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ORGANIZAÇÃO
SINDICAL
1 Histórico
A Constituição de 1824 determinava no § 25, do art. 179, que “ficam abolidas as cor-
porações de oficios, seus juizes, escrivies e mestres”, Tal fato se deu em razão das modi-
ficações sociais existentes na Europa, principalmente decorrentes da Revolução Francesa,
que extinguiu as corporacdes de oficio.
A Constitui¢do de 1891 não dispds expressamente sobre as entidades sindicais, tal-
-vez inspirada no modelo norte-americano. O § 8% do art. 72, dispunha, apenas, que “a
todos é licito associarem-se e reunirem-se livremente e sem armas; não podendo intervir
a policia, senão para manter a ordem pública”. Verifica-se, portanto uma ideia da garan-
tia de associação sindical.
J4 existiam sindicatos, qué se denominavam ligas operárias, surgidos por volta de
fins do século XIX e começo de 1900, com a influência de trabalhadores estrangeiros que
vieram a prestar servicos em nosso pafs. Os primeiros sindicatos que foram criados no
Brasil datam de 1903. Eram ligados agricultura e & pecudria. Foram reconhecidos pelo
Decreto nº 979, de 6-1-1903. O movimento sindical alcança dimens&o nacional com o 12
Congresso Operário Brasileiro, realizado no Rio de Janeiro, em 1906, quando é fundada
a Confederagfio Sindical Brasileira. Em 1907, surge o primeiro sindicato urbano (Decreto
nº 1.637/1907).
O Decreto nº 979, de 6-1-1903, do presidente Rodrigues Alves, facultava “aos profis-
sionais da agricultura e inddstrias rurais a organização de Sindicatos para defesa de seus
interesses”. O art. 5º dispunha que o prazo de duração do sindicato poderia ser indeter-
minado. O número de sécios era limitado, mas não poderia ser inferior a sete.
O Decreto nº 1.637, de 5-1-1907, criou as sociedades corporativas, facultando a qual-
quer trabalhador, inclusive de profissões liberais, associar-se aos sindicatos, com o objetivo
de estudo e defesa dos interesses da profissdo e de seus membros. Teve a influéncia da lei
francesa de 1884.
0 § 1º do art. 20 do Cédigo Civil de 1916 determinava que não se poderão constituir,
sem prévia autorização, os sindicatos profissionais e agricolas legalmente autorizados.
Em 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que atribufa aos
sindicatos funções delegadas de poder ptiblico (Decreto n® 19.433, de 26-11-30). Oliveira
Organização Sindical 735
A CLT também tem por base o sistema fascista de organização sindical, por meio de
categorias, de regulamentação de profissões etc. A criação do sindicato e outros atos por
ele praticados dependia do Ministro do Trabalho. Este era quem reconhecia a entidade
sindical que iria representar os interesses de certa categoria, dependendo das disposições
regulamentares tracadas por aquele órgão administrativo.
Havia necessidade de se encaminhar o pedido de reconhecimento do sindicato ao
Ministro do Trabalho, acompanhado de c6pia auténtica dos estatutos da associagdo. A as-
sociação era o órgão embrionario para se chegar ao sindicato, o qual teria de passar pelo
estdgio antes de ser guindado à condição de sindicato (art. 512 da CLT). Existindo mais
de uma entidade associativa representativa de certa categoria, a escolha caberia ao livre-
-arbitrio do Ministério do Trabalho, que só poderia escolher uma, a mais representativa a
seu juizo. Os arts. 515 e 519 da CLT determinam alguns requisitos para se verificar qual
seria a entidade mais representativa.
O art. 521 da CLT estabelecia requisitos para o funcionamento do sindicato. O Mi-
nistro do Trabalho poderia intervir nos sindicatos, de acordo com critérios subjetivos,
como se verifica do art. 528 da CLT: “ocorrendo dissidio ou circunsténcias que perturbem
o funcionamento da entidade sindical, ou motivos relevantes de seguranca nacional, o
Ministro do Trabalho poderá nela intervir, por intermédio de delegado ou de junta inter-
ventora, com atribui¢des para administrd-la e executar ou propor medidas necessdrias
para normalizar-lhe o funcionamento”.
O art. 531 da CLT previa requisitos a serem determinados pelo Ministério do Traba-
Tho a respeito de eleições sindicais, matéria que poderia ser explicitada de forma muito
melhor nos estatutos do sindicato.
O Decreto-lei nº 7.038/44 disciplinou a organizagéo sindical rural.
A Constituigdo de 1946, considerada democrética, pois foi votada em Assembleia Na-
cional Constituinte e não imposta, como ocorrera com a Lei Maior anterior, estabelecia,
no art. 159: “é livre a associação profissional ou sindical, sendo reguladas por lei a forma
de sua constituição, a sua representacéo legal nas convengdes coletivas de trabalho e o
exercicio de funções delegadas pelo poder público”.
A lei ordindria poderia tratar da unidade ou da pluralidade sindical, dependendo do
critério que o legislador viesse a adotar, tendo a CLT sido recepcionada pela Constituição,
com seu sistema de unicidade sindical. O sindicato continuava a exercer função delegada
de poder público. Reconhecia-se o direito de greve, que seria regulado em lei. Logo, não
mais se considerava a greve coino recurso antissocial e nocivo ao trabalho, como ocorria
na Constituicio de 1937.
O art. 159 da Constituição de 1967 estabelecia ser livre a associação profissional ou
sindical. A constituição do sindicato, a representação legal nas convengdes coletivas de tra-
balho e o exercicio de fungbes delegadas de poder público seriam disciplinados por lei. O
sindicato tinha o poder de arrecadar contribuições para o custeio da atividade dos órgãos
sindicais e profissionais e para a execução de programas de interesse das categorias por ele
representadas, em decorréncia do exercicio de função delegada de poder piiblico (§ 1° do
art. 159). O 8 1° do art. 159 modificou um pouco a situação que existia com a Constituição
de 1937, pois o sindicato deixou de impor contribuições, para apenas arrecadar, na forma
da lei, as contribuições para custeio da atividade dos órgãos sindicais e profissionais. De-
terminava o 8 22 do art. 159 que o voto nas eleições sindicais era obrigatério.
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Trabalho no sindicato foram revogados pela atual Constituição. Não será possível exigir
autorização do Estado para a fundação do sindicato, apenas haverá necessidade de se
proceder ao registro no órgão competente. A Constituição usa a expressão registro e não
reconhecimento, que está vedado pelo mesmo inciso. Os trabalhadores e empregadores
é que irão definir a base territorial do sindicato, sem qualquer interferência do Poder Pú-
blico, inclusive quanto às eleições sindicais, redação de seus estatutos etc. Realmente, a
maior modificação é que o sindicato não exerce mais função delegada de poder público,
não estando ligado umbilicalmente ao Estado. Na verdade, hoje, o sindicato é uma enti-
dade de direito privado, exercendo com autonomia seu mister. Essa realmente é a grande
inovação da Constituição de 1988, que não repetiu as anteriores no ponto em que dizia
que o sindicato exercia função delegada de poder público.
Foi mantido o sistema sindical organizado por categorias. Basta a análise de alguns
incisos do art. 8º da Lei Maior para se verificar o que estou afirmando. O inciso Il mencio-
na categoria profissional ou econômica representativa da organização sindical. O inciso
III reza que o sindicato defende os interesses da categoria. O inciso IV versa sobre a co-
brança da contribuição confederativa, que, em se tratando de categoria profissional, será
descontada em folha. Logo, o sistema sindical estatuido na CLT por categorias, profissio-
nal e econdmica, permanece em vigor. Nada impede, também, a existéncia do sindicato
dos profissionais liberais e de categoria diferenciada, que são apenas desdobramentos do
sindicato por categoria, pois aquelas não deixam de ser categorias e a Constituição não
dispbe que o sindicato seja organizado apenas por categoria econdmica e profissional,
mas que a organizagdo sindical é feita por categorias.
Mantém-se também o sistema confederativo, como se verifica do inciso IV do art. 82
da Lei Maior, pois inclusive há uma contribuição que ird custear esse sistema. Assim, a or-
ganização sindical brasileira foi regulada num sistema piramidal, em que, no 4pice, ficam
as confederações, no meio as federações e na base os sindicatos. O inciso II do art. 8° da
Lei Magna, ao falar em orgânização sindical de qualquer grau, admite implicitamente o
sistema sindical brasileiro organizado sob a forma confederativa.
Outra novidade da Constituição é que foi estabelecida em 4mbito constitucional a
liberdade sindical individual: a pessoa pode filiar-se ou desligar-se do sindicato, dépen-
dendo exclusivamente de sua vontade (art. 8%, V da Constituição). Tal fato aproximou
nosso sistema sindical, neste aspecto, da Convenção nº 87 da OIT, que trata da liberdade
positiva e negativa do individuo de se filiar ao sindicato.
Foi mantida a cobranca de contribuigBes para o custeio do sindicato. O inciso IV do
art. 82 do Estatuto Supremo já menciona a contribuição para o custeio do sistema confe-
derativo, que é o que se chama de contribuição confederativa. A parte final do mesmo in-
ciso estabelece que a cobranga da contribuição retromencionada não impede a cobranga
da contribuição prevista em lei, que é a contribuição sindical, oriunda do corporativismo
de Getilio Vargas. Logo, o sindicato continua sendo mantido por contribuicdes exigidas
da categoria, quando deveria ser custeado apenas por seus associados.
A negociação coletiva também foi elevada em &mbito constitucional. Em primeiro
lugar, o inciso XXVI do art. 7º da Norma Apice reconhece as convenções e os acordos co-
letivos, prestigiando a autonomia da vontade das partes envolvidas nas negociagdes. Em
segundo lugar, há pelo menos trés dispositivos que tratam da negociação coletiva no art.
7º da Lei Fundamental: o inciso VI reza sobre a possibilidade da redução de saldrios, me-
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diante negociação coletiva; o inciso XIII versa sobre a redução ou compensação da jornada
de trabalho, por meio de negociação coletiva; e o inciso XIV permite o aumento da jornada
nos turnos ininterruptos de revezamento. Tudo isso revela que o sindicato deve participar
ativamente dessa negociação. O inciso VI do art. 8º da Lei Ápice mostra que o sindicato
deverá participar obrigatoriamente nas negociações coletivas. O inciso Il do mesmo artigo
evidencia que o sindicato representa a categoria, judicial ou extrajudicialmente, quanto a
direitos individuais e coletivos. Como vemos, está prestigiada a participação do sindicato
nas negociações coletivas, matéria atualmente realçada na Lei Maior.
Prestigiando a liberdade sindical, nos termos previstos atualmente na Lei Maior, o
inciso VIII do art. 8º da mesma norma lembra que o empregado sindicalizado não poderá
ser dispensado desde o registro de sua candidatura a cargo de dirigente sindical e, se
eleito, ainda que suplente, até um ano após o final de seu mandato, salvo se cometer falta
grave. Aqui, há outra garantia dada ao dirigente sindical, para que este possa desempe-
nhar livremente seu mister, não sofrendo qualquer represália por parte do empregador.
O art. 9º da Lei Magna reza sobre o direito de greve, sem qualquer limitação, po-
dendo os trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses
que devam ser defendidos. A lei, apenas, irá definir os serviços ou atividades essenciais e
disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
Por último, o art. 11 da Constituição assegura a eleição de um representante dos
empregados, nas empresas com mais de 200 funcionários, com a finalidade exclusiva de
promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.
Eis a atual organização sindical brasileira, que será mais bem estudada nos tópicos
e capítulos seguintes.
2 Denominação
Sindicato deriva do latim syndicus, que é proveniente do grego sundikós, com o sig-
nificado do que assiste em juízo ou justiça comunitária. Em francês, usa-se a palavra
syndicat. No Direito Romano, sindico era a pessoa encarregada de representar uma co-
letividade. No Digesto de Gaio (DL 3.T.4.1), a palavra sindico tinha o sentido de repre-
sentante. A Lei Le Chapellier, de julho de 1791, utilizava o nome síndico, derivando daf
a palavra sindicato, com o objetivo de se referir aos trabalhadores e associações clandes-
tinas que foram organizadas após a Revolugdo Francesa de 1789. Outras denominações
são empregadas, como union ou trade union, em inglés; Gewerkschaft (arbeitervereine),
em alemão; sindacato, em italiano. Também são usadas as denominages “associacdes” e
“grémios”, esta última em pafses de lingua espanhola, como na Argentina. Verifica-se na
Europa, a partirde 1830, o uso da palavra sindicato referente à classe de trabalhadores ou
a trabalhadores de diversos oficlos ou ocupações, tendo surgido a denominação sindicato
operdrio, que era uma associação de trabalhadores do mesmo oficlo.
A palavra sindicato compreende não só a organização de trabalhadores, como a de.
empregadores. Em Portugal, usa-se o nome sindicato apenas para as agremiações de tra-
balhadores (art. 442, 1, a, do Cédigo do Trabalho), pois as de empregadores são denomi-
nadas associações de empregadores.
Na CLT, sindicato é a denominação usada para as associações de primeiro grau
(art. 561).