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OLIVEIRA, Rodrigo
SUMÁRIO
2. DESENVOLVIMENTO
1
MÃO DE OBRA. In: MICHAELIS moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos.
Disponível em: <https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/mao>. Acesso em:
22 de jan. 2024.
Conforme define Carlos Roberto Gonçalves, “Contrato é um acordo de
vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar,
transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos”2
Partindo dessas premissas, podemos nos deparar por inúmeras formas
de contratação desta mão de obra, como a regida pela Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), a prestação de mão de obra autônoma, cooperativas de
trabalho, trabalhadores avulsos, trabalhadores temporários, entre outras. Aqui
iremos nos ater nos dois primeiros casos.
A mão de obra regida pela CLT, Consolidação instituída pelo Decreto
Lei 5.452/19433, recentemente reformada pela Lei 13.467/20174, onde
comumente chamamos de vínculo empregatício, possuí todas as proteções
do empregado, baseados no princípio da dignidade humana, consagrado na
Constituição de 19885, o princípio da proteção do trabalhador, bem como os
direitos e deveres de empregados e empregadores. Assim, há requisitos
basilares, os quais verificados através da primazia da realidade laboral, para
que haja o reconhecimento deste vínculo de emprego, entre empregado e
empregador, previstos principalmente nos arts. 2º e 3º da CLT.
De outra banda, a prestação de mão de obra autônoma está regida sob
o olhar do princípio constitucional da livre iniciativa, instituído no seu art. 1º da
CF/1988. Dentro dessa categoria está o chamado Transportador Autônomo
de Cargas (TAC), regido pela lei 11.442/2007 6. Assim, fácil verificarmos que
há um conflito normativo constitucional, onde precisaremos utilizar o princípio
da proporcionalidade, implícito na norma constitucional.
2
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 14ª ed. São Paulo: Saraiva,
2017. p. 22.
3
BRASIL. Decreto-lei n.º 5.452, de 1° de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 22 de janeiro de 2024.
4
BRASIL. Lei n.º 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada
pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis n º 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de
maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho.
Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm>. Acesso em: 22 de
janeiro de 2024..
5
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 10 março 2021.
6
BRASIL. Lei 11.442, de 5 de Janeiro de 2007. Dispõe sobre o transporte rodoviário de cargas por conta de
terceiros e mediante remuneração e revoga a Lei n o 6.813, de 10 de julho de 1980. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 08 Janeiro 20007. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11442.htm>. Acesso em: 23 de janeiro de 2024..
Desta forma, de um lado temos a proteção ao trabalhador e aos
direitos sociais, de outro, o direito a livre iniciativa e livre concorrência, os
quais foram discutidos na Ação Declaratória de Constitucionalidade 48 (ADC
48)7. Tal ADC 48 traz a baila a discussão sobre a terceirização da atividade-
fim, regulamentada pela reforma trabalhista, e a constitucionalidade da Lei
11.442/2007.
15
DELGADO, op. cit., p 399
16
BRASIL. LEI Nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Institui o Código Civil. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em 23 de janeiro de 2024.
17
MALHEIRO, Guilherme Silva Bastos. Da distinção doutrinária entre relação de trabalho e relação de emprego.
In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVII, n. 126, jul 2014. Disponível em:<http://www.ambitojuridico.com.br/site/?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14928>. Acesso em 22 de janeiro de 2024.
por vezes, contratam motoristas autônomos para realizar parte do transporte
de mercadorias as quais com seus veículos e empregados próprios não
dariam vazão. De acordo com a Agência TRANSPORTA Brasil, em notícia
publicada no dia 13 de agosto de 2020, àquela data, o Brasil contava com
695.593 transportadores autônomos, com uma frota de 836.988 veículos 18. O
Transportador Autônomo de Cargas (TAC) possui características especiais,
trazidos pela Lei 11.442/2007, como ser proprietário ou arrendatário do
veículo, a assunção de todos os riscos da atividade como se empregador
fosse, ou seja, os custos com manutenção do veículo, combustíveis,
eventuais pedágios, impostos, etc, e não estão subordinados a horários da
contratante. Sua remuneração se dá através dos serviços prestados, pré
combinados. Assim, verifica-se a total flexibilidade de sua relação,
possibilitando prestar seus serviços a quem melhor lhe convier. Para tanto,
imprescindível seu cadastro prévio no Registro do Transportador Rodoviário
de Cargas (RNTRC) na modalidade de Transportador Autônomo de Cargas
(TAC), obrigatoriedade dada pela resolução nº 3056/2009 19 da Agência
Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), que tem por finalidade identificar e
regulamentar o transporte de cargas no Brasil.
Quando empresas de transporte ou de logística excedem a sua
capacidade própria, realiza a contratação do transportador autônomo. Nesta
contratação é delimitada todas as cláusulas de responsabilidade do
contratante e contratado, identificando destino, rotas, valores de frete (valor
atribuído ao transporte de mercadorias) e seu prazo de pagamento,
determinação de eventuais pontos de parada, e demais pormenores que cada
tipo de transporte possa conter. Embora este tipo de prestação de serviço se
18
ANDRADE, Leonardo Helou Doca de. Autônomos têm caminhão duas vezes mais velho que empresas no
Brasil. Agência TRANSPORTA Brasil, 2020. Disponível em:
<https://www.transportabrasil.com.br/2020/08/autonomos-tem-caminhao-duas-vezes-mais-velhos-que-empresas-
no-brasil/#:~:text=Os%20n%C3%BAmeros%20da%20ANTT%20mostram,caminh%C3%B5es%20registrados
%20%C3%A9%202.209.440>. Acesso em: 22 de janeiro de 2024.
19
BRASIL. Agência Nacional de Transporte Terrestre – ANTT. Resolução Nº 3056, de 12 de março de 2009.
Dispõe sobre o exercício da atividade de transporte rodoviário de cargas por conta de terceiros e mediante
remuneração, estabelece procedimentos para inscrição e manutenção no Registro Nacional de Transportadores
Rodoviários de Cargas - RNTRC e dá outras providências. Disponível em
<https://anttlegis.antt.gov.br/action/ActionDatalegis.php?
acao=detalharAto&tipo=RES&numeroAto=00003056&seqAto=000&valorAno=2009&orgao=DG/ANTT/
MT&codTipo=&desItem=&desItemFim=&cod_menu=5408&cod_modulo=161&pesquisa=true>. Acesso em 26 de
janeiro de 2024.
caracteriza pela eventualidade e principalmente pela não subordinação e a
impessoalidade do motorista, isto é, este pode-se fazer substituir por outro
que detenha as mesmas habilitações, certos pontos devem ser pactuados de
forma mais específica, pois a maioria das grandes transportadoras possuem
sistemas de gerenciamento de riscos atrelados ao contrato de seguro de
cargas, os quais por medida de segurança devem ser seguidos, não
caracterizando subordinação do transportador autônomo.
Ao final deste transporte, com a entrega da mercadoria ao seu destino,
o contrato se perfectibiliza, estando novamente o transportador autônomo
livre para nova negociação de transporte.
Diante de tais características se verifica a total autonomia do motorista
autônomo, sendo que a ele compete a escolha de a quem prestar seus
serviços, pois responsável pelo sucesso do seu negócio.
22
BRASIL. Lei n.º 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada
pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de
maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho.
Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm>. Acesso em: 18 de
janeiro de 2024..
23
BRASIL. Lei n.º 6.019, de 03 de janeiro de 1974. Dispõe sobre o Trabalho Temporário nas Empresas Urbanas,
e dá outras Providências. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6019compilado.htm.>.
Acesso em: 15 de fevereiro de 2024.
5º caput, da Lei 11.442/2007. Tal suspensão deveria perdurar até o
julgamento pelo Plenário da Suprema Corte.
Destarte, conforme depreende do julgado pela ADC, as palavras do
relator, Ministro Luís Roberto Barroso, vieram a clarear de forma muito
contundente a diferença entre o TAC e o motorista empregado, os princípios
constitucionais da Livre Iniciativa frente a Proteção ao Emprego, afastando
uma da outra. A obediência aos requisitos fundamentais, como o cadastro
prévio e espontâneo no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de
Cargas (RNTR-C) da Agência Nacional do Transporte Terrestre (ANTT), ser
proprietário ou arrendatário de veículo classificado na categoria de transporte
de cargas, bem como ter esta como sua profissão, afastará o vínculo de
emprego, mesmo havendo a não eventualidade. Vale ressaltar que uma das
categorias previstas na Lei 11.442/2007 é o TAC – Agregado. Esta categoria
mesmo possuindo exclusividade com a empresa transportadora, não gerará o
vínculo, pois faltará o elemento pessoalidade, pois o contratado no caso é o
veículo (serviço de transporte) e não o seu condutor, que poderá ser o próprio
proprietário ou seu preposto.
Neste ínterim, facilmente vislumbramos claramente a diferença entre o
motorista autônomo do motorista empregado. O primeiro deverá possuir o
cadastro prévio como TAC (junto a ANTT), ser proprietário/arrendatário ou
possuidor de veículo de carga, o qual suportará todos os riscos da sua
atividade econômica recebendo quantia certa por frete (serviço de transporte)
realizado, objetivado auferir lucro com a atividade desempenhada, prestando
seus serviços para quem melhor lhe convier. Já o segundo, será subordinado
à Empresa de Transporte de Cargas (ETC) ou outra qualquer, mediante
Contrato de Trabalho, contrato esse personalíssimo, pois o empregado fora
escolhido devido suas características técnicas específicas, o qual estará a
disposição do empregador no período determinado neste contrato, estando
subordinado às ordens emanadas do empregador, percebendo salário certo.
Com o julgamento da referida Ação Declaratória de
Constitucionalidade nº48, tem-se firmado a seguinte tese:
1 – A Lei 11.442/2007 é constitucional, uma vez que a Constituição não
veda a terceirização, de atividade-meio ou fim. 2 – O prazo prescricional
estabelecido no art. 18 da Lei 11.442/2007 é válido porque não se trata de
créditos resultantes de relação de trabalho, mas de relação comercial, não
incidindo na hipótese o art. 7º, XXIX, CF. 3 – Uma vez preenchidos os
requisitos dispostos na Lei nº 11.442/2007, estará configurada a relação
comercial de natureza civil e afastada a configuração de vínculo trabalhista.”24.
Destarte, respeitados os requisitos fundamentais contidos na Lei
11.442/2004, não há que se falar em reconhecimento do vínculo de emprego
entre o motorista autônomo de cargas e a empresa de transportes ou de
logística, e sim relação de prestação de serviços, afastando a Justiça
Especializada.
26
Refere-se a petição inicial a qual deu início à Ação Declaratória de Constitucionalidade nº48, elaborada pelos
Doutores Advogados Flávio Henrique Unes Pereira e Marilda de Paula Silveira. Disponível em
<https://www.conjur.com.br/dl/inicial-adc-48.pdf> Acesso em 03 de março de 2024.
27
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho (4. Região). Acórdão 0021250-51.2017.5.04.0004. Porto Alegre:
Tribunal Regional do Trabalho (4. Região), [2020].
28
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho (4. Região). Acórdão 0020473-32.2019.5.04.0801. Porto Alegre:
Tribunal Regional do Trabalho (4. Região), [2020].
subsidiariamente a pessoalidade, a prévia inscrição no órgão competente, a
posse/propriedade de, pelo menos, um veículo de carga a ser comprovado
pelo interessado.
O vínculo entre o prestador de serviços/funcionário com a ETC terá
suas vantagens e desvantagens. O motorista da ETC ou empresa de logística
possui a pseudo estabilidade empregatícia, com todos seus “direitos” e
garantias, como salário fixo (eventualmente mais o variável), seguridade
social (I.N.S.S), fundo de garantia por tempo de serviço (FGTS), etc; mas não
possuí controle sobre destino quanto empregado, pois o empregador é quem
define o destino do motorista, de acordo com seu conhecimento das rotas
utilizadas pela empresa, com o poder de mando. Não resta outra alternativa
ao motorista-empregado que não seja subordinar-se ao definido pela
organização, pois cabe ao empregador o risco da atividade. Doutra banda, o
TAC possui sua autonomia, escolhendo a quem prestar seus serviços, as
rotas a trafegar, os valores a receber, o tempo que disporá àquele
contratante, ou seja, a quem lhe melhor convier, podendo inclusive ser
substituído por preposto. Assim, possui seus rendimentos variáveis, podendo
auferir maior ou menor renda, de acordo com suas decisões, pois a ele
compete o risco da atividade29.
Corrobora a tal diferenciação entre os tipos de contratos a Lei
13.103/201530, a qual altera consubstancialmente tanto a CLT quanto a Lei
11.442/2007. A Lei em comento (Lei 13.105/2015), através do artigo 6º,
modificou vários artigos da CLT que tratam da profissão de motorista
profissional empregado. Tais alterações reforçam a subordinação a
observância de jornadas de trabalho, as quais são controladas pelo
empregador. Já em relação a Lei 11.442/2007, a Lei parâmetro no seu artigo
29
SILVA, Luna Gonçalves da. O trabalho dos motoristas de caminhão: a relação entre atividade, vínculo
empregatício e acidentes de trabalho. Faculdade de Saúde Pública, 18 fev. 2011. Universidade de São Paulo,
Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (AGUIA). p. 153-157
30
BRASIL. Lei 13.103, de 2 de Março de 2015. Dispõe sobre o exercício da profissão de motorista; altera a
Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis
n º 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro, e 11.442, de 5 de janeiro de 2007
(empresas e transportadores autónomos de carga), para disciplinar a jornada de trabalho e o tempo de direção
do motorista profissional; altera a Lei nº 7.408, de 25 de novembro de 1985; revoga dispositivos da Lei nº 12.619,
de 30 de abril de 2012; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 02 de Março de 2015.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13103.htm> . Acesso em: 09 de
março de 2024.
15º, altera o artigo 4º e §§, bem como introduz o artigo 5º-A, tendo como
ponto chave a pessoalidade, e o sistema de pagamento dos fretes, os quais
deverão ser regulamentados pela ANTT.
Neste espeque, preliminarmente deverá a ETC definir qual o
tipo de contratação que deseja realizar a fim de cumprir com os requisitos
legais desta pactuação. A observação das formalidades darão legalidade aos
atos de acordo com o idealizado pela contratante, quer seja funcionário ou
prestador de serviços. Em se tratando de motorista funcionário, com
subordinação jurídica e habitualidade (à disposição do empregador no
período pactuado), deve-se observar a CLT, ou a Lei 11.442/2007 em se
tratando de motorista autônomo. O elemento fundamental para a
diferenciação de um ou outro será a observância principalmente da
subordinação jurídica e pessoalidade (contratação devido suas características
personalíssima – intuitu personae31)32 enquanto o contrato de prestação de
serviço de frete se caracteriza fundamentalmente pelo prévio e espontâneo
cadastro no órgão competente, qual seja, a ANTT, bem como ser possuidor
ou proprietário de, pelo menos, um veículo de carga, deter autonomia jurídica,
ou seja, não haver subordinação (poder de mando) entre ETC e TAC, a
relação jurídica de contratação será exclusiva do transporte da carga, sendo
indiferente quem seja o motorista (proprietário ou preposto deste). Estando
tais requisitos presentes, teremos total idoneidade contratual, afastando a
insegurança jurídica que se demonstrava até a uniformização da matéria na
Suprema Corte do Brasil.
3. CONCLUSÃO
31
De acordo com a plataforma de ensino Jurídico Trilhante, Contrato Intuitu Personae é o contrato de trabalho
faz nascer uma obrigação de natureza pessoal em relação ao trabalhador, ou seja, ele é moldado e formulado
em função desta pessoa determinada. Assim sendo, a obrigação de prestar serviços é infungível, não podendo o
empregado fazer-se substituir por outra pessoa sem o prévio consentimento do empregador. Falamos aqui de
uma obrigação personalíssima, portanto. Disponível em
<https://trilhante.com.br/curso/contrato-de-trabalho/aula/terminologia-e-caracteristicas-2>. Acesso em 07 de
março de 2024. Grifo do autor.
32
JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Q. P., Direito do Trabalho. 9ª. ed. São Paulo:
Atlas, 2019.
A pesquisa realizada para desenvolvimento deste artigo demonstrou
que não observar os requisitos da lei 11.442/2007, principalmente o seu artigo
2º, poderá ocasionar ao contratante do serviço de transporte um possível
reconhecimento de vínculo empregatício, junto a justiça especializada.
De forma lógica deveu-se analisar o que, primeiramente, é um contrato,
e suas responsabilidades. Conforme vimos, a depender do tipo de relação
teremos um tipo de contrato específico, definidos em lei, os quais deverão ser
respeitados. A relação de subordinação jurídica apresentada em um contrato
de trabalho entre empregado e empregador, bem como sua pessoalidade,
pois uma das características fundamentais de tal tipo de contrato, intuitu
personae, difere-se substancialmente da prestação de mão de obra
autônoma, como no caso do motorista transportador autônomo de cargas –
TAC, este com características próprias já retratadas alhures.
Diante da necessidade de regulamentação, foi publicado a lei 11.442
em 05 de janeiro de 2007, a qual, a priori, poria fim na subjetividade acerca do
tema, pois inúmeros juízes federais ainda baseavam-se somente na
Consolidação das Leis do Trabalho e na arcaica lei 6813 de 10 de julho de
1980. Ocorre que, ao invés de tal modificação legislativa pôr fim a
parcialidade, criou-se um enorme confronto de normas infraconstitucionais,
fortalecendo a insegurança jurídica que já havia em torno do tema em
questão.
Devido a isso, levou-se ao Supremo Tribunal Federal – STF para que
dirimisse entendimento referente ao escopo do assunto, onde teve início a
Ação Declaratória de Constitucionalidade ADC-48. Tal ação chegou às mãos
do Ministro Roberto Barroso, o qual por meio de liminar, suspendeu todos os
processos que estavam tramitando com essa temática, até que fosse decidido
pelo plenário do STF. Em 03 de abril de 2020 saiu decisão final acerca da
referida ADC-48, trazendo legalidade ao contrato de prestação de serviço do
motorista autônomo de cargas, observados os requisitos definidos na lei
11.442/2007, afastando do julgamento da justiça especializada, e sim da
justiça comum, ou seja, ao invés de seguir o rito da Justiça do Trabalho,
passaria a competência da justiça comum estadual.
É muito importante frisar que a lei em comento possuí critérios
específicos, e o rol contido no artigo 2º é taxativo, tratando de numerus
clausus, não comportando interpretação. Diante disso, é de suma importância
o contratante garantir-se na contratação deste tipo de serviço, solicitando a
documentação probatória, como o registro prévio na Agência Nacional de
Transporte Terrestre – ANTT, o contratado ser proprietário ou arrendatário do
veículo (ou veículos), possuir a experiência exigida em lei e a formalização de
um contrato específico, definindo direitos e deveres recíprocos.
Para que tal contrato tenha plena validade, imprescindível que além
dos requisitos contidos no art. 2º da lei 11.442/2007, não haja subordinação
jurídica e pessoalidade, pois estes são características fundamentais do
contrato de trabalho, ou seja, intuitu personae, onde o subordinado, neste
caso o empregado, está sujeito ao empregador, o qual determinará suas
atividades enquanto estiver a sua disposição.
Portanto, para que haja segurança jurídica, e econômica, devemos ter
definido que tipo de contrato será celebrado, se um contrato de trabalho ou de
prestação de serviços de motorista de transporte de cargas – TAC. Após esta
definição, optando-se por um contrato autônomo, fundamental que se siga
todos os requisitos contidos na lei 11.442/2007, principalmente seu art.2º, o
qual afastará o reconhecimento de vínculo de emprego, este recorrente em
ações na justiça especializada. Espera-se que o presente estudo sirva de
auxílio para futuras pesquisas acadêmicas com o objetivo de explorar a área
do Direito do Trabalho, da Lei 11.442/2007 e áreas afins às suas diretrizes.
REFERÊNCIAS