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POSSÍVEIS AÇÕES DE COMBATE AO USO E TRÁFICO DE DROGAS

ILÍCITAS NOS CONDOMÍNIOS

Maria Isabel da Silva

Segundo o Ministro do STF Luís Roberto Barroso, nas últimas duas décadas, as
políticas públicas informativas e de advertência sobre os males do cigarro, droga lícita, fez o
consumo entre a população adulta ser reduzido de 35% (trinta e cinco por cento) para 14%
(quatorze por cento). Nesse mesmo lapso temporal, o consumo das drogas ilícitas apresentou
aumento significativo (BARROSO, 2017).
A política empregada ao combate às drogas ilícitas ainda que, destinada a erradicar do
globo todo um leque de substâncias entorpecentes, as diretrizes proibicionistas, terminam,
ainda que de forma não proposital, por produzir um efeito contrário. Números atuais
explicitam que organizações criminosas do narcotráfico se fortaleceram, uma variedade
maior de drogas ilícitas fica a disposição dos usuários ou consumidores, e a violência que
acompanha todo o negócio ilegal não para de crescer. Enormes quantias são gastas em
trabalhos de repressão, prevenção, política de redução de danos e cuidados médicos para
tratamentos dos usuários por parte do Estado; ao passo que, em caráter privado, empresas
perdem pela produtividade de seus trabalhadores adoecidos. Tais argumentos estão patentes
no próprio Relatório Brasileiro sobre drogas realizado pela Secretaria Nacional de Políticas
sobre as drogas no Brasil.
Em se tratando de condomínio, o registro e a comprovação de incidência de tráfico de
entorpecentes no bairro, e na circunvizinhança, é fator de desvalorização patrimonial
gradativa. Haja vista o caso da “Cracolândia” paulista (região Central de São Paulo), onde a
reunião de usuários de drogas ilícitas só agravou uma desvalorização que já era crescente,
inclusive, refletindo no significativo aumento de vacância imobiliária.
Sabendo que além da desvalorização patrimonial, o consumo e tráfico de drogas
ilícitas pode colocar em risco a segurança dos moradores, bem como molestar o conforto e a
privacidade de suas residências, é importante salientar que ações devem ser tomadas no
próprio condomínio de forma a trabalhar medidas preventivas e paliativas sobre o referido
crime dentro daquela coletividade (PANIZA e BELL, 2018).
Primeiramente, vale realçar que o mero consumo de substância ilícita, em seu sentido
literal isolado, não é vedado pela legislação penal, porém as ações acessórias a tal ato são
consideradas ilícitas pelo artigo 28 da Lei nº 11.343/2006, conforme exposto abaixo:
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,
para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:
I – advertência sobre os efeitos das drogas;
II – prestação de serviços à comunidade;
III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
Desta forma, embora a mencionada lei tenha previsto penas distintas da privativa de
liberdade aos que portam droga para consumo pessoal, enfatiza-se os perigos iminentes que
rodeiam o consumo de drogas, tais como o tráfico de drogas ilícitas e a atuação do crime
organizado.
Ademais, a mudança na estratégia de enfrentamento parece ser a medida mais
inteligente; a adoção de medidas pacíficas e humanizadas para lidar com a traficância,
consequentemente, reduzirá seu poderio político e econômico (BARROSO, 2017).
Aconselha-se que na fase preventiva, o síndico (a) poderá divulgar nas áreas comuns
do condomínio, cartazes de caráter informativo alertando sobre o uso de drogas ilícitas; além
de expor sobre a prática ilegal e as punições cabíveis diante da conturbação da convivência
com os demais condôminos.
O condomínio pode apoiar, promover e divulgar campanhas educativas antidrogas por
meio de palestras e encontros entre os condôminos. Poderá criar também comissões e/ou um
“conselho juvenil” com a finalidade de agregar, orientar e conscientizar os jovens, pais,
crianças e adolescentes .
Outra medida que tende a desestimular o tráfico e o consumo de drogas ilícitas, bem
como guarnece de prova - caso algum fato ilegal ocorra, é o reforço na segurança, na
iluminação - dentro e fora (calçadas), o monitoramento das áreas comuns por meio de som e
imagem, bem como o investimento no preparo dos funcionários do condomínio para
enfrentar a questão .
No entanto, caso o problema já esteja enraizado, o mais sensato é que a primeira
abordagem seja criteriosa e bem definida, buscando manter uma relação amistosa entre a
gestão condominial e os condôminos pois, constitui-se aspecto fundamental dentro dos
condomínios.
Maria Isabel da Silva, Jornalista, Formada em Pedagogia, Coordenação e Supervisão
Escolar. Pós-Graduada em Docência no Ensino Superior.

Gestora em Projetos Sociais. Mediadora pelo Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP) ;
Membra colaborativa da Comissão de Conciliação, Mediação e Arbitragem da 38ª Subseção -
OAB/SP - Santo André SP e da Comissão de Privacidade, Proteção de Dados e Inteligência
Artificial da OAB/SP.

Professora de Diversos Cursos das Áreas Condominial e Imobiliária.

Idealizadora e Diretora do Instituto Educacional Encontros da Cidade (IEEC)

Fontes:

BARROSO, Luís Roberto. BRASIL. Minha principal escolha é diminuir o poder do


tráfico', diz ministro do STF. Entrevista Jornal Eletrônico O GLOBO BRASIL, 2017.
Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/minha-principal-escolha-diminuir-poder-do-
trafico-diz-ministro-do-stf-20872440> Acesso em: 10.04.2023.

BRASIL. Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Relatório


brasileiro sobre drogas / Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas; IME USP;
organizadores Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte, Vladimir de Andrade Stempliuk e
Lúcia Pereira Barroso. – Brasília: SENAD, 2009. 364 p.

PANIZA, Gustavo; BELL, Rodrigo C. Uso de drogas no condomínio. In O Estado de São


Paulo. 2018. Disponível em: < https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/uso-de-
drogas-no-condominio-o-que-fazer/ > Acesso em: 10.04.2023.

SILVA, Maria Isabel da. TRÁFICO E USO DE DROGAS ILÍCITAS DENTRO DO


CONDOMÍNIO in Crimes e sociedade em debate / Antonio Carlos Gomes Ferreira,
Jonathan Cardoso Régis, Maria Leonildes Boavista Gomes Castelo Branco Marques e Ulisses
Pessôa dos Santos (organizadores). – Rio de Janeiro: Pembroke Collins, 2020. 129 p.

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