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RESUMO: O presente texto busca demonstrar que não existe limitação material das
elencadas cláusulas pétreas à apenas os direitos e garantias individuais, mas que
são contemplados também os direitos coletivos, sociais, políticos e os direitos de
nacionalidade, estando o poder constituinte derivado reformador submetido as
restrições preceituadas no art. 60, §§1º e 4º da Constituição da República Federativa
do Brasil (CRFB).
1. Introdução
Este trabalho tem por objetivo, buscar, de forma sucinta, demonstrar que não
fundamentais não explícitos no art. 5º da CRFB, mas que de forma implícita são
protegidos pelo caráter pétreo que possuem, e que tais direitos recheiam o texto
reformador derivado, haja vista serem direitos que garantem as pessoas, inclusive
humanidade e que não podem ser afastados sem também trazerem consequências
entre si.
1
MORAES, Guilherme Pena. Curso de Direito Constitucional. Ed. Grupo Editorial Nacional.
São Paulo. 2019. Apud. p. 185
constituição, os quais guardam o mesmo valor de importância e imprescindibilidade
Peña de Moraes (2008, p. 499 e ss.) que os define da seguinte maneira: “Os direitos
objetivo, positivados no texto constitucional, ou não, com aplicação nas relações das
são os:
2
“A interpretação comprimida e restritiva do sobredito § 4º só é factível, pois, mediante
conceitos jurídicos de aplicação rigorosa que estampam a face de um constitucionalismo
desde muito abalado e controvertido em suas fronteiras materiais, bem como nas antigas
bases de sustentação da legitimidade, seria, por consequência, um constitucionalismo
inconformado com o advento de novos direitos que penetram na consciência jurídica de
nosso tempo e nos impõe outorga-lhes o mesmo grau de reconhecimento, em termos de
aplicabilidade, já conferido aos que formam o tecido das construções subjetivas onde se
teve sempre por metas estruturar a normatividade constitucional dos direitos e garantias
individuais.” (BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 14. ed. São Paulo:
Malheiros, 2004, p. 597).
3
MORAES, Guilherme Peña de. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2008
positivas aos indivíduos. Esses direitos são referentes à educação, saúde,
social
4
Já no tocante à previsão constitucional de que os direitos fundamentais são limites
materiais à reforma constitucional, muito embora o texto do artigo 60, parágrafo 4º, IV
mencione os direitos individuais e coletivos, igualmente (e no nosso sentir com razão)
acabou prevalecendo — ao menos por ora e a despeito de diversas posições em sentido
contrário, em especial no plano doutrinário — uma exegese extensiva, no sentido de que
todos os direitos fundamentais são cláusulas pétreas, isso mediante uma leitura teleológica
e sistemática e que busca evitar um casuísmo inevitável pautado pelo entendimento de que
apenas determinados direitos possam limitar o poder de reforma, tendo em conta a sua
natureza e conteúdo material. Mesmo o STF por ora, pelo menos após a promulgação da
CF, não afastou a condição de cláusula pétrea em relação a algum direito fundamental, seja
civil e político, seja social, sem deixar de corretamente reconhecer que tal qualidade não
afirma o caráter absoluta, ou seja, imune a limites e restrições, dos direitos fundamentais,
mas, sim, lhes outorga uma proteção reforçada que blinda o seu núcleo essencial.
complexa da compreensão da proteção aos direitos fundamentais assegurada como
“No que tange à inclusão dos direitos sociais no elenco das cláusulas pétreas,
mercado de trabalho (em violação ao art. 7º, XXX, CF/1988), visto que o empregador
pois no período de gozo da licença teria que pagar a diferença entre os valores da
5
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 3 ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2003.
considerado um benefício previdenciário, e, por conseguinte, um direito social. Tão
importante quanto o que se acabou de expor foi a circunstância de o STF não haver
homens e mulheres com igual consideração e respeito. Resta nítido, portanto, que o
STF não atribuiu a condição de cláusula pétrea pela sua formal positivação no título
concluir que, embora o STF não tenha afirmado, explicitamente, que os direitos
sociais são cláusulas pétreas, o acórdão em exame sugere que o órgão de cúpula
que,
dos direitos que convalidam a possibilidade de sua existência, e com isso, temos
8
A eficácia dos Direitos Fundamentais, 2005, p. 221-222
9
Goddard, Jorge Addame. Naturaleza, Persona y Derechos Humanos In: Cuadernos
Constitucionales México-Centroamérica n° 21, 1996, p. 150-154: Do ponto de vista jurídico,
a dignidade da pessoa fundamenta a grande diferença de tratamento entre as pessoas e as
coisas. As coisas (qualquer ser corpóreo, incluindo seres vivos), como não têm domínio de
si, podem ser objeto do domínio de outros e podem ser, em conseqüência, objeto dos atos
jurídicos: podem ser comprados e vendidos, arrendados, cedidos, doados, etc; ao contrário,
as pessoas não podem ser objeto de domínio nem podem ser objeto de um ato jurídico. Por
3. LIMITES DO PODER CONSTITUINTE REFORMADOR EM PROPOR
EMENDAS QUE MODIFIQUEM TEXTO CONSTITUCIONAL ATINENTES
AS CLÁUSULAS PÉTREAS
materiais.10
própria jornada evolutiva dos direitos fundamentais , estaria por colocar óbice na
isso se diz que a pessoa é inalienável [...] É uma dignidade que todos possuem pelo simples
fato de terem a natureza humana, independentemente de qual seja o grau de
desenvolvimento ou de perfeição de cada pessoa em particular. A têm os homens a mesma
que as mulheres, as crianças a mesma que os adultos, o estrangeiro igual à dos nacionais
[...] em suma, a tem qualquer ser humano, porque seja qual for o seu desenvolvimento ou
grau de perfeição, é um ser corpóreo de natureza racional ou, como se tem preferido dizer,
é um espírito encarnado" [tradução livre].
10
Curso de Direito Constitucional. p.55
11
Curso de Direito Constitucional. p.55
ao vasto plexo de direitos fundamentais, todos imprescindíveis à plena realização
posição que firmamos compartilhar, que as cláusulas pétreas não são reduzidas
somente ao rol dos direitos individuais, mas de forma extensivo a todo o rol de
não podendo assim deliberações que contrarie tais princípios imutáveis, posição
das cláusulas pétreas assume, desde logo, uma dúplice função, já que protege os
12
PUCCINELLI JUNIOR, André. Curso de Direito Constitucional. 5ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2015. p. 262
13
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Do Processo Legislativo. 3ª ed. São Paulo:
Saraiva, 1995, p. 286
14
PINTO FERREIRA, Luís. Da Constituição, 1956, p.100-101.
também os princípios neles constituídos, não podendo estes ser esvaziados por uma
reforma constitucional.15
Entendimento esse firme do STF e de grande parte da doutrina, não estando assim
CONCLUSÃO
Após tentar, de forma sucinta, trazer a baila o debate sobre serem ou não os
podemos com toda certeza posiciona-los como cláusula pétreas, concluindo tal
assertiva juntamente com a posição adotada pelo nosso STF e pela grande maioria
da doutrina dominante.
15
MIRANDA, JORGE. Manual de Direito Constitucional, vol II, 1988, p. 155.
16
José Joaquim Gomes Canotilho, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, [19 _
_], p. 1135.
Dessa forma, temos que o poder constituinte reformador, deve trabalhar
dentro de seus limites impostos pelo próprio texto constitucional e pelos valores do
coletiva e de toda a carga de direitos que derivam uns dos outros e que sem isso
não seria possível manter uma sociedade democrática como a que buscamos com
tanto afinco, não podendo assim apenas tratar como cláusulas pétreas o rol taxativo
REFERENCIAS:
LEIVAS, Paulo Gilberto Cogo. Teoria dos direitos fundamentais sociais. Porto
Alegre: Sergio Fabris, 2006.
PINTO FERREIRA, Luís. Da constituição, 2. ed. Rio de Janeiro: José Konfino, 1956