Você está na página 1de 20

EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO: AS

Artgo de revisão
POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS DE
INCLUSÃO DE PESSOAS PÚBLICO-ALVO
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL EM SALAS RE-
GULARES

Iolamárcia Quinto de Souza Santana *


Doutora Isabel Matos Nunes **

RESUMO

O presente artigo tem objetivo mostrar os estu-


dos realizados no curso de pós-graduação stric-
to sensu, em Ciências, Educação e Tecnologia
onde se analisou a legislação pátria, atinente as
pessoas com necessidades educacionais especiais.
A metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica
descritiva e qualitativa a partir de livros, artigos e
documentos normativos sobre o assunto. A relevân-
cia do estudo, a educação ampla entendi-
da aqui como um processo que ultrapassa to-
dos os territórios da convivência social, ao adentrar
a necessidade dos humanos de se relacionarem
com outros indivíduos. Ainda que no convívio em * Possui graduação em Direito
sociedade seja facultado aos indivíduos liberdade pelo Centro de Ensino Superior
de expressão e de opinião, contudo, sem estes di- do Extremo Sul da Bahia (2014) e
graduação em História pela Uni-
reitos sejam utilizados para excluir do meio social versidade Estadual de Santa Cruz
de modo a segregar indivíduos que possuam dife- (2002).
renças físicas, cognitivas ou psicossociais. Consta- ** Possui graduação em Pedago-
tou-se que as normas existentes no país são mo- gia pela Universidade Federal do
Espírito Santo (1999), Mestrado
dernas e atualizadas. Contudo, implementar políti- em Educação pela Universidade
cas públicas eficazes na concretização do respeito Federal do Espírito Santo(2009),
à diversidade e valorização da pessoa humana, de e Doutorado em Educação pela
Universidade Federal do Espírito
modo que, as crianças público-alvo da educação Santo (2016); especialização latu
especial convivam de forma harmônica com os de- sensu em psicopedagogia pela
mais educandos e com as mesmas oportunidades Universidade Cândido Mendes
(2000), especialista em Infância e
para aquisição das competências necessárias para Educação Inclusiva pela UFES
o gozo pleno da cidadania. (2006).

Palavras-chave: Políticas públicas; Educação; Inclusão.

Doi: 10.11602/1984-4271.2018.11.3.4
C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 541
Educação especial e inclusão: As políticas públicas brasileiras de inclusão de pessoas público-alvo da educação
especial em salas regulares

1 A INCLUSÃO E A POLÍTICA INCLU- mo no discurso de amparo ao cidadão,


SIVA
criar leis com o objetivo de retificar ou
abolir os danos suportados pelos exclu-
Num entendimento extensivo do
ídos.
termo educação, este é um elemento
mediador e humanizador da existência
2 A EDUCAÇÃO COMO UM DIREITO
humana. Iniciando-se os primeiros anos DE TODOS
de vida com o contato com os pais, ao
A educação constitui-se um sis-
se balbuciar os primeiros vocábulos com
tema perene visto que se inicia com
as pessoas estranhas, os primeiros mo-
nascimento, onde adquirimos a de con-
mentos no convívio escolar ação prepa-
dição sujeito de direitos, momento em
ratória para a convivência no meio social
que os cuidados são delegados à famí-
importante para desenvolver a compe-
lia e ao Estado devendo este promover
tência de transmissão de saberes racio-
a concretização integral do ser huma-
nais tais aptidões, posteriormente, capa-
no, para que, posteriormente, revertido
citará os indivíduos em agentes transfor-
de direito e deveres e participante de
madores de ações de outros indivíduos
um Estado Democrático de Direito,
assim como, influenciar outras pessoas
possa adquirir a qualificação necessá-
na busca do conhecimento de modo
ria para integrar o mercado de trabalho.
torná-la prática educativa.
Assim, no processo educacional dos in-
No entanto, para que uma práti-
divíduos estarão a todo o momento
ca se torne educativa, o indivíduo deve
presentes o Estado e a família ainda
estar despojado de atitudes preconcei-
que por vezes em maior ou menor ex-
tuosas e discriminatórias fator que habili-
tensão.
ta este para participar na construção da
Para tanto, é urgente discutir o
cidadania. Contudo, ainda que, a condi-
direito a educação e a gestão da edu-
ção de cidadão seja assegurada por lei,
cação especial como elementos inte-
muitos indivíduos têm o acesso negado
gradores dos direitos humanos essen-
uma vez que, são considerados ‘diferen-
ciais ao desenvolvimento de todos os
tes’ quer seja por sua condição física ou
indivíduos. Com a abordagem desses
cognitiva. O Estado, tem dentre suas di-
dois elementos, procura-se debater as
versas obrigações a de proteção assim
probabilidades da oferta política do di-
como, a de promoção de atitudes huma-
reito à educação e à gestão da educa-
nizadas e lógicas encontradas até mes-

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 542
Iolamárcia Quinto de Souza Santana, Doutora Isabel Matos Nunes

ção especial como resultados dos direi- resguardo na constituição do Brasil


tos humanos sob a expectativa da plura- que, expressamente, assegura como
lidade cultural e de direito social. direito essencial para materialização
A alegação de que o direito à das demais garantias basilares do ho-
educação é inerente a todas as pessoas mem assim, a importância da educação
destacada como componente imperativo demonstra ser ferramenta indispensá-
para a formação social igualitária assim vel e peremptória para o desenvolvi-
como para o aperfeiçoamento da vida mento das habilidades para a inserção
em comunidade. no mercado de trabalho e na constru-
Analisa-se de que forma a imple- ção e consolidação da consciência de
mentação das políticas públicas de aces- cidadania num sociedade caracterizada
so ao direito de educação e de promo- pela revolução científico tecnológico
ção dos direitos, às pessoas público-alvo global.
da educação especial, propõem-se refle- Assim, abordagem da legisla-
tir sobre a organização da gestão do sis- ção tem por objetivo conceituar a edu-
tema de ensino na modalidade especial cação especial e de como se dá as im-
se, este, busca reduzir ou maximizar as plicações historiográficas, sociológicas,
diferenças sociais. Assim, procura-se de- administrativas e políticas. A aborda-
monstrar como se organizar o sistema gem da educação formal visa relaci-
de gestão do ensino na modalidade es- oná-la com a defesa dos direitos dos
pecial se seus destinatários têm as dife- indivíduos com necessidades educacio-
renças rotuladas ou se é enfatizado direi- nais especiais tendo por pressuposto a
to à cidadania e, se assegura a participa- ideia de que um dos princípios da edu-
ção desses indivíduos ocorra em condi- cação é que esta é direito de todos e
ção de paridade tanto no processo de uma obrigação do Estado, este princí-
aprendizagem quanto na vida social. Ao pio assegurar que todos os indivíduos
se debruçar sobre a educação e mais, residentes no Brasil o direito a uma
especificamente, sobre o direito do ser educação igualitária e oportunizadora
humano à educação sistema que se asseguradas pela constituição federal
soma a outros para constituírem elemen- de 1988.
to emancipador. Art. 205. A educa-
ção, direito de to-
O direito a educação e as suas dos e dever do Es-
expectativas de produzir efeitos reais tado e da família,
será promovida e

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 543
Educação especial e inclusão: As políticas públicas brasileiras de inclusão de pessoas público-alvo da educação
especial em salas regulares

incentivada com a víduos com alguma necessidade espe-


colaboração da soci-
edade, visando ao cial tornou necessário especificar de
pleno desenvolvi- maneira detalhada, em todas as moda-
mento da pessoa,
seu preparo para o lidades educacionais, os direitos que
exercício da cidada-
nia e sua qualificação assistem a todos uma vez que, socie-
para o trabalho. dade não está educada para aceitar as
Art. 206. O ensino
será ministrado com especificidades de cada indivíduo sen-
base nos seguintes
princípios: I - Igualda-
do necessário a reorientação legal com
de de condições para imposição de penalização para aqueles
o acesso e perma-
nência na escola. que infringirem a norma vigente.
A contemporaneidade discute
O artigo 205, da Constituição Fe- como tornar a sociedade mais inclusiva
deral Brasileira indica com clareza o di- e combativa aos vários tipos de precon-
reito de educação formal é assegurado ceitos e discriminações. Não pairam
de forma igualitária a todos os cidadãos dúvidas de que, a escola tem papel
devendo ser promovida pelo Estado e fundamental como agente construtor e
pela família cujo objetivo é a colaboração disseminador uma cultura com padrões
social visando o pleno desenvolvimento sociais que entendam ao processo in-
do indivíduo assim como o seu preparo clusivo capaz de combater a aversão
para exercer a cidadania e a qualificação ao diferente, ação importante para a
profissional. Já o artigo 206, estabelece consolidação do direito de igualdade de
que não deve haver distinção de trata- educação para todos.
mento no tocante a oferta educacional, O marco para a inclusão esco-
acesso assim como, a permanência, de- lar foi a publicação, em 1994, da Decla-
vendo ser assegurado pelo Estado. A le- ração de Salamanca que estabeleceu
gislação pátria afirma que o Estado tem princípios, políticas e práticas na área
o dever de assegurar o atendimento edu- das necessidades da educação especi-
cacional especializado, preferencialmen- al (UNESCO, 1994). Nos país signatá-
te, a aqueles com necessidades educaci- rio, assim como no Brasil, o texto da
onais especiais na rede regular de ensi- declaração de Salamanca, 1994, rom-
no. peu com os paradigmas de que os edu-
No entanto, a trajetória de exclu- candos com deficiência apenas poderi-
são e desrespeito suportados pelos indi- am frequentar escolas especificas, o

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 544
Iolamárcia Quinto de Souza Santana, Doutora Isabel Matos Nunes

referido documento inovou no fato de formar cidadãos deve atuar de forma


que as crianças com alguma necessida- que esses indivíduos conviviam harmo-
de especial deveriam frequentar as esco- nicamente com a diversidade e o plura-
las regulares. lismo próprio do exercício da cidadania.
A declaração de Salamanca con- Com publicação da Lei 9394/96
tribuiu de forma definitiva para que hou- cujo teor estabelece a inclusão de alu-
vesse modificações no cenário da edu- nos com necessidades educacionais
cação brasileira agora, os projetos esco- como especiais nas escolas de ensino
lares são reformulados no intuito de rom- regular surgem desafios para a comuni-
per com a noção de um sistema educaci- dade escolar provocando acaloradas
onal discriminador. Possibilitou redimen- discussões entre os vários segmentos
sionar o conhecimento acerca da educa- sociais quanto à necessidade de se so-
ção especial assim como, da função do mar esforços para alcançar as metas
educador frente à diversidade de edu- estabelecidas nas diretrizes educacio-
candos, de sua praxe pedagógica num nais.
cenário de educação inclusiva. O assunto ganhou destaque
A Constituição Cidadã, de 1988, nacional nos noticiários a partir da pro-
em seu artigo 208, ao estabelecer o mulgação do decreto-lei 7.611/2011,
atendimento educacional especializado quando a comunidade escolar passou
aos educandos com necessidades espe- a questionar a aplicação efetiva do dis-
ciais deve ocorrer, preferencialmente, positivo de lei que afirma ser dever do
nas unidades escolares públicas do ensi- Estado, sua política pública de gerenci-
no regular constituindo um avanço no ar a educação especial de modo satis-
sentido de construção de uma sociedade fatório às pessoas, público-alvo, garan-
igualitária capaz de eliminar espaços ex- tindo um sistema educacional inclusivo
cludentes e de garantir o convívio com em todos os níveis, sem discriminação
as desigualdades intelectuais, locomo- e com base na igualdade de oportuni-
ção, etc., de forma harmoniosa. dades devendo o aprendizado ocorrer
As escolas são campos impor- ao longo de toda a vida não podendo
tantes para a propagação da cultura de haver exclusão do sistema educacional
uma sociedade e, assim sendo, deve geral sob alegação de deficiência asse-
acompanhar as evoluções sociais. Se a gurando o ensino fundamental gratuito
escola é uma instituição cuja missão é e compulsório, garantindo adaptações

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 545
Educação especial e inclusão: As políticas públicas brasileiras de inclusão de pessoas público-alvo da educação
especial em salas regulares

razoáveis de acordo com as necessida- 3 HISTORIOGRAFIA DA INCLUSÃO


des individuais.
A oferta de apoio necessário, no As concepções atuais que te-
âmbito do sistema educacional geral, mos em relação condições especiais
com vistas a facilitar sua efetiva educa- das pessoas é consequência de uma
ção adotando as medidas de apoio indi- longa caminhada que traz à baila diver-
vidualizadas e eficazes, em ambientes sas concepções acerca das práticas re-
que maximizem o desenvolvimento aca- lativas às pessoas com necessidades
dêmico e social, de acordo com a meta especiais. A preocupação com a defe-
de inclusão plena sendo a oferta de edu- sa da cidadania e do direito de acesso
cação especial preferencialmente na à educação para todos independente
rede regular de ensino e com apoio téc- da condição intelectual ou motora é um
nico e financeiro pelo Poder Público às ativismo moderno da sociedade. Ainda
instituições privadas sem fins lucrativos, que, ao longo da historiografia da hu-
especializadas e com atuação exclusiva manidade tenha existido militância iso-
em educação especial. Sendo considera- lada de pessoas ou grupos.
do público-alvo da educação especial as A falta de memória social tende
pessoas com deficiência, com transtor- a creditar à contemporaneidade o pro-
nos globais do desenvolvimento e com tagonismo de luta e reconhecimento de
altas habilidades ou superdotação. alguns direitos das pessoas com ne-
Contudo, ainda que não esteja- cessidades especiais identificados
mos presos à complexidade da educa- como elementos constitutivos das po-
ção especial ou em suas contradições e líticas estatais de amparos sociais im-
em seus efeitos sociais, percebemos que plementadas a partir de meados do sé-
as normas legais são resultadas de to- culo passado. A literatura educacional
das as discussões e da tomada de ações quanto os documentos técnicos ates-
que minimizem as contradições e proble- tam que as situações de reconheci-
mas surgidos. mento dos direitos das pessoas com
necessidades educacionais especiais
não tiveram como pressuposto outros
atendimentos que não o educacional.
Corroborando com essa afirmativa o
autor descreve que a trajetória educaci-

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 546
Iolamárcia Quinto de Souza Santana, Doutora Isabel Matos Nunes

onal até o século XVIII esteve ligada ao lam impõe novas ações uma vez que, a
ocultismo e misticismo. dinâmica social é motor para todas as
mudanças. Destarte, as mudanças
Buscando na história quanto ao entendimento de deficiência
da educação informa-
ções significativas podem ser entendidas e analisadas sob
sobre atendimento a óptica das mudanças de paradigmas
educacional dos por-
tadores de deficiên- que norteiam os registros históricos da
cia, pode-se consta-
tar que, até o século humanidade. Observa-se que, as trans-
XVIII, as noções a formações estão intimamente ligadas
respeito da deficiên-
cia eram basicamen- às alterações contemporâneas quanto
te ligadas a misticis-
mo e ocultismo, não á teoria de vida e de humanidade.
havendo base cienti- Mesmo que as deficiências,
fica ligadas a desen-
volvimento de noções nunca tenham sido superadas em ne-
realísticas (MAZOT-
nhum destes momentos históricos, po-
TA, 2011, p.16).
demos refletir e compreender o que

Se hoje, compreendemos que a cada uma destas concepções significou

inclusão como um processo necessário à em seu tempo. Um dos registros mais

sociedade contemporânea, os créditos remotos que se tem no tocante as defi-

devem ser dados às práticas anteriores ciências, é a ideia de que uma pessoa

ao processo de inclusão ainda que, as com algum tipo de condição especial ti-

mesmas não tenham alcançado a forma nha poderes mágicos ou sobrenaturais

satisfatória de inclusão. Autores como numa clara indicação de que se a exis-

Mazzoni e Torres (2005), afirmam que o tência de uma pessoa com necessida-

processo de modernização aliado a ideo- des especiais representasse um fenô-

logia capitalista empreendeu evoluções meno incomum, e que, em algumas

nas políticas governamentais de inclusão épocas eram repelidas pois atribuíam a

intimamente relacionadas aos conceitos condição especial a possíveis castigos

de igualdade e de liberdade, assim como divinos, ou eram vistas como supersti-

de direitos naturais e imprescindíveis. ção e malignidade.

Logo, as mudanças do ponto de Segundo Fonseca (2008, p.

vista podem ser associadas às especifi- 65):

cidades historiográficas e sociais em


Em Atenas, os defici-
que, a inovação de padrões que se insta-
entes eram abando-

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 547
Educação especial e inclusão: As políticas públicas brasileiras de inclusão de pessoas público-alvo da educação
especial em salas regulares

nados em locais des- frontes para que estes pudessem de-


conhecidos, para aí fi-
carem sujeitos à impla- senvolver atividades renumeradas e
cável determinação da obter certa dignidade social. A guerra
luta pela sobrevivên-
cia”. Esparta aplicou do Vietnã causou em milhares de sol-
aos deficientes o pro-
cesso de seleção mais dados a condição de deficientes físicos,
desumano e arbitrário assim, devido às fortes pressões soci-
que há memória. “Os
Ronzanos, mais tole- ais que, por meio de formação de gru-
rantes, adotam os defi-
cientes para os exibi-
pos de defesa dos direitos das minorias
rem em festividades fortaleceram o conceito de inserção à
suntuosas.
sociedade que até aquela época esta-

Khater (2008), afirma que o cris- vam radicalmente excluídos de partici-

tianismo deu um caráter assistencialista par do mercado de trabalho.

para as pessoas com condição física ou Sassaki (2010), a ideia de inte-

mental, a fim de contribuírem para suas gração surgiu para derrubar a prática

sobrevivências. Adentrando mais o cami- da exclusão social a que foram subme-

nhar histórico durante a Idade Média, tidas às pessoas com deficiência por

ainda sob a forte influência da filosofia vários séculos. Para o autor, a exclusão

do cristianismo, coube aos lordes feudais ocorria em seu sentido-total, ou seja,

acudir os deficientes e os doentes, em as pessoas com deficiência eram ex-

casas assistenciais. A partir da revolução cluídas da sociedade afirma, ainda que,

francesa até o século XIX, com o adven- ter maior ou menor autonomia significa

to do capitalismo mercantil e com a ideia que a pessoa com deficiência tem mai-

de divisão social do trabalho esteve em or ou menor controle nos vários ambi-

voga o pensamento de que as condições entes físicos e sociais que ela queria e/

especiais dos indivíduos passaram a ser ou necessite frequentar para atingir

entendida como questão medico-educa- seus objetivos e que a inclusão no mer-

cional e, estes cidadãos passaram viver cado de trabalho competitivo não é um

em conventos ou hospícios. sonho impossível de ser realizado. As-

Enfatiza Khater (2008), que as sim, o movimento de inclusão social,

guerras mundiais, ocorridas no século reclamada a existência de uma socie-

XX, causaram um intenso desenvolvi- dade que, tendo entendimento o direito

mento do cientificismo objetivando a rea- das pessoas com deficiência e o valor

bilitação dos combatentes mutilados nos

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 548
Iolamárcia Quinto de Souza Santana, Doutora Isabel Matos Nunes

da diversidade humana, se modifique O que se observa é que as pri-


para aceitá-las junto à população geral. meiras preocupações voltadas para
essa temática foram de dar uma aten-
ção às pessoas, de modo mais espe-
4 AS POLÍTICAS DA EDUCAÇÃO ES-
PECIAL NO BRASIL cífico, às crianças, assistindo-as, mas
não as integrando na sociedade. A se-
A história da educação especial
gregação ainda era uma quase regra
inclusiva no Brasil é recente e remonta
no formato da atenção e educação da
ao último século. É importante ressaltar
escola nessa época. A segregação en-
que desde os primeiros movimentos em
volvia vários aspectos e a discrimina-
prol de uma educação inclusiva até os
ção racial e social ainda imperava no
dias de hoje houve grandes e considerá-
contexto escolar.
veis avanços, tanto no campo da inclu-
Tanto quanto negros ou po-
são propriamente dita quanto no campo
bres, os deficientes também faziam
político e jurídico, onde políticas de inclu-
parte dessa segregação discriminató-
são foram sendo implementadas a partir
ria. A educação especial, ou seja,
de novas legislações acerca do assunto.
aquela destinada aos deficientes tam-
O movimento de inclusão das
bém era vista como uma atenção se-
pessoas com deficiência é algo recente.
gregada. Concernente a essa educa-
Historicamente, a existência discrimina-
ção especial, as primeiras iniciativas do
tória da escola e de toda sociedade se li-
processo de inclusão no Brasil datam
mita à escolarização de um grupo seleto
do período imperial, por ocasião em
e homogêneo de pessoas. Os que não
que Dom Pedro II criou o Instituto para
pertenciam a esse grupo ficavam excluí-
meninos cegos em 1854 (SILVA,
dos dessa sociedade.
2014).
Com a democratização da esco-
As ações descritas, embora de
la surge a contradição inclusão/exclusão.
cunho mais assistencial não pode dei-
Inicia-se, então, o acesso das pessoas
xar de ser considerada como as pionei-
com deficiência às escolas, mas, num
ras no campo da inclusão. As institui-
processo de integrar e não de incluir.
ções criadas, embora segregadas das
Toda essa modificação, ainda que lenta
regulares, possibilitaram, na época,
e pouco significativa, fomenta futuras e
que tais crianças não vivessem total-
importantes mudanças no cenário para
tentativas de uma educação inclusiva.

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 549
Educação especial e inclusão: As políticas públicas brasileiras de inclusão de pessoas público-alvo da educação
especial em salas regulares

mente marginalizadas por conta de suas federais e estaduais e de classes espe-


deficiências. ciais (ROGALSKI, 2010, p.2).
Nesse período, a valorização do Nessas as décadas, o Brasil
ser humano passou a ser melhor com- passou por profundas mudanças cultu-
preendida pelas sociedades. Os avanços rais e sociais, de maneira que a forma
da medicina contribuíram para que casos de se pensar também foi modificada.
relacionados às deficiências não fossem Nesse sentido, a população, mais
segregados da sociedade. Os estudos e conscientizada criticamente passou a
experiências com relação à essa proble- questionar formatos sociais existentes.
mática se tornaram mais comuns, tra- No campo educacional, destaca-se a
zendo temáticas como hereditariedade, educação bancária, muito criticada por
questões higienistas e distorções anatô- Paulo Freire, à época (BEZERRA; BRI-
micas à luz das discussões no campo da TO; MENEZES, 2017).
saúde (BEZERRA; BRITO; MENEZES, Ao analisar as características
2017, p.562). do atendimento ás pessoas com defi-
Os avanços relacionados ao ciência das décadas de 1950 e 60,
atendimento médico, permitiram concluir pode-se observar que, estas décadas
que as pessoas nascidas com deficiên- foram marcantes para a inclusão de di-
cias não podiam ficar segregadas da so- versos grupos populacionais segrega-
ciedade, uma vez que as mesmas, dian- dos da sociedade e muitas vezes alija-
te das evidências da medicina, poderiam dos de um sistema educacional efetivo
conviver socialmente, preservando-se e inclusivo. Assim, a sociedade, agora
suas deficiências, é claro. mais crítica, começa a se organizar no
Sabe-se que, o atendimento aos sentido de questionar e desenvolver a
indivíduos em educação especial passou consciência de um mundo mais justo,
a figurar como política educacional a par- inclusivo, e menos segregado.
tir das décadas de 50-60 do século XX. É nessa década que tem início
É somente a partir da década de 1950 as campanhas voltadas para esse fim
que a educação especial passa a ser especificamente. A primeira a ser insti-
discutida, tornando-se preocupação dos tuída foi a Campanha para a Educação
governos com a criação de instituições do Surdo Brasileiro (CERB). Instalada
públicas e privadas, órgãos normativos no Rio de Janeiro, essa campanha ti-
nha por “finalidade promover, por todos

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 550
Iolamárcia Quinto de Souza Santana, Doutora Isabel Matos Nunes

os meios a seu alcance, as medidas ne- para o pleno desenvolvimento dessas


cessárias à educação e assistência, no crianças. Em 1958, foi criada a Campa-
mais amplo sentido, em todo o território nha Nacional de Educação e Reabilita-
nacional” (MAZOTTA, 2011, p.53). ção de Deficientes da Visão. Dois anos
A primeira campanha, começa, mais tarde, essa mesma campanha
ainda que de forma discreta, a atentar-se passou por reformulação sendo deno-
para a questão da educação especial minada Campanha Nacional de Educa-
com maior zelo. Primeiramente, os sur- ção de Cegos (CNEC) (MAZOTTA,
dos foram assistidos na campanha, onde 2011, p. 53).
foram elaboradas ações de cunho edu- Em 1960, outra Campanha ga-
cativo e assistencial, ainda que de forma nhou destaque pela influência de movi-
segregada da escola regular. Em 1954, mentos liderados pela Sociedade Pes-
surge o movimento das Associações dos talozzi e Associação de Pais e Amigos
Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), dos Excepcionais, ambas do Rio de Ja-
e aumenta o número de escolas especi- neiro. Assim surgiu a Campanha Nacio-
ais. A APAE é concebida tendo como pa- nal de Educação e Reabilitação de De-
râmetro a organização da National Asso- ficientes Mentais (CADEME). Tal cam-
ciation for Retarded Children dos Esta- panha tinha por finalidade “promover,
dos Unidos da América, que consistia em todo o território nacional, a educa-
em uma associação de assistência às ção, treinamento, reabilitação e assis-
crianças excepcionais (ROGALSKI, tência educacional das crianças retar-
2010). dadas e outros deficientes mentais de
A APAE até os dias atuais ainda qualquer idade ou sexo” (MAZZOTTA,
funciona produzindo grandes resultados 2011, p.55).
na atenção de crianças especiais. Toda- Todas as campanhas realiza-
via, a ação da APAE, conforme seus pro- das ocorreram de maneira a chamar a
pósitos, é assistencial, formada por uma atenção da sociedade para com grupos
equipe multiprofissional, que, embora, se com deficiência de maneira a colocá-
desenvolva ações educativas, não subs- los em uma condição de valorização da
titui a escola regular, uma vez que, ainda pessoa. Todavia, pouco se falou, nesse
permanecem segregados do convívio período, de inclusão dessas crianças
com outras crianças sem tais deficiên- nas escolas regulares. As campanhas
cias o que é considerado indispensável não tinham esse enfoque inclusivo. O

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 551
Educação especial e inclusão: As políticas públicas brasileiras de inclusão de pessoas público-alvo da educação
especial em salas regulares

enfoque era de cuidado e atenção espe- excepcionais”. É o primeiro órgão cria-


cial para com os deficientes, ofertando- do pelo Governo Federal com intenção
lhes espaços especializados de maneira de desenvolver ações em todo o territó-
que os mesmos pudessem ser acompa- rio brasileiro (MAZOTTA, 2011, p.55). É
nhados e que pudessem, dentro de suas importante observar que o CENESP é
limitações, desenvolverem-se. Desse o primeiro órgão do governo criado
modo, os deficientes eram acolhidos pe- com a finalidade exclusiva de lidar com
las instituições criadas, de maneira que a os casos de deficiência no Brasil. Em-
assistência à sua saúde ocorria de ma- bora ainda sem o cunho inclusivo, o
neira efetiva e, dentro das possibilida- mesmo assume o papel preponderante
des, os mesmos eram treinados e edu- na sociedade brasileira na década de
cados para lidarem com suas deficiên- 1970, em substituição às campanhas,
cias e, com isso, pudesse participar da comuns nas décadas anteriores.
sociedade de uma maneira mais segura. O CENESPE corresponde a
Os grupos criados eram de pes- culminância das campanhas ocorridas
soas com deficiências. Embora a aten- nas duas décadas anteriores, onde, fru-
ção fosse importante, e a assistência à to das ações desenvolvidas nas cam-
sua saúde bem como a educação reali- panhas, urgiu a necessidade de um
zada por profissionais inseridos nas insti- maior comprometimento da esfera go-
tuições ocorresse de maneira efetiva, vernamental. Assim, foi criado o CE-
dando aos deficientes um mínimo de NESPE, com abrangência nacional e
conforto necessário, é de se supor que pautado na intenção de dar todo o
tal iniciativa não contemplou de maneira aporte necessário ao educado especial
significativa a proposta de inclusão soci- durante todo o ciclo escolar, de manei-
al, uma vez que, os mesmos, embora ra a fomentar sua participação progres-
acompanhados, eram alijados com con- siva na comunidade. O que ocorre, ain-
vívio, no contexto socioeducativo, de cri- da nesta década, é que tais ações fo-
anças sem deficiências. ram arregimentadas em instituições es-
Na década de 1970, é criado, no pecializadas, inviabilizando dessa for-
Brasil, o Centro Nacional de Educação ma, a integração de fato dessas crian-
Especial (CENESP), com a finalidade de ças na sociedade.
“promover em todo o território nacional, a Já na década de 1980, mais
expansão e melhoria do atendimento aos precisamente no ano de 1986, o CE-

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 552
Iolamárcia Quinto de Souza Santana, Doutora Isabel Matos Nunes

NESP é transformado na Secretaria de com maior atenção, as instituições es-


Educação Especial (SESPE). Criada na pecializadas ainda segregavam tais
estrutura básica do Ministério da Educa- educandos à marginalização. As esco-
ção como órgão central, a SESPE passa las regulares ainda não acolhiam tais
a ser uma referência nacional para a educandos, ficando os mesmos à mar-
educação especial no Brasil. As ações gem do convívio com outros alunos da
da SESPE perduraram até o ano de mesma idade.
1990, quando, por ocasião da reestrutu- Essa realidade começa a se
ração do Ministério da Educação, a mes- modificar ainda na década de 1990. As
ma foi extinta, passando suas atribuições inúmeras discussões acerca do tema
para a Secretaria Nacional de Educação desenroladas em todo o mundo fazem
Básica (SENEB), que incluiu em sua es- com que a educação inclusiva, enfim,
trutura o Departamento de Educação Su- ganhe um espaço digno no campo das
pletiva e Especial (DESE), com compe- políticas sociais em todo o mundo. Um
tências específicas para a educação es- marco nesse sentido foi a Conferência
pecial (MAZZOTTA, 2011). ocorrida em Salamanca, em 1994, de
Observa-se que a educação es- onde foi elaborada a declaração, que
pecial no Brasil ganha espaço na década se tornou marco referencial para o iní-
de 1990, consolidado as ações iniciadas cio da caminhada para a educação in-
discretamente na década de 1950. É clusiva em todo o mundo.
também a partir de 1990 que o Estado Com a Declaração de Sala-
assume, majoritariamente, a responsabi- manca, o conceito de inclusão passou
lidade para com essa questão. Todavia, a ser referido com mais constância nos
destarte os avanços conquistados no meios sócio educacionais e na formula-
campo da educação especial, as ações ção de políticas públicas nesse campo.
de cunho assistencial, embora essenci- Assim, concebendo a inclusão como
ais, aos poucos contribuíram para a in- um processo educacional “através do
clusão desses educandos no convívio qual todos os alunos, incluídos, com
social. deficiência, devem ser educados jun-
A educação especial inclusiva tos, com apoio necessário, na idade
pouco evoluiu no Brasil até o final do sé- adequada e em escola de ensino regu-
culo XX. Destarte os grupos de pessoas lar” (ROGALSKI, 2010).
deficiências passaram a serem vistos

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 553
Educação especial e inclusão: As políticas públicas brasileiras de inclusão de pessoas público-alvo da educação
especial em salas regulares

A Declaração de Salamanca 3.956/2001, reafirma a não discrimina-


bem como outros marcos importantes da ção das pessoas com deficiência con-
educação inclusiva que culminaram com firma que estas são possuidoras dos
a formulação de diversas políticas públi- mesmos direitos e liberdades funda-
cas nacionais. Todavia, sob a ótica da mentais a todo homem. No campo edu-
história da educação inclusiva, tal decla- cacional, a edição do decreto buscou
ração tem um significado marcante, pois promover o acesso a escolarização as-
foi a partir da mesma que pode se come- sim, neste entendimento o governo edi-
çar a consolidar leis garantindo o direito tou a Resolução CNE/CP nº 1/2002,
da inclusão às pessoas com deficiência como política para alcançar os objeti-
e, a partir da solidificação desses direi- vos estabeleceu as diretrizes curricula-
tos, formular políticas públicas capazes res nacionais para formação de docen-
de permitir que tais direitos se tornassem tes da educação básica, previu que as
garantidos e efetivados na prática. instituições superiores deveriam organi-
Com as orientações implícitas na zar seu currículo a fim de formar pro-
Declaração de Salamanca, a educação fessores no atendimento a educandos
especial, historicamente marginalizada, com deficiências, transtornos globais
ganha espaço e força em todo o mundo. do desenvolvimento e altas habilida-
O Brasil acompanha esse fenômeno e des/superdotação.
propicia discussões que vão culminar Em 1999 é criada a Política Na-
mais tarde com leis dignas de inclusão cional para a Integração da Pessoa
social de fato e direito às pessoas com Portadora de Deficiência. Nesse docu-
deficiências (ROGALSKI, 2010). A partir mento é atualizado o conceito da pes-
da orientação dada pela declaração de soa com deficiência, de forma mais
Salamanca e pela consolidação legal abrangente e inclusiva, definindo quem
dos direitos sociais implícitos na Consti- são estas pessoas e como assegurar
tuição Federal de 1988, diversas ações os seus direitos instituídos (AMARAL et
começam serem formuladas a fim de al., 2014). De acordo com esse decre-
proporcionar a garantia dos referidos di- to, deficiente é todo aquele que tem
reitos. uma perda ou uma anormalidade de
A convenção realizada na Gua- uma estrutura ou função psicológica, fi-
temala, 1999, e referendada, pelo gover- siológica ou anatômica que provoque
no brasileiro, por meio do Decreto nº incapacidade para desempenhar ativi-

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 554
Iolamárcia Quinto de Souza Santana, Doutora Isabel Matos Nunes

dade, dentro do padrão considerado nor- desde a educação infantil até as etapas
mal para os demais e afirma ainda que mais avançadas, conforme o mesmo vá
deficiência permanente é aquela que alcançando-as (BRASIL, 2008).
ocorreu num determinado tempo sem re- Transversalidade da educação
cuperação, mesmo com novos tratamen- especial desde a educação infantil até
tos (AMARAL et al., 2014). a educação superior. Ou seja, a educa-
Com todas as discussões sobre ção especial é uma modalidade de en-
educação especial e inclusiva na década sino que perpassa todos os níveis e
de 1990, pode se considerar que esta modalidades escolares a fim de promo-
foi, sem dúvidas, a década mais marcan- ver soluções às necessidades de cada
te no quesito da educação inclusiva, no educando. A política traz o conceito de
Brasil, sobretudo, de educandos especi- atendimento educacional especializado
ais, ou seja, com algum tipo de deficiên- como:
cia. A educação inclusiva passa, enfim, a A Educação Especial tradicio-
ser compreendida de maneira mais clara nalmente se configurou como um siste-
por toda a sociedade e o Estado, assu- ma paralelo e segregado de ensino,
me, de uma vez por todas, a soberania voltado para o atendimento especializa-
sobre o processo de inclusão social das do de indivíduos com deficiências, dis-
pessoas com deficiência. túrbios graves de aprendizagem e / ou
A Política Nacional de Educação de comportamento, e altas habilidades.
Especial na Perspectiva da Educação In- Contudo, a partir destas últimas déca-
clusiva é um marco na luta das pessoas das, em função de novas demandas e
com deficiência por igualdade de condi- expectativas sociais, os profissionais
ções e acesso a uma escola para todos. da área têm se voltado para a busca de
Sua importância reflete em diversos as- outras formas de educação escolar
pectos como pedagógico, político e prin- com alternativas menos segregativas
cipalmente social. Com a formulação de absorção desses educandos nas re-
dessa Política fica mais claro e de fácil des de ensino (AMARAL et al., 2014).
entendimento a compreensão de educa- O processo de educação inclu-
ção especial. Nesse contexto, destaca- siva, a partir da década de 1990, tor-
se o princípio da transversalidade, onde nou-se mais acelerado, sendo reconhe-
o indivíduo portador de deficiência deve cido como um importante passo rumo à
ter o seu direito à educação garantida garantia dos direitos prioritários da pes-

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 555
Educação especial e inclusão: As políticas públicas brasileiras de inclusão de pessoas público-alvo da educação
especial em salas regulares

soa humana em todo o mundo. O princí- deficiência em classes do ensino regu-


pio básico da educação inclusiva é que lar, comprovando assim a transforma-
todos os alunos, independentemente de ção existente na gestão de inclusão
suas condições sociais, econômicas, ra- nas escolas regulares brasileiras, con-
ciais, culturais ou de desenvolvimento, forme dados apresentados pelo Censo
sejam acolhidos nas escolas regulares. do MEC nos gráficos abaixo:
Cabe enfatizar que, a educação
inclusiva não consiste, mormente, em
matricular o aluno com deficiência em
escola ou turma regular como um espa-
ço de convivência para desenvolver a
socialização. A inclusão escolar só é sig-
nificativa, efetivamente, o aluno com de-
ficiência puder integrar-se à turma e inte-
ragir com os mesmos de maneira a de-
senvolver seu processo ensino/aprendi-
zagem, guardadas, naturalmente, as li-
mitações.
Desta forma, a partir da década
de 1990, restou demonstrado o avanço
da Política de Inclusão de pessoas com

Figura 1. Evolução da Política de Inclusão nas classes do ensino regular – 1988-2006

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 556
Iolamárcia Quinto de Souza Santana, Doutora Isabel Matos Nunes

Figura 2. Evolução de Matrícula da Escola Especial – 1988-2006.

Assim, o número de matrículas se pode impor a todos que aceite de


em escolas comuns tem sido superior forma natural aqueles com alguma con-
em relação às escolas especializadas, o dição especial, temos o dever de lutar
que de fato vem comprovando a imple- para que a norma seja cumprida e os
mentação da política de educação no direitos dos indivíduos com condição
sistema educacional, bem como o avan- especial ou não, sejam observados
ço no processo que implica a busca por uma vez que estas refletem a política e
um direito humano e constitucional a to- as ideologias predominantes à época
dos. de sua feitura, o mens legis.
Contudo, atualmente, nos apos-
5 CONCLUSÃO
samos vários saberes a respeito dos te-
mas que abrangem condição especial O presente artigo debruçou-se
das pessoas, seja ela concreta ou tem- sobre o processo de inclusão dos indi-
porária. Suficiente saber empregar tal in- víduos com alguma condição especial
formação, em benfeitoria dos indivíduos e nas, nas políticas estatais para efeti-
que, ainda hoje, são colocadas num uni- vação da inclusão escolar. Observa-se
verso particular sob “proteção”. Alijadas que o processo de inclusão tem como
do convívio social, sem cidadania, sem resultado de uma escola de excelência.
dignidade. Ainda que, saiba-se que, não Assim, noção de inclusão escolar colo-

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 557
Educação especial e inclusão: As políticas públicas brasileiras de inclusão de pessoas público-alvo da educação
especial em salas regulares

ca realidade do processo de anterior em constatar que, do ponto de vista legal,


xeque onde o sujeito deveria se ajustar à as normas existentes no país concer-
escola para o entendimento de que, nente a educação inclusiva é modernas
este, tem o direito irrestrito à escolariza- e atualizadas. Os avanços alcançados
ção em todos os níveis educativos. As- nos últimos 30 anos no país são consi-
sim, direito inserir à escola um expressi- deráveis. Contudo, na prática, a imple-
vo referencial teórico da inclusão da di- mentação da educação inclusiva ainda
versidade, possibilitando sistematizar o passa por muitos obstáculos e conquis-
conhecimento e a prática dos operado- tas.
res educacionais que galgaram novos ní- Para se implementar de fato e
veis de qualidades educacionais decor- direito a educação inclusiva é preciso
rentes do processo inclusivo. que haja uma mudança social e cultural
A contemporaneidade tem se em todo o país. Substituir a ideia de se-
preocupado em oferecer condições e gregação das pessoas com deficiência
oportunidades semelhantes a indivíduos por uma ideia de inclusão, onde estes
diferentes seja pela existência da contra- devam conviver com pessoas sem as
dição socioeconômica de classe ou por mesmas deficiências, mas com suas
apresentar condições de capacidades particularidades, é um processo que
físicas intelectuais ligadas às necessida- deve ocorrer de maneira gradativa e
des organicamente estruturais natas ou isto requer tempo e o envolvimento de
não. A conclusão desse estudo permite toda a sociedade.

SPECIAL EDUCATION AND INCLUSION: BRAZILIAN PUBLIC POLICIES FOR


THE INCLUSION OF PUBLIC-TARGETED PERSONS OF SPECIAL EDUCATION
IN REGULAR ROOMS

ABSTRACT: This article aims to show the studies carried out in the stricto sensu
postgraduate course in Science, Education and Technology, where the national le-
gislation was analyzed, with regard to people with special educational needs. The
methodology used was descriptive and qualitative bibliographic research from books,
articles and normative documents on the subject. The relevance of the study, the
broad education understood here as a process that surpasses all the territories of the
social coexistence, when entering the need of humans to relate with other individu-
als. Even if in the society as a whole people are given freedom of expression and
opinion, however, without these rights they are used to exclude from the social envi-
ronment in order to segregate individuals who possess physical, cognitive or psycho-
social differences. It was found that the existing norms in the country are modern and
up-to-date. However, implement effective public policies in achieving respect for the

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 558
Iolamárcia Quinto de Souza Santana, Doutora Isabel Matos Nunes

diversity and appreciation of the human person, so that the children targeted by spe-
cial education coexist harmoniously with other learners and enjoy the same learning
opportunities to acquire the necessary skills for the full enjoyment of citizenship.

Keywords: Public policies; Education; Inclusion.

Artigo recebido em 26/07/2018 e aceito para publicação em 31/08/2018

REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 8059, de 13 de julho


de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da
AMARAL, M.B. et al. Breve histórico da Criança e do Adolescente, e dá outras
educação inclusiva e algumas políticas providências. Brasília, DF, 1990.
de inclusão: um olhar para as escolas
em Juiz de Fora. Revista Eletrônica da BRASIL. Ministério da Educação. Po-
Faculdade Metodista Granbery, v.1, lítica Nacional de Educação Especial.
n.16, 2014. Brasília, DF, 1994.

BEZERRA, A.C.; BRITO, C.E.N.; MENE- BRASIL. Ministério da Educação. Po-


ZES, T.S. Rev. Eletrônica Pesquisedu- lítica Nacional de Educação Especial
ca, v.9, n.19, p.557-578, 2017. na perspectiva da Educação Inclusi-
va. Brasília: Ministério da Educação,
BRASIL. Decreto nº7.611, de 17 de no- 2008.
vembro de 2011. (Dispõe sobre a edu-
cação especial, o atendimento educacio- GAT, Rosana. Educação Inclusiva:
nal especializado e dá outras providên- Cultura e cotidiano escolar. Rio de Ja-
cias). Disponível em: http://www.planal- neiro: 7Letras, 2007.
to.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/
Decreto/ D7611.htm#art11.> acesso 02 KHATER, R.M.M. Da tutela à cidada-
maio. 2018. nia: estudo e acompanhamento do mo-
vimento de inclusão da pessoa com de-
BRASIL. Lei n°9394, de 20 de dezem- ficiência no mercado de trabalho. Dis-
bro de 1996 (Estabelece as diretrizes e ponível: campinas.edu.
bases da Educação Nacional). Disponí- br/pesquisa/i_semana_cientifica/resu-
vel em: <http://www.planalto.gov.br/cci- mos_docen tes.asp - 88k. Acesso em:
vil-03/Leis/l9394.C Acesso em: 22 mar- 15 junho.2017.
ço.2017.
LIMA, F.A. O princípio da proibição
BRASIL. Lei nº 7.853, de 24 de outubro de discriminação no Direito Brasilei-
de 1989. Dispõe sobre o apoio às pesso- ro. Disponível em: http://aulavirtual.u-
as portadoras de deficiência, sua integra- po. es:8900/webct/urw/ lc102116011.
ção social, sobre a Coordenadoria Naci- tp0/ cobalto MainFrame.dowebct. Aces-
onal para Integração da Pessoa Portado- sado em 21 de junho de 2017.
ra de Deficiência - Corde, institui a tutela
jurisdicional de interesses coletivos ou MANTOAN, M.T.E. Ensinando a tur-
difusos dessas pessoas, disciplina a atu- ma toda as diferenças na escola. Pá-
ação do Ministério Público, define cri- tio revista pedagógica. Porto Alegre,
mes, e dá outras providências. Brasília, RS, ano 5, nº 20, p.18-28, fev./abr.
DF, 1989. 2002.

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 559
Educação especial e inclusão: As políticas públicas brasileiras de inclusão de pessoas público-alvo da educação
especial em salas regulares

______. Inclusão escolar: o que é? Por


quê? Como fazer? São Paulo: Editora
Moderna, 2006.

______. Integração x Inclusão: escola


(de qualidade) paraTodos. Disponível
em: <http://www.lite.fe.unicamp.br/cur-
sos/nt/ta1.9.htm>. Acesso em: 05 julho.
2017.

______. Ser ou Estar; eis a questão:


explicando o déficit intelectual. Rio de
Janeiro: WVA, 1997a.

______. Todas as crianças são bem-


vindas à escola! Apostila.
Campinas/SP: Universidade Estadual de
Campinas Unicamp, Faculdade de Edu-
cação, 1997b.

MANTOAN, M.T.E.; PRIETO, R.G.;


ARANTES, V.A. (org). Inclusão escolar:
pontos e contrapontos. São Paulo: Sum-
mus, 2006.

MAZZOTTA, M.J. S. Educação Especi-


al no Brasil: história e políticas públicas.
5ª ed. São Paulo: Cortez. 2008.

PEREIRA, C.L.; SANTOS, M. Educação


Inclusiva: uma breve reflexão sobre
avanços no Brasil após a Declaração de
Salamanca. Revista da Católica, v.1,
n.2, p.265-274, 2009.

ROGALSKI, S.M. Histórico do surgimen-


to da Educação Especial. Revista de
Educação do Ideau, v.5, n.12, p.1-13,
2010.

SASSAKI, R.K. Inclusão / Construindo


uma sociedade para todos. 8° Ed. Rio de
Janeiro: WVA, 2010.

SILVA, R.M. da et al. Mapeamento da


Educação Especial na Legislação
Brasileira: principais marcos históri-
cos e legais (XIX-2007). Coninter 3, v.3,
n.5, p.96-112, 2014.

C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.11, n.3, p.541-560, set./dez. 2018 560

Você também pode gostar