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Uberização do trabalho: Subsunção real da viração

Ludmila Costek Abílio

AUP 0575 - INSTRUMENTOS DE INTERVENÇÃO URBANÍSTICA EM


ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS: PLANO, PROGRAMA E PROJETO.

Profa. Dra. Maria de Lourdes Zuquim


Profa. Dra. Yvonne Mautner

Carmen Ortiz-Cañavate
Joel Peres
Vicente Sisla Zeron
Ludmila Costek Abílio
É doutora em Ciências Sociais pela UNICAMP (2011)

Possui graduação em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências


Humanas da USP (2001)

Mestrado em Sociologia pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP


(2005)

Pós-doutorado (FEA-USP) sobre a chamada nova classe média brasileira

Pesquisadora do CESIT, na Faculdade de Economia da UNICAMP ( pesquisa de Pós


Doutorado sobre Desenvolvimento, atuais políticas de austeridade e as transformações
do trabalho no Brasil
Atua principalmente nos seguintes temas:

- Uberização do trabalho: novas formas de gestão, organização e controle do trabalho

- Relações entre exploração do trabalho, financeirização e acumulação capitalista;

- Estudos do desenvolvimento: exploração do trabalho e acumulação capitalista na periferia;

- Relações entre trabalho e consumo no capitalismo contemporâneo.


Alguns dos artigos mais reconhecidos são:

- Uberização do trabalho: subsunção real da viração (2017)


- Sem maquiagem: o trabalho de um milhão de revendedoras de cosméticos (2015)
- A gestão do social e o mercado da cidadania (2011)
- Flexibilização das relações de trabalho: insegurança para os trabalhadores (2018)
- Dos traços da desigualdade ao desenho da gestão: trajetórias de vida e programas sociais na periferia de São
Paulo (2006)
- Uberização e viração: mulheres periféricas no centro da acumulação capitalista (2018)
- Plataformas digitais e uberização: a globalização de um Sul administrado? (2020)
Uberização do trabalho: Subsunção real da viração fevereiro_2017

1. ENTRE SALÕES E APPS

Uberização: novo estágio de trabalho e de terceirização onde uma empresa-aplicativo desenvolve


mecanismos de transferência de riscos e custos para trabalhadores autônomos engajados e
disponíveis para trabalhar

● retirada de garantias mínimas ao trabalhador enquanto mantém sua subordinação

● perda de formas estabelecidas e regulamentadas de trabalho

Origens: lei “Salão parceiro – professional parceiro”, de 2016, que desobriga proprietários de salões
de beleza a reconhecem o vínculo empregatício com seus funcionários, limitando a responsabilidade
dos donos apenas à infraestrutura

● funcionários legalmente autônomos


Empresas-aplicativo: pouca materialidade e muita visibilidade
● não é contratante, mas mera mediadora entre trabalhador e consumidor
● exemplos: Uber, Rappi, Deliveroo
● motoristas de aplicativos ultrapassam os 50 mil apenas na cidade de São Paulo
● Uber recebe 25% do valor cobrado ao consumidor por atuar como mediador do serviço

Surgimento de sindicatos de trabalhadores que lutam por reconhecimento e garantia de direitos.


● em 2016, motoristas de Uber americanos juntaram-se a hoteleiros na campanha “Fight for
US$15”: exigência de um mínimo de 15 dólares por hora de trabalho

Uber é evidência das tendências do mercado de trabalho, não a origem delas


2. O TRABALHADOR-PERFIL E O CONSUMIDOR VIGILANTE

Preços reduzidos, conforto e rapidez.


● entrada nos mercados locais de forma agressiva não regulamentada reconfigura a mobilidade urbana
● atua mesmo sendo ilegal em algumas cidades, apoiando-se na atratividade para o usuário

Controle sobre o trabalho


● transferido ao usuário através de regras, critérios e métodos
● avaliação e vigilância constantes fornecem meios para o ranqueamento dos trabalhadores
● isenção de responsabilidades por parte da empresa: concedida pela disposição do trabalhador em
aceitar a oferta
3. MAIS UM PASSO NA FLEXIBILIZAÇÃO DO TRABALHO

Flexibilização: mudanças ligadas à relação entre Estado, capital e trabalho.


● forma contemporânea de eliminação dos direitos associados ao trabalho que envolve:
○ transferência de riscos e custos ao trabalhador
○ extensão e intensificação do trabalho
○ gerenciamento do próprio trabalho sob ameaça da concorrência e do desemprego
○ não implica em perda do controle sobre a produção pelas empresas
Forma de trabalho de motoboys também sofreu alterações permitidas por:
● extensão do financiamento (de motos, neste caso) aos mais pobres
● introdução do celular como instrumento de trabalho

Tais mudanças geraram um aumento do número de motoboys, o que provocou:


● aumento da parcela de lucro por entrega ao custo da perda dos direitos trabalhistas
● menos dinheiro e mais trabalho na medida em que mais motoboys aderem aos app
● colaborou com o colapso de São Paulo em termos de mobilidade urbana ao mesmo tempo em
que valoriza-se financeira e fundiariamente
4. O ADMIRÁVEL MUNDO DO E-MARKETPLACE

Diversos setores do mercado de trabalho contam com apps que permitem a uberização do trabalho
● e-marketplace: espaço virtual de compra e venda de trabalho

Startups: pequenas empresas de alto potencial lucrativo que fomentam o e-marketplace


● combinação entre inovação, empreendedorismo e amplo mercado de investimento
● empresários à procura de um modelo de negócios fácil trabalhando em condições de extrema incerteza
● auge do modelo de empresas enxutas, às custas da precarização do trabalho
5. CROWDSOURCING

Lucro das empresas proporcionado pela dimensão da multidão de usuários

Crowdsourcing: uberização do departamento de pesquisa e inovação de empresas para usuários em busca de


complemento de renda
● soluções são patenteadas pela empresa e o usuário que a propôs é premiado

A concorrência do trabalhador uberizado é difusa e ilocalizável: ameaça fantasma constante


6. DA VIRAÇÃO PARA A GIG ECONOMY

Nos trabalhos tipicamente femininos pode-se reconhecer tendências que hoje generalizam-se no mercado de
trabalho:
● fusão entre esfera profissional e privada
■ destaque especial para a penetração do trabalho na vida pessoal no caso das revendedoras de cosméticos

○ impossibilidade de regulamentação pública do trabalho


○ indefinição entre o que é ou não trabalho
Informalidade:
● insuficientemente tratada nos estudos sobre mercado de trabalho
● constitutiva da vida dos trabalhadores, especialmente os de baixa qualificação e renda
○ condições precárias de sobrevivência

Forma de trabalho dos trabalhadores de baixa qualificação e renda:


● combinação de bicos, programas sociais, atividades ilícitas e empregos formais
● trânsito intenso entre o trabalho formal e o informal
● descartabilidade social

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