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Sumário:
1. Introdução
Dadas as circunstâncias sociais e culturais da época, é evidente que a Constituição de 1891,
primeira da era republicana, não poderia incluir norma relativa a Direito do Trabalho, nem mesmo
estatuir a respeito da competência para legislar sobre matéria do trabalho. Ao tempo, todas as
relações que tinham por objeto a prestação de serviços eram alcançadas pelo direito civil ou pelo
direito comercial.
Limitava-se, pois, a nossa primeira Constituição Republicana (LGL\1988\3) a dispor, em seu art.
34: "Compete privativamente ao Congresso Nacional:... 23) Legislar sobre o direito civil, comercial
e criminal da República e o processual da justiça federal".
No âmbito da legislação ordinária, pois, as relações de trabalho privado se continham no âmbito
dos Códigos Comercial e Civil.
Todavia, fatores vários, de ordem material e cultural, passaram a impor a necessidade de leis
específicas referentes ao trabalho. Não nos propomos, aqui, a um estudo de natureza sociológica
para explicar as origens do direito do trabalho brasileiro, o surgimento de nossas primeiras leis
trabalhistas. Registre-se apenas o fato de que, já neste século, e especialmente no período da
Primeira Guerra Mundial, deu-se acentuado incremento à indústria nacional, cio que decorreu o
crescimento das camadas trabalhadoras assalariadas. Além disso, sob a influência atuante dos
trabalhadores imigrantes, muitos imbuídos das idéias anarquistas e maximalistas, ocorreram vários
movimentos operários, inclusive greves, das quais as mais expressivas foram as de 1917 e 1919.
Por outro lado, nos países mais adiantados passou a adquirir expressão o direito do trabalho como
um direito autônomo, e de tal modo a constituir direitos trabalhistas objeto do Tratado de
Versalhes.
Estas e outras circunstâncias ocasionaram a edição de leis trabalhistas no Brasil.
Todavia, foi somente no ano de 1926, quando se efetivou reforma à Constituição de 1891, que se
cogitou, a nível de direito constitucional, sobre a competência de legislar sobre o trabalho. Com
efeito, em virtude da aludida reforma, passou a dispor a nossa primeira Constituição Republicana
(LGL\1988\3), em seu art. 34:
"Compete privativamente ao Congresso Nacional: (...) 28) Legislar sobre o trabalho".
Refere-se a norma citada ao trabalho na órbita privada e não relativamente ao Poder Público.
Relativamente a este, a competência legislativa no que diz respeito a seu pessoal era da União,
dos Estados ou dos Municípios, conforme o caso.
Observa Floriano Corrêa Vaz da Silva, em seu Direito Constitucional do Trabalho, referindo-se à
norma supracitada: "Não se falava ainda em Direito do Trabalho, mas já se reconhecia a
necessidade de que a União legislasse sobre o trabalho. O dispositivo procurava também impedir
as possíveis argüições de inconstitucionalidade, pois, tal como nos EUA, muitos entendiam
inconstitucional qualquer lei que protegesse o trabalhador e que lhe reconhecesse certos direitos
e garantias".
Empolgados pelos princípios doutrinários do mais acendrado liberalismo, repugnava aos juristas a
intervenção do Estado na liberdade contratual. Daí por que observa o mesmo autor, que "vários
constitucionalistas brasileiros entendiam que a legislação trabalhista infringia o princípio da
liberdade contratual".
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2. A Constituição de 1934
Sabe-se, e salientam os constitucionalistas, que a Constituição de 16.7.1934, foi de cunho
eminentemente social-democrático. E embora de social-democrático se possa considerar, no que
diz respeito à legislação do trabalho, o período posterior a 1930, não se chegou ao ponto de
desgarrar do direito comum o direito do trabalho, considerado como ramo autônomo. Apenas leis
esparsas sobre a matéria se elaboraram, mesmo depois da aludida Constituição, devendo-se
mencionar as seguintes: Lei 62, de 1935, dispondo sobre a rescisão do contrato de trabalho; Lei
185, instituindo as Comissões de Salário Mínimo e Lei 367, de 1936, criando o IAPI.
A refletir tal situação, a Constituição de 16.7.1934 dispunha, em seu art. 5.º; "Compete
privativamente à União: (...) XIX, legislar sobre: (...) i) comércio exterior e interestadual,
instituições de crédito; câmbio e transferência de valores para fora do país; normas geraissobre o
trabalho, a produção e o consumo, podendo estabelecer limitações exigidas pelo bem público".
Saliente-se, todavia, que o § 3.º, do citado art. 5.º, dispunha: "A competência federal para
legislar sobre as matérias dos números XIV e XIX, letras c e i, in fine, e sobre registros públicos,
desapropriações, arbitragem comercial, juntas comerciais e respectivos processos; requisições
civis e militares, radiocomunicação, emigração, imigração e caixas econômicas; riqueza do subsolo,
mineração, metalurgia, águas, energia hidrelétrica, florestas, caça e pesca, e a sua exploração
não exclui a legislação estadual supletiva ou complementar sobre as mesmas matérias. As leis
estaduais, nestescasos, poderão, atendendo às peculiaridades locais, suprir as lacunas ou
deficiências da legislação federal, sem dispensar as exigências destas".
Em conseqüência do aludido parágrafo, conclui-se, relativamente ao tema em foco, que a
competência da União para dispor normas sobre o trabalho não era exclusiva, embora prevalente,
pois tal competência remanescia ainda aos Estados, em caráter supletivo ou complementar, ainda
que sempre subordinada às exigências da legislação federal.
3. Constituição de 1937
Foi a Constituição de 10.11.1937, que elevou a legislação do trabalho ao nível de direito autônomo
e especial. Ao contrário dos que a antecederam, não se refere a legislação trabalhista, nem a
normas relativas ao trabalho. Emprega a locução - direito operário. E o faz no dispositivo
referente à competência legislativa: "Art. 16. Compete privativamente à União o poder de legislar
sobre as seguintes matérias: (...) XVI, o direito civil, o direito comercial, o direito aéreo, o direito
operário, o direito penal e o direito processual".
Observa-se no texto citado, comparando-o com a Constituição de 1934, que:
1.º) A Constituição de 1934 referia-se apenas a normas gerais para o trabalho, sem que ainda se
houvesse formado a consciência de um direito do trabalho autônomo e especial; a Constituição de
1937 adota a expressão direito operário) o que evidencia o surgimento da consciência de um
direito do trabalho especial e autônomo, ainda que restrito a operário e não ao trabalhador em
geral.
2.º) A competência da União para legislar sobre o trabalho, na Constituição de 1934, não era
privativa, mas prevalente, pois não excluía a legislação estadual supletiva ou complementar sobre
a matéria. Por força do § 3.º, do art. 5.º da referida Constituição, leis estaduais poderiam,
atendendo às peculiaridades locais, suprir as lacunas ou deficiências da legislação federal, sem
dispensar as exigências desta. Já na Constituição de 1937, autoritária e centralizadora, a
competência de legislar sobre a matéria - direito operário - passou a ser da competência
privativa da União, conforme o expressamente disposto no caput, do art. 16.
E foi sob a égide da Constituição de 1937 que, efetivamente, a esparsa legislação do trabalho se
corporificou na Consolidação das Leis do Trabalho ( Decreto-lei 5.452, de 1.5.1943) que reuniu a
legislação esparsa a respeito, de forma sistemática e com algumas alterações ou inovações. A CLT
(LGL\1943\5) veio dar expressividade à natureza autônoma e especial do Direito do Trabalho.
Fundamentalmente, a CLT (LGL\1943\5) aplicava-se aos empregados de empresas privadas
urbanas e, excepcionalmente, aos rurícolas. De seu manto protetor, eram excluídos, por seu art.
7.º, além dos domésticos:
1. os funcionários públicos da União, dos Estados e dos Municípios e os respectivos
extranumerários em serviços nas próprias ( CLT (LGL\1943\5), art. 7.º, c);
2. os servidores das autarquias paraestatais, desde que sujeitos a regime próprio de proteção ao
trabalho que lhe assegure situação análoga à dos funcionários públicos ( CLT (LGL\1943\5), art.
7.º, d).
A regra, pois, era a inaplicabilidade do direito do trabalho aos funcionários públicos da União, dos
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da primeira hipótese aludida. Escreve ele: "Note-se, desde logo, que essa lei especial deverá ser
uma "lei federal especial". E o fato é que inexiste, até hoje, no plano federal, uma lei especial, que
crie ou regulamente uma terceira categoria de servidores, ao lado dos funcionários no regime
estatutário e dos servidores no regime trabalhista. Pelo contrário, há lei recente com a qual, de
certo modo, o Poder Público federal tacitamente renuncia a criar, ao menos por enquanto, esse
regime especial de que fala o art. 106. Trata-se da Lei 6.185, que coloca os servidores em apenas
dois campos: o campo do Estatuto e o campo da CLT (LGL\1943\5)".
Já foi nosso entendimento o esposado por Floriano Corrêa Vazo Considerávamos possível a fixação
de um regime especial distinto das categorias de funcionário público e do regime trabalhista e que
tal regime especial deveria ser fixado por lei federal.
Meditação maior em relação à sistemática constitucional, que agora tentamos, nos abalançou de
tal entendimento.
Em primeiro lugar, o art. 106, da Constituição não se refere a "lei especial" que institua "regime
jurídico especial", mas apenas a "lei especial" que estabeleça o "regime jurídico". Lei especial não
quer dizer regime jurídico especial. A Constituição Federal (LGL\1988\3) consagra dois regimes: o
de funcionário público e o de direito do trabalho. Não estabelece um terceiro regime. E, com a
Emenda Constitucional 1, apenas arredou-se do rigorismo da redação anterior que ordenava
sempre aplicar-se ao pessoal temporário sempre a legislação trabalhista. A lei especial a que se
refere o art. 106 é apenas definidora de qual regime aplicar-se: se o de funcionário público, se o
de Direito do Trabalho. Não um tertius genus.
Em segundo lugar, fosse admitido constitucionalmente um regime jurídico especial diferenciado do
de funcionário público e do regime trabalhista, a competência de legislar a respeito não seria
privativa da União.
É que não se conteria tal regime, por ser especial, em nenhuma das classes de direitos
mencionados no art. 8.º, XVII, da Constituição Federal (LGL\1988\3), artigo esse que se refere à
competência legislativa da União. Ora, no regime federativo tudo o que não for explícita ou
implicitamente deferido à União, será da competência dos Estados. Relembra-se o disposto no §
1.º, do art. 13, da Constituição: "Aos Estados são conferidos todos os poderes que, explícita ou
implicitamente, não lhes sejam vedados por esta Constituição".
Atente-se, além disso, para o disposto no art. 109, da Constituição: "Lei federal, de iniciativa
exclusiva do Presidente da República, respeitado o disposto no art. 97 e seu § 1.º e no § 2.º do
art. 108, definirá: I - o regime jurídico dos servidores públicos da União, do Distrito Federal e dos
Territórios; II - a forma e as condições de provimento dos cargos públicos; e III - as condições
para aquisição de estabilidade".
Veja-se que o artigo citado restringe a lei federal à definição do regime jurídico dos servidores
públicos da União, do Distrito Federal e dos Territórios - e não dos Estados e dos Municípios.
Conseqüentemente, não sendo conferida, explícita ou implicitamente, à União a competência para
legislar regime especial aludido, tal competência seria do Estado.
Em face dessas considerações, modificamos nosso entendimento anterior relativamente ao
disposto no art. 106, da Constituição Federal (LGL\1988\3). E isso porque nos parece que a
interpretação válida do texto é a contida na 2.ª hipótese aventada: a norma apenas dispõe que a
lei especialestabelecerá, em relação ao pessoal nela referido, que regime jurídico se aplicará: o
de funcionário público ou o da legislação do trabalho.
E parece-nos que este foi o entendimento do legislador ao editar a Lei 6.185, de 1974 que, como
acentua Floriano Corrêa Vaz, coloca todos os servidores apenas em dois campos: o campo do
Estatuto e o campo da CLT (LGL\1943\5).
Essa interpretação nos parece a mais válida ainda porque mais consentânea com o regime
federativo. Não se deveria atribuir à União a competência para legislar sobre o regime jurídico dos
servidores dos Estados, por prejudicar a autonomia destes. Deferir aos Estados, por outro lado, a
possibilidade de estabelecer regime jurídico distinto do ele funcionário público e do trabalhista,
seria prejudicar direitos dos cidadãos, que poderiam ser lançados ao desabrigo de normas
protecionistas inerentes a um daqueles regimes. Os Estados, pois, não minimizados em sua
autonomia, mas limitados na possibilidade do arbítrio, hão de definir a adoção de um dos regimes,
nos limites fixados na Constituição Federal (LGL\1988\3): o de funcionário público, ou o
trabalhista. Jamais um tertius genus, isto é, um regime especial distanciado da alternativa
constitucional.
Observe-se que os dispositivos agora enfocados não foram afetados por reforma constitucional
posterior.
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previdência social, inclusive para efeito de carência, o tempo de serviço anteriormente prestado à
Administração Pública pelo funcionário que fizer a opção referida neste artigo.
§ 2.º. A contagem do tempo de serviço de que trata o parágrafo anterior far-se-á segundo as
normas pertinentes ao regime estatutário, computando-se em dobro, para fins de aposentadoria,
os períodos de licença especial não gozada, cujo direito haja sido adquirido sob o mesmo regime".
O caput do artigo em foco estabelece, em princípio, a possibilidade da opção, pelo funcionário
público, do regime trabalhista. Mas tal possibilidade somente começa a existir efetivamente a juízo
do Poder Executivo. Não se trata, pois, de norma auto-aplicável, porque depende da vontade do
Poder Executivo. Somente depois do Poder Executivo fixar os casos e as condições, inclusive
quanto à fonte de custeio, é que surgirá para o funcionário público a possibilidade concreta de
optar pelo regime da legislação trabalhista.
A opção em foco implica na renúncia ao regime estatutário e aquisição dos direitos trabalhistas
(mas sempre sob o regime do FGTS). Porém a renúncia ao regime de funcionário público não
implica na perda de direitos adquiridos, especialmente no que diz respeito à contagem de tempo
de serviço. Daí a razão dos dois parágrafos do artigo em foco. O tempo de serviço anterior à
opção será computado para os efeitos trabalhistas e previdenciários, mas será contado na forma
do regime estatutário, inclusive calculado em dobro o tempo relativo à licença especial não
gozada.
O art. 5.º da lei em foco dispõe sobre os encargos sociais decorrentes da legislação trabalhista e
previdenciária pertinentes à situação: "Os encargos sociais de natureza contributiva, da União e
das respectivas autarquias, em relação ao pessoal regido pela legislação trabalhista, restringir-se-
ão às contribuições para o Instituto Nacional de Previdência Social, inclusive os incidentes sobre o
13.º (décimo-terceiro) salário, às cotas de salário família e aos depósitos para o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço, nos termos das respectivas legislações.
Parágrafo único. Dos orçamentos da União e das autarquias deverão constar as dotações
necessárias ao custeio dos encargos de que trata este artigo".
O artigo em foco é suficientemente claro para dispensar maiores comentários. A explicitação é
feita sobretudo com vistas à previsão orçamentária.
O óbvio é o que vem preceituado no art. 6.º; "Os atuais funcionários que não fizerem a opção
prevista no art. 4.º, serão mantidos no regime estatutário".
Se a transferência do servidor de um para outro regime depende da manifestação de sua opção, é
evidente que no seu silêncio continua no regime estatutário. E também é claro que, por não optar,
não perderia seu cargo de funcionário.
Finalmente, dispõe o art. 7.º; "Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogados os
§§ 1.º e 2.º do art. 3.º, da Lei 5.886, de 31.5.1973; o parágrafo único, do art. 3.º, da Lei 5.914,
de 31.8.1973; o parágrafo único, do art. 3.º, da Lei 5.921, de 19.9.1973; o parágrafo único, do
art. 4.º da Lei 5.968, de 11.12.1973; o parágrafo único, do art. 3.º, da Lei 5.990, de... 17.12.
1973, e demais disposições em contrário".
8. Algumas conclusões
Das considerações feitas no presente estudo, especialmente no que se refere à legislação em
vigor, tiremos algumas conclusões:
1. O Direito do Trabalho, com essa denominação, é um direito autônomo, e é privativamente
competente para legislá-lo a União.
2. Em face do disposto no art. 170, da Constituição em vigor, somente podem ser contratados
para as empresas públicas e de economia mista empregados sob o regime da legislação trabalhista
vigente.
3. Na Administração direta e autárquica da União, dos Estados e dos Municípios a regra é a
aplicação do regime estatutário de funcionário público e só excepcionalmente o regime da
legislação trabalhista.
4. Inexiste um tertius genus estranho ao regime estatutário de funcionário público e ao regime
trabalhista.
5. Os Estados, nos limites fixados na Constituição Federal (LGL\1988\3), poderão escolher o
regime aplicável, estatuindo normas estatutárias de funcionário público ou sujeitando-se, em
determinados casos e condições, à legislação federal do trabalho. Não pode, contudo, legislar
instituindo regime especial fora dos dois apontados.
6. A Lei 6.185, de 11.12.1974, não institui um tertius genus, mas dispõe apenas a respeito da
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