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RAZÕES DO RECURSO PARA QUESTÃO DE DIREITO PENAL

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CORRESPONDÊNCIAS DA PROVA

TIPO DE PROVA NÚMERO DA QUESTÃO

BRANCA 60

VERDE 61

AZUL 57

AMARELA 62

QUESTÃO NÚMERO 60 PROVA TIPO BRANCA:


Após rigorosa fiscalização, uma empresa provedora de Internet verificou que sua rede de wifi com
senha bloqueada estava sendo indevidamente utilizada por um grupo de pessoas. Após notícia de
fato formulada pela empresa, a Delegacia de Polícia instaurou Inquérito, tendo o Delegado Titular
proferido relatório final pelo indiciamento dos envolvidos pelo crime de furto, na figura do Art.
155, $ 3º, do Código Penal: “Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que
tenha valor econômico”.
Diante do caso descrito, é correto afirmar que o indiciamento pelo crime de furto é:
(A) inadmissível, tendo em vista que no Direito Penal não cabe analogia in malam partem.
(B) admissível, tendo em vista que no Direito Penal cabe analogia in bonam partem.
(C) inadmissível, pois a conduta dos investigados constitui fato atípico, tendo em vista a incidência
do Princípio da Legalidade Estrita.
(D) admissível, pois se trata de hipótese de interpretação analógica, cabível no Direito Penal

RAZÕES RECURSAIS
FUNDAMENTO RECURSO QUESTÃO 60 (PROVA BRANCA) PENAL
A questão trata sobre um caso de uso indevido de SENHA de wifi por um grupo de pessoas, tendo
em vista que a senha era bloqueada e não foi permitido o uso pela empresa provedora de internet,
que no caso seria a vítima.

O gabarito entendido como correto pela banca é no sentido de ser aplicável o art. 155, §3º do
Código Penal, compreendendo o fato como furto de energia, “pois trata-se de hipótese de
interpretação analógica, cabível no Direito Penal”.

Ocorre que, não deve prosperar o entendimento, pois contrário ao entendimento da


jurisprudência e doutrina:

a) De fato, é possível interpretação analógica no Direito Penal, como acontece com o


motivo torpe, quando se trata de homicídio qualificado e, realmente, é possível a
interpretação analógica pela leitura do §3º, do art. 155, CP. Ocorre que, não existe
nenhum entendimento pacificado compreendendo o uso indevido de sinal de internet
como modalidade de energia.

b) Como exemplo, pode ser citado sobre a captação clandestina de sinal de TV, que NÃO
se equipara ao furto de energia, por vedação à analogia in malam partem.
Entendimento, inclusive, pacificado entre o STJ e STF.

c) Diversos julgados claramente indicam que uso indevido de sinal de internet não pode
ser entendimento como furto, bem como que não é cabível se aplicar a outros sinais -
como o caso da TV a Cabo - entendimento por analogia como se energia fossem, como
por exemplo:

TJ-DF - APR: APR 159018720108070001 DF 0015901-87.2010.807.0001


SINAL DE INTERNET - FURTO MEDIANTE FRAUDE - NÃO CONFIGURAÇÃO -
NÃO EQUIPARAÇÃO DE SINAL DE INTERNET A ENERGIA - ANALOGIA IN MALAM
PARTEM - IMPOSSIBILIDADE - PRECEDENTE STF - ABSOLVIÇÃO - POSSIBILIDADE
- SENTENÇA REFORMADA 1)- NÃO OCORRE FURTO DE SINAL DE INTERNET
POR NÃO AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL E POR NÃO SER POSSÍVEL SUA
APROPRIAÇÃO. 2)- SINAL DE INTERNET NÃO PODE SER EQUIPARADO A
ENERGIA ELÉTRICA. 3)- NÃO É POSSÍVEL APLICAÇÃO DE ANALOGIA EM LEIS
QUE RESTRINJAM DIREITOS, PREJUDICANDO O RÉU. 4)- NÃO SENDO A
CONDUTA DO APELANTE TÍPICA, A ABSOLVIÇÃO É MEDIDA QUE SE IMPÕE. 5)-
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

(CC 173.968/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em


09/12/2020, DJe 18/12/2020)
(…) 1. A Sexta Turma desta Corte Superior, no julgamento do Recurso Especial n.
1.838.056/RJ, de minha Relatoria, em sintonia com precedente do Supremo Tribunal
Federal, entendeu que a captação clandestina de sinal de TV por assinatura não

pode ser equiparada ao furto de energia elétrica, tipificado no art. 155, § 3.º, do
Código

Penal, pela vedação à analogia in malam partem. 4. Havendo, em tese, crime contra
as telecomunicações, tipificado na Lei n. 9.472/1997, está configurada a competência
da Justiça Federal, por haver lesão a serviço da União, nos termos do art. 21, inciso
XII, alínea a, c.c. o art. 109, inciso IV, da Constituição da República. 5. Conflito
conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 7.ª Vara Criminal de São
Paulo – SJ/SP, o Suscitante.

(HC 97261, Relator(a): JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em


12/04/2011, DJe-081 DIVULG 02-05-2011 PUBLIC 03-05-2011 EMENT
VOL-02513-01 PP-00029 RTJ VOL-00219-01 PP-00423 RT v. 100, n. 909, 2011, p.
409-415)
Furto e ligação clandestina de TV a cabo
A 2ª Turma concedeu habeas corpus para declarar a atipicidade da conduta de
condenado pela prática do crime descrito no art. 155, § 3º, do CP (“Art. 155 - Subtrair,
para si ou para outrem, coisa alheia móvel: ... § 3º - Equipara-se à coisa móvel a
energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.”), por efetuar ligação
clandestina de sinal de TV a cabo. Reputou-se que o objeto do aludido crime não
seria “energia” e ressaltou-se a inadmissibilidade da analogia in malam partem em
Direito Penal, razão pela qual a conduta não poderia ser considerada penalmente
típica.

(...) Ademais, na esfera penal não se admite a aplicação da analogia para suprir
lacunas, de modo a se criar penalidade não mencionada na lei (analogia in malam
partem), sob pena de violação ao princípio constitucional da estrita legalidade.
Precedentes. Ordem concedida.
d) A doutrina, por sua vez, entende o fato como crime de “INVASÃO DE DISPOSITIVO
INFORMÁTICO (ART. 154-A): “Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou
não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança
e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização
expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter
vantagem ilícita, seria mais adequado ao fato da questão.

Se o núcleo do tipo é “invadir” com sentido de devassar, acessar sem permissão. A invasão
se dá mediante violação indevida de mecanismo de segurança. Mecanismo de segurança,
segundo Jamil Chaim Alves, em seu Manual de Direito Penal, seria qualquer instrumento
utilizado para proteger os dados e as informações existentes no dispositivo informático
(ex: SENHA numérica, biométrica, antivírus, etc).

Diante de tudo exposto, a questão deve ser ANULADA, pois compreende-se que não existe
alternativa correta. Vejamos:

➔ Alternativa A – Inadmissível, tendo em vista que no Direito Penal não cabe analogia in
malam partem. Se existisse entendimento nos tribunais superiores, equiparando o
entendimento como no caso de captação clandestina de sinal de TV, poderia ser entendido
como alternativa correta. Ocorre que, entendendo que o caso se enquadra no art. 154-A,
CP, não há que se falar nem mesmo em analogia, pois existe tipificação para o caso.

➔ Alternativa B – Admissível, tendo em vista que no Direito Penal cabe analogia in bonam
partem. De fato, é possível analogia apenas em favor do acusado/réu no direito penal,
ocorre que, claramente, o caso da questão não favorece os acusados entender o uso
indevido de sinal de internet como energia.

➔ Alternativa C – Inadmissível, pois a conduta dos investigados constitui fato atípico,


tendo em vista a incidência do Princípio da Legalidade Estrita. A alternativa poderia
estar correta, se não existisse uma tipificação mais adequada, como existe no art. 154-A,
CP. Além disso, se compreende a alternativa como correta, consequentemente, a
alternativa A também estaria correta, pois os entendimentos se coadunam.

➔ Alternativa D – Admissível, pois se trata de hipótese de interpretação analógica, cabível


no Direito Penal. Como já supracitado, a interpretação analógica e, até a extensiva, é
possível no Direito Penal. A redação do art. 155, §3º, CP, diz exatamente: “Equipara-se à
coisa móvel a energia elétrica ou QUALQUER OUTRA que tenha valor econômico”.

O legislador não disse “qualquer outra COISA”, mas disse qualquer outra ENERGIA. Logo, não
existe fundamento algum, nem doutrinário, nem jurisprudencial, que entende sinal de internet,
como espécie de energia.

Equiparar sinal de wifi como energia é totalmente inadmissível, além de ser prejudicial aos
investigados, acusados ou réus, é uma evidente violação ao princípio da legalidade, caracterizado
em caso de uma analogia in malam partem, o que, além de ferir os preceitos constitucionais e
jurisprudenciais, torna-se ainda mais absurdo em se tratando de uma prova para Advocacia, que
deve justamente resguardar os direitos e a Legalidade.

Isto posto, pede-se pela anulação da referida questão.

COMO FAZER O RECURSO (PASSO A PASSO)

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