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Agda é uma mulher que, a partir da experiência do envelhecimento, reflete sobre a

multitemporalidade que há na vida.

fluxo de conciencia
Agda é uma mulher que

Agda é uma mulher que para lidar com a complexa experiência do envelhecimento resolve
ritualizar seus dias no preparo para a própria morte. Portanto a morte para Agda não é o fim,em
meio ao desgaste da velhice, há um desejo de guardar-se para algo futuro, para uma juventude
esperada, onde possivelmente encontrará a eternidade. A proximidade da morte nos revela o
caráter multitemporal da vida, e esta nos possibilita a descoberta de muitas Ágdas; velha, nova,
bicho, feiticeira ,divina, lúdica,cruel, mãe e filha. Todas as Agdas apesar de diferentes entre si,
dividem algo em comum: o corpo feminino.

Livremente inspirada no conto de Hilda Hilst, a peça Agda aborda a complexidade da relação do
corpo feminino com o tempo. Dirigido por Tomás Braune e interpretado por Elisa Ottoni, a peça
explora o universo feminino

temos
a beleza quase mítica
da mulher Agda e as suas questões sobre o corpo e a eternidade, aliadas ao
caráter divinatório, bem como a uma remodelação ou a uma reestruturação
do corpo.

em meio a esse desgaste, há no querer da personagem Agda um desejo de


guardar-se para algo futuro, algo que fará de seu corpo e dos objetos que
a cercam pequenos estratos de sândalos para uma juventude esperada
“Guarda-te Agda, é tempo de
guardar, o fruto dentro da mão, espia apenas.” (p. 17). A velha Agda, lutan
-
do contra o tempo, lutando contra o processo de coisificação

“velha”,
“baço”, “velhice”, “ceratose”, “meia-idade”, “gosma”, “vergonha”, dentre
outras. Porém, para além das transformações físicas, Agda presentifica o seu passado a todo o
instante
multitemporalidade, abre uma janela no tempo se prepara para a morte, futuro, ela guarda um
futuro

expõe o fluxo de seus pensamentos sobre o tema que a cerca.


As transformações do tempo gda leva o nome de dois contos de Hilda Hist, o primeiro nos
convida a refletirden sobre as complexidades contidas no envelhecimento do corpo feminino.
os desejos aferrecidos, sobre o comp degradação física, os desejos aferrecidos ,

““Alguém lhe toca, minha senhora? Ele disse isso, o corpo feminino envelhecendo e a
preparação para a morte.”
multitemporalidade
destruição de valores antigos em favor de novos valores pode ser observada nesse
Agda I”, presenciamos um discurso
degenerado, velho e rançoso, em que o tema central é a degradação do cor
-
po, os desejos arrefecidos e a busca por uma renovação enquanto matéria
de escrita; em contrapartida, em “Agda II”, temos
a beleza quase mítica
da mulher Agda e as suas questões sobre o corpo e a eternidade, aliadas ao
caráter divinatório, bem como a uma remodelação ou a uma reestruturação
do corpo.
Entretanto,
em meio a esse desgaste, há no querer da personagem Agda um desejo de
guardar-se para algo futuro, algo que fará de seu corpo e dos objetos que
a cercam pequenos estratos de sândalos para uma juventude esperada
“Guarda-te Agda, é tempo de
guardar, o fruto dentro da mão, espia apenas.” (p. 17). A velha Agda, lutan
-
do contra o tempo, lutando contra o processo de coisificação
A escrita na nefralgia da sua lentidão ressoa palavras-naftalina: “velha”,
“baço”, “velhice”, “ceratose”, “meia-idade”, “gosma”, “vergonha”, dentre
outras. No ressoar, o discurso entra num processo rápido de material da
velhice, velhice da personagem. E nesta questão, papel fundamental tem
o tempo, o tempo como degenerador da narrativa, visto que essa entidade
desgasta o corpo da personagem e, por consequência, o corpo da escrita,
pois ambas são linguagens
A velha Agda, lutan
-
do contra o tempo, lutando contra o processo de coisificação
palavras-naftalina
própria constituição “mãepaifilha” (p. 21), que tanto almejava o pai
de Agda, sugere que os tempos estejam querendo se tornar um só;

mofo- ruína-
música slow boat to china emile ford
Ao som de Slow Boat to China duas mulheres dividem o palco, ambas vestem um avental,luvas e estão
sujas de terra. Elas realizam o mesmo ritual cotidiano. Borrifam água na planta, varrem,arrumam o
espaço, se exercitam, se olham no espelho, prendem o cabelo e mesmo encharcadas de lama, passam
batom.. Entre uma ação e outra, pequenos passos de dança. Ambas fazem o mesmo ritual em tempos
diferentes. Elas cavam um buraco em comum.

PASSAGENS INTERESSANTES:

Guarda-te Agda, é tempo de guardar o fruto dentro da mão, espia apenas, como poderás tocar com tua
mão amarela esse que diz que te ama, esse tênue, Cactuscomeça o de sempre, cuida dos porcos,limpa o
pátio,põe água nos cactos, examina as avencas, os antúrios,lenta,lenta caminha, como es´ta velha há
tempos e tanto nessa manhã
lembra da tua mãe quase no fim dizendo não suportarás minha filha, tu que te cuidas tanto.o creme de
laranja para o rosto, o outro para as mãos, o verde claro para o corpo fil, a não suportarás,é melhor
morretes Agora, Agora a vida ao redor de ti, limpa limpa, me olha, e sobretudo não ames, NUNCA MAIS,
há de ter tanta vergonha, se alguém te toca já sabes do triste de sua carnação.

tudo baço, baço e as mãos olha as mãos, chama-se ceratose, filha,? é de velhice, primeiro a mancha,
depois uma crosta nada espessa, pensas vai passar, o médico sorri, diz começa na meia idade senhora, é o
tempo a senhora entende ? Sorris. O tempo? Sim,esse que ninguém vê, esse espichado, gosma, cada vez
mais perto da transparência.
é preciso esquecer o tato, os adornos as argolas de ouro.
cada vez mais o abismo, cada vez mais a terra
eu poderia dizer ; eu sou o meu corpo?
Nunca mais.
não é preciso tua mão sobre meu todo baço
eu agda dobrando- me cada vez mais abismo, cada vez mais terra, depois de tudo a vergonha, ele dirá aos
amigos, a velha gania nas minhas mãos, a velha amarela esteo
eu raiz avançando no debaixo da terra , raiz-corpo-carne
NUNCA MAIS deverei ser tocada
eu sou o meu corpo?
Se eu fosse meu corpo, ele me doeria assim? Se eu fosse meu corpo ele estaria velho assim?
O que é a linguagem do meu corpo?O que é a minha linguagem? Linguagem para meu corpo; um funeral
de mim. Para o meu corpo um funeral.
VIDA- ESSA INTEIRA VIVA nãpo acompanha o corpo , tem muitas fomes, busca, nunca se cansa, nunca
envelhece, infiltra-se em tudo que borbulha
Essa inteira viva que vive esse amor, o corpo não.
Pequeno nódulo na veia, veia nodosa, nódulo varicoso,nó, tateio, uma coisa doutor, isso estoura não? Bem
provavel, senhora. E a flacidez perto das axilas, essa essa, exercícios quem sabe? Manga cumprida. Eu sei,
mas é o tato, o senhor compreende? Alguém lhe toca minha senhora? Mil perdoes minha senhora, não
quis dizer

É preciso me arrancar a memória, os barcos estão pesados demais.

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