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Faculdade Castelo Branco C I E N T Í F I C A

ISSN 2316-4255

DISCIPLINA NA DISCIPLINA: A EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL E SUAS


IMPLICAÇÕES

Daniella de Fátima Silva BARRETO1;


1
Vanessa do Nascimento Galdino do PRADO ;
Roberto TELAU2

RESUMO

Falar sobre inserir detentos novamente dentro da sociedade é algo complexo e desencontrado, uma vez
que o Estado propõe que estes indivíduos consigam viver novamente fora do sistema prisional, que
tenham uma nova oportunidade, uma nova vida pelo viés da educação, entretanto há uma contravenção
entre a Lei de Execução Penal e sua efetiva aplicabilidade. O trabalho a seguir tem como finalidade
discutir sobre a eficácia dos métodos para o alcance da tão sonhada ressocialização do indivíduo, tendo
como base os presos da Penitenciária Semiaberta Masculina de Colatina, Espírito Santo, equiparando
assim o que é proposto e o que é realizado dentro das penitenciárias em prol da “ressocialização do
homem”.

PALAVRAS-CHAVE: Educação, Ressocialização, Sistema Prisional.

ABSTRACT

To talk about inserting inmates back into the society is something complex and disjointed, once the
State proposes that these individuals could live a life outside the prison system once again, that they
could have a new opportunity and a new life through the education bias, however there is a
contravention between the Criminal Enforcement Law and its effective applicability. The following
work aims to discuss the efficiency of the methods to reach the so dreamed resocialization of the

1.
Alunas do curso de Pedagogia da Faculdade Castelo Branco, Colatina-ES,
daniellasbarreto@gmail.com, vanessa_galdino15@hotmail .com
2.
Ms. em Educação, Licenciado em Letras, Professor da Faculdade Castelo Branco, Orientador do
Artigo, Colatina-ES, robertot100@gmail.com

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individual, based on the prisoners from the Semiopen Masculine Penitentiary of Colatina, Espírito
Santo, equating what is proposed and what is actually accomplished inside the penitentiaries in behalf
of the “resocialization of man”.

KEYWORDS: Education, Resocialization, Prison System.

INTRODUÇÃO

Este trabalho é o desdobramento da pesquisa elaborada pelas alunas de pedagogia do 8º período da


Faculdade Castelo Branco da cidade de Colatina – ES, e foi realizada com os apenados da Penitenciária
Semiaberta Masculina de Colatina. Tal população motivou o presente estudo com o objetivo de
investigar se há possibilidade das penitenciárias ofertarem uma educação efetiva que contribua para a
ressocialização do sujeito em situação de privação de liberdade, como defende (SÁ, Alvino, apud
Baratta, 2005): “O conceito de reintegração social requer a abertura de um processo de interações
entre o cárcere e a sociedade, no qual os cidadãos recolhidos no cárcere se reconheçam na sociedade
externa e a sociedade externa se reconheça no cárcere”.

O tema de pesquisa é desafiador, visto que o sistema prisional nos é mostrado como um ambiente
carregado de preconceitos em que a reincidência cresce a cada dia, assim como as penitenciárias
brasileiras estão superlotadas e o índice de violência cresce constantemente.O presente trabalho tem
ainda como propósito evidenciar como a educação dentro do sistema prisional, diante de diversas
implicações, tanto externas como internas, como a educação e seus problemas de aprendizado, quanto
o comprometimento da gestão, o abuso de poder, superpopulação carcerária, presídios sem
infraestrutura e por fim e mais importante: o tratamento infantilizado exercido sobre o sujeito
aprisionado, a reintegração social é possível através da educação como afirmada e exposta nas mídias e
no próprio poder público?

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O Estado expõe erroneamente, termos como: tratar, ressocializar, reeducar, reabilitar para ilustrar as
intervenções em prol da humanização do sistema penitenciário (SÁ, 1998). Esse sistema passou a se

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contemplar ainda em 1940, onde o a pessoa privada de liberdade era isolada da sociedade por três
meses na pena de reclusão, passado esse período, ofertavam trabalhos diários ou transferência para
colônia penal, até chegar ao livramento condicional (MACHADO, 2008). Uma das intervenções
proposta pelo Estado se encaixa a Assistência Educacional, afirmada na Seção V do Capítulo II,
intitulado Educação Básica, na Lei de Execução Penal (1984).

Da Assistência Educacional.
Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação
profissional do preso e do internado.
Art. 18. O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da
Unidade Federativa.
Art. 19. O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de
aperfeiçoamento técnico.
Parágrafo único. A mulher condenada terá ensino profissional adequado à sua
condição.
Art. 20. As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com entidades
públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos especializados.
Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma
biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos,
recreativos e didáticos.

Dentro desta perspectiva de ressocialização, que ocorre por meio do trabalho e da educação com
propósito de trabalhar no sujeito suas potencialidades parar intervir em sua realidade e no que o levou a
infringir a lei, visto que é através da educação que o privado de liberdade, o estigmatizado, pode se ver
emancipado e alcançar sua própria liberdade. A Educação é vista como um dos meios mais importantes
para promover a reintegração social do apenado, a fim de que quando o preso retornar a sociedade ele
possa agir de forma positiva assumindo seu verdadeiro papel social.

Sendo assim “a educação é uma frente de luta” (PEREIRA, apud FREIRE, 2011). Através da resolução
CNE/CEB nº02, de 19 de maio de 2010, a educação passou a ser ofertada para os privados de
liberdade, sob a responsabilidade de atender todos os níveis e

modalidades de educação e ensino, sendo extensivo aos presos provisórios, condenados, egressos do
sistema prisional e os que cumprem medidas de segurança (BRASIL, 2010).

A educação pode ter vários papéis dentro de uma Unidade Prisional podendo ser usada como meio de
agregar aos presos às regras e valores instituídos em uma prisão e ainda ter o caráter transformador
capaz de libertar o apenado dessa visão de um “ser excluído”, passando a ser uma pessoa ativa e autor

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de sua própria história.

Na Unidade Prisional pesquisada o modelo que se sobressai é o programa educacional voltado para a
educação de Jovens e Adultos, em conjunto com a Secretária da Educação e a de Justiça do Espírito
Santo, professores de uma escola de referência são designados para ensinar apenados desde a
alfabetização até a terceira série do Ensino Médio com disciplinas comumente ao ensino regular.
Levando como ponto de análise o estado do Espírito Santo se baseia em um tripé: trabalho,
qualificação profissional e educação, o governo tem como finalidade incentivar a educação e
ressocialização – termo usado pela Execução Penal, no qual o objetivo é promover a qualificação
profissional, a educação com o aumento de sua escolaridade e a inserção no mercado de trabalho antes
e após o interno receber sua liberdade por direito (SEJUS, 2014).

No entanto, os termos ressocializar, reeducar e reabilitar, juntamente com as práticas que são usadas
pelas penitenciárias como modelo de comportamento, nos leva a questionar se realmente ela corrobora
para uma redução no índice de reincidência e se o pensamento de mudança ao qual o indivíduo é
submetido pelo estado funciona. E mais, a ressocialização social pode ocorrer em um ambiente onde
existe o constante conflito da regeneração versus a segurança, no qual o princípio latente (não
verbalizado) de que a ressignificação pode falhar, mas a segurança jamais? (SÁ, apud Thompson,
2005). O estigma que o privado de liberdade carrega por ter infringido a lei, é como se o mesmo
necessitasse de uma reeducação para poder voltar ao meio do qual ele pertence, nos leva a refletir se a
assistência educacional funciona dentro do sistema prisional.

A partir do momento que o infrator comete um crime que contraria a lei instituída, este perde sua
autonomia e se vê obrigado aos cuidados do Estado, que o proíbe de expressar sua realidade social
através da fala (gírias ou apologias ao crime), da disciplina ao obrigá-lo a ser, conforme BOCK (1999):
“Um homem passivo perante o seu meio social, pois não sabe aplicar os conhecimentos aprendidos na
escola para melhor entender o seu mundo e nele atuar de forma mais eficiente”.

MATERIAL E MÉTODOS

O que fazer com quem quebra as leis é uma discussão que vem de décadas em conjunto com uma longa
história dos sistemas e regimes penitenciários. Esse grupo negligenciado e estigmatizado hoje atrai os
olhares das pesquisadoras do presente artigo que optaram por entrevista estruturada para ouvir estes
sujeitos (ANEXO 3). Tendo por base entrevistas estruturadas realizadas com apenados da

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Penitenciária Semiaberta Masculina de Colatina e das suas respectivas experiências em outros


regimes como o Fechado ou o Provisório, espera-se apontar quais implicações pode contribuir para a
visibilidade desses sujeitos que sofrem discriminações por seus crimes, e a partir deste abrir uma série
de apontamentos para profissionais da área, especialmente aos pedagogos, cujo servirão de apoio para
os mesmos e obter resultados sobre como se desenvolveu o progresso da humanização através da
educação nos presídios e se esta realmente acontece.

Posteriormente a entrevista, foi realizada uma análise hermenêutica dos resultados, indagando se é
possível, diante do histórico extremista e de torturas do Direito Penal, efetivar a educação dentro do
sistema prisional, questionando se o conhecimento adquirido dentro da prisão pode ampliar o
entendimento para que o apenado consiga entender seu mundo e nele atuar de forma diferenciada,
bem como, se o objetivo da ressocialização atrelada à educação contribui para a diminuição da
reincidência nos sistemas prisionais brasileiro.

Sobre essa ótica, a entrevista foi realizada na Penitenciária Semiaberta Masculina de Colatina,
Espírito Santo, cujo regime é Semi-aberto, caracterizado por disponibilizar empregos e educação para
os apenados durante o dia, e a noite os apenados são orientados a voltar para a prisão. Os entrevistados
foram quatro homens entre a idade de vinte e trinta anos, que nos relataram não só a participação deles
na escola da Penitenciária Semiaberta Masculina, como também suas experiências em escolas de
outras Unidades Prisionais.

A Unidade atua com média de 190 a 350 apenados, salvo que, a capacidade é para somente 90, a
penitenciária possui uma sala com um banheiro que é disponibilizado para ser a escola, através de
relatos os internos nos contaram que também utilizam um espaço denominado como multiuso para as
atividades de recreação ou projetos relacionados à escola. A Penitenciária Semiaberta Masculina de
Colatina oferece apenas as séries iniciais, da 1ª a 4ª etapa do Ensino Fundamental na modalidade da
Educação de Jovens e Adultos (EJA), que tem o objetivo de ir ao encontro da necessidade e da
diversidade do perfil dos educandos encarcerados, no que se refere à faixa etária, ao nível de
escolarização, a situação socioeconômica, cultural e, sobretudo, a sua posterior inserção no mercado
de trabalho.

A oferta desta modalidade na Unidade é uma parceria da à Secretaria de Justiça do Espírito Santo e da
a EEEFM “Lions Clube de Colatina”, em função do anonimato, a identidade dos entrevistados foi
mantida em sigilo, vale ressaltar ainda que as entrevistas tiveram a duração de 20 a 40 minutos e que
foi de consentimento da instituição a realização da coleta de dados , de acordo com a

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autorização(ANEXO 1), assinado pelo diretor da respectiva e conforme Termo de Consentimento


livre e esclarecido (ANEXO 2).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com a análise das entrevistas, observou- se as peculiaridades de cada detento, isto é, sua
visão de mundo em relação às perguntas feitas e embora houvesse semelhanças em questionamentos
específicos, devido ao fato de os mesmos estarem vivenciando a mesma situação, ainda assim
conseguimos identificar a opinião de cada um dos entrevistados. Observou - se ainda, por meio das
entrevistas, que a maioria dentre os quatros entrevistados possuem uma visão de que a
responsabilidade de usufruir da educação com o intuito de não reincidir ou como forma de entender
seu mundo e nele atuar de forma diferenciada é exclusivamente deles.

Cabe ao apenado aproveitar a oportunidade oferecida, seja ela qual for, visto que na penitenciária a
oportunidade se caracteriza como um privilégio, não como um dever e direito para a preservação da
dignidade da pessoa humana. Esse efeito pode ser caracterizado pelo histórico do que é ser criminoso
e como o Direito Penal respondeu frente ao ato criminoso.

De acordo com essa visão, observou – se os privados de liberdade assumindo a responsabilidade para
si, como se seus atos fossem exclusivamente de suas escolhas e não de seus contextos bio-psico-
sociais. Esse fenômeno ocorre devido o histórico carcerário no Brasil tratar o privado de liberdade de
forma infantilizada, pois se este comete um crime, entende-se que a “culpa” é unicamente deste e o
culpado carrega infantilmente consigo a imagem de “errado”, ou seja, sua realidade não é levada em
conta, é de responsabilidade dele se apegar as oportunidades que lhe são consagradas e não por
direito. (SÁ, 2005).

Em relação à primeira pergunta que se baseou na possibilidade de a educação ser exercida no


ambiente do sistema prisional, dois dos quatros apenados entrevistados concordaram que sim, apesar
de a educação prisional ter suas fragilidades e desafios, ainda assim concordaram que é possível haver
aquisição de conhecimento e trocas de experiências, suas justificativas se fundamentaram na
igualdade em relação à escola regular, e apesar do ambiente não ser do seu desejo, ainda pontuam que
o aprendizado dentro do sistema avançou satisfatoriamente.

De fato, a execução dos direitos humanos dentro dos presídios progrediu em grande escala. Tomando

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como exemplo a própria história da Penitenciária no período de 1979 e 1980, a Penitenciária


Semiaberta Masculina de Colatina (PSMCOL), era conhecida como Penitenciária Regional de
Colatina (PRCOL), supervisionada pela Policia Militar de Colatina e tinha capacidade para 90 presos,
porém o local abrigava 600 pessoas de diferentes públicos, como menores infratores, mulheres e
homens; fossem eles de regime fechado ou semiaberto. Após as construções de novos presídios na
cidade, em 2011, houve uma reforma e a Secretaria de Justiça do Espírito Santo passou a administrar a
Unidade, formando e capacitando uma nova equipe para auxiliar os privados de liberdades,
disponibilizando técnicos de psicologia, enfermagem, assessoria jurídica, assistência social e
educacional.

Os outros dois entrevistados discordaram das afirmativas, visto que se respaldam na atual realidade
das unidades, pois algumas não possuem estruturas físicas para disponibilizar um ensino com
qualidade, além da interferência de duas realidades diferentes, a da sala de aula e a da cela. Quando
ocorre a infração, automaticamente o cidadão é aprisionado e perde então, a autonomia de questionar
as políticas públicas, uma vez que, em 1890, o segundo Código Penal Brasileiro criou como
metodologia: o regime penitenciário de caráter correcional, instituindo assim, os termos ressocializar
e reeducar. (FOUCAULT, 1987)

A segunda pergunta da entrevista teve o intuito de questionar se o conhecimento adquirido dentro da


prisão pode ampliar o entendimento para que o apenado consiga entender seu mundo e nele atuar de
forma diferenciada, os consentimentos foram unanimes, uma vez que eles atestaram que a reclusão
estimula os apenados a desejarem um futuro melhor do que aquele em que se encontram e relataram
que por meio da educação ofertada a eles, podem surgir novas oportunidades.

Já a terceira pergunta argumentou se a ressocialização atrelada á educação contribui para a diminuição


da reincidência no sistema prisional brasileiro, dois dos apenados acreditam que sim, visto que o
sistema penitenciário traz oportunidades para que o apenado não precise reincidir, inclusive um
entrevistado alegou o favorecimento o qual a educação trouxe para organizar o seu próprio negócio,
apesar da concordância, um acredita que depende de cada um aproveitar a sua oportunidade, os outros
dois manifestaram discordância com a pergunta, um não acreditando que é possível a ressocialização,
acreditando somente na educação, como defesa o mesmo alegou que a educação é aplicada com amor
e trocas de experiências, já a ressocialização é imposta de forma bruta.

O outro entrevistado alega que a ressocialização existe em algumas unidades, apesar de afirmar que a

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reincidência ocorre apenas com pessoas que não querem mudanças em suas vidas, a característica
principal do regime semiaberto é a pena do privado de liberdade estar vinculada ao trabalho, sendo
assim a cada 3 dias trabalhados, um dia da pena será reduzido. O mesmo acontece com a educação,
porém no caso de conclusão do Ensino Fundamental ou o Médio, a certificação é de redução de 1/3 da
pena, e a cada 12 horas estudadas é remido um dia.

Devido a essa perspectiva, ao investigar quais seriam as possíveis perguntas para as entrevistas na
referência teórica, a quarta pergunta se baseou na opinião dos quatros sobre a escola ser como uma
distração para passar o tempo ocioso dentro das celas, ou até mesmo para conquista de benefícios
jurídicos, ou apenas um meio para serem aprovados nas provas do ENCCEJA, CEEJA e ENEM,
respondendo a essa afirmativa, a maiorias dos apenados alegaram que existem grupos que visam à
remição e existem grupos que visam um crescimento pessoal e profissional, eles se encaixam no grupo
que enxerga a oportunidade como uma forma de mudança e obterem novos conhecimentos. Outro
entrevistado relatou que sim, enxerga a escola como uma distração para passar o tempo dentro da cela,
pois se sente muito ocioso, porém sabe que a escola é a oportunidade de mudanças, serve para abrir
caminhos de oportunidades para uma faculdade, cursos técnicos e etc.

A EJA dentro do sistema prisional sofre algumas dificuldades, uma vez que quem opta por essa
modalidade, pode ser submetido a desafios, dificuldades e discriminação. Quando questionados em
relação a essa afirmativa, os apenados responderam que nunca sofreram discriminação em relação a
essa modalidade de ensino, mas que já ouviram comentários maldosos como: não é preciso aprender
muita coisa na EJA, muitos afirmam que todas as pessoas são aprovadas.

Em relação à interferência da segurança, o questionamento foi no embasamento da possibilidade de se


adquirir um aprendizado em um ambiente onde existe o conflito da regeneração versus segurança, as
maiorias dos apenados acreditam que existe essa possibilidade, porém vai depender de cada um, porém
um entrevistado denuncia: “A segurança não faz seu trabalho que é impedir uma fuga ou
desentendimentos entre os internos, ela quer impossibilitar que os projetos aconteçam”.

Os internos ainda foram questionados em relação ao propósito do governo do Estado do Espírito Santo
no incentivo da qualificação profissional, educação e o aumento da escolaridade dentro do sistema
prisional, a maioria discordou dessa afirmativa, não concordando com a efetividade desse processo. As
alegações giraram em torno de problemáticas como: falta de estrutura e recursos, ausência de interesse
dos detentos em estudar, documentação, discriminação relacionada ao crime.

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A administração dos presídios, conforme comumente se constata, orienta-se prioritariamente, para


não dizer quase que exclusivamente, no sentido de preservar a segurança, a ordem e a disciplina.

“Um diretor que obtenha êxito nessas frentes é tido como um bom diretor. Acrescente-
se a isso as providências no sentido de fazer fluir os pedidos de benefícios legais, com
o que o diretor estará “mostrando serviço” à população carcerária e aquietará os
ânimos, em favor, mais uma vez, da segurança, ordem e disciplina.” (SÁ,2005)

Em relação à satisfação dos apenados aos encontros com a assistência educacional, houve relatos por
parte dos mesmos, que reafirmam a oferta de oportunidades de educação da atual penitenciária, dois
dos detentos consideram satisfatório, porém os outros dois discordaram e alegaram as seguintes
justificativas: “Algumas professoras trabalham com os alunos de forma infantilizada com atividades
xerocopiadas, entretanto havia algumas que se dedicaram para ensinar e trabalhar de forma mais
dinâmica”.

“A vida carcerária é uma vida em massa. Sobretudo para os presos, evidentemente.


Como consequência, ela lhes acarreta uma verdadeira desorganização da
personalidade, ingrediente central do processo de prisionização. Entre os efeitos da
prisionização, que marcam, profundamente, essa desorganização da personalidade,
cumpre destacar: a perda da identidade e a aquisição de nova identidade; o sentimento
de inferioridade; o empobrecimento psíquico; a infantilização, a regressão.” (SÁ,
2005)

Devido a essa identidade, os profissionais acabam se acomodando nessa perspectiva, o profissional se


acostuma com sua rotina no sistema prisional e age imprudentemente, não levando em conta que o a
privado de liberdade é uma pessoa e merece ser tratado como tal, o técnico se aprisiona ao
condicionamento de uma prisão. Portanto, se faz necessário as estratégias de individualização da
execução da pena. (SÁ, 2005). Outro entrevistado discordou em relação à qualidade da assistência
educacional, visto que o mesmo se encontra em uma Unidade Semiaberta, porém não possui incentivo
algum para concluir seus estudos, devido ao fato de o mesmo ter parado os estudos na 1ª série do
Ensino Médio e a Unidade em que ele se encontra atualmente não possui a oferta do Ensino Médio.

No que se refere à possibilidade da ressocialização para uma nova vida em sociedade, a maioria
concorda que é possível, porém mantêm as expectativas neles mesmos, novamente afirmam que só
dependem deles para que isso ocorra. Apenas um dos entrevistados discorda e relata: “Não existe, aqui

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dentro da Unidade nenhum contato com o mundo externo, apenas com os servidores e professores,
diferentemente de uma escola regular onde existe mais contato, afeto e reintegração”. Por fim, sobre a
forma de expressão e diálogo, todos alegaram ter liberdade para debater, afirmaram que o dialogo é
dinamizado, há troca de experiências e respeito à opinião de cada um.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, observou-se que é possível ter uma educação dentro do sistema prisional, embora
tenha alguns obstáculos que dificultam a dinamização do processo, como: a estrutura física da
penitenciária, o estigmatizar do privado de liberdade em relação ao seu crime, a ainda rivalidade da
ressignificação versus a segurança entre outros. No entanto, as falas dos apenados direcionam que a
educação ofertada dentro das penitenciárias ainda sofre mudanças devido a recente valorização dos
direitos fundamentais propostos pelo Estado, no qual o que mais se evidencia é a dignidade, os
apenados reconheceram que a educação nas Unidades Prisionais avançou em larga escala, entretanto
ainda precisa de melhorias.

No que diz respeito ao índice de reincidência, como supracitado, eles alegam que a responsabilidade é
deles, só depende da vontade de cada um, reforçando a ideologia de que são exclusivamente
responsáveis pela sua decisão de não voltar para o crime, porém, diversos fatores englobam o fato de
eles cometerem o crime e quem eles são ou o que querem mudar, é preciso muito dialogo e muitas
ações para mudar essa realidade. Dessa forma, o estudo mostrou um avanço da educação no sistema
prisional, ainda que esteja engatinhando, é necessário trabalhar sobre cada uma das potencialidades
dos sujeitos e não de forma massiva como o ensino regular se dispõe, com esse grupo marginalizado é
necessário trabalhar assuntos que abordam a realidade do apenado é fundamental para que eles
possam refletir sobre tudo e almejar por um futuro melhor.

Assim, pode-se concluir que a proposta de visibilidade dos privados de liberdade é essencial para que
a educação e o trabalho sejam ofertados para esse público, além de se acreditar ser importante que
novas pesquisas sejam realizadas com o mesmo, a fim de proporcionar-lhes melhores métodos de
ressocialização.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Monografia submetida á Universidade do Vale do Itajaí – Univali, Bacharel em Direito, Biguaçu,
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