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MÓDULO 1

INTRODUÇÃO
EXPEDIENTE
GOVERNO FEDERAL
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA
SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS

SECRETÁRIO NACIONAL
Luiz Roberto Beggiora

DIRETOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS


E ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL
Gustavo Camilo Baptista

COORDENADOR-GERAL DE PESQUISA E FORMAÇÃO


Carlos Timo Brito

CONTEUDISTAS
George Felipe Lima Dantas
Isângelo Senna da Costa

REVISÃO DE CONTEÚDO
Carlos Timo Brito
Fernanda Flavia Rios dos Santos

APOIO
Ana Carolina Pastorino Magalhães
Daphne Sarah Gomes Jacob
Eurides Branquinho da Silva
Maria Aparecida Alves Dias
Maria de Fatima Pinheiro de Moura Barros
Tatiana Almeida Santos

BY NC ND

Todo o conteúdo do Curso FRoNt - Fundamentos para Repressão ao Narcotráfico e ao


Crime Organizado, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), Ministério
da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do Governo Federal - 2021, está licenciado sob
a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não Comercial- Sem Derivações
4.0 Internacional.

REALIDADE AUMENTADA (RA)


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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SEAD)

SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Luciano Patrício Souza de Castro

labSEAD

COORDENAÇÃO GERAL
Luciano Patrício Souza de Castro

FINANCEIRO
Fernando Machado Wolf

SUPERVISÃO TÉCNICA EAD


Giovana Schuelter

SUPERVISÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAL


Francielli Schuelter

SUPERVISÃO DE MOODLE
Andreia Mara Fiala

SECRETARIA ADMINISTRATIVA
Caroline da Rosa
Gabriela Cassiano Abdalla

DESIGN INSTRUCIONAL
Supervisão: Milene Silva de Castro
Danrley Mauricio Vieira
Márcia Melo Bortolato
Marielly Agatha Machado

DESIGN GRÁFICO
Supervisão: Fabrício Sawczen
Heliziane Barbosa
Juliana Jacinto Teixeira
Luana Pillmann de Barros
Vinicius Alves Jacob Simões

REVISÃO TEXTUAL
Supervisão: Cleusa Iracema Pereira Raimundo
Isadora da Silveira Calônico

PROGRAMAÇÃO
Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
Cleberton de Souza Oliveira
Thiago Assi

AUDIOVISUAL
Supervisão: Rafael Poletto Dutra
Fabíola de Andrade
Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira
Renata Gordo Corrêa

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Dalmo Tsuyoshi Venturieri
Wilton Jose Pimentel Filho
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 5

Unidade 1 | ASPECTOS MERCADOLÓGICOS 6


DO NARCOTRÁFICO E DO CRIME
ORGANIZADO
1.1 Economia das drogas 6

1.2 Mercados ilegais 17

1.3 Redução da oferta de drogas 29

Unidade 2 | CRIME, ORGANIZAÇÕES 37


CRIMINOSAS E NARCOTRÁFICO

2.1 Crime organizado 37

2.2 Organizações criminosas (características e 41


peculiaridades de uma ORCRIM)

2.3 Narcotráfico/tráfico de drogas 44

Unidade 3 | ELEMENTOS HISTÓRICOS, 47


SOCIOECONÔMICOS E NORMATIVOS
DO CRIME ORGANIZADO E DO
NARCOTRÁFICO

3.1 Violência e drogas no Brasil e no mundo 47

3.2 Caracterização da criminalidade no Brasil 51

3.3 Peculiaridades do Sistema de Justiça 55


Criminal brasileiro

REFERÊNCIAS 62
APRESENTAÇÃO

Olá, cursista!
RA
Enquadre no seu celular Seja bem-vindo ao nosso primeiro módulo do curso.
ou tablet o código de
REALIDADE AUMENTADA
do aplicativo Zappar
Neste módulo, trataremos da problemática do narcotráfico e do crime
para assistir ao vídeo de organizado, por meio de uma abordagem multidisciplinar que leva em
apresentação do módulo. conta, por exemplo, aspectos econômicos, sociais, culturais e psico-
lógicos. Nesse sentido, apresentaremos reflexões que nos permitam
entender no que consiste a economia das drogas e quais os elementos
que compõem o mercado das drogas. Outros pontos abordados no
módulo dizem respeito a concepções nacionais e internacionais do
que vem a ser o crime organizado e as organizações criminosas em
suas interfaces com a violência e com o Sistema de Justiça Criminal.

Objetivos do módulo

‹ Descrever noções e conceitos essenciais à temática narcotráfico


e crime organizado.

‹ Examinar a problemática do mercado das drogas em seus


diferentes níveis e interfaces com áreas do conhecimento como
Direito, Economia e Psicologia.

‹ Identificar os contornos conceituais da violência com enfoque


em suas interações com a temática das drogas.

‹ Discutir aspectos relevantes do Sistema de Justiça Criminal


brasileiro em face de fenômenos relativos ao narcotráfico e ao
crime organizado.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
5
UNIDADE 1
ASPECTOS MERCADOLÓGICOS
DO NARCOTRÁFICO E DO CRIME
ORGANIZADO

Contextualizando
Nesta unidade, apresentaremos as principais noções e conceitos re-
lacionados aos aspectos mercadológicos do crime organizado e do
narcotráfico, assim como os aspectos relacionados à oferta de drogas.
Para compor nossa reflexão, vamos nos valer de aspectos econômicos,
sociais, culturais e psicológicos que circundam o problema.

Para entender como se estrutura o sistema de economia das drogas,


avance para o próximo tópico.

1.1 Economia das drogas


A questão das drogas é um tema bastante presente e controver-
tido politicamente na vida contemporânea. Você já deve ter ouvido
discussões que perpassam esse assunto, em ambientes diferentes,
por diversas pessoas. De fato, o problema das drogas causa pressão
nas áreas da saúde, educação, segurança pública, gestão prisional e
assistência social, entre outras.

Foto: © [Haider] / Adobe Stock.

Os hospitais, presídios e centros de recuperação de dependentes


químicos mostram uma face grotesca do que começa com a produção
de substâncias de uso ilícito, normalmente Cannabis e cocaína, seu
transporte e depois tráfico de forma pulverizada nas áreas urbanas
da maior parte do mundo, uma verdadeira epidemia silenciosa.

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MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
6
Nas ruas da maioria das capitais do país, usuários de
drogas são vistos nas sinaleiras, numa situação degradante,
pedindo moedas e mendigando qualquer centavo para
compra de droga.
(SOUZA; CALVETE, 2017)

Você perceberá, ao longo deste módulo, que a questão das drogas


é bastante complexa, a começar por sua natureza sanitária, social
e econômica. A dependência química é uma doença com várias ex-
pressões e com relação a diferentes drogas.

saiba mais
O Código Internacional de Doenças (2013), em sua décima
edição, aponta os vários diagnósticos correspondentes
(disponível em: https://cid10.com.br/).

Para falarmos da relação entre economia e drogas, é necessário


falarmos de Gary Becker (Prêmio Nobel de Ciências Econômicas de
1992) e sua contribuição para o estudo da chamada Economia do
Crime. Em 2004, Becker e colaboradores focaram o tema específico
da Teoria Econômica dos Bens Ilegais: o Caso das Drogas. Veja:

Becker (1974, p. 4) pressupõe que o crime é uma atividade


ou ‘indústria’ economicamente relevante, conquanto
negligenciada pelos economistas; conjectura, na sequência,
que a negligência resulta de atitude que concebe a atividade
ilegal como demasiadamente imoral para que receba uma
atenção científica sistemática.
(CARDOSO, 2018, p. 185)

A ideia da descriminalização das drogas foi levantada por Becker e


colaboradores. O famoso e premiado economista, juntamente com
outros dois pesquisadores da Universidade de Cambridge, Inglaterra,
estimaram teoricamente que os custos sociais da criminalização das
drogas poderiam superar seus efeitos benéficos (BECKER; MURPHY;
GROSSMAN, 2006, p. 38 apud CARDOSO, 2018, p. 185).

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MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
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dica de mídia

“The Business of Drugs”, em inglês original, ou


“Drogas: oferta e demanda”, em português, é uma série,
disponível no aplicativo Netflix desde 2020.
A apresentadora da série é uma ex-analista da Agência
Central de Inteligência dos Estados Unidos da América
que esteve por vários anos no enfrentamento da questão
das drogas. No trailer da série, a apresentadora declara
que a única maneira de acabar com a guerra contra as
drogas é entendendo a economia que a impulsiona.

Vale ressaltar que a modelagem utilizada por Becker e colaboradores


é estritamente econométrica, ou seja, tem o objetivo de entender
as variáveis capazes de interferir em uma relação de causa e efeito.
Portanto, não tem provisão sobre as muitas variáveis intervenientes,
como é o caso na relação entre liberação de drogas e menores custos
econômicos e sociais, passíveis de atuarem sobre o complexo fenô-
meno estudado: as drogas ilícitas.

RA Passadas algumas décadas das reflexões teóricas e das projeções


de Becker acerca dos eventuais benefícios da descriminalização das
Enquadre no seu celular
drogas, hoje é possível comparar fatos sobre a aplicação das duas
ou tablet o código de
REALIDADE AUMENTADA políticas: a política de descriminalização e a política de proibição legal.
do aplicativo Zappar para
assistir ao vídeo sobre
Os Estados Unidos da América constituem um bom exemplo a ser
Economia do Crime.
estudado nesse sentido.

| estados em que o uso recreativo


da maconha é legalizado nos eua

WASHINGTON
VERMONT MAiNE

OREGON
MASSACHUSETTS
MiCHiGAN

NEVADA
CALiFÓRNiA iLLiNOiS
COLORADO
Estados que liberam o consumo
recrativo da Cannabis nos EUA:
Califórnia, Colorado, Oregon,
Massachusetts, Washington,
Maine, Nevada, Illinois, Michigan,
Vermont, Alasca e Maine.
ALASKA
Foto: Adaptado de © [sutowo] /
Adobe Stock.

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MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
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Lá as unidades federativas possuem legislações distintas, ao con-
trário do Brasil, país onde prevalece uma legislação federal única.
Em função disso, as políticas de liberação de uso e comercialização
legal de drogas podem assumir posições extremamente díspares.

Loja de maconha no Colorado (Native Roots


Marijuana Dispensary).
Foto: © [Kristina Blokhin] / Adobe Stock.

No estado do Colorado, por exemplo, houve um aumento em todas


as taxas criminais desde que as leis liberando a maconha foram
aprovadas (FURTON, 2018). Por outro lado, uma pesquisa mostrou
que, na cidade de Denver, também no Colorado, a presença de pontos
de venda de maconha se correlacionou positivamente com uma
redução de 17 crimes por mês a cada 10.000 residências nos bairros
onde foram instalados.

Veja os dados relativos à queda dos crimes na capital do Colorado:

Redução de 19% na
taxa média dos
glossário crimes na cidade de
Denver, Colorado.
Correlação é uma medida do
relacionamento linear entre duas
variáveis. Essas variáveis podem
estar positivamente relacionadas,
negativamente relacionadas ou não
relacionadas.

Ethos é o conjunto de traços e modos de


ser que dão contorno identitário de um
determinado grupo social. Libertário Porém, há que se ressaltar que correlações não são, necessariamente,
é a filosofia política que abrange a não relações de causa e efeito.
agressão como valor fundamental e
os direitos de propriedade como seu Algo digno de nota está no fato de o Colorado ser conhecido nos Es-
núcleo. Os libertários estão associados ao tados Unidos da América pelo ethos libertário de seus locais. Curiosa-
anarquismo e livre mercado. mente, a cidade de Boulder no Colorado foi ranqueada pela National
Geographic Society como sendo a mais feliz dos EUA.

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Como a cidade mais feliz dos EUA, é seguro dizer que
Boulder encontrou seu equilíbrio. Esta cidade descontraída
no sopé das Montanhas Rochosas pontua em vários níveis
da escala para hierarquizar a felicidade.
(GUPTON, 2017)

No sentido oposto à política de abertura para a liberação do comércio


de drogas, está o recrudescimento da repressão ao tráfico em países
como Filipinas e Indonésia. A guerra declarada pelo presidente fili-
pino Rodrigo Duterte contra o tráfico continua bastante popular no
país, ainda que tenha um alto índice de mortes relacionadas a essa
política, segundo o artigo de Martin Petty (2019).

Situação semelhante ocorre na Indonésia, país que até mesmo já


executou brasileiros envolvidos com o narcotráfico internacional.
A opção pela redução da oferta de drogas ao povo indonésio pela
via da repressão é perceptível em falas do presidente Joko Widodo.

As drogas estão entrando nas aldeias, arruinando nossos


jovens, estão sendo vendidas nos campi; até as universidades
têm problemas com drogas. Isto é uma emergência.

(JOKO WIDODO)

A questão tem se tornado tão séria que o governo brasileiro tem alertado
os viajantes brasileiros dos riscos de se ingressar na Indonésia portando
drogas, veja as Instruções para Viajantes Brasileiros (BRASIL, 2020).

PODCAST transcrito

É importante ressaltar que o crime de tráfico de drogas


é punido na Indonésia com pena de morte. Cidadãos
brasileiros já foram condenados por tráfico de drogas na
Indonésia e sentenciados à pena de morte e executados.
Recorda-se a todos os viajantes brasileiros com destino
ao país que as punições para tráfico de drogas são
extremamente severas e que sua aplicabilidade é de
total competência das autoridades locais. Nesse sentido,
viajantes devem conhecer bem o conteúdo de qualquer
pacote, presente, envelope ou contêiner levado à Indonésia.

Convém, ainda, evitar transportar encomendas, sobretudo


de desconhecidos. Não há garantias de que as autoridades
indonésias venham a promover suspensão de pena de
morte por questões judiciais.

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MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
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Se a imoralidade do tema tráfico e do uso de drogas é fato ou não, em
face das ciências, nem por isso a economia das drogas deixou de ser
tratada por diversas ciências, incluindo a própria economia. E para
você entender a economia das drogas, é necessário ter em conta,
inicialmente, a noção do que é a expressão “economia”.

Economia traduz o processo pelo qual bens e serviços são


produzidos, vendidos e comprados pelos agentes econômicos em
um determinado tempo e lugar.

Neste ponto, também se faz necessário compreender a expressão


“droga” no contexto deste curso.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define ‘droga’


como sendo ‘toda substância, natural ou sintética, capaz de
produzir, em doses variáveis, os fenômenos de dependência
psicológica ou dependência orgânica’.

(OMS, 2008 apud ROCHA, 2015, p. 20)

RA Já o Departamento de Narcóticos da Polícia Civil do Paraná define o


termo “droga” ligeiramente diferente, para ele “droga é o nome gené-
Enquadre no seu celular
rico dado a todos os tipos de substâncias, naturais ou não, que ao serem
ou tablet o código de
REALIDADE AUMENTADA ingeridas provocam alterações físicas e psíquicas” (DENARC, 2020).
do aplicativo Zappar
para assistir ao vídeo
Correspondentemente, drogas de uso ilícito são produzidas em certos
que apresenta uma
classificação das drogas.
locais, sendo depois transportadas e finalmente vendidas e compradas:

‹ No mesmo local.

‹ Numa região específica.

‹ Globalmente.

Trata-se, portanto, de uma atividade de cunho translocalizado,


ou que pode acontecer sequencialmente em lugares diferentes, no
todo ou em parte.

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MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
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| principais fluxos globais de cocaína
Principais produtores de cocaína

CANADÁ 14

EUROPA
124
EUA
165
MÉXiCO

EUA
17

17 CARiBE
VENEZUELA
MÉXiCO
CANADÁ 14
DOS ANDES
REGiÃO

165

ÁFRiCA
OCiDENTAL
REGiÃO
Principais produtores de cocaína DOS ANDES
BRASiL
Tráfico de cocaína (em toneladas métricas)
CARiBE

140
60
15 ÁFRiCA
DO SUL
6

Consumo de cocaína (em toneladas métricas)


VENEZUELA
BRASiL

Fonte: Adaptado de UNODC (2011).

O termo “droga” teve origem na palavra droog, proveniente do ho-


landês antigo, cujo significado é folha seca (DENARC, 2020), por conta
dos medicamentos que antigamente eram feitos com plantas. Hoje, a
terminologia ‘droga’ se refere a toda substância que tem propriedade
de afetar a estrutura e produzir efeitos no organismo, segundo a OMS.
EUROPA
OCiDENTAL
ÁFRiCA

124

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
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Chamamos de drogas psicotrópicas aquelas que atuam diretamente
glossário no funcionamento do sistema cerebral e causam modificações no
estado mental.

A terminologia “psicotrópico” é composta Drogas psicotrópicas, também conhecidas por substâncias psicoa-
por duas palavras: psico e trópico. Psico tivas, são aquelas que atuam diretamente sobre o cérebro, alterando
está relacionado ao psiquismo, que abarca de alguma maneira o psiquismo. Elas dividem-se em três grupos:
todas as funções do sistema nervoso drogas depressoras, drogas estimulantes e drogas perturbadoras.
central (SNC), e “trópico” significa ter
atração por, em direção a.

DROGAS DEPRESSORAS
Seu efeito é diminuir a atividade cerebral.
Elas diminuem a atividade psicomotora do organismo,
assim como a atenção, a concentração, a capacidade
de memorização e intelectual.

DROGAS ESTiMULANTES
Seu efeito é acelerar a atividade cerebral, trazendo
como consequência um estado de alerta exagerado,
insônia, sentimento de perseguição e aceleração dos
processos psíquicos.

DROGAS PERTURBADORAS
Seu efeito é distorcer ou modificar a atividade cerebral,
causando delírios, alucinações e alterações
na sensopercepção (efeito sinestésico). As drogas
perturbadoras também são chamadas de alucinógenas.

É importante ressaltar que os usuários dessas drogas podem ser clas-


sificados de acordo com o padrão de consumo. As classificações são:

‹ Experimental.

‹ Ocasional.

‹ Usuários de abuso.

‹ Usuários crônicos.

As drogas psicotrópicas são altamente viciantes, podendo levar o


indivíduo à dependência química, física e psicológica, e, dentre outras
coisas, pode resultar na morte do usuário (DENARC, 2020).

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MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
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cocaínaabuso
crack
narcótico
risco heroína
vício crime
dependência vida
substância droga
Veja a seguir os detalhes do surgimento da Cocaína e da Heroína.

1.1.1 Cocaína e heroína


Em um ensaio informativo intitulado “Doses Diárias: cocaína, a
droga glamourosa dos anos 70 está de volta”, o site do Instituto
para Pesquisas em Ciências Sociais da Universidade de Queensland
(Austrália) traça, em breves linhas, a trajetória da cocaína ao longo
da história. Um trecho desse ensaio referindo-se a um dos derivados
mais perigosos da cocaína, o crack, está traduzido a seguir:

O crack de cocaína é processado com amônia ou bicarbonato


de sódio, produzindo uma versão sólida em pedra da droga
que pode ser fumada. Não só o crack foi mais potente, mas
os efeitos da droga (normalmente após o fumo) foram
sentidos mais rapidamente.

(FERRIS; WOOD; COOK, 2018)

Ainda de acordo com o autor, o fato de a droga ser muito mais ba-
rata permitiu que ela se espalhasse rapidamente nas comunidades
mais carentes. Em 1985, seu uso tornou-se uma epidemia que teve
duração de 10 anos.

| sobre o crack

É um tipo de apresentação da cocaína sob O nome da droga deriva do ruído


forma solidificada em cristais. característico produzido ao ser aquecido.

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MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
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Nos Estados Unidos da América, surge também a heroína, uma droga
derivada da papoula e, assim como a morfina, é um pó de cor branca.
A ela também foi associado um glamour, como na descrição do pe-
riódico “The Dispatch” da Universidade de Nova Iorque:

Em 1990, a heroína chique se tornou o auge do vício em


drogas na mídia, principalmente na indústria da moda,
onde a estética andrógina era procurada por designers,
fotógrafos e marcas, acreditando que, quanto mais doente
você parece, mais as pessoas olham para você. Com uma
indústria forjada pelo vício em drogas, treze designers se
uniram para derrubar o sentimento com a formação de
Designers Against Addiction.
(THE DISPATCH, 2018)

Seja por glamour, por ponderações econômicas ligadas à política criminal


ou por qualquer outro motivo, no Brasil também há um forte apelo
para a abolição das restrições ao comércio de drogas. Em manifestação
recente, o icônico advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida
Castro afirmou que há necessidade de descriminalizar todas as drogas
(JORNAL O MOSSOROENSE, 2020).

Contudo, essa intenção não se restringe a manifestações na mídia e em


eventos acadêmicos. Não é de hoje que sentenças judiciais e mesmo a
lei penal vêm paulatinamente incorporando a agenda defendida com
veemência por Almeida Castro. Um exemplo disso está na profunda
alteração da Lei de Drogas ocorrida em 2006.

Antes
Lei nº 6.368
21 de outubro de 1976

Art. 16.

Adquirir, guardar ou trazer consigo, para o uso próprio, substâncias


entorpecentes ou que determine dependência física ou psíquica,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.

Pena: Detenção, de seis meses a dois anos, e pagamento de vinte a


cinquenta dias-multa.

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MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
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Depois
Lei nº 11.343
23 de agosto de 2006
Art. 28.

Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer


consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido
às seguintes penas:

I . advertência sobre os efeitos das drogas;

II. prestação de serviços à comunidade;

III. medida educativa de comparecimento a programa


ou curso educativo.

Nesse sentido, observando-se a evolução da taxa de homicídios no


Brasil, percebe-se um ponto de inflexão com o aumento de mortes
por armas de fogo justamente após o advento da Lei nº 11.343/2006, a
qual, na prática, despenalizou o consumo de drogas no país. Os aspectos
psicossociais e econômicos relacionados à liberação das drogas serão
retomados com maior profundidade ao longo deste curso.

| taxa de homicídio no brasil


Homicídio de 1980
POR OUTROS a 2017
MEIOS Homicídio POR ARMA DE FOGO

60.000
o POR OUTROS MEIOS Homicídio POR ARMA DE FOGO 47.510
50.000 Homicídio POR OUTROS MEIOS
47.510
Homicídio POR ARMA DE FOGO

60.000

34.147 47.510
40.000
50.000
34.147
30.000
40.000
34.147

20.000
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10.000
20.000

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10.000

Fonte: Adaptado de Romano (2019)


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Veja a seguir como funciona o mercado do tráfico, e o que dizem
os indicadores.

1.1.2 Mercado do tráfico


Várias décadas após Gary Becker estabelecer as bases da Economia
glossário do Crime, são diversos os autores e instituições da área econômica
que também passaram a tratar do tema. Até mesmo importantes
indicadores econômicos já são associados a atividades ilícitas.
Os indicadores macroeconômicos
são medidas que indicam as variáveis A exemplo disso, estão os documentos de organizações UNODC,
agregadas de todo o país, ao contrário dos UNDP, OMS etc., que trazem referências a atividades ilícitas em sua
indicadores microeconômicos, que focam articulação com indicadores macroeconômicos.
em empresas ou setores específicos.
Segue abaixo um excerto de estudo do Banco Mundial a esse respeito,
especificamente no que concerne a atividades ilícitas na Colômbia:

O artigo articula um conjunto de dados cujos componentes


principais são estimativas de renda ilícita advinda do
tráfico de drogas e criminalidade comum. Rendas ilícitas
aumentaram drasticamente até 2001, atingindo um
máximo de aproximadamente 12 por cento do Produto
Interno Bruto (PIB) e então decresceram para menos de dois
por cento em 2013. No período de declínio estão superpostos
um período de alto crescimento econômico e a fase posterior
a implementação do Plano Colômbia.

(VILLA; MISAS; LOYAZ; 2020)

Entendidos os conceitos básicos sobre economia e drogas, é possível


imaginar a existência de uma economia das drogas. Ela envolve
diversos processos, incluindo a lavagem de dinheiro.
PROCESSOS ENVOLViDOS NA ECONOMiA DAS DROGAS

| processos envolvidos na economia das drogas

Produção Compra e Transporte Lavagem


venda de dinheiro
Muitas vezes feita Drogas de uso Rede complexa Tema sempre
em laboratórios ilícito. de transporte e presente na mídia
remotos e de transações contemporânea.
caseiros. financeiras.

Curso FRoNt
Lorem ipsum
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
17
A lavagem de dinheiro é o processamento de recursos criminais para
disfarçar sua origem ilegal. Esse processo é crucial para as operações
do crime organizado, porque os infratores seriam descobertos facil-
mente se não pudessem “mesclar” seu dinheiro ilegal em um negócio
jurídico, banco ou imobiliário (SOUDIJN, 2014).

NA PRÁTICA
Por exemplo, um traficante de drogas pode comprar um
restaurante para disfarçar os lucros das drogas com os lucros
legítimos do restaurante. Dessa maneira, os lucros das drogas
são lavados pelo restaurante para fazer com que a renda
pareça ter sido obtida legalmente.

Tendo compreendido que a economia é um sistema e que envolve a


produção, o transporte, a compra e a venda de bens e serviços, emerge
a questão do mercado, seja ele tangível ou intangível (virtual, por
exemplo). É nele que os agentes econômicos trocam ou vendem seus
bens e serviços, valendo-se de unidades monetárias ou de outros bens.

É importante saber que os agentes econômicos que atuam no mer-


cado são indivíduos e organizações de indivíduos, o que chamamos
de crime organizado, quando referente a drogas de uso ilícito.

Ou seja, são seres humanos que fazem escolhas, sozinhos ou em grupo.


Portanto, um mercado é determinado pelo conjunto das interações
humanas que nele ocorrem. “Na economia global do século XXI, há
uma tendência inexorável nas organizações criminosas a se desen-
volverem como pequenos grupos de empreendedores que têm apenas
conexões tênues, ou como ela sugere, crime em rede.” (POTTER, 2007).

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
18
Assim como em qualquer outro mercado, o processo que constitui o
mercado das drogas ilícitas reflete questões macroestruturais, como
produção, distribuição, lucratividade, liquidez e segurança, e também
questões próprias do nível do indivíduo, de seu ambiente e de seus
grupos imediatos. Isso vale para a oferta, para a procura e para as
ações de prevenção e repressão a esse mercado.

Considerando que as escolhas individuais são relevantes


para a compreensão da dinâmica do mercado das drogas,
fica explícito que as ciências comportamentais também
podem contribuir para a compreensão e implementação de
estratégias que possam desarticulá-lo.

Veja a seguir algumas informações sobre os mercados ilegais.

1.2 Mercados ilegais

No glossário de termos organizado pela Gerência de Desenvolvimento


Econômico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do
Distrito Federal, há uma versão adicional sobre o termo “mercado”.

Mercado deve ser entendido como o ‘local’ em que


operam as forças da oferta e demanda, através de
vendedores e compradores, de tal forma que ocorra a
transferência de propriedade da mercadoria através de
operações de compra e venda.
(EMATER-DF, 2020)

Você já deve ter entendido que, conforme referido anteriormente, a


ideia de mercado não pressupõe um local específico, mas um espaço
ou região em que compradores e vendedores se relacionam, de tal
forma que os preços de um mesmo bem (incluindo drogas ilícitas)
tendem, rapidamente, a serem iguais.

Mercado municipal Mercado on-line Mercado das drogas Mercado financeiro

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
19
Nesse sistema e na seara das drogas ilícitas, cabe destacar os for-
necedores de substâncias, os usuários e as próprias drogas ilícitas.

| alguns fatores que favorecem a


expansão do mercado global de drogas
mistura de múltiplas substâncias

aumento crescente da criação e utilização


de substâncias precursoras (necessárias
para produção de certas drogas)

tráfico de diferentes drogas e poliusuários


(usuários de drogas diferentes)

novas substâncias chegando ao


mercado de drogas

crescimento populacional

intersecção entre mercados


legais e ilegais

urbanização

renda novas tecnologias

Kuhns (2007) estabelece um diferencial também na maneira como


os mercados de drogas estão dispostos:

MERCADOS ABERTOS MERCADOS FECHADOS MERCADOS SEMiABERTOS

São mercados onde qualquer um Ou mercados discretos são Se desenvolvem quando os


pode comprar ou vender, num aqueles onde um número finito vendedores restringem suas
determinado local. Frequentemente de indivíduos compram, vendas a clientes conhecidos ou
estão localizados em áreas de vendem e usam as drogas, com clientes que são referidos por
trânsito pesado (esquinas, bairros, acesso aos vendedores outros conhecidos ou vendedores,
bares e assim por diante), onde os estritamente controlado. em um esforço para reduzir o risco,
usuários podem facilmente minimizar negócios que terminam
encontrar vendedores e vice-versa. mal e evitar conflitos nas
transações.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
20
As substâncias psicoativas, hoje consideradas drogas ilícitas, estão
difundidas por todo globo. Sua difusão e respectivos mercados, corres-
pondentemente, aconteceu globalmente e desde tempos imemoriais.

A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o Protocolo de


Drogas Sintéticas de 1948, ou Protocolo de Paris. Tal protocolo, en-
tretanto, não é inovador sobre o tema, já que a Liga das Nações (que
antecedeu a ONU) também tratou da questão.

Fumante de ópio de Xangai na década de 1920.


Foto: Facts and Details.

A produção e uso de drogas, ainda que imemorial, tem alguns marcos


clássicos. O período que compreendeu as décadas de 1840 e 1850 foi
marcado por conflitos entre o Reino Unido e o Império Chinês em
razão do comércio do ópio. Foram as denominadas Guerras do Ópio.

saiba mais
Veja mais sobre o assunto no artigo “Guerras do
Ópio” (disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/
historiag/guerras-do-opio.htm).

Originado na Ásia e derivado da flor da papoula (papaverum somni-


ferum), o ópio tem efeitos analgésicos e era largamente consumido
na Europa e na América no século XIX. A morfina, importante droga
analgésica, é o mais conhecido dos alcaloides contidos no ópio.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
21
Segunda Guerra do Ópio.
Foto: © [Archivist] / Adobe Stock.

Alguns textos específicos e atuais do Escritório das Nações Unidas


sobre Drogas e Crime trazem informações importantes sobre o cres-
cimento das substâncias ilegais em circulação e a realidade do número
de usuários no mundo.

Relatório Mundial sobre Drogas do UNODC 2020.


Fonte: UNODC (2020).

A seguir, apresentaremos informações relacionadas às drogas de uso


ilícito, usuários e fornecedores.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
22
1.2.1 Drogas de uso ilícito
Veja o que nos diz o UNODC acerca do mercado de drogas ilícitas:

PODCAST transcrito

Nos anos 1990, cerca de 230 substâncias psicoativas


estavam sob controle internacional. Dessas 230, algumas
dominavam os mercados globais de maneira mais
saliente: Cannabis (ou maconha), cocaína, ópio, heroína,
anfetaminas e êxtase. Duas décadas depois, a situação
mudou, considerando a quantidade de drogas que
passaram a estar disponíveis no mercado. O número de
novas substâncias psicoativas (NSP) sintéticas cresceu de
166 para 950 substâncias, no período que compreende o
ano de 2005 até o final de 2019. Mundialmente, em anos
recentes, as autoridades identificaram mais de três vezes
a quantidade de NSP quanto ao número de substâncias
psicoativas já sob controle internacional. Em função
da velocidade do surgimento de novas substâncias, os
sistemas nacionais de controle colocaram um número
crescente de substâncias sob controle. Dessa forma, uma
certa quantidade dessas substâncias teve seu status legal
modificado num curto espaço de tempo.

Entre as substâncias que emergiram no mercado, na última década,


podemos citar: canabinoides sintéticos, catinonas, fenetilaminas,
piperazinas e várias substâncias análogas ao fentanil, que resul-
taram em um incremento na classificação dessas substâncias em
nível internacional.

1.2.2 Usuários de drogas ilícitas


Sobre os usuários e as consequências do consumo de drogas ilícitas
para a saúde, o World Drug Report 2020 do UNODC apresenta os
seguintes dados:

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
23
| NÚMERO DEusuários
número de USUÁRiOS NO
no ANO
ano deDE 2018
2018 em EM MiLHÕES
milhões

Cannabis Opioides e Opiáceos

192 88

58 30

Anfetaminas e Estimulantes
de prescrição Ecstasy

27 21

Cocaína

19

Fonte: Adaptado do Relatório Mundial sobre


Drogas do UNODC (2020). Ainda de acordo com o documento da ONU, 11 milhões de pessoas
injetam drogas e, entre elas:

HIV +
HIV Hepatite C Hepatite C
1,4 milhão de usuários de 5,5 milhões de usuários 1,2 milhão de usuários
drogas injetáveis vivem têm Hepatite C estão vivendo com
com HIV Hepatite C e HIV

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
24
Você sabia que os altos índices de transmissão de HIV e hepatite C
glossário fazem com que esses vírus sejam considerados epidemias globais?
As pessoas que injentam drogas (PWID) são uma das populações
mais vulneráveis ​​afetadas por essas doenças infecciosas.
PWID é a sigla em inglês para people who
inject drugs. A prevalência de HIV e hepatite C é desproporcionalmente alta nesse
grupo e é responsável por uma uma parte significativa de novos infec-
tados por HIV e por hepatite C em todo o mundo (UNODC, 2020, p. 11).

1.2.3 Fornecedores
Finalmente, considerando o componente “fornecedores” do mercado
de drogas, os documentos do UNODC dizem o seguinte:

PODCAST transcrito

Com relação ao suprimento de drogas, o mesmo relatório


do UNODC destaca que a Cannabis continua sendo a droga
mais amplamente produzida em todo o mundo, e esse
mercado está passando por transição e diversificação em
países que permitem o uso não medicinal de Cannabis.
O cultivo global da folha de coca mostrou uma clara
tendência ascendente no período de 2013 a 2017,
aumentando em mais de 100%.

Já a produção ilícita global estimada de cocaína atingiu uma


alta histórica de 1.976 toneladas em 2017. No mesmo ano,
cerca de 70% da área cultivada com coca foi localizada na
Colômbia, 20% no Peru e 10% no Estado plurinacional da
Bolívia. Ao mesmo tempo, a quantidade global de cocaína
apreendida em 2017 aumentou 13% em relação ao ano
anterior, ajudando a manter o suprimento de cocaína sob
controle, embora o uso de cocaína esteja aumentando na
América do Norte e na Europa Ocidental e Central. Em 2018,
houve um declínio no cultivo de papoula, principalmente
como resultado de uma seca no Afeganistão, que, no
entanto, foi novamente o país responsável pela grande
maioria do cultivo e produção ilícita de papoula do ópio no
mundo naquele ano” (UNODC, 2020).

Dos mencionados relatórios do UNODC, é possível mensurar e qua-


lificar o avanço, a complexidade e a extensão do mercado de drogas
no plano internacional.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
25
| extensão do mercado de drogas internacional

RÚSSiA

CANADÁ

ÁSiA
CENTRAL

JAPÃO

EUA
CHiNA

MÉRICA
MÉ RICA
AMÉRICAA
CEN
CENTRALL

SUDESTE
ASiÁTiCO

REGIÃO BRASiL
DOS ANDES

AUSTRÁLiA
ÁFRiCA
DO SUL

Produção e consumo interno

País ou região produtiva

Cannabis Anfetaminas País ou região de trânsito

Opiáceos Ecstasy Cocaína Destino

Fonte: Adaptado de Mundo Estranho (2018).

Em síntese, nos últimos trinta anos vem ocorrendo em todo o mundo


um crescimento vertiginoso da quantidade e da variedade de drogas
ilícitas que se encontram difundidas pelo planeta. Entre essas subs-
tâncias, a Cannabis é a mais consumida e os opioides são as drogas
mais danosas à saúde.

Boa parte da totalidade de cocaína mundial é produzida em três países


que fazem fronteira com o Brasil: Colômbia, Peru e Bolívia.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
26
dica de mídia

Para saber mais sobre o desenvolvimento do mercado da


maconha, vale a pena ver o vídeo “Evolução do Mercado
de Maconha” (disponível em: https://www.uniad.org.br/
galeria-de-videos/evolucao-do-mercado-de-maconha-
ronaldo-laranjeira-bloco-a-2-6/).

Esses números são refletidos nos altos índices de prisões provisórias


relacionadas ao crime de tráfico de drogas ou a crimes correlatos.
Veja o percentual no gráfico a seguir:

percentual de
| PERCENTUAL DEpresos
PRESOSprovisórios
PROViSÓRiOSporPOR
crime praticado
TiPO DE CRiME PRATiCADO

Tráfico de Drogas ou Indução, Instigação ou Auxílio ao Uso de Drogas 29%


Roubo 26%
Homicídio 13%
Crime do Sistema Nacional de Armas 8%
Furto 7%
Receptação 4%
Crime de Ameaça 2%
Latrocínio 2%
Violência Doméstica 2%
Estupro de Vulneráveis 2%
Organização Criminosa 1%
Crime Tentado - Assunto 5555 1%
Estupro 1%
Extorsão 1%
Estelionato 0%
Sequestro 0%
Violação da Obrigação de Alimentos 0%
Crimes previstos no ECA 0%
Não Informado 9%
Não Classificado 6%

Fonte: Adaptado de Tribunal de Justiça (2017).

Vamos relembrar os pontos principais? Veja uma síntese dos pontos


mais importantes relacionados ao aumento das substâncias ilegais
em circulação e a realidade dos números de usuários no mundo.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
27
No próximo tópico, você vai entender o panorâma geral das políticas
de redução de drogas no Brasil.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
28
1.3 Redução da oferta de drogas
A Política Nacional sobre Drogas, instituída pelo Decreto nº 9.761/2019,
nomeou a redução da oferta de drogas como um de seus principais
eixos de atuação, com ações prioritárias sumarizadas pelo Ministério
da Justiça e Segurança Pública.

Segundo a Política Nacional sobre Drogas, as iniciativas de redução


da oferta incluem ações de Segurança Pública, defesa, inteligência,
regulação de substâncias precursoras, de substâncias controladas e
de drogas lícitas, repressão da produção não autorizada, operações
especiais, bem como a recuperação de ativos que financiem ou sejam
resultados dessas atividades criminosas.

Veja a seguir as ações previstas no eixo de redução de oferta:

Repressão ao uso de Combate ao narcotráfico, Bloqueio do ingresso das drogas


drogas ilícitas. à corrupção, à lavagem de oriundas do exterior, destinadas
dinheiro, ao crime organizado ao consumo interno ou ao
e crimes conexos. mercado internacional.

Erradicação e apreensão Identificação e Gestão de ativos criminais


permanentes de tais desmantelamento das gerados pelo narcotráfico,
substâncias produzidas organizações criminosas. apreendidos pelo Estado.
no território nacional ou
estrangeiro.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
29
Com base no princípio da responsabilidade compartilhada, o combate
às drogas ilícitas vinculadas ao crime organizado deve priorizar as
regiões com maiores indicadores de homicídios.

Entende-se que a redução dos crimes relacionados ao tráfico e uso de


drogas ilícitas proporcionará melhoria substancial nas condições de
segurança e bem-estar de comunidades, de famílias e dos cidadãos,
de um modo geral.

Uma atribuição central da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas


é assessorar o Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública e
prestar assistência aos órgãos do ministério quanto às políticas sobre
drogas relacionadas com a redução da oferta, a repressão da produção
não autorizada e o combate ao tráfico ilícito de drogas, respeitadas as
competências de outras entidades da Administração Direta e Indireta.

Fonte: Divulgação/PRF.

As unidades de operações especiais, tanto das forças armadas quanto


RA das forças policiais brasileiras, figuram como importante recurso
Enquadre no seu celular para o enfrentamento repressivo da oferta de drogas.
ou tablet o código de
REALIDADE AUMENTADA
do aplicativo Zappar para
assistir ao vídeo sobre o
Comando de Operações
Táticas.

Comando de Operações Táticas do Departamento


da Polícia Federal.
Foto: © [André Gustavo Stumpf] / Flickr.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
30
Dentre os principais termos técnicos e conceitos empregados no
texto do Ministério da Justiça e Segurança Pública sobre a redução
da oferta de drogas que serão abordados ao longo dos tópicos deste
módulo, um deles é as operações especiais.

Este tipo de unidade está presente nas forças militares (Exército,


RA Marinha e Aeronáutica) e nas demais instituições de polícia mundo
Enquadre no seu celular afora, mesmo naquelas de estética civil. Nesse sentido, um tipo de
ou tablet o código de unidade que figura como espécie do gênero forças especiais é a SWAT.
REALIDADE AUMENTADA
do aplicativo Zappar para
assistir ao vídeo animado Segundo Davidson (2007), a formação de unidades de operações
sobre as operações especiais SWAT marcou uma ruptura nos serviços policiais tradi-
especiais e sua relevância
cionais e trouxe um novo método de gerenciamento de crises pelos
no enfrentamento aos
grupos organizados. executivos policiais modernos. Foi possível perceber que a utilização
de uma equipe especializada, com policiais especialmente armados,
treinados e excepcionalmente bem liderados, reduziu os danos sobre
a população, com pouca ou nenhuma perda de vidas quando confron-
tados com criminosos pesadamente armados.

Nesse sentido, quando as ocorrências tinham um desfecho favorável


aos policiais, principalmente as que haviam cobertura midiática, foi
possível produzir bons efeitos de relações públicas.

William H. McRaven, por sua vez, ao definir sobre operações espe-


ciais, escreveu:

Uma operação especial é conduzida por forças especialmente


adestradas, equipadas e apoiadas visando um alvo específico,
cuja destruição, eliminação ou resgate (no caso de reféns)
constitui-se em imposição política ou militar.

(MCRAVEN, 1996)

No contexto brasileiro, o Curso de Ações de Comandos se destaca na


formação dos integrantes das unidades de operações especiais do
Exército Brasileiro.

Comando de Operações Táticas, a unidade de


operações especiais da Polícia Federal.
Foto: © [Alfredo Carrijo] / Revista Diálogo América.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
31
No contexto das polícias militares, as unidades de operações es-
peciais são representadas pelos Batalhões de Operações Especiais
(BOPEs). Por sua vez, no combate ao narcotráfico nos níveis federal
e internacional, destaque-se o Comando de Operações Táticas
(COT), da Polícia Federal.

No contexto americano de operações especiais, a Joint Pub. 3-05


estabelece as missões de ação direta projetadas para a obtenção de
resultados específicos.

saiba mais
Para saber mais, leia na íntegra a publicação da Joint Pub.
3-05 (disponível em: www.jcs.mil/Doctrine/DOCNET/JP-
3-05-Special-Operations).

Veja mais vídeos sobre as operações especiais nas dicas de mídia


a seguir:

dica de mídia

Assista ao vídeo “Curso de Ações de Comandos”


(disponível em: https://youtu.be/ilvUX5LMlJ8).

Você também pode ter acesso aos trabalhos da BOPE,


no vídeo “BOPE Policia Militar- DF” (disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=QXlpRdg4scg).

Para entender mais sobre o Comando de Operações


Táticas, assista ao vídeo da Polícia Federal (disponível em:
https://youtu.be/fc1q9Hj4D2s).

Você sabe o que significa a expressão latina ultima ratio? Ela é uma
das expressões mais conhecidas no contexto das operações especiais.

Ultima ratio significa literalmente última razão, ou, em termos


mais práticos, último recurso. Tratando-se de uma alternativa
tática, seja no contexto macro do combate ao crime organizado,
seja no contexto específico do enfrentamento de narcotraficantes,
as ações envolvendo o emprego de forças especiais precisam ser
precedidas do trabalho de inteligência.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
32
Isso se torna ainda mais relevante porque a Inteligência de Segurança
Pública está intimamente relacionada à execução de ações para prever,
prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza.

Lei nº 9883
de 7 de dezembro de 1999

Art. 1º

§ 2º, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN)

“[...] entende-se como inteligência a atividade que objetiva a


obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do
território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial
influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a
salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.”

Veja que essa definição está relacionada diretamente a questões de


Estado, ou seja, a referida lei trata eminentemente de Inteligência de
Estado. Por sua vez, como já mencionado, os recursos a serem em-
pregados pelas agências de Segurança Pública, tanto na prevenção
quanto no combate à prática de ilícitos como tráfico de drogas, sempre
serão melhores dosados se forem precedidos de ações de Inteligência
de Segurança Pública.

A atividade de Inteligência de Segurança Pública (ISP) é a sistemati-


zação de ações especializadas para identificar, avaliar e acompanhar
ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública. Além
disso, suas ações servem de orientação para subsidiar os tomadores
de decisão, no planejamento e execução de uma política de Segurança
Pública, com ações voltadas para previsão, prevenção, neutralização
e repressão de atos criminosos de qualquer natureza que atentem à
ordem pública, à segurança das pessoas e do patrimônio.

Conheça algumas finalidades da ISP a seguir:

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
33
FiNALiDADES DA iSP

Proporcionar diagnósticos e prognósticos sobre a evolução de situações do interesse


da Segurança Pública, subsidiando seus usuários no processo decisório.

Contribuir para que o processo interativo entre usuários e


profissionais de Inteligência aumente o nível de eficiência dos usuários e de suas
respectivas organizações.

Subsidiar o planejamento estratégico integrado do sistema de Segurança Pública e a


elaboração de planos específicos para as diversas organizações que o compõem.

Assessorar as operações de prevenção e repressão da Segurança Pública, com


informações relevantes.

Proteger a produção do conhecimento de ISP.

Por sua vez, a Doutrina de Inteligência de Segurança Pública do Estado


do Rio de Janeiro (DISPERJ, 2015), precursora da própria Doutrina
Nacional de Segurança Pública (DNISP), define a atividade de Inteli-
gência de Segurança Pública (ISP), em seus dois ramos, Inteligência
e Contrainteligência, da seguinte forma:

O exercício permanente e sistemático de ações especializadas


para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou
potenciais na esfera de Segurança Pública, basicamente
orientadas para produção e salvaguarda de conhecimentos
necessários para subsidiar os tomadores de decisão, para
o planejamento e execução de uma política de Segurança
Pública e das ações para prever, prevenir, neutralizar e
reprimir atos criminosos de qualquer natureza que atentem à
ordem pública, à incolumidade das pessoas e do patrimônio.

(DISPERJ, 2015)

Aqui cabe refletir sobre os contornos conceituais da Doutrina Nacional


de Inteligência de Segurança Pública (DNISP). Segundo a DNISP (2015),
a doutrina é um “conjunto de conceitos, características, princípios,
valores, normas, métodos, procedimentos, ações e técnicas que
orientam e disciplinam as atividades de ISP.”

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
34
Propõe uma linguagem especializada entre os profissionais da ativi-
dade de ISP, de modo que as relações de comunicação essenciais ao
seu exercício ocorram sem distorções ou incompreensões.

Dentro dessa perspectiva, a doutrina deve ser capaz de padronizar


a atuação das agências que integram o Sistema de Inteligência de
Segurança Pública (SISP), visando maximizar os seus padrões de
eficácia e eficiência, convertendo-se em importante instrumento de
assessoria às políticas e ações relacionadas à área de Segurança Pública.

saiba mais
Ainda dentro da temática “inteligência”, para mais
informações sobre proteção de conhecimentos sensíveis
e sigilosos, bem como outros assuntos correlatos,
sugere-se a consulta ao “Caderno de Legislação da
Agência Brasileira de Inteligência” (disponível em:
https://www.gov.br/abin/pt-br/centrais-de-conteudo/
publicacoes/Col3v3.pdf).

Finalmente, para encerrar este tópico sobre elementos relevantes


para a política de redução da oferta de drogas, convém elucidar o que
vem a ser o “princípio da responsabilidade compartilhada”.

Mais de 11 mil militares e 33 agências governamentais


atuam no combate ao crime nas fronteiras.
Fonte: IDESF.

No contexto da Política Nacional sobre Drogas, esse princípio está


relacionado com a necessidade de se canalizarem esforços em nível
local, regional, nacional e internacional com vistas ao combate do
cultivo, da produção e do tráfico de drogas (ciclo logístico).

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
35
Ou seja, é preciso adotar estratégias de cooperação mútua e de arti-
culação de esforços entre governo, iniciativa privada, terceiro setor
e cidadãos de modo geral, com foco na priorização de regiões que
apresentam taxas de homicídios mais elevadas. Em outras palavras,
os múltiplos atores envolvidos nos esforços de redução da oferta
de drogas devem agir de forma mais organizada que aqueles que
atuam na atividade criminal. Parafraseando as palavras de Rudy
Giuliani, ex-prefeito da cidade de Nova Iorque, já é tempo de as
ações de redução da oferta de drogas passarem a ser tão organizadas
quanto o crime organizado.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
36
Unidade 2
CRIME, ORGANIZAÇÕES
CRIMINOSAS E NARCOTRÁFICO

Contextualizando

Nesta unidade, você conhecerá as principais noções e conceitos re-


lacionados ao crime organizado e ao narcotráfico, sempre conside-
rando os contornos legais e gerenciais desses conceitos, tendo em
perspectiva aspectos econômicos, sociais, culturais e psicológicos.

2.1 Crime organizado


O crime organizado constitui um tema de alta complexidade e de
imenso interesse social, político, cultural e econômico. O assunto
está constantemente na pauta jornalística, na agenda de pesquisa das
ciências sociais aplicadas, nas audiências judiciais e também possui
forte inserção em filmes e programas televisivos.

Foto: © [Maxim_Kazmin] / Adobe Stock.

O crime organizado tornou-se um verdadeiro ícone da cultura


popular, objeto de atenção da sociedade civil e assunto de Estado.
Isso tanto na seara interna quanto internacional.

Trata-se de algo bem sintetizado por Sydney Mufamadi, Ministro


da Segurança e Proteção do Governo de Unidade Nacional da África
do Sul entre 1994 e 1999:

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
37
O crime organizado passou a ser, individualmente, a maior
ameaça global desde o final da Guerra Fria.

(POTTER, 2007, p. 887)

No entanto, o crime organizado continua sendo um dos termos re-


lacionados ao crime mais difíceis de definir com qualquer grau de
precisão. A “Enciclopédia Britânica” define o crime organizado como
um empreendimento complexo e altamente centralizado constituído
para práticas de atividades ilegais.

Trata-se de um tipo de organização que envolve delitos, como sub-


tração de cargas, fraudes, roubos, sequestros mediante resgate e
demanda por pagamentos por proteção.

A principal fonte de lucro para os sindicatos do crime é o


suprimento de bens e serviços que, não obstante serem ilegais,
são demandados continuamente pelo público, tais como drogas,
prostituição, agiotagem e jogatinas.

Klaus von Lampe, professor de Criminologia na Escola de Economia, Lei


e Direito de Berlim, em uma revisão sistemática da literatura da área,
colacionou mais de 200 definições para a expressão crime organizado.

Lampe argumenta que muitas das definições empregadas para a


expressão crime organizado nem mesmo podem ser tomadas por
definições no sentido exato da palavra. Em verdade, a maioria das
expressões não passariam de meras descrições. Isso porque, segundo o
autor, a definição pressupõe o delineamento das fronteiras do objeto.
Contudo, no caso do crime organizado, nem sempre as definições
empregadas obedecem esses critérios (LAMPE, 2016).

Ainda de acordo com Lampe, existem diferentes definições de crime


organizado, separados por perspectivas elementares.

| Perspectiva 1
Na primeira perspectiva, o que tornaria o crime organizado
seria a natureza dos crimes praticados ou os criminosos
por trás deles. Assim, para uma atividade ser classificada
como organizada, ela deveria apresentar um certo nível de
sofisticação, continuidade, racionalidade e dano.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
38
| Perspectiva 2
Na segunda perspectiva, não importam os crimes praticados
em si, o que importa é como os criminosos se vinculam e se
associam uns com os outros. “O crime organizado estaria
relacionado a qualquer grupo que possui alguma estrutura
formal cujo objetivo primeiro seja obter dinheiro oriundo de
atividades ilegais (FBI apud LAMPE, 2016).

| Perspectiva 3
A terceira perspectiva estaria relacionada à concentração de
poder ilegítimo nas mãos de criminosos. Assim, os criminosos
poderiam criar um tipo de governo no submundo criminoso
que controla, regula e taxa atividades ilegais.

| Perspectiva 4
A quarta perspectiva, chama-se condição sistêmica, que
acontece quando o crime organizado influencia as instâncias
legítimas das sociedade, ou as toma em acordo com a elite
política e financeira que governa um país. Nessa perspectiva, os
criminosos exerceriam influência sobre a sociedade legítima,
substituindo o governo formal ou estabelecendo alianças com
políticos corruptos e com a elite empresarial com a finalidade de
manipular a ordem constitucional em vantagem própria. Lampe
denomina essa perspectiva também de condição sistêmica.

Como você viu, a condição sistemática, quarta perspectiva de crime


RA organizado, tem um processo muito semelhante às fases do processo
Enquadre no seu celular mapeado por Juliet Berg e descortinado para o público brasileiro por
ou tablet o código de Dantas. Veja:
REALIDADE AUMENTADA
do aplicativo Zappar
para assistir ao vídeo
animado sobre as quatro ” 1° Estágio: Confronto
perspectivas para definição
do crime organizado. O Estado passaria por uma situação de confronto em relação ao crime
organizado, utilizando métodos policiais para destruí-lo, na tentativa
de erradicar as ilicitudes por ele praticadas.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
39
” 2° Estágio: Aquiescência
Ao perceber a incapacidade de adotar uma estratégia bem-sucedida
contra o crime organizado, o Estado seria forçado a aceitar a prevalência
de atividades ilegais daquelas organizações em seu território nacional.

” 3° Estágio: Conveniência tática


Nesse estágio, seria eleita pelo Estado a opção de tirar proveito das
operações ilícitas, na medida em que beneficiassem a economia, a
sociedade, ou mesmo os funcionários da Segurança Pública.

” 4° Estágio: Encorajamento
Membros do Estado, beneficiários diretos das atividades ilícitas do
crime organizado, passariam a prevenir ou sabotar estratégias de
contenção, para garantir os benefícios por eles auferidos.

Um exemplo de condição sistêmica no crime organizado foi o nar-


cotraficante Pablo Escobar, eleito como deputado suplente do Par-
lamento colombiano.

Fonte: La Parola.

Em suma, entre os principais elementos que configuram o crime


organizado, estão:

A interação social entre indivíduos que compõem


um grupo criminoso.

A busca de lucro, principalmente por meio da


prática de crimes.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
40
A condução de negócios ilícitos em um ambiente
favorável, permeado por corrupção, demanda de
mercado e suporte social.

A realização de atividades ilícitas caracterizadas


por continuidade e persistência.

O uso de ameaças de violência e corrupção política


como meio de realização de negócios e proteção
do empreendimento criminoso.

Na sequência, veja as características das organizações criminosas.

2.2 Organizações criminosas


(características e peculiaridades
de uma ORCRIM)

A legislação brasileira não define o que é crime organizado. O texto


legal limita-se a descrever os requisitos formais que caracterizam
uma organização criminosa (ORCRIM).

Lei nº 12.850
de 2 de agosto de 2013

Art. 1°

§ 1º “Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro)


ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela
divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter,
direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a
prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4
(quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.”

Dentro das categorias sintetizadas por Klaus Von Lampe, nossa le-
gislação foca em definir organizações criminosas e em como os
criminosos vinculam-se uns aos outros.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
41
Até 2013, o conceito de grupo ou organização criminosa utilizado
pela área jurídica era extraído da Convenção de Palermo, a qual foi
internalizada no ordenamento jurídico pátrio pelo Decreto nº 5.015,
de 12 de março de 2004.

Decreto nº 5.015
de 12 de março de 2004

Art. 2° (alínea A)

Grupo criminoso organizado: grupo estruturado de três ou mais


pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com
o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas
na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou
indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material.

Note que a definição antiga era mais rígida, pois alcançava grupos
formados por apenas três criminosos, diferentemente do atual requi-
sito mínimo para preenchimento do tipo penal atual, que considera
organização criminosa os grupos constituídos de quatro pessoas.

PODCAST transcrito

O que resta estabelecido legalmente é que o primeiro


requisito para a configuração de uma organização criminosa
(ORCRIM) é a associação de quatro ou mais pessoas.

Um segundo requisito para o mesmo fim é a divisão de


tarefas. Isso, inclusive, pressupõe a existência de relações
hierárquicas dentro da organização criminosa. Por fim,
como terceiro requisito fundamental para a configuração de
uma ORCRIM, é necessário que haja o uso instrumental de
atividades criminosas (condutas tipificadas como crime),
para o alcance de vantagens. É importante frisar que os
crimes praticados pela ORCRIM precisam ter penas máximas
superiores a quatro anos.

Por fim, além das questões jurídicas relacionadas à definição


e aos requisitos necessários para a configuração de uma
ORCRIM, é necessário considerar também o ambiente em
que esses grupos estão inseridos e os fatores psicológicos
internos aos indivíduos que os compõem.

Neste último aspecto, por exemplo, há fenômenos como o


comportamento dissocial, que é muito presente entre os
participantes de organizações criminosas. O comportamento
dissocial (categorizado no CID-10) é um transtorno de
personalidade que leva os indivíduos a serem extremamente
violentos com grupos antagônicos, mas chegam a cultuar e
demonstrar respeito cerimonial ao próprio grupo.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
42
Assim como ocorre em organizações mafiosas mundo afora, o com-
portamento dissocial é uma marca bem presente na criminalidade
faccionada no Brasil. Organizações criminosas do narcotráfico, como
o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital, apresentam
rígidos códigos de hierarquia e disciplina reforçados por rituais e
protocolos não escritos que são reforçados pelo grupo o tempo todo,
quase sempre por estímulos negativos (punição).

saiba mais
Leia mais sobre a história do PCC e das facções criminosas,
seus códigos de ética e as regras de conduta dentro da
organização (disponível em: https://www.politize.com.
br/pcc-e-faccoes-criminosas/).

Assim, para o reforço das regras informais que mantêm a estrutura


organizada dos empreendimentos criminosos, o emprego da violência
extrema como recurso é a regra. Portanto, torturas, esquartejamentos
e decapitações são eventos sempre presentes nos relacionamentos
com clientes (como dependentes químicos que não pagam suas dívidas
com tráfico), com rivais, com as forças de segurança do Estado e com
os próprios membros da ORCRIM que violam as regras do grupo.

Agora, pense no que você viu até aqui e faça a seguinte reflexão:

NA PRÁTICA
A associação de quatro pessoas que, por meio da divisão
de tarefas, se utilizam do crime de tráfico de drogas para
enriquecimento ilícito configura uma organização criminosa,
cuja pena máxima é de 15 anos, nos termos da lei brasileira.
Por outro lado, por questão de política criminal, a associação
de pessoas visando à geração de lucros com o jogo do bicho é
caracterizada como contravenção penal, com pena máxima
de um ano e não configura uma ORCRIM.

Siga para o próximo tópico, no qual falaremos sobre narcotráfico e


tráfico de drogas como sinônimos, e suas implicações legais segundo
a legislação brasileira.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
43
2.3. Narcotráfico/tráfico de drogas

O Escritório Sobre Drogas e Crimes da ONU define o tráfico de drogas


como sendo um “comércio global ilícito que envolve cultivo, fabri-
cação, distribuição e venda de substâncias que sejam proibidas por
leis de drogas” (UNODC, 2010).

Ou seja, as expressões “narcotráfico” e “tráfico de drogas” são equi-


valentes. O crime de tráfico de drogas é tipificado pela legislação
brasileira nos termos da Lei nº 11.343/2006. Confira:

Lei nº 11.343
de 23 de agosto de 2006
Art. 33.

Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,


vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer
consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou
fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena: reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500


(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem:

I. importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à


venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou
guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou
produto químico destinado à preparação de drogas;

II. semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em


desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas
que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;

III. utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a


propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou
consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

O caput do artigo 33 é aceito pelos doutrinadores como o tipo funda-


mental do tráfico de drogas. Porém, as condutas arroladas no § 1º do
art. 33 e nos artigos de 34 a 36 da mesma lei também são equiparadas
ao crime de tráfico de drogas.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
44
Pela leitura do texto legal, você pode concluir que o crime de tráfico
de drogas é tipificado no Brasil como um crime de múltiplas condutas.
Essas condutas são expressas pelos seguintes verbos:

ministrar transportar remeter


guardar importar vender
expor à venda produzir exportar
prescrever trazer consigo
ter em depósito preparar
entregar a consumo ou fornecer drogas

A lei ainda acrescenta que o crime de tráfico pode ser configurado


mesmo que as ações que o caracterizam sejam realizadas gratuita-
mente, contanto que sejam práticas “sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar” (SILVA, 2010).

Se é possível traçar seus contornos legais nos limites da lei brasileira,


a mesma coisa não se pode dizer da cadeia logística do narcotráfico.

||GEOGRAFIA DObrasil
geografia do BRASIL

As fronteiras brasileiras incluem dez nações, entre elas,


os três principais produtores de cocaína: Peru, Bolívia
e Colômbia. A cocaína produzida nesses países corresponde
a 75% da produção mundial.

VENEZUELA
COLÔMBIA GUIANA
SURINAME
GUIANA FRANCESA

EQUADOR

PERU
BRASIL

BOLÍVIA

PARAGUAI
CHILE

URUGUAI

ARGENTINA

Fonte: Adaptado de Roehrich (2014).

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
45
Sobre o caráter transnacional do tráfico de drogas e a necessidade
de cooperação internacional para seu enfrentamento, vale a pena a
leitura do trecho sobre o assunto, presente no livro “Lei de Drogas
Comentada”, de César Dario Mariano da Silva (2010). Veja:

PODCAST transcrito

A cooperação internacional segue o espírito das


Convenções das Nações Unidas e o princípio da justiça
universal, considerando ser obrigação de todos os países
participar do enfrentamento ao crime organizado, visto
como um mal universal.

A Lei de Drogas não fugiu a essa finalidade, deixando


evidente que o Brasil deve cumprir as convenções e
tratados internacionais dos quais faça parte para o
combate ao narcotráfico.

O Brasil é signatário de diversos acordos e tratados para


o combate ao narcotráfico, especialmente com países da
América Latina, podemos citar Chile, Equador, Argentina
e Cuba, entre outros. O Brasil também firmou acordos
internacionais com os Estados Unidos e com alguns países
da Europa, além de ser signatário da Convenção das
Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional,
realizada em novembro de 2000, na cidade de Nova Iorque.

Assim, cabe ao Brasil prestar auxílio às outras nações e


organismos internacionais, assim como solicitar apoio
em diversas áreas relacionadas ao combate ao tráfico de
drogas e outros delitos conexos, como o tráfico de armas,
lavagem de dinheiro e o desvio de produtos químicos para
a produção de drogas.

As áreas de inteligência, sem as quais esses delitos não


podem ser combatidos, também são alcançadas pelo
dispositivo. As informações são elementos essenciais para
o combate às organizações criminosas.

RA Você pode perceber que o narcotráfico, ou tráfico de droga, somente


se viabiliza por ações interdependentes que são puníveis pelas legis-
Enquadre no seu celular
lações internas dos países, mas que, para serem reprimidas de fato,
ou tablet o código de
REALIDADE AUMENTADA exigem respostas articuladas interna, regional e internacionalmente.
do aplicativo Zappar
para assistir ao vídeo que
apresenta o contexto do
combate ao tráfico de
drogas no Brasil.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
46
Unidade 3
ELEMENTOS HISTÓRICOS,
SOCIOECONÔMICOS E NORMATIVOS
DO CRIME ORGANIZADO E DO
NARCOTRÁFICO

Contextualizando

Nesta unidade, apresentaremos o panorama da violência no Brasil e


no mundo, e a relação entre violência e a temática das drogas.

3.1 Violência e drogas no Brasil


e no mundo

Como já citado neste curso, uma das características mais marcantes


do modus operandi das organizações criminosas ligadas ao narco-
tráfico no Brasil e no mundo é a demonstração de força por meio do
emprego de violência extrema.

No início de 2019, imagens chocaram o país durante as rebeliões ocorridas


nos presídios da região Norte. Nesses episódios, abriram-se para o mundo
as assinaturas macabras que as ORCRIM do narcotráfico conceberam
para não deixar dúvidas de quem estava no comando das rebeliões.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
47
dica de mídia

Jennifer Woodhull, do Departamento de Estudos


Religiosos da Universidade da Cidade do Cabo, apresenta
a raiz etimológica da palavra violência (título original:
“Etymological Root of the Word ‘Violence’”, disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=GfBirU1GLiw).

As origens etimológicas do termo violência sintetizam o conceito de


violência como a agressão (força) exercida contra alguém.

Por mais direto e objetivo que seja o conceito empregado por Jennifer
Woodhull, aspectos relevantes envolvendo a violência acabam não
sendo contemplados.

Quando se pensa no uso da força no contexto da violência, é razoável


imaginar situações como as mencionadas na abertura do presente
tópico. Diante de circunstâncias tão extremas quanto bárbaras, parece
ser fácil delimitar o conceito de violência. Entretanto, para o bem da
sociedade, a vida não é feita somente de extremos, pelo contrário.

O que dizer das consequências sociais, comunitárias e para a saúde


dos indivíduos mais vulneráveis que sofrem com a violência psico-
lógica, por exemplo?

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
48
O que dizer da violência que é fruto da ameaça, como é o caso de
comunidades inteiras subjugadas por meio do medo por conta das
demonstração de força dos cartéis de drogas?

Foto: © [Adragan] / Adobe Stock.

A Organização Mundial da Saúde, ao definir o termo violência, abrange


uma ampla gama de atos, como a violência interpessoal, o compor-
tamento suicida ou conflito armado. Indo mais além dos atos físicos
para incluir ameaças e intimidações. Veja:

Essa definição da OMS apresenta diferentes facetas da violência:

Esses diferentes tipos de violência possuem elementos bem presentes

A Organização Mundial da Saúde define violência como: o


uso intencional da força física ou poder, por intermédio de
ameaça ou de fato, contra o próprio indivíduo, contra outra
pessoas ou grupo ou comunidade, que resulte ou tenha
grande probabilidade de resultar em ferimento, morte, ou
dano psicológico, prejuízo ao desenvolvimento ou privação.
Além de morte e ferimentos, a definição também inclui uma
miríade de consequências menos óbvias de comportamentos
violentos, tais como prejuízo psicológico, privação e prejuízo
ao desenvolvimento que compromete o bem-estar dos
indivíduos, famílias e comunidades.
(WHO, 2002)

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
49
no quotidiano das cidades brasileiras, que, como já citado, se expan-
diram e continuam a se expandir rapidamente e de forma desordenada.

O tipo de força empregada (física ou poder).

A tangibilidade do recurso empregado (ameaça


ou poder de fato).

O sujeito que recebe a ação (o próprio indivíduo,


outro indivíduo, grupo ou comunidade).

E o tipo de resultado (ferimento,


morte, dano psicológico, prejuízo ao
desenvolvimento, ou privação).

Tudo isso é ainda mais agravado pelo advento de fenômenos como


o do crack, como bem aduzem De La Rosa, Lambert e Cooper (1990).

Ainda acerca da conexão entre tráfico de drogas ilícitas e violência, mais


uma vez convém recorrer ao posicionamento da OMS sobre o tema:

A economia do crack aumentou enormemente o número de


traficantes de drogas em várias comunidades dos centros
de cidade: a tecnologia e a disponibilidade de cocaína
coincidiram com um encolhimento das oportunidades de
trabalho decente em muitas dessas comunidades. Segundo
evidências recentes, o tráfico de crack quase invariavelmente
envolve violência; traficantes ameaçam uns aos outros e
à comunidade (Johnson et al., no prelo). Mas o papel das
quadrilhas nesta economia em expansão do crack ainda é
questionável e pouco compreendido.

(DE LA ROSA; LAMBERT; COOPER, 1990, p. 171)

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
50
Veja no próximo tópico os aspectos históricos e sociais do Brasil em
relação à criminalidade e ao fenômeno do tráfico de drogas. O que será

PODCAST transcrito

A violência e o uso de drogas ilícitas representam grandes


desafios à saúde pública. A OMS identifica fortes associações
entre ser vítima ou autor de violência e o uso de drogas
ilícitas. Além disso, os relacionamentos interpessoais,
a comunidade e o nível social foram identificados como
fatores de risco que aumentam a chance de o indivíduo
sofrer violência relacionada a drogas. Embora exista uma
clara relação entre drogas e comportamento violento, a
natureza dessa relação de causalidade é multifacetada e
poucos estudos examinaram tal relação. Essa relação existe
por várias razões, algumas diretas, como o próprio efeito
farmacológico dos medicamentos, e outras indiretas, como
a violência que ocorre para obter drogas, violência nos
mercados de drogas ilícitas e uso de drogas como resultado
de uma vida como vítima de atos violentos. Apesar de
uma série de evidências sugerir ligações entre várias
categorias de drogas e comportamento violento, existe
uma falta de ações preventivas destinadas à redução de
violência, especificamente voltada para o tema tráfico de
drogas. Embora esse seja um problema tradicionalmente
considerado exclusivo da Justiça Criminal, ele é mais
abrangente do que isso. A abordagem da saúde em face da
violência relacionada às drogas oferece uma maneira de
melhor entendimento, resposta e, finalmente, prevenção
da violência relacionada ao uso de drogas ilícitas.

que as taxas de criminalidade nos dizem?

3.2 Caracterização da
criminalidade no Brasil

É impossível dissociar a explosão da criminalidade da rápida e de-


sordenada expansão urbana e populacional experimentada pelo país.
Sachsida et al. (2010) apresentam em seu artigo algumas correlações
positivas entre desemprego, taxa de crescimento urbano e aumento
no número de crimes no Brasil. De forma semelhante, Cavalcanti e
Gonçalves (2010) encontraram correlações positivas entre o IDH e a
quantidade de homicídios na Região Metropolitana de Brasília.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
51
Veja a figura a seguir, extraída do relatório da Segurança Pública do
Projeto Brasília 2060 (IBICT, 2015).

| Crescimento populacional e adensamento demográfico


em regiões metropolitanas selecionadas

Região Metropolitana

Rio de Belo Porto AMB


São Paulo Recife
Janeiro Horizonte Alegre

População
8.139.730 6.879.183 1.619.792 1.590.798 1.755.083 637.516
(1970)

Densidade
demográfica 1.024,0 1.395,10 112,4 162,3 634,1 19,8
(1970)

População
20.820.093 12.090.607 5.156.217 4.197.557 4.046.845 3.548.426
(2010)

Densidade
demográfica 2.621,20 2.452,00 357,7 428,2 1.462,00 110,3
(2010)

Crescimento
256% 176% 318% 264% 231% 557%
(1970-2010)

Fonte: IBGE.
A imagem sintetiza bem os números da expansão populacional em
seis das mais influentes regiões metropolitanas brasileiras, com
destaque para a Área Metropolitana de Brasília (AMB).

saiba mais
Veja o documento da Linha de Base do Projeto Brasília 2060
(disponível em: http://brasilia2060.ibict.br/wp-content/
uploads/2015/12/Linha-de-Base-Seguranca2.pdf).

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
52
Confrontando-se os dados relativos a recursos públicos com as esta-
tísticas criminais, observa-se que não foram apenas as taxas popula-
cionais, sobretudo em áreas metropolitanas, que dispararam no país.

‹ Crescimento de 60% de crimes intencionais


de 1996 contra a vida.

a 2015 ‹ Aumento de 4,5% ao ano no orçamento da


Segurança Pública.

Estamos diante de uma prova que demonstra a aplicação não eficaz


dos já escassos recursos públicos. Essa situação se agrava, uma vez
que as preocupações com a violência também congestionam a pauta
do Congresso Nacional.

Foto: © [SZ Photos] / Adobe Stock.

Já conforme o Centro de Estudos e Debates Estratégicos, um órgão


da Câmara dos Deputados, entre os anos de 2004 e 2018, mais de
1.500 proposições tramitaram no Congresso Nacional sobre o tema
Segurança Pública (CEDES, 2018).

Foto: © [MoiraM] / Adobe Stock.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
53
No período foram abordados assuntos como:

‹ Sistema Único de Segurança Pública (SUSP).

‹ O limite das atribuições das instituições policiais.

‹ Alterações na política de persecução criminal.

‹ O atendimento às vítimas.

‹ Articulações de cooperação internacional contra o


crime organizado.

Sem dúvida, tais pautas são relevantes, mas terminam sobrepondo-se


a outros temas de igual ou maior significado.

É preciso destacar a significativa redução na taxa de homicídios no


país em 2019, que sofreu uma queda de 19%. Os números do Monitor
da Violência, iniciativa entre o Núcleo de Estudos da Violência da USP
e o G1, revelam que milhares de vidas foram poupadas no período.

Essa redução notável nos homicídios pode estar relacionada com


as recentes operações com precisão cirúrgica realizadas contra o
crime organizado.

Foto: © [Joa Souza] / Adobe Stock.

Dando continuidade ao assunto, veja a seguir algumas características


do Sistema de Justiça Criminal brasileiro em relação aos crimes de
tráfico de drogas.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
54
RA 3.3 Peculiaridades do Sistema de
Enquadre no seu celular Justiça Criminal brasileiro
ou tablet o código de
REALIDADE AUMENTADA
do aplicativo Zappar Seja na perspectiva da repressão, seja na perspectiva da prevenção
para assistir ao vídeo das atividades do narcotráfico e do crime organizado, é necessário
com informações sobre
o Sistema de Justiça
considerar as peculiaridades do Sistema de Justiça Criminal pátrio.
Criminal brasileiro.
No Brasil, a atuação do Tribunal do Júri se limita aos crimes dolosos
contra a vida. Outras peculiaridades no país, e ainda mais marcantes,
se comparadas ao que ocorre nas demais nações, são a estética, a
organização e a abrangência territorial das polícias. No Brasil, con-
vivem instituições policiais de estética civil e militar, à semelhança
de países como Chile e Itália; porém, diferentemente desses países,
cujas polícias, em regra, possuem competência territorial nacional,
no Brasil as instituições policiais têm responsabilidade apenas no
nível de estados e municípios.

No Brasil, somente uma dessas polícias possui o ciclo policial com-


pleto: a Polícia Federal. Ou seja, o Sistema de Segurança Pública
brasileiro é um emaranhado de instituições, às vezes de estética civil,
às vezes de estética militar, que podem ter competência territorial
em nível nacional, estadual/distrital e municipal, e que quase nunca
podem exercer o ciclo completo de polícia.

Responsabilidade Responsabilidade Responsabilidade


federal estadual estadual e municipal

Nesse sentido, em revisão narrativa da literatura da área, Mendonça


e Dantas (2016), ao compararem as polícias do Brasil e dos Estados
Unidos, assim se manifestam sobre a importância de se conhecer a
forma de organização das forças policiais:

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
55
A forma de organização das forças policiais, e por
consequência, a sua efetividade no controle do fenômeno
da criminalidade e da desordem, concomitante com a tarefa
de proteger e servir, pode ter uma relevância decisiva. Já
a importância do tema para as polícias militares, interna
corporis, deve-se ao fato que tal atributo, a condição militar,
marque a própria existência histórica de todas elas.

(MENDONÇA; DANTAS, 2016, não paginado)

Em resumo, para você entender de forma geral o funcionamento do


sistema penal brasileiro, veja a comparação do Brasil com outros países.

| Comparação entre o Sistema de Justiça brasileiro E O DOS eua

Brasil Estados Unidos

Tribunal de Júri Limita-se aos crimes Pode abranger as mais variadas


dolosos contra a vida. infrações penais.

Abrangência Instituições policiais com Instituições policiais com


territorial das responsabilidade apenas no nível federal responsabilidade apenas no nível
polícias e estadual. Apesar de contarem com um federal, estadual e municipal.
protagonismo crescente na Segurança
Pública, as Guardas Municipais não são
instituições policiais.

Ciclo completo Apenas a Polícia Federal. Toda organização policial, seja


federal, estadual ou municipal, tem
em sua estrutura dois departamentos
distintos, com suas respectivas chefias,
porém ambos estão subordinados
hierarquicamente à mesma autoridade.

Investigação Em regra, realizada apenas por polícias Todo departamento de polícia possui um
judiciárias (Polícia Civil e Polícia Federal), segmento constituído de investigadores
principalmente para instruir o inquérito incumbidos de coletar evidências de
policial. A Polícia Militar conduz materialidade e autoria dos crimes
investigações sobre crimes militares, eventualmente registrados.
porém com foco em seu público interno.

Fonte: Adaptado de Mendonça e Dantas (2016).

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
56
Os autores colocam a questão de forma bem prática ao comparar o
modelo policial brasileiro e o americano: nos EUA, todas as polícias
fazem o ciclo completo. Nesses termos, convém explicar a ideia de
ciclo completo, justamente por ser, talvez, a maior característica do
Sistema de Justiça Criminal brasileiro.

Assim, o que significa ciclo completo de polícia? Sapori responde a


essa questão da seguinte forma:

Na prática, a expressão [ciclo completo de polícia] implica


que a mesma polícia tem um segmento constituído de
investigadores incumbidos de coletar evidências de
materialidade e autoria dos crimes eventualmente registrados.
No caso da sociedade brasileira, essa investigação corresponde
à elaboração do inquérito policial. E ambos os segmentos,
geralmente, ficam lotados na mesma unidade policial.

(SAPORI, 2016, p. 51-52)

Somente a Polícia Federal possui competência legal para exercê-lo e


ainda assim dentro dos limites de suas atribuições constitucionais.
Todas as demais instituições policiais do país estão circunscritas ao
processamento de apenas uma parte do ciclo normalmente atribuído
à polícia ao redor do mundo.

NA PRÁTICA
No Brasil, em regra, uma polícia efetua a prisão do traficante,
enquanto outra garante sequência ao caso. Essa sequência
inclui a lavratura do flagrante delito e a adoção das demais
medidas de polícia judiciária, tais como a condução de
investigações adicionais. Então, o conjunto probatório segue
para o Ministério Público oferecer a denúncia para o juízo
competente que julgará o caso.

Todo esse emaranhado se complica ainda mais diante da grande di-


versidade de organizações policiais elencadas no artigo 144 da Cons-
tituição Federal. Veja:

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
57
Constituição (1988)
(Emenda Constitucional nº 104, de 2019)

Art. 144.

A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade


de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes
órgãos:

I. polícia federal;

II. polícia rodoviária federal;

III. polícia ferroviária federal;

IV. polícias civis;

V. polícias militares e corpos de bombeiros militares;

VI. polícias penais federal, estaduais e distrital.

O mesmo dispositivo constitucional ainda traz a previsão das Guardas


Municipais: no parágrafo oito, prevê que os municípios poderão
constituir Guardas Municipais destinadas à proteção de seus bens,
serviços e instalações, conforme dispuser a lei.

Apesar de não serem organizações policiais, os integrantes das


Guardas Municipais são servidores públicos investidos do poder
de polícia administrativa que, em muitos casos, são autorizados a
portar armas de fogo.

Foto: © [Vanessa Volk] / Adobe Stock.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
58
Observe como essas informações se entrelaçam na prática:

PODCAST transcrito

Se o traficante atuava em nível local ou interestadual e


foi preso por policiais rodoviários federais em uma das
rodovias do país, o flagrante delito e demais atos de polícia
judiciária devem ser levados a efeito pela Polícia Civil local.
Porém, se o traficante levava drogas para o exterior e foi
preso por policiais militares do policiamento turístico
(nível estadual) em um aeroporto, o flagrante e demais
atos de polícia judiciária devem ser levados a efeito pela
Polícia Federal. O que dizer da inserção das polícias penais e
legislativas assim hipotetizadas? Certamente a quantidade
de combinações seria da mesma grandeza dos problemas
práticos ocasionados pelo trânsito de informações, pessoas
detidas e materiais entre diferentes segmentos policiais,
com culturas, estruturas e competências legais e territoriais
completamente distintas.

O Sistema de Justiça Criminal brasileiro possui, em sua racionali-


dade e coerência lógica, elementos que estão bem sumarizados no
relatório final do Projeto Brasília 2060, elaborado pelo Instituto
Brasileiro de Ciência e Tecnologia (IBICT), veja:

Dentre as principais funções de um Estado, destaca-se o


fornecimento de segurança pública por meio de uma série de
atividades interdependentes, as quais, em conjunto, formam
o que se pode definir como Sistema de Justiça Criminal.

(IBICT, 2015)

| Composição do Sistema de Justiça Criminal

Polícias Ministério Ógãos do Sistema


Público Judiciário Penitenciário

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
59
Esse sistema começa pela criação, por parte do Estado, de leis que
orientarão o convívio social. Essa função do Estado é exercida pelo
Poder Legislativo nos âmbitos federal, estaduais e municipais, bem
como por determinados órgãos da administração pública, quando
previsto em lei.

É atribuição do Estado zelar pela ordem pública, de modo a manter


a normalidade pacífica do convívio social. Essa função estatal é
exercida primariamente pelas Polícias Militares, conforme prevê a
Constituição de 1988, art. 144.

Art. 144
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da


ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições
definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

Uma vez confirmada a quebra da ordem pública, o Estado deverá


investigar os fatos com vistas a consubstanciar a justa causa, isto
é, apresentar os indícios suficientes de autoria e a materialidade do
fato, no âmbito do inquérito policial.

O inquérito policial representa a materialização da investigação cri-


minal; é um procedimento de natureza administrativa, cuja finalidade
é reunir provas capazes de formar o juízo do representante do órgão
ministerial acerca da existência de justa causa para o início da ação penal.

Uma vez identificados indícios da autoria ou mesmo que essa seja


devidamente comprovada, cabe ao Estado, por intermédio do Mi-
nistério Público, denunciar os suspeitos (réus).

Foto: © [Freedomz] / Adobe Stock.

Por último, o Poder Judiciário deverá julgar os réus, os quais, caso


condenados, serão punidos. Dentre as penas possíveis, destacam-se
multas, serviços comunitários e as penas privativas de liberdade.

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MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
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Assim, caberá também ao Estado, via sistema prisional, internar e
recuperar os condenados cujas penas envolvem privação de liber-
dade. Em caso de absolvição, o Sistema de Justiça Criminal haverá
cumprido, antecipadamente, o seu papel, não havendo mais motivo
para o desenvolvimento de ações (IBICT, 2015).

Ou seja, do ponto de vista deontológico (do dever ser),


o Sistema de Justiça Criminal brasileiro aparentemente
apresenta coerência e racionalidade. Ao menos na lei,
realmente tem-se um sistema como nas ciências biológicas,
composto por órgãos especializados concebidos para exercer
funções específicas de forma integrada a outros órgãos.

O grande problema, portanto, é saber o quanto aquilo que está


posto na lei e nos manuais técnicos da área é capaz de suprir as
demandas da sociedade contemporânea. Isso se torna ainda mais
significativo no contexto de temas tão complexos como o narco-
tráfico e o crime organizado.

Curso FRoNt
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO
61
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