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A luta por um sistema educacional de qualidade, isto é, que atende às reais necessidades de
um determinado grupo social, é árdua. Dentro do sistema capitalista, o que enxergamos como
a ferramenta mais potente para a transformação social, é vista pelos donos do poder como
forma de contenção popular: a escola. Há um grande abismo secular do sistema educacional,
o de adotar uma unidade de ensino, uma educação de fábrica, rígida em conceitos
ultrapassados e o pior, propositalmente excludente. A proposta é exatamente essa:
desvalorizar o trabalho do educador e subjugar o educando, deste modo, desmotivados,
descrentes e sem auto estima, aceitamos calados todas as injustiças de cada dia. Há quem
pense diferente e em tempos tão difíceis, sobretudo para o nosso país, esquecido e governado
por anti educadores assumidos, é preciso nos alimentar de esperanças. Nada como o mestre
Freire para nos lembrar que a luta pela liberdade é também a luta pelo direito da nossa própria
existência.
O filme Escritores da Liberdade, de Richard LaGravenes, é uma obra que conversa muito
com a metodologia de Freire. O filme, baseado em fatos reais, conta a história de uma jovem
professora que encara a sua primeira turma em uma escola. O contexto histórico é a política
integralista no território americano. Sua primeira turma é de alunos moradores de periferias e
guetos urbanos, cercados por violência e desigualdade. Há, inicialmente, um notório conflito
entre a realidade social da jovem professora e seus alunos. Acompanhamos no decorrer da
obra, as maneiras com que a educadora torna possível a aproximação de seus educandos e
assim consecutivamente o interesse de aprendizado dos jovens. Inicialmente os alunos
rejeitam a professora, pois estão tão acostumados a não serem ouvidos, que não enxergam na
educadora nenhum benefício em ouví-la. Na sexta carta de Paulo Freire, o educador aborda
de maneira muito interessante o nascimento dessa tal descrença mútua entre educadores e
educandos.
“[...]E entre o testemunho de dizer e o de fazer, o mais forte é o do fazer porque este tem ou
pode ter efeitos imediatos. O pior, porém, para a formação do educando é que, diante da
contradição entre fazer e dizer, o educando tende a não acreditar no que a educadora diz.
[...]”
FREIRE, Paulo, p. 51.
Freire ainda afirma que nossas práticas pedagógicas acabam por ficar no velho “faça o que eu
falo mas não o que faço.” Teoria e prática há muito fora desassociada como se ambas não
fossem necessárias, complementares uma para a outra. A professora Gruwell une a prática do
fazer e dizer, não promete nada que não possa cumprir a seus alunos e adquire uma
metodologia que conte com o presente do jovem. Para que haja confiança entre educador e
educando, é necessário que ambos se identifiquem, conheçam suas realidades sociais e
culturais. A professora adota uma prática muito interessante com seus alunos; sugere que
comecem a escrever um diário de sua vida, de forma livre, em formato de poema, texto ou até
mesmo desenho. Deixa em aberto que quem quisesse ser lido teria que deixar o diário no
armário da professora. A liberdade proporcionada pela professora, faz com que todos os
alunos participem da proposta com afinco e prazer. Desta maneira a professora os conhece, os
alunos são ouvidos e criam uma ponte de confiança e afeto com Gruwell.
Outro testemunho que não deve faltar em nossas relações com os alunos é o da permanente
disposição em favor da justiça, da liberdade, do direito de ser. A nossa entrega à defesa dos mais
fracos, submetidos à exploração dos mais fortes. É importante, também, neste empenho de todos os
dias, mostrar aos alunos como há boniteza na luta ética. (FREIRE, Paulo, p. 52)