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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO

Escola de Ciências Jurídicas

Recife, 22 de fevereiro de 2022.

Do(a):
Prof. Erica Babini Lapa do Amaral Machado

Para:
Ilmo. Prof. Dr. Dario Brito Rocha Júnior
Coordenador de Pesquisa e Inovação
Coordenador do PIBIC e PIBITI
Universidade Católica de Pernambuco

Prezado Coordenador,

Encaminho a V. Sa. o Relatório Parcial de Atividades intitulado “Impactos da crise do Estado


Social e da ascensão neoliberal na sociedade pós-moderna”, em arquivo eletrônico – enviado
por e-mail, do(a) aluno(a) do Curso de Direito, André Gomes Rodrigues de Brito, referente ao
Projeto de Pesquisa Nº 469400-DIR-015-2021/1 intitulado “Sociologia da Justiça Penal e
Racionalidades Neoliberais: Metamorfoses brasileiras e Impactos nas decisões judiciais”, sob
a minha orientação.

Atenciosamente,

Prof. Dr. Erica Babini Lapa Amaral Machado / 5.794.495


Assinatura do(a) Professor(a) Orientador(a)/Matrícula
Universidade Católica de Pernambuco

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO – UNICAP
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO
COORDENAÇÃO DE PESQUISA E INOVAÇÃO

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - PIBIC


PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO - PIBITI
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PARA VOLUNTÁRIO

RELATÓRIO PARCIAL DE ATIVIDADES

Período 2021/2022

1. IDENTIFICAÇÃO
1.1 Nome Completo do Orientador(a): ERICA BABINI LAPA DO AMARAL MACHADO

1.2 Título do Projeto de Pesquisa: SOCIOLOGIA DA JUSTIÇA PENAL E RACIONALIDADES


NEOLIBERAIS: METAMORFOSES BRASILEIRAS E IMPACTOS EM DECISÕES JUDICIAIS

1.3 Área do Conhecimento do CNPq do Projeto de Pesquisa


( ) Ciências Exatas e da Terra (1.00.00.00-3)
( ) Ciências Biológicas (2.00.00.00-6)
( ) Engenharias (3.00.00.00-9)
( ) Ciências da Saúde (4.00.00.00-1)
(X) Ciências Sociais Aplicadas (6.00.00.00-7)
( ) Ciências Humanas (7.00.00.00-0)
( ) Linguística, Letras e Artes (8.00.00.00-2)

1.4 Nome do Aluno(a): ANDRÉ GOMES RODRIGUES DE BRITO

1.5 Situação do(a) Aluno(a):


BOLSISTA: ( ) PIBIC UNICAP/FASA ( ) PIBIC CNPq ( ) PIBITI CNPq
ou (X) VOLUNTÁRIO(A)
( ) ALUNO(A) NOVO(A) ou ( ) RENOVAÇÃO

1.6 Curso/Centro do Aluno(a): Direito/Escola de Ciências Jurídicas - ECJ

1.7 Título do Plano de Trabalho: IMPACTOS DA CRISE DO ESTADO SOCIAL E DA ASCENSÃO


NEOLIBERAL NA CRIMINALIDADE PÓS-MODERNA

2. ATIVIDADES REALIZADAS DE ACORDO COM O CRONOGRAMA


ATIVIDADES (*) AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL
Revisão OK OK OK OK OK OK OK X
bibliográfica
Coleta de dados no
Ministério Público
Reunião com o OK OK OK OK OK OK OK X
grupo
Cálculo da amostra
para análise de
conteúdo
Identificação de
categorias
Análise de dados OK OK OK OK OK OK OK X

Elaboração de OK X
relatório

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3. DESENVOLVIMENTO DO PLANO DE TRABALHO (redigir sob a forma de redação
científica)

3.1 INTRODUÇÃO

Pode-se dizer que o bojo das discussões político-econômicas debatidas calorosamente desde
o Iluminismo, movimento intelectual do século XVIII, diz respeito a qual seria o tamanho ideal do
Estado. Não se trata da mera extensão territorial: por tamanho, entende-se o grau de poder
interventor que os atores políticos têm sobre as instituições sociais, a economia e o mercado de
um país. Em que pesem as ideias contrárias – como o decadente positivismo jurídico e sua
indiferença política –, o Direito não é apenas produto das decisões políticas, mas é também o
norteador dessas mesmas decisões, no sentido de ser um complexo dotado não só de regras, mas
também de princípios, responsáveis por balizar o comportamento do Estado-legislador. Diante
dessa dialética de implicação entre direito e política, a criminologia hodierna (WACQUANT, As
prisões da miséria, 2001) revelou como o Estado carrega uma grande parcela de culpa pelas altas
taxas de violência e criminalidade em diversos lugares do mundo, especialmente nos Estados
Unidos da América, no Brasil e demais países da América Latina. Essa culpa decorre da queda de
políticas sociais e da crescente tendência neoliberal, que impõe políticas de austeridade – medidas
que visam combater déficits orçamentários através de cortes de gastos públicos. O Estado de
bem-estar social, derivado da doutrina keynesiana que encarrega a pessoa do Estado como a
responsável por garantir a seguridade, o bem-estar e outros direitos sociais dos seus cidadãos, é
menosprezado cada vez mais pelas forças políticas dominantes, que almejam impedir a quebra do
status quo, marcado pela alta desigualdade econômica, poucas oportunidades de mobilidade social
e paralisação das classes marginalizadas, seja nas favelas ou no penoso cárcere (BROWN, Nas
ruínas do neoliberalismo, 2019). Analisando este quadro, é nítido que a continuidade desta
situação só pode ter resultados avassaladores, pois a multidão de ociosos, oprimidos e rejeitados
pelo sistema capitalista não irão ficar à mercê do tempo e esperar a fome trazer a morte: essa
multidão reagirá da maneira como nosso instinto animal prevê, isto é, pela violência e pelos meios
rápidos, mas ilegais, de auferir riqueza.

A racionalidade neoliberal é entendida como um sistema normativo que ampliou sua


influência ao mundo inteiro, assim estendendo a lógica do capital a todas as relações sociais e a
todas as esferas da vida humana (DARDOT, LAVAL, A nova razão do mundo, 2016). Essa
racionalidade, é claro, não poderia deixar de influenciar a esfera de decisões políticas. A
democracia neoliberal deriva, segundo os autores, de um Antidemocratismo; isso porque defende
a ausência de controles sobre o direito privado. Nesse diapasão, podemos até dizer que vivemos
em uma era pós-democrática. São oligarquias burocráticas e políticas que dominam o jogo político
e essas oligarquias fazem de tudo para enfraquecer a mobilização social, mas de uma maneira
indireta. Uma vez que as pessoas estão tão presas a essa mentalidade de concorrência privada, o
espaço público-político se torna cada vez mais irrelevante aos olhos do povo. Basta observar-se os
índices de abstenção eleitoral para ser possível induzir que essa proposição é, no mínimo, pujante

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em veracidade. O coletivo e a solidariedade estão sendo destruídos por essa mentalidade de
concorrência, que, inclusive, vai fomentar movimentos neofascistas e extremistas. Essas
circunstâncias culminarão em um processo de desdemocratização, que consiste em esvaziar a
democracia de sua substância sem a extinguir formalmente.

Outra característica de extrema pertinência da neoliberalidade é que esta não se reduz à


mera vontade de expansão espontânea da esfera mercantil e de acúmulo do capital, como alguns
marxistas ainda insistem em dizer. Na verdade, a ideologia consiste também em técnicas de poder
inéditas sobre as condutas e as subjetividades, uma vez que o neoliberalismo não visa apenas
trazer um novo modelo de mercado, mas um modelo de uma nova sociedade. Seu sistema de
razão não muda apenas a tomada de decisões mercantis, mas as próprias decisões que fazemos
no dia a dia. Em suma, é importante frisar que o neoliberalismo tem como objetivo fazer do
mercado o princípio do governo dos homens, mas também como princípio do governo de si, como
concluíram Dardot e Laval em A nova razão do mundo.

Ademais, se por um lado o Estado é omisso na concretização do mínimo existencial aos seus
cidadãos, por outro é extremamente diligente em manter o estado de coisas atual. Apoiado pela
cólera popular, a máquina estatal encarcera aos montes. A punição do crime não é mera
repressão, nem mesmo prevenção: é um controle social que promove a continuidade de
abstrações (o livre-mercado e a meritocracia, por exemplo) e comportamentos culturais (o
controle privado do crime). A máquina criminal do Estado difunde a ideia de que a reabilitação não
funciona (ao estilo “nothing works”, doutrina primeiramente cunhada por Robert Martison e oposta
ao ideal de reabilitação criminal); os atores de justiça criminal, também vítimas da visão
neoliberal, adotam uma conduta gerencialista, quase empresarial, destinada a conter o máximo de
criminosos tidos como irrecuperáveis pelo maior tempo possível, gerando uma falsa e
surpreendentemente efêmera sensação de tranquilidade social (FEELEY, SIMON, The New
Penology: Notes on the Emerging Strategy of Corrections and Its Implications, 1992). Auxiliados
por técnicas atuariais, de gestão de riscos e expectativas, esses atores pautam seu trabalho em
identificar e enclausurar os irrecuperáveis: o sucesso de seu trabalho não é dado pela reinserção
do indivíduo na sociedade, mas pelos números do cárcere – se há mais presos, então o aparelho
criminal está funcionando e cumprindo sua função de incapacitação dos ociosos e dos delinquentes
cuidadosamente selecionados pelo sistema (DIETER, Política Criminal Atuarial, 2012).

Portanto, diante do quadro exposto acima, é nítido e cristalino que a necessidade por uma
pesquisa capaz de elucidar as consequências do neoliberalismo na estrutura social mundial e capaz
de apontar as possíveis vantagens de um retorno aos princípios do Estado Social é urgente. Desse
modo, não só a sociologia criminal, mas a criminologia também poderá contribuir firmemente à
consecução dos fins do Estado Democrático de Direito e do respeito à dignidade da pessoa
humana.

3.2 OBJETIVO

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3.2.1 Objetivo Geral

Esta investigação sociocriminológica tem como escopo primário desvendar as mudanças


decorrentes da crise do modelo do Estado de bem-estar social e a subsequente valorização da
neoliberalidade – neologismo empregado neste trabalho a fim de significar a racionalidade
neoliberal como conceito – na representação e no controle da criminalidade no mundo ocidental
pós-moderno, especialmente no que tange às esferas culturais e sociais da sociedade.

3.2.2 Objetivos específicos

1) Compreender o desenvolvimento da racionalidade neoliberal e seus elementos;

2) Analisar como o neoliberalismo afeta o fenômeno do crime enquanto relacionado à política,


cultura e sociabilidade;

3) Identificar elementos dessa racionalidade no âmbito do poder judiciário;

4) Entender a forma neoliberal de pensar e como essa racionalidade afeta o controle social do
crime.

3.3 MATERIAL E MÉTODOS


A pesquisa será pautada na discussão de textos e artigos científicos relacionados à passagem
do Estado de bem-estar social ao Estado neoliberal a fim de identificarmos quais foram suas
causas e razões. Em seguida, serão investigadas as consequências da nova racionalidade, de viés
neoliberal, no controle e na repressão à criminalidade contemporânea. Com o auxílio da
orientadora, será possível se aprofundar nas leituras e esclarecer questionamentos que possam vir
à tona. E, ao final da pesquisa, a produção acadêmica individual e do grupo dará origem a
trabalhos científicos que contribuirão para uma maior compreensão da sociologia do crime e da
criminologia hodiernas.
Para a consecução dos nossos objetivos, observa-se, via de regra, como segue:
a) Exame de fontes científicas, doutrinárias, sociológicas e políticas;
b) Levantamento de dados sociais relacionados às taxas de crime na sociedade pós-
moderna;
c) Elaboração de fichas de leitura;
d) Redação e discussão dos relatórios de pesquisa a fim de serem produzidos textos de
relevância acadêmica.
As decisões objeto de estudo são as proferidas no auge da pandemia de Covid-19, pautadas
na Recomendação nº 62, em 17 de março de 2020 (BRASIL, 2020), que tem o objetivo de
promover o desencarceramento, a fim de evitar mortes de pessoas privadas de liberdade e de
impedir o alastramento do vírus nos sistemas penitenciário e socioeducativo.
Será manejada a Análise de conteúdo como ferramenta metodológica, por meio do qual
realizou-se a análise dos dados da pesquisa em três etapas: 1- leituras flutuantes do corpus das
sentenças; 2- seleção das unidades de análise; 3- categorização e sub-categorização.

Com isso, pretende-se identificar a existência ou não dos dados de racionalidade neoliberal e

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como se modificação na recepção brasileira.

3.4 REFERÊNCIAS

GARLAND, David. A cultura do controle. Crime e ordem social na sociedade contemporânea. Rio
de Janeiro: Revan, 2008.
FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica. Curso no Collège de France (1978-1979). São
Paulo:
Martins Fontes, 2008.
AVELINO, Nildo. Foucault e a Racionalidade (neo)liberal. SCIELO, 2016.
GARLAND, DAVID. The Welfare State: A Very Short Introduction. OUP Oxford, 2016.
SALLA, Fernando. A contribuição de David Garland: a sociologia da punição. SCIELO, 2006.
WACQUNT, Loic. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos EUA. Rio de Janeiro:
2001
WACQUNT, Loic. As prisões da miséria. Rio de Janeiro: 1999
GARLAND, David: Castigo y Sociedad Moderna. Un estudio de Teoría Social. México y
Madrid: Siglo XXI Editores, 1999;
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. ed. 12. Petrópolis: Vozes:
2009
BAUMAN, Zygmunt. Globalização: As conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 1999.
ANDERSON, Perry. Balanço do Neoliberalismo. In: Pós-neoliberalismo: as políticas
sociais e o Estado Democrático. SADER, Emir; GENTILI, Pablo (Org.). 5. ed. São Paulo:
Editora Paz e Terra, p. 9-23, 2000.
ESPING-ANDERSEN, G. (Org.). Welfare States in Transition: national adaptations in
global economies. London: Sage, 1996.
ESPING-ANDERSEN, G. (Org.). Why we need a new welfare state. Oxford, Oxford Press,
2002.
ESPING-ANDERSEN, G. As três economias políticas do welfare state, Lua Nova.
Revista de cultura e política, n°, 24, p. 85-116, 1991.
ESPING-ANDERSEN, G. The three worlds of welfare capitalism. Cambridge: Polity
Press, 1990.
FALEIROS, Vicente. A política social no Estado capitalista. 8. Ed. São Paulo: Cortez,
2000.
4. DIFICULDADES ENCONTRADAS (Colocar aqui se houve alteração de Título, objetivo
e/ou metodologia e a justificativa da alteração)
Constatou-se um erro material no título do trabalho, antes escrito “Impactos da crise do Estado
Social e da ascenção neoliberal na criminalidade pós-moderna”. Foi preciso substituir o termo
“ascenção” por “ascensão”, que está gramaticalmente correto.

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5. EVENTOS QUE PARTICIPOU (comprovante)

6. TRABALHOS PUBLICADOS (comprovante)

Recife, 22 de fevereiro de 2022.

André Gomes Rodrigues de Brito/201913009-1


Assinatura do(a) Aluno(a)/Matrícula

Prof. Dr. Erica Babini Lapa Amaral Machado / 5.794.495


Assinatura do(a) Professor(a) Orientador(a)/Matrícula

ORIENTAÇÃO

1) Formatação: papel A-4; fonte verdana; tamanho 10; espaço entre linhas 1,5;
alinhamento justificado; margens 2,5 cm; NO MÁXIMO 10 (dez) PÁGINAS.

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