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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO


CURSO DE DIREITO

GUILHERME ALLGAYER

TRABALHO I:
Uberização

Novo Hamburgo
2022
GUILHERME ALLGAYER

TRABALHO I:
Uberização

Trabalho apresentado para a disciplina


Direito do Trabalho II, pelo Curso de
Direito da Universidade do Vale do Rio
dos Sinos – UNISINOS, ministrada pela
professora Raquel von Hohendorff.

Novo Hamburgo
2022
2

O texto “UBERIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO — AS TECNOLOGIAS


DISRUPTIVAS COMO PADRÃO DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NO SÉCULO XXI”, constrói
e explica, ponto a ponto, que existe vínculo empregatício nas relações pós-modernas de trabalho
baseadas em tecnologias disruptivas – representadas, ora, pelo modelo de organização laboral
utilizado pela plataforma Uber (por isso, Uberização, vez que a empresa representa arquétipo
desse modelo) – já que fazem-se presentes todos os elementos fáticos-jurídicos da relação de
emprego, devendo estar (essas relações), portanto, obrigatoriamente amparadas pelo manto
protetivo do Direito do Trabalho, consoante restará sintetizado a seguir.

Pois bem, após salientar a importância do Direito do Trabalho como ferramenta


reguladora do mercado de trabalho, que visa, principalmente, preservar a dignidade do
trabalhador (por meio da aplicação de princípios, direitos fundamentais e estruturas normativas)
ao longo do processo evolutivo-histórico capitalista, o autor começa a composição dos
argumentos para sustentar sua tese:

Conforme se infere do referido artigo, a análise da existência de vínculo de emprego


nesse modelo de negócios deve passar, primordialmente, pelo crivo do princípio da primazia da
realidade sobre a forma, suscitando que, para tal, deve-se verificar a presença dos elementos
fáticos-jurídicos da relação empregatícia, quais sejam: ser pessoa física; a pessoalidade; a não
eventualidade, a onerosidade e a subordinação; passando por uma análise de cada item.

Assim, o estudo de caso demonstra, primeiramente, a presença do elemento da


pessoa física e pessoalidade no modelo da Uber, porquanto existe não só um processo
admissional tradicional, com apresentação de diversos documentos que caracterizam a pessoa
física e seu histórico; mas também o fato de um motorista cadastrado não poder ceder sua conta
para pessoa não cadastrada, configurando um vínculo personalíssimo com cada motorista.

Posteriormente, é analisada a onerosidade, que é entendida como, objetivamente, o


mero pagamento ou retribuição pela prestação do serviço; e subjetivamente, como a expectativa
do trabalhador de ser recompensado pela força de trabalho fornecida. No caso, a onerosidade é
elemento inafastável, tendo em vista que o motorista se cadastra na expectativa de
remuneração, que por sua vez é satisfeita pela empresa, que o gratifica, inclusive por meio de
recompensas extras à renda básica oriunda do transporte.

A seguir, o texto demonstra (sob a óptica da teoria dos fins do empreendimento,


combinada com a teoria da eventualidade), que no modelo em tela não há de se falar em
eventualidade, visto que, do motorista é exigido (sob pena de inatividade/afastamento) ficar a
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disposição da demanda intermitente pelos serviços de transporte, que, realisticamente, constitui o


próprio objetivo social da empresa.

Não obstante, remanesce inegável, também, a subordinação existente no elo em


questão, pois a narrativa de que os motoristas têm flexibilidade e independência, fazem seus
horários e prestam seus serviços como bem entenderem, cai por terra ao se considerar as
obrigações impostas (ainda que, por vezes, de forma velada) e a passibilidade de sanções que a
empresa utiliza para manter seu controle organizacional, ao impor inúmeros regramentos que, se
desrespeitados, podem resultar na perda do acesso ao aplicativo, por exemplo.

Neste diapasão, insta mencionar o acórdão recente da 3ª Turma do TST1, no qual


aduz o relator Maurício Godinho Delgado, em voto favorável ao reconhecimento de vínculo
empregatício entre o motorista e a Uber, que por não haver legislação específica que regule a
matéria, é preciso algum tipo de proteção aos trabalhadores por aplicativos, ainda que não
necessariamente a CLT futuramente, mas uma legislação mínima que assegure direitos a essa
categoria.

No entendimento do relator, existem elementos que configuram o vínculo


empregatício entre a Uber e o motorista, como a própria subordinação, já que a plataforma cria
ordens objetivas a serem seguidas pelos trabalhadores cadastrados.

Ante todo o exposto (de forma muito mais detalhada no texto original), tem-se que a
Uber (e afins), em uma tentativa de afastar-se da posição de empresa de transportes (contratante
e devedora de direitos trabalhistas), faz forte uso do marketing para se apresentar como uma
empresa de tecnologia e mero vetor entre motorista autônomo (em tese) e passageiro, evocando
a ideia da economia de compartilhamento, ao passo em que visa, na realidade, maximizar lucros
às custas da extração excessivamente onerosa da força de trabalho.

Por fim, a partir da leitura do texto supramencionado, acrescido do que se depreende


do acórdão trazido, conclui-se que resta evidente a existência de vínculo empregatício nas
relações estabelecidas com trabalhadores de aplicativos e assim, consequentemente, deve haver
a observância dos direitos celetistas, de maneira indispensável, dado que, da sua inobservância,
implicaria a ameaça a direitos fundamentais, resguardados pela Constituição Federal e defendidos
pelos próprios princípios do Direito do Trabalho.

1
(TST - RR: 1003530220175010066, Relator: Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento:
06/04/2022, 3ª Turma, Data de Publicação: 11/04/2022)

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