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INSTITUTO UNIVITÓRIA

O VÍNCULO DE EMPREGO DO MOTORISTA AUTÔNOMO FRENTE


A PROCEDÊNCIA DA ADC48 STF

OLIVEIRA, Rodrigo
SUMÁRIO

1. Introdução; 2. Desenvolvimento; 2.1. Conceitos da relação contratual


de prestação de mão de obra; 2.2. Das características da relação de
emprego; 2.2.1. Quem é o empregador e o empregado?; 2.2.2. Quem é o
prestador de serviços autônomo?; 2.3. O Transportador Autônomo de Cargas;
2.4. A Ação Declaratória de Constitucionalidade – ADC 48 e sua repercussão
no mundo dos fatos; 2.5. O que observar na aplicação da Lei 11.442/2007 a
fim de afastar o vínculo de emprego?; 3. Conclusão; Referências
RESUMO

O presente artigo tem o objetivo de analisar o reconhecimento do


vínculo de emprego do motorista autônomo frente a procedência da Ação
Declaratória de Constitucionalidade - ADC48 STF. Traz, como tema principal,
os requisitos necessários descritos na Lei 11.442/2007 que identificam o
Transportador Autônomo de Cargas – TAC e o não reconhecimento do
vínculo de emprego, conforme procedência da Ação Declaratória de
Constitucionalidade 48 STF, afastando o julgamento pela Justiça
Especializada. Realizado através de um estudo exploratório, explicativo e
abordagem qualitativa; fundamentando-se em análise bibliográfica. No escopo
geral o artigo descreve, através de autores e documentos jurídicos, a análise
do conceito de contrato de prestação de mão de obra, as características da
relação de emprego, definindo o que é empregador e o que é empregado,
demonstrando também o que é um prestador de serviço autônomo.
Conceitua-se o transportador autônomo de cargas e suas características
básicas. Detalha-se a Ação Declaratória de Constitucionalidade – ADC 48 e
sua repercussão e, ao final, esclarece quais os principais cuidados na
aplicação da Lei 11.442/2007 frente a ADC 48 para se evitar o
reconhecimento do vínculo de emprego pelo motorista autônomo de cargas.
Palavras-chave: Empregador. Empregado. Vínculo de Emprego.
Transportador Autônomo de Cargas. Motorista Autônomo. Motorista-
funcionário. Lei 11.442/2007. Ação Declaratória de Constitucionalidade 48.
1. INTRODUÇÃO

Em 05 de janeiro de 2007 tivemos uma inovação legislativa no que se


refere ao transporte rodoviário de cargas por transportadores autônomos, com
a publicação da lei 11.442/2007. Esta, que revogou a já arcaica lei 6.813 de
10 de julho de 1980, trouxe um rol taxativo caracterizando o transportador
autônomo de cargas - TAC.
O conflito instalado entre a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e
a Lei 11.442/2007, esta que trata especificamente da condição do TAC, gerou
uma grande insegurança jurídica. Estas leis, de caráter infraconstitucional,
tratam de relações de prestação de mão de obra, a primeira sob a ótica da
função social do trabalho e a proteção ao hipossuficiente, calcada na
subordinação jurídica, já a segunda, legitimada no princípio constitucional da
livre concorrência, ambos insculpidos no artigo 1ª da Carta Magna. A
insegurança foi tamanha que fora levado ao Supremo Tribunal Federal – STF
para que dirimisse a divergência, a qual resultou no julgamento da Ação
Declaratória de Constitucionalidade – ADC de número 48, definindo
parâmetros para validade da norma legal. Assim, discorreremos neste artigo
científico sobre o vínculo empregatício do motorista autônomo frente a
procedência da ADC48 STF.
Neste diapasão, o presente artigo encontra-se dividido em cinco
tópicos principais: o primeiro tópico trata sobre os conceitos da relação
contratual de prestação de mão de obra; o segundo quais são as
características da relação de emprego e quem é o empregador e o
empregado, bem como quem é o prestador de serviços autônomo; trataremos
também, em item específico quais são as características do Transportador
Autônomo de Cargas; traremos também o que foi tratado na Ação
Declaratória de Constitucionalidade – ADC 48 e sua repercussão no mundo
dos fatos; e por fim o que observar na aplicação da Lei 11.442/2007 a fim de
afastar o vínculo de emprego do TAC.
Cabe referir que este é tema de extrema importância tanto na ótica
jurídica bem com de ordem comercial, pois a insegurança jurídica dificultava a
contratação de mão de obra especializada no serviço de transporte, além de
superlotar o sistema judiciário de ações com pedidos de reconhecimento de
vínculo empregatício.
Este estudo está fundamentado em uma análise bibliográfica e procura
verificar os reflexos da procedência da Ação Declaratória de
Constitucionalidade frente as ações fundadas em pedido de reconhecimento
de vínculo de emprego entre TAC e Empresa de Transporte de Cargas – ETC
e sua aplicação no mundo dos fatos.

2. DESENVOLVIMENTO

1.1. Conceitos da relação contratual de prestação de serviços

De início, devemos conceituar o que é prestação de mão de obra sem


entrarmos nos pormenores de sua vinculação. De acordo com o dicionário
Michaelis:
Mão de obra: a) trabalho manual usado na execução de algo ou na
fabricação de um produto; b) custo desse trabalho; c) ECON custo do trabalho
manual na indústria; d) ECON a atividade humana para fins de produção; e)
ECON conjunto de pessoas assalariadas aptas para o trabalho,
especialmente dos trabalhadores manuais; f) COLOQ: tarefa ou trabalho
1
complicado, que normalmente requer esforço e muito afinco.

1
MÃO DE OBRA. In: MICHAELIS moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos.
Disponível em: <https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/mao>. Acesso em:
22 de jan. 2024.
Conforme define Carlos Roberto Gonçalves, “Contrato é um acordo de
vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar,
transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos”2
Partindo dessas premissas, podemos nos deparar por inúmeras formas
de contratação desta mão de obra, como a regida pela Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), a prestação de mão de obra autônoma, cooperativas de
trabalho, trabalhadores avulsos, trabalhadores temporários, entre outras. Aqui
iremos nos ater nos dois primeiros casos.
A mão de obra regida pela CLT, Consolidação instituída pelo Decreto
Lei 5.452/19433, recentemente reformada pela Lei 13.467/20174, onde
comumente chamamos de vínculo empregatício, possuí todas as proteções
do empregado, baseados no princípio da dignidade humana, consagrado na
Constituição de 19885, o princípio da proteção do trabalhador, bem como os
direitos e deveres de empregados e empregadores. Assim, há requisitos
basilares, os quais verificados através da primazia da realidade laboral, para
que haja o reconhecimento deste vínculo de emprego, entre empregado e
empregador, previstos principalmente nos arts. 2º e 3º da CLT.
De outra banda, a prestação de mão de obra autônoma está regida sob
o olhar do princípio constitucional da livre iniciativa, instituído no seu art. 1º da
CF/1988. Dentro dessa categoria está o chamado Transportador Autônomo
de Cargas (TAC), regido pela lei 11.442/2007 6. Assim, fácil verificarmos que
há um conflito normativo constitucional, onde precisaremos utilizar o princípio
da proporcionalidade, implícito na norma constitucional.

2
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 14ª ed. São Paulo: Saraiva,
2017. p. 22.
3
BRASIL. Decreto-lei n.º 5.452, de 1° de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 22 de janeiro de 2024.
4
BRASIL. Lei n.º 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada
pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis n º 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de
maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho.
Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm>. Acesso em: 22 de
janeiro de 2024..
5
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 10 março 2021.
6
BRASIL. Lei 11.442, de 5 de Janeiro de 2007. Dispõe sobre o transporte rodoviário de cargas por conta de
terceiros e mediante remuneração e revoga a Lei n o 6.813, de 10 de julho de 1980. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 08 Janeiro 20007. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11442.htm>. Acesso em: 23 de janeiro de 2024..
Desta forma, de um lado temos a proteção ao trabalhador e aos
direitos sociais, de outro, o direito a livre iniciativa e livre concorrência, os
quais foram discutidos na Ação Declaratória de Constitucionalidade 48 (ADC
48)7. Tal ADC 48 traz a baila a discussão sobre a terceirização da atividade-
fim, regulamentada pela reforma trabalhista, e a constitucionalidade da Lei
11.442/2007.

1.2. Das características da Relação de Emprego

2.2.1 – Quem é o empregador e o empregado?

Para caracterizarmos uma relação de emprego, reconhecendo o


vínculo empregatício entre os atores da relação, devemos preencher alguns
requisitos previstos nos artigos 2º e 3º da CLT, in verbis:
Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva,
que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a
prestação pessoal de serviço.
Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar
serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e
mediante salário.8 Grifo do autor.
Nestes artigos citados, conseguimos determinar as partes envolvidas,
mediante suas características na relação contratual, seus direitos e deveres,
sua relação de dependência, demonstrando uma relação hierárquica vertical.
Em uma breve síntese, conforme descreve Maurício Godinho Delgado,
Evidentemente que a palavra trabalho, embora ampla, tem uma
inquestionável delimitação: refere-se a dispêndio de energia pelo ser humano,
objetivando resultado útil (e não dispêndio de energia por seres irracionais ou
pessoa jurídica). Trabalho é atividade inerente à pessoa humana, compondo
o conteúdo físico e psíquico dos integrantes da humanidade. É, em síntese, o
7
DISTRITO FEDERAL. Supremo Tribunal Federal. Ação Declaratória de Constitucionalidade 48, Plenário do
STF, Distrito Federal DF, DJ: 22-04-2020. Relator: Min. Roberto Barroso. Disponível em:
<https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5245418>. Acesso em: 22 de janeiro de 2024..
8
BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho: Decreto-lei n.º 5.452, de 1° de maio de 1943. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 22 de janeiro de 2024.
conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce para
atingir determinado fim.9
Neste ínterim, configura-se como empregador todo pessoa, podendo
ser física ou jurídica, que assume os riscos do negócio, bem como aufere
lucro com a mão de obra sob sua responsabilidade. Nestas palavras, define
Adriana Calvo,
Logo, a noção jurídica de empregador é relacional à de empregado, uma
vez encontrada uma pessoa física que presta serviços como empregado, a
pessoa que o contratou será considerada empregador, seja esta pessoa
física, pessoa jurídica ou ente despersonalizado (Calvo, 2020).10

Assim, qualquer pessoa, física ou jurídica, que tenha a si subordinada


pessoa física, sob sua subordinação jurídica recebendo em pecúnia a força
desprendida, será considerado empregador. Importante reforçar que o
empregador sempre será o responsável pelo negócio, a condução e
direcionamento dos rumos da instituição.
Na outra extremidade, temos o empregado. Aqui o legislador se
ocupou de protegê-lo devido à disparidade de armas, a hipossuficiência, além
dos preceitos fundamentais da dignidade da pessoa humana, a melhoria da
condição social do empregado, além de outros que subsidiarão, os quais
insculpidos na Constituição Federal de 1988.
O empregado terá como características a pessoalidade, a
subordinação, a onerosidade e a não eventualidade – aqui devemos ter um
grande cuidado para diferenciarmos de empregados intermitentes. A
pessoalidade se caracteriza com o contrato personalíssimo. O indivíduo é
contratado por suas características pessoais e/ou intelectuais, não podendo
se fazer substituir por outro estranho na relação, ou seja, não se pode enviar
um familiar em seu lugar para desempenhar a função, mesmo que tenha as
mesmas – ou superiores – capacidades técnicas.
A subordinação estará demonstrada na relação hierárquica, vertical. É
o chamado poder de mando do empregador, ao qual o empregado tem o
dever de cumprir as ordens emanadas daquele – com algumas exceções. Ou
9
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da reforma
trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais posteriores. 18. ed. São Paulo: LTr, 2019. p. 333
10
CALVO, Adriana. Manual de direito do trabalho. 5ª. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 187
seja, é o dever de obediência ao empregador. Essa subordinação se
apresenta quando o empregador determina que devida atividade deverá ser
cumprida por empregado específico11.
A onerosidade é a troca da força (física ou intelectual) dispendida pelo
obreiro em favor do empregador, pela respectiva vantagem econômica,
podendo ser pecuniária ou in natura. Nas palavras de Maurício Godinho
Delgado,
Desse modo, ao valor econômico da força de trabalho colocada à
disposição do empregador deve corresponder uma contrapartida econômica
em benefício obreiro, consubstanciada no conjunto salarial, isto é, o
complexo de verbas contraprestativas pagas pelo empregador ao
empregado em virtude da relação empregatícia pactuada (Delgado, 2019).12

Ou seja, é a percepção de pagamento pelo trabalho desempenhado.


Já quando referir-se à não eventualidade, devemos observar quanto a
habitualidade quanto a prestação do trabalho, conforme a definição de Vólia
Bonfim Cassar quanto ao tema,
O termo “não eventual”, quando relacionado ao Direito do Trabalho, no
ponto referente ao vínculo de emprego do urbano e do rural, tem conotação
peculiar, pois significa necessidade permanente da atividade do trabalhador
para o empreendimento (...), seja de forma contínua (...) ou intermitente
(…).13
Infere-se então, ser o compromisso que terá o empregado com o
empregador na frequência pactuada.
Após essa breve explanação dos envolvidos, conseguiremos identificá-
los na relação jurídica, sendo fundamental para o desenvolvimento do
negócio e a segurança jurídica, pois se saberá quais os deveres e direitos de
cada um.

2.2.2 – quem é o prestador de serviços autônomo?

Importantíssimo diferenciar de empregado e empregador esta figura


muito comum desde os primórdios da humanidade 14, o prestador de serviços
11
DELGADO, op. cit., p. 348
12
DELGADO, op. cit., p. 345
13
CASSAR, Vólia Bomfim. Resumo de direito do trabalho. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2018. p. 52
14
CALVO, Adriana. Manual de direito do trabalho. 5ª. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 109
autônomo. Este ator se caracteriza por não possuir nenhum vínculo de
emprego com o tomador de serviços, isso quer dizer que ele não possuí
nenhuma fidelização com o contratante, bem como a pessoalidade, podendo
se fazer substituir a pessoa física que executa a atividade por outra,
mantendo a execução da atividade contratada, assim podendo prestar seus
serviços específicos a quem lhe melhor lhe interessar.
Mesmo em se tratando de serviço pactuado com pessoa natural, é
muito comum o trabalho autônomo sem infungibilidade quanto ao prestador.
Um serviço cotidiano de transporte escolar, por exemplo, pode ser contratado
ao motorista do veículo, que se compromete a cumprir os roteiros e horários
prefixados, ainda que se fazendo substituir eventualmente por outro(s)
motorista(s). A falta de pessoalidade, aqui, soma-se à ausência de
subordinação, para distanciar essa relação jurídica de trabalho da figura
empregatícia da CLT, mantendo-a no âmbito civil (art. 1.216, CCB/1916; art.
594, CCB/2002)15.
O que há entre estes é uma relação comercial disciplinado pelo Código
Civil, no seu artigo 59416, onde após pactuação de contrato, que pode ser por
empreitada, por tempo determinado, etc.; a atividade/serviço a ser
desempenhado, com o valor acertado para sua execução e prazo de
pagamento17.
Logo, a principal característica dessa modalidade contratual é a
autonomia jurídica, onde este após a prestação do serviço pactuado está livre
para prestar serviços a outro contratando, deferindo-se do empregado.
1.3. O Transportador Autônomo de Cargas

Uma das realidades do transporte de cargas no Brasil, devido ao seu


tamanho continental e a grande sazonalidade do mercado, é a terceirização.
Com um mercado muito flutuante, empresas transportadoras ou de logística,

15
DELGADO, op. cit., p 399
16
BRASIL. LEI Nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Institui o Código Civil. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em 23 de janeiro de 2024.
17
MALHEIRO, Guilherme Silva Bastos. Da distinção doutrinária entre relação de trabalho e relação de emprego.
In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVII, n. 126, jul 2014. Disponível em:<http://www.ambitojuridico.com.br/site/?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14928>. Acesso em 22 de janeiro de 2024.
por vezes, contratam motoristas autônomos para realizar parte do transporte
de mercadorias as quais com seus veículos e empregados próprios não
dariam vazão. De acordo com a Agência TRANSPORTA Brasil, em notícia
publicada no dia 13 de agosto de 2020, àquela data, o Brasil contava com
695.593 transportadores autônomos, com uma frota de 836.988 veículos 18. O
Transportador Autônomo de Cargas (TAC) possui características especiais,
trazidos pela Lei 11.442/2007, como ser proprietário ou arrendatário do
veículo, a assunção de todos os riscos da atividade como se empregador
fosse, ou seja, os custos com manutenção do veículo, combustíveis,
eventuais pedágios, impostos, etc, e não estão subordinados a horários da
contratante. Sua remuneração se dá através dos serviços prestados, pré
combinados. Assim, verifica-se a total flexibilidade de sua relação,
possibilitando prestar seus serviços a quem melhor lhe convier. Para tanto,
imprescindível seu cadastro prévio no Registro do Transportador Rodoviário
de Cargas (RNTRC) na modalidade de Transportador Autônomo de Cargas
(TAC), obrigatoriedade dada pela resolução nº 3056/2009 19 da Agência
Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), que tem por finalidade identificar e
regulamentar o transporte de cargas no Brasil.
Quando empresas de transporte ou de logística excedem a sua
capacidade própria, realiza a contratação do transportador autônomo. Nesta
contratação é delimitada todas as cláusulas de responsabilidade do
contratante e contratado, identificando destino, rotas, valores de frete (valor
atribuído ao transporte de mercadorias) e seu prazo de pagamento,
determinação de eventuais pontos de parada, e demais pormenores que cada
tipo de transporte possa conter. Embora este tipo de prestação de serviço se

18
ANDRADE, Leonardo Helou Doca de. Autônomos têm caminhão duas vezes mais velho que empresas no
Brasil. Agência TRANSPORTA Brasil, 2020. Disponível em:
<https://www.transportabrasil.com.br/2020/08/autonomos-tem-caminhao-duas-vezes-mais-velhos-que-empresas-
no-brasil/#:~:text=Os%20n%C3%BAmeros%20da%20ANTT%20mostram,caminh%C3%B5es%20registrados
%20%C3%A9%202.209.440>. Acesso em: 22 de janeiro de 2024.
19
BRASIL. Agência Nacional de Transporte Terrestre – ANTT. Resolução Nº 3056, de 12 de março de 2009.
Dispõe sobre o exercício da atividade de transporte rodoviário de cargas por conta de terceiros e mediante
remuneração, estabelece procedimentos para inscrição e manutenção no Registro Nacional de Transportadores
Rodoviários de Cargas - RNTRC e dá outras providências. Disponível em
<https://anttlegis.antt.gov.br/action/ActionDatalegis.php?
acao=detalharAto&tipo=RES&numeroAto=00003056&seqAto=000&valorAno=2009&orgao=DG/ANTT/
MT&codTipo=&desItem=&desItemFim=&cod_menu=5408&cod_modulo=161&pesquisa=true>. Acesso em 26 de
janeiro de 2024.
caracteriza pela eventualidade e principalmente pela não subordinação e a
impessoalidade do motorista, isto é, este pode-se fazer substituir por outro
que detenha as mesmas habilitações, certos pontos devem ser pactuados de
forma mais específica, pois a maioria das grandes transportadoras possuem
sistemas de gerenciamento de riscos atrelados ao contrato de seguro de
cargas, os quais por medida de segurança devem ser seguidos, não
caracterizando subordinação do transportador autônomo.
Ao final deste transporte, com a entrega da mercadoria ao seu destino,
o contrato se perfectibiliza, estando novamente o transportador autônomo
livre para nova negociação de transporte.
Diante de tais características se verifica a total autonomia do motorista
autônomo, sendo que a ele compete a escolha de a quem prestar seus
serviços, pois responsável pelo sucesso do seu negócio.

1.4. A Ação Declaratória de Constitucionalidade – ADC Nº48 e sua


repercussão no mundo dos fatos

Devido a enorme insegurança jurídica acerca do reconhecimento, ou


não, do vínculo empregatício do motorista transportador autônomo de cargas,
a Confederação Nacional do Transporte (CNT), entidade que defende os
interesses do setor do transporte, no dia 19 de agosto de 2017 propos Ação
Declaratória de Constitucionalidade, que leva o número 48 – ADC 48 20, a fim
de uniformizar o entendimento acerca da Lei 11.442/2007 frente a
Consolidação das Leis do Trabalho. De acordo com a parte autora (CNT),
estaria a Justiça do Trabalho afastando e não reconhecendo a aplicabilidade
da lei específica (Lei 11.442/2007), declarando a presença da subordinação,
um dos principais requisitos da relação de emprego21. Embora já discutida
amplamente a possibilidade de terceirização tanto da atividade meio quanto
20
DISTRITO FEDERAL. Supremo Tribunal Federal. Ação Declaratória de Constitucionalidade 48, Plenário do
STF, Distrito Federal DF, DJ: 22-04-2020. Relator: Min. Roberto Barroso. Disponível em:
<https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5245418>. Acesso em: 10 de janeiro de 2024..
21
BRASIL Tribunal Superior do Trabalho. AIRR 0000273-86.2010.5.03.0044. Distrito Federal: Tribunal Superior
do Trabalho, [2017]. Disponível em:
<https://jurisprudencia-backend.tst.jus.br/rest/documentos/d761923c8ad163ad1969db3d81864722>. Acesso em:
22 de janeiro de 2024..
atividade fim, firmando o entendimento com a edição da Lei 13467/2017 22
denominada Reforma Trabalhista, que alterando a Lei 6.019/1973 23
corroborando com a uniformização da matéria, divergência que ainda
perdurava, a Lei 13467/2017, veio a autorizar expressamente tal
possibilidade, incluindo os artigos 4-A e 5-A na Lei 6.019/1973. A referida
ADC 48 unifica o entendimento de que a Lei 11.442/2007 é constitucional,
desde que sejam obedecidos os seus requisitos, principalmente o contido no
artigo 2ª, in verbis:
Art. 2º A atividade econômica de que trata o art. 1º desta Lei é de natureza
comercial, exercida por pessoa física ou jurídica em regime de livre
concorrência, e depende de prévia inscrição do interessado em sua
exploração no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas
- RNTR-C da Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT, nas
seguintes categorias:
I - Transportador Autônomo de Cargas - TAC, pessoa física que tenha no
transporte rodoviário de cargas a sua atividade profissional;
II - Empresa de Transporte Rodoviário de Cargas - ETC, pessoa jurídica
constituída por qualquer forma prevista em lei que tenha no transporte
rodoviário de cargas a sua atividade principal.
§ 1º O TAC deverá:
I - comprovar ser proprietário, co-proprietário ou arrendatário de, pelo
menos, 1 (um) veículo automotor de carga, registrado em seu nome no
órgão de trânsito, como veículo de aluguel;
II - comprovar ter experiência de, pelo menos, 3 (três) anos na atividade, ou
ter sido aprovado em curso específico.

Diante da imensa controvérsia acerca do caso concreto, foi deferido


em sede de liminar, exarada pelo Ministro Luís Roberto Barroso, relator da
presente ADC, a qual suspendeu todos os processos em tramitação que
versassem sobre o tema em discussão, ou seja, o reconhecimento do vínculo
de emprego do motorista terceirizado. Devido o caso ser de grande
repercussão, e por questão de prevenção, pois o referido Ministro já havia
julgado e extinto a ADI 3961 sem o julgamento do mérito por falta de
pertinência temática, ação que versava sobre a inconstitucionalidade do artigo

22
BRASIL. Lei n.º 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada
pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de
maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho.
Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm>. Acesso em: 18 de
janeiro de 2024..
23
BRASIL. Lei n.º 6.019, de 03 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho Temporário nas Empresas Urbanas,
e dá outras Providências. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6019compilado.htm.>.
Acesso em: 15 de fevereiro de 2024.
5º caput, da Lei 11.442/2007. Tal suspensão deveria perdurar até o
julgamento pelo Plenário da Suprema Corte.
Destarte, conforme depreende do julgado pela ADC, as palavras do
relator, Ministro Luís Roberto Barroso, vieram a clarear de forma muito
contundente a diferença entre o TAC e o motorista empregado, os princípios
constitucionais da Livre Iniciativa frente a Proteção ao Emprego, afastando
uma da outra. A obediência aos requisitos fundamentais, como o cadastro
prévio e espontâneo no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de
Cargas (RNTR-C) da Agência Nacional do Transporte Terrestre (ANTT), ser
proprietário ou arrendatário de veículo classificado na categoria de transporte
de cargas, bem como ter esta como sua profissão, afastará o vínculo de
emprego, mesmo havendo a não eventualidade. Vale ressaltar que uma das
categorias previstas na Lei 11.442/2007 é o TAC – Agregado. Esta categoria
mesmo possuindo exclusividade com a empresa transportadora, não gerará o
vínculo, pois faltará o elemento pessoalidade, pois o contratado no caso é o
veículo (serviço de transporte) e não o seu condutor, que poderá ser o próprio
proprietário ou seu preposto.
Neste ínterim, facilmente vislumbramos claramente a diferença entre o
motorista autônomo do motorista empregado. O primeiro deverá possuir o
cadastro prévio como TAC (junto a ANTT), ser proprietário/arrendatário ou
possuidor de veículo de carga, o qual suportará todos os riscos da sua
atividade econômica recebendo quantia certa por frete (serviço de transporte)
realizado, objetivado auferir lucro com a atividade desempenhada, prestando
seus serviços para quem melhor lhe convier. Já o segundo, será subordinado
à Empresa de Transporte de Cargas (ETC) ou outra qualquer, mediante
Contrato de Trabalho, contrato esse personalíssimo, pois o empregado fora
escolhido devido suas características técnicas específicas, o qual estará a
disposição do empregador no período determinado neste contrato, estando
subordinado às ordens emanadas do empregador, percebendo salário certo.
Com o julgamento da referida Ação Declaratória de
Constitucionalidade nº48, tem-se firmado a seguinte tese:
1 – A Lei 11.442/2007 é constitucional, uma vez que a Constituição não
veda a terceirização, de atividade-meio ou fim. 2 – O prazo prescricional
estabelecido no art. 18 da Lei 11.442/2007 é válido porque não se trata de
créditos resultantes de relação de trabalho, mas de relação comercial, não
incidindo na hipótese o art. 7º, XXIX, CF. 3 – Uma vez preenchidos os
requisitos dispostos na Lei nº 11.442/2007, estará configurada a relação
comercial de natureza civil e afastada a configuração de vínculo trabalhista.”24.
Destarte, respeitados os requisitos fundamentais contidos na Lei
11.442/2004, não há que se falar em reconhecimento do vínculo de emprego
entre o motorista autônomo de cargas e a empresa de transportes ou de
logística, e sim relação de prestação de serviços, afastando a Justiça
Especializada.

1.5. O que observar na aplicação da Lei 11.442/2007 a fim de afastar o


vínculo de emprego?

Por óbvio, que conforme todo o sistema jurídico brasileiro não é


interpretado de maneira absoluta, a presente decisão também terá sua
relativização, forjada nos princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
Conforme já relatado inúmeras vezes, está insculpido implicitamente como
expressamente nas páginas da Carta Magna a proteção ao trabalhador bem
como a livre iniciativa e concorrência, que devem ser observados de forma
objetiva. Na medida em que se apresenta no caso concreto 25, há sim, a
possibilidade de pender-se para um lado ou outro. Observa-se que anterior a
decisão exarada pela Suprema Corte em referência a matéria, havia uma
enorme insegurança jurídica, conforme aponta a pesquisa elaborada pelos
Doutores Advogados Flávio Henrique Unes Pereira e Marilda de Paula
Silveira, patronos da Confederação Nacional do Transporte (CNT), no
petitório que deu impulso à referida ADC. Em suas alegações, demonstram,
24
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Declaratória de Constitucionalidade nº 48. Plenário. Relator: Ministro
Roberto Barroso. Distrito Federal, 15 de abril de 2020. Disponível em
<http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5245418>. Acesso em 28 de janeiro de 2024. p. 10-11.
25
I. M. Coelho, Interpretação constitucional, p. 109 (apud LENZA, Pedro. Direito constitucional Esquematizado –
25. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2021. p. 265)
por exemplo, que no Tribunal Regional da 4º Região, 55% das decisões não
aplicavam a lei 11.442/2007 (não publicada)26.
A controvérsia, conforme se depreende das decisões judiciais é o
preenchimento dos pressupostos legais para caracterizar apenas a relação
comercial ou o vínculo de emprego. Trazemos a baila dois julgados da
mesma turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, a qual em
casos semelhantes possuem entendimentos diversos:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONTRADIÇÃO, OMISSÃO OU ERRO
MATERIAL INEXISTENTES. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. Embargos
de declaração que, sob alegação de omissão e/ou contradição ou erro
material, renova o debate sobre a matéria recursal devidamente enfrentada
na decisão embargada. (TRT da 4ª Região, 5ª Turma, 0021250-
51.2017.5.04.0004 ROT, em 16/12/2020, Desembargador Rosiul de Freitas
Azambuja)27
e,
EMENTA VÍNCULO DE EMPREGO. ÔNUS DA PROVA. A reclamada nega
o vínculo de emprego, mas admite a prestação de serviços, atraindo para si
o ônus probatório, na forma do artigo 373, II, do CPC c/c o artigo 818 da
CLT. O conjunto probatório ampara a tese do reclamante no sentido de que
se trata de vínculo de emprego, a relação mantida com a reclamada. (TRT
da 4ª Região, 5ª Turma, 0020473-32.2019.5.04.0801 ROT, em 22/09/2020,
Desembargador Manuel Cid Jardon).28

As duas decisões com citado anteriormente e facilmente se verifica em


sua identificação, foram proferidas pela 5ª turma do TRT da 4ª Região. Na
primeira, a sentença é reformada sob o argumento que a matéria já havia sido
pacificada pela Suprema Corte; já na segunda, o relator refere que, embora a
reconheça a existência da Lei em específico, a ETC reconhecendo a
prestação de serviços não foi capaz de comprovar um dos requisitos basilares
da Lei 11.442/2007 que se trata do prévio registro ao órgão competente
(ANTT), assim afastando a lei ordinária, consequentemente reconhecendo o
art. 3º da CLT, nos requisitos da habitualidade e pessoalidade.
Então, pelo que se observa, o que definirá se estamos diante de uma
relação comercial ou uma relação de trabalho é a subordinação jurídica e

26
Refere-se a petição inicial a qual deu início à Ação Declaratória de Constitucionalidade nº48, elaborada pelos
Doutores Advogados Flávio Henrique Unes Pereira e Marilda de Paula Silveira. Disponível em
<https://www.conjur.com.br/dl/inicial-adc-48.pdf> Acesso em 03 de março de 2024.
27
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho (4. Região). Acórdão 0021250-51.2017.5.04.0004. Porto Alegre:
Tribunal Regional do Trabalho (4. Região), [2020].
28
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho (4. Região). Acórdão 0020473-32.2019.5.04.0801. Porto Alegre:
Tribunal Regional do Trabalho (4. Região), [2020].
subsidiariamente a pessoalidade, a prévia inscrição no órgão competente, a
posse/propriedade de, pelo menos, um veículo de carga a ser comprovado
pelo interessado.
O vínculo entre o prestador de serviços/funcionário com a ETC terá
suas vantagens e desvantagens. O motorista da ETC ou empresa de logística
possui a pseudo estabilidade empregatícia, com todos seus “direitos” e
garantias, como salário fixo (eventualmente mais o variável), seguridade
social (I.N.S.S), fundo de garantia por tempo de serviço (FGTS), etc; mas não
possuí controle sobre destino quanto empregado, pois o empregador é quem
define o destino do motorista, de acordo com seu conhecimento das rotas
utilizadas pela empresa, com o poder de mando. Não resta outra alternativa
ao motorista-empregado que não seja subordinar-se ao definido pela
organização, pois cabe ao empregador o risco da atividade. Doutra banda, o
TAC possui sua autonomia, escolhendo a quem prestar seus serviços, as
rotas a trafegar, os valores a receber, o tempo que disporá àquele
contratante, ou seja, a quem lhe melhor convier, podendo inclusive ser
substituído por preposto. Assim, possui seus rendimentos variáveis, podendo
auferir maior ou menor renda, de acordo com suas decisões, pois a ele
compete o risco da atividade29.
Corrobora a tal diferenciação entre os tipos de contratos a Lei
13.103/201530, a qual altera consubstancialmente tanto a CLT quanto a Lei
11.442/2007. A Lei em comento (Lei 13.105/2015), através do artigo 6º,
modificou vários artigos da CLT que tratam da profissão de motorista
profissional empregado. Tais alterações reforçam a subordinação a
observância de jornadas de trabalho, as quais são controladas pelo
empregador. Já em relação a Lei 11.442/2007, a Lei parâmetro no seu artigo

29
SILVA, Luna Gonçalves da. O trabalho dos motoristas de caminhão: a relação entre atividade, vínculo
empregatício e acidentes de trabalho. Faculdade de Saúde Pública, 18 fev. 2011. Universidade de São Paulo,
Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (AGUIA). p. 153-157
30
BRASIL. Lei 13.103, de 2 de Março de 2015. Dispõe sobre o exercício da profissão de motorista; altera a
Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis
n º 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro, e 11.442, de 5 de janeiro de 2007
(empresas e transportadores autónomos de carga), para disciplinar a jornada de trabalho e o tempo de direção
do motorista profissional; altera a Lei nº 7.408, de 25 de novembro de 1985; revoga dispositivos da Lei nº 12.619,
de 30 de abril de 2012; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 02 de Março de 2015.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13103.htm> . Acesso em: 09 de
março de 2024.
15º, altera o artigo 4º e §§, bem como introduz o artigo 5º-A, tendo como
ponto chave a pessoalidade, e o sistema de pagamento dos fretes, os quais
deverão ser regulamentados pela ANTT.
Neste espeque, preliminarmente deverá a ETC definir qual o
tipo de contratação que deseja realizar a fim de cumprir com os requisitos
legais desta pactuação. A observação das formalidades darão legalidade aos
atos de acordo com o idealizado pela contratante, quer seja funcionário ou
prestador de serviços. Em se tratando de motorista funcionário, com
subordinação jurídica e habitualidade (à disposição do empregador no
período pactuado), deve-se observar a CLT, ou a Lei 11.442/2007 em se
tratando de motorista autônomo. O elemento fundamental para a
diferenciação de um ou outro será a observância principalmente da
subordinação jurídica e pessoalidade (contratação devido suas características
personalíssima – intuitu personae31)32 enquanto o contrato de prestação de
serviço de frete se caracteriza fundamentalmente pelo prévio e espontâneo
cadastro no órgão competente, qual seja, a ANTT, bem como ser possuidor
ou proprietário de, pelo menos, um veículo de carga, deter autonomia jurídica,
ou seja, não haver subordinação (poder de mando) entre ETC e TAC, a
relação jurídica de contratação será exclusiva do transporte da carga, sendo
indiferente quem seja o motorista (proprietário ou preposto deste). Estando
tais requisitos presentes, teremos total idoneidade contratual, afastando a
insegurança jurídica que se demonstrava até a uniformização da matéria na
Suprema Corte do Brasil.

3. CONCLUSÃO

31
De acordo com a plataforma de ensino Jurídico Trilhante, Contrato Intuitu Personae é o contrato de trabalho
faz nascer uma obrigação de natureza pessoal em relação ao trabalhador, ou seja, ele é moldado e formulado
em função desta pessoa determinada. Assim sendo, a obrigação de prestar serviços é infungível, não podendo o
empregado fazer-se substituir por outra pessoa sem o prévio consentimento do empregador. Falamos aqui de
uma obrigação personalíssima, portanto. Disponível em
<https://trilhante.com.br/curso/contrato-de-trabalho/aula/terminologia-e-caracteristicas-2>. Acesso em 07 de
março de 2024. Grifo do autor.
32
JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Q. P., Direito do Trabalho. 9ª. ed. São Paulo:
Atlas, 2019.
A pesquisa realizada para desenvolvimento deste artigo demonstrou
que não observar os requisitos da lei 11.442/2007, principalmente o seu artigo
2º, poderá ocasionar ao contratante do serviço de transporte um possível
reconhecimento de vínculo empregatício, junto a justiça especializada.
De forma lógica deveu-se analisar o que, primeiramente, é um contrato,
e suas responsabilidades. Conforme vimos, a depender do tipo de relação
teremos um tipo de contrato específico, definidos em lei, os quais deverão ser
respeitados. A relação de subordinação jurídica apresentada em um contrato
de trabalho entre empregado e empregador, bem como sua pessoalidade,
pois uma das características fundamentais de tal tipo de contrato, intuitu
personae, difere-se substancialmente da prestação de mão de obra
autônoma, como no caso do motorista transportador autônomo de cargas –
TAC, este com características próprias já retratadas alhures.
Diante da necessidade de regulamentação, foi publicado a lei 11.442
em 05 de janeiro de 2007, a qual, a priori, poria fim na subjetividade acerca do
tema, pois inúmeros juízes federais ainda baseavam-se somente na
Consolidação das Leis do Trabalho e na arcaica lei 6813 de 10 de julho de
1980. Ocorre que, ao invés de tal modificação legislativa pôr fim a
parcialidade, criou-se um enorme confronto de normas infraconstitucionais,
fortalecendo a insegurança jurídica que já havia em torno do tema em
questão.
Devido a isso, levou-se ao Supremo Tribunal Federal – STF para que
dirimisse entendimento referente ao escopo do assunto, onde teve início a
Ação Declaratória de Constitucionalidade ADC-48. Tal ação chegou às mãos
do Ministro Roberto Barroso, o qual por meio de liminar, suspendeu todos os
processos que estavam tramitando com essa temática, até que fosse decidido
pelo plenário do STF. Em 03 de abril de 2020 saiu decisão final acerca da
referida ADC-48, trazendo legalidade ao contrato de prestação de serviço do
motorista autônomo de cargas, observados os requisitos definidos na lei
11.442/2007, afastando do julgamento da justiça especializada, e sim da
justiça comum, ou seja, ao invés de seguir o rito da Justiça do Trabalho,
passaria a competência da justiça comum estadual.
É muito importante frisar que a lei em comento possuí critérios
específicos, e o rol contido no artigo 2º é taxativo, tratando de numerus
clausus, não comportando interpretação. Diante disso, é de suma importância
o contratante garantir-se na contratação deste tipo de serviço, solicitando a
documentação probatória, como o registro prévio na Agência Nacional de
Transporte Terrestre – ANTT, o contratado ser proprietário ou arrendatário do
veículo (ou veículos), possuir a experiência exigida em lei e a formalização de
um contrato específico, definindo direitos e deveres recíprocos.
Para que tal contrato tenha plena validade, imprescindível que além
dos requisitos contidos no art. 2º da lei 11.442/2007, não haja subordinação
jurídica e pessoalidade, pois estes são características fundamentais do
contrato de trabalho, ou seja, intuitu personae, onde o subordinado, neste
caso o empregado, está sujeito ao empregador, o qual determinará suas
atividades enquanto estiver a sua disposição.
Portanto, para que haja segurança jurídica, e econômica, devemos ter
definido que tipo de contrato será celebrado, se um contrato de trabalho ou de
prestação de serviços de motorista de transporte de cargas – TAC. Após esta
definição, optando-se por um contrato autônomo, fundamental que se siga
todos os requisitos contidos na lei 11.442/2007, principalmente seu art.2º, o
qual afastará o reconhecimento de vínculo de emprego, este recorrente em
ações na justiça especializada. Espera-se que o presente estudo sirva de
auxílio para futuras pesquisas acadêmicas com o objetivo de explorar a área
do Direito do Trabalho, da Lei 11.442/2007 e áreas afins às suas diretrizes.

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maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação
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