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INTRODUÇÃO ÀS PLANTAS MEDICINAIS

E FITOTERAPIA

A origem do conhecimento do homem sobre as virtudes das plantas


confunde-se com sua própria história.
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Sumário
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 3

INTRODUÇÃO ......................................................................................... 4

O USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO BRASIL E SUAS ORIGENS .. 10

A HERANÇA AFRICANA ....................................................................... 13

ORIXÁS, SAÚDE E DOENÇA ............................................................... 17

A HERANÇA INDÍGENA........................................................................ 20

OUTRAS HERANÇAS CULTURAIS ...................................................... 23

A IMPORTÂNCIA DA QUIMIOSSISTEMÁTICA .................................... 24

AS DIRETRIZES DA OMS E NORMATIZAÇÕES PARA USO E ESTUDO


NO BRASIL ...................................................................................................... 25

CUIDADOS NO USO DE PLANTAS MEDICINAIS ................................ 32

PRECAUÇÕES NO USO DOS FITOTERÁPICOS ................................ 44

AS ERVAS TÊM UM MELHOR EFEITO QUE OS MEDICAMENTOS .. 47

FITOTERAPIA ....................................................................................... 49

Etnobotânica e Etnofarmacologia .......................................................... 50

Etnobotânica .......................................................................................... 50
Etnofarmacologia ................................................................................... 52
O uso das plantas medicinais ................................................................ 53
Planta Medicinal: Aspectos Botânicos .............................................. 55
PLANTAS MEDICINAIS......................................................................... 60

Política e o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos . 84

Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos ........................ 84


Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos .................... 86
Terminologias de interesse da fitoterapia .............................................. 89
FORMA DE USO DAS PLANTAS MEDICINAIS .................................... 92

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Fitoterapia Clínica e a Prescrição de Plantas Medicinais e Fitoterápicos


....................................................................................................................... 101

Paradigmas da Fitoterapia ................................................................... 105

Modalidades de prescrição fitoterápica................................................ 106


Preparações fitoterápicas .................................................................... 108

REGULAMENTAÇÃO PARA PLANTAS MEDICINAIS E


FITOTERÁPICOS NA SAÚDE ....................................................................... 114

MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS MANIPULADOS ....................... 118

MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS INDUSTRIALIZADOS .............. 120

Prescrição de fitoterápicos................................................................... 122

Vamos utilizar o mesmo exemplo, porém com um ativo exclusivo:


................................................................................................................ 122

Veja um exemplo de formulação para perda de peso, associado a


diminuição da libido: ................................................................................ 123

Dicas sobre fitoterápicos...................................................................... 124

Prescrição de fitoterápicos e profissionais atuantes ............................ 124

Importância do farmacêutico na fitoterapia .......................................... 125

Medicamentos e produtos fitoterápicos Indicações Restrições ........... 127

Não recomendado uso contínuo por mais de seis semanas, sem


acompanhamento médico. ............................................................................. 128

Venda livre para ação expectorante, carminativo e antiespasmódico. 128

Venda livre como coadjuvante nos casos de obstipação intestinal. .... 128

REFERÊNCIAS ................................................................................... 129

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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INTRODUÇÃO
A origem do conhecimento do homem sobre as virtudes das plantas confunde-
se com sua própria história.

Certamente surgiu, à medida que tentava suprir suas necessidades básicas,


através das casualidades, tentativas e observações, conjunto de fatores que
constituem o empirismo.

O homem primitivo dependia fundamentalmente da natureza para a sua


sobrevivência e utilizou-se principalmente das plantas medicinais para curar-se.
No decorrer de sua evolução surgiram novas terapias.

Entretanto, até 1828, quando Friedrich Wohler sintetizou a ureia a partir de uma
substância inorgânica, o cianato de amônio, o homem não conhecia como
origem de matéria orgânica qualquer fonte que não fosse vegetal, animal ou
mineral. Isso significa que praticamente com exceção do século XX, toda a
história da cura encontra-se intimamente ligada às plantas medicinais e aos
recursos minerais.

Acredita-se que o registro mais antigo de todos é o Pen Ts’ao, de 2800 a.C.,
escrito pelo herborista chinês Shen Numg, que descreve o uso de centenas de
plantas medicinais na cura de várias moléstias. A eficácia das drogas de origem
vegetal é fato desde as mais remotas civilizações, na chamada “Matriz
Geográfica” da civilização ocidental: o quadrante noroeste que envolvia Europa
(Mar Mediterrâneo), África Setentrional (Vale do Rio Nilo), Ásia Ocidental
(Mesopotâmia) e as regiões entre os rios Tigre e Eufrates.

Os egípcios, sob a proteção de Imhotep, o Deus da cura, e a sapiência de seus


inúmeros sacerdotes, muitos com funções médicas definidas, tornaram-se
famosos pelos seus conhecimentos com os incensos, as resinas, as gomas e
mucilagens que faziam parte da arte da mumificação.

O egiptólogo alemão Yorg Ebers, no final do século XIX, ocasionalmente teve


acesso a um longo papiro datado de aproximadamente 1500 a.C., que após

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tradução passou para a história como “Papiro de Ebers”, um dos mais


importantes documentos da cultura médica.

O Papiro inicia com a audaciosa frase “Aqui começa o livro da produção dos
remédios para todas as partes do corpo humano ...” Dessa forma o mundo tomou
ciência de uma Farmacopeia egípcia contendo a descrição de espécies vegetais
como a Mirra, de uso adstringente e anti-inflamatório, o látex do Olíbano, para
inflamações bucais, Sândalo como antidiarreico.

A papoula, fonte do ópio, morfina, codeína e papaverina era conhecida como


sedativo, antiespasmódico, chamado de “remédio para acabar com a
choradeira”.

Muitas drogas usadas no Egito vinham de outras regiões. Naquela época, o


comércio de drogas vegetais era intenso e as cidades do Reino de Sabá, no
extremo sudoeste do deserto arábico, ganharam fama pelos seus jardins
paradisíacos onde cresciam ervas milagrosas.

Os sabeus, até 1000 a.C., promoviam caravanas frequentes ao Egito para


comercializar incensos, mirra, outros gêneros da família burseraceae e outras
espécies asiáticas através do porto de Gherrá, hoje Golfo Pérsico.

Dessa forma, novas drogas como cinamomo, pimenta da Malásia, gengibre,


romã, cálamo aromático e os aloés da ilha de Socotra (Ilha do Oceano Índico
localizada ao sul da Arábia, atualmente protetorado da República do Iêmen)
chegaram ao Egito e ao Mediterrâneo.

Outras plantas vieram da ilha grega de Creta para o Egito. Os cretenses


dominaram o mar e o comércio no Mediterrâneo até 2000 a.C., entre as espécies
citadas acima estão o açafrão, a sálvia e o arbusto de Chipre, de cujas cascas e
folhas se faziam a Henna, que tingia as unhas e os cabelos das egípcias.
Paralelamente, a exemplo do que ocorreu no Egito, os sumérios, próximo ao
terceiro milênio a.C., detinham conhecimentos que foram repassados para a
humanidade através de escrita cuneiforme, em placas de argila.

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Dessas placas, várias receitas foram traduzidas como o uso da beladona, fonte
de atropina; do cânhamo da Índia chamado Quinabu, a Cannabis sativa L.
indicada para dores em geral, bronquite e insônia.

Em uma dessas placas há a descrição da coleta do GIL, que significa prazer.

É uma referência à coleta e uso ritual da papoula, Papaver somniferum L. O


herbário assírio também dispunha de muitos fármacos tais como meimendro,
mandrágora, junco e tomilho.

A Índia, provavelmente, comercializava drogas vegetais desde 2500 a.C., seu


maior legado está citado na tradição dos sábios “Váidia”, no império do Vale do
rio Indo, a Noroeste da Índia, onde hoje é o Paquistão.

Os primeiros tratados médicos de grande importância são de aproximadamente


500 a.C., o ”Taxaraca-Samhita e Susruta-Samhita”, prováveis precursores do
sistema UNANI de medicina árabe.

Estes sistemas terapêuticos são certamente a origem inspiradora da medicina


hipocrática grega, conhecida como a mãe da medicina ocidental.

Os antigos médicos hindus, conheciam uma droga poderosa devido à forma


semilunar de seus frutos, usados contra cefaleia e angústia. Eram chamados de
“remédio para homens tristes”.

Essa droga posteriormente conquistou o mercado farmacêutico mundial nos


meados do século XX como hipotensora e calmante, a Rauwolfia serpentina L.,
fonte de reserpina. Durante as chamadas civilizações clássicas, as drogas
vegetais começam a ser registradas de forma sistemática.

Na Grécia, Pedacius Dioscórides escreveu a obra que foi posteriormente


traduzida para o Latim por humanistas do século XV, chamada De Matéria
Médica que por mais de 1500 anos, durante o período greco-romano e na Idade
Média, foi considerada a bíblia de médicos e farmacêuticos. Dioscórides
descreveu a origem, características e usos em terapêutica de mais de 500

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drogas vegetais, aproximadamente 100 drogas de origem animal e outras tantas


de origem mineral.

Acredita-se que a matéria-médica, transformada em disciplina didática, deu


origem à moderna Farmacognosia.

Após a queda do Império Romano, a Europa atravessou um longo período de


obscurantismo científico entre os séculos V e XV, a chamada Idade Média.

De forma paralela, nesse período, o mundo árabe emergiu com grande atividade
científica sendo acrescido de alguns conhecimentos de origem indiana.

Dessa forma, surge a Medicina Árabe, destacando-se o médico Avicena e as


suas famosas flores como terapêutica para os males cardíacos. Através da
península Ibérica, os conhecimentos árabes ganharam toda a Europa.

Muitas drogas, novas para a época, foram introduzidas na terapêutica europeia:


canela, limão, noz-moscada, sene, tamarindo e cânfora são algumas das mais
importantes.

As descobertas geográficas, ao final do século XV, com a abertura das rotas


marítimas para as Índias e para a América trouxeram o conhecimento de outros
vegetais como o coco, o chá preto e o café, iniciando uma nova era para o estudo
de fitofármacos.

A noção básica do entendimento de substâncias responsáveis pela atividade


farmacológica e a resposta terapêutica como potencial característico de uma
certa espécie vegetal, é creditada a Paracelso.

Este físico suíço, no início do século XVI, começou a praticar a extração de


substâncias a partir de drogas até então consideradas como indispensáveis, as
quais denominou de Quinta Essentia.

A Quinta Essência é provavelmente a primeira noção de princípio bioativo.


Entretanto, somente ao final do século XVIII tornou-se viável uma proposta

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científica sólida para o uso de fitofármacos, a partir do isolamento e estudo de


metabólitos especiais.

As primeiras substâncias químicas foram isoladas de extratos vegetais quando


os ácidos orgânicos: oxálico, málico e tartárico foram separados e identificados.
A partir daí, no início do século XIX, várias foram as substâncias bioativas
isoladas: narcotina e morfina do ópio; estricnina de Strychnus nux-vomica;
quinina de Cinchona; cafeína de Coffea.

Os primeiros heterosídeos, salicina e digitalina, ainda são desse século. Data


também do início do século XIX, um novo aspecto do estudo de plantas
medicinais, através do desenvolvimento da fisiologia e da farmacologia
experimental.

Em 1809, foram descritos os primeiros trabalhos sobre os efeitos tóxicos de


Strychnus em animais de laboratório.

Entretanto, é atribuído a Claude Bernard o mérito de estudar através de ensaios


de laboratório com animais, a atividade de plantas indicadas empiricamente para
fins medicinais e usadas na medicina popular, definindo sua forma de ação
sistêmica.

Nessas análises experimentais, começaram-se a testar substâncias bioativas,


isoladas de extratos vegetais, iniciando uma nova visão de aplicação terapêutica.
Sendo assim, pode-se sugerir que etnomedicina, farmacologia e química de
produtos naturais caminham juntas desde o início do século XIX, tendo através
do desenvolvimento científico, sofrido diferenciações e especialização a partir de
uma ciência única, a “matéria médica”.

Dessa forma, adquiriu características próprias. Hoje, na virada do século XX, os


pesquisadores de áreas afins procuram valorizar as ações multidisciplinares e
multiprofissionais como prioridade para o estudo científico na busca racional de
princípios bioativos. Muitas drogas vieram da antiguidade e através dos séculos
sobreviveram aos diferentes hábitos culturais.

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Na Grécia, em 800 a.C., o poeta Homero, na Odisseia, narra que Helena servia
a Telêmaco quando esse se sentia triste pela lembrança de Ulisses... “uma
poção de esquecimento retirada da seiva da dormideira”.

Em várias pinturas, datadas da Idade Média, existem referências à Mandrágora,


planta mágica usada como anestésico em cirurgias apesar de sua conhecida
toxidez.

Sua raiz antropomorfa e bifurcada, lembrando duas pernas, através da Teoria


das Assinaturas, contribuiu muito para a fama de planta mística e afrodisíaca.
Na comédia satírica Mandrágola, em 1515, Maquiavel ridicularizou a hipocrisia
do clero, a corrupção na Itália renascentista.

No centro da trama está a Mandrágora, erva mágica fecundante. Sheakspeare,


citou a mandrágora nas falas dos personagens Julieta e Cleópatra. Muitas são
as lendas com essa planta, sempre presente nas fórmulas dos filtros de amor,
nos unguentos das bruxas, nos rituais que proporcionariam prazer, fertilidade e
felicidade eterna. Preciosos conhecimentos perderam-se no decorrer da história
das civilizações, extintas por fenômenos naturais, migrações e, principalmente,
pela ocorrência das invasões gregas, romanas, muçulmanas e pelas
colonizações europeias, que impuseram seus costumes, alterando realidades
socioculturais e econômicas.

No Brasil, o conhecimento dos índios, dos africanos e de seus descendentes


está desaparecendo em decorrência da imposição de hábitos culturais
importados de outros países, havendo um risco iminente de se perder essa
importante memória cultural.

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O USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO BRASIL E SUAS


ORIGENS
A pesquisa etnofarmacológica, vertente relativamente nova do estudo de plantas
medicinais, vem sendo reconhecida como um dos melhores caminhos para a
descoberta de novas drogas, orientando os estudos de laboratório no
direcionamento de uma determinada ação terapêutica, reduzindo
significativamente os investimentos em tempo e dinheiro.

O vocábulo etnofarmacologia, como um termo científico, surgiu em 1967, em um


Simpósio Internacional em São Francisco nos Estados Unidos. Neste, foram
abordados os aspectos histórico, cultural, antropológico, botânico, químico e
farmacológico de drogas psicoativas.

A denominação ganhou definitivamente status de ciência a partir do surgimento


do Journal of Ethnopharmacology em 1979.

Em 1981, Bruhn e Holmstedt descreveram a etnofarmacologia como “O


conhecimento multidisciplinar de agentes biologicamente ativos,
tradicionalmente estudados ou observados pelo homem”.

Desenvolvendo esse conceito sob a ótica de seu significado cultural,


independente do pensamento cartesiano a respeito da ação de drogas, o
levantamento de dados etnofarmacológicos propõe que a atitude do pesquisador
seja ampla e receptiva, sem ideias preconcebidas sobre saúde e doença e que
a atitude em relação aos agentes farmacologicamente ativos ocorra numa
perspectiva cultural e histórica. Sendo assim, os objetos de estudo da
etnofarmacologia, são as informações coletadas dentro de uma determinada
população culturalmente definida (grupo étnico).

Em geral, além dos minerais e produtos de origem animal, os “remédios” de


origem vegetal produzidos pelo homem, não são mais consideradas plantas
medicinais in natura e sim uma certa espécie vegetal manipulada e ingerida de
maneira específica para uma determinada finalidade terapêutica.

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A partir dessa concepção, as informações etnofarmacológicas são usadas como


ponto de partida para o delineamento experimental, que objetiva o estudo da
espécie como um fármaco em potencial, ou seja, qual ação farmacológica tem o
maior potencial de revelar dados que validem a indicação popular.

Sendo assim, de acordo com a RDC n. 14, publicada em 05 de abril de


2010, da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), planta
medicinal: é “espécie vegetal, cultivada ou não, utilizada com
propósitos terapêuticos”.

Derivado vegetal: é “produto da extração de planta medicinal in natura ou da


droga vegetal podendo ocorrer na forma de extrato, tintura, alcoolatura, óleo fixo
e volátil, cera, exsudato e outros derivados”.

Matéria-prima vegetal: “compreende a planta medicinal, a droga vegetal ou o


derivado vegetal”. São considerados medicamentos fitoterápicos “os obtidos
com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais, cuja eficácia e
segurança são validadas por meio de levantamentos etnofarmacológicos, de
utilização, documentações tecnocientíficas ou evidências clínicas”.

De acordo com as definições farmacotécnicas, considera-se medicamento, todo


produto farmacêutico empregado para modificar ou explorar sistemas
fisiológicos ou estados patológicos, em benefício da pessoa a quem se
administra, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou de diagnóstico
(OMS), como, por exemplo, o uso de um analgésico com o propósito de aliviar
uma dor.

Denomina-se remédio “todos os meios físicos, químicos ou psicológicos através


dos quais se procura o restabelecimento da saúde”.

Exemplificando: o uso de arruda nas rezas e o banho de sal grosso, ambos


contra mau-olhado.

Reafirma-se a importância do entendimento dos conceitos de saúde, doença e


“remédio” da população abordada, pois tais conceitos são variáveis em cada

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cultura e, portanto, é necessário levar em consideração o contexto no qual uma


determinada planta é considerada como medicamento.

Para uma doença culturalmente definida, o remédio indicado poderá ser eficaz
apenas naquele momento cultural, ritualístico.

Porém, é pouco provável que tenha um princípio bioativo que possa ser utilizado
com aplicabilidade universal.

Somente através da descodificação por correlação entre os conceitos de nosso


sistema biomédico convencional e os conceitos da medicina tradicional, torna-
se possível propor hipóteses de trabalho experimental viáveis a fim de otimizar
a eficiência dos estudos que objetivem o desenvolvimento de novas drogas ou
preparações terapêuticas úteis.

As pesquisas etnofarmacológica e etnobotânica no Brasil são assuntos


controvertidos, considerados por alguns “um grande desafio”.

A tão cobiçada flora brasileira e sua famosa biodiversidade, constituída de um


infinito número de espécies vegetais, vem sendo progressivamente destruída,
perdendo-se também as informações sobre plantas medicinais tropicais,
conhecimentos etnomédicos tão ricos e distintos e seus diversos matizes, sendo
eles de origem africana, indígena e europeia.

No Brasil, são consideradas cinco regiões em abundância de espécies


medicinais: Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Pantanal Matogrossense,
Cerrado e Caatinga.

Algumas dessas regiões possuem plantas medicinais indicadas popularmente,


das quais ainda não foram realizados estudo químico, farmacológico ou
toxicológico.

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A HERANÇA AFRICANA
Os levantamentos etnomédicos realizados, demonstram a forte influência da
herança cultural africana na medicina popular do Brasil, principalmente no norte,
nordeste e sudeste do país.

A manutenção da herança africana em vários âmbitos socioculturais brasileiros


é, antes de tudo, uma forma de resistência de uma camada mestiça da
população.

Com a vinda dos africanos para o Brasil, após três séculos de tráfico escravo,
muitas foram as espécies vegetais trazidas, substituídas por outras de
morfologia externa semelhante, enquanto algumas foram levadas daqui para o
continente africano.

No processo histórico brasileiro, os negros realizaram um duplo trabalho;


transplantaram um sistema de classificação botânica da África e introjetaram as
plantas nativas do Brasil na sua cultura, através de seu efeito médico simbólico.

Sendo assim, ao incorporarem-se ao novo habitat e às novas condições sociais,


algumas plantas indispensáveis aos rituais de saúde foram substituídas entre as
plantas trazidas para o Brasil e que aqui mantêm seus nomes em Yorubá citam-
se: obí (Cola acuminata Schott e Endl.), da família Sterculiaceae; orobô (Garcinia
cola Heckel), família Guttiferae; fava de Aridam (Tetrapleura tetraptera Paub),
família Leguminosae; e akôkô (Newbouldia leavis Seem), família Bignoniaceae.

Após a abolição, o chamado refluxo migratório de africanos e seus descendentes


levou para a África: milho, guiné, pinhão branco, batata doce, fumo e algumas
espécies de Annona (pinha, fruta de conde, graviola).

Espécies africanas como a mamona, dendê, quiabo, inhames, tamarineiro e


jaqueira, bem adaptadas, tornaram-se espontâneas.

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Em 1942, na primeira edição de Brancos e Pretos na Bahia, Pierson já registrava


a perda do “mundo mental africano” pelos seus descendentes e a crescente
assimilação dos padrões culturais europeus.

Este registro foi facilmente justificado pela escolarização e outros meios de


difusão de cultura europeia dominante, afastando-se das crenças e práticas de
seus antepassados.

Entretanto, se os africanos e seus descendentes mestiços se “europeizaram”


através dos séculos, no Brasil, houve um reverso onde o forte amarelo do dendê
tingiu as louças portuguesas de Macau servidas nos sobrados dos senhores.

O ritmo que se ouvia nos salões foi “assenzalando-se” e recebendo novos


compassos.

Essa aculturação (bilateral) pode ser também observada na medicina tradicional


brasileira, principalmente na Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Maranhão.
Na região metropolitana do Rio de Janeiro e de Salvador, observou-se um
intenso consumo de espécies vegetais através dos terreiros de religião afro-
brasileira.

Nestes, os Babalorixás e Yalorixás (sacerdotes), portadores de conhecimento


etnomédico respeitável, prescrevem o uso das folhas, raízes, sementes e cascas
para fins medicinais, banhos, ebós e outros propósitos ritualísticos.

Essas plantas são geralmente obtidas nas barracas de mercados populares e de


vendedores ambulantes denominados “erveiros de rua”. Pode-se dizer, portanto,
que o uso popular de plantas medicinais nessas condições, constitui um
complexo sistema de saúde não oficial em que participam “erveiros”, centros
religiosos e comunidade.

Durante muitos anos, esse sistema paralelo de terapêutica foi duramente


criticado pela sociedade e até mesmo alvo de perseguição policial. Pode-se
ilustrar o fato com antigos recortes de jornais como a manchete do Diário de
Notícias de Salvador de 09 de maio de 1905: “Rapariga de família enlouquece

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com a beberagem de Jurema no Candomblé”. Informações obtidas no recôncavo


baiano afirmam que o guiné (Petiveria alliaceae, L.) da família Phytolacacceae,
tinha como sinonímia popular o nome Amansa-senhor.

Este nome, deve-se ao fato de ser preparada por escravos domésticos sob a
forma de chá e misturada às refeições dos senhores e feitores, causando
sonolência e, portanto, tornando-os mais brandos na convivência diária.

Estudos farmacológicos pré-clínicos mais recentes, confirmam a ação da


Petiveria alliaceae L. sobre o sistema nervoso central.

Atualmente, alguns pesquisadores agrupam as manifestações de cura


originadas nas crenças e costumes de origem africana como Terapêutica
Yorubá.

São considerados Yorubá aqueles cuja origem está localizada no sudoeste da


Nigéria.

No Brasil, são conhecidos como “Nagô”. Na verdade, quanto à origem, não há


uma distinção clara no referente à terapêutica.

O principal referencial é a filosofia do tratamento, sempre diretamente


relacionada com as tradições ritualísticas.

As crenças Yorubá estão associadas com as práticas de cura natural.

As questões fisiológicas raramente estão dissociadas da cura espiritual e da


concepção de vida e de morte.

As plantas estão sempre presentes através do uso das folhas, raízes, frutos e
das árvores de várias representações simbólicas, bem como outros elementos
naturais, insetos, cinzas, ossos, ovos e muitos outros objetos utilizados para a
cura e prevenção de doenças.

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Uma pessoa doente ao beber um chá de uma determinada folha, deve sorver
acreditando não somente nas propriedades medicinais químicas e/ou
farmacológicas da planta, mas também no seu poder mágico ou espiritual.

O pensamento Yorubá traz a crença no ancestral e em outros espíritos e deuses


diretamente envolvidos no processo de cura.

De acordo com a mitologia Yorubá, plantas e outros elementos terapêuticos e


alimentícios são riquezas que os deuses proporcionam ao homem.

As soluções para os problemas em geral e os diagnósticos das doenças, são


indicados principalmente pelos oráculos, como por exemplo, o jogo de Ifá ou de
búzios.

Acredita-se que consultando os jogos divinatórios obtêm-se os conselhos do


grande mestre Orunmila.

A missão de Orunmila na terra usando de sua mais alta autoridade e sapiência,


é revelar conhecimentos e conceder alguns pequenos poderes aos homens.

A medicina vegetal é vista como um dom divino. Quem segue e conhece os seus
ensinamentos poderá curar com plantas e palavras rituais os homens e mulheres
doentes que chegarem ao seu caminho.

De acordo com a lenda, Ossanyin e Orunmila eram filhos dos mesmos pais.
Entretanto, uma guerra os separou e foram criados sem se conhecerem. Muitos
anos depois, Ossanyin foi enviado para abrir as matas e arar a terra para o
homem aprender a cultivar.

Ele não pôde recusar essa missão porque nesse tempo era o único homem que
poderia ter a capacidade de identificar a existência e a importância das plantas
medicinais e outras ervas encantadas indicadas por Orunmila.

Sendo assim, enquanto Ossanyin se especializou em plantas, Orunmila, através


do jogo de Ifá, indicava os diagnósticos e a origem dos sintomas. Orunmila e

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Ossanyin, segundo as tradições, foram os primeiros a conhecerem e curarem as


pessoas com plantas medicinais nas terras Yorubá.

Acredita-se que seus seguidores divulgaram as maravilhas das ervas e dos


tratamentos medicinais tradicionais pelo mundo afora, de geração em geração.

Pode-se definir a medicina de origem Yorubá como uma síntese de todos os


conhecimentos, explicáveis ou não, à luz da medicina ocidental hipocrática
(convencional), usados em diagnóstico, prevenção e eliminação de distúrbios
físicos, mentais ou sociais repassados às gerações verbalmente ou de qualquer
outra forma.

Através dessa definição teórica, pode-se avaliar porque os defumadores, as


“Limpezas”, “Ebós de Saúde” e “Sacudimentos”, os banhos de ervas, de “Abô”,
de mar e de cachoeira, as preces, os cânticos e danças são consideradas, em
conjunto, ações terapêuticas.

Essas, são consideradas no mesmo nível de importância dos medicamentos de


origem vegetal de ação sistêmica pelo doente afligido por males físicos mentais
ou espirituais. Todas essas ações são consideradas “remédios” objetivando a
cura.

Alguns estudiosos do assunto sugerem um sistema classificatório de sintomas e


doenças baseado em relações simbólicas entre o corpo, os Orixás, seus
arquétipos e suas histórias (Itans).

ORIXÁS, SAÚDE E DOENÇA


Os diagnósticos na maioria das vezes, como citados anteriormente, resultam da
consulta aos oráculos (jogos divinatórios) que determinam os sintomas,
identificam os males e orientam os procedimentos de cura.

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Podem-se observar duas grandes categorias de doenças: os distúrbios que se


apresentam sob forma de desordem física, que podem ocorrer ou não no iniciado
e que são relacionados com a atuação das divindades principais do indivíduo.

A segunda categoria compreende as doenças endêmicas em geral como varíola,


gripe, resultante da ação genérica do orixá Obaluaê e Omolú, considerados
como “os senhores da vida e da morte”, sincretizados por São Lázaro e São
Roque, chamados “médicos dos pobres”.

Alguns observadores ressaltam que, em se tratando de iniciados, a


sintomatologia pode exprimir a “marca” ou sinal de sua divindade principal ou de
um Orixá que faça parte de seu ”carrego de santo”. Sendo assim, as doenças de
pele (varíola, catapora, rubéola, sarampo e outras como coqueluche, caxumba
e tuberculose) são de responsabilidade de Obaluaê e Omolú.

O vitiligo, porém, é atribuído a Oxumarê, assim como a erisipela a Nanã, o que


pode talvez ser explicado pelos laços de parentesco mítico entre essas três
divindades (Nanã, a mãe de Obaluaê e Oxumarê).

As doenças venéreas femininas, a falta ou excesso de “regras menstruais”,


abortos, infertilidade e os demais distúrbios incluídos na categoria de “doenças
de senhoras” ou “doenças da barriga”, constituem apelos ou “marcas” de Iemanjá
e Oxum, ligadas ao elemento água, à feminilidade e à maternidade. Observa-se
que em quase todas as oferendas para Oxum colocam-se ovos, símbolos da
fertilidade.

A esse Orixá, cabe também o restabelecimento das “doenças de crianças”. A


impotência e a fertilidade masculinas aparecem ligadas a Xangô e a Exu,
divindades viris do elemento fogo, sendo geralmente indicadas “garrafadas”
cujos componentes em geral são plantas com características afrodisíacas e
estimulantes.

Os distúrbios respiratórios e os problemas de visão são atribuídos às divindades


femininas Iansã e Oxum. Sugere-se que tal relação tenha origem no fato de

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Oxum ser considerada a padroeira da adivinhação, dos “jogos de búzios”, sendo


seus iniciados vistos como os melhores adivinhos ou “olhadores”).

Já Iansã, ligada ao elemento ar, por ser a “dona dos ventos”, do movimento, da
força controle dos elementos, imprime sua marca em seus “filhos”
transgressores, sobretudo através de afecções do sistema respiratório tais como
asma, falta de ar, enfisemas e outros males.

Os distúrbios emocionais, “as doenças da cabeça” e manifestações de loucura,


aparecem associados especialmente a Oxóssi (elemento terra), considerado o
“dono de todas as cabeças” nos Candomblés “Ketu”, podendo também ser
atribuídos a Ossanyim, “o dono das folhas” e mais raramente a Iansã, a quem
também é associada a ninfomania.

Os males do fígado e vesícula, as úlceras estomacais e as enxaquecas são


vistos também como sinais de Oxóssi, algumas vezes percebidas como “marcas
de seu filho Logunedé”.

A magreza constitui uma das características arquetípicas desses Orixás, sendo


o emagrecimento a eles atribuídos. Já a obesidade apresenta-se relacionada
tanto às iabás Iemanjá e Oxum, como ao orixá masculino Xangô, todos
associados em suas respectivas histórias, ao acúmulo de riqueza material e à
gulodice.

Os ferimentos e danos produzidos por instrumentos cortantes ou desastres


automobilísticos são associados a Ogum (elemento terra), patrono do ferro e do
progresso tecnológico. As queimaduras, no entanto, são de responsabilidade de
Xangô e Exu, divindades do elemento fogo.

As doenças do sistema circulatório e cardiovasculares estão relacionadas aos


Orixás primordiais da criação: Oxalá, Nanã e Iemanjá.

A esses deuses estão ainda associadas as inchações, reumatismos e artroses.


Os distúrbios e dores renais, assim como o reumatismo, são vistos como “males

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de velhos”, sendo atribuídos a Oxalá e Nanã, percebendo-se aí uma relação com


a senilidade desses Orixás.

Doenças recentemente reconhecidas são também classificadas, a AIDS por


exemplo é considerada um flagelo característico do Orixá Ossanyim,
provavelmente devido à relação desse Deus com a cura de enfermidades
graves, mesmo as mais mórbidas. Para complementar o entendimento dos
procedimentos da chamada Terapêutica Yorubá é preciso entender sem ideia
preconcebida os conceitos de doença, saúde e remédio; a importância dos
arquétipos relacionados aos deuses do panteão africano para o sistema
classificatório de sintomas e doenças; as práticas de saúde (remédios, rituais de
limpeza e purificação) e seus respectivos simbolismos.

É importante afirmar que o paciente, nessas ações de saúde, é visto como


indivíduo, agente de sua própria cura, com identidade própria, figura ímpar de
uma história de vida emocional, social e ancestral.

Deve-se considerar que os serviços institucionais de saúde, em geral, para uma


faixa ampla da população urbana, é o último elo de uma cadeia em busca do
restabelecimento da saúde.

As práticas terapêuticas de origem afro-brasileira são opções amplamente


utilizadas e divulgadas por veículos de comunicação de massa como programas
de rádio, revistas populares, panfletos distribuídos em vias públicas e outros. Na
verdade, é uma questão de saúde individual e coletiva para a qual deve-se estar
atento.

A HERANÇA INDÍGENA
Embora nos últimos anos tenham sido realizadas inúmeras pesquisas com
plantas úteis, biologicamente ativas, desde 1979, os pesquisadores Gottlieb e

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Mors alertam para a crescente necessidade de agir com presteza pois os


avanços da sociedade moderna e o consequente desflorestamento, destruíram
o habitat de muitas espécies vegetais.

A primeira descrição metódica das plantas utilizadas com fins medicinais pela
população indígena no Brasil é atribuída a William Pies, médico da expedição
dirigida por Maurício de Nassau ao nordeste do Brasil durante a ocupação
holandesa (1630-1654).

Na época, foram descritas a ipecacuanha, o jaborandi e o tabaco. Alguns anos


mais tarde, a missão científica trazida ao Brasil pela princesa Leopoldina seria
de grande importância científica para o país.

Durante essa missão, o botânico Karl Friedrich Phillip Von Martius, documentou
em detalhes a flora brasileira.

Em 1847, a convite de Von Martius, chegou ao Brasil o farmacêutico Theodor


Peckholt, que acredita-se ter analisado mais de 6000 plantas, tendo publicado
os resultados do seu trabalho em mais de 150 artigos científicos.

Atribui-se a Peckholt o primeiro isolamento e descrição de uma substância


química bioativa, a agoniadina, extraída das cascas de agoniada. Uma outra
importante aquisição para a terapêutica, obtida a partir das pesquisas
etnofarmacológicas com grupos indígenas, foram os curares.

Os curares são os famosos venenos para flechas, usadas pelos índios da


América do Sul. Apesar de serem inócuos por via oral, uma só gota injetada na
corrente sanguínea paralisa a vítima sem matá-la.

Os curares naturais podem ser divididos em duas classes: os curares de tubo,


conservados em canos de bambu e os curares de cabaça, guardados em
cabaças ou vasilhames de barro.

São encontrados em diferentes zonas geográficas, com origem botânica,


composição química e empregos diferentes.

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Os curares e seus derivados naturais e sintéticos ainda hoje são usados como
anestésicos locais ou relaxantes musculares pré-anestésicos.

Durante muitos anos a atenção dos pesquisadores em etnofarmacologia esteve


voltada para a Amazônia, em busca de produtos psicoativos de origem vegetal.
Nessa busca, tornaram-se conhecidas várias drogas utilizadas pelos indígenas,
principalmente nos momentos ritualísticos.

Entre as mais estudadas por grupos de psicofarmacologia experimental no


Brasil, estão: Maquira scherophylla C. C. Berg. (família Moraceae) conhecida
como “rapé dos índios”. Da família Myristicaceae, várias espécies de Virola,
algumas utilizadas na preparação de um potente rapé alucinógeno que é
utilizado em cerimônia anual pelos índios Waika na região do rio Totobí, em
Roraima. Justicia pectoralis Jacq (Acanthaceae), é mais um dos constituintes
desse rapé, conhecida no Nordeste do Brasil como chambá, encontra-se em
várias receitas de xaropes com atividade broncodilatadora.

Uma poção indígena conhecida como Yopo, de uso distribuído por várias tribos
da América do Sul e entre essas os nativos da Amazônia brasileira, é preparada
a partir da Piptadenia peregrina L., da família Leguminosae, cuja química
estudada acusa a presença de bufotenina e outras triptaminas de reconhecida
atividade psicoativa. Além dessas, vale citar a Banisteriopsis caapi Spr., família
Malpighiaceae e Psychotria viridis R. et P., da família Rubiaceae, ambas
utilizadas na beberagem do Santo Daime, de reconhecida ação narcótica.

Os constituintes principais dessa preparação são os alcaloides b-carbolínicos,


harmina, harmalina e tetraidrohaluruina e outros princípios tóxicos bem
conhecidos, como a triptamina. Recentemente, os costumes de algumas tribos
indígenas como Pataxós, Kaiapós, Tiriyos e Tenharins, foram estudados por
pesquisadores em etnofarmacologia.

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Os resultados revelam ampla experiência em plantas medicinais. O contato com


o homem branco resultou num processo de aculturação crescente das tribos
indígenas.

Apesar da implantação de postos médicos instalados nestas reservas, instituindo


a medicina convencional, ainda é possível resgatar, em algumas tribos, uma
ampla experiência com plantas medicinais. Entre essas, estão presentes na
terapêutica nacional a Caapeba (Piper umbellatum), o Abajerú (Chrisobalanus
sp.), o Urucum (Bixa orellana), o Guaraná (Paulinia cupana.), de uso
internacional como complemento alimentar, energético; a Copaíba (Copaifera
officinalis) e a Andiroba (Carapa guyanensis), dessas duas últimas, são
extraídos óleos de reconhecida atividade nas afecções de pele. Além dessas,
destaca-se a Marapuama (Acanthis virilis), que adquiriu interesse internacional
pela propagada atividade afrodisíaca.

OUTRAS HERANÇAS CULTURAIS


Outras heranças culturais em medicina popular, tais como, as de origem oriental
e europeia, são mais acentuadas, no Sul e Sudeste do Brasil, fato explicável pela
forte presença de imigrantes dessas origens em tais regiões.

Algumas plantas europeias adaptaram-se e difundiram-se na medicina e


culinária regionais. Por exemplo, a erva-cidreira (Melissa officinallis), a erva-doce
(Foeniculum vulgare), o manjericão (Ocimum sp.), o alecrim (Rosmarinus
officinalis), o anis-verde (Pimpinella anisum) e o louro (Laurus nobilis). Vale
lembrar que no Nordeste do Brasil, denomina-se erva-cidreira algumas espécies
de Lippia sp. Família Verbenaceae.

O mesmo tem ocorrido com espécies de origem asiática como o gengibre


(Zingiber officinallis), a raiz forte (Wassabia japonica), a canela (Cinnamomum

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zeylanicum) e o popular cravinho da índia (Eugenia caryophyllata). Uma outra


vertente de introdução de drogas vegetais nos hábitos terapêuticos brasileiros
foi aquela oriunda de pesquisa e experiências bem-sucedidas em outros países.
Essas, com plantas de fitoquímica estudada e efeitos farmacológicos
reconhecidos. Com o crescimento da credibilidade da fitoterapia e do mercado
farmacêutico neste setor, no final dos anos 1990, foi popularizado o uso de
espécies como o Ginco (Ginkgo biloba), o Hipérico (Hypericum perforatum), a
Equinácea (Echinacea purpurea) e a Kava-Kava (Piper methysticum).

A IMPORTÂNCIA DA QUIMIOSSISTEMÁTICA
Embora a triagem etnomédica seja considerada de grande importância para a
descodificação científica, ou seja, possa orientar seletivamente os testes
farmacológicos pré-clínicos e a busca racional de princípios ativos, Gottlieb
(1982), um dos pioneiros nas proposições de teorias quimiossistemáticas,
propôs que a evolução micromolecular, a sistemática e a ecologia, fossem os
caminhos racionais, com base científica para a descoberta de novas substâncias
naturais úteis.

Suas afirmativas estão baseadas nas seguintes razões: “Na América do Sul, a
possibilidade de se obterem novas informações nas populações indígenas sobre
plantas úteis para fins medicinais é muito remota e a aculturação de povos
primitivos tem sido muito rápida.

Apesar de todos os conhecimentos adquiridos com fascinantes aspectos


históricos, as populações indígenas forneceram muito pouco, numa pequena
proporção em relação ao grande número de espécies úteis.

O número de plantas contendo substâncias com potencial atividade biológica,


terapêutica e propriedades farmacológicas não estudadas é enorme.” Fica clara
a necessidade urgente de novas possibilidades para respaldar a pesquisa de

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princípios biologicamente ativos na base do conhecimento quimiossistemático.


Faz-se necessário esclarecer as relações entre ciência e empirismo, conhecer
as fronteiras entre os conhecimentos acadêmico e o popular etnomédico.

Com esse propósito, é de fundamental importância a análise das pesquisas de


plantas medicinais nos seus diversos aspectos: químico, farmacológico, botânico
e socioantropológico.

AS DIRETRIZES DA OMS E NORMATIZAÇÕES PARA USO E


ESTUDO NO BRASIL
A orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é fazer a conexão entre
a medicina tradicional empírica e a medicina científica.

Assegurar que os medicamentos à base de plantas não sejam refutados por puro
pré-conceito, mas também que não sejam aceitos como verdade absoluta e sem
questionamentos. Recomenda-se uma atitude racional crítica.

A tendência nas últimas décadas é adotar o estudo científico das plantas já


conhecidas pelas sociedades primitivas.

Dessa forma, o estudo acadêmico da chamada medicina popular vem


desmistificando a questão do uso de plantas medicinais, retomando o inventário
de recursos terapêuticos naturais entre os quais as plantas curativas ocupam
lugar de destaque.

A terapêutica moderna emprega grande número de substâncias que embora


sejam obtidas na sua maioria por intermédio de síntese, muitas foram
originalmente isoladas de espécies vegetais.

O estudo científico de plantas medicinais constitui um dos programas prioritários


da OMS, desde seu programa Saúde para Todos no Ano 2000.

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Segundo estimativa da OMS, 80% da população mundial usa


principalmente plantas medicinais tradicionais (populares) para suprir
suas necessidades de assistência médica primária (OMS, 1978).

Nos países desenvolvidos, as drogas de origem vegetal também desempenham


importante papel. Nos Estados Unidos, por exemplo, 25 % de todas as receitas
médicas prescritas entre 1959 e 1980 continham extratos vegetais ou princípios
ativos obtidos de plantas superiores (Divisão Angiospermae).

O Brasil possui competência em todas as áreas da ciência relacionadas com o


estudo de plantas medicinais.

As bases legais para a regulamentação da fitoterapia têm sido objeto de diversas


resoluções e portarias.

A Resolução n. 30.43, de 1987, da World Health Assembly (WHA) recomenda,


com insistência aos países em desenvolvimento, a usarem os seus sistemas
tradicionais de medicina.

Já a Resolução n. 3133, de 1978, da instituição acima referida, faz um apelo


para a abordagem ampla do tema plantas medicinais.

No Brasil, a Portaria n. 212, de 1989, do Ministério da Saúde, no item 2.4.2 define


o estudo das plantas como uma prioridade da investigação em saúde.

A Resolução CIPLAN Plantas_medicinais_miolo.indd 57 1/3/2011 16:37:57 58 n.


08/88, normatiza a implantação da Fitoterapia nos serviços de Saúde nas
Unidades Federais bem como a disciplina Fitoterapia nos currículos de cursos
da área de saúde.

A Portaria n. 212, de 2 de setembro de 1991, já referida, define como áreas


prioritárias em plantas medicinais:

a) Estudos de identificação, avaliação e controle de preparações fitoterápicas


oficiais e de uso popular generalizado.

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b) Estudos botânicos, farmacotécnicos e químicos de preparação fitoterápica,


com vistas a definições de métodos de preparo, doseamento de princípios ativos
e controle da qualidade.

c) Desenvolvimento de ensaios farmacotécnicos para avaliação das


propriedades terapêuticas das preparações farmacêuticas de uso popular
obtidas de plantas medicinais.

d) Esquadrinhamento farmacológico e fitoquímico de espécies selecionadas da


flora brasileira e outros produtos.

O projeto CEME, surgido em 1982, propunha-se a estudar farmacologicamente


as plantas indicadas para fins medicinais no Brasil.

Foi iniciado com 21 espécies, que foram selecionadas a partir das indicações
populares, da ampla distribuição geográfica e da importância social de ação
terapêutica indicada.

A divulgação dos resultados obtidos desses estudos foi precária, embora os


comitês tivessem recomendado a devolução dos conhecimentos à população.
Havia, na época, a proposta de inclusão das espécies medicinais estudadas na
Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), o que não ocorreu.

O país demorou a adotar política para os medicamentos fitoterápicos e plantas


in natura, bem como uma legislação específica para o comércio e registro de
drogas vegetais e fitoterápicos.

Nos últimos anos vários marcos regulatórios têm apoiado e fomentado o uso
seguro e racional de plantas medicinais e fitoterápicos: a Política Nacional de
Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), o Decreto n. 5.813, de 22 de junho
de 2006, o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, a Portaria
Interministerial n. 2.960, de 09 de dezembro de 2008, a Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, e o Decreto n. 971,
de 03 de maio de 2006.

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Em 2008 a ANVISA publicou a Resolução que aborda orientações para o registro


simplificado de Drogas Vegetais, a Instrução Normativa IN-05, com 36 plantas
consideradas terapêuticas para uso humano. Ainda em 2008 tivemos a
publicação da RDC para Boas Práticas de Manipulação, que em seu anexo VI,
tem as Boas Práticas para Manipulação de Fitoterápicos.

Em 2010 a ANVISA, lançou as Resoluções RDC 10 de 10 de março de 2010


sobre as drogas vegetais, com alegação de uso e restrições e a RDC 14 de 05
abril de 2010 com as normas para registro de fitoterápicos.

A quinta edição da Farmacopeia Brasileira, foi publicada no Diário Oficial da


União em 24 de novembro de 2010 com o Controle de Qualidade para 54 drogas
vegetais. Outro grande avanço foi a elaboração do Formulário Terapêutico
Nacional Fitoterápico colocado para consulta pública pela CP 73, em julho de
2010, com as formulações padronizadas.

O Ministério da Saúde publicou a Relação Nacional de Plantas de Interesse ao


SUS (RENISUS), em 2009, com 71 espécies vegetais que apresentam estudos
na literatura especializada. Foram oficializadas também as Farmácias Vivas,
pelo Decreto n. 5.813 de 22 de junho de 2010, com normas para o cultivo e as
oficinas farmacêuticas.

Muitos desses marcos legais contemplam diretrizes que destacam a importância


da valorização do conhecimento tradicional e o respeito às práticas culturais de
cura e manutenção da saúde.

No estado da Bahia, como parte da Política de Medicamentos, estamos iniciando


a implantação da Fitoterapia no SUS pelo FITOBAHIA da Secretaria Estadual de
Saúde com consultoria do Farmácia da Terra UFBA.

Apesar de todas essas normatizações, a realidade atual é caótica, pode-se


encontrar com facilidade em farmácias, supermercados, lojas de produtos
naturais, barracas de mercados populares, erveiros de rua e outros locais

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inusitados, todos os tipos de itens vegetais sem qualquer padronização legal ou


científica.

O mercado de produtos naturais está em franca expansão no Brasil e no exterior.

As farmácias e lojinhas que vendem produtos naturais, exibem propagandas


caras e bem elaboradas de “panaceias milagrosas”, que não atendem às
especificações legais.

As Resoluções RDC 14 de 05/04/2010 e RDC, 10 de 10/03/2010, ANVISA,


embora venham preencher uma lacuna nos critérios científicos de controle de
qualidade, eficácia e toxidez das drogas vegetais, trazem no seu bojo a grande
dificuldade de serem executados em tempo viável todos os procedimentos
técnicos exigidos.

Durante muitos anos, várias pesquisas foram realizadas nas áreas de química,
farmacologia, botânica e toxicologia de plantas usadas para fins medicinais no
Brasil. Entretanto, essas informações encontram-se dispersas em periódicos,
revistas científicas e anais de simpósios.

Alguns autores têm abordado a questão das plantas medicinais sob os aspectos
político, filosófico e metodológico.

Acredita-se que a pesquisa em plantas medicinais tem recebido cada vez ais
suporte financeiro dos governos, de acordo com as diretrizes da OMS. Uma das
principais razões, certamente, é o fato das pesquisas até então financiadas,
apresentaram poucos resultados práticos, isto é, não chegaram a novas drogas,
não foram desenvolvidos novos medicamentos.

Uma nova droga vegetal até transformar-se em medicamento demora de 5 a 10


anos e custa muitos milhões de dólares. Seguindo as diretrizes da OMS para a
metodologia do estudo de plantas medicinais, os pontos essenciais são: pureza
e identificação botânica da espécie vegetal; provas de sua eficácia e segurança;
identificação de seus princípios ativos, análise e padronização das partes da
planta considerando os fatores contaminantes que devem ser evitados durante

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o período de estabilização, secagem e armazenamento. A RDC n.14/2010 da


ANVISA, segue orientações técnico-científicas para garantir a eficácia e a
reprodutibilidade da atividade de um fitoterápico.

Esta, objetiva estabelecer a padronização de estudos sob os aspectos


antropológico, botânico, químico e farmacológico pré-clínico e clínico.

A pesquisa etnofarmacológica, reconhecida como um dos caminhos para a


descoberta de novas drogas, precisa ser considerada nos seus diversos
aspectos, como citado anteriormente.

É necessário levar em consideração as características inerentes aos grupos


étnicos pesquisados, bem como seus conceitos de doenças e remédios, além
da observação de formas farmacêuticas indicadas, principalmente as misturas
em preparações como xaropes, garrafadas e chás.

Dependendo dos interesses dos pesquisadores, os testes de laboratório são


direcionados para a pesquisa de substâncias isoladas e purificadas; para a
avaliação farmacológica dos extratos e suas frações; para testes pré-clínicos e
clínicos nas preparações galênicas manipuladas a partir de tinturas e para os
testes farmacológicos com os chamados remédios de folha, os chás e outros
remédios caseiros de amplo uso popular.

Para a pesquisa de princípios bioativos foram usados durante muitas décadas a


escolha das plantas medicinais ao acaso como também através de métodos de
laboratório seguindo abordagem fitoquímica e fitoquímica tradicional, ambos
proporcionando resultados demorados.

Algumas tentativas foram complementadas com ensaios farmacológicos. Uma


outra opção para critério de escolha das espécies é o método
quimiossistemático, em que as espécies vegetais são selecionadas de acordo
com as categorias químicas das substâncias no taxon.

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Dessa forma, utilizando alguns princípios de evolução micromolecular, torna-se


possível propor os perfis químicos das famílias botânicas, proporcionando ao
pesquisador uma seleção racional na busca de princípios bioativos.

Sendo assim, acredita-se que a união da etnofarmacologia e da


quimiotaxonomia deva ser considerada como uma nova visão para a busca
racional de novos fármacos.

Uma ciência em complementação à outra, como práticas propedêuticas levarão


num futuro próximo à agilização do processo de conhecimento e uso terapêutico-
científico de drogas de origem vegetal.

Segundo Lorenzi e Matos (2008), o emprego correto de plantas para


fins terapêuticos pela população em geral requer o uso de plantas
medicinais selecionadas por sua eficácia e segurança terapêuticas
com base na tradição popular ou cientificamente validadas como
medicinais. Por este motivo, o principal cuidado para o uso adequado
das plantas medicinais é sua identificação correta, já que o uso
inapropriado dessas plantas destaca-se como um problema para a
fitoterapia.

Esta ocorrência torna-se comum principalmente porque existem espécies de


plantas diferentes com morfologia semelhante, ou seja, formato muito parecido,
como por exemplo a espinheira-santa (Maytenus ilicifolia) que pode ser
confundida com a falsa-espinheira-santa (Sorocea bonplandii) ou com outras
plantas por causa das margens das folhas, com espinhos.

No entanto, não necessariamente terá o mesmo efeito medicinal por causa de


sua similaridade, pelo contrário, poderá até mesmo ser tóxica.

Existem também plantas de espécies diferentes e de mesmo nome popular,


como por exemplo as plantas conhecidas como boldo: Peumus boldus (boldo do
Chile), Plectranthus barbatus (falso boldo, boldo brasileiro) e Vernonia
condensata (boldo goiano, boldo chinês, boldo baiano).

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Em geral atuam no aparelho digestivo, mas sua indicação e dosagem


apresentam orientações diferentes. Há ainda plantas de famílias diferentes que
possuem ação terapêutica semelhante.

Temos três plantas popularmente conhecidas como “cidreiras”, pois apresentam


aroma semelhante, composição similar e, consequentemente, ação terapêutica
similar, como sedativo leve.

Porém, são três espécies diferentes, citadas nesta cartilha: Cymbopogon


citratus, Lippia alba e Melissa officinalis, as quais apresentam outras indicações
além da ação sedativa.

Espécies diferentes do mesmo gênero também podem gerar confusão por serem
muito parecidas, como por exemplo, o capim-limão (Cymbopogon citratus) e a
citronela (Cymbopogon winterianus), que possuem usos completamente
diferentes. Deve-se atentar para a forma da planta e o aroma específico.

A citronela tem aroma que lembra eucalipto, é utilizada como repelente e não
deve ser tomada por via oral.

CUIDADOS NO USO DE PLANTAS MEDICINAIS


Portanto, ressaltamos a importância da identificação correta das espécies das
plantas utilizadas na fitoterapia e da utilização adequada conforme as
recomendações, a fim de garantir a segurança e a eficácia das plantas
medicinais.

Fique atento:

▪ “Se não fizer bem, mal não faz.”

– Não é bem assim. As plantas medicinais podem apresentar algumas vezes


efeitos indesejados, se não forem utilizadas da forma e na quantidade orientada.

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3

▪ Os chás devem ser feitos e consumidos no mesmo dia. Não devem ser
guardados de um dia para o outro.

▪ Não substituir medicamentos prescritos por plantas medicinais ou fitoterápicos


sem recomendação médica.

▪ Nunca utilize misturas de plantas sem orientação de um profissional de saúde


que tenha conhecimento de plantas medicinais.

▪ Em caso de piora de sintomas ou efeitos colaterais, procure pelo serviço de


saúde mais próximo.

▪ Não utilize plantas cultivadas em locais inadequados, como próximo a fossas,


depósitos de lixo ou regadas com água poluída.

▪ Nunca utilize plantas mofadas.

▪ Colher as plantas com o tempo seco e de preferência na parte da manhã.

▪ As plantas devem ser limpas, livres de insetos e secas à sombra e em local


ventilado.

▪ Na secagem, evite misturar plantas diferentes.

▪ Depois de secar as plantas, armazenar em frasco de vidro limpo ou saco


plástico bem fechado, identificando com o nome da planta e a data da colheita.

O cultivo de plantas medicinais em pequenas áreas pode ser feito em canteiros


ou em recipientes como vasos, garrafas PET, caixotes, entre outros.

Devemos, primeiramente, conhecer um pouco de cada planta medicinal


selecionada para o cultivo:

▪ Sua identificação botânica.

▪ Seu tipo de crescimento ou porte: erva, arbusto, trepadeira, árvore etc.

▪ Sua necessidade de luz: pleno sol, meia sombra ou sombra.

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3
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▪ Sua necessidade de água: regas abundantes, regas moderadas, regas


frequentes ou pouca água.

Só depois de conseguir estas informações, pode-se escolher o tipo e o tamanho


do recipiente (quanto maior o porte da planta, maior o recipiente), o local
adequado de incidência solar e o modo e a frequência das regas, o que vai
depender da época do ano, da textura do solo e das necessidades de cada tipo
de planta.

Depois, devemos preparar o solo para receber as sementes ou as mudas, que


devem ser sadias e de boa procedência.

▪ Para cultivo direto no solo: fazer canteiros com cerca de 30 cm de altura para
proporcionar drenagem, e utilizar cerca de 3 a 5 kg/m2 de húmus ou composto
orgânico para adubar e proporcionar boa textura ao solo.

▪ Para cultivo em recipientes: utilizar uma mistura de terra, composto


orgânico/húmus ou torta de mamona nas seguintes proporções:

Terra: Húmus = 1 : 1 ou Terra: Torta de mamona = 3 : 1 ou Terra: Areia : Húmus


= 1 : 1 : 1, quando a terra for muito argilosa.

Ao montar os vasos, colocar no fundo pedriscos, cacos ou argila expandida para


drenar o excesso de água.

Após colocar a mistura de terra, fazer a semeadura.

Esta deve ser realizada na profundidade adequada: quanto menor a semente,


mais superficial é a semeadura.

No caso de mudas, retirar do recipiente e colocá-las em buracos na terra,


apertando levemente com as mãos ao seu redor.

As mudas podem ser adquiridas no mercado ou produzidas em recipientes como


copinhos ou sacos plásticos, em local sombreado (viveiro) por meio de

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3
5

sementes, estacas de galhos ou a partir de outras estruturas propagativas, como


os rizomas e os rebentos, dependendo de cada planta.

Para completar, regar bem sem encharcar e cobrir o solo do canteiro ou do vaso
com capim seco, casca de arroz ou outra cobertura, evitando erosão e respingos
de terra nas plantas quando forem regadas.

Adubar com composto orgânico ou torta de mamona a cada 2-3 meses para o
bom desenvolvimento das plantas.

É importante evitar o contato de animais domésticos em sua Farmácia Viva. Na


colheita, usar sempre instrumentos limpos e afiados, na época certa e do modo
adequado. Seguem tabelas com recomendações para as plantas medicinais
desta cartilha.

O cultivo de plantas medicinais em pequenas áreas pode ser feito em canteiros


ou em recipientes como vasos, garrafas PET, caixotes, entre outros. Devemos,
primeiramente, conhecer um pouco de cada planta medicinal selecionada para
o cultivo:

▪ Sua identificação botânica.

▪ Seu tipo de crescimento ou porte: erva, arbusto, trepadeira, árvore etc.

▪ Sua necessidade de luz: pleno sol, meia sombra ou sombra.

▪ Sua necessidade de água: regas abundantes, regas moderadas, regas


frequentes ou pouca água.

Só depois de conseguir estas informações, pode-se escolher o tipo e o tamanho


do recipiente (quanto maior o porte da planta, maior o recipiente), o local
adequado de incidência solar e o modo e a frequência das regas, o que vai
depender da época do ano, da textura do solo e das necessidades de cada tipo
de planta.

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Depois, devemos preparar o solo para receber as sementes ou as mudas, que


devem ser sadias e de boa procedência.

▪ Para cultivo direto no solo: fazer canteiros com cerca de 30 cm de altura para
proporcionar drenagem, e utilizar cerca de 3 a 5 kg/m2 de húmus ou composto
orgânico para adubar e proporcionar boa textura ao solo.

▪ Para cultivo em recipientes: utilizar uma mistura de terra, composto


orgânico/húmus ou torta de mamona nas seguintes proporções:

Terra: Húmus = 1 : 1 ou Terra: Torta de mamona = 3 : 1 ou Terra: Areia : Húmus


= 1 : 1 : 1, quando a terra for muito argilosa.

Ao montar os vasos, colocar no fundo pedriscos, cacos ou argila expandida para


drenar o excesso de água. Após colocar a mistura de terra, fazer a semeadura.
Esta deve ser realizada na profundidade adequada: quanto menor a semente,
mais superficial é a semeadura.

No caso de mudas, retirar do recipiente e colocá-las em buracos na terra,


apertando levemente com as mãos ao seu redor.

As mudas podem ser adquiridas no mercado ou produzidas em recipientes como


copinhos ou sacos plásticos, em local sombreado (viveiro) por meio de
sementes, estacas de galhos ou a partir de outras estruturas propagativas, como
os rizomas e os rebentos, dependendo de cada planta.

Para completar, regar bem sem encharcar e cobrir o solo do canteiro ou do vaso
com capim seco, casca de arroz ou outra cobertura, evitando erosão e respingos
de terra nas plantas quando forem regadas.

Adubar com composto orgânico ou torta de mamona a cada 2-3 meses para o
bom desenvolvimento das plantas.

É importante evitar o contato de animais domésticos em sua Farmácia Viva. Na


colheita, usar sempre instrumentos limpos e afiados, na época certa e do modo

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adequado. Seguem tabelas com recomendações para as plantas medicinais


desta cartilha.

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1

O uso de remédios à base de ervas remonta às tribos primitivas em que as


mulheres se encarregavam de extrair das plantas os princípios ativos para utilizá-
los na cura das doenças.

À medida que os povos dessa época se tornaram mais habilitadas em suprir as


suas necessidades de sobrevivência, estabeleceram-se papéis sociais
específicos para os membros da comunidade em que viviam.

O primeiro desses papéis foi o de curandeiro. Esse personagem desenvolveu


um repertório de substancias secretas que guardava com zelo, transmitindo-o,
seletivamente, a iniciados bem preparados.

Os primeiros registros fitoterápicos datam do período 2838- 2698 a.C. quando o


imperador chinês Shen Nung catalogou 365 ervas medicinais e venenos que
eram usados sob inspiração taoísta de Pan Ku, considerado deus da criação.
Esse primeiro herbário dependia da ordenação de dois pólos opostos: yang - luz,
céu, calor, esquerdo; e o yin - trevas, terra, frio, direito.

Por volta de 1500 a C. a base da medicina hindu já estava revelada em dois


textos sagrados: Veda (Aprendizado) e Ayurveda (Aprendizado de Longa Vida).

No século XIX o empirismo da alquimia foi suplantado pela química experimental


que permitiu a síntese laboratorial de novas substâncias orgânicas. Esse fato foi
um dos fatores determinantes da revolução industrial e tecnológica que
desencadeou a produção acelerada de novos medicamentos e à medida que
derivados mais puros e concentrados de plantas se tornaram disponíveis os
médicos priorizaram as drogas sintéticas e passaram a desconsiderar o papel
importante da fitoterapia.

O advento da medicina científica contribuiu para o aumento da sobrevida


humana. E, no cotidiano das práticas de saúde, a aplicação de princípios
científicos desencadeou a descoberta de terapêuticas que melhoraram a
qualidade de vida das pessoas.

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2

Esse avanço da ciência fez com que o paradigma cartesiano passasse a ser
adotado para explicar o processo saúde-doença.

Contudo, desde o século XX, esse paradigma vem cedendo espaço ao


paradigma holístico graças às teorias de Einstein. Para esse cientista a matéria
é uma manifestação de energia.

Os seres humanos são formados de matéria e os seus vários sistemas


energéticos interagem entre si e com o meio, formando um todo que deve
sempre estar harmonizado. O todo só estará harmônico se o complexo mente-
corpo-meio ambiente estiver em equilíbrio.

A fitoterapia permite que o ser humano se reconecte com o ambiente, acessando


o poder da natureza, para ajudar o organismo a normalizar funções fisiológicas
prejudicadas restaurar a imunidade enfraquecida, promover a desintoxicação e
o rejuvenescimento.

Médicos e pacientes nem sempre conseguem literatura adequada para avaliar


devidamente as vantagens e os riscos desta prática terapêutica, sobretudo
quando seu maior emprego é estimulado por práticas médicas não
convencionais, como Medicina chinesa, Medicina holística, terapêutica médica
indiana, macrobiótica, entre outras.

As pessoas costumam utilizar os produtos do reino vegetal, seja como


complemento alimentar, suplementos energéticos ou vitamínicos, baseando-se
nas informações da mídia.

Em se tratando do processo saúde-doença, a fitoterapia é amplamente utilizada


pela população campesina, mas nos meios industrializados quem a utiliza
costuma fazê-lo de forma velada para não se expor às atitudes críticas dado que
esse tipo de medicina submete-se ao controle da medicina oficial.

Estudos sobre a medicina popular vêm merecendo atenção cada vez maior
devido ao contingente de informações e esclarecimentos que vem sendo
oferecido à Ciência.

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3

Esse fenômeno tem propiciado o uso de chás, decoctos, tisanas e tinturas


fazendo com que, na maioria dos países ocidentais, os medicamentos de origem
vegetal sejam retomados de maneira sistemática e crescente na profilaxia e
tratamento das doenças, ao lado da terapêutica convencional.

Percebe-se, na atualidade, o interesse governamental e profissional em associar


o avanço tecnológico ao conhecimento popular e ao desenvolvimento
sustentável visando a uma política de assistência em saúde eficaz, abrangente,
humanizada e independente da tecnologia farmacêutica.

Nesse sentido, o Estado brasileiro instituiu a Portaria nº22/1967 da Agência


Nacional de Vigilância Sanitária e a Resolução-RDC nº17/2000 que classifica os
fitoterápicos como medicamentos.

Paralelo ao interesse governamental em debater a comercialização dos


fitoterápicos, a adesão da população a esses produtos incrementou a sua
comercialização de modo que o Estado precisou regulamentar esse mercado
editando a Resolução RDC nº 17/00, que estabelece os parâmetros de qualidade
para o registro desses produtos junto ao Ministério da Saúde.

Ao tomar por base que o uso de fitoterápicos é uma prática utilizada por alguns
profissionais da saúde. Que esses profissionais, também associam o uso dos
alopáticos com o de fitoterápicos.

E que a população utiliza-se dos fitoterápicos respaldando-se na tradição


cultural, pergunta-se: existe a possibilidade de os fitoterápicos interagirem com
os medicamentos alopáticos modificando ou anulando a ação terapêutica de um
ou de ambos?

Os herbolários tradicionais ensinam, corretamente, aos usuários, como


armazenar e utilizar as plantas medicinais?

Eles mencionam, corretamente, as indicações e contraindicações das plantas?

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4

Considere-se, ainda, que os profissionais de Enfermagem atuam nos programas


de saúde onde exercitam a Consulta de Enfermagem, momento em que podem
orientar os usuários interessados em utilizar a medicina natural.

Como esse conhecimento costuma ser obtido, com maior frequência, pela
tradição oral, a sua indicação profissional precisa estar respaldada em bases
científicas.

PRECAUÇÕES NO USO DOS FITOTERÁPICOS


As comunidades nordestinas usam, comumente, o termo resguardo para advertir
as puérperas acerca de repouso absoluto durante 15 dias, não lavar a cabeça,
não comer alimentos quentes ou frios, não fazer esforços físicos (abster-se de
carne suína, peixes e ovos, frutas ácidas repolho, couve-flor, abóbora e
mandioca.

Mas, o resguardo também se aplica a determinados cuidados na convalescença


de uma doença ou de um procedimento cirúrgico. Interrogou-se os herbolários
acerca da indicação, ou não, de resguardo para os clientes em uso de ervas
medicinais.

Detectou-se 57,13% dos herbolários recomendam resguardo; e 42,87% não o


recomendam, pois acreditam que as plantas medicinais não fazem

Plantas medicinais indicadas pelos herbolários para tratamento das doenças e


sua utilização, segundo a literatura consultada não fazem mal algum a saúde
das pessoas. Perguntou-se aos herbolários se havia plantas medicinais capazes
de intoxicar o doente.

Dentre os entrevistados, 50% reafirmou a inocuidade dos fitoterápicos, e 50%


afirmaram haver várias plantas que são tóxicas.

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Em estudos anteriores foi observado que fitoterápicos colhidos de regiões


diferentes, apresentam variabilidade do efeito terapêutico da mesma planta
devido à variedade química dos solos que a composição dos princípios ativos
das plantas é variável em decorrência das diferentes condições de cultivo,
colheita, secagem, armazenamento e preparo dos fitoterápicos.

Em muitos casos as pessoas subestimam as propriedades medicinais das


plantas e fazem uso delas de forma aleatória.

Entretanto, cada vegetal, em sua essência, pode ser alimento, veneno ou


medicamento.

A distinção entre as substâncias alimentícias, tóxicas e medicamentosas se faz


apenas com relação à dose, a via de administração e a finalidade com que são
empregadas.

Um fitoterápico é, frequentemente, composto por mais de uma espécie química.


Quando padronizado como “medicamento fitoterápico” deveria estar submetido
às mesmas exigências de identificação, pureza, teor e aos demais estudos
farmacopéicos que os medicamentos industrializados obtidos por síntese ou
processos biotecnológicos, além de testes clínicos e pré-clínicos, antes de sua
comercialização.

No entanto, nem sempre essas exigências são observadas. Nesta situação é


difícil estimar exatamente quais princípios ativos estarão presentes e em que
concentração.

Há uma tendência a generalização do uso de plantas medicinais por se entender


que tudo que é natural não é tóxico nem faz mal à saúde.

Este conceito é errôneo, porque existe uma imensa variedade de plantas


medicinais que, dentre outras propriedades prejudiciais ao organismo humano,
são providas de grande teor de toxicidade pela presença de constituintes
farmacologicamente ativos, por conseguinte muito tóxicos.

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6

Alguns autores desaconselham o uso de plantas medicinais ou de partes destas,


concomitantes com o uso de medicações alopáticas.

Por se constituírem produtos xenobióticos, os fitoterápicos empregados no


período pré-operatório podem afetar o ato anestésico ao interagir com os
agentes anestésicos, tanto na fase farmacocinética, como na farmacodinâmica.

Em um relato de pesquisa detectou-se que o ginko biloba, alho em comprimido,


ginseng e gengibre alteram a coagulação sanguínea. Para os autores, em caso
de cirurgia, é preciso investigar previamente o uso dessas drogas e, se
afirmativo, suspender até o 10º dia de pré-operatório, com o objetivo de reduzir
as eventuais complicações hemorrágicas no pré e pós-operatórias, prevenindo
possíveis implicações médicas e legais.

Em outro relato, o boldo é citado como um poderoso analgésico capaz de


mascarar sintomas de uma enfermidade grave.

Não se pode descartar a possibilidade de efeitos colaterais dos fitoterápicos


quando se associam duzentas ou trezentas substâncias ao princípio ativo
desejado. Também porque a identificação taxonômica das plantas utilizadas
pode ser duvidosa, ou porque a dosagem é de difícil controle.

A União Europeia tem incentivado estudos para a determinação dos efeitos


tóxicos e adversos que os fitoterápicos possam ter.

Porém, as informações toxicológicas que chegam aos países Ocidentais são


muitas vezes reduzidas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem promovido reuniões internacionais


no intuito de criar melhores condições de qualidade, eficácia e segurança dos
produtos fitoterápicos; havendo a pretensão de otimizar o seu uso nos países
em desenvolvimento.

Deste modo, a OMS tem se empenhado em elaborar diretivas convincentes a


fim de dar maior garantia aos consumidores de produtos fitoterápicos. Por sua

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vez, o Ministério da Saúde (MS) tem encorajado o desenvolvimento de estudos


com plantas tradicionais, com a esperança de obter os possíveis benefícios que
as pesquisas sobre este assunto podem trazer. E objetiva evitar efeitos
irracionais ou prejuízos que esse tipo de medicina pode ocasionar.

Em relação ao aconselhamento dos clientes a usarem as ervas e a consultarem


um médico, obteve-se que 35.7% dos herbolários praticam essa orientação.

E 74,3% afirmam não haver tal necessidade, pois, “... Os médicos é quem manda
que as pessoas procurem os raizeiros para comprarem as ervas para o
tratamento” (Júlio). “As ervas são produtos naturais e não fazem mal para
ninguém” (Pedro). “As pessoas que compram as ervas sabem que os resultados
são bons” (Cícera). “... As pessoas preferem se tratar com ervas porque sabem
que as ervas curam” (Ana). “...

AS ERVAS TÊM UM MELHOR EFEITO QUE OS


MEDICAMENTOS
A convicção dos herbolários em indicarem o uso de plantas medicinais não pode
descartar a preocupação com possíveis efeitos indesejados desencadeados
pelos fitoterápicos, quando do uso inadequado em dosagens ou mesmo o uso
da planta errada para determinado tratamento.

Nem a possibilidade da automedicação e subnotificado ao clínico. Diferentes


interações têm sido descritas entre fitoterápicos e fármacos quimicamente
definidos e, algumas associadas à modulação da atividade enzimática no sítio
de atuação.

Os critérios de comercialização dos fitoterápicos pelos herbolários identificou-se


que 78,56% dos herbolários não utilizam quaisquer critérios para a
comercialização dos fitoterápicos, vendendo-os para qualquer pessoa e
receitando para idosos, adultos e crianças.

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E que 21,47% afirmaram vender as ervas para alguém da família do doente, a


quem orientam sobre como utilizá-las. O uso de qualquer terapêutica em idosos
e criança requer maiores cuidados, pois os idosos estão em processo de
degeneração orgânica, o que de certa forma dificulta o curso dos princípios
ativos das ervas ou medicamentos alopáticos no organismo e as crianças
menores de um ano de idade possuem órgãos que não alcançaram a total
maturidade, como é o caso do fígado e dos rins.

Estes órgãos são vitais e de fundamental importância para a manutenção do


metabolismo, sendo responsáveis por desempenharem várias funções, dentre
elas a de metabolização e eliminação de substâncias. Devido a essas
particularidades das crianças e dos idosos, faz-se necessário o entendimento,
por parte do herbolário, sobre o tipo de erva a ser receitada, como utilizá-la e
sobre a dosagem correta.

Existe, pois, a necessidade de segurança, tanto por parte de quem vende, como
por parte de quem compra e utiliza o fitoterápico. Implicações do uso de
fitoterápicos para a enfermagem O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN),
atento à utilização de ervas medicinais na cultura popular e reconhecendo que
os enfermeiros precisam esclarecer e educar a clientela para o uso correto da
fitoterapia, emitiu o Parecer Informativo 004/95, em que reconhece o caráter
holístico da formação do Enfermeiro e os aspectos ético-legais da utilização das
práticas alternativas no cuidado ao cliente.

Em seguida, essa entidade editou a Resolução 197/97, estabelecendo as


Terapias Alternativas como especialidade do profissional de Enfermagem. Para
atuar como terapeuta alternativo o enfermeiro precisa concluir, com aprovação,
um curso de especialização nessa modalidade de tratamento.

A medicina natural vem, de longa data, inspirando os profissionais de


enfermagem.

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Antes mesmo do COFEn editar a Resolução 197/ 97 que criou a Especialização


em Terapias Alternativas, 47 enfermeiros brasileiros já atuavam utilizando as
Terapias Alternativas no tratamento de seus pacientes.

FITOTERAPIA
A fitoterapia ou terapia pelas plantas é uma das mais antigas práticas
terapêuticas da humanidade. Ela remonta há cerca de 8.500 a.C. e apresenta
origens tanto no conhecimento popular (etnobotânica) como na experiência
científica (etnofarmacologia).

As plantas contêm princípios ativos capazes de curar diversas doenças e foi a


partir do reconhecimento destas propriedades terapêuticas que se deu o
surgimento da medicina alopática moderna.

Figura 1 – Ilustração de Manual árabe de fitoterapia, cerca de 1334 a.C.

O termo Fitoterapia deriva do grego therapeia, tratamento, e phyton, vegetal, e


diz respeito ao estudo das plantas medicinais e suas aplicações na cura das
doenças.

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Ela surgiu independentemente na maioria dos povos. Na China, por exemplo,


surgiu por volta de 3000 a.C., quando o imperador Cho-Chin-Kei descreveu as
propriedades do Ginseng e da Cânfora (Ufjf, 2010).

Por definição, Fitoterapia é a terapêutica caracterizada pelo uso de plantas


medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de
substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal, conforme Portaria nº
971 (03/05/2006).

Já fitoterápico é produto obtido de matéria-prima ativa vegetal, exceto


substâncias isoladas, com finalidade profilática, curativa ou paliativa, incluindo
medicamento fitoterápico e produto tradicional fitoterápico, podendo ser simples,
quando o ativo é proveniente de uma única espécie vegetal medicinal, ou
composto, quando o ativo é proveniente de mais de uma espécie vegetal,
conforme RDC nº 26 (13/05/2014). Neste contexto, a fitoterapia é considerada
alopatia.

Etnobotânica e Etnofarmacologia
Nada mais relacional do que começarmos os estudos acerca da fitoterapia
entendendo a etnobotânica e etnofarmacologia, uma vez que nosso objetivo é o
uso das plantas medicinais como prática de saúde integrativa.

Planta medicinal é uma espécie vegetal que, administrada ao ser humano, por
qualquer via, exerce ação farmacológica (SILVA et al., 2009).

Etnobotânica
Etnobotânica é o estudo das plantas de uma região e seus usos práticos através
do conhecimento tradicional de uma cultura local e as pessoas, ou seja, ela
estuda as relações entre povos e plantas, considerando o seu manejo,
percepção e classificação deste recurso vegetal para as diferentes sociedades.

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Figura 2 - Etnobotânica

O profissional que atua nesta área tem entre outras missões, documentar os
costumes locais envolvendo os usos práticos da flora local para muitos aspectos
da vida, de uso das plantas como remédios, alimentos ou para a manufatura de
roupas.

A Etnobotânica engloba as contribuições da botânica e da etnologia,


evidenciando as interações entre as sociedades humanas e plantas como
sistemas dinâmicos. Estuda as aplicações e dos usos tradicionais dos vegetais
pelo homem.

A Etnobotânica é ciência multidisciplinar que envolve botânicos, antropólogos,


farmacólogos, médicos e outros profissionais e também interdisciplinar, sendo
capaz de proporcionar explicações sobre a interação de comunidades humanas
com o mundo vegetal, em suas dimensões antropológica, ecológica e botânica.

O termo etnobotânica foi utilizado pela primeira vez em 1895, especificamente o


botânico taxonomista John W. Harshberger, da Pennsylvania University, para
designar o uso das plantas por povos nativos. O âmbito do estudo etnobotânico
tem se ampliado atualmente, a fim de englobar as relações entre plantas e a
cultura humana.

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Estudos etnobotânicos de registro de plantas, seus usos e formas terapêuticas


(plantas medicinais) por grupos humanos têm oferecido a base para diversos
estudos básicos e aplicados, especialmente no campo da fitoquímica e
farmacologia, inclusive como ferramenta para o descobrimento de novas drogas
(LEITÃO, 2002).

Dentro da etnobotânica, a exploração científica interdisciplinar dos agentes


biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelas
sociedades, utilizando plantas como remédio é definido por etnofarmacologia.

Etnofarmacologia

A Etnofarmacologia é uma divisão da Etnobiologia, uma disciplina devotada ao


estudo do complexo conjunto de relações de plantas e animais com sociedades
humanas, presentes ou passadas (ELISABETSKY, 2003).

Figura 3 – Etnofarmacologia

A etnofarmacologia pode ser definida como a exploração científica


interdisciplinar de agentes biologicamente ativos (encontrados em partes ou

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produtos de vegetais, animais, fungos, minerais com fins medicinais e tóxicos)


tradicionalmente empregados ou observados pelo homem.

A etnofarmacologia na América Latina foi iniciada no século 16 pelos


missionários, que estavam interessados no uso de plantas
etnofarmacologicamente ativas, como os jesuítas (CUNNINGHAM; MENEZES,
2011). É uma prática generalizada, reforçada por diferentes culturas e
decorrente das colonizações europeia e africana, somadas às práticas indígenas
(OLIVEIRA et al., 2011).

A grande contribuição da etnofarmacologia com as outras ciências é justamente


resgatar as medicinas e medicamentos das diferentes culturas indo até elas,
pesquisando-as, estudando-as. Para isso a etnofarmacologia se vale da
antropologia cultural (mais especificamente da etnografia), da botânica, da
zoologia (GOMES, 2017).

Os botânicos coletam e identificam a planta utilizada em certa comunidade e, em


laboratório, farmacologistas pesquisam a substância responsável pelo benefício
no tratamento de doenças. Essa substância da planta é o que chamamos de
“princípio ativo”. Antes de chegar à prateleira da farmácia, a planta passa por
vários testes que visam determinar seu efeito nos diferentes tecidos e órgãos do
corpo. Dessa forma, o conhecimento das comunidades contribui para os estudos
científicos e vice-versa. Essa ação conjunta pode ser um valioso caminho de
identificação das plantas úteis à produção de medicamentos.

O uso das plantas medicinais

Desde tempos imemoriais o homem busca na natureza recursos que melhorem


sua condição de vida, sendo as plantas sua principal fonte de alimento, abrigo,
armas, utensílios domésticos e remédios. No decorrer de todas as épocas e em
todas as culturas o homem aprendeu a tirar proveito dos recursos naturais como

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forma de tratamento e cura de doenças. Os conhecimentos adquiridos ao longo


do tempo sobre o uso das plantas medicinais podem ter sido repassados
oralmente ao longo das gerações (DI STASI, 1996; BRASIL, 2006; LORENZI
MATOS, 2008).

Figura 4 – Usos diversos das plantas medicinais

Embora a medicina moderna esteja bem desenvolvida em grande parte do


mundo, a OMS reconhece que atualmente, grande parte da população dos
países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como o Brasil, depende da
medicina tradicional como um dos poucos recursos terapêuticos para tratar suas
doenças mais frequentes, tendo em vista que 80% desta população utilizam
práticas tradicionais nos seus cuidados básicos de saúde e 85% destes utilizam
plantas medicinais ou preparações destas (BRASIL, 2006).

No Brasil, o uso de plantas medicinais e seus derivados é uma prática comum


resultante da forte influência cultural das populações nos seus cuidados com a
saúde, seja pelo conhecimento tradicional na medicina tradicional indígena,

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cabocla, quilombola, da cultura europeia trazida pelos colonizadores, entre


outros povos e comunidades tradicionais (POSEY, 1992; PRANCE, 1998;
LORENZI; MATOS, 2008), ou também seja pelo uso na fitoterapia popular ou
nos sistemas públicos de saúde, como prática complementar de cunho científico,
orientada pelos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS)
(BRASIL, 2006, LORENZI; MATOS, 2008).

A prática do uso de plantas medicinais tem sido incentivada recentemente tanto


pela OMS, quanto por profissionais que atuam na rede básica de saúde dos
países em desenvolvimento como o Brasil. Diante disso, a OMS e o MS criaram
uma gama de resoluções com objetivo de valorar a medicina tradicional para a
ampliação dos serviços de saúde regionais e locais (BRASIL, 2006).

Planta Medicinal: Aspectos Botânicos

Segundo a RDC 10 a definição de planta medicinal é: “espécie vegetal,


cultivada ou não, utilizada com propósitos terapêuticos”.

As plantas medicinais são importantes fontes de substâncias chamadas


xenobióticas que visam uma melhoria das condições de saúde do indivíduo que
busca tratamento. Estas substâncias tanto trazem benefícios como podem trazer
algum desconforto, toxicidade ou interação com outros medicamentos. Uma
grande variedade de plantas medicinais é utilizada pelos povos tradicionais em
todo o mundo. Parte destas possui estudos científicos, inclusive as que são
objeto deste trabalho. Calcula-se que existam cerca de 500 mil espécies de
plantas em todo o mundo, cerca de 30% deste total com potencial terapêutico.

A diversidade de espécies e famílias botânicas é um fator complicador na correta


identificação das plantas medicinais. Devido ao regionalismo, uma mesma
espécie pode apresentar uma variedade de nomes populares, por exemplo, a
erva medicinal que no Norte/Nordeste é chamada de chá-de pedestre, no
Sul/Sudeste é conhecida como erva-cidreira-de-rama. Também pode ocorrer

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que um mesmo nome popular indique plantas medicinais diferentes em regiões


distintas, como no caso da Lippia Alba Planta medicinal:

Aspectos botânicos espinheira-santa, nome popular que normalmente se refere


ao gênero Maytenus (ou a), em algumas regiões são confundidas com outras
espécies e famílias como a da família das leguminosas, devido à semelhança
morfológica de suas folhas.

Estas características populares e regionais levam o terapeuta e o assistente a


um viés que compromete a perfeita identificação da espécie vegetal.

A tradição popular permitia além da identificação correta da planta conhecer seus


efeitos medicinais e tóxicos o que garantia o uso seguro daquela espécie. Porém
a mobilidade das populações permitiu modificações em indicações e até mesmo
ampliação do conhecimento sobre algumas espécies, no decorrer das últimas
décadas, isto devido ao aumento do contato de populações tradicionais com as
demais.

Entretanto, o conhecimento específico, e prático foi diminuído. As alterações dos


usos atuais em relação aos originais, principalmente a sua ampliação, podem
ser creditadas à influência de pessoas que atualmente difundem o uso de plantas
medicinais, e não têm formação calcada na tradicionalidade (VENDRUSCOLO,
2005).

Atualmente devemos dar preferência à nomenclatura científica ao se tratar de


plantas medicinais.

A nomenclatura botânica é constituída de dois nomes latinizados, o primeiro se


refere ao gênero e o segundo à espécie. Além disto, é importante conhecer o
conceito de família botânica, onde se agrupa os gêneros e espécies mais
aparentados entre si.

As famílias botânicas são categorias de plantas, classificadas de acordo com


uma origem filogenética comum, e onde observa características marcantes e
distintas de outras famílias. Recebem o nome do gênero mais representativo

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acrescido da terminação “aceae”. É comum o uso da forma extraoficial no


português da terminação “áceas” para denominar uma família, apesar de que
devemos evitá-lo. Utilizando estes três níveis de nomenclatura, família, gênero
e espécie, ficará mais fácil buscar informações nos meios oficiais e de pesquisa.
Plantas são usinas químicas capazes de produzir uma infinidade de substâncias
para a sua defesa e proteção.

Estas substâncias são denominadas metabólitos secundários e não estão


diretamente relacionados aos mecanismos vegetativos da planta, como
crescimento e nutrição. Podem ter origem em diversos mecanismos vegetais, e
atuar como hormônios vegetais, substâncias antioxidantes e mesmo ligadas à
defesa contra fungos, bactérias e vírus. Estes mesmos agressores atacam
animais e plantas podendo ser utilizados como auxiliares no combate de agentes
infecciosos. Outras vezes substâncias vegetais podem atuar em mecanismos
tão complexos como as contrações cardíacas e musculares. Em outras auxiliam
as defesas orgânicas, como no caso de alguns glicosídeos. Moléculas vegetais
que atuam em tecido animal são importantes e devem ser pesquisadas com
atenção.

A sazonalidade é um importante fator que deve ser observado para a obtenção


de drogas vegetais, uma mesma planta poderá ter diferentes níveis e
concentrações de seus metabólitos secundários durante as estações do ano.

A idade e os diferentes órgãos da planta também são importantes na


quantificação e na proporção destes metabólitos em sua constituição. Tecidos
vegetais mais novos geralmente são maiores produtores de princípios ativos,
devido à sua alta taxa metabólica (GOBBO-NETO e LOPES, 2007).

Os Flavonoides são os principais grupos de substâncias Guaçatonga: Casearia


sylvestris. Planta utilizada pelos indígenas, que a ela atribuíram propriedades
medicinais cicatrizantes.

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Erva-de-lagarto: O lagarto só briga com uma cobra se estiver por perto uma
árvore de guaçatonga (folclore indígena), produzidas pelos vegetais e com
importante atuação na cicatrização de feridas.

Flavonoides

Os flavonoides representam um dos principais grupos de substâncias com


atividades farmacológicas em plantas, e estão presente em relativa abundância
em seus metabólitos secundários.

No caso específico de cicatrização de feridas e úlceras, são utilizados para


elevar a eficácia na reparação tecidual. Agem nos processos de cicatrização
como antioxidantes e exercendo função antimicrobiana, anti-inflamatória e
moduladora do sistema imunológico. São os grupos fenólicos mais importantes
e diversificados dentre os produtos de origem natural, sendo amplamente
distribuídos no reino vegetal.

No vegetal estas substâncias atuam: contra raios ultravioletas; proteção contra


fungos, vírus e insetos; atração para polinizadores; antioxidantes; controle de
hormônios vegetais. Outras funções importantes antitumoral, anti-inflamatória,
antiviral, antimicrobiana e antioxidante.

Os flavonoides encontrados em folhas podem ser diferentes dos encontrados


nos caules, raízes, ramos, flores ou frutos.

Os mesmos compostos podem ser encontrados em diferentes concentrações


são: Os Flavonoides são os principais grupos de substâncias produzidas pelos
vegetais e com importante atuação na cicatrização de feridas, dependendo do
órgão vegetal em que se encontra.

Os principais grupos de flavonoides são os antocianos, as chalconas, as


auronas, os di-hidroflavonóides, os isoflavonoides, entre outros.

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Óleos Essenciais

Os óleos essenciais são uma mistura complexa de álcoois, hidrocarbonetos e


aromáticos. Podem ser definidos como os produtos obtidos de partes de plantas
através de destilação por arraste de vapor d'água, bem como produtos obtidos
por expressão dos pericarpos de frutos cítricos (SIMÕES e SPTZER, 2004). São
conhecidos desde a antiguidade por possuírem atividades biológicas, devido
suas propriedades antifúngicas, antibacterianas e antioxidantes. Muitos extratos
vegetais e óleos essenciais obtidos a partir de plantas têm mostrado exercer
atividade biológica in vitro e in vivo, o que justifica a investigação em MT, focado
sobre a caracterização de atividade antimicrobiana dessas plantas. Óleos
essenciais são utilizados em aromaterapia, por exemplo, para o tratamento da
dor durante o parto (SMITH 2011).

O interesse pela aromaterapia tem aumentado, devido à crescente procura por


meios alternativos de cura. É feita com a utilização de óleos essenciais puros de
plantas aromáticas (como hortelã-pimenta, manjerona e rosa) para ajudar a
aliviar problemas de saúde e melhorar a qualidade de vida em geral. Suas
propriedades curativas podem incluir a promoção de relaxamento e sono, alívio
da dor e redução de sintomas depressivos. Por isso, a aromaterapia tem sido
usada para reduzir comportamentos perturbados, promover o sono e estimular
o comportamento motivacional de pessoas com demência (ABRAHA et al, et 33
al, et al, 2015).

A aromaterapia também pode ser utilizada para a melhoria dos sintomas de


náusea no pós-operatório de pacientes que passaram por anestesia geral. Estes
sintomas podem ser aliviados pela aromaterapia, de modo mais natural, se bem
que com menos eficiência que os tratamentos convencionais (HINES 2012).

Taninos

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6
0

As plantas taníferas, produtoras de tanino, sempre tiveram sua importância


histórica ligada à sua utilidade na indústria do curtume, em sua capacidade de
transformar pele animal em couro para a utilização em artefatos. Com o advento
de novas tecnologias, a indústria passou a utilizar outras matérias primas para o
curtimento.

O tanino se liga às proteínas da pele precipitando-as e a transformando em


couro. Esta capacidade de se ligar a macromoléculas explica sua afinidade em
precipitar, além de proteínas, também a pectina e celulose.

Várias substâncias tânicas de origem mineral e sintética já foram obtidas e são


utilizadas na indústria coureira, no entanto o mercado internacional tem
demonstrado interesse em produtos obtidos a partir de métodos mais naturais,
de taninos vegetais. O tanino também é um importante fator de sabor. É
responsável pelo retro gosto chamado de “corpo” do vinho e outras bebidas
como o chá verde. Esta adstringência está presente em muitos frutos e outros
produtos de origem vegetal.

A interação entre o tanino e as proteínas é o fator responsável pela ação


antimicrobiana, antifúngica e sua capacidade de controlar insetos, tornando-o
um importante metabólito secundário utilizado na fitoterapia. Todas as plantas
produzem taninos em maior ou menor quantidade. Plantas como o barbatimão
(Martius), ricas em tanino e muito utilizadas em fitoterapia, principalmente na
cicatrização de feridas, levam à precipitação das proteínas das células
superficiais da mucosa e do leito da ferida formando uma película protetora
contra a multiplicação bacteriana.

PLANTAS MEDICINAIS
Alho (Allium sativum L.)

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6
1

O alho está listado no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira, no


Memento Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira e na RDC 10/10 .

Parte usada: bulbos frescos ou secos , óleo de alho.

Composição química: compostos sulfurados (aliinas, alicinas, alilcisteina,


dialilsulfeto, ajoeno, dentre outros), flavonoides, saponinas, frutosanas.

No alho recém-colhido, as aliinas são predominantes, mas inicia-se um processo


de conversão das aliinas em alicinas, principalmente quando o alho é esmagado
ou cortado. No óleo, há predominância de oligosulfetos, ajoeno e vinilditiinas.

Indicações terapêuticas: no controle da hipercolesterolemia. Como


expectorante e antisséptico.

Como coadjuvante na hiperlipidemia e na hipertensão leve (pode reduzir a


pressão em indivíduos hipertensos, mas não há efeito em normotensos) e na
arteriosclerose.

Toxicidade e efeitos adversos: pode ocasionar dermatites de contato e


ardência na cavidade oral. Também há casos de ocorrência de cefaleia, mialgia
e vertigem, mesmo em doses terapêuticas. Pode ocorrer desconforto abdominal,
náusea, diarreia ou vômito. A utilização de alho promove halitose e odor corporal.

Interações medicamentosas: não deve ser utilizado concomitantemente com


anticoagulantes orais, antiplaquetários ou inibidores da protease.

O óleo de alho e o dialilsulfeto podem reduzir moderadamente o metabolismo da


clorzoxazona (inibição da CIP1E2). A ingestão de cápsulas de óleo de alho
concomitantemente com lisinopril pode levar à hipotensão. Assim, possíveis
interações com inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), devem
ser monitoradas.

Em coelhos, extrato de alho reduziu a concentração sérica de isoniazida em


torno de 50%. Um estudo em ratos mostrou que a ingestão de extrato aquoso de
alho pode modificar a farmacocinética desse fármaco [aumentou a área sob a

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6
2

curva (AUC)], podendo levar a aumento da toxicidade de efeitos colaterais. O


mesmo aconteceu com ciprofloxacina.

A utilização concomitante com fármacos anti-inflamatórios não-esteroidais, por


exemplo a indometacina, pode levar ao aumento do tempo de coagulação devido
à diminuição da agregação plaquetária.

Posologia:

Macerado: 0,5 g de bulbilhos em 30 mL de água, antes das refeições.

Tintura (1:5 em álcool 45%): 2,5 a 5,0 mL (50 a 100 gotas) em meio copo (75
mL) de água, de duas a três vezes ao dia.

Alcoolatura e extrato fluido: 1-2 mL (20-40 gotas) diluídos em 75 mL de água,


duas vezes ao dia.

Barnes et al (2012) compilaram informações sobre a posologia do alho a partir


de diversos tratados, farmacopeias e formulários. De acordo com esses autores,
o alho deve ser utilizado como a seguir:

Bulbo seco: 2-4 g, 3 vezes ao dia.

Bulbo fresco: 4 g/dia.

Tintura: 2-4 mL, 3 vezes ao dia.

Óleo: 0,03 mL- 0,12 mL, 3 vezes ao dia.

Suco: 2-4 mL.

Xarope: 2-8 mL.

De acordo com esses autores, com base em ensaios clínicos, para a profilaxia
da aterosclerose, a ESCOP (European Scientific Cooperative on Phytotherapy)
cita a dose de 0,5-1,0 g de alho seco em pó, padronizado em 6-10% de aliina e
3-5% de alicina.

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6
3

No Phisicians Desk Reference (PDR ® ) for Herbal Medicines, a dose diária


recomendada para hiperlipidemia vaaria de 600-900 mg de alho em pó,
padronizado em 1,3% de aliina.

Informações adicionais: devido à atividade de inibição da agregação


plaquetária, a utilização do alho deve ser interrompida ao menos 10 dias antes
e 10 dias depois de cirurgias .

O alho parece agir como abortivo, podendo levar a contrações uterinas. Também
parece afetar o ciclo menstrual. O consumo de alho por lactantes altera o odor
do leite o que pode, em alguns casos, ocasionar a rejeição pelo lactente.

Algodão (Gossypium hirsurtum L.)

O algodão (folhas, raízes, botão floral) é utilizado na medicina popular em


praticamente todos os países nos quais é cultivado para diversos fins. Por
exemplo, as folhas são utilizadas na forma de chá nas disenterias e para
hemorragia uterina; as folhas frescas machucadas (amassadas) são utilizadas
como cicatrizante; o chá da raiz é usado para “falta de memória”; flores e frutos
verdes para micoses.

Contudo, há poucos registros de estudos farmacológicos clínicos ou pré-clínicos


para que se possa garantir quer a eficácia, quer a segurança dessa planta
medicinal.

Ratos tratados com tintura de raiz de Gossypium herbaceum nas doses de 2


mL/Kg/dia e 4 mL/Kg/dia, por 30 dias, apresentaram redução da massa corporal,
alteração no volume dos órgãos, alterações bioquímicas e óbitos, mais frequente
em fêmeas, configurando toxicidade sistêmica da tintura, quando administrada
em altas doses.

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6
4

Outro ponto a ser ponderado é a presença de gossipol em praticamente toda a


planta. Esse composto apresenta a propriedade de inibir a espermatogênese,
podendo levar a infertilidade masculina de forma definitiva.

As folhas contêm resinas que ao serem ingeridas formam um gel, podendo


interferir na absorção de fármacos.

Arnica

A arnica verdadeira é a espécie Arnica montana L., originária da Europa.


Contudo, no Brasil, diversas espécies são utilizadas com o nome popular
“arnica”. Dessas as mais comumente citadas são a Solidago chilensis Meyen. e
espécies do gênero Lychnophora. No Distrito Federal e no entorno, a espécie
conhecida como arnica é a Lychnophora ericoides Less. Enquanto para A.
montana, as ações farmacológicas estão bem determinadas, para S. chilensis e,
principalmente, para L. ericoides, são raros os estudos visando confirmar suas
propriedades terapêuticas

Arnica montana L.

A arnica está listada no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira e


na RDC 10/10.

Parte usada: flores. No Phisicians Desk Reference (PDR ® ) for Herbal


Medicines, também são listadas como parte usada as folhas coletadas antes da
floração, as raízes e os rizomas, além do óleo essencial.

Composição química: flavonoides (dentre eles, quercetina), cumarinas


(escopoletina e umbeliferona), terpenoides (lactonas sesquiterpênicas,
principalmente do tipo guaianolideo e triterpenos), alcaloides, óleos essenciais
(timol e derivados), dentre outros.

Indicações terapêuticas: anti-inflamatório em contusões e distensões, nos


casos de equimoses e hematomas. Em um estudo randomizado, duplo cego e

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6
5

controlado por placebo, 89 pacientes com insuficiência venosa receberam


tratamento com gel de arnica (tintura a 20%) ou placebo. Os resultados
mostraram que o tratamento com o gel trouxe melhora no tônus venoso, no
edema e na sensação de peso nas pernas. Outras evidências clínicas também
mostraram indicação para uso tópico em mialgias, reumatismo e osteoartrites.
Por exemplo, um estudo multicêntrico, envolvendo 26 homens e 53 mulheres
com osteoartrite moderada no joelho mostrou que o gel de arnica (contendo 50-
100 g de tintura da planta fresca 1:20), quando aplicado 2 vezes ao dia foi efetivo.

Toxicidade e efeitos adversos: a arnica é tóxica se for usada por via oral. A
ingestão pode resultar em gastroenterite grave e alterações cardiovasculares.

Não utilizar em lesões abertas. Em casos isolados pode provocar reações


alérgicas com formação de vesículas e necrose. Não utilizar por um período
superior a sete dias e em concentração acima da recomendada. O uso interno
só é recomendado em preparações homeopáticas.

Interações medicamentosas: não há relatos na literatura. Contudo, devido ao


fato de conter cumarinas, pode, potencialmente, interagir com anticoagulantes,
por exemplo, varfarina.

Posologia (uso tópico): Infusão: 3 g (1 colher de sopa) em 150 mL de água.


Aplicar compressa na área a ser tratada de 2 a 3 vezes ao dia.

Gel e pomada: preparados com 10% de extrato glicólico de arnica devem ser
aplicados na área a ser tratada massageando de forma suave até 3 vezes ao
dia.

Óleo: macerar 1 parte de flores em 5 partes de óleo vegetal. Aplicar no local 3


vezes ao dia (40).

Tintura: aplicar sobre a área afetada até 3 vezes ao dia.

Informações adicionais: é contraindicado o uso na gravidez e na lactação.

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6
6

Solidago chilensis Meyen (sin. S. microglossa DC.)

Parte usada: planta inteira.

Composição química: flavonoides (dentre eles, rutina), derivados do ácido


cafeico, ácido clorogênico, diterpenos do tipo labdano (por exemplo
solidagenona).

Indicações terapêuticas: anti-inflamatório em contusões e distensões, nos


casos de equimoses e hematomas.

Um estudo envolvendo pacientes com tendinite nos tendões flexores e


extensores do punho ou da mão mostrou que um gel contendo extrato glicólico
das partes aéreas (equivalente a 5 g de planta seca), aplicado duas vezes ao
dia, por 25 dias, foi capaz de melhorar a tendinite, com redução da dor. Em outro
estudo, pacientes apresentando lombalgia utilizaram gel contendo 10 gramas de
extrato fluido das partes aéreas, por 15 dias, duas vezes por dia apresentaram
melhora na dor lombar com aumento da flexibilidade .

Vários ensaios pré-clínicos mostram que extratos das partes aéreas apresentam
atividades anti-inflamatória, cicatrizante, gastroprotetora, hipoglicemiante e
hipolipidêmica. Solidagenona parece ser responsável pela atividade anti-
inflamatória.

Toxicidade e efeitos adversos: não há relatos na literatura.

Interações medicamentosas: não há relatos na literatura.

Posologia (uso tópico)

Tintura: incorporar em vaselina sólida na proporção 1:10. Aplicar até 6 vezes ao


dia.

Informações adicionais: é contraindicado o uso oral na gravidez e lactação.

Lycnophora ericoides Less.

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Parte usada: planta inteira.

Composição química: flavonoides (dentre eles, vicenina-2), derivados do ácido


cafeico, ácido clorogênico, lactonas sequiterpênicas, lignanas.

Indicações terapêuticas: anti-inflamatório em contusões e distensões, nos


casos de equimoses e hematomas.

Ensaios in vivo mostraram que as raízes apresentam propriedades analgésicas;


as folhas são analgésicas e anti-inflamatórias. As atividades parecem estar
ligadas à presença de ácido clorogênico, lignanas e vicentina-2 .

Toxicidade e efeitos adversos: não há relatos na literatura. Lactonas


sesquiterpênicas apresentam hepatoxicidade. Dessa forma, preparações
contendo L. ericoides e outras espécies do gênero Lychnophora, não devem ser
utilizadas via oral.

Interações medicamentosas: não há relatos na literatura.

Posologia (uso tópico): não há relatos na literatura. Considerando que essa


espécie é sucedânea de Arnica montana, sugere-se utilizar a mesma posologia.

Informações adicionais: é contraindicado o uso oral na gravidez e na lactação.

Boldo (Plectranthus barbatus Andrews)

O boldo está listado no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira e


na RDC 10/10 . Também é distribuído, na forma de tintura, pelo Programa
Farmácia Viva do DF.

Parte usada: folhas frescas ou secas. Composição química: triterpenos,


diterpenos do tipo abietano e labdano. Um dos principais componentes é a
forskolina. Indicações terapêuticas: antidispéptico (8, 71). Em modelos animais,
o extrato aquoso de folhas (250 mg/kg) apresentou efeito hepatoprotetor contra
sobrecarga de ferro induzida por ferro-dextrana (72). A tintura 20%, na dose de

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6
8

0,2 mL/animal apresentou efeito gastroprotetor contra danos causados por


etanol absoluto em ratos, com redução da lesão similar à promovida por
cimetidina na dose de 40 mg/kg (73). Toxicidade e efeitos adversos: não há, na
literatura, relato de efeitos significativos. Pode ocasionar dermatites de contato.
Interações medicamentosas: em ratos, o extrato aquoso reduziu o tempo de
sono induzido por pentobarbital. Assim, uma potencial interação com
barbituratos deve ser monitorada. De acordo com o Formulário de Fitoterápicos
da Farmacopeia Brasileira, não deve ser utilizado concomitantemente com
metronidazol, dissulfiram, depressores do Sistema Nervoso Central (SNC) e com
anti-hipertensivos. Tais recomendações podem ser devidas às diversas
atividades farmacológicas apresentadas pela forskolina, tais como anti-
hipertensiva, inibição da agregação plaquetária, espasmolítica, cardiotônica,
dentre outras (74-76).

Posologia:

Chá: 1-3 g de folhas em 150 mL de água, 3 vezes ao dia.

Capim-santo, capim cidrão [Cymbopogon citratus (DC.) Stapf]

O capim-santo está listado no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia


Brasileira e na RDC 10/10. Também é distribuído pelo Programa Farmácia Viva
do DF.

Parte usada: folhas frescas ou secas.

Composição química: o principal constituinte é o óleo essencial, cujo principal


componente é o citral e mirceno. Apresenta também, dentre outros compostos,
triterpenos, compostos polifenólicos tais como flavonoides e derivados dos
ácidos cafeico e clorogênico.

Indicações terapêuticas: antiespasmódico, ansiolítico e sedativo leve,


atividades atribuídas ao citral; e analgésico, devido à presença de mirceno.

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9

Apesar da indicação como ansiolítico, um estudo realizado com voluntários não


confirmou tal efeito.

A atividade anti-inflamatória é atribuída ao ácido clorogênico e outros compostos


fenólicos presentes nas folhas.

Toxicidade e efeitos adversos: em um estudo com voluntários e em modelo


animal, não foram observados sinais de toxicidade significativos. Há raros casos
de dermatites de contato e dois relatos de alveolite tóxica devido à inalação do
óleo volátil.

Interações medicamentosas: não há relatos na literatura. Contudo como


compostos polifenólicos podem ser precursores de quinonas ou intermediários
quinonametídeos que são inativadores das CIP, a utilização concomitante com
certos medicamentos deve ser evitada. Além disso, pode potencializar o efeito
de fármacos com ação sedativa.

Posologia:

Chá: 1-3 g de folhas em 150 mL de água, 2-3 vezes ao dia.

Carqueja [Baccharis trimera (Lees.) DC.]

A carqueja está listada no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira


(8) e na RDC 10/10 (9). A espécie Baccharis genistelloides Lam. Pers. também
é conhecida como carqueja e utilizada para os mesmos fins que B. trimera (54).

Parte usada: folhas.

Composição química: terpenoides, principalmente diterpenos e óleos


essenciais e compostos fenólicos, principalmente flavonoides, tais como
quercetina, luteolina, nepetina, apigenina e hispidulina.

Indicações terapêuticas: antidispéptico, hepatoprotetor e gastroprotetor .

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0

Toxicidade e efeitos adversos: o uso pode causar hipotensão.

Interações medicamentosas: evitar o uso concomitante com medicamentos


para hipertensão e diabetes, pois pode ocasionar aumento do efeito dos
fármacos em uso.

Posologia:

Infusão: 2,5 g (2,5 colheres de chá) em 150 mL de água. Utilizar 1 xícara de


chá, logo após o preparo, de 2-3 vezes ao dia .

Informações adicionais: contraindicado para uso em gestantes, pois pode


promover contrações uterinas. Não utilizar em lactantes. Evitar o uso em
pacientes com insuficiência renal.

Melissa, erva cidreira (Melissa officinalis L.)

A melissa está listada no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira


e na RDC 10/10. Parte usada: apesar de no Formulário de Fitoterápicos e na
RDC10/10 ser preconizado o uso de sumidades floridas, usualmente as partes
usadas são as partes aéreas (folhas e inflorescência), frescas ou secas.

Composição química: o principal componente é o óleo essencial, rico em


geranial, neral e citronelal, citral, glicosídeo de eugenila. Também podem ser
encontrados compostos fenólicos, tais como flavonoides e derivados do ácido
cafeico.

Indicações terapêuticas: antiespasmódico, ansiolítico e sedativo leve.


Também há indicações de atividades colerética e carminativa.

Toxicidade e efeitos adversos: em um estudo com voluntários e em modelo


animal, não foram observados sinais de toxicidade significativos.

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7
1

Interações medicamentosas: deve ser evitado o uso concomitante com


fármacos que atuam como depressores do sistema nervoso central (SNC), pois
pode potencializar sua ação.

O extrato de M. officinalis produz uma inibição significativa da ligação do


hormônio tireoidiano com seu receptor. Dessa forma, pacientes hipotireoideos
ou em uso de medicação contendo hormônios tireoidianos devem evitar a
utilização concomitante.

Compostos polifenólicos podem ser precursores de quinonas ou intermediários


quinonametídeos que são inativadores das CIP.

Posologia:

Chá: 1-4 g de sumidades floridas secas em 150 mL, 2-3 vezes ao dia (8, 39).
Melissa officinalis tem mostrado uma potente atividade virucida contra HSV-1
(herpes labial) (94-99). Assim, para uso tópico, recomenda-se o creme contendo
1% de extrato aquoso liofilizado de folhas secas, 2-4 vezes ao dia.

Informações adicionais: pacientes com demência severa foram tratados com


óleo essencial de M. officinalis e após 4 semanas de tratamento mostraram-se
menos agitados, menos deslocados socialmente e mais engajados em
atividades construtivas. Da mesma forma, pacientes idosos com Alzheimer
moderada, após 4 meses sob tratamento com extrato hidroalcoólico de M.
officinalis apresentaram melhora cognitiva. M. officinalis promoveu melhora de
humor, aumentou a calma e reduziu o estado de alerta em voluntários
submetidos a situação de stress controlado.

Os extratos de M. offinalis têm sido utilizados externamente, devido à sua


atividade antiviral. Um estudo controlado, multicêntrico avaliou um creme
contendo 1% de extrato aquoso padronizado das folhas (proporção
planta/extrato 70:1) em 115 pacientes apresentando lesões devido a herpes
labial. Os pacientes aplicaram o creme 5 vezes ao dia, até a completa cura da
lesão. Foi observado o desaparecimento da lesão em 96 % dos pacientes .

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7
2

Erva doce

Em algumas regiões do Brasil, o nome popular “erva doce” é atribuído tanto à


espécie Pimpinella anisum L. quanto a Foeniculum vulgare Mill., mais conhecido
com funcho. Ambas as drogas vegetais estão listadas no Formulário
Fitoterápico; contudo somente P. anisum está presente na RDC 10/10.

Pimpinella anisum L. - Erva-doce

Parte usada: frutos secos.

Composição química: o principal componente é o óleo essencial, rico em


transanetol, estragol e β-cariofileno. Também apresenta compostos fenólicos
(derivados do ácido clorogênico), tais como flavonoides (orientina, isovitexina e
outros), cumarinas, triterpenos e esteroides.

Indicações terapêuticas: antidispéptico e antiespasmódico; antitussígeno.

Toxicidade e efeitos adversos: não há relatos de toxicidade significativa


relacionada ao uso da droga vegetal. Contudo, a ingestão de 1-5 mL de óleo de
erva-doce pode levar a náusea, vômito, convulsões e edema pulmonar. Pode
provocar dermatite de contato.

Interações medicamentosas: o óleo essencial apresenta atividade estrogênica,


que parece ser devida, em parte, pela presença do anetol seus derivados.

Apesar dos compostos cumarínicos identificados na erva-doce, até o momento,


não apresentarem o requerimento mínimo para a atividade anticoagulante (grupo
hidroxila em C4 e um substituinte apolar em C3) deve ser evitado o uso
concomitante com anticoagulantes e inibidores da agregação plaquetária.

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3

Em experimentos in vivo, o óleo essencial de P. anisum promoveu a diminuição


da concentração plasmática de acetaminofeno e cafeína. Assim, o uso
concomitante deve ser evitado.

Posologia:

Chá: 1,5 g de frutos secos em 150 mL, 3 vezes ao dia. Óleo: 0,05-0,2 mL 3 vezes
ao dia. Informações adicionais: contraindicado para uso em gestantes devido à
presença de anetol .

Foeniculum vulgare Mill. – Funcho

Parte usada: frutos secos. Composição química: o principal componente é o óleo


essencial, rico em dilapional zizibeosídeo, icavisido A, siringina, rotundifolona,
fenchona e derivados de cineol e anetol. Também apresenta compostos
fenólicos, tais como flavonoides e derivados do ácido cafeico.

Indicações terapêuticas: carminativo (antiflatulento), antidispéptico e


antiespasmódico. Como antitussígeno e alívio da bronquite.

O óleo essencial apresenta atividade estrogênica, que parece ser devida, em


parte, pela presença do anetol seus derivados. O óleo essencial e o extrato
etanólico apresentam atividade broncodilatadora não dependente da inibição
muscarínica ou histamínica, nem do efeito estimulante sobre receptores 2-
adrenérgicos.

O extrato aquoso das sementes reduziu a pressão sistólica de ratos hipertensos,


mas não teve efeito em ratos normotensos. A atividade hipotensora parece ser
devida à ação diurética e natriurética. A ação diurética também foi observada
para o extrato hidroetanólico.

Toxicidade e efeitos adversos: não deve ser utilizado continuamente por mais
de uma semana .

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7
4

Fenchona, um dos compostos presentes em F. vulgare possui atividade


epileptogênica. Dessa forma, essa planta deve ser evitada por indivíduos com
histórico de eventos epilépticos.

Interações medicamentosas: pode inibir a atividade de CIP3A4 e CIP2D6,


devido, ao menos em parte, à presença de furanocumarinas (psoraleno, 5-
metoxipsoraleno). Assim, deve ser evitada a ingestão concomitante com
farmacoterapia cuja via de metabolização seja hepática.

O óleo essencial mostrou maior atividade que o ácido acetilsalicílico na inibição


da agregação plaquetária. Dessa forma, o consumo dessa planta deve ser
evitado por indivíduos em uso de medicação anticoagulante.

Foi observada uma interação significativa entre ciprofloxacina e o extrato aquoso


de funcho. Em modelo in vivo, a absorção, a distribuição e a eliminação do
antibiótico foram alteradas. Dessa forma, a utilização concomitante dessa planta
e antibióticos da classe das fluoroquinolonas deve ser evitada.

Vários terpenoides, particularmentente nerolidol e cineol podem aumentar a


absorção cutânea de corticosteróides de uso tópico.

Testes ex vivo mostraram que vários flavonoides podem modular a atividade da


glicoproteína P (PgP). Assim, o uso por pacientes em regime de polifarmácia
deve ser evitado.

Posologia:

Tintura: 50 gotas (2,5 mL) em 75 mL de água de 1-3 vezes ao dia (8).

Óleo: 2-5 gotas diluídas em água após as refeições.

Chá: 2-5 g, pulverizadas imediatamente antes do uso em 150 mL de água


fervente, 2-4 vezes ao dia.

Informações adicionais: contraindicado para uso em gestantes e crianças.

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Extratos de F. vulgare apresentam atividades hipolipidêmicas e hipoglicemiante


in vivo.

Em um estudo randomizado e controlado com 60 mulheres na pós menopausa,


o gel ginecológico contendo 5% de funcho, aplicado uma vez ao diz, por cinco
dias, promoveu a melhora da atrofia vaginal. A utilização de funcho parece
melhorar e reduzir cólicas menstruais .

Limão [Citrus aurantifolia (Christm.) Swing]

O limão não está listado para uso medicinal no Formulário Fitoterápico e na RDC
10/10. Na medicina popular é muito utilizado para diversos fins. O “chá de limão”
é popularmente empregado para tosse e afecções febris em gripes e resfriados.

Mastruz, erva-de-santa-maria, mastruço (Chenopodium ambrosioides L.)

O mastruz não está listado para uso medicinal no Formulário Fitoterápico e na


RDC 10/10. Na medicina popular é muito utilizado para diversos fins. “Mastruz
com leite”, a forma mais citada de uso por habitantes de Ceilândia e Paranoá, é
popularmente empregado para bronquite e tuberculose.

O extrato aquoso apresentou toxicidade crônica in vivo: o uso prolongado causou


metaplasia escamosa com queratinização na camada muscular do estomago de
ratos. Também foi observada necrose coagulativa tubular e dano glomerular nos
rins.

O óleo essencial das folhas contém ascaridol e pode provocar taquicardia,


prostração, cefaleia, distúrbios gastrointestinais e em alguns casos, óbito.
Ascaridol pode promover hipotermia, redução da atividade locomotora e
convulsões. Dessa forma, a utilização dessa planta medicinal
concomitantemente com fármacos de ação neurológica deve ser evitada.

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Saponinas, administradas via oral, além de causar desequilíbrio no tampão


gástrico, podem levar fármaco a terem aumento ou redução de seus efeitos
terapêuticos.

Hortelã (Mentha x piperita)

Está listada no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira e no


Memento Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira.

Parte usada: partes aéreas (folhas e sumidades floridas) secas.

Composição química: o principal componente é o óleo essencial, rico em


mentol, mentona e acetato de mentila, pulegona, dentre outros. Também
apresenta compostos fenólicos, tais como flavonoides.

Indicações terapêuticas: carminativo e antiespasmódico.

Há um bom nível de evidências clínicas da ação de cápsulas entéricas de óleo


de menta no alívio dos sintomas da síndrome do intestino irritável. Por exemplo,
um estudo randomizado duplo-cego envolvendo noventa pacientes que
utilizaram, durante oito semanas, cápsulas entéricas de óleo de menta (540
mg/dia). Pacientes tratados relataram uma melhora significativa nos sintomas,
com redução da dor (139). Toxicidade e efeitos adversos: não há relatos de
toxicidade significativa relacionada ao uso da droga vegetal. Contudo, pulegona,
presente no óleo essencial, é hepatotóxico, nefrotóxico e pode levar a lesão
cerebral (140). Assim, a concentração de pulegona é rigorosamente controlada
no óleo essencial utilizado na terapêutica. Interações medicamentosas: o chá de
hortelã parece reduzir a absorção de ferro (19). As interações mais importantes
referem-se ao óleo essencial que pode ter propriedade ligante quer com CIP
quer com a proteína P. A proteína P pertence a superfamília dos transportadores
ABC e influencia na ocorrência da resistência aos fármacos utilizados no

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7
7

tratamento do câncer. É um potente inibidor de várias isoenzimas da CIP (19).


Cápsulas de óleo de hortelã aumentam a biodisponibilidade podem interagir com
a felodipina aumentando sua biodisponibilidade (141, 142), podendo aumentar a
incidência dos efeitos adversos (cefaleias, delírio, etc). Também inibe o
metabolismo da nifedipina (142). Em ensaios in vivo, aumentou a
biodisponibilidade da ciclosporina (143). O óleo essencial pode, potencialmente
apresentar riscos à saúde quando utilizado concomitantemente com
anticoagulantes orais, tipo varfarina, metabolizada pelo CIP2C9 (144). O mentol
e outros álcoois monoterpênicos presentes no óleo essencial prolongam a
duração da anestesia por propofol (141).

Posologia:

Chá: 1,5 g de sumidades floridas secas em 150 mL, 2-4 vezes ao dia.

Extrato líquido (1:2): 1,5-4 mL/dia.

Tintura (1:5): 3-11 mL/dia.

Óleo essencial (em cápsulas entéricas): 0,6-1,8 mL/dia.

Informações adicionais: a infusão não é recomendada para portadores de


refluxo gastroesofaríngeo, pois promove o relaxamento do esfíncter inferior.

Camomila (Matricaria chamomilla L.)

A camomila está listada no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia


Brasileira, na RDC 10/10 e no Memento Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira.

Parte usada: sumidades floridas.

Composição química: o principal componente é o óleo essencial, rico em -


bisabolol, chamazuleno, proazulenos (matricarina e matricina), dentre outros.

Também apresenta outros terpenoides, cumarinas, compostos fenólicos


(flavonoides, ácidos clorogênico e cafeico).

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Indicações terapêuticas:

Uso interno: antiespasmódico, ansiolítico e sedativo leve.

Uso externo: anti-inflamatório nas afecções da cavidade oral, contusões.

Toxicidade e efeitos adversos: não há relatos de toxicidade significativa


relacionada ao uso da droga vegetal. Contudo, podem ocorrer alergia de contato.
Em altas doses podem ocorrer náuseas devido à presença de ácido antêmico,
com propriedades eméticas.

Interações medicamentosas: camomila pode, potencialmente apresentar


riscos à saúde quando utilizada concomitantemente com anticoagulantes orais,
tipo varfarina, apesar de a isoenzima mais sensível à inibição por M. chamomilla
ser a CIP1A2 e o estereoisômero da varfarina com maior atividade
anticoagulante ser metabolizado pelo CIP2C9.

Compostos polifenólicos podem ser precursores de quinonas ou intermediários


quinonametídeos que são inativadores das CIP. Testes ex vivo mostraram que
quercetina, kaempferol, apigenina e galangina podem modular a atividade da
glicoproteína-P (PgP). Assim, plantas medicinais que os contenham devem ser
evitadas por usuários de polifarmácia.

Posologia:

Chá (uso interno): 3 g de sumidades floridas secas em 150 mL, 3-4 entre as
refeições.

Chá (uso externo): 6-9 g de sumidades floridas em 100 mL, 3 vezes ao dia,
como bochechos e gargarejos.

Informações adicionais: extratos de M. chamomilla apresentaram atividade


antimicrobiana em diversas cepas isoladas de Candida sp. dentre outros
microrganismos. Considerando ainda sua ação anti-inflamatória, pode ser
justificada a utilização de banhos de assento de chá de camomila nos casos de
vulvovaginites.

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Um estudo cego, randomizado e controlado envolvendo 99 pacientes com


osteoartrite no joelho mostrou que a aplicação tópica do óleo de camomila
apresentou efeitos benéficos na redução da dor e função física. O chá de
camomila reduziu a xerostomia em pacientes idosos.

Romã (Punica granatum L.)

A romã está listada no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira e


na RDC 10/10.

Parte usada: casca do fruto (pericarpo). Também são medicinais a raiz, a casca
do caule, os frutos e as flores.

Composição química: alcaloides piperidínicos (por exemplo isopeletierinas),


compostos fenólicos, principalmente flavonoides e taninos. Os alcaloides estão
presentes nos galhos e raízes. Os taninos estão presentes na casca do fruto,
nas raízes e nos galhos.

Indicações terapêuticas: anti-inflamatório e antisséptico da cavidade oral. Tem


ação adstringente, antidiarreica e antisséptica. Tem atividade hipoglicemiante e
o caule e as raízes tem ação anti-helmíntica e amebicida.

Toxicidade e efeitos adversos: devido à alta concentração de taninos, pode


provocar irritação gástrica. A superdosagem de caule e raízes (acima de 80 g),
devido à presença dos alcaloides e taninos pode provocar vômito, zumbido,
distúrbio visual e tremores.

Interações medicamentosas: Romã pode, potencialmente, apresentar riscos à


saúde por possuir alta capacidade de inibir a isoenzima CIP2D6 e assim
potencializar o efeito, assim como efeitos adversos dos fármacos metabolizados
por esta via enzimática.

Posologia:

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Casca do fruto (uso externo)

Infecções orais

Decocto: 6 g (2 colheres de sopa) das cascas do fruto em 150 mL de água.


Fazer bochechos ou gargarejos, 3 vezes ao dia. Não ingerir a preparação.

Tintura: 1 colher de sopa da tintura em 150 mL de água. Fazer bochechos ou


gargarejos, três vezes ao dia.

Infecções vaginais

Decocto: 6 g (2 colheres de sopa) das cascas do fruto em 1 L de água. Fazer


banhos de assento 3 vezes ao dia.

Informações adicionais: contraindicado para uso em gestantes.

Não engolir a preparação após bochecho ou gargarejo. Para uso exclusivamente


externo.

Poejo (Mentha pulegium L.)

O poejo está listado para uso medicinal na RDC 10/10.

Parte usada: partes aéreas.

Composição química: o principal componente é o óleo essencial, cujo principal


componente é a pulegona (60 a 90%); outros componentes incluem mentona,
isomentona, ácidos polifenólicos, flavonoides, dentre outros. Também contém
triterpenos e compostos fenólicos, tais como taninos e flavonoides.

Indicações terapêuticas: afecções respiratórias como expectorante. É também


utilizado como antidispéptico e antiespasmódico e ainda como estimulante do
apetite.

Toxicidade e efeitos adversos: o óleo essencial presente no poejo é tóxico


para o fígado e rins e seu uso é considerado inseguro. São contraindicados o

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1

uso prolongado e a inalação do óleo de poejo devido seu potencial tóxico e


irritante. Em altas doses (acima de 5 g) o óleo tem ação abortiva e promove
vômito, aumento da pressão arterial e morte por insuficiência respiratória.

Em ensaio in vivo, com ratas prenhas, a ingestão de extrato hiroalcoólico de M.


pulegium nas doses de 1-5 g/kg, provocou alterações na performance
reprodutiva e foi teratogênica. Interações medicamentosas: o chá de poejo pode
reduzir a absorção do ferro devido capacidade dos polifenóis, presentes no chá,
de se ligarem ao ferro no intestino.

Posologia:

Infusão: 1 g (1 colher de sobremesa) em 150 mL de água, 2- 3 vezes ao dia


durante ou após refeições.

Informações adicionais: contraindicado o uso na gravidez, lactação e em


crianças menores de 6 anos.

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Política e o Programa Nacional de Plantas Medicinais e


Fitoterápicos

Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos


A Política e o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos
(PPNPMF) tem como objetivo garantir à população brasileira o acesso seguro e
o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso
sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da
indústria nacional.

Essa política que foi aprovada por meio do Decreto n. 5.813, de 22 de junho de
2006, estabelece diretrizes e linhas prioritárias para o desenvolvimento de ações

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5

pelos diversos parceiros em torno de objetivos comuns voltados à garantia do


acesso seguro e uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos em nosso
país, ao desenvolvimento de tecnologias e inovações, assim como ao
fortalecimento das cadeias e dos arranjos produtivos, ao uso sustentável da
biodiversidade brasileira e ao desenvolvimento do Complexo Produtivo da Saúde
(BRASIL, 2006).

Um dos princípios orientadores da PPNPMF é a ampliação das opções


terapêuticas e melhoria da atenção à saúde aos usuários do Sistema Único de
Saúde (SUS).

O serviço de Fitoterapia é ofertado em 1.108 municípios, segundo dados de 2017


do SISAB – Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica.

Nessa direção, o SUS oferta à população, com recursos de União, Estados e


Municípios, doze medicamentos fitoterápicos. Eles constam na Relação
Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) e são indicados, por exemplo,
para uso ginecológico, tratamento de queimaduras, auxiliares terapêuticos de
gastrite e úlcera, além de medicamentos com indicação para artrite e osteoartrite.

As Secretarias de Saúde municipais e estaduais devem informar ao Ministério


da Saúde as entradas, saídas e dispensações de medicamentos, entre eles os
fitoterápicos, por meio do envio do conjunto de dados do Sistema Nacional de
Gestão da Assistência Farmacêutica (Hórus) ou de Sistema próprio, por meio do
WebService, conforme a Portaria GM/MS nº. 271/2013, que institui a Base
Nacional de Dados de ações e serviços da Assistência Farmacêutica e
regulamenta o conjunto de dados, fluxo e cronograma de envio referente ao
Componente Básico da Assistência Farmacêutica no âmbito do SUS.

No Brasil, estima-se que 25% dos US$ 8 bilhões do faturamento da indústria


farmacêutica, no ano de 1996, foram originados de medicamentos derivados de
plantas (GUERRA; NODARI, 2001). Considera-se também que as vendas neste
setor crescem 10% ao ano, com estimativa de terem alcançado a cifra de US$

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550 milhões no ano de 2001 (KNAPP, 2001). Estados Unidos e Alemanha estão
entre os maiores consumidores dos produtos naturais brasileiros. Entre 1994 e
1998, importaram, respectivamente, 1.521 e 1.466 toneladas de plantas que
seguem para esses países sob o rótulo genérico de “material vegetal do Brasil”,
de acordo com Ibama (REUTERS, 2002). Embora o nosso país possua a maior
diversidade vegetal do mundo, com cerca de 60 mil espécies vegetais superiores
catalogadas, apenas 8% foram estudadas para pesquisas de compostos
bioativos e 1.100 espécies foram avaliadas em suas propriedades medicinais
(GUERRA; NODARI, 2001).

As potencialidades de uso das plantas medicinais encontram-se longe de estar


esgotadas, afirmação endossada pelos novos paradigmas de desenvolvimento
social e econômico baseados nos recursos renováveis. Novos conhecimentos e
novas necessidades certamente encontrarão, no reino vegetal, soluções, por
meio da descoberta e do desenvolvimento de novas moléculas com atividade
terapêutica ou com aplicações, tanto na tecnologia farmacêutica quanto no
desenvolvimento de fitoterápicos com maior eficiência de ação (SCHENKEL et
al.,2003).

Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos


O Programa em tela foi aprovado pela Portaria Interministerial nº 2960, de 9 de
dezembro de 2008, além de criar o Comitê Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos.

As regulamentações de cultivo, manejo, produção, distribuição e uso de plantas


medicinais e fitoterápicos devem ser editadas abrangendo e garantindo
tratamento a todas as fases da cadeia produtiva, segundo as particularidades e
especificidades de dois grandes eixos:

a) o eixo agro-fito-industrial – do cultivo, produção, distribuição e uso de insumos


e produtos da indústria farmacêutica;

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b) o eixo das tradições – do manejo, cultivo, produção, distribuição e uso de


plantas medicinais pelos povos e comunidades tradicionais.

Para o eixo agro-fito-industrial, as regulamentações devem assegurar a


qualidade, eficácia e segurança do produto final por meio do cultivo, manejo,
sistemas e técnicas de produção, considerando os aspectos botânicos, químicos
e farmacológicos, visando à obtenção de princípios ativos quantificáveis e
marcadores padronizados segundo as particularidades da agroindústria e da
grande indústria farmacêutica. Para o eixo das tradições em plantas medicinais,
as regulamentações devem ser direcionadas a salvaguardar, preservar e apoiar
os conhecimentos, práticas, saberes e fazeres tradicionais e populares em
plantas medicinais, remédios caseiros e demais produtos para a saúde que se
estruturam em princípios ancestrais e imateriais, no extrativismo sustentável e
na agricultura familiar. A validação e garantias de segurança, eficácia e
qualidade destes produtos são referendadas pela tradição. O incentivo, apoio e
fomento ao aprimoramento técnico e sanitário de seus agentes, processos e
equipamentos, poderão propiciar a inserção dos detentores destes saberes e de
seus produtos no SUS e nos demais mercados.

As regulamentações devem contemplar Boas Práticas Agrícolas e Boas Práticas


de Manipulação/Fabricação de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, considerando
os diferentes níveis de complexidade da Fitoterapia – planta fresca e seca,
fitoterápico manipulado/industrializado, incluindo os de uso tradicional (BRASIL,
2016).

Quanto aos recursos humanos, os procedimentos adotados para cultivo, manejo,


produção, distribuição e uso de plantas medicinais e fitoterápicos implicam na
capacitação técnico-científica dos profissionais envolvidos em toda a cadeia
produtiva. Para tanto, os centros de formação e capacitação de recursos
humanos devem elaborar diretrizes e conteúdos curriculares para o Ensino
Médio e Superior no sentido de incluir a formação/capacitação em Plantas

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Medicinais/Fitoterapia em todas as áreas de conhecimento relacionadas ao


tema.

O desenvolvimento de pesquisas, tecnologias e inovação em plantas medicinais


e fitoterápicos também requer formação e capacitação de recursos humanos,
para as quais, o incentivo deverá contemplar ações abrangentes, observando o
equilíbrio dos ecossistemas dos biomas nacionais, a promoção da produção
sustentável em áreas rurais e a multidisciplinaridade característica do setor de
plantas medicinais e fitoterápicos, por meio da viabilização do apoio a grupos de
pesquisa com vocação na área, da disponibilização de recursos financeiros, da
realização de convênios e da estruturação de centros de pesquisa e demais
instituições governamentais envolvidas na temática.

Em relação a sua segurança e eficácia, a comprovação do fitoterápico pode ser


realizada por meio de ensaios não clínicos e clínicos; ou por registro simplificado
comprovado pela sua presença na Lista de medicamentos fitoterápicos de
registro simplificado, de acordo com a Instrução Normativa-IN n° 2, de 13 de
maio de 2014; pela presença nas monografias de fitoterápicos de uso bem
estabelecido da Comunidade Europeia (BRASIL, 2014).

A Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) é uma ferramenta


importante para a efetivação das terapias com plantas medicinais e fitoterápicos
no SUS, com a introdução de espécies vegetais no seu elenco, ela possibilitou
que matérias-primas vegetal para manipulação e fitoterápicos sejam financiados
com recursos da Assistência Farmacêutica na Atenção Básica.

São vantagens de fitoterápicos da RENAME:

a) Possuem evidências de segurança e eficácia para as indicações


informadas na Relação Nacional;

b) No momento de atualização da Relação Nacional, foi verificado que


todos possuem registro sanitário na Anvisa, ou seja, são fabricados e
vendidos no país;

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c) Podem ser adquiridos com recursos tripartite.

Em anexo teremos a lista dos fitoterápicos de acordo com a RENAME (2020).

Terminologias de interesse da fitoterapia

Bancos de germoplasma: coleção de genótipos de uma espécie com origens


geográfica e ambiental variadas e que se constitui em matéria-prima para
programas de pesquisa e melhoramento.

Certificação: Conjunto de atividades desenvolvidas por um organismo


competente credenciado para avaliar se um determinado processo, sistema ou
produto está em conformidade com as normas preconizadas de modo a garantir
o cumprimento dos requisitos de qualidade, segurança e eficácia.

Conhecimento tradicional associado: informação ou prática individual ou


coletiva de comunidade indígena ou de comunidade local, com valor real ou
potencial, associada ao patrimônio genético.

Conhecimento tradicional: todo conhecimento, inovação ou prática de


comunidade tradicional relacionado aos componentes da diversidade biológica.

Controle de qualidade: conjunto de medidas destinadas a garantir, a qualquer


momento, a produção de lotes de medicamentos e demais produtos abrangidos
por este Regulamento, objetivando verificar se satisfazem às normas de
atividade, pureza, eficácia e segurança. (Decreto nº 3.961/2001, que atualizou a
Lei nº 6.360/1976).

Derivado de droga vegetal: produto de extração da matéria-prima vegetal:


extrato, tintura, óleo, cera, exsudato, suco e outros.

Eficácia: é a capacidade de o medicamento atingir o efeito terapêutico visado.

Farmacopeia: Código Oficial Farmacêutico estabelecido por e para o País onde


se estabelece os requisitos de qualidade dos produtos farmacêuticos. Esses

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0

requisitos incluem todos os componentes empregados na fabricação dos


mesmos.

Farmacovigilância: identificação e avaliação dos efeitos agudos ou crônicos,


do risco do uso dos tratamentos farmacológicos no conjunto da população ou
em grupos de pacientes expostos a tratamentos específicos.

Formulário Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos: Código onde


estão inscritas formulações contendo drogas vegetais e fitoterápicos de uso
consagrado, por meio do qual é assegurada a padronização dos produtos, com
o intuito de assegurar a sua qualidade.

Manejo sustentável: utilização de bens e serviços naturais por meio de práticas


de manejo que garantam a conservação do ecossistema, que gerem benefícios
sociais e econômicos, tanto para as gerações atuais como para as futuras.

Manipulação: conjunto de operações farmacotécnicas realizadas na farmácia,


com a finalidade de elaborar produtos e fracionar especialidades farmacêuticas.

Matéria-prima vegetal: planta medicinal fresca, droga vegetal ou derivados de


droga vegetal (RDC nº 48/2004).

Medicamento: produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com


finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnósticos. É uma forma
farmacêutica terminada que contém o fármaco, geralmente, em associação com
adjuvantes farmacotécnicos (RDC nº 84/2002).

Medicina popular: prática de cura que oferece respostas concretas aos


problemas de doenças do dia a dia. É realizada em diferentes circunstâncias e
espaços (em casa, em agências religiosas de cura) e por várias pessoas (pais,
tias, avós) ou por profissionais populares de cura (benzedeiras, médiuns,
raizeiros, ervateiros, parteiras).

Planta medicinal: é uma espécie vegetal, cultivada ou não, utilizada com


propósitos terapêuticos (OMS, 2003). Chama-se planta fresca aquela coletada

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1

no momento de uso e planta seca a que foi precedida de secagem, equivalendo


à droga vegetal.

Prescrição: ato de definir o medicamento a ser consumido pelo paciente, com a


respectiva dosagem e duração do tratamento. Em geral, esse ato é expresso
mediante a elaboração de uma receita médica (Portaria nº 3.916/1998).

Remédio: são cuidados que se utiliza para curar ou aliviar os sintomas das
doenças, como um banho morno, uma bolsa de água quente, uma massagem,
um medicamento, entre outras coisas.

Remédios caseiros de origem vegetal: Preparações caseiras com plantas


medicinais, de uso extemporâneo, que não exijam técnicas especializadas para
manipulação e administração.

Sistema de produção orgânico: todo aquele em que se adotam técnicas


específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e
socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das
comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e
ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência
de energia não renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais,
biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, à
eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e às radiações
ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento,
armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente
(Lei nº 10.831/2003).

Toxicologia: Ciência que avalia os possíveis efeitos tóxicos das substâncias no


organismo bem como o diagnóstico e o tratamento das intoxicações e
envenenamentos

Uso racional: é o processo que compreende a prescrição apropriada; a


disponibilidade oportuna e a preços acessíveis; a dispensação em condições
adequadas; e o consumo nas doses indicadas, nos intervalos definidos e no

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2

período de tempo indicado de medicamentos eficazes, seguros e de qualidade.


Uso de recursos sob o fundamento de sustentabilidade econômica.

Uso sustentável: significa a utilização dos componentes da diversidade


biológica de modo e em ritmo tais que não levem, em longo prazo, à diminuição
da diversidade biológica, mantendo assim seu potencial para atender às
necessidades e às aspirações das gerações presentes e futuras.

Validação: ato documentado que atesta que qualquer procedimento, processo,


equipamento, material, operação ou sistema realmente conduza aos resultados
esperados (Lei nº 8.080/1990). (BRASIL, 2016).

FORMA DE USO DAS PLANTAS MEDICINAIS

O uso popular de plantas medicinais nos remete a um mundo de saberes


passados de gerações para gerações, cuja riqueza está na conservação de
informações tradicionais, que valorizam espécies vegetais nativas de alto valor
terapêutico. Este universo de conhecimento, entretanto, vem se extinguindo nos
últimos tempos sendo a migração de populações tradicionais, como os
ribeirinhos, quilombolas e indígenas para o meio urbano o principal fator que leva
à degradação dos conhecimentos. Pessoas que tradicionalmente utilizavam
plantas medicinais, cultivando ou buscando na natureza de forma controlada,
são obrigadas a adquirir os produtos de fontes pouco idôneas, em feiras livres
ou de vendedores inescrupulosos, que adulteram os produtos, através de
misturas ou de substituição da droga vegetal por outra espécie semelhante. Esta
questão gera a necessidade de um registro das formas de uso principalmente do
preparo, fundamentado em informações científicas que possibilitem a extração
do máximo das propriedades do vegetal conforme as normas brasileiras da RDC
Nº 10, de 09 de março de 2010, que traz informações importantes sobre estas
preparações em domicílios.

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3

Para tanto alguns conceitos deverão ser padronizados, como as medidas


caseiras, por exemplo, citadas na mesma resolução em seu artigo 4º:

Forma de uso das plantas medicinais

a) colher de sopa: 15ml/ 3 g;

b) colher de sobremesa: 10ml / 2 g;

c) colher de chá: 5ml/ 1 g;

d) colher de café: 2ml/ 0,5 g;

e) xícara de chá ou copo: 150ml;

f) xícara de café: 50ml; e

g) cálice: 30ml

PRINCIPAIS FORMAS DE PREPARO

Banho de assento

Definição: segundo o Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira


(FFFB): É a imersão em água morna, na posição sentada, cobrindo apenas as
nádegas e o quadril geralmente em bacia ou em louça sanitária apropriada.

Preparo caseiro: Fazer uma infusão ou decocto mais forte com a droga vegetal
apropriada e misturar na água do banho em uma bacia.

Bochecho

Definição: segundo o FFFB: É a agitação de infuso, decocto ou maceração, na


boca, fazendo movimentos da bochecha, não devendo ser engolido o líquido ao
final.

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Preparo caseiro: Fazer uma infusão ou decocto de maneira adequada de acordo


com o tipo de planta estiver utilizando. Abafar por 10 minutos, esperar esfriar,
até ficar morno, fazer bochechos ou gargarejos calmamente.

Compressa

Definição: segundo o FFFB: É uma forma de tratamento que consiste em colocar,


sobre o lugar lesionado, um pano ou gaze limpo e umedecido com um infuso ou
decocto, frio ou aquecido, dependendo da indicação de uso.

Preparo caseiro: Sobre um pano limpo, ou chumaço de algodão, verter o decocto


ou a infusão sobre o pano ou chumaço de algodão, e estes são então colocados
sobre o ferimento ou órgão com inflamação. Poderá também utilizar o sumo da
planta ou tintura diluída.

Creme

Definição: segundo o FFFB: É a forma farmacêutica semissólida que consiste de


uma emulsão, formada por uma fase lipofílica e uma fase hidrofílica. Contém um
ou mais princípios ativos dissolvidos ou dispersos em uma base apropriada e é
utilizada, normalmente, para aplicação externa na pele ou nas membranas
mucosas.

Decocção

Definição: segundo o FFFB: É a preparação que consiste na ebulição da droga


vegetal em água potável por tempo determinado.

Método indicado para partes de drogas vegetais com consistência rígida, tais
como cascas, raízes, rizomas, caules, sementes e folhas coriáceas.

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Preparo caseiro: os decoctos são preparados com as partes mais duras do


vegetal, a planta medicinal é colocada na água fria e então é levada ao fogo, até
entrar em ebulição. Deixar ferver por determinado tempo, de acordo com a planta
que está sendo utilizada, desligar o fogo, abafar por 5 a 10 minutos e coar;
aguardar a temperatura diminuir um pouco e poderá ser utilizado conforme
recomendado.

Gargarejo

Definição segundo o FFFB: É a agitação de infuso, decocto ou 116 maceração,


na garganta, pelo ar que se expele da laringe, não devendo ser engolido o líquido
ao final.

Infusão: Definição segundo a RDC Nº 10, de 09 de Março de 2010: preparação


que consiste em verter água fervente sobre a droga vegetal e, em seguida,
tampar ou abafar o recipiente por um período de tempo determinado.

Método indicado para partes de drogas vegetais de consistência menos rígida


tais como folhas, flores, inflorescências e frutos, ou com substâncias ativas
voláteis;

Inalação

Definição segundo a RDC Nº 10, de 09 de março de 2010: administração de


produto pela inspiração (nasal ou oral) de vapores pelo trato respiratório;

Preparo caseiro: Este preparo deve se tomar muito cuidado par que não haja
queimaduras tanto no rosto quanto nas vias respiratórias pela inalação de
vapores quentes. Coloca-se a planta em uma pequena bacia, na proporção de
uma colher de sopa de erva fresca ou seca para cada meio litro de água, verte-

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se água fervente sobre ela e coloca-se uma toalha de modo a cobrir em conjunto
o rosto, ombros e a vasilha, respira-se pausadamente, inspirando e expirando
os vapores, durante uns 15 minutos.

Maceração

Definição segundo o FFFB: É o processo que consiste em manter a droga,


convenientemente pulverizada, nas proporções indicadas na fórmula, em
contato com o líquido extrator, com agitação diária, no mínimo por sete dias
consecutivos. Deverá ser utilizado recipiente âmbar ou qualquer outro que não
permita contato com a luz, bem fechado, em lugar pouco iluminado, a
temperatura ambiente. Após o tempo de maceração verta a mistura num filtro.
Lave aos poucos o resíduo restante no filtro com quantidade suficiente (q.s.) do
líquido extrator de forma a obter o volume inicial indicado na fórmula.

Maceração com água

Definição segundo o FFFB: É a preparação que consiste no contato da droga


vegetal com água, à temperatura ambiente, por tempo determinado para cada
droga vegetal. Esse método é indicado para drogas vegetais que possuam
substâncias que se degradam com o aquecimento.

Pomada

Definição segundo o FFFB: É a forma farmacêutica semissólida, para aplicação


na pele ou em membranas mucosas, que consiste da solução ou dispersão de
um ou mais princípios ativos em baixas proporções em uma base adequada
usualmente não aquosa.

Preparo caseiro: A pomada pode ser preparada com o sumo, tintura ou chá mais
concentrado misturado com banha animal, gordura de coco ou vaselina líquida.
Pode-se ainda aquecer as ervas na gordura depois coar e guardar em frascos

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tampados. Enquanto a mistura ainda estiver quente pode também misturar um


pouco de cera de abelha para que a pomada fique mais consistente.

Mistura-se à gordura vegetal hidrogenada, ou banha animal, (30 g), a tintura da


planta medicinal pretendida (1 colher das de sopa). E em um saquinho plástico
juntam-se os dois ingredientes, amassando por sobre o plástico. Conserve na
geladeira por 30 dias.

Tintura

Definição segundo o FFFB: É a preparação alcoólica ou hidro alcoólica resultante


da extração de drogas vegetais ou animais ou da diluição dos respectivos
extratos. É classificada em simples e composta, conforme preparada com uma
ou mais matérias-primas. A menos que indicado de maneira diferente na
monografia individual, 10 mL de tintura simples correspondem a 1 g de droga
seca.

Xarope

Definição segundo o FFFB: É a forma farmacêutica aquosa caracterizada pela


alta viscosidade, que apresenta, no mínimo, 45% (p/p) de sacarose ou outros
açúcares na sua composição. Os xaropes geralmente contêm agentes
flavorizantes. Quando não se destina ao consumo imediato, deve ser adicionado
de conservadores antimicrobianos autorizados.

Preparo caseiro: Para se preparar o xarope utilizando parte das plantas que
fazem infusão (folhas e flores) primeiro faz-se uma calda utilizando açúcar
mascavo ou rapadura até obter a consistência desejada, então adiciona-se o
vegetal, abafar, esperar esfriar e coar.

No caso de plantas que se utilizam a forma de preparo decocto: coloca-se a


planta para ferver e após a água entrar em ebulição juntamente com a planta,

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adiciona-se a quantidade desejada de açúcar. Pode-se utilizar também tintura


para a produção do xarope, neste caso prepara-se a calda e adiciona depois de
fria a tintura na proporção de 1 parte de tintura para 3 partes de calda. Os
xaropes devem ser guardados na geladeira por até 15 dias, não devem ser
consumidos se apresentarem qualquer sinal de contaminação (fermentação,
bolores, etc). Pode-se acrescentar algumas gotas de própolis como conservante.

Cataplasma

São obtidas por diversas formas:

Amassar as ervas frescas e bem limpas, aplicar diretamente sobre a parte


afetada ou envolvidas em pano fino ou gaze. As ervas secas podem ser
reduzidas a pó, misturadas em água, chás ou outras preparações aplicadas
envoltas em pano fino sobre as partes afetadas.

Pode-se ainda utilizar farinha de mandioca ou fubá de milho e água, geralmente


quente, com a planta fresca ou seca triturada

A necessidade de criar novas tecnologias educativas em saúde, levando em


conta a educação continuada, faz com que esse manual venha de encontro ao
anseio de melhorar as condições do profissional em saúde que atende na
atenção primária. Existe todo um dilema ético quanto à conduta terapêutica, pois
nem sempre o melhor tratamento instituído será feito pelo paciente pela
impossibilidade de acesso aos medicamentos essenciais.

Em termos epidemiológicos a população brasileira sofreu profunda modificação


em seu perfil demográfico, demonstrando parâmetros de envelhecimento
populacional semelhantes aos países desenvolvidos. Tal fato fez aumentar a
prevalência de doenças crônico-degenerativas especialmente na faixa etária
acima dos 62 anos de idade, sendo a ferida crônica umas das complicações mais
comuns.

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9
9

O tratamento dessa condição envolve equipe multidisciplinar treinada e


capacitada além dos medicamentos adequados.

A fitoterapia nos moldes da medicina integrativa, que propõe a união dos


avanços científicos com as terapias e práticas tradicionais cujas evidências
comprovem sua segurança e eficácia, é excelente opção terapêutica para os
portadores de feridas crônicas dentro do cuidado humanizado e integral do
paciente, proposta que vai ao encontro às diretrizes do SUS.

A fitoterapia e o uso de plantas medicinais fazem parte da prática da medicina


popular, constituindo um conjunto de saberes internalizados nos diversos
usuários e praticantes, especialmente pela tradição oral.

Esta prática diminuiu frente ao processo de industrialização, ocorrido no país,


nas décadas de 1940 e 1950. Trata-se de uma forma eficaz de atendimento
primário a saúde, podendo complementar ao tratamento usualmente
empregado, para a população de menor renda. A realização segura desses
atendimentos está vinculada ao conhecimento prévio do profissional de saúde
sobre a terapêutica com fitoterápicos ou plantas medicinais.

A orientação para uma utilização adequada, sem perda da efetividade dos


princípios ativos localizados nas plantas e sem riscos de intoxicações por uso
inadequado é fundamental.

Schenkel verificou que além da utilização dos medicamentos alopáticos, a


população que busca atendimento nas unidades básicas de saúde (UBS)
também utiliza plantas medicinais com fins terapêuticos, muitas vezes
desconhecendo a possível existência de efeitos tóxicos, além de não ter
entendimento quanto à sua ação terapêutica; qual forma mais correta de cultivo;
preparo; quando cada planta pode ser indicada e em quais casos são
contraindicadas.

Tanto Schenkel quanto Marques sugerem a existência de uma crença de não


haver nenhum efeito prejudicial à saúde com o emprego de fitoterápicos.

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1
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Discussões em torno da implantação da fitoterapia na rede municipal de saúde,


ou na atenção primária de saúde, se tornam contraditórias em relação aos
preceitos da biomedicina, já que os discípulos desta doutrina se esforçam para
eliminar as concepções curativas não baseadas em normas científicas.

O crescimento do trabalho desenvolvido com plantas medicinais e fitoterápicos


se apresenta como uma alternativa à referência biomédica de saúde, porém,
ainda praticamente inexistente nos serviços de saúde tanto públicos como
privados. Observa-se um crescimento na utilização de fitoterápicos pela
população brasileira. Dois fatores poderiam explicar este aumento.

O primeiro seriam os avanços ocorridos na área científica, que permitiram o


desenvolvimento de fitoterápicos reconhecidamente seguros e eficazes.

O segundo é a crescente tendência de busca, pela população, por terapias


menos agressivas destinadas ao atendimento primário à saúde. Porém como
apontado por Leite, o interesse por parte dos gestores municipais na implantação
de programas de uso de fitoterápicos na atenção primária a saúde, aparece
associado apenas à concepção de que esta seria uma opção para suprir a falta
de medicamentos.

Segundo o autor, só são contabilizados ganhos em custos pela utilização de


fitoterápicos e não os benefícios. A equipe de saúde assiste o paciente e muitas
vezes seus familiares nas UBS. Portanto, com um planejamento adequado de
assistência, levando em conta fatores culturais e utilizando os recursos
fitoterápicos existentes, pode-se melhorar o nível de saúde da população. Para
isso, se faz necessário um conhecimento por parte dos profissionais de saúde
que atuam diretamente com os pacientes nas UBS, em relação às propriedades
terapêuticas das plantas que são usadas por essa população.

Conhecimentos técnicos, que vão desde o preparo para fins terapêuticos,


indicações, cuidados e dosagem, e conhecimentos sobre a percepção quanto à
relação saúde doença são imprescindíveis.

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1
01

Fitoterapia Clínica e a Prescrição de Plantas Medicinais


e Fitoterápicos

A prescrição medicamentos no Brasil é atribuição de profissionais legalmente


habilitados. Historicamente o médico é o profissional habilitado para o
diagnóstico e prescrição de medicamentos na medicina humana, os médicos
veterinários na medicina veterinária e os cirurgiões dentistas para o uso
odontológico, no entanto, enfermeiros, farmacêuticos e nutricionistas podem
realizar prescrição e/ou indicação de medicamento respeitando a legislação
vigente e estarem inscritos nos respectivos Conselhos Profissionais (MACEDO,
2016).

Dentre os profissionais habilitados a prescrever somente os cirurgiões dentistas,


farmacêuticos e nutricionistas possuem legislação específica para reconhecer e
regulamentar a prescrição de fitoterápicos (CFO, 2008; CFF, 2011; CFN,2013).
Na medicina, a Fitoterapia não é considerada uma especialidade, porém é
facultado ao médico realizar prescrição de fitoterápicos.

A Fitoterapia em Odontologia se destina aos estudos dos princípios científicos


da Fitoterapia e Plantas Medicinais embasados na multidisciplinaridade,
inseridos na prática profissional, no resgate do saber popular e no uso e
aplicabilidade desta terapêutica na Odontologia. Respeitando o limite de atuação
do campo profissional do cirurgião dentista.

Em 05 e 06 de junho de 2008, foi realizado o Fórum para Regulamentação das


Práticas Integrativas e Complementares à Saúde Bucal, onde foi discutido a
regulamentação da Fitoterapia, Homeopatia, Acupuntura, Terapia Floral e
Laserterapia. Levando-se em consideração as recomendações da Organização
Mundial de Saúde, e dos avanços das políticas públicas de incremento às

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1
02

práticas integrativas nas Ciências da Saúde, e sendo da competência do


Conselho Federal de Odontologia supervisionar a ética profissional, zelando pelo
bem da profissão, resolve através do Resolução CFO-82/2008, reconhecer e
regulamentar o uso de Práticas Integrativas e Complementares à Saúde bucal.

No Capítulo II, artigo 1 dessa regulamentação, encontraremos as decisões


relacionadas à Fitoterapia, descritas a seguir:

Cabe ao cirurgião-dentista:

I. Aplicar o conhecimento científico adquirido na clínica, no


diagnóstico, nas indicações e no uso de evidências científicas dos
fitoterápicos e plantas medicinais nos procedimentos odontológicos.

II. Promover embasamento, no uso e manejo das plantas medicinais,


identificar espécies e conhecer fórmulas farmacêuticas utilizadas na
Fitoterapia.

III. Promover a formação multidisciplinar necessária ao conhecimento


e manejo dos segmentos envolvidos em toda a cadeia produtiva dos
fitoterápicos.

IV. Incrementar e estimular pesquisas que permitam o uso de novas


tecnologias e métodos para elaboração de fitoterápicos e plantas
medicinais (MARTINS, 2020).

Para o farmacêutico a prescrição é regulamentada pela resolução Nº 546 de 21


de julho de 2011, sendo uma legislação específica. Esta resolução exige que o
ato da indicação seja documentado, deve ser escrito em duas vias (uma para o
paciente e outra deverá ser arquivada no estabelecimento farmacêutico), deverá
ainda trazer a identificação do paciente, do estabelecimento, assinatura do
farmacêutico e CRF, entre outras.

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1
03

Consideramos que este é um importante instrumento em defesa da sociedade,


já que a indicação farmacêutica qualifica o uso das plantas que, até então, é
feito, na ampla maioria das vezes, seguindo apenas o conhecimento popular
sobre as mesmas, sem nenhuma orientação de posologia, interações,
conservação, etc. Os farmacêuticos, profissionais de ponta da atenção primária
a saúde, e que possuem vastos conhecimentos em Farmacologia, não poderiam
deixar de exercer a indicação (LAGE, 2020).

Outro fato importante para a profissão em relação a plantas medicinais é a


Portaria nº. 886, de 20 de abril de 2010 que institui a Farmácia Viva no âmbito
do Sistema Único de Saúde (SUS). A implantação de projetos Farmácia Viva
visa realizar o atendimento da população em Fitoterapia, implementar uma horta
de plantas medicinais, produzir medicamentos fitoterápicos e promover o resgate
e a valorização da cultura popular no que se refere à utilização de plantas
medicinais bem como a introdução de conhecimentos científicos, através de
palestras educativas, informativos, cartilhas, visitas domiciliares.

O nutricionista sempre pode usar os recursos da Fitoterapia na forma de alimento


funcional e de chás, no entanto com a Resolução do CFN nº 402, de 30 de julho
de 2007 que regulamentou a prescrição fitoterápica pelo nutricionista, foi
assegurado para o profissional o direito de poder inserir em suas prescrições
dietéticas o uso de plantas medicinais e, além disso, poder prescrever
fitoterápicos nas suas mais diversas formas para uso interno.

Com a atualização desta resolução, entrou em vigor em 25 de junho de 2013 a


Resolução CFN n. 525/ 2013 e posteriormente em maio de 2015 a Resolução
CFN n. 556/2015 que autorizam o nutricionista a adotar a fitoterapia para
complementar a sua prescrição dietética somente quando os produtos prescritos
tiverem indicações de uso relacionadas com o seu campo de atuação e estejam
embasadas em estudos científicos ou em uso tradicional reconhecido. Ressalta
a Resolução que, ao adotar a Fitoterapia, o profissional deve basear-se em
evidências científicas quanto a critérios de eficácia e segurança, considerar as

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1
04

contraindicações e oferecer orientações técnicas necessárias para minimizar os


efeitos colaterais e adversos das interações com outras plantas, com drogas
vegetais, com medicamentos e com os alimentos, assim como os riscos da
potencial toxicidade dos produtos prescritos (FIUT, 2020).

A legislação determina que a prescrição de plantas medicinais ou drogas


vegetais deverá ser legível, conter o nome do paciente, data da prescrição e
identificação completa do profissional prescritor (nome e número do CRN,
assinatura, carimbo, endereço e forma de contato) e conter todas as seguintes
especificações quanto ao produto prescrito (CFN, 2013):

I - nomenclatura botânica, sendo opcional incluir a indicação do nome popular;

II - parte utilizada;

III - forma de utilização e modo de preparo;

IV - posologia e modo de usar;

V - tempo de uso.

Macedo (2016) explica que na prescrição de plantas medicinais e drogas


vegetais, considerar que estas devem ser preparadas unicamente por decocção,
maceração ou infusão, conforme indicação, não sendo admissível que sejam
prescritas sob forma de cápsulas, drágeas, pastilhas, xarope, spray ou qualquer
outra forma farmacêutica, nem utilizadas quando submetidas a outros meios de
extração, tais como extrato, tintura, alcoolatura ou óleo, nem como fitoterápicos
ou em preparações magistrais.

A prescrição de preparações magistrais e de fitoterápicos far-se-á


exclusivamente a partir de matérias-primas derivadas de drogas vegetais, não
sendo permitido o uso de substâncias ativas isoladas, mesmo as de origem
vegetal, ou das mesmas associadas a vitaminas, minerais, aminoácidos ou
quaisquer outros componentes (CFN, 2013). Partes de vegetais quando
utilizadas para o preparo de bebidas alimentícias, sob a forma de infusão ou

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1
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decocção, sem finalidades fármaco- terapêutica, são definidas como alimento e


não constituem objeto desta Resolução (CFN, 2013).

A enfermagem é outra profissão que pode prescrever dentro das normas do


exercício profissional (Lei n. 7.498/1986), com a revogação da resolução
272/2002 os enfermeiros podem prescrever desde que façam parte da equipe
multiprofissional dos programas de saúde e dentro de protocolos pré-
estabelecidos (Portaria 648/GM/2006 - Política Nacional de Atenção Básica). A
fisioterapia também não possui legislação específica na área da fitoterapia, desta
forma sua atuação nesta área fica sujeita ao regulamento de atuação do
profissional deliberado pelo Conselho de Classe e no SUS ao previsto nos
protocolos dos programas de saúde (MACEDO, 2016).

Paradigmas da Fitoterapia
A fitoterapia moderna tem seus fundamentos tanto no modelo sistêmico/vitalista
quanto no modelo organicista. Ela se compatibiliza com os princípios sistêmicos
na medida em que tem no fitocomplexo um conjunto de substâncias que atuam
simultaneamente em vários sítios biológicos (multi-targeted approach). Temos
como exemplo os constituintes químicos da Curcuma longa que atuam em um
amplo espectro de alvos farmacológicos atingindo, assim, os mecanismos
fisiopatológicos de inúmeras doenças (doenças reumáticas, respiratórias,
alérgicas, neurodegenerativas entre outras).

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1
06

Figura 5 – Paradigmas da Fitoterapia

A fitoterapia também pode ser utilizada no modelo organicista quando


substâncias químicas isoladas das espécies medicinais atuam especificamente
em determinado alvo ou doença, reduzindo ou removendo determinados
sintomas. Temos como exemplo a espécie Salix alba (salgueiro) cujo princípio
ácido salicílico atua diretamente na cascata inflamatória (inibidor inespecífico da
enzima COX) promovendo ações antitérmica e anti-inflamatória.

Modalidades de prescrição fitoterápica

Didaticamente é possível discriminar modalidades de prescrição terapêutica de


fitoterápicos em função do(a):

1) Especificidade bioquímica: Esta forma de raciocínio terapêutico baseia-se


no conceito de conjunto sintomático. É muito familiar e de fácil entendimento
para o médico ocidental.

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07

• Arnica montana: anti-inflamatório (terpenos e flavonoides)

• Pyrostegia venusta: antifúngica

• Phyllantus niruri: diurético

• Valleriana officinalis: sedativo

• Sambucus nigra: antitérmico

2) Tropismo fisiopatológico: Esta forma de raciocínio terapêutico baseia-se no


conceito de fitocomplexo. O fitocomplexo consiste no conjunto de compostos
químicos biologicamente ativos encontrados em uma espécie vegetal. Estes
compostos possuem múltiplas ações farmacológicas agindo em diversos ‘alvos’
de forma sinérgica (herbal shotgun).

3) Fitoterápicos em diluições decimais: Esta forma de raciocínio terapêutico


baseia-se no uso de fitoterápicos em diluições decimais (DH1 a DH5).

Estas formas farmacêuticas são utilizadas para espécies medicinais com alta
toxicidade quando ingeridas em forma de tinturas ou extratos (uso oral).
Exemplos:

• Arnica montana (helenalina é cardio e hepatotóxica; timo reduz limiar


convulsivógeno).

• Symphytum officinale (hepatotoxidade)

4) Potencial bioenergético: Esta forma de raciocínio terapêutico baseia-se nos


princípios vitalistas, da medicina tradicional chinesa e da indiana (ayurvédica). É
pouco conhecido pelo médico ocidental. A ciência médica frequentemente
coloca em dúvida a efetividade e a validade destas terapêuticas. Inclui a

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compreensão de conceitos complexos de energia vital, fisiopatologia energética,


homeostase e interação homem-Natureza.

Enfim, o médico irá buscar aqueles sistemas de prescrição com que tem maior
afinidade ou facilidade de compreensão/manejo, mas sempre integrando-os ao
raciocínio clínico moderno.

Preparações fitoterápicas
Tanto os medicamentos fitoterápicos (MF) quanto os produtos tradicionais
fitoterápicos (PTF) podem ser prescritos em várias formas farmacêuticas.

Forma farmacêutica é o estado final de apresentação dos princípios ativos


farmacêuticos após uma ou mais operações farmacêuticas executadas com a
adição ou não de excipientes apropriados a fim de facilitar a sua utilização e
obter o efeito terapêutico desejado, com características apropriadas a uma
determinada via de administração (BRASIL, 2010).

Figura 6 – Preparações fitoterápicas

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As principais formulações farmacêuticas fitoterápicas e suas definições,


extraídas da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2010), estão listadas abaixo.

Droga vegetal: Planta medicinal ou suas partes, que contenham as substâncias,


ou classes de substâncias, responsáveis pela ação terapêutica, após processos
de coleta ou colheita, estabilização, secagem, podendo ser íntegra, rasurada ou
triturada. A droga vegetal pode ser utilizada in natura (adicionada a alimentos ou
bebidas, por exemplo), na forma de cápsulas, ou na preparação de derivados da
droga vegetal (infusão, maceração, tintura, etc).

Chá medicinal: É o nome que se dá à droga vegetal destinada à preparação de


infusão, decocção ou maceração pelo consumidor final.

Cápsula: É a forma farmacêutica sólida em que o princípio ativo e os excipientes


estão contidos em um invólucro solúvel duro ou mole, de formatos e tamanhos
variados, usualmente, contendo uma dose única do princípio ativo. Normalmente
é formada de gelatina, mas pode, também, ser de amido ou de outras
substâncias.

Comprimido: É a forma farmacêutica sólida contendo uma dose única de um ou


mais princípios ativos, com ou sem excipientes, obtida pela compressão de
volumes uniformes de partículas. Pode ser de uma ampla variedade de
tamanhos, formatos, apresentar marcações na superfície e ser revestido ou não.

Drágea: São comprimidos revestidos com camadas constituídas por misturas de


substâncias diversas, como resinas, naturais ou sintéticas, gomas, gelatinas,
materiais inativos e insolúveis, açucares, plastificantes, poliois, ceras, corantes
autorizados e, às vezes, aromatizantes e princípios ativos.

Glóbulo: É a forma farmacêutica sólida que se apresenta sob a forma de


pequenas esferas constituídas de sacarose ou de mistura de sacarose e lactose.
São impregnadas pela potência desejada e com álcool acima de 70%.

Infusão: Consiste em verter água fervente sobre a droga vegetal e, em seguida,


tampar ou abafar o recipiente por um período de tempo determinado. É

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1
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popularmente conhecido como chá ou chá medicinal. Trata-se de método


indicado para partes de drogas vegetais de consistência menos rígida tais como
folhas, flores, inflorescências e frutos, ou com substâncias ativas voláteis.

Decocção: Consiste na ebulição da droga vegetal em água potável por tempo


determinado. Também é popularmente conhecido como chá. Trata-se de método
indicado para partes de drogas vegetais com consistência rígida, tais como
cascas, raízes, rizomas, caules, sementes e folhas coriáceas.

Maceração: Preparação que consiste no contato da droga vegetal com água, à


temperatura ambiente, por tempo determinado para cada droga vegetal. Este
método é indicado para drogas vegetais que possuam substâncias que se
degradam com o aquecimento.

Tintura: É a preparação alcoólica (etanólica) ou hidroalcoólica (hidroetanólica)


resultante da extração de drogas vegetais ou animais ou da diluição dos
respectivos extratos. Na preparação da tintura usa-se em geral a planta seca. A
menos que indicado de maneira diferente na monografia individual, 10 mL de
tintura simples correspondem a 1 g de droga seca, ou seja, a tintura é preparada
a 10%.

Alcoolatura: É a preparação alcoólica (etanólica) ou hidroalcoólica


(hidroetanólica) resultante da extração de drogas vegetais ou animais ou da
diluição dos respectivos extratos. Na preparação da alcoolatura usa-se em geral
a planta fresca. A menos que indicado de maneira diferente na monografia
individual, 10 mL de alcoolatura simples correspondem a 2 g de droga fresca, ou
seja, a alcoolatura é preparada a 20%.

Extrato: É a preparação de consistência líquida, sólida ou intermediária, obtida


a partir de material animal ou vegetal. O material utilizado na preparação de
extratos pode sofrer tratamento preliminar, tais como, inativação de enzimas,
moagem ou desengorduramento. O extrato é preparado por percolação,
maceração ou outro método adequado e validado, utilizando como solvente

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álcool etílico, água ou outro solvente adequado. Após a extração, materiais


indesejáveis podem ser eliminados.

Extrato fluido: É a preparação líquida obtida de drogas vegetais ou animais por


extração com líquido apropriado ou por dissolução do extrato seco
correspondente, em que, exceto quando indicado de maneira diferente, uma
parte do extrato, em massa ou volume corresponde a uma parte, em massa, da
droga, seca utilizada na sua preparação. Se necessário, os extratos fluidos
podem ser padronizados em termos de concentração do solvente; teor de
constituintes, ou de resíduo seco. Se necessário podem ser adicionados
conservantes inibidores do crescimento microbiano. Devem apresentar teor de
princípios ativos e resíduos secos prescritos nas respectivas monografias.

Solução: É a forma farmacêutica líquida; límpida e homogênea, que contém um


ou mais princípios ativos dissolvidos em um solvente adequado ou numa mistura
de solventes miscíveis.

Pó: É a forma farmacêutica sólida contendo um ou mais princípios ativos secos


e com tamanho de partícula reduzido, com ou sem excipientes.

Extrato mole: É a preparação de consistência pastosa obtida por evaporação


parcial de solvente utilizado na sua preparação. São utilizados como solvente,
unicamente, álcool etílico, água, ou misturas álcool etílico/água em proporção
adequada. Apresentam, no mínimo, 70% de resíduo seco (p/p). Se necessário
podem ser adicionados conservantes inibidores do crescimento microbiano.

Extrato seco: É a preparação sólida; obtida por evaporação do solvente utilizado


na sua preparação. Apresenta, no mínimo, 95% de resíduo seco, calculado como
porcentagem de massa. Podem ser adicionados de materiais inertes adequados.
Os extratos secos padronizados têm o teor de seus constituintes ajustado pela
adição de materiais inertes adequados ou pela adição de extratos secos obtidos
com o mesmo fármaco utilizado na preparação. Deve conter no máximo 5% de
umidade.

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1
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Extrato seco padronizado: São aqueles que contêm uma concentração mínima
determinada de um marcador ativo ou analítico. Exemplo: EGb 761 é um extrato
padronizado de Ginkgo biloba que contém no mínimo 24% de flavonoides e 6%
de ginkgolídeos.

Extrato glicólico: Assemelha-se a uma tintura ou alcoolatura, com exceção de


que o solvente utilizado é a glicerina, no lugar do etanol. Em sua preparação usa-
se a planta seca ou fresca. A menos que indicado de maneira diferente na
monografia individual, 10 mL de extrato glicólico correspondem a 1 g de droga
seca, ou seja, é preparado a 10%.

Elixir: É a preparação farmacêutica, líquida, límpida, hidroalcoólica, de sabor


adocicado, agradável, apresentando teor alcoólico na faixa de 20% a 50%.

Xampu: É a forma farmacêutica líquida que consiste de uma base saponificante


(xampu base), contendo um ou mais princípios ativos dissolvidos ou dispersos,
sendo utilizada normalmente para aplicação externa no couro cabeludo.

Creme: É a forma farmacêutica semissólida que consiste de uma emulsão,


formada por uma fase lipofílica e uma fase hidrofílica. Contém um ou mais
princípios ativos dissolvidos ou dispersos em uma base apropriada e é utilizada,
normalmente, para aplicação externa na pele ou nas membranas mucosas.

Sabonete: É a forma farmacêutica sólida que consiste de uma base, em geral à


base de glicerina, contendo um ou mais princípios ativos dissolvidos ou
dispersos, sendo utilizada normalmente para aplicação externa na pele.

Pomada: É a forma farmacêutica semissólida, para aplicação na pele ou em


membranas mucosas, que consiste da solução ou dispersão de um ou mais
princípios ativos em baixas proporções em uma base adequada usualmente não
aquosa.

Pasta: É a pomada contendo grande quantidade de sólidos em dispersão (pelo


menos 25%). Deverão atender as especificações estabelecidas para pomadas.

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Emulsão: É a forma farmacêutica líquida de um ou mais princípios ativos que


consiste de um sistema de duas fases que envolvem pelo menos dois líquidos
imiscíveis e na qual um líquido é disperso na forma de pequenas gotas (fase
interna ou dispersa) através de outro líquido (fase externa ou contínua).
Normalmente é estabilizada por meio de um ou mais agentes emulsificantes.

Emplasto: É a forma farmacêutica semissólida para aplicação externa. Consiste


de uma base adesiva contendo um ou mais princípios ativos distribuídos em uma
camada uniforme num suporte apropriado feito de material sintético ou natural.
Destinada a manter o princípio ativo em contato com a pele atuando como
protetor ou como agente queratolítico.

Gel: É a forma farmacêutica semissólida de um ou mais princípios ativos que


contém um agente gelificante para fornecer firmeza a uma solução ou dispersão
coloidal (um sistema no qual partículas de dimensão coloidal – tipicamente entre
1 nm e 1 µm – são distribuídas uniformemente através do líquido). Um gel pode
conter partículas suspensas.

Loção: É a preparação líquida aquosa ou hidroalcoólica, com viscosidade


variável, para aplicação na pele, incluindo o couro cabeludo. Pode ser solução,
emulsão ou suspensão contendo um ou mais princípios ativos ou adjuvantes.

Óvulo: É a forma farmacêutica sólida, de dose única, contendo um ou mais


princípios ativos dispersos ou dissolvidos em uma base adequada que tem vários
formatos, usualmente, ovoide. Fundem na temperatura do corpo.

Supositório: É a forma farmacêutica sólida de vários tamanhos e formatos


adaptados para introdução no orifício retal, vaginal ou uretral do corpo humano,
contendo um ou mais princípios ativos dissolvidos numa base adequada. Eles,
usualmente, se fundem, derretem ou dissolvem na temperatura do corpo.

Xarope: É a forma farmacêutica aquosa caracterizada pela alta viscosidade, que


apresenta não menos que 45% (p/p) de sacarose ou outros açúcares na sua
composição. Os xaropes geralmente contêm agentes flavorizantes. Quando não

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se destina ao consumo imediato, deve ser adicionado de conservadores


antimicrobianos autorizados.

Anote aí:

Os produtos à base de plantas medicinais são seguros para a saúde, quando


utilizados corretamente. Eles são testados para a confirmação da eficácia e dos
riscos de seu uso, e também para garantir a qualidade do insumo.

Cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa e às Vigilâncias


Sanitárias Municipais e Estaduais o controle desses medicamentos.

A utilização de fitoterápicos e plantas medicinais valoriza a cultura e o


conhecimento tradicional e o popular, fortalece o desenvolvimento da cadeia
produtiva e é uma opção terapêutica aos usuários do SUS (BRASIL, 2019).

REGULAMENTAÇÃO PARA PLANTAS MEDICINAIS E


FITOTERÁPICOS NA SAÚDE
Produtos obtidos de plantas medicinais possuem diversas definições na área
farmacêutica dependendo de sua etapa tecnológica de processamento. Nesse
sentido, é importante conhecer essas definições para compreender e utilizar toda
a normatização para plantas medicinais e seus derivados desenvolvida e
aplicada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para ofertas de
serviços e produtos com qualidade, segurança e eficácia.

A primeira etapa tecnológica de processamento é a própria planta medicinal,


definida como espécie vegetal, cultivada ou não, utilizada com propósitos
terapêuticos. Ela pode estar no estado fresco, que é aquela coletada no
momento do uso, ou seco, quando foi procedida à secagem (BRASIL, 2007).
Quando é seca, triturada, podendo ser estabilizada ou não, denomina-se droga
vegetal (ANVISA, 2010). Para classificar esses produtos iniciais utilizados na

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1
15

produção de medicamentos fitoterápicos, dá-se a denominação geral de matéria-


prima vegetal, que compreende tanto a planta medicinal como a droga vegetal
(ANVISA, 2010).

Drogas vegetais tanto podem ser matérias-primas para produção de


medicamentos fitoterápicos, como constituir-se no produto final a ser notificado
à Anvisa para liberação de uso pela população como drogas vegetais notificadas.
Já o derivado vegetal é o produto obtido por processo extrativo da matéria-prima
vegetal, podendo ser obtido da planta fresca ou seca.

Técnicas diversas de extração podem ser utilizadas, como a prensagem,


maceração, percolação, soxhlet, entre outras. O produto industrializado,
tecnicamente elaborado a partir de matérias-primas ativas vegetais, com
finalidade profilática, curativa ou paliativa, é denominado medicamento
fitoterápico.

É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim


como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. Não podem ser
incluídas no medicamento fitoterápico substâncias ativas isoladas, de qualquer
origem, nem as associações destas com extratos vegetais (ANVISA, 2010).

O medicamento fitoterápico pode ser também manipulado, obtido a partir de


matérias-primas vegetais em farmácias de manipulação. O medicamento
fitoterápico pode ser simples, quando tem como ativo apenas uma espécie
vegetal, e composto, quando tem duas ou mais espécies vegetais como ativos
na formulação.

A fitoterapia pode ser definida como a terapêutica caracterizada pela utilização


de plantas medicinais em suas diferentes preparações farmacêuticas, sem a
utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal (BRASIL,
2006); e o fitoterápico como o produto obtido de planta medicinal, ou de seus
derivados, exceto substâncias isoladas, com finalidade profilática, curativa ou
paliativa (BRASIL, 2008).

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Quanto aos estabelecimentos que legalmente estão envolvidos na cadeia de


plantas medicinais e fitoterápicos, podem ser citados: ervanaria, farmácia,
drogaria, distribuidora de insumos farmacêuticos e indústria farmacêutica ou de
produção de drogas vegetais.

A ervanaria ou ervanária é o estabelecimento que realiza a dispensação de


plantas medicinais. Ela não precisa ter farmacêutico responsável, mas também
não pode dispensar medicamentos, e as plantas medicinais dispensadas não
podem ter alegações terapêuticas (BRASIL, 1973).

A farmácia é o estabelecimento de manipulação de fórmulas magistrais e


oficinais, de comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e
correlatos, incluindo a dispensação e o atendimento privativo de unidade
hospitalar ou de qualquer outra equivalente de assistência médica; enquanto a
drogaria é o estabelecimento de dispensação e comércio de drogas,
medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos em suas embalagens
originais (BRASIL, 1973).

Ambas precisam de autorização de funcionamento e responsável técnico


habilitado pelo Conselho Regional de Farmácia do Estado onde o
estabelecimento está localizado.

A fornecedora de insumos farmacêuticos produz e fornece insumos, que são


todos os materiais utilizados na produção de medicamentos, compreendendo
tanto substâncias ativas como excipientes, para as farmácias de manipulação e
a indústria farmacêutica. Finalmente, as indústrias farmacêuticas são
estabelecimentos produtores de medicamentos em grande quantidade,
produzidos em lotes, conforme as Boas Práticas de Fabricação e Controle
(BPFC).

Devem ter farmacêutico responsável técnico e autorização de funcionamento


para produção de medicamentos. Indústrias de drogas vegetais serão
estabelecimentos que produzirão drogas vegetais, em lotes, conforme BPFC

116
1
17

específicas, a serem notificadas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária


(Anvisa), conforme a RDC nº 10/2010, em embalagens padronizadas.

O comércio de plantas medicinais é regulamentado por meio da Lei nº


5.991/1973, que determina, no art. 7º, que “a dispensação de plantas medicinais
é privativa das farmácias e ervanarias, observados o acondicionamento
adequado e a classificação botânica.”

Esse artigo não foi ainda regulamentado, deixando em aberto os requisitos de


qualidade para plantas medicinais, como também sua segurança e eficácia.
Plantas medicinais não podem ser comercializadas como medicamentos, não
podendo alegar indicações terapêuticas em suas embalagens (BRASIL, 1973).

As plantas ainda podem ser utilizadas como matérias-primas para a indústria de


cosméticos, havendo vários produtos de uso tópico disponíveis no comércio,
como pomadas de babosa (Aloe vera) e calêndula (Calendula officinalis),
utilizadas como emolientes. As normas relacionadas são as RDCs nº 211 e nº
343, ambas de 2005, que instituem o procedimento eletrônico para a notificação
de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes de grau 1 (baixo risco),
onde se enquadram a maioria dos produtos obtidos de plantas para uso tópico.

Plantas medicinais também podem ser regulamentadas na área de alimentos,


principalmente como chás, que são produtos constituídos de uma ou mais partes
de espécie(s) vegetal(is) inteira(s), fragmentada(s) ou moída(s), com ou sem
fermentação, tostada(s) ou não (BRASIL, 2005).

Recentemente, visando a devolver à população a forma tradicional de uso das


plantas medicinais, a Anvisa publicou uma norma para melhor regulamentar a
produção e uso de plantas medicinais, a RDC nº 10, de 10 de março de 2010.
Para cada uma das 66 espécies, foram padronizadas alegações terapêuticas,
forma(s) de uso, quantidade a ser ingerida e os cuidados e restrições a serem
observados no seu uso, conforme informações de uso tradicional disponíveis.

117
1
18

As plantas como droga vegetal são notificadas na Anvisa, podendo ser


produzidas tanto por indústrias farmacêuticas como por estabelecimentos
industriais específicos habilitados para fabricação de drogas vegetais conforme
BPFC específicas a ser publicada pela Anvisa (2010).

MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS MANIPULADOS


A manipulação de medicamentos fitoterápicos para uso humano é feita em
farmácias com autorização da Vigilância Sanitária local (Visa).

A Anvisa não faz fiscalização direta nesses estabelecimentos, exceto quando há


alguma denúncia ou solicitação das Visas do Estado ou municípios.

A manipulação pode ser magistral, quando formulada por profissional habilitado


a prescrevê-la, ou oficinal, quando constante do Formulário Nacional.
Atualmente, o Formulário Nacional, publicado em 2006, não possui fórmulas de
fitoterápicos. Contudo está sendo elaborado, pela Farmacopeia Brasileira, o
Formulário Fitoterápico Brasileiro, que deverá ser publicado em 2011 (BRASIL,
2006).

Medicamentos manipulados não precisam ser registrados na Anvisa, sendo o


controle da sua produção feito no estabelecimento produtor. A norma que
regulamenta a manipulação de medicamentos é a RDC nº 67 (ANVISA, 2007),
atualizada pela RDC nº 87 (ANVISA, 2008a), a qual define as boas práticas de
manipulação de preparações magistrais e oficinais para uso humano em
farmácias.

As farmácias devem ter autorização de funcionamento, e a manipulação de


medicamentos segue regras rígidas de controle que devem ser utilizadas para
garantir que sejam disponibilizados ao usuário com a segurança necessária.

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19

A produção deve ser feita individualmente, conforme demandado por receita de


profissional habilitado a prescrever medicamentos. Enquanto não existe o
Formulário Fitoterápico Brasileiro, a farmácia não pode produzir esses
medicamentos em quantidade maior, denominado como estoque mínimo.

As farmácias devem adquirir, e não produzir, as matérias-primas a serem


utilizadas na manipulação de medicamentos de fornecedores de insumos
qualificados. Recentemente, o Ministério da Saúde publicou a Portaria GM/MS
nº 886, de 20 de abril de 2010, a qual institui a Farmácia Viva no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS), sob gestão estadual, municipal ou do Distrito
Federal.

A partir daí a Anvisa elaborou proposta de regulamento técnico para boas


práticas de processamento e manipulação de plantas medicinais e fitoterápicos
em Farmácias Vivas.

Essa norma passou por Consulta Pública (CP), por meio da CP nº 85/2010, com
uma proposta de requisitos mínimos exigidos, desde as instalações,
equipamentos e recursos humanos, aquisição e controle da qualidade da
matéria-prima, armazenamento, avaliação farmacêutica da prescrição,
conservação, transporte, dispensação das preparações, além da atenção
farmacêutica aos usuários ou seus responsáveis, visando à garantia de sua
qualidade, segurança, efetividade e promoção do seu uso seguro e racional dos
fitoterápicos produzidos nesses estabelecimentos.

A Farmácia Viva será um estabelecimento com horto agregado, sob controle dos
órgãos ambientais, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
e do Meio Ambiente (MMA).

A CP nº 85/2010 foi concluída e estão sendo consolidadas as contribuições para


publicação da norma. Enquanto isso, Estados ou municípios que já desenvolvem
programas nessa área e que já tenham esse serviço regulamentado por leis
estaduais ou municipais podem fazê-la conforme seus regulamentos regionais.

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1
20

Quando uma norma federal for publicada para esses tipos de estabelecimentos,
as normas municipais e federais deverão ser adequadas à norma federal.

MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS INDUSTRIALIZADOS


A norma vigente para registro de medicamentos fitoterápicos é a RDC nº 14,
publicada em 5 de abril de 2010, que, comparada à anterior (RDC nº 48/04), traz
entre as modificações a adequação aos conceitos definidos pela Política
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) e pela Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, além da adoção
de alternativas ao controle de qualidade, item com grau de dificuldade elevado
no caso de medicamentos fitoterápicos, devido à complexidade de sua
composição. O documento traz ainda reestruturação da norma anterior, a RDC
nº 48/2004, com divisão mais racional dos critérios técnicos correspondentes à
droga vegetal, derivado vegetal e produto final (ANVISA, 2010).

Concomitantemente à publicação da RDC nº 14/2010, houve atualização da lista


de referências para comprovação de segurança e eficácia de fitoterápicos, na
forma da Instrução Normativa (IN) 05/2010, a qual foi ampliada de 17 para 35
publicações de referência (ANVISA, 2010).

Os requisitos de segurança e eficácia não foram essencialmente modificados,


havendo ainda a possibilidade de comprová-los, além do item de referências
técnico-científicas anteriormente citado, por três outras formas: ensaios pré-
clínicos e clínicos de segurança e eficácia; tradicionalidade de uso; e presença
na “Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado”(ANVISA, 2008).

A tradicionalidade de uso é mais uma possibilidade que pode ser utilizada para
comprovar segurança e eficácia de um medicamento fitoterápico.

A comprovação deve ser feita por meio da apresentação de estudo


etnofarmacológico ou etno-orientado de utilização, documentações técnico-

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1
21

científicas, ou outras publicações, mostrando a eficácia e segurança do produto


por um período igual ou superior a 20 anos.

O período de uso proposto para o medicamento a ser registrado por essa forma
deve ser episódico ou curto. A lista de espécies de registro simplificado,
publicada como IN 05/2008, contempla 36 espécies vegetais, para as quais já
foram estabelecidos critérios de segurança e eficácia.

A empresa deve seguir todos os parâmetros especificados na lista citada, que


são: parte da planta, padronização/marcador, tipo de derivado vegetal,
indicações/ações terapêuticas, dose diária, via de administração, concentração
da forma farmacêutica, quando descrita, e restrição de uso. Nesse caso, não
precisa apresentar informações adicionais de segurança e eficácia (BRASIL,
2008). No Brasil, em levantamento realizado em 2011, havia 382 medicamentos
fitoterápicos, sendo destes 357 fitoterápicos simples e 25 em associação. Esses
fitoterápicos são produzidos a partir de 98 diferentes espécies vegetais.

As espécies vegetais com mais registro são em sua maioria estrangeiras, como
castanha-da-índia (Aesculus hippocastanum), com 22 registros e ginkgo (Ginkgo
biloba), com 20 registros. Entre as brasileiras, as mais registradas são o guaco
(Mikania glomerata), com 20 registros, Maracujá (Passiflora incarnata), com 16
registros e espinheira-santa (Maytenus ilicifolia), com 14 registros.

Existem 78 empresas produtoras de fitoterápicos no Brasil, na maior parte,


concentradas nas Regiões Sul e Sudeste do país (PERFEITO, 2012). Outra
norma recente é a RDC nº 95/2008, atualizada pela RDC nº 47/2009, que
padroniza as bulas de fitoterápicos obtidos de 13 espécies vegetais.

A Anvisa pretendeu com isso proporcionar informações padronizadas sobre


medicamentos fitoterápicos à população e aos profissionais de saúde que os
prescrevem, atuando no seu uso racional (BRASIL, 2008; 2009).

As empresas produtoras de medicamentos fitoterápicos devem ter alvará


sanitário e autorização de funcionamento, além de seguir as Boas Práticas de

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1
22

Fabricação e Controle de Medicamentos, para as quais devem ser certificadas a


cada dois anos, conforme a RDC nº 17/2010 (ANVISA, 2010a).

Prescrição de fitoterápicos

Para ter a eficácia e a segurança no uso. Vamos entender:

Utilizar princípios ativos isolados não é fitoterapia. Na prescrição de


fitoterápicos, as plantas medicinais devem ser identificadas pelo nome
científico (gênero e espécie), seguida da parte da planta que os estudos
mostraram eficácia. Devemos ainda colocar se esta planta possui alguma
padronização ou concentração e depois a dose.

Exemplo:

Tribulus terrestris, fruto, Extrato Seco (ES) 40% de saponinas esteroidais —-


500mg

Onde Tribulus é o gênero, terrestris é a espécie, fruto é a parte utilizada, e


Extrato Seco (ES) 40% de saponinas esteroidais é o extrato concentrado que
este marcador tem.

Quando temos no mercado algum ativo diferenciado com uma padronização


mais específica e que é um exclusivo de alguma empresa devemos ainda
assim escrever o nome científico, porém devemos colocar entre parênteses
este nome comercial para garantirmos que a farmácia fará exatamente o que
estamos pedindo.

Vamos utilizar o mesmo exemplo, porém com um ativo exclusivo:

Tribulus terrestris (ProtUp®) ——180mg

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1
23

Onde Tribulus é o gênero, terrestris é a espécie, e ProtUp é um ativo exclusivo


feito desta planta que tem a padronização diferente, pois tem 30% de
protodioscina que é uma saponina esteroidal mais biodisponível, portanto
podemos utilizar uma dose mais baixa.

Uma receita correta em fitoterapia deve ter todas estas informações, além da
posologia, forma farmacêutica de apresentação e duração do tratamento.

Veja um exemplo de formulação para perda de peso, associado a diminuição da


libido:

Uso oral:

Camellia sinensis (Greenselect phytossome®) ————————————120mg

Tribulus terrestris (ProtUp®) ———————————————————–180mg

Ganoderma licidum (fruto) ES 10%


polissacarídeos………………………………200mg

Doses em cápsulas para 30 dias, tomar 2 x ao dia, ao acordar e final de tarde.

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1
24

Dicas sobre fitoterápicos


O fato de que alguns profissionais têm restrições quanto aos seus conselhos
ou órgãos reguladores em fitoterapia.

Os nutricionistas podem prescrever fitoterápicos apenas para uso oral e não


podem combinar eles com vitaminas, minerais ou aminoácidos em uma
mesma formulação.

Existe ainda algumas plantas medicinais que só podem ser prescritas por
médicos, esta lista você pode obter consultando a IN.02/2014 da Anvisa.

Importante saber: os estudos e a prática clínica mostram cada vez mais que
a associação de plantas medicinais é mais eficaz e segura do que a
monoterapia, por este motivo aprender a associar fitoterápicos de acordo
com cada patologia é fundamental.

Prescrição de fitoterápicos e profissionais atuantes

Trabalhar com plantas medicinais é um trabalho multiprofissional. Abrange as


mais variadas áreas do conhecimento, desde os aspectos botânicos aos
fitoquímicos. Para que todo esse trabalho seja bem executado, são necessários
especialistas para cada uma das etapas. Desde o plantio a qualidade do solo,
semente, mudas e água para irrigação, até o medicamento fitoterápico em si,
distribuídos nas farmácias.

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1
25

Somente com trabalho e pesquisas é que este mercados e ampliará de forma


correta, segura e confiável. Recomenda-se que medicações extraídas de plantas
medicinais devam ser prescritas por profissionais de saúde. No entanto, o
desconhecimento destes profissionais sobre plantas medicinais, suas interações
com medicamentos alopáticos e sua toxicidade tornam-se fatores preocupantes
quando se fala de automedicação dos pacientes. De acordo com o Relatório do
Seminário Internacional das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde,
além de médicos e farmacêuticos, outros profissionais da área de saúde podem
prescrever Fitoterápicos. Os resultados mostram o crescimento do uso de
métodos alternativos pelos enfermeiros. Em contrapartida, o profissional que
menos prescreve fitoterápicos é o odontólogo.

Os profissionais sentem-se inseguros no uso da fitoterapia mesmo com o


reconhecimento pelos Conselhos de Medicina, Enfermagem e Farmácia. Com
exceção dos profissionais farmacêuticos, os outros profissionais citados não
tiveram formação durante a graduação sobre o tema fitoterapia, esclarecendo
assim, a falta de conhecimentos científicos e práticos. Desta forma, os
Conselhos Regionais de Medicina, Enfermagem e Farmácia, aceitam como
prescritores somente profissionais com pós-graduação na área. Os
farmacêuticos, mesmo com a disciplina em sua grade curricular, devem fazer a
pós-graduação e, somente depois, iniciar as atividades na prescrição.

Importância do farmacêutico na fitoterapia


O farmacêutico é o elo entre o conhecimento popular e a ciência, prestando
assistência e passando as informações sobre o uso racional de medicamentos,
sobre as interações entre medicamentos, fitoterápicos e alimentos. É papel deste
profissional apresentar seu conhecimento sobre as plantas, drogas vegetais e
drogas.

A utilização desta prática é parte essencial no trabalho do farmacêutico, já que


a Organização Mundial da Saúde ressalta que 80% da população mundial
necessita das práticas tradicionais no que se refere à atenção primária à saúde

125
1
26

e que 67% das espécies vegetais medicinais do mundo são procedentes de


países em desenvolvimento. Com isso, as plantas medicinais se tornaram
importantes características da Assistência Farmacêutica e, como suporte para
tal atividade, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou a
primeira edição de um Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira em
2011.

Este documento oficializa e padroniza informações. Possui 47 monografias de


vegetais para infusos e decoctos, 17 tinturas, um xarope, cinco géis, cinco
pomadas, um sabonete, dois cremes, quatro bases farmacêuticas e uma solução
conservante.

Estão registradas informações sobre a forma correta de preparo e suas


indicações, além de restrições de uso de cada espécie, tendo como requisito a
qualidade definida nas normas específicas para farmácia de manipulação e
farmácias vivas. Conjuntamente foram feitos estudos científicos de todas as
formulações incluídas no Formulário e a utilização das mesmas nos serviços de
fitoterapia no país. Este Formulário contribui de forma significativa para ampliar
a atuação farmacêutica na prescrição de fitoterápicos, pois o documento dá
certeza e confiabilidade nas informações prestadas.

Para regulamentar as atribuições farmacêuticas foram criadas as RDC’S n° 585,


de 29 de agosto de 2013 e nº 586, de 29 de agosto de 2013 pelo Conselho
Federal de Farmácia (CFF), sendo que a RDC nº 586/13 fala sobre as
especificações para a prescrição. Os medicamentos fitoterápicos prescritos por
farmacêutico são limitados, uma vez que alguns somente podem ser prescritos
por médicos. Essas medidas foram tomadas para que, além da valorização do
profissional, a população obtenha a prescrição farmacêutica de medicamentos
fitoterápicos como primeira opção, com prescritor habilitado e que saberá ajudá-
la nas questões de performance da planta medicinal e da melhor forma de utilizá-
la. Embora alguns medicamentos fitoterápicos sejam isentos de prescrição

126
1
27

médica, não significa que sejam livres de orientação, o que comprova a


importância do conhecimento do profissional farmacêutico.

Para que os cursos de Farmácia seguissem um padrão brasileiro quanto ao


ensino, foram criadas as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) de Farmácia.
A Resolução em vigor é a de nº 06 de 2017 que revogou a nº 02 de 2002. Ambas
contemplam as competências e habilidades que cabem ao profissional
farmacêutico terem durante a graduação e depois dela, mas as afirmações feita
na resolução anterior vetam qualquer adjetivação que possa dar a conotação de
habilitações específicas para o curso, o que muda o cenário do profissional.
Desta forma, a legislação torna o farmacêutico um profissional sem habilitação
específica para que possa para atuar em todas as frentes farmacêuticas. O
ensino se divide em porcentagens de carga para cada área de conhecimento e
não aprimora o profissional em nenhuma. A Resolução em vigor é a de nº 06 de
2017 que, no entanto, modifica a condição do curso de Farmácia para que este
forme profissionais da saúde que possam interagir com outros profissionais da
saúde em prol da saúde pública.

Medicamentos e produtos fitoterápicos Indicações


Restrições
Aesculus hippocastanum (Castanha da índia) Insuficiência venosa.
Allium sativum (Alho) Hiperlipidemia e hipertensãoarterial leve a moderada.
Centella asiatica (Centela/ Centela-asiática) Insuficiência venosa dos membros
inferiores.
Cynara scolymus (Alcachofra) Antidispéptico, antiflatulento, diurético.
Glycine max (Soja) Sintomas do climatério.
Glycyrrhiza glabra (Alcaçuz) Úlceras gástricas e duodenais.

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1
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Não recomendado uso contínuo por mais de seis


semanas, sem acompanhamento médico.
Mentha x piperita (Hortelã-pimenta) Expectorante, carminativo e
antiespasmódico e síndrome do cólon irritável.

Venda livre para ação expectorante, carminativo e


antiespasmódico.
Panax ginseng (Ginseng) Estado de fadiga física e mental, adaptógeno. Utilizar
por no máximo três meses.
Paullinia cupana (Guaraná) Psicoestimulante e astenia.
Pimpinella anisum (Erva-doce/Anis)
Expectorante, antiespasmódico, carminativo e dispepsias funcionais.

Plantago ovata (Plantago) Obstipação intestinal e síndrome do cólon irritável

Venda livre como coadjuvante nos casos de obstipação


intestinal.
Polygala senega (Polígala) Bronquite crônica, faringite.
Frangula purshiana (Cáscara Sagrada) Constipação ocasional. Não
recomendado uso contínuo por mais de uma semana.
Salix alba (Salgueiro Branco) Antitérmico, anti-inflamatório e analgésico.

128
1
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