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A classe trabalhadora no mundo contemporâneo não é composta apenas por pessoas que

têm vínculos formais de emprego. A chamada uberização do trabalho avança em várias


categorias que inserem-se na lógica de prestação de serviços digitais; é o mascaramento
de relações assalariadas, que assumem a aparência do trabalho do empreendedor ou do
trabalho do prestador de serviços. São trabalhadores que seguem o que na Inglaterra se
chama “o contrato de zero hora”, isto é, são modalidades de trabalho intermitentes, em que
os trabalhadores são chamados a trabalhar, e só recebem por aquelas horas que
trabalham.

O perfil das pessoas que trabalham por aplicativo é de jovens que vivem em periferias, não
tem uma renda econômica favorável e para muitos é o primeiro emprego. Dessa forma, a
remuneração desses serviços de aplicativo acaba sendo uma complementação na renda,
mas para muitos é a sua única fonte de sustento, transformando em uma válvula de escape.

Apesar das empresas de aplicativo considerarem esses trabalhadores autônomos, há


muitos indícios nessas relações que dizem o contrário. Por exemplo, o motorista não
estipula o preço dele mas a quantidade de corridas e horas trabalhadas, se ele ficar inativo
ou recusar até três corridas ele será punido, ficando sem receber mais pedidos por um
tempo, ou seja, o algoritmo é que está ditando as regras.

No âmbito jurídico, talvez o caminho não seja reconhecer o vínculo empregatício nos
moldes da CLT, pois essas relações discutem os quatro elementos que estão no artigo
terceiro da CLT: continuidade, onerosidade, pessoalidade e subordinação, em que este
último é o principal motivo de debates sobre se o trabalhador é subordinado ou autônomo.
Porém, não exclui o fato de que trata-se de uma relação precarizada que necessita de uma
regulamentação específica para que haja elementos mínimos civilizatórios e de dignidade
nas condições de trabalho. Pois esses trabalhadores não têm direito a férias, décimo
terceiro e carteira assinada, portanto, precisam de amparos de uma legislação trabalhista
que dê mais segurança e estabilidade para eles

Em um caso jurídico envolvendo um processo de um motorista contra uma empresa de


aplicativo, o Superior Tribunal de Justiça concluiu que o processo não podia ser
considerado trabalhista, pois os motoristas de aplicativos prestam seu serviço sem horários
pré-estabelecidos e não recebem salários fixos, o que descaracteriza um vínculo
empregatício. Ademais, o debate não é tão simples assim, há países que já consideram
essa nova forma de trabalho, como autônomo. De toda forma, novos casos surgirão, e se a
justiça do Trabalho ou o Superior Tribunal de justiça não definir os limites da relação de
trabalho, que vai ser julgada pela justiça do Trabalho, o debate ainda estará em aberto para
essa discussão

Os direitos desaparecem pois a relação entre o empregador e o trabalhador ou trabalhadora


não existe, dessa forma, tem-se a falsa ideia de um empreendedor, ou seja, de um
trabalhador que é dono do seu instrumento de trabalho, mas que, na verdade estamos
entrando em uma era de informacional-digital. Isso é reflexo de um mundo em que a
tecnologia não tem valores humanos ou societais e sim um sentido de valorizar e ampliar a
riqueza das grandes corporações. Por conseguinte, as empresas ganham seus lucros e
retornam esses lucros para o serviço e não para as melhorias das condições de trabalho. O
resultado disso é que nós temos uma heterogeneidade muito grande do trabalho, mas com
um traço em comum que é a tendência à precarização.

Muitos trabalhadores preferem ser autônomos, mas no sentido literal da palavra e não um
mero subordinado iludido que segue ordem de um algoritmo de aplicativo.

Há no Brasil o destaque de grupos como o "trabalhadores antifascistas" que lutam pelos


seus direitos nesse contexto de uberização, no entanto existem muitos grupos dispersos ou
pulverizados, seja por falta de organização ou de líderes, porém como muitos fatos
históricos há em comum o fator imprevisibilidade, tem-se no Brasil uma nova morfologia de
classe trabalhadora, em que, por exemplo, a explosão do proletariado de serviço da era
digital é o elemento quantitativo e qualitativamente mais importante, e que vai ser
responsável por muitas lutas sociais.

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