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Introdução
1. O descarte da hipossuficiência
1
ROMITA, ArionSayão. O princípio da proteção em xeque. São Paulo: Ltr, 2003. p. 24.
2
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2011. p.
300.
3
subjetivo do trabalhador ser considerado como a parte mais fraca
empurrando-o para uma isonomia fictícia, ou seja, uma tentativa de colocá-lo
de igual para igual com o seu empregador flexibilizando as relações
trabalhistas ou possibilitando-se a realização de acordos coletivos ou
individuais onde o trabalhador pode renunciar a certos direitos que, de certa
maneira, afastam a cobertura dada pelo princípio da proteção, criando-se,
também, uma impressão errada ao trabalhador que ele está no comando dos
seus direitos, mas na realidade está contribuindo para o esvaziamento do
princípio da proteção.
3
―A ideologia da proteção desempenha uma função. Quem fala em proteção admite com
antecedência a existência de dois atores sociais: o protetor e o protegido. Se o trabalhador –
sujeito mais fraco na relação – é o protegido, sua posição de submissão se perpetua com a
consequente exaltação da posição social do protetor. Talvez por isto se decante, no Brasil, a
proteção proporcionada (na realidade dos fatos, autêntico mito) ao trabalhador brasileiro:
perpetuada a posição social de submissão em que se encontra o protegido, resguarda-se a
posição social do protetor. Afinal, a ―proteção‖, no caso em estudo, interessa não ao protegido,
mas sim ao protetor. Ao protegido só interessa – em ínfima parcela – a proteção quando ela
fundamenta (quase sempre de forma não explicita) a decisão judicial pela procedência do
pedido formulado pelo trabalhador. Triste consolo, triste participação nas migalhas caídas da
mesa do banquete!‖ (ROMITA, ArionSayão. Op. cit. p. 25).
4
RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de direito do trabalho. São Paulo: Ltr, 2000.
a) in dúbio pro operário;
5
―Todo o Direito do Trabalho nasceu sob o impulso de um propósito de proteção. Se este não
tivesse existido, o Direito do Trabalho não teria surgido. Surgiu com o preciso objetivo de
equilibrar, com uma desigualdade jurídica favorável, a desigualdade econômica e social que
havia nos fatos” (RODRIGUEZ, Américo Plá. Op. cit. p. 33).
6
RODRIGUEZ, Américo Plá. Op. cit. p. 37
7
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. São Paulo: Ltr, 2003. p. 197.
institutos que compões esse ramo jurídico especializado‖8. No mesmo sentido,
em palestra conferida pela ministra do Tribunal Superior do Trabalho Delaíde
Alves Miranda abordando o tema ―a magistratura trabalhista e a vedação ao
retrocesso social‖, veio a lume o esvaziamento do principio da proteção nos
moldes que vem ocorrendo depois da reforma trabalhista, trazendo
significativas mudanças na CLT, instrumentalizada pela Lei n.º 13.467/2017:
8
―Como excluir essa noção do principio da imperatividade das normas trabalhistas? Ou do
principio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas? Ou do princípio da inalterabilidade
contratual lesiva? Ou da proposição relativa à continuidade da relação de emprego? Ou da
noção genérica de despersonalização da figura do empregador (e suas inúmeras
consequências protetivas ao obreiro)? Ou do principio da irretroaçãodas nulidade? E assim
sucessivamente. Todos esses outros princípios especiais também criam, no âmbito de sua
abrangência, uma proteção especial aos interesses contratuais obreiros, buscando retificar,
juridicamente, uma diferença prática de poder e de influência econômica e social apreendida
entre os sujeitos da relação empregatícia‖ (DELGADO, Mauricio Godinho. Op. cit. p. 197-198).
Trabalho, como imperativo para a construção de uma
9
sociedade livre, justa e solidária.
2. Problemas emergentes
9
Disponível em: https://amatra-05.jusbrasil.com.br/noticias/638331338/ministra-do-tst-diz-que-
a-reforma-trabalhista-causou-o-esvaziamento-do-principio-da-protecao. Acesso em: 20 out.
2019.
10
ROMITA, ArionSayão. Op. cit. p 26.
de trabalho, in casu, o trabalhador, podemos verificar vários problemas vindo a
tona; problemas esses que se agravam cada vez mais diante de uma corrida
frenética pela redução de custos através da baixa dos salários, dos encargos e
benefícios trabalhistas, distanciando cada vez mais a possibilidade de
igualdade de negociação entre patrões e empregados.11 Do problemas pode-se
citar os seguintes exemplos:
11
(NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit. p.304.) Vem, a seguir, a avaliação do tipo de
trabalho objeto das suas normas, sabendo-se que no processo produtivo há diferentes formas
de atividade profissional. Nesse ponto prevalece, como tipo de trabalho profissional protegido,
o trabalho subordinado. Porém, não é unânime esse entendimento. Há concepções ampliativas
que incluem, no âmbito do direito do trabalho, todo tipo de trabalho economicamente
dependente prestado por um hipossuficiente, interpretação que abre um horizonte mais amplo.
Pode envolver o trabalho autônomo hipossuficiente, como o do ambulante que monta a sua
barraca de venda de produtos de baixo valor em ruas da cidade, de modo informal. Apesar das
importantes razões econômicas que levam à conveniência da proteção social a todo trabalho,
ainda é difícil, mas não é impossível, no Brasil, a construção de um conjunto de normas
transcendentes do trabalho subordinado, embora a Espanha, em 2007, já o tenha feito com o
Estatuto do Trabalho Autônomo. Mas não há dúvida quanto à integração, na rede de proteção
do direito do trabalho, do trabalho subordinado, que tipifica a relação de emprego, mas outras
também.
Substituição do trabalhador com contrato com prazo indeterminado
por trabalhadores autônomos ou intermitentes;
12
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-
temporarias/especiais/55a-legislatura/pl-6787-16-reforma-trabalhista/documentos/audiencias-
publicas/prof-jorge-luiz-souto-maior. Acesso em 20 out. 2019.
13
―É humanista o intervencionismo para a proteção jurídica e econômica do trabalhador por
meio de leis destinadas a estabelecer um regulamento mínimo sobre as suas condições de
trabalho, a serem respeitadas pelo patrão, e de medidas econômicas voltadas para a melhoria
da sua condição social‖ (NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit. p. 54).
14
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit. p. 301.
aampliação de direitos trabalhistas. Cresceu o apoio político
das esquerdas ao modelo conhecido como Estado do Bem-
Estar Social (WelfareState) na mesma medida em que se
questiona o Estado neoliberal especialmente depois da crise de
2009 e a política de investimentos para o setor imobiliário dos
Estados Unidos que mostrou a fragilidade do sistema
financeiro. No Brasil os efeitos não foram tão fortes. Mas
existiram. Ocorreram dispensas coletivas em grandes
empresas. A legislação trabalhista já se vinha adequando aos
novos tempos. Assim, três marcos imprimiram novo quadro em
nosso país: as crises econômicas, a redução de custos como
meio de enfrentamento da competição empresarial e o avanço
tecnológico, que permite maior produção com menor número
de empregados.15
Propõem-se não tentar resolver uma questão tão complexa quanto essa,
que vem permeando de dúvidas os doutrinadores e estudiosos do Direito do
Trabalho, mas podemos colocar aqui alguns procedimentos que amenizam ou
tendem a reter ou diminuir o esvaziamento do principio da proteção.
15
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit. pp. 302-302
Para Américo Plá Rodrigues uma das formas seria o fortalecimento dos
acordos coletivos e das convenções coletivas do trabalho, buscando-se uma
maior efetividade dos trabalhadores nas negociações, e na atual vertente, onde
o negociado se sobrepõe ao legislado, diversos princípios que regem a relação
trabalhista poderiam ser preservados, principalmente o princípio da proteção.
Assim afirma o autor que,
16
RODRIGUEZ, Américo Plá. Op. cit. p. 27.
Em acórdão proferido pelo Tribunal Superior do Trabalho17emerge o fato
de que os juízes trabalhistas são os principais agentes para desigualar as
partes na relação de trabalhos, já que estão diante dos fatos concretos e para
poderem produzir justiça devem colocar as partes em níveis de força iguais,
como dizia o saudoso Ruy Barbosa que,
17
―O processo do trabalho rege-se, dentre outros princípios, pelos da informalidade, da
transcendência, da oralidade, da concentração e da proteção processual. Dessa principiológica
peculiar ao processo do trabalho, extrai-se que as partes devem produzir suas provas em
audiência - que deve ser preferencialmente una, independente de determinação judicial para
tanto e que, havendo alegação de necessidade de dilação probatória por um dos litigantes,
deve haver, da tal demandante, a manifestação imediata do prejuízo à primeira vez que tiver de
falar em audiência ou nos autos, sob pena de preclusão. Especificamente do princípio da
proteção processual, extrai-se o dever de o magistrado trabalhista compensar a desigualdade
existente na realidade socioeconômica (entre trabalhador e tomador dos serviços) com uma
desigualdade jurídica em sentido oposto, de forma a restabelecer e manter a verdadeira
igualdade processual‖(TST. RR - 231-46.2017.5.11.0019.5ª Turma. RelatorDouglas Alencar
Rodrigues. Julgamento em 1/10/2019. Publicação em 18/10/2019).
18
OLIVEIRA, Rui Barbosa de. Disponível em:https://citacoes.in/citacoes/575373-ruy-barbosa-a-
regra-da-igualdade-nao-consiste-senao-em-quinhoa/. Acesso em 22 out. 2019.
19
LOPES JÚNIOR, Aury. Introdução critica ao processo penal: fundamentos da
instrumentalidade garantista. Lúmen Júris. 2005. p. 256.
e igualdade, equilibrando forças entre as partes e celebrando um processo
justo.
Conclusão