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Curso de

MERCADOS ILÍCITOS
E CRIME ORGANIZADO
NAS AMÉRICAS
Aula sobre
O Regime
Internacional de
Proibição de Drogas

Fernanda Mena
Introdução
Essa aula fala sobre o surgimento do Regime Internacional
de Proibição de Drogas e os principais agentes na sua
universalização, incluindo as consequências desse regime
para os diferentes países e para as relações internacionais.

Para isso, a aula foi dividida entre a história da proibição das


drogas, seus principais agentes e interesses, a apresentação
do Regime Internacional de Controle de Drogas, seus tratados
e instituições, e, finalmente, uma análise das consequências
da proibição de certas drogas e o seu impacto direto na
segurança pública e na própria noção de democracia.
Conceitos
Psicotrópico ou droga psicotrópica: são substâncias que agem sobre o nosso cérebro, o Sistema
Nervoso Central, de diferentes maneiras: deprimindo a atividade do sistema nervoso central (ex.: álcool,
tranquilizantes ou ansiolíticos, inalantes e narcóticos); estimulando a atividade do sistema nervoso
central (ex.: cafeína e tabaco, cocaína e crack, anfetaminas e metanfetaminas e anorexígenos); e
perturbando o sistema nervoso central, ou seja, alucinógenos (ex.: maconha, LSD, êxtase, ayahuasca,
ibogaína, mescalina e psilocibina);
Organizações
ONU: a Organização da Nações Unidas é uma organização intergovernamental criada em 1945 para
promover a cooperação internacionalmente;

OMS: a Organização Mundial da Saúde é uma agência especializada do sistema da Organização das
Nações Unidas com foco em promover a cooperação política e técnica em assuntos de saúde.
Conteúdo da aula
Na história da proibição de drogas, as substâncias psicotrópicas
(ou droga psicotrópica) foram chamadas de drogas mas nem
todas foram alvo de proibição, e as exceções mais conhecidas
são o álcool e o tabaco, que, paradoxalmente, estão entre as seis
drogas psicotrópicas consideradas mais danosas para a saúde.

A folha de coca, a cannabis e, principalmente, o ópio, que eram


consumidas de maneira ritualística, foram primeiro
transformadas em commodities a partir da criação de rotas de
comércio entre Oriente e Ocidente nos séculos 16 e 17 e o seu uso
na medicina no século 19. As Guerras do Ópio e a Conferência do
Ópio de Xangai (1909), capitaneada pelo missionário norte-
americano Charles Henry Brent em parceria com o então
presidente Theodore Roosevelt, revelam que foram interesses
tanto morais e religiosos, quanto econômicos e diplomáticos
que colocaram em pauta a proibição do ópio.
Conteúdo da aula
Depois de Xangai, uma série de outras conferências
internacionais foram feitas, com forte resistência de alguns
países produtores de ópio, como a Turquia, ou fabricantes de
medicamentos à base de ópio, como a Alemanha. Esses
encontros resultaram em um primeiro tratado, a Convenção
Internacional do Ópio, de 1912, ratificada apenas por 5 países,
entre eles a China e os Estados Unidos. Essa normativa foi
anexada ao tratado de Versalhes após a Primeira Guerra
Mundial, o que forçou todos países assinantes a aderirem
também ao documento sobre drogas e, portanto, à proibição
dessas substâncias.

Nos EUA, esse movimento conseguiu implementar a Lei Seca, que


proibia o álcool, em 1920, numa experiência desastrosa que, para
muitos autores, marca o surgimento do que a gente hoje chama
de crime organizado.
Conteúdo da aula
O atual Regime Internacional de Controle de Drogas é composto por dois tratados:
1) A Convenção Única de Controle de Drogas de 1961, que com julgamentos morais demandava a
proibição e a punição do uso não-médico de várias substâncias e inseria a questão do controle de
drogas na estrutura da ONU; o tratado criou a Comissão de Drogas Narcóticas e determinou que a
classificação das substâncias passaria a ser determinada por recomendações da OMS.
2) A Convenção Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas de 1988,
acompanhou o surgimento de outras substâncias psicotrópicas, como anfetaminas e LSD, e a ascensão
de movimentos jovens de contracultura ligados, que mudou o foco do sistema internacional do uso
para o combate ao tráfico; porém, a urgência do tratado impôs obrigações aos diferentes países sem
levar em conta o seu grau de desenvolvimento e a capacidade financeira para a implementação das
políticas, o que, em muitos casos, levou a gastos desproporcionais no combate às drogas em relação à
provisão de direitos básicos à população.
Em 1991, foi criada a Agência das Nações Unidas para o Controle de Drogas que hoje faz parte do
Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime.
Conteúdo da aula
Porém, a proibição das substâncias de controle de drogas não foi
nem seria capaz de fazer desaparecer a demanda por elas. Pelo
contrário, a ilegalidade fez surgir uma rede clandestina de
produção e de distribuição dessas drogas.

Nesses mercados, a impossibilidade de recorrer à Justiça faz com


que conflitos sejam evitados ou solucionados por meio da do
emprego da violência. Portanto, diversos estudos encontraram
uma relação de causa e efeito entre a proibição das drogas e o
aumento da violência.

Além disso, o crime organizado ligado ao mercado de drogas


também corrompe servidores e instituições de governo,
enfraquecendo os Estados e a própria democracia, e prejudicando
em especial as comunidades que já são mais vulneráveis.
Conteúdo da aula
Com a criminalização da produção, do comércio, transporte e uso
dessas substâncias, o crime ligado a drogas passou a ocupar
parte significativa do trabalho das forças policiais e dos sistemas
de Justiça criminal, o que fez crescer progressivamente o
percentual de presos condenados por esses crimes nos sistemas
penitenciários de todo o mundo.

Hoje, segundo o World Prison Brief, quase 1 a cada 4 pessoas


encarceradas está presa por crimes relacionados a drogas e 22%
dessas pessoas foram presas por posse de drogas para consumo
pessoal. O estigma da prisão acompanha essas pessoas pro resto
de suas vidas, com impedimentos concretos na hora de tentar
reconstruir a vida e trabalhar formalmente.
Conteúdo da aula
Esse contexto contribuiu para marginalizar pessoas que consomem
ou que são dependentes químicos, que evitam buscar ajuda com
receio de serem presas. A ele está somando o investimento
incremental em repressões, que também retirou recursos para o
tratamento de dependentes.

Tudo isso levou a ONU a reconhecer que o Regime Internacional de


Controle de Drogas havia promovido consequências não-
intencionais bastante danosas, como: a ascensão de um
poderoso mercado clandestino, o investimento em políticas para
drogas em detrimento do investimento em outras políticas públicas
essenciais, o deslocamento geográfico do crime organizado no
chamado de efeito-balão, o surgimento de novas substâncias mais
potentes e com menores chances de serem detectadas e a
exclusão social de usuários.
Sumário

● Apresenta a história da proibição das drogas e


classificação das substâncias psicotrópicas;

● Identifica os principais tratados do Regime Internacional


de Controle de Drogas;

● Introduz as consequências danosas "não-intencionais" da


proibição de drogas globalmente.
Referências
Buxton, J. (2010) Historical foundations of the narcotic drug control regime. Disponível em:
https://openknowledge.worldbank.org/server/api/core/bitstreams/168138c0-3fc3-5b85-a57a-
39d198062000/content

Costa, A.M. (2008) Making drug control “fit for purpose”: Building on the UNGASS decade” - UNODC E/CN.
Disponível em: https://www.unodc.org/documents/commissions/CND/CND_Sessions/CND_51/1_CRPs/E-
CN7-2008-CRP17_E.pdf

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