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VISÃO QUE O DETENTO TEVE/TEM DA EDUCAÇÃO E DOS EDUCADORES

Neste capítulo vamos apresentar o olhar do entrevistado sobre a educação e os educadores.


Procuramos compreender as suas respostas a partir do resultado de algumas pesquisas sobre a
educação no sistema prisional. Neste sentido, organizamos nos subitens a seguir:

a) Educadores

Segundo o entrevistado, os educadores estão lá para ajudar, mesmo com dificuldades, quando
diz:

“Pow, os caras (educadores) queriam ajudar né, de alguma forma. É... Queria ver se tinha
alguém preparado para fazer um ENEM, perguntavam se tinha alguém estudado, se dava pra
trazer histórico, essas coisas assim.”

A ideia do entrevistado expressa também o compromisso dos educadores com os estudantes


privados de liberdade, representa um que o educador é um agente incentivador na busca da
sua autonomia. Encontramos em Paulo Freire o reforça esse pensamento que pode reforçar a
ideia do entrevistado, quando diz: No fundo, o essencial nas relações entre educador e educando,
entre autoridade e liberdades, entre pais, mães, filhos e filhas é a reinvenção do ser humano no
aprendizado de sua autonomia” (1996, cap.3, pág. 37) O educador comprometido com a
continuidade dos estudos e da formação humana.

Ainda É importante destacar falando sobre essa a autonomia que, Paulo Freire tanto nos falou
nas suas obras, a que

“É a convivência amorosa com seus alunos e


na postura curiosa e aberta que assume e, ao mesmo tempo, provoca-os a se
assumirem enquanto sujeitos sócios-históricos-culturais do ato de conhecer,
é que ele pode falar do respeito à dignidade e autonomia do educando”

Ao responder sobre a lembrança dos seus professores o entrevistado trouxe


recordações do educador que procurava dar apoio, Para contribuir com essa reflexão De
acordo com os estudos de Elionaldo Fernandes, nos apresenta um elemento ao dizer que os
educadores contribuem no processo de ressocialização dos sujeitos inseridos na unidade
escolar do sistema prisional. De acordo com esse autor, Nnas entrevistas que estão em
trabalhotem tem trabalho desde (2003) é recorrente os reconhecimentos dos estudantes

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apenados da importância e do papel da educação na vida na ressocialização. (2003, cap.2, pág.
61)

Essa ideia E isso vai de acordo com o pensamento do meu entrevistado quando ele fala
da visão que tem da educação

“Pow cara, vou dizer pra você. A educação é mais que oitenta por cento, vou falar pra você,
uma pessoa ignorante é terrível. Você olhar e vê que a pessoa não é uma pessoa má, mas é
uma pessoa ignorante. Você vê que a pessoa não teve a condição de aprendizado, você vê
que o modo de se expressar da pessoa é um modo rude. Então a educação trás muito
benefício a sociedade, a educação faz com que a pessoa seja mais amável, não só nas suas
atitudes, mas no jeito de falar e de empregar as palavras.”

Apresenta a sua visão a partir da sua experiencia educativa, a importância da


educação para além do conhecimento, mas um espaço que pode contribuir na formação de
sujeitos capazes de se relacionarem com respeito, a riqueza do vocabulário para se expressar
melhor. Nos diz de uma relação humana mais amorosa, feliz. O trabalho de Julião também
nos mostra que além de ensinar, a educação penitenciaria tem o papel de resgatar essas
pessoas que estão privadas da liberdade.

É possível compreender também a importância daA EDUCAÇÃO educação no


período que estava cumprindo a pena, PENITENCIARIA como uma tentativa de
resgatar a educação “perdida” e também procurar ser um espaço para ressocializar.

Mas se esses os apenados reconhecem a importância da educação, por que eles não
estudaram/frequentaram a escola aqui do lado de fora? Sabemos que muitas das vezes o
indivíduo não tinha a oportunidade ou até mesmo uma rede apoio para que isso acontecesse, o
mesmo aconteceu com o meu entrevistado.

“Minha mãe, não tinha nem como me incentivar, minha mãe trabalhava pra
sustentar quatro filhos. Minha mãe não tinha tempo disso, minha mãe
também não frequentou muito a escola”

Sendo assim, essa história é recorrente , essa fala do entrevistado reforça que escola não fazia
parte da vida dos brasileiros, somente a partir do final da década de 90, com a criação do
FUNDEB conquistamos o direito a educação para todos, principalmente para as crianças.
Neste sentido, infelizmente esses as pessoas, maiores de 30 anos,indivíduos acabam tendo
contato com a educação “tarde demais”, neste caso, quando já estão privados da liberdade.

O texto também nos mostra que além de ensinar, a educação penitenciaria tem o papel de
resgatar essas pessoas que estão privadas da liberdade.Encontro essa ideias quando

O meu entrevistado diz:

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“Você olhar e vê que a pessoa não é uma pessoa má, mas é uma pessoa ignorante. Você vê
que a pessoa não teve a condição de aprendizado, você vê que o modo de se expressar da
pessoa é um modo rude. Então a educação trás muito benefício a sociedade, a educação faz
com que a pessoa seja mais amável, não só nas suas atitudes, mas no jeito de falar e de
empregar as palavras.”

Um outro aspecto que ressalto do texto de JULIÃO seria que os apenados respeitam bastante
os professores. No texto, uma professora diz que, diferente dos alunos que estão aqui fora, os
alunos de lá dão mais valor à escola/educação, pois querem resgatar algo que não teve a
oportunidade de ter aqui fora ou quando era criança. (cap. 2, pág 86)

EÉ isso que eu pudepodemos perceber na fala entrevistado quando ele diz:

“Era sempre com muito respeito. Era sim senhor, não senhor, tinha uma regra de uma
distância, era muito rigoroso. Não era nem pela questão policial, a questão era entre presos.
É uma regra! Uma distância entre o visitante e o detento.”

Para encerrar essa questão do respeito

“Não é possível respeito aos educando, à sua dignidade, a seu ser formando-se, à sua
identidade fazendo-se, se não se levam em consideração as condições em que eles vêm
existindo”

Outro aspecto importante que o entrevistado expressou foi que a educação ocupa um espaço
de humanidade no sistema prisional.

Foucault (1987) nos diz que a prisão pode ser "aparelho para transformar os indivíduos”

“Ela é a escuridão, a violência e a suspeita. É um lugar de trevas onde o olho do cidadão não
pode contar as vítimas, onde conseqüentemente seu número está perdido para o exemplo...
Enquanto que se, sem multiplicar os crimes, pudermos multiplicar o exemplo dos castigos,
conseguimos enfim tomá-los menos necessários, aliás, a escuridão das prisões torna-se
assunto de desconfiança para os cidadãos; supõem facilmente que lá se cometem grandes
injustiças... Há certamente alguma coisa que vai mal, quando a lei, que é feita para o bem da
multidão, em vez de excitar seu reconhecimento, excita continuamente seus murmúrios.”

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JULIÃO, Elionaldo. Política Pública de Educação Penitenciária: contribuição para o


diagnóstico da experiência do Rio de Janeiro, 2003

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: História da Violência nas Prisões

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa

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