de 1810, também punia a associação de
trabalhadores. Em 1810, havia a Chambre Syndicates du Bâtiment de La Saint Chapeüe.
Sindicato era a Organização. Só se observa a liberdade de associação dos trabalhadores a
partir de 1884, quando foi reconhecida.
Em 1830, em Manchéster, são criadas associações de trabalhadores para mútua aju-
da e defesa, chamadas de Trade Unions, que são os embriões do sindicato.
A lei Waldeck-Rousseau, na França, de 21-3-1884, permitiu às pessoas da mesma
profissão ou de profissões conexas constituir associações, sem a autorização do govemo,
para a defesa de seus interesses profissionais e econômicos.
O direito de associação, na Alemanha, foi admitido expressamente pela Constituição
de Weimar, de 1919, tendo sido a primeira constituição a tratar de matéria trabalhista e
do direito coletivo do trabalho.
O sindicato nasce, assim, como um órgão de luta de dasses.
No sistema italiano de Mussolini, o sindicato era submetido aos interesses do Estado.
Este é què moldava o sindicato a suas determinações. O sistema fascista não proibia a
criação de assodações de fato. O art. 6Sda Lei ns 563, de 1926 (Ld Rocco), previa a uni-
ddade sindical. A pluralidade sindical implicava concorrênda entre os sindicatos. A Carta
dei Lavoro, de 1927, na parte m , determinava que a organização sindical ou profissional
era livre. O sistema sindical era organizado por categorias (Lei ns 563), indicando o para­
lelismo simétrico: de um lado, sindicato de categoria profissional e, de outro, sindicato de
categoria econômica. O Estado é que organizava as categorias. A categoria preexistia ao
sindicato. Não tinha, porém, a categoria personalidade jurídica. Quem tinha personalida­
de jurídica era o sindicato. A assodação era um fato voluntário. O enquadramento sindi­
cal era prévio e obrigatório. Só era possível o recònhedmerito de um único sindicato pelo
Estado em dada base territorial, concedendo a carta sindical, què era um ato político.
Não havia diretamente imposição do sindicato único, mas uniddade do reconhecimento
do sindicato. Somente o sindicato legalmente reconheddo e submetido ao controle do
Estado é que tinha o direito de representar a categoria, estabelecendo os contratos cole­
tivos. Para assegurar a autonomia financeira do sindicato ou sua dependênda financeira
ao Estado era criado o contributo sindacale. Cabia ao Estado disdplinar os conflitos de
trabalho e organizar a produção nadonal. Era estabdeddo o poder normativo na Justiça
do Trabalho para controlar a greve, pois esta era proibida, assim como o lock-out.
A Dedaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, determina que todo ho­
mem tem direito a ingressar num sindicato (art. XXM, 4).
A OIT, com a Convenção nH87, de 1948, passou a determinar as linhas mestras sobre
o direito de livre sindicalização, sem qualquer ingerênda por parte do Estado.
Algumas constituições mendonam também a liberdade de filiação, como a da Fran­
ça, de 1946, reafirmada em 1958, que prevê que todo homem pode defender seus direi­
tos e seus interesses por meio do sindicato e aderir a agremiação de sua escolha (tout
homme peut défendre ses droits et ses intérêts par Vaction syndicale et aàhérer au syndicat
desonchobc).

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