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NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

SOBRE O DIREITO DO TRABALHO


Prof. Prudêncio Neto
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1. Introdução ao Direito do Trabalho

O trabalho e a formação histórica do Direito do Trabalho

• A ideia de um direito do trabalho só é possível a partir da consolidação do capitalismo, em meados dos


anos 1860. O trabalho, então, passa a ter um caráter socialmente determinado que é específico do
sistema de produção capitalista e da formação social que ele produz.

• Dessa forma, a subordinação da força de trabalho ao capital é universalizadado como um local


privilegiado para sociabilidade e é esse modo específico que, através das lutas operárias, foi protegido
pelo ordenamento jurídico enquanto contrato de emprego. Outras formas jurídicas de trabalho foram
relegadas a outras esferas do direito como, por exemplo, ao Direito Civil.
1. Introdução ao Direito do Trabalho

O trabalho e a formação histórica do Direito do Trabalho


• Apenas esses gozam da proteção do direito laboral, os demais, como os trabalhadores autônomos,
profissionais liberais, dentre outros, não são abrigados pelos contratos individuais de emprego. O
Direito do Trabalho, dessa forma, visou pacificar e desativar as lutas de classe e trazer certa simetria
entre empregado e empregador de modo a falsear o antagonismo entre eles, tornando os conflitos
como algo apenas periférico que podem ser dirimidos, por exemplo, através das lutas sindicais.
1. Introdução ao Direito do Trabalho

O trabalho e a formação histórica do Direito do Trabalho


• Um fato histórico importante para a transformação dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras foi a Revolução Industrial. Antes
dela, o trabalhadores estavam dispersos geograficamente, com pouco ou nenhum sentimento de pertencimento a uma classe
específica. Após, contudo, os trabalhadores passaram a ocupar o mesmo espaço nas grandes fábricas, crescendo a conscientização
coletiva em muito movida pela necessidade de autoproteção, desencadeando uma revolução paralela, a do proletariado contra os
burgueses, partindo-se da premissa que aqueles que antes detinham os meios de produção e a proteção de sobrevivência do sistema
feudal, tornaram-se vendedores de si mesmo, espoliados dos meios de produção, deveriam se submeter aos burgueses como forma de
garantia da sobrevivência.

• Nesse cenário surgem os Direitos Sociais. A classe opressora demandava segurança e legitimação para atuar, dessa forma, resolveram
acomodar a agitação popular crescente através do oferecimento de uma série de vantagens que uma classe menos favorecida jamais
teria acesso. Os direitos sociais, importante apontar, não seriam possíveis sem uma intervenção direta do próprio Estado.
1. Introdução ao Direito do Trabalho

Definição

• Martinez (2023, p. 11) caracteriza o direito do trabalho, a


partir de sua visão conservadora, como:
• [...] como o conjunto de princípios e regras que regulam a prestação do
trabalho subordinado, e excepcionalmente do trabalho autônomo, no âmbito
das relações laborais individuais ou coletivas, bem como as consequências
jurídicas delas emergentes.
1. Introdução ao Direito do Trabalho

Características
a. Intervencionismo – é intervencionista pois se propõe a controlar o poder econômico de modo que a força do capital não se sobreponha à do trabalho. Parte da
ideia de que há uma clara assimetria de poderes entre empregadores e trabalhadores, sendo necessário o estabelecimento de um conjunto mínimo de direitos,
que não podem ser renunciados nem suscetíveis de eventual negociação patronal.

b. Protecionismo – busca preservar o equilíbrio contratual. Garante: norma mais favorável, manutenção de cláusulas mais benéficas e interpretação mais
favorável ao trabalhador.

c. Reformismo social – oferecer melhores condições de trabalho e em tempos de crise criar soluções alternativas que possibilitem a manutenção dos postos de
trabalho.

d. Coletivismo – privilegia interesses coletivos aos individuais.

e. Expansionismo – o direito do trabalho é visto como um dos mais importantes direitos humanos e, como tal, não se admite retrocesso, a progressividade é
essencial.

f. Cosmopolitismo – o Direito do Trabalho pode expandir fronteiras meramente geográficas, buscando referências em outro ordenamentos jurídicos e nos
preceitos da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
2. Princípios do Direito do Trabalho

Princípio da proteção
• Esse princípio decorre do fato de que não existe, entre trabalhador e empregador uma relação de simetria. Devido a essa
desigualdade, a ideia de liberdade contratual não pode ser defendida uma vez que para o empregado não subsiste qualquer
vestígio de que ele seja livre para pactuar as cláusulas contratuais.

• Tal princípio subdivide-se em três formas:


a. A regra da aplicação jurídica mais favorável;
b. A regra da manutenção da condição mais benéfica;

c. E a regra da avaliação de que no caso da dúvida, aplica-se a norma mais favorável ao empregado .
2. Princípios do Direito do Trabalho

Princípio da indisponibilidade de direito


• O empregado não pode renunciar aos direitos trabalhistas, dessa forma, caso haja algum tipo de
renúncia, tal ato é nulo.

Princípio da continuidade da relação de emprego


• Esse princípio busca que as relações de emprego sejam tanto mais longas quanto possível.
2. Princípios do Direito do Trabalho

Princípio da primazia da realidade


• Nesse princípio a realidade dos fatos deve prevalecer sobre meras cláusulas contratuais ou documentos, e
aplica-se tanto contra o empregado quanto ao empregador. Martinez (2023, p. 99) destaca que:
É verdade que o empregado, como sujeito juridicamente mais fragilizado, é a vítima
preferencial dos documentos que revelam coisa diversa daquilo que efetivamente existiu.
Há maus empregadores que, na tentativa de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos
direitos trabalhistas, engenham contratos de natureza assemelhada (como representação
comercial, estágio ou cooperativa) e constroem falsas provas, inclusive de pagamento.
Quando a realidade mascarada é efetivamente visualizada, tornam-se nulos de pleno
direito, por força do art. 99 da CLT, todos os atos violadores da legislação laboral.
3. Elementos caracterizadores da relação de
emprego
Pessoalidade

• Considerando que a contratação de um empregado envolve a avaliação de atributos pessoais e profissionais que fazem o empregador escolher um em
detrimento de outro, decorre, daí a ideia de que o trabalho deve ser prestado tão somente por ele e não por outra pessoa.

Onerosidade

• Todo o contrato de trabalho é oneroso, ou seja, se dá mediante uma contraprestação financeira, no caso, o salário, enquanto meio de subsistência do
trabalhador e de sua família.

Não assunção dos riscos da atividade patronal

• Os trabalhadores não assumem os riscos decorrentes da atividade patronal, ou seja, fica alheio a qualquer dificuldade financeira que eventualmente venha
a acometer o empregador.

Duração contínua ou não eventual

Subordinação

• Decorre do fato de que é o empregador quem determina o modo e o tempo daquilo que foi contratado. Portanto, a subordinação limita a autonomia do
empregado à medida que, através do poder diretivo do empregador, fica estabelecida uma hierarquia de controle e obediência.
4. Empregador

• De acordo com Martinez (2023, p. 259) o empregador pode ser


definido como:
[...] a pessoa física, jurídica ou ente despersonalizado (este
excepcionalmente autorizado a contratar) concedente da
oportunidade de trabalho, que, assumindo os riscos da atividade
(econômica ou não econômica) desenvolvida, admite, assalaria e
dirige a prestação pessoal de serviços de outro sujeito, o empregado.
4. Empregador

Poder diretivo

• É uma prerrogativa do empregador para exigir de seus


empregados comportamentos lícitos na direção dos objetivos
pactuados. O poder diretivo subdivide-se em: poder de
organização, poder de fiscalização e poder disciplinar.
5. Segurança e saúde no trabalho

• Os trabalhadores têm o direito de ver reduzidos os riscos


inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e
segurança laboral. Importante notar que o âmbito de proteção
mudou consideravelmente ao longo do tempo e se
anteriormente uma proteção maior era concedida em benefício
do trabalho (desenvolvimento de máquinas, velocidade,
organização da produção etc.) hoje o maior beneficiário é em
nome do próprio trabalhador. Assim, não compete ao
empregado apenas realizar a contraprestação pelo trabalho,
mas, sim, zelar pela saúde do trabalhador.
5. Segurança e saúde no trabalho

Equipamentos de proteção individual


• É todo dispositivo ou instrumento, de uso individual, utilizado pelo trabalhador, com a finalidade de oferecer
proteção aos riscos suscetíveis de ameaçar a saúde e a segurança no trabalho. A empresa é responsável por
fornecer, gratuitamente, os EPI´s nas seguintes condições:

(a) Sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes de
trabalho ou de doenças profissionais e de trabalho;

(b) Enquanto as medidas coletivas de proteção estejam sendo implementadas;

(c) Para atender a situações de emergência

• Importante notar que o fornecimento de EPI não desobriga a empresa do pagamento de adicionais de
insalubridade e periculosidade.
5. Segurança e saúde no trabalho

Atividades insalubres e perigosas

• A CLT estabelece em ser art. 189 que: “serão consideradas atividades ou operações
insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham
os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em
razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus
efeitos”.

• Compete ao Ministério do Trabalho e Emprego a definição do texto legal.


• O adicional de insalubridade varia entre 10%, 20% e 40% do valor do salário base,
variando de acordo com a dimensão de nocividade (grau mínimo, médio e máximo
respectivamente).
5. Segurança e saúde no trabalho

Atividades ou operações perigosas

• As atividades ou operações perigosas também tem o seu contorno definido pelo


Ministério do Trabalho e Emprego e se caracterizam enquanto tipo de trabalho na qual o
trabalhador está constantemente, sob risco acentuado, de exposição a:

(a) Inflamáveis, explosivos ou energia elétrica;

(b) Roubos ou outras espécies de violência física nas atividades de segurança pessoal ou
patrimonial.
• O adicional de periculosidade é de 30% sobre o salário base.
5. Segurança e saúde no trabalho
6. Principais direitos trabalhistas

• 13º Salário – normalmente pago no final do ano. Pode ser parcelado nos meses
de novembro e dezembro.
• FGTS – obrigação da empresa em depositar 8% do salário bruto do trabalhador. É
um direito básico do trabalhador pois o protege no caso de demissão sem justa
causa.
• Hora extra – horas em que o trabalhador precisa ficar além do limite de 8 horas.
Importante observar que o limite diário de horas extra não pode exceder 2
horas.
• Férias – empregado que cumpre 12 dias de trabalho possui direito de ter 30 dias

de férias remuneradas, acrescido de 1/3 constitucional.


7. Verbas rescisórias

•Saldo de salários
•Salário-família
•Horas extras (que não foram
pagas)
7. Verbas rescisórias

• Adicional noturno
1. A remuneração do trabalho noturno é superior ao trabalho diurno
2. Período: Atividade urbana – entre 22h e 05h; Atividades rurais – entre 21h e 05h;
Pecuária: entre 20h e 04h.
3. A hora normal tem duração de 60 minutos enquanto a hora noturna tem duração
de 52 horas e 30 segundos
4. Nas atividades urbanas a hora noturna deve ter um acréscimo mínimo de 20%
com relação a hora noturna
5. Tanto o adicional noturno quanto as horas extras noturnas, se pagos com

habitualidade, integram o salário para todos os efeitos legais


7. Verbas rescisórias

• Férias vencidas e/ou em dobro com


adicional de 1/3 constitucional
• Férias proporcionais com adicional de 1/3
constitucional
• 13º salário proporcional
7. Verbas rescisórias

• Aviso prévio indenizado


1.É a comunicação da rescisão do contrato de trabalho
2.Se o empregador decide por desligar o empregado imediatamente deve efetuar o
pagamento do respectivo período
3.Se o empregado pede o desligamento imediato deve o empregador descontar o
referido valor no cálculo da rescisão
4.O aviso prévio de trabalhadores com até um ano de emprego na empresa será de
trinta dias, caso exceda esse tempo de serviço, serão acrescidos 3 dias por ano de
serviço até o limite de 60 dias, perfazendo um total de 90 dias.
7. Verbas rescisórias

• Saldo do banco de horas não compensado (se existir)


• FGTS da rescisão
• Multa de 40% (+10%) sobre o saldo do FGTS
• O empregador tem até 10 dias para o pagamentos das verbas
rescisórias sob pena de pagar, em favor do empregado, o
equivalente ao seu salário.
• Importância de se observar o acordo ou convenção coletiva de
trabalho pois prevalecerá a norma mais favorável ao empregado.
TRABALHO
ESCRAVO
TRABALHO ANÁLOGO AO DE ESCRAVO
Trabalho análogo ao de escravo
O TRABALHO ESCRAVO COMO PROBLEMA
PERSISTENTE
Quantidade de Trabalhadores em Condições Análogas à Trabalho Escravo em Todos
os Anos no Brasil

Fonte: Radar SIT


O TRABALHO ESCRAVO COMO PROBLEMA
PERSISTENTE
Quantidade de Trabalhadores em Condições Análogas à
Trabalho Escravo em Todos os Anos no PA

Fonte: Radar SIT


O TRABALHO ESCRAVO COMO PROBLEMA
PERSISTENTE
Setores Econômicos mais frequentemente Envolvidos

Fonte: Smart LAB


O TRABALHO ESCRAVO COMO PROBLEMA
PERSISTENTE
Escolaridade

Fonte: SmartLab
O TRABALHO ESCRAVO COMO PROBLEMA
PERSISTENTE
Raça

Fonte: Radar SIT


O TRABALHO ESCRAVO COMO PROBLEMA
PERSISTENTE
Faixa etária

Fonte: SmartLab
O TRABALHO ESCRAVO COMO PROBLEMA
PERSISTENTE
Mapa de Calor – Incidência de trabalho escravo

Fonte: SmartLab
O TRABALHO ESCRAVO COMO PROBLEMA
PERSISTENTE
Unidades Federativas com maior número de trabalhadores explorados

Fonte: SmartLab
O TRABALHO ESCRAVO COMO PROBLEMA
PERSISTENTE
Unidades Federativas de Nascimento dos Resgatados

Fonte: SmartLab
TRABALHO ANÁLOGO AO DE ESCRAVO
TRABALHO ANÁLOGO AO DE ESCRAVO
Trabalho Condições
forçado degradantes
Elementos
caracterizadores
do trabalho
escravo Submissão a
Restrição de
jornada
locomoção
exaustiva
Trabalho análogo ao de escravo
CANAIS DE DENÚNCIA

• Sistema Ipê
• Disque 100
• Clínica de Combate
ao Trabalho Escravo
da UFPA
• Email:
ccte@ufpa.br
Obrigado pela
atenção!

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